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Normas de conduta 
na sociologia jurídica 
Vigiar e Punir 
 
A condição humana é precária. 
 
Tudo que dela deriva também é precário. 
 
A ordem social é uma invenção. 
Nada nela é natural. 
 
Se fosse natural, todos seriam iguais. 
 
A sociedade nasce da usurpação do 
poder. 
A desigualdade, em si, já é sinônimo de 
violência. 
 
O chamado “contrato social” é apenas um 
eufemismo para camuflar a violência do 
mais forte sobre o mais fraco. 
 
No interior da desigualdade, constrói-se a 
ordem social, cuja expressão mais 
cristalina é o Direito. 
A ordem jurídica é instrumento de poder. 
 
Vigiar e punir é sua função na sociedade. 
 
Só a vigília e a punição são capazes de 
manter o mínimo de ordem na sociedade. 
Vigília é estado permanente de observação 
e censura sobre si e sobre todos. 
 
Embora caiba ao Estado, administrar a 
função de vigiar e punir, é o indivíduo que a 
exerce na imediatez dos acontecimentos. 
 
Ao Estado, por meio de seus instrumentos 
repressivos, é reservada a função 
mediadora e pacificadora dos conflitos pelo 
uso de mecanismos de compensação e 
punição. 
Tipos de comportamento 
 
Conformista: é a conduta que busca atingir 
as metas sociais por meios 
institucionalizados, num agir politicamente 
corrente, de acordo com padrões sociais 
estabelecidos. 
Inovacionista: é a conduta que procura 
atingir metas sociais, valendo-se também 
de formas não convencionais, como meio, 
quando necessário forem. Estão de acordo 
com as metas, porém nem sempre com os 
meios fixados. 
Ritualista: é a conduta que age de forma 
contrária à do inovacionista. Por algum 
motivo, o ritualista abdica das metas e 
apega-se aos meios, transformando-os em 
fins. As normas de conduta social são 
cumpridas pelo ritualista a todo preço e 
em qualquer circunstância, porque 
encontra nelas uma forma de realização 
pessoal, ainda que estejam totalmente 
vazias de sentido, significado ou interesse 
social. 
Evasão: é a conduta caracterizada pelo 
abandono das meio e metas sociais. 
Renuncia àquilo que a sociedade oferece 
ou determina. Como observou Merton, os 
adeptos desse comportamento estão na 
sociedade, mas não são dela. Apenas 
vivem no meio social. Exemplo típico 
desse comportamento são os hippies, que 
acreditam ser os valores, metas e meios 
sociais insuficientes e irrelevantes para a 
realização do ser humano. 
Rebelião: é a conduta que tem as mesmas 
características da Evasão. Porém, ao 
contrário da Evasão, os adeptos desse 
comportamento são ativos e procuram 
derrubar os padrões vigentes (metas e 
meios) e estabelecer uma nova ordem 
social institucionalizada, com novas metas 
e novos meios. Exemplo: guerrilhas, 
atentados terroristas etc. 
Coação 
Conforme Bobbio, o Direito, como coação, 
é patente desde Hobbes, passando por 
Locke, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Max 
Weber e Kelsen. A estrutura jurídica e o 
poder político se articulam, constituindo-se 
numa força coativa na organização e 
manutenção da sociedade. Sem poder 
coativo e legitimidade política, não há 
Direito. Deste modo, o Direito e o Estado, 
na tradição positivista, são duas faces da 
mesma medalha. 
Desde que nasceu o Estado moderno, 
centralizador, unitário e unificante, que 
tende à monopolização simultânea da 
produção jurídica (por meio da 
subordinação de todas as fontes de do 
direito) e do aparelho de coação 
(transformação dos juízes em funcionários 
da coroa e da formação de exércitos 
nacionais), pode-se dizer que não existe 
outro direito, além do estatal, e não existe 
outro Estado, além do jurídico. 
Sanção 
 
O exercício do Direito exige autonomia da 
vontade (liberdade), que implica, no dever 
ser, sanção. 
 
A obrigação não pode existir sem sanção. 
 
A coação psíquica, geradora do temor à 
pena ou à punição, faz com que a maioria 
se conduza nos limites do Direito. 
Sanções formais 
 
São as preestabelecidas no ordenamento 
jurídico, que vão desde advertência à pena 
de morte, como é o caso dos EUA, China 
etc. São de caráter repressivo, por meio 
dos órgãos de segurança pública e do 
judiciário (heterônomas). 
Sanção social 
 
A sanção social se exerce por meio do 
controle ideológico (família, escola, igreja, 
clubes de serviço, associações, entidades 
etc.) São sanções, quase sempre, sem 
implicações penais. Neste caso, a sanção 
tem caráter informal, sem força jurídica, 
limitando-se às esferas privadas 
(autônomas). 
Sanção negativa: as sanções negativas 
têm efeito coativo para o infrator e 
intimidador para os demais membros da 
sociedade. A intensidade das sanções 
negativas é variada, desde uma 
advertência dada ao aluno pelo Diretor da 
Escola à aplicação de pena de 30 anos de 
reclusão. 
Sanção positiva: a rigor é difícil qualificá-la 
de “sanção”, uma vez que resulta da 
premiação ou recompensa, que geralmente 
funciona como exemplo aos demais. Na 
verdade, a sanção não recai sobre o 
premiado ou o recompensado e, sim, sobre 
os demais. Este tipo de sanção tem caráter 
orientador (persuasivo) ou gratificador. 
Sanção legal preventiva: objetiva a evitar a 
violação de normas. Aplica-se a indivíduos 
formas de controle relacionadas a 
consequências negativas. O Estado 
Democrático de Direito não aceita, em 
geral, as sanções preventivas, tais como, 
medidas de fiscalização com o intuito de 
provocar medo ou incômodo. Exemplo, 
blitz da polícia, que submeta os motoristas 
ou os pedestres a controle de identidade, 
revistas etc.. 
Sanção legal reparadora: aplica-se contra o 
autor de um dano pela violação de normas 
jurídicas. Objetiva restaurar, na medida do 
possível, a situação anterior ou, pelo 
menos, restabelecer a ordem lesada e a 
confiança dos indivíduos no sistema 
jurídico. 
Sanção legal reparatória pode ser dividida 
em três: constrangimento, ressarcimento e 
imposição de uma obrigação. 
A aplicação dessas obrigações, nos Estados 
Modernos, deve respeitar três princípios, que 
decorrem da Constituição e da legislação 
penal: 
Legalidade: as autoridades do Estado podem 
aplicar somente as sanções previstas em lei 
anterior ao fato delitivo. 
 
Proporcionalidade: a medida da sanção deve 
corresponder à gravidade da infração. 
 
Imparcialidade: as vítimas não podem decidir 
sobre a aplicação de sanções reparatórias. 
Referências 
 
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de 
Sociologia Jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 
2006. 
 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da 
prisão. Petrópolis: Vozes, 1977. 
 
SABADELL, Ana Lúcia. Manual de Sociologia 
Jurídica: introdução a uma leitura externa do 
Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2002.

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