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V B EH A V IO R ISM O E COGNITIVISMO: C OM PA RA ÇÃO EN T R E P RO PO S IÇÕ E S T EÓ R ICAS E M OD E LOS D E I N T ER V EN Ç ÃO T ER A P ÊU T IC A Atualmente, segundo Siocum e Butterfield (1994), o principal cisma na Psicologia ocorre entre behavioristas e cognitivistas. Analistas do comportamento criticam os cognitivistas por serem mentalistas - em outras palavras, por serem cognitivistas. Psicologos cognitivistas criticam os analistas do comportamento por explicarem o comportamento apenas no nivel da observacao - em outras palavras, por serem comportamentais (Slocum e Butterfield, 1994, p. 59). Diante do exposto, observa-se que a relacao entre as orientacoes behavioristas e cognitivistas esta cercada de controversias, sendo possivel identificar, atualmente, pelo menos tres grupos que assumem argumentos totalmente diversos um do outro. Um primeiro grupo considera as explicacoes behavioristas incompletas e/ou inadequadas e, por isso, defende as explicacoes cognitivas (Bandura, 1995; Locke, 1995; Mahoney, 1995); um segundo grupo, ao contrario, considera as explicacoes cognitivas inadequadas e/ou desnecessarias e por isso sustenta o modelo behaviorista (Hawkins, 1992; Lee, 1992; 1995; Morris e cols., 1982; Observer, 1977); e um terceiro grupo, que adota uma posicao intermediaria, reconhece o valor das explicacoes behavioristas e cognitivistas e sugere que ambas nao apenas se complementam, mas que as suas diferencas sao apenas de terminologia (Overskeid, 1995; Slocum e Butterfield, 1994). Mesmo diante de posicoes tao divergentes e "avesso" aos problemas que envolvem as diferencas de paradigmas, o que se verifica e que o movimento de integracao entre Behaviorismo e Cognitivismo, sobretudo na area clinica, tem prosperado. Considerando estes fatos (controversias e crescimento), o capitulo propoe-se a identificar alguns limi35 tes da integracao entre os modelos de intervencao da TAC e da TC de Beck, confrontando proposicoes teoricas de orientacoes behavioristas e cognitivistas e certos aspectos da conducao do processo terapeutico em cada um dos tipos de intervencao. Em um primeiro momento, serao demarcadas algumas semelhancas e distincoes entre os sistemas behavioristas de Watson, Tolman, Hull e Skinner e os pressupostos da TC de Beck. Neste caso, trata-se de um confronto entre proposicoes teoricas. No segundo momento, pretende-se ilustrar, atraves de fragmentos de sessoes, aspectos das seguintes problematicas: a) existem ca ra c te ris tica s definidoras de intervencoes cognitivistas e comportamentais?; b) e possivel distinguir uma intervencao comportamental de uma intervenção M cognitiva?; e c) identificam-se semelhantes nos processos terapeuticos comportamentais e cognitivista s que ju s tificam a integracao entre as orientacoes no contexto clinico? Confronto entre Proposições Teóricas Os aspectos consideradqs para a comparacao entre os behaviorismos e TC serao as concepcoes de comportamento, ambiente, causalidade, homem e crenca. A inclusao do conceito de crencas neste confronto justifica-se na medida em que se observa que este conceito ocupa um lugar central nas explicacoes cognitivistas e, alem disso, e possivel estabelecer uni contraponto entre as interpretacoes sustentadas pelos cognitivistas, com a interpretacao que e dada por Tolman Skinner e outros analistas do comportamento. Watson e Hull foram excluidos do confronto, em funcao de nao ter sido encontrada nenhuma referencia as crencas em textos desses autores e de seus comentadores. Em outras palavras, enquanto eles sao importantes como representantes de behaviorismos distintos, o termo crenca, em seus modelos explicativos, nao e incluido. Watson restringia-se a estudar o comportamento publicamente observavel, definindo-o, basicamente, como mudancas motoras e glandulares desencadeadas por eventos ambientais. Tolman e Hull, apesar de tambem estudarem o comportamento diretamente observavel, sustentavam que este era um fenomeno determinado por variaveis mediacionais. Ja Skinner defendia que a ciencia do comportamento deveria estudar nao apenas comportamentos publicos, mas tambem comportamentos privados, aos quais apenas cada individuo, em particular, possuisse acesso direto; ambos os tipos de comportamento, de acordo com Skinner, sao determinados por contingencias de sobrevivencia e de reforcamento. No modelo de Beck, semelhante as posicoes de Tolman e Hull, os comportamentos sao fenomenos publicos, produtos imediatos 36 de variaveis mediacionais. Alem disso, pode-se dizer que enquanto o comportamento para Watson, Tolman, Hull e Beck remete a nocao de resposta, para Skinner, o comportamento e uma relacao. No Behaviorismo de Watson, o ambiente foi concebido como partes do universo externo e interno que afetam o organismo, sendo que os dois "mundos de estimulos" possuem dimensoes fisicas. Nos sistemas de Tolman e Hull, supoem-se que o ambiente se restrinja apenas as situacoes externas que ativam variaveis internas em uma cadeia de eventos. Skinner, como Watson, concebe o ambiente como partes do universo interno e externo que estao em relacao com o individuo. I3eck assume a mesma concepcao de Tolman e Hull ao interpretar o ambiente como situacoes externas aos individuos, que desencadeiam variaveis mediacionais. A respeito do modelo causal, o Behaviorismo watsoniano adota o paradigma S-R, que e caracteristico de um modelo mecanicista de causa e efeito. Nos Neobehaviorismos Mediacionais de Tolman e Hull, embora o paradigma seja diferente, no caso o S-O-R, o modelo de causalidade e o mesmo presente na explicacao de Watson (mecanico). No Behaviorismo Radical, a explicacao dos eventos e seledonista, historica e, por isso, nao e uma explicacao mecanica, sendo o paradigma adotado o Sd-R-Sr. Na concepcao de Beck, o modelo causal tambem e mecanico, da mesma forma que o de Watson, Tolman e Hull, embora mais proximo dos dois ultimos, em funcao da possibilidade de enquadrar suas explicacoes no paradigma S-O-R. Relacionado com as nocoes de causalidade supracitadas, cabe fazer um paren tese para lembrar que Watson e Skinner sao extemalistas e nao recorrem a mediadores em suas explicacoes comportamentais, distintamente de Tolman e Beck. Skinner e externalista, na medida em que, mesmo quando admite a possibilidade de um evento interno controlar um comportamento, este evento nunca e autonomo; o controle discriminativo, em instancias de comportamentos operantes, constroise a partir da relacao entre individuo e ambiente publico (Tourinho, 1999). A concepcao de homem adotada pelo Behaviorismo de Watson implica um dualismo em funcao de considerar que o homem "se constitui" de processos fisicos e mentais. Da mesma forma, para Tolman, existem eventos que diferem dos fenomenos fisicos; tais eventos sao variaveis mediacionais de natureza cognitiva. Hull caracterizava as variaveis mediacionais de seu sistema como intra-organismic^s (fisicas) e nao recorria a termos mentais; assim, pode-se dizer que ele trabalhava com uma concepcao monista. Da mesma maneira, Skinner assume uma posicao monista ao negar a existencia de fenomenos que de alguma forma vao alem do fisico. Ja o modelo de Beck retoma a posicao dualista 37 ao sustentar, como Tolman, que existem variaveis mediacionais cognitivas que diferem dos eventos fisicos. Ate aqui, observou-se que o Behaviorismo de Watson e semelhante ao de Tolman, Hull e do modelo de intervencao de Beck no que se refere a concepcao de causalidade mecanica, e distingue-se destes em relacao a nocao de ambiente e ao paradigma adotado. Alem disso, Watson, Tolman e o modelo de Beck sao semelhantes quanto a postura dualista fisico/mental (cognitivo). Comparado com o Behaviorismo Radical, Watson assemelha-se quanto a concepcao de ambiente e por nao recorrer a eventos mediacionais. Skinner e Hull aproximam-se na adocao do monismo. Os Neobehaviorismos de Tolman e Hull sao semelhantes ao sistema de Beck em relacao as concepcoesde comportamento e ambiente, ao modelo causal e ao paradigma adotado. O Behaviorismo Radical de Skinner, com excecao das semelhancas ja citadas com o Behaviorismo de Watson e o de Hull, nao compartilha nada com o sistema de Tolman, nem tampouco com o modelo de intervencao de Beck. A partir destas constatacoes, e possivel afirmar que, se de um lado, o Behaviorismo Classico de Watson e o Neobehaviorismo Mediacional de Hull possuem aspectos semelhantes ao sistema cognitivo aqui apresentado, e o Neobehaviorismo de Tolman e indistinguivel daquele sistema em pressupostos fundamentais, por outro lado, o Behaviorismo Radical distingue-se radicalmente dos pressupostos cognitivistas de Beck. As principais informacoes abordadas ate aqui estao sintetizadas nas Tabelas 2 e 3, a seguir: A respeito da Tabela 2, alguns esclarecimentos ainda sao necessarios. O primeiro refere-se a interpretacao da TC como representante do paradigma S-O-R. Fazer isto e uma interpretacao proposta por alguns behavioristas (Chiesa, 1994; Moore, 1995b; 1996) em f uncao das similaridades encontradas entre as explicacoes mediacionais e as cognitivistas. Na literatura cognitivista/ entretanto, tal interpretacao e raramente encontrada. Na Tabela 2, entao, o objetivo foi tentar evidenciar a similaridade do paradigma S-O-R com o modelo explicativo de Beck. Passando agora a analise das crencas, como visto no capitulo 1, no Neobehaviorismo Mediacional, Tolman inclui as crencas em sua categorizacao de variaveis intervenientes e no processo de aprendizagem. Tolman postulou a existencia de seis conexoes envolvidas na aprendizagem, dentre elas estao as crencas de equivalencia, as expectativas de campo e os modos de cognicao de campo. As crencas de equivalencia consistem em atribuir uma crenca ou expectativa existente a situacoes diferentes (comportar-se como); as expectativas de campo sao representacoes do meio que permitem agir em situacoes novas, e os modos de cognicao de campo dizem respeito a processos de ordem superior responsaveis pelas expectativas de campo (Marx e Hillix, 1982). Em 1959, Tolman afirmou que havia um lugar em que as crencas eram armazenadas. Disse ele: "as diferentes prontidoes ou crencas (dispo- 39 sicoes) estao armazenadas juntas (no sistema nervoso)" (Conforme citado por Morris e cols., 1982, p. 118). No sistema de Tolman, entao, embora nao seja possivel identificar um conceito claramente elaborado para as crencas, elas sao concebidas como variaveis mediacionais cognitivas que, armazenadas no sistema nervoso, sao capazes de determinar comportamentos. Mais precisamente, dizem respeito as representacoes e as expectativas de um organismo construidas na relacao com o ambiente. Assim, quando o organismo ja adquiriu representacoes e expectativas acerca de certas situacoes, serao elas que determinarao a maneira como o organismo se comportara quando exposto aquelas situacoes. No Behaviorismo skinneriano, apesar do conceito de crencas nao ser relevante, Skinner chegou a escrever a respeito em algumas de suas obras. A analise skinneriana coloca o tema em discussao sob duas oticas: de um lado, indagando o que controla o comportamento de atribuir- se crencas a alguem, isto e, como se pode interpretar a "linguagem" das crencas; de outro, examinando o processo atraves do qual explicacoes que o sujeito elabora sobre o ambiente entram no controle de seu comportamento subsequente. No livro, 'Verbal Behavior7 /(Skinner, 1957), Skinner comenta que o comportamento do ouvinte pode estar sob controle de crencas, relacionando-as com a forca da resposta no sentido de uma tendencia de se comportar de uma dada maneira. Um dos exemplos de crencas citados por Skinner (1957) foi o seguinte: "Nossa crenca de que ha queijo na geladeira e uma funcao de, ou e identica a, nossa tendencia de ir ate a geladeira quando queremos comer queijo, ou outras coisas do tipo" (pp. 159-160). Tendencia, em uma concepcao skinneriana, diz respeito a probabilidade de comportamento (Skinner, 1989). Deste modo, afirmacoes sobre crencas dos sujeitos sao usualmente afirmacoes sobre a probabilidade de comportamento e estao baseadas na observacao de instancias ^passadas do comportamento. Da mesma forma, em Contingencies o f Reifor cement (Skinner, 1969), Beyond Freedom and D ignity (Skinner, 1971) e About Behaviorism (Skinner, 1974), Skinner sugere que falas sobre crencas dizem respeito a uma probabilidade de acao, que e funcao da historia passada dos individuos de exposicao as contingencias. Em 1969, Skinner afirma que crencas sao estabelecidas "quando aumentamos a probabilidade da acao atraves do reforcamento do comportamento" (p. 94). As crencas podem tambem ser interpretadas como regras, ou auto-regras, embora Skinner nao fale explicitamente em crencas usando estas denominacoes. Retomando o exemplo dado por Skinner (1957) de que "nossa crenca de que ha queijo na geladeira e uma funcao de, ou e 40 identica a, nossa tendencia de ir ate a geladeira quando queremos comer queijo, ou outras coisas do tipo" (pp. 159-160), verifica-se que ha uma outra possibilidade de interpretacao das crencas. Neste exemplo, uma crenca tambem pode ser entendida como comportamento privado (pensar que ha queijo na geladeira) capaz de exercer controle sobre o com- ; portamento publico subsequente (ir ate a geladeira). Neste caso, pode-se dizer que crencas sao regras (auto-regras, se tiverem sido elaboradas jpelo proprio sujeito) na medida em que a propria fala do individuo, 'i aberta ou encoberta, pode funcionar como um Sd verbal descritivo de / uma probabilidade de comportamento, que entra no controle do comportamento nao-verbal subsequente. Regras sao definidas por Skinner (1969) como descricoes de contingencias que funcionam como Sds1°. Sendo assim, uma regra nao altera a probabilidade de comportamento, apenas sinaliza para a possibilidade de reforcamento. Auto-regras, por outro lado, so diferem das regras na medida em que sao descricoes de contingencias formuladas pelos proprios individuos. Resumindo, Skinner interpreta crencas como uma dada probabilidade de comportamento e como Sd verbal, cuja explicacao esta na historia passada de exposicao as contingencias. Logo, uma crenca nao e um agente interno e nem determinante de comportamento, ela so existe enquanto uma probabilidade de comportamento ou descricao verbal (publica ou privada) de uma dada probabilidade. Enquanto descricoes, crencas sao fenomenos comportamentais que podem adquirir funcao de controle do comportamento publico e devem ser explicadas pelas contingencias. Em relacao as crencas irracionais ou disfuncionais descritas pelos cognitivistas, alguns autores, por exemplo, Popeen (1989) e Zettle e Hayes (1982), assumem explicitamente que crencas irracionais sao auto-regras formadas e mantidas atraves de con ting en cia s de reforcamento providas pela comunidade, que estao em desacordo com as contingencias correspondentes (das quais seriam supostamente descritivas) com as quais o sujeito interage. Nas palavras de Popeen (1989): O problema das expectativas e crencas descritas por terapeutas cognitivistas pode ser formulado como auto-regras que estao em conflito com as contingencias. Os sistemas desenzwlvidos por estes terapeutas e teoricos [cognitivo-comportarnentais] podem ser incluidos em uma estrutura behaviorista como analises e programas para alterar as regras que governam o comportamento (p. 341). 1U Atualmente, existem várias críticas à definição funcional de negras sustentada por Skinner. Tais criticas levaram alguns autores (Hayes, Browstem, Zettle, Rosenfarb e Korn, 1986; Sehlinger e Blakely, 1987; Zettle e Hayes, 1982) a propor definições diferentes. Entretanto, apesar de esta discussão ser relevante, ela não será abordada neste trabalho pois, o que é fundamental, é que todas as propostas assumem uma postura extemalista em relação ao comportamento governado por regra, considerando- o comoum comportamento determinado por uma história de reforçamento; o que é totalmente compatível com a proposição skinneriana. 41 Na TC, as cognicoes sao concebidas como fenomenos presentes durante o processamento de informacao, sendo originarias da interacao entre situacoes ambientais e crencas. As crencas, por sua vez, sao definidas como representacoes internas aos individuos, que se estruturam a partir da interacao entre a predisposicao genetica e as situacoes ambientais (Beck, 1993). No caso, as crencas sao conteudos cognitivos responsaveis pela determinacao do comportamento, afeto e pensamento. Confrontando as diferentes interpretacoes de crencas aqui apresentadas, identifica-se que ha muitas similaridades entre as concepcoes de Tolman e Beck, sendo apenas a interpretacao behaviorista radical a que se apresenta como realmente distinta das demais. Nas concepcoes de Tolman e Beck, as crencas sao variaveis mediacionais de natureza cognitiva, que se referem as interpretacoes individuais sobre situacoes do ambiente e possuem status causal. Todos consideram que as crencas resultam de processos ontogeneucos, sendo que Beck acrescenta tambem o papei da filogenese. No sistema de Tolman, apenas o termo crenca e encontrado. Entretanto, no sistema de Beck os termos pensamento, ideia, autoverbalizacao, interpretacao, esquema, pensamento automatico e regra sao usados como equivalentes. Em Beck, diferente de Tolman, nota-se uma enfase sobre as crencas irracionais ou disfuncionais dos individuos. Tolman, na realidade, trata das crencas sem usar os adjetivos racional e irracional. Beck enumera as crencas irracionais ou distorcoes cognitivas que considera mais frequentes na cultura ocidental. Possivelmente, esta enfase nas crencas irracionais explica-se pelo fato de o sistema ter surgido a partir da formulacao de um modelo de intervencao terapeutica. Os modos de cognicao de campo postulados por Tolman sao semelhantes aqueles que Beck denomina de esquemas. Lembre-se que os modos de cognicao de campo sao processos ou funcoes superiores que produzem representacoes atraves da percepcao, memoria ou inferencia. E "os esquemas sao as estruturas cognitivas que organizam a experiencia e o comportamento" (Freeman e Pretzer, 1993, p. 4). Em sintese, nas concepcoes de Tolman e Beck, as crencas apresentam- se como uma variavel fundamental na explicacao dos comportamentos humanos, na medida em que se argumenta que os homens sentem e agem de acordo com as crencas que possuem a respeito de si mesmos, das outras pessoas e das situacoes em geral. Neste caso, para o Neobehaviorismo Mediacional de Tolman e a TC, conhecer as crencas dos individuos e de grande utilidade para a previsao e o controle dos comportamentos dos individuos. 42 Uma interpretacao bastante distinta das anteriores e dada por Skinner. Para ele, crencas nao sao mediadores internos, nao sao cognitivas e tampouco sao causas. O conceito de crencas, na concepcao skinneriana, refere-se a probabilidade de comportamento ou a descricao de probabilidade; como tais, devem ser explicadas a partir da historia de vida dos individuos. Como descricoes, crencas sao entendidas como comportamentos verbais que podem participar de uma cadeia comportamental. Do mesmo modo, para Poppen (1989) e Zettle e Hayes (1982), considerados aqui como representantes do Behaviorismo Radical contemporaneo, crencas nao sao processos internos nem causais, sao autoregras resultantes da interacao do individuo com uma comunidade verbal especifica, que podem vir a controlar comportamentos publicos. Tabela 4: Concepcoes de crencas nos sistemas de Tolman, Beck e Skinner. Com a finalidade de sistematizar e visualizar melhor as interpretacoes de crencas aqui apresentadas, a tabela 4 ilustra de forma resumida as informacoes principais. O acrescimo do conceito de crencas como mais um aspecto de comparacao entre as proposicoes behavioristas e cognitivista permitiu evidenciar, com base em mais dados, que o Neobehaviorismo de Tolman e indistinguivel da TC em pressupostos fundamentais e bastante distinto do Behaviorismo Radical contemporaneo, pois, enquanto o Neobehaviorismo Mediacional de Tolman e a TC representam concepcoes cognitivas e intemalistas do fenomeno comportamental, behavioristas radicais adotam uma concepcao externa lista para explicar este fenomeno. Para os primeiros, o comportamento e sempre um fenomeno mediado; para os ultimos, ocorre sem este tipo de mediacao. Alem disso, a analise do conceito de crencas em cada um dos sistemas apresentados possibilita evidenciar as diferencas analiticas de cada sistema. Na verdade, algumas destas diferencas estao implicitas no livro e outras foram destacadas sem a enfase necessaria. Por estes motivos, elas serao retomadas a seguir. Tolman e Beck diferenciam-se de Skinner, pois mantem a concepcao tradicional da Psicologia de que o comportamento e determinado por fenomenos internos que possuem uma natureza nao-fisica. O comportamento e apenas um sintoma de algo subjacente; um meio indireto de se chegar aos problemas reais dos individuos. De uma perspectiva Behaviorista Radical, ao procurar as causas do com po rtamen to em um mundo n a o -fis ico , os au tore s cognitivistas estariam lidando com processos inferidos (no sentido de imaterial e determinante do comportamento) mais do que com fenomenos do mundo material e considerando que os problemas e as solucoes para os problemas humanos estao dentro dos individuos e nao no ambiente externo. As analises feitas ate aqui levam a uma observacao de carater mais generico - nao se pode falar em integracao Behaviorismo/ Cognitivismo sem antes demarcar os limites desta integracao e tais limites estao circunscritos ao Neobehaviorismo Mediacional e a certos aspectos do Behaviorismo de Watson. Assim, defendera compatibilidade, complementaridade e/ou ■ integracao entre Behaviorismo Radical e Cognitivismo constitui em uma ] incoerencia teorica que so pode ser explicada pela ausencia de familia- \ ridade com os pressupostos de uma ou outra orientacao, como sugerem I as analises de Falcone (1993), Haycs e Hayes (1992), Zettle e Hayes ^J1982), dentre outros. Em contrapartida, enquanto as analises feitas sao importantes para demarcar com precisao alguns dos limites da integracao entre as proposicoes teoricas de behavioristas e cognitivistas, elas nao permitem visualizar de que forma aquelas proposicoes se refletem nos processos terapeuticos comportamental e cognitivo. Sendo assim, dando continuidade a este capitulo, a discussao adiante estara centrada nas questoes estritamente relacionadas aos contextos clinicos cognitivo e comportamental, partindo de dois fragmentos de sessoes: uma conduzida por um terapeuta comportamental e outra por um terapeuta cognitivo. 44 Os fragmentos correspondem a atendimentos nao equivalentes sob varios aspectos (natureza do problema, etapa da intervencao, repertorio do cliente, etc.) e representam uma fracao muito reduzida dos processos terapeuticos. Ainda assim, podem ser uteis para o proposito de colocar em evidencia alguns aspectos importantes de cada modelo de intervencao. Análise de Fragmentos de Sessões de Terapia Cognitiva e Terapia Analítico-Comportamental Fragmento Ilustrativo de uma Intervenção Cognitiva11 Fonte de referencia: Beck e cols. (1979, pp. 229-243). Dados sobre o cliente e a queixa: "A paciente era uma psicologa clinica de 40 anos que tinha sido recentemente abandonada pelo namorado. Tinha uma historia de depressoes intermitentes desde a idade de 12 anos, tinha experimentado diversas formas de psicoterapia, drogas antidepressivas, terapia eletroconvulsiva e hospitalizacoes. Tinha sido vista pelo presente terapeuta (A.T.B.) cinco vezes, num periodo de 7 ou 8 meses. Na ocasiao desta entrevista era evidente que estava deprimida e, como indicavam seus episodios anteriores, provavelmente suicida" (pp. 225-226). Terapeuta (T5): Voce esperava terdificuldade nos feriados... E quando saiu de sou consultorio para vir para ca, como estava se sentindo? Paciente (P5): Mais ou menos da mesma maneira. Eu sinto que eu posso fazer tudo que tenho que fazer, mas eu nao quero. T7: Certo... e que tipo de sentimento voce teve? Sentindo-se paxa baixo? P7: Eu sinto que nao ha esperanca para mim. Eu sinto meu futuro... que tudo é futil, que nao ha esperanca. T8: E que ideia voce teve da entrevista de hoje? P8: Achei que provavelmente ajudaria, como sempre aconteceu no passado... que me sentiria melhor - temporariamente. Mas isso toma as coisas mais dificeis, porque sei entao que vou me sentir mal novamente. i l A fim de que a leitura não se tome cansativa, nem se perca o objetivo desta transcrição, serâo suprimidos alguns trechos e as explicações dadas pelo terapeuta do que ele e a cliente estão fazendo, por exemplo, "explicita a crença-alvo"; "rejeita a hipótese". Quando houver supressão de trechos, isto será facilmente percebido, uma vez que a numeração original dos episódios será mantida. Nos trechos reproduzidos, não será feito nenhum corte. Assim, as reticências são do original. 45 T9: Isto toma as coisas piores em termos dc como voce se sente? P9:Sim. P13: Eu sei que nao estou sendo razoavel; os pensamentos me parecem tao reais... que de fato exige esforco para muda-los. T14: Ora, se fosse facil para voce - modificar os pensamentos, acha que eles durariam tanto? P14: Nao... olhe, eu nao digo que isto nao funcionaria com outras pessoas. Nao estou tentando dizer isso, mas nao sinto que possa funcionar comigo. T15: Entao, tem alguma evidencia de que chegou a funcionar com voce? P18: Minha conclusao e que sempre terei que ficar sozinha porque nao consigo manter um relacionamento com um homem. T19: Esta bem, essa e uma explicacao possivel. Que outras explicacoes possiveis existem? P19: Essa e a unica explicacao. T27: Bem, havia outras coisas que voce disse que eram importantes, que sao importantes ainda agora.'Esta correto? Quais eram as coisas importantes para voce em dezembro, novembro e outubro? F27: Tudo era importante. T28: Tudo era importante. E quais eram essas coisas? P28: E dificil ate me lembrar de algo com que me importasse entao. T29: Ok, que tal seu trabalho? T31: Na maior parte do tempo, voce sentia que estava .realizando alguma coisa em seu trabalho, E agora? Voce acha que esta realizando alguma coisa no trabalho agora? P31: Nao quanto poderia. T32: Voce nao esta realizando tanto quanto poderia mas, mesmo quando esta "desligada", parece-me que se sai tao bem ou melhor que muitos dos outros colegas. Isso ta certo? P58: Eu diria, o que ha de errado com a minha mente? Se aconteceu uma vez, como posso nega-lo? T59: Porque e da natureza humana, infelizmente, negar as experiencias que nao sao coerentes com a atitude predominante no momento. E exatamente para isso que existe a terapia da atitude. Voce tem atitudes muito fortes e qualquer coisa que seja incompativel com essas atitudes promove a dissonancia cognitiva. Tenho certeza de que voce ja ouviu falar nisso e as pessoas nao gostam de ter dissonancias cognitivas. Assim, jogam fora qualquer coisa que nao seja compativel com sua crenca predominante. P59: Entendo. . . 46 I T60: Voce tem uma crenca predominante. Acontece, felizmente, que essa crenca predominante esta errada. Nao e maravilhoso? Ter uma crenca predominante que a faz infeliz e descobrir que esta errada! Mas vai exigir um bocado de esforco e demonstracoes para mostrar isso a voce, para convence-la de que a crenca esta errada. E por que? P60: Nao sei. T61: Voce quer saber por que? Porque voce sempre a teve. Por que? Antes de mais nada, porque essa crenca surgiu numa idade muito prematura. Nao vamos entrar na sua infancia, mas obviamente, voce fez uma tentativa de suicidio, ou pensou nisso quando era jovem. E uma crenca que ja estava la numa idade muito tenra. Foi implantada muito a fundo, numa idade muito prematura, porque voce era demasiado vulneravel naquela epoca. E, desde entao, quantas vezes foi repetida em sua cabeca? T88: Bem, vamos operacionalizar a coisa. O que quer dizer "Nao vai terminar"? Significa que voce nunca ira se sentir bem novamente em toda sua vida? Ou significa que voce vai sentir uma tristeza ininterrupta, inflexivel, inexoravel, dia apos dia, hora apos hora, minuto apos minuto? Parece-me que essa e a sua crenca. Essa e a hipotese por hora. Bem, vamos testa-la retrospectivamente. Voce teve essa ideia de que "Isso nunca vai terminar". Quando foi que teve essa ideia? Ontem 9 da manha? P88: Foi. T89: Ora, isso significa que, se essa hipotese estiver correta, desde a hora em que acordou hoje de manha voce deveria ter sentido uma tristeza e uma infelicidade interminaveis, inflexiveis, ininterruptas, inevitaveis, e inexoraveis. P89: Isso nao e verdade. T98: Isso e extraordinario! Bem, diga novamente, para que eu possa me lembrar. P98: Eu disse, “Pare e de a voce mesma uma chance". T114: Baixou para 15% partindo de 95% e deve lembrar que se trata a dor de modo estruturado, da maneira que lhe contei sobre as pessoas que se fazem sentir tristes durante um periodo especifico. Tem que ser estruturada. Se voce puder estruturar sua dor, ela sera algo que ira ergue-la no futuro, e de fato o fara. Mas se voce se vir, simplesmente, como sendo vitimada por essas forcas sobre as quais nao tem controle... sentir que esta simplesmente abandonada, em termos das coisas internas e externas... ai se sentira pessima. E o que tem a fazer e transformar-se, deixando de ser alguem que se sente desamparada, certo?... E voce e a unica pessoa que pode faze-lo... 47 Nao posso torna-la forte c independente... Posso mostrar-lhe o caminho, mas se voce conseguir, nao sera por haver tirado nada de mim: voce o tera feito, utilizando os recursos dentro de voce mesma. Fragmento Ilustrativo de uma Intervenção Comportamental12 Fonte de referência: Guilhardi e Queiroz (1997, pp. 79-86). Dados sobre o cliente e a queixa: “E tem 30 anos, e casada, tem dois filhos: uma garota, D, de 14 anos e um menino, M, de 12 anos. Mora com A desde os 13 anos, tendo se casado aos 18 anos '7 (p. 49). A queixa inicial trazida pela cliente era a de que queria se separar, mas seu marido nao aceitava. Dentre os motivos alegados para a separacao, encontram-se o alcoolismo, o controle excessivo e as agressoes fisicas do marido. Terapeuta (T2): Ja ficou claro (em sessoes anteriores) como lidar com A. Voce consegue controla-lo e sabe conversar com ele quando nao esta bebado. E sabe tambem o que acontece que o leva a beber. Cliente (E2): E quando ele tem algum problema. T3: Discutimos bastante como o seu comportamento faz com que ele beba e a agrida. Quando voce o ameaca, quando fala coisas que nao o agradam. E3: Eu nao estou tao preparada assim. T4: O que falta para ele que faz com que em situacoes como essas (a do cunhado) ele reaja dessa forma (bebendo, agredindo)? E4: Eu, no. T5: Chegamos num ponto que vocc sabe como lidar com A. Vocc precisa, isso sim, resolver se quer ou nao quer lidar de forma diferente com ele. Nao e se sentindo obrigada. Todas as vezes e a mesma coisa, voce reclama. Agir assim vai desgasta-la e nao produzira bons resultados, nem praticos, nem emocionais. E5: Tambem acredito nisso., so que tenho que estar preparada financeiramente para tomar a decisao (separacao). Eu andava quieta, mas nao da. A e da idade da pedra e eu nao sou. E dificil alguem que tem a mente igual a minha viver com alguem como ele. Ainda que eu supero muita coisa. T6: E, voce ve os comportamentos dele, mas nao ve os seus... E6: Mas sou normal. Ele nao sai o dia inteiro? Quando foi mesmo? Ah... no domingo. Ele foi pescar com os amigos. Todos tem casa, mulheres, mas Para facilitar a análise posterior, os episódios verbais serão numerados, o que não é feito no original. Do mesmo modo, também serão suprimidos alguns trechos c os comentários do terapeutaem relação a sua intervenção. 48 para onde vao? La pra minha casa! A ja foi falando que era pra eu limpar os peixes. Ve se nao e falta de educacao? Eu estava assistindo a fita (de video), ele chegou e desligou para assistir ao jogo com os amigos. Ele convidou todos os amigos para ver o jogo e comer la em casa. Eu nao me contive,, falei na frente de todos se A pensava que eu era palhaca, que trabalhava o dia todo e a noite recebia aquele monte de gente para fazer sujeira. Ele que nao venha folgar em mim. Existem outras casas, por que nao foram para la? Ele faz coisas contra mim que nenhum marido faz com suas mulheres. T7: Vamos lembrar o que ocorreu. No sabado voce brigou com ele porque ele bebeu, ai ele a ofendeu. Depois ficou sobrio e tentou se aproximar de voce... E7: Com mil amores. T8: Voce o agrediu... ficou brava, irritada... O que aconteceu depois? Voce ficou trabalhando o tempo todo {em casa). Ele ate falou que voce so trabalha, nao da atencao para ele. O clima continuou pessimo. No dia seguinte, ele saiu o dia inteiro. Voce trabalhou o domingo todo. E dificil ficar de bom humor... mesmo sem falar voce mostra sua irritacao. E8: Por incrivel que pareca eu estava bem... T9: Acho dificil. O jeito que esta relatando mostra isso. Voce esta irritada so de contar... Como voce falou com ele de manha? E9: Ele disse que ia pescar e eu disse: "va, mas nao traga peixe pra ca!". Ele nao gostou do jeito que eu falei. TIO; Voce pode ate ter razao, mas gostaria que considerasse outras possibilidades. Ele pode estar querendo fazer coisas diferentes, como no dia que ele telefonou querendo fazer surpresa pra voce, foi com seu cunhado busca-la para comer pizza na casa dele. Nao fez sujeira na sua casa e, mesmo assim, voce reclamou do A. Ele procura fazer algumas coisas com voce. Voce ficou em casa trabalhando a tarde toda, ficou cansada e achou que era provocacao dele. Pode ser, mas vamos pensar em alternativas... E10: Eu penso diferente. Ele quer ser o gostosao e leva todo mundo la. So que quem trabalha sou eu. No dia seguinte, eu saio cedo e nao da para deixar a casa com aquele cheiro de peixe. A minha cunhada me disse que rezou para ninguem ir la. A minha vizinha tem tempo no dia seguinte para limpar a casa, ja que nao trabalha. Por que nao levaram para casa dela? Ele fez isso porque eu tinha avisado para nao irem la para casa, so para mandar em mim. T i l : Ou sera que ele quer fazer coisas com os amigos dele e com voce tambem? 49 T13: E, voce nao fala, mas sente. E de alguma forma demonstra a irritacao que sente. Voce ja se perguntou se o que sente e causado pelas atitudes dele ou por outras razoes? Voce nao estaria usando A como o responsavel por outras frustracoes suas? E13: Quando A chegou, foi aquela briga, queria que eu falasse o seu (da terapeuta) telefone. Ele fica desconfiado. Eu nao vou dar. Qualquer dia voce recebe um telefonema dele e sera tarde da noite como sempre. Voce vai ver quem ele e. Ele quer ligar porque acha que eu minto. T14: F, nos ja discutimos isso. Ele faz essas coisas porque esta inseguro. E o que voce faz para isso acontecer? E14: Eu nao sei, ele tem ciume ate do meu sorriso. T15: Por que A tem ciumes do seu sorriso? Sera que e por que sabe que voce sorri para todos, exceto para ele? Por que voce e carinhosa, atenciosa com filhos, sobrinhos, irmaos? E com ele, o que voce faz? T18: Acho que ele gosta de voce, e carente e quer carinho e atencao. Ele nao e obsessivo. F., me parece que voce nao sente o mesmo por ele. Nao sentindo, nao pode dar espontaneamente. Voce precisa responder para voce mesma: por que de fato fica com A? E por que ficando com ele toma as coisas mais dificeis? Voce o pune por todos os atos dele, como voce propria diz, mas me parece que ha mais coisas envolvidas na situacao: voce tambem o pune quando ele a trata bem. Apenas muda a forma de punicao: voce o despreza, trata bem os outros, deixando claro que nao o trata bem. E18; Eu tenho pena dele. T27: Entao a situacao e essa: voce agindo assim ele ficara cada vez pior (icontrolador, agressivo). Voce sabe. Voce precisa pensar o que quer, se quer viver em paz. E27: Eu estou tentando, mas ele nao colabora. T28: Espera ai, E. Voce esta agindo de maneira que a situacao piora e voce sabe. Voce sabe o que fazer se quiser viver em paz. E assim que ele e voce funcionam. Voce deve pensar no que voce quer, daqui para frente. Se para voce nao e bom viver com ele, vamos ver o que voce quer fazer da sua vida. E28: Sempre acontece alguma coisa. Eu nao me conformo como alguem vive com outra pessoa assim. Ele nao aceita, quer que eu fique em casa, faca o almoco no horario que ele quer. T31; Entao, essa e a realidade. Voce pode ate tentar, mas nao faz ou nao consegue e isso traz consequencias em casa. E31: Eu nao estou mais aguentando e vou bater. A vai sair perdendo. Eu estou disposta. Vai ser a decisao final, porque se ele apanhar de mim, sera terrivel para ele. T33: Bom, voce tem duas alternativas. Voce esta querendo enfrenta-lo e sabe no que vai dar: briga e confusao. E opcao sua. Voce pode tomar 50 a situacao menos ruim se quiser. Eu ja falei no comeco da sessao como voce e aversiva e pune muito A. Ele reage a isso e fica agressivo. A ja falou, quando voces estavam numa boa, o quanto gosta e quer ficar com voce, "no seu colo". A ja disse que voces conseguem o que quiserem dele, se o tratarem bem, com atencao e carinho. Voce lembra? Voce precisa ser mais flexivel nas situacoes, se sua opcao for viver melhor com ele. A decisao e sua. T35: Talvez ele nunca entenda. Mas voce pode pensar em outra alternativa. Analisando as verbalizacoes dos terapeutas cognitivo e comportamental, construiu-se uma lista de sete categorias. A tabela abaixo mostra as categorias, o numero das respectivas verbalizacoes do terapeuta e a frequencia de cada categoria. Alem da nao equivalencia dos fragmentos no que se refere a natureza do problema, a etapa do processo terapeutico em que as sessoes ocorreram, dentre outros, os fragmentos tambem nao sao equivalentes para efeito de comparacao de frequencias de tipos de verbalizacao, 1S Nesta categoria, foram incluídas as verbalizações em que o terapeuta fazia uso explícito de um princípio comportamental (elogio após o relato de algo considerado positivo, por exemplo) ou usava algum termo técnico. 51 Alem da nao equivalencia dos fragmentos no que se refere a natureza do problema, a etapa do processo terapeutico em que as sessoes ocorreram, dentre outros, os fragmentos tambem nao sao equivalentes para efeito de comparacao de frequencias de tipos de verbalizacao, uma vez que correspondem a intervalos diferenciados de tempo de uma sessao. Deste modo, os dados quantitativos da Tabela 5 podem apenas ser tomados como indicativos da frequencia relativa dos tipos de verbalizacao. Isto, porem, nao invalida a tentativa dc tracar caracteristicas definidoras de um tipo e outro de intervencao, a partir de uma analise qualitativa dos fragmentos de sessoes. Um primeiro dado relevante que aponta para diferencas entre a TAC e a TC consiste nas verbalizacoes sobre eventos privados. As falas do terapeuta analitico-comportamentai (frequentes, ao contrario 1S Nesta categoria, foram incluídas as verbalizações em que o terapeuta fazia uso explícito de um princípio comportamental (elogio após o relato de algo considerado positivo, por exemplo) ou usava algum termo técnico. do que muitas vezes se afirma sobre o modelo de intervencao da TAC) referiam-se aos sentimentos e aos pensamentos da cliente e do marido. Ja no caso do terapeuta cognitivo, seu foco estava nos sentimentos, pensamentos e crencas da cliente em particular. Alem disto, sempre que o terapeuta analitico-comportamentai falava de sentimentos e pensamentos, o fazia enfocando sentimentos da cliente e de seu marido, relacionando- os com situacoesexternas; quando falava em pensamento, dava ideia de que a cliente precisava analisar a situacao na qual estava inserida (exemplo: "Voce deve pensar no que voce quer ..." - T28). Ja o terapeuta cognitivo fazia perguntas sobre o que a cliente sentia em algumas situacoes e falava de crencas e perisamentos como algo interno que precisa ser modificado (por exemplo: "Voce tem uma crenca predominante. Acontece, felizmente, que essa crenca predominante esta errada. Nao e maravilhoso? Ter uma crenca predominante que a faz infeliz c descobrir que esta errada! Mas vai exigir um bocado de esforco e demonstracoes para mostrar isso a voce, para convence-la de que a crenca esta errada" -T 6 0 ; "E uma crenca que ja estava la numa idade muito tenra" - T61). Uma segunda distincao sugerida pela analise dos fragmentos diz respeito ao fato de o terapeuta comportamental buscar identificar variaveis externas (eventos antecedentes e consequentes) relacionadas aos comportamentos da cliente e das pessoas envolvidas em sua queixa; enquanto o terapeuta cognitivo em nenhum momento fez referencia aquelas variaveis. Outra diferenca observada esta no foco de mudanca. Em todos os momentos que o terapeuta cognitivo abordou a necessidade de mudanca, fazia-o referindo-se basicamente a mudancas internas (ideias, pensamento, crencas); ja o terapeuta comportamental sugeria mudancas comporta mentais. Isto, por sua vez, aponta para o fato de que, enquanto o terapeuta analitico-comportamentai propoe diretamente a mudanca comportamental, o cognitivo pressupoe que a mudanca do comportamento ocorra indiretamente, ja que e a mudanca cognitiva que leva a mudanca comportamental. 52 Por fim, relacionado com as distincoes supracitadas, pode-se dizer que a enfase na conducao do processo terapeutico cognitivo, tanto quando o terapeuta busca informacoes sobre a situacao atual do cliente como quando visa intervir, esta em eventos privados, mais precisamente nas crencas do cliente. Contrariamente, no processo de intervencao comportamental, a enfase recai no comportamento publico do cliente e das pessoas que fazem parte de seu ambiente. Como consequencia, podese dizer, ainda, que o foco de intervencao no caso da TC tem uma dimensao mais individual; por outro lado, na intervencao comportamental, a analise envolve nao apenas o proprio cliente, mas tambem as situacoes ambientais (incluindo pessoas significativas) envolvidas na queixa. Apesar das diferencas apontadas, os fragmentos ilustrativos das sessoes cognitiva e comportamental tambem possibilitam identificar aspectos semelhantes na conducao das sessoes da TAC e da TC. A primeira e que, tanto o terapeuta comportamental quanto o cognitivo fazem referencia a eventos publicos (comportamentos e situacoes ambientais externas) e privados. As demais semelhancas foram descritas pelo proprio Beck (1970), em um artigo intitulado Terapia cognitiva: natureza e relacao com a terapia do comportamento, e sao as seguintes: tanto a intervencao cognitiva quanto a a na litico-comportamental estao voltadas para a resolucao de problemas especificos, sao diretivas, enfatizam o tempo presente e discutem explicitamente com o cliente as hipoteses para a origem e a m anutencao dos problemas. Concluindo, a analise dos fragmentos das sessoes comportamental e cognitiva leva a cinco observacoes principais: 1. TAC e TC apresentam varios aspectos semelhantes no que se refere a conducao da sessao terapeutica; 2. Acredita-se que existam caracteristicas especificas das intervencoes comportamental e cognitiva que permitam fazer a distincao entre um tipo de intervencao e outro; 3. Podem ser consideradas como caracteristicas definidoras da TAC o foco de intervencao sobre o comportamento publico do cliente c das pessoas pertencentes ao seu ambiente (intervencao externa lista) e uso de analise funcional; 4. Possivelmente, a caracteristica definidora da TC consiste em tomar como foco de intervencao sentimentos, pensamentos e crencas do cliente, considerando-os como eventos internos que possuem status cau sa l quanto aos com p o rtamen to s p ublicos (inte rv encao internalista), ainda que as mudancas, nos ultimos, sejam a base a partir da qual se afirme a mudanca cognitiva; 53 5) As intervencoes terapeuticas comportamental e cognitiva examinadas orientam-se pelos pressupostos do Behaviorismo Radicai e do Cognitivismo, respectivamente. Concluidas as consideracoes acerca das semelhancas e distincoes entre o processo terapeutico analitico-comportamental e o cognitivo, no proximo capitulo sera discutido o proprio movimento integracionista entre Behaviorismo e Cognitivismo. 54
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