Prévia do material em texto
1 CAPÍTULO 11 PROTEÇÃO DE TRANSFORMADORES Prof. José Wilson Resende Ph.D em Sistemas de Energia Elétrica (University of Aberdeen-Escócia) Professor titular da Faculdade de Engenharia Elétrica Universidade Federal de Uberlândia 11.1 – Introdução Dentre os elementos das instalações elétricas de um sistema, o transformador é o que apresenta maior segurança de serviço. Em geral, os defeitos nos transformadores se resumem a: • curto-circuitos entre espiras ou entre enrolamentos de alta e baixa, • sobreaquecimentos e • circuito aberto. a) Principais defeitos possíveis de ocorrerem nos transformadores: circuitos abertos, sobreaquecimentos e curtos nos enrolamentos internos: • Proteção contra circuitos abertos: não há proteção específica (são raros e não são graves). • Proteção contra sobreaquecimentos: é feita através de dispositivos que normalmente acionam alarmes, bombas de circulação de óleo e ventiladores. • Proteção contra curtos internos: são os defeitos mais graves. Resultam de falhas no isolamento devido a: • sobretensões atmosféricas ou de manobras e/ou • sobreaquecimento dos enrolamentos e/ou, • envelhecimento dos enrolamentos) e/ou, • ao envelhecimento prematuro dos isolantes (devido a sobrecargas repetitivas). b) Tipos de proteção usadas: • Grandes transformadores: relés diferenciais e relés Bucholz (gás). • Pequenos e médios trafos: relés de sobrecorrente temporizados e/ou fusíveis. • Proteção de retaguarda: relés de sobrecorrente e/ou fusíveis. 2 11.2 – Diagrama Unifilar da Proteção Figura 11.1: Legenda: 49 Relé de temperatura de enrolamento 51 relé de sobrecorrente de fase, temporizado 51N relé de sobrecorrente de neutro temporizado 63FP relé de fás – BUCHOLZ 86 relé auxiliar, multiplicador de contatos 87 relé diferencial percentual BO: bobina de operação BR: bobina de restrição 11.3 – Proteção Contra Curto-Circuito Interno nos Enrolamentos O relé diferencial é recomendável para todo banco trifásico acima de 1000 KVA e econômico acima de 5000 KVA. Para transformadores abaixo de 1000 KVA, adota-se a proteção de sobrecorrente. No entanto, caso este tipo de proteção não dê a necessária sensibilidade, relés diferenciais devem substituí-los. 11.3.1. Proteção Diferencial Percentual A forma mais usada de relé diferencial é a do tipo diferencial percentual. A proteção diferencial é usada em transformadores para protegê-los contra curto- circuitos internos (inclusive entre espiras). Esse tipo de proteção compara as correntes nos dois lados do transformador, através de transformadores de corrente, cujas relações e conexões tornam as correntes secundárias iguais ou próximas entre si. A figura 11.2 mostra a circulação das correntes, quando o transformador está em funcionamento normal ou mesmo para uma falta externa em F. 3 Figura 11.2– Circulação de correntes para funcionamento normal e falta externa. Para um curto-circuito fora do trecho protegido, as correntes serão elevadas, porém serão iguais nos secundários dos TC e o relé não irá operar. Entretanto, se ocorrer um curto-circuito entre os dois TC, teremos a operação do relé diferencial, como mostra a figura 11.3. Figura 11.3– Circulação de correntes para falta interna A corrente diferencial requerida para operar este relé é uma quantidade variável, devido ao efeito da bobina de restrição. A corrente diferencial, na bobina de operação, é proporcional a i1 – i2 e a corrente equivalente, na bobina de restrição, é proporcional a . 2 ii 21 + A característica de operação do relé diferencial percentual eletromecânico é mostrada na figura 11.5. 4 Figura 11.5 – Característica de operação do relé diferencial percentual. Podemos ver que, exceto para o pequeno efeito de mola de controle em correntes baixas, a relação entre a corrente diferencial de operação e a corrente média de restrição representa uma percentagem fixa, o que explica o nome deste relé. A vantagem do uso da proteção diferencial percentual é que, no caso de transformadores, ela compensa diferenças de correntes diferenciais, devido principalmente a: a) Características de TC – a presença de componentes DC nas correntes de curto-circuito externos contribui bastante para a saturação dos TC’s. Uma vez que o comportamento dessa corrente contínua difere de um lado e do outro do trafo, pode haver o desequilíbrio e conseqüente operação do relé. Daí, a sensibilidade da proteção poderá ser afetada pelos seguintes fatores oriundos dos TC’s: • o fenômeno da saturação, • Devido às diferentes tensões dos dois lados dos transformadores, em geral, os TC’s dos lados de AT e BT são diferentes entre sí, • As cargas ligadas aos TC’s podem ser diferentes. 5 b) Mudanças de derivação – os transformadores equipados com o Load Tap Changer normalmente têm uma variação permissível de + 10 % da tensão nominal, (ponto médio de variação do comutador). Os ajustes dos relés diferenciais são feitos baseados no ponto médio, de modo que o desequilíbrio máximo possível será de 10%. c) Corrente de magnetização (INRUSH) – a corrente inicial de magnetização atinge de 8 a 10 vezes a corrente nominal. Essa corrente, rica em harmônicos, é vista pelo relé como uma falta interna ao trafo. A tabela a seguir mostra uma análise de harmônicos de corrente transitória de magnetização típica. Componentes harmônicas da corrente de magnetização. Componente Harmônica % da Fundamental 2o 63,0 3o 26,8 4o 5,2 5o 4,1 6o 3,7 7o 2,4 6 11.3.1.1. Conexões do circuito do relé, para transformadores de dois enrolamentos Devido às defasagens normais de 30o, entre as correntes dos lados primário e secundário dos transformadores Y-∆, as diferenças entre as correspondentes correntes nos secundários dos TC’s, mesmo que os módulos das mesmas sejam iguais, não serão nulas. Isso faria com que os relés diferenciais atuassem indevidamente mesmo em condições normais de operação. Para evitar isso, adota- se a seguinte técnica: Os TC’s colocados no lado Y do transformador de potência são conectados em ∆ e os TC’s do lado ∆ são ligados em Y. A figura abaixo ilustra isso: IMPORTANTE: a) Admitir arbitrariamente, o sentido do fluxo das correntes nos enrolamentos do TRAFO, em que direção se desejar, observando as marcas de polaridade (correntes fluem em direções opostas, nos enrolamentos de mesmo núcleo). b) As correntes no lado Y, somadas, dão zero (não fluem para terra pelo neutro). c) Ligar os TC’s conforme a regra empírica, tal que as correntes nas bobinas sejam NULAS. 7 d) Para que o relé não opere indevidamente para pequenos desequilíbrios, ele deve ser insensível a uma certa percentagem de corrente diferencial. A este fato dá-se o nome de sensibilidade (ε(%)) ou mismatch. APLICAÇÃO: Seja o relé tipo HU da Westinghouse. • Admitamos que se tenha ajustado o relé com os seguintes TAPS de restrição: TH = 4,6A e TL = 8,7A (ajustados nas “BR” do relé diferencial), e que as correntes nos secundários do relé sejam: No lado de AT do transformador: IRH = 4,18A, No lado de BT: IRL = 8,05A COMO SABER SE OS AJUSTES ACIMA SÃO ADEQUADOS? A diferença entre os valores dessas correntes, será de: Io = IRL – IRM = 8,05 – 4,18 = 3,87A. Este valor não serve para nenhuma análise, pois as correntes do primário e do secundário, via de regra, não deverão mesmo ser iguais em um transformador! Para contornar esse impasse, isso é, para se verificar qual é a verdadeira diferença entres essas correntes (o que é necessário parase ajustar um relé diferencial, conforme já foi visto na proteção de geradores), elas devem estar referidas a uma mesma referência. H RH L RL L M91,06,4 18,4 TH I ;93,0 7,8 05,8 T IM ====== Agindo desta forma, a diferença entre essas correntes, em um mesmo referencial serão: ML – MH = 0,02. Por outro lado, este relé é disponível com sensibilidade de 0,30 e 0,35. Neste exemplo será adotado o valor de “0,30”. Tomando na figura acima a abscissa relativa ao “maior múltiplo do TAP de restrição” com o valor de ML=0,93 e levando este valor até a curva de “0,30 8 TAP”, observa-se que, para esse relé operar, a corrente de operação deverá ser de, no mínimo 0,33. Como a diferença existente é de 0,02, o relé NÃO OPERARÁ para a condição estudada. IMPORTANTE: Os relés ditos NUMÉRICOS, não necessitam ter seus TC’s conectados da forma acima descrita. Isso porque seus softwares já fazem as compensações devidas às defasagens das correntes dois lados. 11.3.1.2. Exemplo de Cálculo de Ajustes do Relé Diferencial Percentual Sejam dados: Potência: Sn; Tensões = alta (∆): VA; baixa (Y): VB Lado de BT (Y): com relações: RTC1, RTC2, ... RTCx Lado de AT (∆), com relações: R’TC1, R’TC2, ... , R’TCx TAPS: TH = TL = 2,9; 3,5; 3,8; 4,2; 4,6; 5,0; 8,7. Mismatch permitido: ε% 1- Cálculos para o lado de Baixa Tensão (Y) B B V.3 SnI = a) Escolha da RTC dos TC’s em ∆: Deve ser escolhida como sendo a mais próxima SUPERIOR DE IB. Seja IB=418A . Se tivermos RTC’s : 5 500e 5 400 devemos escolher 500/5. Genericamente, seja RTC2 a relação escolhida. A corrente no relé (cujos TC’s estão conectados em ∆) é IRL = 3 IBS b) Escolha do TAPE do relé, para o lado dos TC’s em ∆: De posse de IRL, devemos escolher o TAPE mais próximo, superior, do IRL. Seja TL este tap. 9 2- Cálculo para o lado de Alta Tensão (∆) A A V3 SnI = a) Escolha da RTC dos TC’s em Y De posse de IA, escolhe-se a relação mais próxima, superior a esta corrente. No caso, seja R’TC1 a escolhida. • A corrente no secundário dos TC’s em Y Será: 1 A AS TC'R II = • Corrente no relé: IRH = IAS b) Escolha do tap do relé, para o TC em Y (TH) De posse de IRL, IRH e TL, o tap TH deverá ser escolhido segundo a proporção : TL/TH = IRL/IRH 3. Cálculo do mismatch “ε” ε , S T T I I 100% H L RH RL ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛−⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ = sendo “S” o menor dos dois termos do gerador. Uma faixa típica para ε é :[ε% < 15%]. Se o valor de ε for SUPERIOR ao valor máximo permitido (no exemplo, 15%), deve ser variado o “conjunto” de taps. (Por exemplo, para um valor imediatamente acima do valor obtido antes). _________________________________________________________________ Exemplo numérico: É dado um transformador de 20 MVA, DELTA (69 kV)/ESTRELA (12,4 kV) que deve ser protegido por um relé diferencial percentual tipo HU, da Westinghouse. Dados do relé: Tapes: TH = TL= 2,9; 3,2; 3,5; 3,8; 4,2; 4,6; 5,0; 8,7A. Erro de ajuste (mismatch )=15% Os TC’s possuem RTC’s até: • 1200/5 (no lado Y (BT)) • 600/5 (no lado DELTA (AT)) SOLUÇÃO: a) Correntes nominais do transformador: BT: InL = 20.000/(√3.12,4)= 930 [A] AT: InH= 20.000/(√3.69)= 167 [A] b) Escolha da RTC adequada: BT: RTC= 1000/5 AT: RTC= 200/5 10 c) Escolha dos TAPES dos relés: c1) Correntes nos secundários dos TC’s: IsL= 930/(1000/5) = 4,65 [A] IsH= 167/(200/5) = 4,18 [A] c.2) Correntes nos relés: Os TC’s do lado Y do transformador estão conectados em DELTA. Logo, a corrente que vai para o relé, proveniente destes TC’s, será: IrL = √3. IsL= √3.4,65 [A] = 8,05 [A]. Os TC’s conectados do lado DELTA do transformador estão conectados em Y. Logo, a corrente que vai para o relé, oriunda destes TC’S será: IrH = ISh = 4,18 [A]. A partir da corrente IrL = 8,05 [A], o TAPE TL, relativo ao lado de BT, poderá ser 8,7 [A]. O TAPE TL relativo ao lado de AT, será obtido de: TH = (IrL/IrH.).TL = (4,18/8,05).8,7 = 4,64 [A]. Será adotado o valor de TAPE disponível mais próximo, TH= 4,6 [A]. d) Cálculo do erro de ajuste (mismatch) : = − = [%]100.[%] S T T I I H L rH rL ε {(8,05/4,18) - (8,7/4,6) / S}.100[%] = (1,93 – 1,90)/1,90).100[%] = 1,6 [%] OBS: Nota-se que “S” é o menor dos dois termos do numerador. Caso o mismatch obtido seja MAIOR QUE 15%, tentar-se-ia TH = 5,0 e se recalcularia o mesmo. 11.3.1.3. Transformador com três Enrolamentos O princípio geral é o mesmo: Combina-se um dos enrolamentos com cada um dos outros. 11 11.3.1.4– Aberturas intempestivas a) No momento da energização de um transformador, a corrente de magnetização poderá atingir de 10 a 15 vezes o valor da corrente nominal. Um relé diferencial convencional irá operar indevidamente, neste caso. Alguns métodos são usados para impedir isto: • Temporização de relé (retardo de 0,1 a 0,2 seg.): não há vantagem nisto, pois o relé também estaria retardado por ocasião de faltas reais. • Dessensibilização: quando surge a grande corrente de magnetização, a tensão, em gera, cai. Um relé de subtensão, ao sentir isso, coloca um resistor em paralelo com a bobina de operação, curto-circuitando-a, impedindo o relé de atuar indevidamente. Desvantagem: na remoção de uma falta, sub-tensões também podem surgir, e o relé poderá não operar! • Relé diferencial com restrição de harmônicos de corrente: permite alta velocidade de operação. Conforme já mostrado antes, uma análise harmônica de uma onda de corrente de magnetização, evidencia que ela é composta principalmente de harmônicos: Uma corrente de falta terá, ao contrário, a freqüência fundamental predominando.Esse método é o melhor e o mais utilizado. A bobina de operação somente recebe a corrente fundamental (essa vem de um filtro PASSA-BAIXA e é retificada antes de chegar a BC). A bobina de restrição recebe as componentes fundamental e harmônicos, também retificados.No curto o relé opera (a BR não possui harmônicos). Na energização: o relé é bloqueado (os harmônicos reforçam o conjugado, de restrição). 12 Figura 11.10 – Diagrama simplificado da proteção diferencial com restrição de harmônicos. 13 11.4. Proteção contra sobrecorrentes: Apesar de todas as vantagens dos relés diferenciais, eles não protegemos transformadores contra sobrecargas, mas apenas contra curtos. A proteção de sobrecorrente também pose ser usada para proteção contra curtos, além de sobrecargas. Neste sentido, ela é muito usada em pequenos transformadores, onde não é viável economicamente, a utilização de proteção diferencial. A proteção de sobrecorrente pode ser feita da seguinte maneira: Proteção contra sobrecarga – feita com relés de sobrecorrente: • de tempo inverso (51), ajustados para iniciarem a contagem de tempo a partir de uma certa sobrecarga (entre 130% e 150%). • de tempo definido (50) com ação retardada pré-fixada, por exemplo, de 20 segundos. A importância de se admitir sobrecarga de pequena duração em transformadores de força é evitar que estes sejam desligados durante perturbações, restringindo-se a extensão destas. Proteção conta curtos (curto-circuitos trifásicos, bifásicos e fase-terra) – feita com relés de sobrecorrente de tempo inverso ajustados, por exemplo, entre 200% e 220% da corrente nominal, de tal forma que, para valores de corrente superiores a 300% e 330%, o relé opere num tempo igual ou inferior a 2 segundos. A figura 11.11 mostra um diagrama esquemático simplificado típico dos esquemas de proteção contra sobrecarga elevada de pequena duração (20segundos) e contra curto-circuitos trifásicos e bifásicos de correntes elevadas, com ação retardada, para tempo igual ou inferior a 2 segundos. Figura 11.11 – Proteção de sobrecorrente em transformadores. 14 11.4.1) Critérios para sobrecargas adotados por FURNAS Centrais Elétricas: Os critérios gerais adotados por FURNAS para sobrecargas em transformadores são os seguintes: • Não admitir sobrecarga contínua nos transformadores durante os meses de setembro a abril (considerados meses de verão). • Admitir uma sobrecarga contínua de até 10% nos transformadores durante os meses de inverno na região sudeste. Sobrecargas programadas ou não: São consideradas sobrecargas não programadas aquelas provenientes de situações de emergências, oriundas de anormalidades imprevistas no sistema. A distinção entre sobrecargas programadas e não programadas é que as primeiras permitem a utilização dos valores reais de curva de carga, podendo-se determinar os valores máximos de sobrecarga e tempo em que são admissíveis. Então, caso seja necessário programar-se, por algum tempo, uma sobrecarga de mais de 10% em algum transformador, deverá ser feita uma coordenação com os órgãos de estudos. Os critérios adotados por FURNAS, na ocorrência de uma sobrecarga não programada são os seguintes: a) Para sobrecargas iguais ou superiores a 50%: desligamento automático do transformador, em 20 segundos. b) Para sobrecargas inferiores a 50%: devem ser utilizados todos os recursos operativos, visando trazer-se o transformador à sua condição nominal ou a 110% do valor nominal, caso seja inverno e a temperatura ainda não tenha atingido nível de alarme de advertência. Caso não se elimine de todo a sobrecarga, esta pode ser tolerada até que opere o alarme de urgência de temperatura do enrolamento ou do óleo, quando então, a carga deverá ser reduzida, solicitando-se redução de demanda. c) A não redução de carga (relativo ao item b) implicará no desligamento automático do transformador em 20 minutos. É importante salientar que, se a carga do transformador não for reduzida imediatamente após o alarme de urgência de temperatura de óleo ou enrolamento, deverá ocorrer o desligamento do transformador. Isso porque a temperatura de enrolamento ou óleo não deve ter decrescido a valores inferiores aos ajustes dos alarmes de urgência, nos 20 minutos estipulados. Na maioria dos transformadores do sistema FURNAS, a corrente de curto- circuito trifásico para faltas em seus terminais ultrapassa a 300% da corrente nominal. Os relés de sobrecorrente são ajustados para que estas faltas sejam eliminadas, no máximo, em 2 segundos por esta proteção. 15 No caso de sobrecargas ou curto-circuitos trifásicos compreendidas entre 150% a 330% da corrente nominal, os transformadores do Sistema FURNAS são capazes de suportá-los por 20 segundos, estando, cobertos pelas proteções citadas. 11.4.2 Proteção de sobrecorrente de Fase temporizada (no ASA 51) e instantânea (ASA 50). a) Transformadores em operação radial A figura abaixo ilustra um caso típico de transformador com fonte de um único lado: o lado da fonte (primário) é em delta e o lado do secundário é em Y. Nestes casos, o relé 51 deve ficar entre a fonte e o transformador. Desta forma, o relé protege o transformador e provê retaguarda remota para as linhas LF e LG. a1) Ajustes da unidade instantânea (50): Estas unidades: • Não devem enxergar faltas nos trechos iniciais das linhas LF e LG (se isso ocorresse, as proteções das linhas, por serem temporizadas, jamais atuariam!). • Devem ser ajustadas com pick-up superior à maior corrente de curto- circuito trifásica na barra L: RTCII ptoLMáxccTRFIUPPICK /.25,1 )]([>− • Não devem enxergar as correntes de inrush dos transformadores. Logo, devem também obedecer à condição: RTCII ladoHNOMUPPICK /.8 )(>− 16 IMPORTANTE: 1) Considerando-se que a conexão do transformador é triângulo (primário)-estrela (secundário); tem-se que uma falta fase-terra no lado estrela, é vista no lado primário, em pu, como uma falta fase-fase, de valor de apenas 58% daquela, conforme ilustrado na próxima figura: 2) Em geral, as faltas no secundário do transformador são assumidas como ocorrendo imediatamente além da reatância, ou seja, após as buchas. Para faltas fase-terra, esta hipótese pode ser muito irreal, conforme será a seguir mostrado. Vejamos o que acontecerá, quando a falta ocorrer dentro do transformador, conforme ilustrado nas figuras a seguir. Inicialmente, nota-se que, uma falta fase- terra no secundário, causará correntes em duas fases, no primário. Em seguida, pela figura abaixo, nota-se que, a corrente vista no primário, varia com o ponto (lembrando que a região da falta é o interior do transformador) da falta fase-terra. Curtos que ocorrem muito próximo do neutro,serão de alto valor no secundário (por volta de 14 pu) e causarão pequenas correntes no primário. Por outro lado, curtos ao longo do interior do transformador, farão com que a corrente de curto fase-terra decresça, passando até por um ponto de mínimo (em torno de 7,8 pu), daí voltando a crescer, até atingir aproximadamente 11 pu nos terminais do transformador. Neste local, a corrente de curto no primário será máxima. 17 A figura abaixo ilustra análise semelhante, porém agora para um transformador com estrela aterrado. CONCLUSÃO: as unidades instantâneas não enxergam todas as situações acima descritas, pois elas foram ajustadas para curtos externos aos transformadores. A solução está no uso dos relés 51 que, conforme será mostrado a seguir, são ajustados para correntes de sobrecarga (e não para curtos, como o relé 50). 18 a2) Ajustes da unidade temporizada (51): Este relé é destinado a proteção contra faltas internas e externas ao transformador, bem como a sobrecargas. • AJUSTE DO TAPE: RTC I TAPE RTC I ouGptoFMinimoccTRIFladoHNOM ))](([)(.5,1 << IMPORTANTE: este relé 51, ajustado para corrente de curto trifásica, também consegue ver os curtos FF que ocorrem no secundário: Efeitos da conexão estrela-delta de transformadores na coordenação da proteção Da teoria de curtos assimétricos, tem-se que, ocorrendo um curto entre as fases 1 e 2, no lado estrela, as correntes ali serão de valores 0,87 x ICC Trifásico. Assim, se as correntes devido a um curto fase-fase no lado estrela, forem de valores 0,87 pu (fase 1), 0,87 pu (fase 2) e 0 pu (fase 3), então as correspondentes correntes, no lado delta, serão 1,00 pu (fase 1), 0,5 pu (fase 2) e 0,5 pu (fase 3). . Ou seja, nestas condições, um relé de sobrecorrente instalado na linha, do lado delta do transformador, verá, em uma das fases, uma corrente de 1,0 pu, (e não 0,86 pu), enquanto que, nas outras duas fases, o valor será de 0,5 pu. As curvas do relé 51 que protege o transformador devem ser do tipo extremamente inverso: 19 Agindo assim, não haverá riscos das curvas dos relés 51 que protegem o transformador e alguma linha a jusante se cruzarem, conforme ilustrado na próxima figura: MANEIRA ERRADA: Visando tornar o relé 51 do primário (lado H) uma proteção de retaguarda para linhas (por exemplo, cobrindo faltas até F ou G), o seu tempo de operação poderá ser muito longo e inadequado para proteger o transformador. Nestas condições, aconselha-se instalar um outro relé 51, agora no secundário (veja figura a seguir), para que este último seja, de fato, a retaguarda das linhas. Assim, o relé 51 do primário poderá ser ajustado comtempos mais curtos, porém mais adequados à proteção do transformador. 20 Para que não haja riscos das curvas dos relés se cruzarem, as curvas destes dois relés 51, bem como daquele relé 51 que protege a linha, devem ser de mesma característica. b) Transformadores com 3 enrolamentos ou autransformadores com terciário em delta b1) Ajustes da unidade temporizada (51): Considere o sistema abaixo ilustrado, onde um autotransformador interliga dois sistemas (H e M) e seu terciário (em delta) alimenta os serviços auxiliares de uma subestação. Nos casos em que faltas no lado B refletirem baixas correntes no lado H, o relé 51 instalado neste lado H poderá não ver estas faltas. SOLUÇÃO: Instalar relé 51 no lado B. Este relé deve ser coordenado com outros relés 51 eventualmente instalados à jusante, neste lado. 21 Em geral, não será necessário instalar outro relé 51 no lado M, pois este lado, por ser o condutor da maior parte da potência oriunda do primário (H), deverá ter correntes de curto suficientes para sensibilizar o relé 51 de H. Caso haja linhas de transmissão no lado H, este relé 51 (de H) deverá ser coordenado com a proteção dessas linhas (sejam essas constituídas de relés de sobrecorrente ou de distância, temporizados), visando proteção de retaguarda. b2) Ajustes da unidade Instantânea (50) Nestes casos não são empregadas unidades instantâneas porque não será possível ajustá-las seletivamente. 11.4.4 Proteção de sobrecorrente de Terra (no ASA 51N e 50N) a) Transformadores em operação radial a1) Ajustes da unidade temporizada (51N): A proteção contra curtos fase terra em transformadores somente será necessária caso o transformador não possua proteção diferencial. Nestas condições, o relé 51N será necessário para detectar faltas FT entre H e até dentro do enrolamento delta do transformador. Ele deve ser instalado no lado H, conforme ilustrado abaixo. 22 Este relé 51N não necessita ser coordenado com a proteção fase-terra das linhas, pois, devido à conexão delta, ele não vê faltas no lado L. a2) Ajustes da unidade instantânea (50N): Junto do relé 51N poderá ser instalada uma unidade instantânea (50N). Tal como para a unidade 51N, esta unidade não precisa ser coordenada com o lado L. Esta unidade 50N também não vê a corrente de inrush do transformador, pois está instalada no neutro. Para se detectar faltas no lado Y do transformador, será necessário usar outro relé 51N, no neutro do transformador: 23 b) Transformadores com 3 enrolamentos ou autotransformadores com terciário em delta: b1) Ajustes da unidade temporizada (51N): I)Faltas FT no terciário (lado B): Pela figura abaixo nota-se que, devido à conexão delta do terciário, uma falta FT no terciário não seria vista para um relé 51N instalado no lado H. SOLUÇÃO: Instalar um relé de sobretensão de grande sensibilidade, ligados em delta aberto: Ocorrendo um curto FT, a tensão Vr , no diagrama trifilar abaixo, será diferente de zero. Normalmente este rele 59 é usado apenas para dar alarme. 24 II) Faltas FT no secundário (lado M) ou primário (lado H): instalar um relé 51N de característica extremamente inversa no neutro do autrotransformador. Seus ajustes dever assegurar coordenação com as proteções de terra das linhas porventura existentes a partir das barras M e H. Caso a corrente de neutro seja pequena para curtos no lado de alta tensão (H), poderá ser necessário instalar um relé 51N junto com o 51 já instalado: 25 b2 )Ajustes da unidade instantânea (50N): Nestes arranjos não é aconselhável instalar unidades instantâneas, devido às prováveis altas correntes de inrush. 26 11.5 Exemplo de Cálculo de Ajuste do Relé 51, em um Auto-Transformador Dados: Potência: 150 MVA; Tensão nominal: 330/138 KV; TC’s de bucha no lado de ALTA, com as seguintes relações: 50/5-100/5-200/5-250/5-300/5 400/5- 500/5-600/5 local: Poços de Caldas – MG Relé usado: CO-8 (tempo inverso), conforme a tabela. TAP CAPACIDADE CONTÍNUA (A) CAPACIDADE EM 1 SEG. (A) 2,0 8 230 2,5 8,8 230 3,0 9,7 230 3,5 10,4 230 4,0 11,2 230 5,0 12,5 230 6,0 13,7 230 Figura 11.12 – Curvas típicas de tempo x corrente para o relé C)-8 27 Diagrama unifilar e fluxo de correntes de sobrecarga e de curto: Figura 11.13 • Descrição da proteção de sobrecorrente de fases: É constituída por dois relés de sobrecorrente, com características de tempo inverso, colocados nas fases A e C dos TC’s de buchas, do lado AT. O relé 51 atua no relé auxiliar 86, que abrirá os disjuntores A e B dos lados AT e BT. • Dados dos sistema que interessam para a seletividade: • Na barra de BT (138 KV) há 3 linhas com proteção “Falhas fase-distância” cujos tempos de operação dos relés temporizados, de tempo definido são: Linha L1: só possue zona 2 – tempo Tz2 = 0,4 seg. Linha L2: zona 2 – tempo Tz2 = 0,4 seg. zona 3 – tempo Tz3 = 1,5 seg. Linha L3: linha 2 • Na barra de AT (345 KV) também existem linhas com proteção “falhas fase-distância”, com temporização do tempo definido, para as zonas 2 e 3, mas cujos tempos não interessam à determinação da seletividade. Cálculo do ajuste: Devemos ajustar o relé para operar e retirar o autotrafo, com 130 a 150% de sobrecarga. A342I 3,1I ;A263 10.330.3 10.150I nomsobrecarga3 6 nom ==== 28 Adotando RTC = 600/5 = 120/1, a corrente a plena carga, no relé será: 263/120 = 2,19A. A correspondente corrente de sobrecarga será: 342A/120 = 2,85A. Adota-se o TAPE mais próximo → 3,0 A. Com este TAPE, o autotrafo será retirado do sistema com a sobrecarga de 3,0A x A360 1 120 = . OBS: Em seguida deve ser verificado se o TAPE escolhido é compatível com a sobrecarga permitida ao trafo: 263A → 100% 360A → x → x = 137% → segundo o fabricante, é admissível. Seletividade: Curtos trifásicos nas barras onde o AUTO-TRAFO encontra-se ligado, poderão sensibilizar o relé CO-8 (51) e fazê-lo operar indevidamente, retirando-o. Se isto ocorrer, deixará de existir seletividade em relação à barra, pois a sua proteção diferencial deverá operar antes do CO-8. Curtos trifásicos nas linhas também sensibilizarão o CO-8. Entretanto, os relés de distância das linhas devem operar e retirá-las antes de CO-8. Deve ser feita uma seletividade, para se evitar casos inconvenientes. • Para um curto trifásico na barra de alta, pelo relé CO-8 passará: A17,1 120 A140I == Como o relé está no tape de 3 A, a corrente de curto não o sensibiliza. Logo, não haverá necessidade de se fazer seletividade com esta barra (a qual será protegida pelos seus relés diferenciais instantâneos) nem com as linhas ligadas a esta barra. • Para um curto trifásico na barra da BAIXA TENSÃO, no relé tem-se: A6,14 120 1753I == Sendo 14,6 A maior que 3,0A, haverá sensibilização indevida do relé CO-8 que protegem as linhas L1,L2 e L3. Por outro lado, sendo os relés da barra de 138 kV, diferenciais instantâneos, não será necessário a coordenação de seletividade com eles. • Supondo um curto trifásico em F1 (na saída da linha): Devemos coordenar o tempo de operação (TO) do CO-8 com os temposdas zonas 2 e 3 das linhas de tal forma que: 29 1o) TO = Tz2 + 0,4 seg. → intervalo de tempo de coordenação. Motivos deste intervalo de 0,4 segundos existir. • Erros devido aos cálculos das correntes de curto. • Erros de TC’s. • Tempo de operação dos disjuntores das linhas. • Andamento do disco do relé CO-8 no intuito de fechar seus contatos para atuar. Este intervalo de tempo tem sido considerado muito longo e, nos últimos anos, vem sendo muito questionado pelos engenheiros eletricistas que operam com equipamentos sensíveis a afundamentos temporários de tensão. Certos equipamentos, por exemplo, os inversores, não conseguem alimentar suas cargas durante certos afundamentos de tensão. Para contornar este tipo de problema, as faltas devem ser retiradas o mais breve possível (não devendo, no entanto, a proteção atuar para transitórios que não caracterizam a presença de um curto verdadeiro). 2o) Tz3 > TO > Tz2 No caso analisado: Para Tz2=0,4 s e Tz3= 1,5 s: 1,5s > TO > 0,4s O múltiplo M da corrente de tape será: 87,4 3 6,14 TAP relé no C circuito === correnteM Nas curvas típicas do relé, com este valor de M devemos escolher um tempo TO adequado. No caso, para M =4,87 e DT = 3,0 a curva do relé fornecida mostra que TO será 1,2 seg., valor este satisfatório (pois está entre 1,5 s e 0,4s) Resumo do ajuste: TAPE: 3,0A DT : 3,0A Com estes valores devemos verificar a capacidade térmica do relé e de curto circuito dos enrolamentos do autotrafo. 30 • Verificação da capacidade térmica do relé: CAPACIDADE TÉRMICA: corrente que a bobina do relé suporta pelo tempo de 1 seg. sem se danificar. Para tempos diferentes de 1 seg. (1,2 seg. no caso): 2 1 12 t tII = Da tabela dada: TAP CAPACIDADE CONTÍNUA (A) CAPACIDADE EM 1 SEG. (A) 2,0 8 230 2,5 8,8 230 3,0 9,7 230 3,5 10,4 230 4,0 11,2 230 5,0 12,5 230 6,0 13,7 230 I1 = 230 A e t1 = 1,0 seg. Dos ajustes: t2 = TO = 1,2 seg. e I2 = ? A210 2,1 0,1.230I 2 2 == Ou seja, no tempo de 1,2 seg., o relé suporta 210 A sem danificar. Como neste tempo a corrente que nele circulará será de 14,6 A, o relé suportará bem. • Verificação da capacidade do curto dos enrolamentos do autotrafo. Norma Americana (ASA) Corrente Simétrica em Qualquer Enrolamento Tempo em Segundos 25 IB 2 20 IB 3 16,6 IB 4 14,3 IB ou menos 5 No caso, IB = 263 A e Ifalta = 1753 A • Icorrente simétrica = →= BI 67,6263 1753 . Pela tabela acima, essa corrente pode circular nos enrolamentos, sem danificá-los, por mais de 5 segundos. Pelos cálculos: a corrente terá a duração de apenas 1,2 seg. → Logo, o ajuste está correto também quanto a este aspecto. 31 NOTAS: • Caso não tivéssemos conseguido coordenar todas essas variáveis, novas tentativas deveriam ser feitas através de outras escolhas de RTC’s, taps e alavancas. • Essa proteção funciona como retaguarda para a barra e as LT de 138 KV. 11.5.3. Proteção de Sobre Corrente de Neutro – no 51N O relé 51N protege os transformadores para falhas externas fase-terra. É ligado ao TC do neutro. Este relé (51N) atua no relé auxiliar HEA (T86) o qual abre os disjuntores A e B conforme a figura: Figura 11.14 1. Dados do autotrafo: são os mesmos anteriores. RTC do TC do neutro= 800/5. 2. Correntes de curto: fornecidas na figura acima. 3. Dados do sistema que interessam à seletividade: Linhas de 138 KV Linha L1: é protegida contra falhas à terra com um relé do tipo IRD-9 (67G), direcional de sobrecorrente, que possui as seguintes unidades: Unidade D: fornece a característica direcional do relé, permitindo aberturas dos disjuntores para correntes de curto no sentido de (2) para (4). Não possui ajustes para a seletividade. Unidade I: Instantânea, não direcional. 32 Unidade CO-9: de sobrecorrente, de tempo muito inverso, com as curvas em cópias anexas. Ajustada em tap: 0,5 A; alavanca: 6,0; RTC: 500/5 A. Linha L2 = Linha L3: Possuem proteção primária (Carrier) a secundária. A primária é constituída por um relé tipo KRD-4 (67G1). Não é necessário conhecer seu ajuste pois a seletividade é feita em função dos relés temporizados e este é instantâneo. A proteção secundária é constituída por relés IRD-9 (67-G2) iguais ao da linha L1, com os seguintes ajustes da unidade CO-9: Tap = 0,6A; alavanca: 4,0; RTC: 500/5A. Seu ajuste é importante na seletividade. Barras de 138 e 345 KV: São protegidas por relés diferenciais instantâneos. Logo, não será necessário fazer a seletividade com estas barras. Barra chave: É a barra que, devido à sua importância, é tomada como referência. No caso, é a (3). O relé 51N deverá retirá-la do sistema somente após 3,2 seg. (tempo suficiente para fazer com que os relés primários eliminem a falha). Linhas de 345 KV: Suas proteções são mais são mais seguras, eficientes e confiáveis que as das LT de 138 KV. Por isso, vamos coordenar a seletividade com o lado de 138 KV. Características do relé CO-8 (51-N) Tapes Capacidade contínua (A) Capacidade em 1 segundo (A) 0,5 2 88 0,6 2,2 88 0,8 2,5 88 1,0 2,8 88 1,5 3,4 88 2,0 4,0 88 2,5 4,4 88 Cálculo do ajuste: O relé CO-8 (51-N) será ajustado para que sirva de retaguarda para curtos na barra 3. Considerando que a RTC do TC de neutro é 800/5, então, para um curto fase-terra na barra (3), teremos no relé: I = 361/160 = 2,26 A 33 Devemos escolher um tape inferior a este valor, pois as correntes de curto são fornecidas, pelos computadores, com o sistema na sua carga máxima e todo interligado. Entretanto, podem ocorrer curtos em que essas situações não estejam vigorando. Isto é, as correntes de curto serão menores e o relé poderá não operar. Assim, vamos escolher o TAPE de 1,0 A. Logo, 26,2 1 26,2M == Seletividade: Obtido “M”, escolhe-se uma alavanca que forneça um tempo de operação, TO, para curtos em (3), que seja: • Superior em pelo menos 0,4 seg. ao tempo de operação das unidades CO-9 dos relés IRD-9 (67-G) das linhas L2 e L3: TO > 0,4 + TO(CO-9). Este ajuste é necessário para que os relés das linhas possam operar antes de CO-8 (51-N). • Superior a 3.2 seg. (tempo de proteção de retaguarda): TO > 3,2 seg. Assim, o próximo passo é o cálculo do tempo de operação dessas unidades CO-9, para curtos na barra 3: • A corrente de curto nos relés será: A09,4 100 409 = . • Isso fornecerá o múltiplo de TAPE: 82,6 6,0 09,4M == (OBS.: 0,6 é o tape fornecido para a unidade CO-9) • Tendo sido dado também que a alavanca de 4,0, da figura abaixo tira-se que, para M=6,82, o tempo de operação das unidades CO-9 será TO=0,7seg. 34 Figura 11.15: Curvas típicas relé CO-9 Com este tempo obtido, podemos agora determinar o tempo de operação do CO-8 do relé 51N. • Conforme as condições estipuladas na “seletividade”, devemos ter: • TO > 0,4seg + TO(CO-9) → TO > 0,4seg + 0,7seg → TO > 1,1 seg. • TO > 3,2 seg. Levando o valor de M já calculado (igual a 2,26) nas curva do relé CO-8, observar-se-á que, com a ALAVANCA = 3, teremos TO = 4,45 seg., o qual satisfaz às nossas condições acima (> 3, 2 seg. e > 1,1 seg.). Assim, o ajuste para o relé 51N será TAPE=1, ALAVANCA= 3. 35 11.6) Proteção com relés de pressão e/ou gás As principais causas das falhas nos transformadores com enrolamentos imersos em óleo são: • Má conexão entre condutores • Curto entre espiras (de mesma φ ou entre φ) • Falha no isolamento para terra. Estas falhas dão origem à formação de arcos voltaicos,com elevações de temperatura acima do permissível pelas normas. Por exemplo, à temperatura de 350oC, há decomposição do óleo isolante e conseqüente produção de gases (hidrogênio, hidrocarbonetos e monóxidos de carbono). O relé de pressão opera quando da existência de aumento anormal na pressão do óleo do transformador, devido a arcos ocasionados por falha interna. Esse relé não percebe lentas variações ocasionadas, por exemplo, por sobrecargas. Quando da existência de faltas incipientes, há a formação de gases que através de um tubo, sobem até o relé. O gás acumulado força o óleo para baixo, havendo, com isto, o deslocamento de uma bóia, deslocamento esse que o ponteiro do mostrador acompanha. Para um determinado valor de pressão, é acionado um alarme, antes que a deterioração do isolamento provoque danos maiores. Relé BUCHOLZ (no ASA: 63) O relé Buchholz é uma combinação do relé de pressão com o relé detetor de gás. É empregado em transformadores que possuem tanque de expansão de óleo e tem a finalidade de proteger o transformador contra defeitos internos, tais como avarias no isolamento com formação de arco, perdas de isolamento entre as chapas do núcleo e alta resistência nas ligações, isto é, todos os defeitos que produzam gases ou movimento violento do óleo. Dependendo do tipo de defeito, a produção de gases pode ser lenta ou brusca. O relé ainda atua quando o nível do óleo baixa além do ponto em que está situado. O relé Buchholz é colocado entre o tanque do transformador e o tanque de expansão, como mostra a figura 11.16. 36 Figura 11.16: Relé Bucholz A figura abaixo mostra o princípio básico de operação deste relé. Figura 11.17: esquema básico do relé Bucholz Nesta figura, ocorrendo, por exemplo, um curto entre espiras, haverá o surgimento de gás nas proximidades do local do curto. Este gás, uma vez formado, procurará se deslocar para a parte superior do transformador, que é o “conservador”. Neste caminho, ele deslocará um ou dois dos contatos mostrados na figura, conforme a seguir descrito: Contato F: É atuado quando apenas um pequeno volume de gás é deslocado, o que é típico de pequenas faltas. Atuando esse contato, um alarme é soado (ver também figura 11.18b). Contato V: No caso da ocorrência de faltas maiores, que provocam expansão do óleo entre o torque e o conservador, este contato é acionado. Ele atuará no relé 86, que retirará o transformador do circuito (ver também figura 11.18c). 37 (a): situação normal; (b): pequeno volume de gás faz soar alarme, (c): falta maior causa abertura de disjuntor Figura 11.18: Os três estágios da operação do relé Bucholz: 11.7. Proteção contra falta de óleo Como se sabe, o óleo existente em um transformador tem, como função principal, ser isolante. Desta forma, pode-se diminuir as distâncias entre a carcaça e as partes energizadas. Uma outra função do óleo em transformadores, é a de refrigeração, pois ele facilitará o transporte do calor desenvolvido no interior do transformador, para as paredes do tanque e radiadores. Transformadores pequenos possuem apenas indicação visual do nível do óleo através de vasos comunicantes. Já os transformadores de maior porte utilizam indicadores que, além de permitirem a fiscalização visual, acionam um alarme. Em geral, o nível de óleo baixa por causa de vazamento nas juntas ou em válvulas. Esses vazamentos acarretam um abaixamento lento do nível e, antes de soar o alarme, o pessoal de manutenção já tomou providências. No caso de um vazamento série (umas das torneirinhas do relé de gás que se abre, por exemplo) deverá então soar o alarme. 11.8) Dispositivo de Alívio de Pressão Na ocorrência de um curto-circuito, o arco instantaneamente vaporiza o líquido, causando uma formação muito rápida de pressão gasosa. Se essa pressão não é aliviada adequadamente, em alguns milésimos de segundo o tanque do transformador se romperá, espalhando óleo chamejante sobre uma área ampla. As possibilidades de danos e fogo, em conseqüência, são óbvias e é imperativo que se tome medidas para evitá-las. Daí, a necessidade do uso de uma válvula de alívio de pressão,conforme ilustrado na figura a seguir. 38 Figura 11.19 – Válvula de alívio de pressão. 11.9. Proteção de sobretemperatura 11.9.1. Proteção contra sobretemperatura do óleo No ASA 26 O indicador da evidência da sobretemperatura é o termômetro de óleo, geralmente composto de: • Elemento termométrico (latão de fina espessura). • Tubo de proteção (bulbo cilíndrico). • Óleo (cuja temperatura sofrerá variação). • Tubo capilar (transmissor de pressões). • Compartimento com ponteiros, escalas e contatos de sinalização. Figura 11.20 O termômetro possui vários pares de contatos: Por exemplo: Seja um trafo que suporte elevação de temperatura do enrolamento, até 55oC: 39 A 60oC – um contato liga os ventiladores. A 65oC – um contato liga as bombas de circulação de óleo. A 80oC – ídem, aciona o alarme. A 85oC – o trafo sai fora de serviço. Geralmente, os transformadores possuem relés térmicos ou indicadores de temperatura que, ao operarem, indicam que foram atingidos os limites de temperatura pré-determinados para o óleo ou para os enrolamentos. Esses sensores de sobretemperatura são ajustados em função das condições anteriores de carga, do ciclo de carga submetido e das condições de temperatura ambiente. Esses fatores, convenientemente relacionados com a classe de elevação de temperatura dos transformadores, permitem avaliar os nível de temperatura a serem alcançados e os índices de perda de vida para estas condições, bem como ajustar os sensores de temperatura. 11.9.2. Sensores de Sobretemperatura do Óleo -No ASA 26 Os tipos de indicadores de temperatura variam com o fabricante. Os modelos mais usados utilizam o princípio da pressão hidrostática de um líquido num recipiente fechado. A figura 11.20 mostra um indicador de temperatura do óleo para transformadores GE. Figura 11.20 – Indicador de temperatura de óleo (GE). Quando a temperatura do óleo aumenta, o mercúrio se expande no interior do bulbo e empurra o mercúrio existente no tubo capilar. O mercúrio termina por distender uma mola, que move um ponteiro no mostrador, indicando a temperatura. Se a temperatura continua a subir, o ponteiro ocasiona o fechamento de contatos que, em geral, faz soar um alarme. 40 Devido à diversificação da quantidade de níveis de temperatura disponível nos sensores, apontaremos na tabela a seguir, um exemplo de ajuste para transformadores de FURNAS, com o termômetro do óleo tendo dois níveis de temperatura: Dispositivo de Sobretemperatura Classe de Elevação de Temperatura Termômetro do Óleo 55oC 65oC 1o Nível Alarme de advertência 85oC 85oC 2o Nível Alarme de urgência e desligamento após 20 minutos (se for o caso) 95oC 95oC 11.9.3. Sensores de Sobretemperatura de Enrolamento No ASA 49 O indicador de temperatura do enrolamento deve medir a temperatura do ponto mais quente do enrolamento. Com as variações de carga, a temperatura do óleo modifica-se bem mais lentamente do que a temperatura do enrolamento: A constante térmica de tempo para os enrolamentos pode ser expressa em segundos, ao passo que, para o óleo, é expressa até em horas. O método usual para se conhecer a temperatura dos enrolamentos de um transformador é usar uma resistência (o resistor é uma bobina não indutiva de cobre) alimentada por um TC, a fim de reproduzir a imagem térmica do enrolamento cuja temperatura se quer medir. Neste tipo de proteção, o conhecimentoda temperatura pode ser obtido, por exemplo, conforme ilustrado na figura abaixo: Figura 11.21 41 O elemento aquecedor é um resistor de cobre, cuja constante térmica é próxima daquela do enrolamento do transformador. O resistor é alimentado por um TC. Um outra forma de proteção de sobre temperatura é através do Relé de Imagem Térmica, cujo esquema básico está abaixo ilustrado: Figura 11.22 As resistências detectoras da elevação de temperatura (RTD) são partes constituíntes de uma Ponte de Wheatstone, a qual alimenta o relé 49 e é calibrada para a temperatura normal. Acontecendo uma sobretemperatura no interior do transformador, as RTDs se sobreaquecem, desequilibrando a ponte, alimentando, assim, o relé 49, que atuará a proteção. A figura 11.23 mostra um medidor de temperatura de enrolamento para transformadores ACEC. Figura 11.23 – Medidor de temperatura do enrolamento. 42 Este equipamento é semelhante ao de temperatura do óleo. Porém, ele não está colocado entre os enrolamentos do transformador, uma vez que haverá grande dificuldade de isolamento entre o bulbo e a alta tensão dos enrolamentos. A figura 11.24 mostra o diagrama operativo e detalhes de instalação do medidor de temperatura de enrolamento para trafos ACEC. Figura 11.24 – Instalação do medidor de temperatura. Para transformadores de FURNAS, por exemplo, com termômetro de enrolamento tendo 4 níveis de temperatura e sem relé externo, os ajustes seriam os seguintes: Dispositivo de Sobretemperatura Classe de Elevação de Temperatura Termômetro do Enrolamento 55oC 65oC 1o Nível Partida dos ventiladores 80oC 80oC 2o Nível Partida das bombas de óleo 85oC 85oC 3o Nível Alarme de advertência 95oC 105oC 4o Nível Alarme de urgência e desligamento em 30 minutos (se for o caso) 110oC 120oC Para os transformadores das unidades geradoras, os sensores de sobretemperatura de óleo e de enrolamento, em geral, não deverão desligá-los 43 automaticamente. Isso porque esses transformadores normalmente não estão sujeitos a sobrecarga. A figura 11.25 mostra o esquema de alarme e disparo por sobretemperatura dos transformadores, no momento em que são atingidos os níveis de alarme de urgência. Figura 11.25 – Esquema para alarme e disparo por sobretemperatura. 11.10. Proteção do tanque de um transformador No ASA 64 Esta proteção é usualmente denominada de Howard, em homenagem ao pesquisador que a instituiu. O arranjo é ilustrado na figura abaixo. Uma conexão do tanque à malha de terra permitirá que uma eventual corrente de falta Fase- Terra circule aí e possa sensibilizar o relé de sobrecorrente instantâneo (este relé está associado ao No. ASA 64, para caracterizar a proteção Howard). Para maior eficiência deste arranjo, é necessário que o tanque do transformador seja bem isolado da terra (usualmente Rterra>10 OHMS). Sugere- se que a relação mínima entre a corrente de curto (Icc) e a corrente de fuga (via isolamento) seja de 10.