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Suspensão Condicional do Processo

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1 –Introdução
Há tempos vozes de preclaros juristas ecoam aos quatro cantos de nossa plaga aclamando por um processo penal de melhor qualidade, sugerindo mudanças ao ultrapassado Código de 1940, com o escopo de atingir a um processo de resultados em um menor espaço de tempo possível. 
Noutro dizer, um processo que disponibilize instrumentos adequados à tutela jurisdicional de todos os direitos, com o fito de assegurar a utilidade das decisões. 
Trata-se, portanto, da efetividade do processo em que se põe em evidência a instrumentalidade do sistema processual em relação ao direito material e aos valores sociais e políticos. A justiça morosa, ineficiente, dá lugar ao descrédito e à insegurança jurídica.
Por outro lado, a idéia de que o Estado possa e deva punir penalmente toda e qualquer infração, sem se admitir, sob hipótese alguma, certa margem à disponibilidade da ação penal pública, havia mostrado, à evidência, ao longo dos longevos anos, sua falência e hipocrisia. 
Em paralelo, havia percebido que a solução litigiosa penal em certos casos de somenos importância poderia ser atingida pelo método consensual tendo em vista que, com o aumento da criminalidade, as infrações de menor potencial ofensivo estavam relegadas a um segundo plano, passando a ter preferência no julgamento os crimes mais graves diante da necessidade de se retirar do convívio social os elementos de maior periculosidade. 
Sendo assim, houve a necessidade de um procedimento mais célere para a apuração desses delitos considerados diminutos, dando resposta, de imediato, ao ato infracional e evitando manobras protelatórias que levavam à inevitável prescrição da pretensão punitiva.	
Nesse diapasão, o legislador constituinte inseriu, com claque, na Constituição Federal de 1988, o disposto no artigo 98, inciso I, estabelecendo que a União, no Distrito Federal, e nos territórios, e os Estados deveriam criar “juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução das causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas na lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau”.
Com essa disposição, obrigando à criação dos Juizados Especiais, a Carta Magna deu margem a importantes inovações em nosso ordenamento jurídico penal e processual penal, dando resposta à imperiosa necessidade de o sistema processual penal brasileiro navegar nas tendências contemporâneas, possibilitando uma solução rápida para a lide penal, quer pelo consenso das partes, com a pronta reparação dos danos sofridos pela vítima na composição, quer pela transação, com a aplicação de penas não restritivas de liberdade, quer por um procedimento sumário para a apuração da responsabilidade penal dos autores de infrações penais de menor potencial ofensivo na hipótese de não se lograr ou não ser possível aplicar uma ou outra daquelas medidas inovadoras.
Para que fosse colocado em prática o disposto constitucional, foi promulgada a Lei Federal nº 9.099/95, que, em sua aparente singeleza, significa uma verdadeira revolução no nosso sistema processual penal. 
Assim, a aplicação imediata da pena não privativa de liberdade, antes mesmo do oferecimento da acusação, não só rompe com a tradição do nulla poena sine judicio, como até possibilita a aplicação da pena sem antes discutir a questão da culpabilidade. 
A proposta do Parquet não implica reconhecimento da culpabilidade penal, como, de resto, tampouco implica reconhecimento da responsabilidade civil, conforme veremos.
	
 2 – Conceito. Natureza Jurídica. Distinções
 2.1– Conceito
A suspensão condicional do processo é um dos avançados institutos preconizados pela Lei Federal n.º 9.099/95, a qual trouxe para a nossa plaga o modelo de justiça criminal consensual. Insculpi o art. 89, caput, da Lei dos Juizados Especiais, que nos crimes em que a pena mínima cominada por igual ou inferior a 1 (um) ano, abrangidas ou não por esta lei, o Parquet , ao oferece a denúncia, poderá propor a suspensão do processo por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presente os demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena (CP, art. 77). 
Salienta-se que, embora o retro artigo mencione exclusivamente “Ministério Público”, “denúncia”, não é obstáculo para a incidência da suspensão na ação penal privada, por causa da analogia in bonan partem que vem sendo reconhecida amplamente na hipótese do art. 76.
A suspensão condicional do processo é, portanto, uma autêntica revolução atinente à quebra do princípio da obrigatoriedade da ação penal, já que adota o princípio da oportunidade regrada (item 3.1.1, p. 10-11) pela lei e condicionada a uma decisão judicial. Por azos de conveniência, o Estado pode renunciar à investigação, à instauração e ao julgamento de processo penal. 
O instituto da suspensão do processo pode ser assim entendido: é um ato bilateral, dependente de uma decisão do magistrado para alcançar o que se pretende, que sobrestai o processo sem que o acusado ou querelado conteste a imputação, mas, também, não admite culpa nem proclama sua inocência, com a faculdade de extinguir a punibilidade, caso todas as condições fixadas sejam cumpridas, durante determinado interstício de prova. 
Cumpridas as exigências traçadas com o consenso do acusado, sem que tenha havido cancelamento, resulta extinta a punibilidade, ou seja, deixa de existir a pretensão punitiva estatal decorrente do fato punível descrito na denúncia.
Ante o exposto, indaga-se se a suspensão condicional do processo está em consonância com o princípio da inocência insculpido no art. 5º, inc. LVII, da Carta Constitucional de 1988.
Entendemos que sim tendo em vista que este instituto não considera o acusado culpado, que não cumpre pena, mas condições. Está em causa, conforme acima dito, na suspensão o nolo contendere – não contesta, mas também não assume culpa. 
Deriva da autonomia da vontade do acusado, a qual, no caso, nada mais significa que estratégia da ampla defesa constitucionalmente assegurada. O acusado pode aceitar ou não a suspensão. 
Em suma, não existe obrigação legal nem imposição. 
2.2 – Natureza Jurídica 
Quando se pretende externar a essência de determinado instituto e o seu relacionamento classificatório na seara do ramo jurídico em que se projeta, estamos diante da natureza jurídica.
Entende-se tratar de um instituto misto, de natureza dúplice. Deveras, possui cunho material – penal -, por dar ensejo a uma eventual extinção da punibilidade nos termos do artigo 89, § 5º da Lei Federal nº 9.099/95, caso o réu cumpra as condições impostas durante o período de prova, mas, por outro lado, tem natureza processual à vista do procedimento aplicável, que condiciona ao sobrestamento da lide, sem exame da culpabilidade do agente.
Dessarte, em sendo também uma verdadeira norma processual, a sua incidência é de imediato, ainda que o fato delituoso tenha ocorrido antes da vigência da lei acima mencionada. Ademais, em sendo uma lei nova benéfica, seus efeitos são retrooperantes, isto é, aplicam a fatos ocasionados anteriormente à vigência da lei, por força de mandamento constitucional – art. 5º, inc. XL.
Nesse comenos, averbera Tourinho Filho (2007, p. 213):
Na verdade, se a norma do art. 89 é eminentemente híbrida, visto que mesclada de conteúdo processual e penal, sobressaindo, com vantagem, suas conseqüências jurídicas no plano material, como se infere do seu § 5º, deverá ela ser subsumível à noção de Lex Mitior, e, desse modo, a toda evidência, é possível a sua aplicação.
2.3- Distinções
Ao conceituarmos o instituto da suspensão condicional do processo, foi dito, na primeira parte, que é um ato bilateral uma vez que a propostaé feita pelo órgão acusador ou querelante, cuja aceitação cabe ao acusado, querelado e seus defensores. Cada um cede uma parcela do seu direito. 
Logo, percebe-se que difere em absoluto do instituto do plea bargaining norte-americano que há uma ampla possibilidade de transação, abreviando o processo, eliminando a colheita de prova, suprimindo a fase de debates entre as partes. Pode, outrossim, ser extraprocessual a transação. O agente do fato delituoso admite a sua culpabilidade, em troca de benefícios legais. O escopo do instituto é garantir a elucidação de crimes, assegurar uma rápida punição aos autores de crimes e diminuir a carga de labor no Poder Judiciário. 
Salienta-se que, segundo Marques da Silva (1997, p. 61-62), a prática do plea bargaining nos Estados Unidos soluciona de 80 a 95 % de todos os crimes. No entanto, suscita controvérsia entre os juristas e os criminólogos americanos, apontando insistentemente para a desigualdade e a injustiça que se refletem neste instituto e que este, por sua vez, potencia e amplia.
Em conseguinte, ao mencionar que o ato bilateral depende de uma decisão do magistrado para alcançar o que se pretende quer isso dizer que a suspensão condicional do processo é mero ato de postulação (as partes dependem de uma decisão do juiz para alcançar o pretendido) e não ato de causação (o acordo das partes produz seu efeito diretamente na relação processual, sem a interferência decisória do juiz). Os atos de postulação são deveras necessários para que seja repelida a dissimulação de negociações escusas entre as partes.
Ao ser informado que o processo paralisa sem que o acusado conteste a imputação, caso todas as condições fixadas sejam cumpridas, durante determinado período de prova, significa falar que a suspensão condicional do processo assemelha-se ao instituto do nolo contendere, afastando, nesse comenos, da probation Anglo-Saxônica, que exige a prova de culpabilidade do acusado. 
Noutras palavras, na probation o que se suspende é a sentença condenatória. O juiz declara o acusado culpado e após, caso haja concordância, ele entra em período probatório. Concluído esse interstício de prova sem nenhum problema, encerra-se o caso sem a sentença final condenatória.
Não se confunde, outrossim, com o guilty plea (instituto tradicional Anglo-saxônico) que discute a culpabilidade do imputado, admitindo a prática da conduta delituosa como uma forma de defesa perante o juízo. 
Este instituto, de acordo com ensinamentos de Folgado (2002, p.73), pode se dar de três formas: 1 – voluntariamente (uninfluenced plea), na qual o acusado confessa sua culpabilidade em razão de não haver possibilidade de ser absolvido; 2 – induzida (structurally induced plea), em que o acusado admite sua culpa, pois prevê uma pena mais grave para quem insiste em uma sentença de mérito, ou porque os juízos aplicam uma pena mais benéfica a quem admite sua culpa e; 3 – plea bargaining, por nós já analisado no primeiro parágrafo deste subtítulo.
Conforme acima mencionado, nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 (um) ano, o Ministério Público, com espeque no art. 89 da Lei Federal n.º 9.099/95, ao oferecer a denúncia, pode propor a suspensão do processo, desde que o acusado preencha certos requisitos legais. 
Nesse diapasão, não se confunde com o sursis (suspensão condicional da pena) estabelecido no art. 77 do Código Penal, tendo em vista que este instituto instaura-se o processo, realiza-se a instrução e no final o magistrado, caso venha a condenar o acusado, pode suspender a execução da pena. 
Presentes os requisitos legais, suspende-se a execução da pena privativa de liberdade por um certo lapso temporal, durante o qual o condenado cumpre algumas condições. Findado o prazo sem ter havido revogação, extingue-se a pena que estava suspensa. Portanto, a nós não nos parece acertado o uso da expressão sursis processual para se referir à suspensão condicional do processo.
Por fim, a suspensão condicional do processo não se confunde com a transação regulada pelo artigo 76 da Lei Federal nº 9.099/95 uma vez que nesta pode ser admitida em se tratando de contravenções ou de crimes cuja pena máxima in abstracto não ultrapasse dois anos enquanto naquela é perfeitamente admissível desde que a pena mínima cominada não supere 1 (um) ano.
Ela, transação, na maioria dos casos, não pressupõe denúncia, afora a hipótese de ser formulada no procedimento sumaríssimo, enquanto a suspensão condicional do processo, após o oferecimento da denúncia e de o juiz proceder ao exame de admissibilidade da demanda é que deverá ocorrer a audiência para a apreciação da sua proposta. 
Também, na transação penal é imposta ao autor do fato uma multa ou medida restritiva de direitos, ao passo que na suspensão não haverá multa nem medida restritiva de direitos, tão-somente a promessa de cumprimento de algumas condições que podem ser impostas, à semelhança do que se dá com o sursis. 
Para finalizar, na transação penal encerra-se com a aplicação da pena (CP, art. 76, § 4º) e na suspensão condicional do processo, não havendo revogação da medida, culmina com a extinção da punibilidade, não havendo imposição de pena (Lei Federal n.º 9.099/95, art. 89, § 5º). 
3 – Princípios
3.1– Noções de Princípios
A noção de princípio, como preceito axiomático, surgiu posteriormente ao costume. Com arrimo nessa assertiva pode-se afirmar que, no início, foi o costume. Depois veio a norma e, no bojo dela, os costumes e os princípios em forma de regra de direito. 
Os princípios jurídicos têm sua fundamentação básica no direito natural, pois sua vigência independe da existência de qualquer documento ou preceito escrito. Numa acepção comum, a palavra princípio denota início, começo, origem.
No sentido jurídico do termo, a palavra princípio isoladamente outrossim possui o mesmo significado do seu entendimento vulgar.
Quando, no entanto, se emprega essa palavra no plural [princípios], modifica-se completamente a sua significação, pois passa a dar a idéia de regras ou de preceitos que antecedem a própria norma ou podem influenciar a criação desta, exercendo, com isso, raio de ação aplicável a toda espécie de movimento jurídico.
 3.1.1 – Princípio da Discricionariedade Regrada ou da Oportunidade
O primeiro princípio que fundamenta a suspensão condicional do processo é o da discricionariedade regrada ou da oportunidade porque, sem que o órgão acusatório tivesse a possibilidade de dispor da via persecutória normal, não seria possível, clarividente, a suspensão, que, por ser instituto despenalizador indireto, se chega, por intermédio processual, depois de cumpridas certas exigências, à extinção da pretensão punitiva estatal. 
A regra continua sendo o princípio da obrigatoriedade. Excepciona, contudo, em certas hipóteses numerus clausus, o dever de o Ministério Público dispor da persecução criminal para propor alguma medida alternativa. A isso se dá o nome de princípio da oportunidade regrada ou discricionariedade regulada ou controlada.
Entretanto, este princípio preconizado pela Lei Federal n.º 9.099/95 não permiti ao Parquet deixar de atuar simplesmente. Ele pode dispor da persecutio criminis estabelecida pela lei, para adotar uma via alternativa. Porém, não pode deixar de agir por motivos de oportunidade. 
Presentes os requisitos legais, tem que agir em favor da via alternativa eleita pelo legislador, o qual é o detentor da política criminal e não o Ministério Público, que tão-somente a cumpre.
 3.1.2– Princípio da Autonomia da Vontade do Acusado
O segundo princípio que fundamenta a suspensão condicional do processo é o da autonomia da vontade do acusado, que, caso discorde da proposta, não há falar em suspensão. Seria inimaginável expor alguém em período probatório, sem culpabilidade formada, independentemente de sua vontade. 
Acrescente-se que a sua aceitação nada mais significa que a expressão da ampla defesa constitucionalmente garantida noart. 5º, inc. LV. Para o exercício de um direito constitucional nos aparenta justo que o acusado possa abrir mão de outros direitos da mesma natureza. Aceitar ou não a suspensão passa a ser estratégia da defesa. É por isso que a lei exige que ambos (acusado e defensor) se manifestem.
3.1.3– Princípio da Desnecessidade da Pena de Prisão
O terceiro princípio que norteia a suspensão condicional do processo é o da desnecessidade da pena de prisão de curta duração. Parte-se do pressuposto de que o mais importante ao Estado não é punir, mas reintegrar o agente do fato delituoso e reconduzi-lo à sociedade. 
Toda vez que esta reintegração social possa ser obtida longe das grades de um cárcere, e independentemente do cumprimento de outra sanção penal, recomenda a lógica e a melhor política criminal que não seja o autor do fato punido ou mesmo submetido ao processo, desde que, por óbvio, se obrigue ao cumprimento de certas condições.
Além do mais, é público e notório que a execução da pena, na prisão, muitas vezes, desencadeia numa carreira criminosa, fazendo com que o condenado, em vez de incutir na sua mente que o crime praticado não compensa, seja reincidente!!!
4 – Seara e Requisitos de Admissibilidade
4.1– Seara de Admissibilidade
O âmbito de incidência da suspensão condicional do processo abrange os seguintes casos, os quais ocasionam, em grande parte, divergências doutrinária e jurisprudencial.
4.1.1 – Pena Mínima Cominada não Superior a Um Ano
Conforme o disposto no art. 89 da Lei Federal n.º 9.099/99, a suspensão condicional do processo tornou possível “nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano”. 
Salienta-se que não importa, destarte, se o delito tem ou não procedimento especial (envolve, portanto, em tese, v.g. crimes eleitorais, ou se o delito está previsto no Código Penal ou em lei especial). Logo, acopla alguns crimes de sonegação fiscal (por exemplo o art. 1º da Lei Federal nº 4.729/65), crimes ambientais (v.g. arts. 44, 45, 46 da Lei Federal nº 9.605/98) etc.
O marco fulcral é a pena mínima cominada em abstrato. Por isso, a admissibilidade ou não da suspensão condicional do processo é independente da pena em concreto. O que conta é a individualização primária da pena (feita pelo legislador), não a posterior, que será feita pelo juiz.
Mesmo que já se vislumbre a hipótese de que no final haverá sursis (caso de pena mínima cominada de dois anos, v.g.) mesmo assim, se em abstrato o mínimo excede de um ano, não é possível a suspensão do processo. Não importa, tampouco, se o processo é da competência originária de Tribunal.
No plano abstrato o legislador fez a seleção para que em seguida houvesse a incidência da sua nova política criminal transacional. A escolha da messe de incidência dessa novel política criminal é exclusiva do legislador. Ninguém pode, portanto, substituí-lo nessa tarefa.
Nas hipóteses em que penas diversas vêm cominadas alternativamente (prisão mínima acima de um ano ou multa, ad exemplum, arts. 4º, 5º e 7º da Lei Federal n.º 8.137/90) nos parece clarificado o cabimento da suspensão condicional do processo, pois a pena mínima cominada é a de multa. Se a lei dos Juizados Especiais (art. 89) autoriza a suspensão em caso de pena privativa de liberdade mínima até um ano, a fortiori, conclui-se que, quando a pena mínima cominada é a de multa, também cabe tal instituto. Pouco importa que a multa seja, no caso, alternativa. 
Se o legislador previu tal pena como alternativa possível é porque, no seu entender, o delito não é daqueles que necessariamente devam ser punidos com pena de prisão. Se a lei contentou-se com a multa alternativa, é porque, conforme seu entendimento, não se trata de delito de assaz gravidade.
Conforme já mencionado, o critério determinante para a admissibilidade da suspensão é o da pena cominada.
Com o advento da Lei Federal n.º 10.259/01, que criou os Juizados Criminais na seara federal e alargou o conceito de infração de menor potencial ofensivo para dois anos, surgiu o questionamento no sentido de ser esse novo limite também aplicável para a suspensão condicional do processo. 
Num primeiro momento, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, inexplicavelmente, aventurou-se no sentido de aplicar o prazo de 2 (dois) anos para a suspensão condicional do processo, conforme ementa que segue:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO DE HABEAS CORPUS. LEI Nº9.099/95. LIMITE DE 01 (UM) ANO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. MAJORANTE (CRIME CONTINUADO). LEI Nº 10.259/01. LIMITE DE 02 (DOIS) ANOS. SÚMULA 243/STJ. 
I – Para verificação dos requisitos da suspensão condicional do processo (art. 89), a majorante do crime continuado deve ser computada. 
II – "O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano”. Súmula 243/STJ.
III – A Lei nº 10.259/01, ao definir as infrações penais de menor potencial ofensivo, estabeleceu o limite de dois (2) anos para a pena mínima cominada. Daí que o artigo 61 da Lei nº 9.099/95 foi derrogado, sendo o limite de um (01) ano alterado para dois (dois) anos, o que não escapa do espírito da Súmula 243 desta Corte. Recurso provido para afastar o limite de um (01) ano, e estabelecer o de dois (02) anos, para a concessão do benefício da suspensão condicional do processo. "RHC 12033/MS; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2001/0129618-4 DJ DATA:09/09/2002 PG:00234 RJTAMG VOL.:00087 PG:00379 Relator Min. FELIX FISCHER (1109).
Em face de tal acórdão, houve interposição de embargos de declaração, por parte do Ministério Público Federal, alegando que houve contradição no julgado, ao mesclar o conceito de alteração de infração de menor potencial ofensivo (decorrente da Lei Federal nº 10.259/01) com o patamar mínimo para a suspensão condicional do processo.
Em decisão publicada no DJ de 10.03.03, a 5ª Turma, por unanimidade, acolheu os embargos de declaração, dando-lhes, excepcionalmente, caráter infringente, para, entendendo com espeque no voto do Ministro Relator Félix Fischer, restabelecer o entendimento de que a alteração do artigo 2º da Lei Federal nº 10.259/01 não alcançou o patamar previsto para a suspensão condicional do processo, que permanece alterado. Veja o acórdão:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ORDINÁRIO. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL LESIVO. SURSIS. PROCESSUAL PENAL. LEI Nº 10.259/01 E LEI Nº 9.099/95. EFEITOS INFRINGENTES.
I - A Lei nº 10.259/01, em seu art. 2º, parágrafo único, alterando a concepção de infração de menor potencial ofensivo, alcança o disposto no art. 61 da Lei nº 9.099/95.
II - Entretanto, tal alteração não afetou o patamar para o sursis processual (Aplicação da Súmula nº 243-STJ). Contradição reconhecida com efeito infringente. Embargos acolhidos, ensejando o desprovimento do recurso ordinário. (Edcl no RHC 12033/MS; 5ª Turma; Min. Rel: Félix Fischer; DJU 03.12.02; DJ: 10.03.2003 p. 243 RSDPPP Vol. 19 p.90).
Este posicionamento está sedimentado e, com razão, é o mais correto uma vez que na suspensão condicional do processo o que vale é o critério da pena mínima cominada, não o da pena máxima. Não se pode confundir suspensão do processo (pena mínima) com infração de menor potencial ofensivo (pena máxima).
4.1.2 – Contravenções
O caput do artigo 89 da Lei Federal nº 9.099/95 prescreve que será suspenso o processo nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano. 
Contudo, embora o mencionado artigo utiliza-se da palavra “crime” não significa, por raciocínio lógico, que estejam repelidos de seu raio de incidência as contravenções penais porque se cabe para o maior (crime) deve ser admitida para o menor (contravenções). Permitida a suspensão condicional do processo ao autor de crime, infraçãoem tese mais grave, não se pode recusá-la ao de contravenção, de menor gravidade.
 4.1.3 – Crime Tentado. Causas de Diminuição e de Aumento da Pena
Conforme art. 14, inc. II do Código Penal, considera-se crime tentado quando, iniciada a sua execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. De acordo com ensinamento de Vinicius Ribeiro (2000, p.84): 
Desse modo, no caso de tentativa, para se saber se é possível a suspensão condicional do processo, o aplicador deverá considerar a pena mínima prevista para o crime e diminuir do máximo possível previsto no parágrafo único do artigo 14 do Código Penal, pois esta será a pena mínima a que o acusado estará sujeito, ou seja, trata-se de diminuir a pena mínima em dois terços.
Contudo, não queremos afirmar que, invariavelmente, o acusado fará jus à suspensão do processo. Além do requisito da pena em abstrato, deverá ainda se sujeitar ao preenchimento de diversos requisitos que versam sobre o mérito.
No que se refere às causas de aumento ou de diminuição da pena, ao contrário do que acontece com as circunstâncias agravantes e atenuantes, deve ser analisada a pena abstrata cominada para o efeito de se admitir ou não a suspensão do processo. Deveras, se a culpabilidade é norteada pelo fato em concreto, qualquer alteração no injusto deve seguir as pertinentes modificações na resposta estatal.
Nas causa de diminuição da pena leva-se em conta o máximo do redutor em abstrato. Nas de aumento impõe-se o cálculo do seu mínimo porque desta forma chegaremos a pena mínima cominada em abstrato.
4.1.4– Concurso de Crimes
Como já tivemos a oportunidade de ver no item 4.1.1, p. 13-16, o parâmetro objetivo para a concessão da suspensão do processo é a pena mínima em abstrato, que não pode ser superior a 1 ano. Então se pergunta: de que forma será levado em conta esse limite legal no concurso de crime?
Antes da resposta fazem-se necessários a apresentação das espécies de concurso, o modo de contagem das penas e as correntes adotadas pela doutrina e jurisprudência nacionais a respeito deste tema.
São espécies o concurso material, formal e continuado, regidos pelos sitemas do cúmulo material e da exasperação, empregados em nosso Código Repressor.
Na aplicação da pena verifica-se que, no concurso material, há pluralidade de condutas e de crimes, incidindo a soma das sanções (art. 69, caput, do CP); no formal, em que foi adotado o sistema da exasperação, existem unidades de conduta e pluralidade de crimes, levando-se em conta uma das penas, ou a mais grave, com agravação (art. 70, caput); no crime continuado, nele outrossim recaindo a exasperação, temos, na verdade, um concurso material abrandado, limitando-se a consideração da lei, por razões de política criminal e unicamente para efeito de aplicação da pena de um delito e uma só resposta penal detentiva, embora com acréscimo (art. 71, caput).
Em qualquer espécie de concurso de crimes há, pelo menos, duas correntes:
1 - As penas mínimas abstratas não podem ser somadas para o fim de impedimento da medida. As infrações penais devem ser consideradas isoladamente: GRINOVER et. al. (2005. p. 276/279, n. 4.5); TOURINHO FILHO, (2007. p. 204/209); LAGRASTA NETO, (1999. p. 399); GIACOMOLLI, (2002. p. 44, n. 3.4); RAMOS RODRIGUES, (2006, p. 95 e 102, n. 3.1); DAMÁSIO DE JESUS (2003, P.135 a 138), ANDRADA (1996, p. 93); TOURINHO NETO e FIGUEIRA JÚNIOR (2002, p.729).
2 - É inadmissível a medida se a soma das penas mínimas ultrapassa o limite legal: MIRABETE, (2002, p.296/309, n. 32.1.6); GONÇALVES, (2002. p. 67); RIBEIRO (2000, p. 86), FOLGADO (2002, p.98); VINICIUS RIBEIRO (2000, p. 85/86); OLIVEIRA (2001, p. 78)
Inclusa nesta segunda corrente está a súmula nº 243 do STJ, ipsis litteris: 
O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (1) ano.
De nossa parte, filiamos ao posicionamento daqueles que entendem que, não importa qual seja a natureza do concurso: material, formal ou continuado, a concessão da suspensão condicional do processo deve ser regida por duas fases diferenciadas, sem que, no entanto, nenhuma delas adicione pena em abstrato de outros crimes considerados em concurso. 
Na primeira fase, critério objetivo ou individual, a análise deverá recair tão-somente a pena mínima em abstrato considerada isoladamente. Já na fase seguinte, critério subjetivo ou global, valorará o conjunto dos crimes (em quais circunstâncias o crime ocorreu, conseqüências produzidas, houve reparação, houve arrependimento etc.). Logo, não será o critério objetivo que obstruirá a concessão da suspensão quando a pena abstrata por igual ou inferior a 1 (um) ano, mas o critério subjetivo.
Nesse sentido, prelecionam Ada Pellegrini et al. (2005, p.277-278):
No primeiro momento, pensamos que de modo algum podem ser somadas as penas mínimas de cada delito para o efeito de excluir, ab initio, a suspensão. Quanto à pena (requisito objetivo) o critério de valoração é o individual (CP, art. 119, e Súmula 497 do STF). Cada crime deve ser considerado isoladamente, com sua sanção mínima abstrata respectiva. Uma coisa, entretanto, é o preenchimento do requisito objetivo da pena, outra bem diferente é o requisito do mérito, isto é, saber se o agente merece ou não a suspensão do processo. Para isso, na segunda fase da valoração, vem o exame dos chamados requisitos subjetivos (culpabilidade, personalidade, motivação, grau de culpa, reparação, preocupação com a diminuição das lesões, atitudes de arrependimento, consideração com a vítima etc.). No que concerne a esses requisitos subjetivos, de mérito, o critério da valoração é global, isto é, devemos considerar o conjunto dos crimes (quais conseqüências produziram, houve reparação, as vítimas tiveram consideração, houve arrependimento etc.). Na primeira fase (pena abstrata) o critério é individual; na segunda fase o critério é global. Nisso consiste o que estamos denominando de critério bifásico individual-global.
Ademais, salienta-se que o concurso formal e o crime continuado são institutos de política criminal que beneficiam o acusado. Em assim sendo, não há que se levar em consideração, em termos abstratos, a causa de aumento de pena deles decorrente. Cada crime é um crime, no que se relaciona com a pena abstrata. 
No concurso de crimes, por isso mesmo, as penas mínimas abstratas não devem ser somadas para impedir a aplicação da suspensão do processo. O que ganha relevo na suspensão condicional do processo é a menor gravidade dos crimes, revelada no mínimo da pena a eles cominada.
Com a palavra, Tourinho Filho (2007, p.204 e 208):
Na hipótese de concurso material, formal ou mesmo nos casos de continuidade delitiva, a nosso juízo, as penas, no primeiro caso, não devem ser somadas nem deve ser considerado o acréscimo nos dois últimos casos. O legislador, a nosso ver, levou em consideração o tipo de infração penal: aquele cuja pena mínima cominada in abstracto não seja superior a um ano. Essa a mens legis e a mens legislatoris. Considerou-se, apenas e tão-somente, a gravidade da infração. 
Ao fim arremata:
E, ao que nos parece, o legislador pretendeu apenas e tão-somente impedir o benefício aos que cometem infrações graves, assim consideradas aquelas cuja pena mínima ultrapassa um ano. Se há concurso formal, crime continuado ou mesmo concurso material, as infrações em si, consideradas insuladamente, não apresentam gravidade. E é o que basta. As penas não podem ser somadas. Não fosse assim, difícil seria explicar a ratio essendi do art. 119 do Código Penal. 
No que concerne à Súmula n.º 243 do STJ – a suspensão condicional do processo não se aplica em relação às infrações cometidas em concursos material, formal e continuidade delitiva quando a soma ou majorante exceder o limite de 1 ano –comenta Damásio (2003, p. 136) que: 
A orientação da súmula é mais rigorosa do que a lei. No concurso material as penas não são somadas até para fins de prescrição da pretensão punitiva (CP, art. 119). No crime continuado, criado para beneficiar o agente, não cremos legítima a incidência do acréscimo, que é desprezado até na contagem do prazo prescricional da pretensão executória (Súmula 497 do STF).
4.1.5 – Crimes Conexos Cometidos pelo Mesmo Acusado
Se ao acusado for imputado um delito (ou mais) que, pela pena mínima abstrata, admite a suspensão e outro (ou outros) que não a admite, o que deve nortear a concessão ou não do instituto alternativo (para o primeiro delito que poderá admitir a suspensão dependendo do caso concreto) é o critério diferenciado utilizado no concurso de crimes, isto é, numa primeira fase, pela pena chega-se á conclusão de que um (ou alguns crimes), isoladamente considerado, autoriza a suspensão. 
Mas é indispensável, conforme dito no tópico anterior, a segunda fase de valoração, que é a subjetiva ou global, é dizer, todos os crimes cometidos devem ser analisados conjuntamente (a culpabilidade, grau de reprovação, intensidade do dolo, grau da culpa, conseqüências, motivação, reparação, consideração com a vítima etc.). Tendo em vista a pena cominada para um dos delitos, pode ser possível a suspensão. Mas, às vezes, examinado o mérito como um todo, tal medida não se justifica.
Considere-se, v.g. uma receptação própria e qualificada, em conexão. O primeiro em tese admite a suspensão. O segundo não. Seria possível cindir o processo e conceder a suspensão em relação ao primeiro? Pela pena cominada, sim, pelo mérito como um todo depende de cada caso concreto.
Se o acusado está preso pelo crime conexo que não admite a suspensão da pena ou a substituição por restritiva de direitos, é evidente que não se pode nem sequer cogitar da suspensão condicional do processo em relação ao crime que a admite, em tese. O preso não tem como cumprir as condições da suspensão, sobretudo o comparecimento mensal em juízo. Ao revés, se o crime mais grave comportar restritiva de direitos ou sursis, nada impede que haja a suspensão para o de menor gravidade.
E na hipótese de infrações conexas em que uma delas admite transação e a outra suspensão? Cremos que deverá haver desmembramento do processo a fim de que se possibilite a suspensão daquele em que é possível a suspensão. Nesse sentido: STF, HC 75.193-8, DJ 29.08.1997, Min. Rel. Sydney Sanches.
Se no momento adequado rejeitou-se a suspensão condicional do processo em virtude da conexão de crimes, caso, no final, o juiz venha absolver o acusado de um deles, é pertinente a renovação da proposta de suspensão, desde que preenchidos todos os requisitos legais, visto que, com a absolvição, está desfeita a conexão. É como se o acusado, desde o princípio, respondesse por um só crime.
4.1.6 – Crime Imputado a Vários Acusados. Separação dos Processos
Havendo co-autoria ou participação (que é hipótese de continência, nos termos do art. 77 do CPP), pode ser que um dos acusados faça jus à suspensão e o outro não. Nesse caso, separa-se o processo, nos termos do art. 80 do CPP.
Conforme o resultado do processo em relação ao réu a quem não se concedeu a suspensão do processo, pode ser o caso de se dar “efeito extensivo ao recurso” (CPP, art. 580). Eventual absolvição por atipicidade da conduta, por exemplo, tem que beneficiar também o acusado que conseguira a suspensão.
4.1.7 – Ação Penal Privada
O caput do art. 89 da Lei Federal n. 9.099/95 só faz menção à proposta da suspensão condicional do processo pelo Parquet ao oferecer a denúncia, logo, o previu na ação penal pública, mas não prescreveu sobre a possibilidade ou não em relação à ação penal privada.
Damásio de Jesus (2003, p. 120) leciona não caber a suspensão do processo na ação penal privada tendo em vista que o nosso ordenamento já prevê meios de encerramento da persecução criminal pela renúncia, decadência, reconciliação, perempção, perdão, retratação etc.
Cezar Bitencourt também entende não ser possível a suspensão processual uma vez que:
Parece, à primeira vista, que houve um cochilo do legislador ao limitar a natureza das infrações penais, que podem ser objeto da suspensão condicional do processo: somente os crimes de ação pública, condicionada ou incondicionada, podem beneficiar-se com a suspensão do processo. Embora não diga expressamente, a redação do art. 89 não deixa margens à dúvida ao determinar que o Ministério Público, ao oferecer denúncia, poderá propor a suspensão do processo. Ora, como nos crimes de ação de exclusiva iniciativa privada a ação penal não inicia com o oferecimento da denúncia – que não existe – mas com o oferecimento da queixa-crime, pelo próprio ofendido, através de seu advogado, não configura o momento processual em que ‘o Ministério Público oferece denúncia’ (apud Ribeiro, 2000, p. 89-90).
Respeitando opiniões de balizados doutrinadores, sendo a suspensão do processo uma mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação penal, desde que preenchidos os requisitos insculpidos pela lei, pautando no critério da titularidade da ação penal para recusar a aplicação do instituto para alguns réus e aplicá-lo a outros é violar flagrantemente o princípio da isonomia, incorrendo em inconstitucionalidade haja vista que a pessoa processada pela prática de um crime cuja ação penal seja privada receberia um tratamento jurídico mais gravoso que aquela processada por haver praticado um crime de ação penal pública, pois apenas neste último caso faria jus o réu à medida processual alternativa à sanção penal, apesar de ambos cumprirem os requisitos do art. 89, caput da Lei Federal nº 9.099/95. 
Se até mesmo em relação aos crimes de ação pública, que envolve interesses públicos indiscutíveis, cedem para a incidência da suspensão do processo, com muito maior razão deve ser admitida em relação a crimes de ação penal privada, onde predominam interesses privados. Pela própria natureza, estes a fortiori não contam com primazia diante dos interesses públicos.
Ademais, o sistema de consenso entre o ofensor e a vítima é modalidade que não equivale à renúncia do direito de ação na transação penal e não implica, portanto, na mitigação do princípio da indisponibilidade da ação penal, com relação à suspensão. O sistema de modelo político-criminal consensuado, que além da simplicidade, economia processual, oralidade e celeridade, se apóia na conciliação e transação, sobressaindo-se os interesses da vítima.
A suspensão condicional do processo, por não ter natureza do perdão – que afeta imediatamente o ius puniendi – nem da perempção – que é sanção processual ao querelante inerte, moroso – pode ser proposta pelo querelante, pois este está fazendo uma opção pela incidência de uma resposta estatal alternativa, agora permitida, mas que é também resposta estatal ao delito. Se o querelante pode o mais, que é perdoar, é evidente que pode o menos – optar pela solução alternativa do litígio. 
Por fim, considerem-se ainda os interesses públicos gerais presentes no instituto da suspensão, que transcendem em muito os interesses pessoais dos envolvidos no litígio. Dentre aqueles se destacam: ressocialização do infrator pela via alternativa da suspensão, reparação de danos sem necessidade de um processo civil de execução, desburocratização da Justiça etc.
Inviabilizada a suspensão na ação penal privada, nada disso será alcançado. Nem tampouco a meta político-criminal que o legislador quis imprimir para a chamada criminalidade de menor ou médio potencial ofensivo. 
Contudo, caso o querelante recuse a oferta de suspender o processo nada mais poderá ser feito fazendo com que o juiz dê regular processamento do feito: STJ, HC: 60-933/DF, DJU 20.05.08, Min. Rel. Arnaldo Esteves Lima.
4.1.8 – Qualificadora, Aumento e Desclassificação de Pena
Todas as vezes que for invocada na peça acusatória uma qualificadora ou uma causa de aumento de pena faz-se necessárioque o magistrado examine se existe justa causa para a qualificadora ou causa de aumento para descobrir a pena mínima em abstrato conforme visto no item nº 4.1.3, p. 17.
Por via indireta, situações como essas, em que muitas vezes estarão em jogo relevantes interesses do autor do fato vai obrigar os juízes, a certo sentido, tomar nova postura no ato do recebimento da denúncia que, hoje, lamentavelmente, longe está de cumprir o disposto no art. 93, IX, da C.F.
Se todas as decisões dos magistrados devem ser fundamentadas, é evidente que o recebimento de uma peça acusatória também necessita de tal providência. 
Não se pode olvidar que é a partir do recebimento dela que o autor do delito ganha o status de acusado, sujeitando-se a todos os rituais degradantes inerentes a qualquer processo.
Constatando o juiz que não existe justa causa para a qualificadora ou causa de aumento de pena constante na denúncia, seja liminarmente ou após a apresentação de defesa prévia nos termos do novel artigo do processo penal [art.396 e 396-A], o início do processo deverá transcorrer sem o excesso, admitindo-se o fato tão-só na forma simples. Elimina-se a parte adicionada da pena dissociada da realidade fática, por ser fruto da atividade mental exclusiva do órgão acusatório. E a partir daí impõe-se a aplicação do ordenamento jurídico, tendo como base o delito na sua forma simples. Se o juiz vem a aceitar a qualificadora ou aumento, só resta o habeas corpus, no qual o interessado pode questionar a classificação jurídica
Consoante à desclassificação do delito, esta pode suscitar a possibilidade de suspensão condicional do processo extemporâneo. Suponha-se uma denúncia por furto qualificado, sendo certo que ab initio havia justa causa para isso. Encerrada a instrução, percebe-se que a qualificadora não resultou comprovada. O juiz terá que aplicar o novel art. 383 § 1º do CPP (parágrafo acrescentado pela Lei Federal nº 11.719/08). 
Ou seja, o juiz deve, antes de condenar, ensejar a possibilidade de suspensão condicional do processo. Serão examinadas as provas e depois se conclui pela desclassificação. Nesse momento, antes do dispositivo final, impõe-se a abertura de vista ao Ministério Público para que pronuncie sobre a suspensão, tendo em vista a nova classificação jurídica da infração.
O Ministério Público tem duas possibilidades neste caso: ou está de acordo com a nova classificação jurídica e desde logo opina favoravelmente a suspensão condicional do processo ou, de outro lado, não concorda com ela. 
No segundo caso, tendo havido discordância do promotor, o juiz concluirá sua decisão, desclassificando a infração, tal como havia vislumbrado. Em seguida, provavelmente, será processada a apelação do Parquet em razão da desclassificação. O Tribunal dirá quem tem razão. 
Se concluir que a desclassificação é correta, antes da sentença confirmatória da condenação de 1º grau, deverá ser convertido o julgamento em diligência para que se decida sobre eventual suspensão do processo. Ao revés, não haverá o benefício do instituto.
Se a desclassificação se deu por força do veredicto dos jurados e ao mesmo tempo tornou possível a aplicação da suspensão, cabe ao juiz presidente enviar os autos ao Ministério Público sobre tal decisão dos jurados com espeque no novo art. 492 § 1º do Código de Processo Penal. Havendo ou não concordância com a desclassificação segue o que foi dito no parágrafo anterior. 
Na hipótese de o juiz já ter sentenciado o caso e condenado o acusado, desclassificando-se a infração para delito que admita a suspensão, ainda assim, antes do trânsito em julgado, em qualquer momento o processo pode ser suspenso. 
A resposta estatal alternativa da suspensão condicional do processo (mediante condições) é melhor para o acusado que a resposta estatal clássica. Embora a destempo, impõe-se a averiguação da pertinência da suspensão, em casos excepcionais.
Pode ocorrer hipótese de desclassificação prejudicial ao acusado. Vejamos: no princípio vislumbra-se o delito de receptação própria. Foi concedida a suspensão. O Ministério Público, sponta sua, descobre depois provas concernentes a uma qualificadora e adita a denúncia. 
O juiz, recebido o aditamento, deve sobrestar a suspensão, até o trânsito em julgado, reiniciando o processo que estava suspenso. Vem a colheita de provas. Se no final ficar reconhecida a qualificadora, automaticamente está cassada a suspensão. Do contrário, será restabelecida sem, entretanto, contar o interstício entre o aditamento e o trânsito em julgado.
Quando eliminada a punibilidade do crime do júri, nada impede que se conceda suspensão condicional do processo no crime remanescente.
4.1.9 – Perdão Judicial
Caso o juiz entenda desde logo ser hipótese de aplicação do perdão judicial, não deve suspender sob condições o processo, pois não é justo colocar em período probatório quem já se sabe que ficará isento de qualquer conseqüência penal.
Pergunta-se se o anterior perdão judicial impede a concessão da suspensão processual? Respondem Tourinho Neto e Figueiras Júnior (2002, p. 727): 
Não. A sentença concessiva do perdão judicial é meramente extintiva de punibilidade e não condenatória. O réu, desse modo, não é considerado culpado: o seu nome, conseqüentemente, não irá para o rol dos culpados, não será considerado reincidente, conforme está dito no art. 120 do CP: A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos da reincidência”. A seguir completam: É jurisprudência pacífica do STJ, consagrada na súmula 18, que “a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
4.1.10 – Acusado Revel
Se se tratar de acusado revel, será impossível a suspensão condicional do processo, que tem como escopo a autodisciplina e o senso de responsabilidade, assumidos em pessoa no ato da audiência. A aceitação da proposta e das condições são atos personalíssimos. Só o acusado sabe o que lhe é mais vantajoso. 
Sua aceitação, de outro lado, deve se da na presença do juiz. É ele quem assume as condições. O juiz tem que ouvir sua manifestação livre e consciência. Tudo isso nos revela que não estando presente o acusado é absolutamente impossível a suspensão condicional do processo. No ato da sua citação por edital, no entanto, nada impede que o juiz mande registrar a proposta de suspensão do processo feita pelo Ministério Público.
Em relação ao revel, é impossível qualquer analogia com o sursis. Na suspensão condicional do processo é imprescindível o comparecimento pessoal do acusado em audiência, porque só ele pode dizer se aceita a suspensão ou se quer o clássico processo, com todas as garantias do devido processo legal. A autonomia da vontade, como vimos antes, é um dos pilares no sistema consensual de Justiça Criminal. Torna indispensável sua expressão, sua manifestação. 
O acusado tem que abrir mão de direitos fundamentais. Logo, só pode fazê-lo em pessoa. Sua presença é imprescindível e sua vontade é tão relevante que a lei dá primazia para sua palavra quando divergente com a de seu defensor. Acusado revel, em suma, de modo algum pode ser beneficiado com a suspensão do processo. E ademais não teríamos o cumprimento das condições. Suspensão condicional sem o cumprimento de condições é uma contradição!!
4.1.11 – Acusado e Menor Inimputáveis
Uma das fundamentais características da suspensão condicional do processo reside na manifestação de vontade livre e consciente do acusado, muitas vezes já repetidas neste trabalho. Portanto, não se aplica este instituto aos acusados inimputáveis em razão da impossibilidade de se alcançar essa manifestação.
Aos menores inimputáveis também não se aplica esse instituto haja vista que fora pensado para acusados maiores de 18 anos por se exigir senso de responsabilidade e de autodisciplina. Para os menores aplica-se a legislação especial (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Diferente é a situação do semi-imputável.Desde que não necessite de “especial tratamento curativo” (CP, art.98) nada impede a suspensão condicional do processo, se presentes os demais requisitos legais.
4.1.12 – Aplicação da Suspensão do Processo em Crimes Especiais
O art. 89 da Lei Federal n.º 9.099/95 não exclui do âmbito de sua incidência nenhum crime previsto em lei especial nem qualquer procedimento especial. Portanto, é clarividente que a suspensão condicional do processo é aplicável também aos crimes da competência das Justiças Eleitoral e Federal.
A suspensão condicional do processo, por razões de oportunidade, acabou sendo disciplinada na Lei dos Juizados Especiais, mas não é instituto deles e sim de ampla e geral aplicação, pouco importando o procedimento, o lócus da previsão típica do delito ou a competência para o julgamento do caso.
Pergunta-se: caso um delito de competência da justiça especial tenha sido julgado pela justiça comum, que concedeu a suspensão do processo, e posteriormente é declarada incompetente, o benefício será mantido?
Entendemos que, neste caso deve ser rechaçado o princípio de que o processo ou ato nulo não produz efeitos uma vez que a justiça comum já aplicara expediente substitutivo da sentença que deve ter, em termos de impossibilidade de novo processo pelos mesmos fatos, a mesma conseqüência jurídica. 
4.1.13 – Aplicação da Suspensão nos Crimes Dolosos Contra a Vida.
Como acima mencionado, o art. 89 não exclui nenhum procedimento especial. Inclusive nos crimes dolosos contra a vida, portanto, pode ter incidência a suspensão do processo. Em regra, a competência para o julgamento de tais crimes é do Tribunal do Júri. 
Mas para tanto é preciso, previamente, passar o caso pela sabatina da pronúncia. Havendo a suspensão do processo antes dela, o caso não vai a Júri. Muitos crimes dolosos não são julgados pelo tribunal do Júri: além das hipóteses enfocadas, pode-se ainda lembrar o crime militar cometido contra militar, o crime cometido por quem goza de prerrogativa funcional etc.
Excluir a suspensão condicional do processo aos crimes dolosos contra a vida significaria, por isso, retirar arbitrariamente uma parcela fenomenológica do âmbito do legislativamente selecionado para incidir a nova política criminal estatal, de natureza transacional. E ninguém pode substituir o legislador, quando sua opção é constitucionalmente legítima. Se o autor do crime contra a vida possui ou não mérito, para a suspensão é uma coisa. Outra bem distinta é excluir, no plano abstrato, os crimes dolosos contra a vida. Isso só o legislador podia fazer. E não o fez.
4.2 – Requisitos de Admissibilidade
O caput do art. 89 da Lei n. 9.099/95 informa que será suspenso o processo caso o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam o sursis (art. 77 do Código Penal).
4.2.1 – Outro Processo em Andamento
Este requisito não fere o princípio constitucional da inocência conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: [STF, HC 86007/RJ, DJ: 29.06.05, Min. Rel. Sepúlveda Pertence; STF, HC: 85.106-1/SP, DJ: 14.12.04, Min. Rel. Sepúlveda Pertence; STF, RHC: 79.460, DJ: 18.05.01, Min. Rel. Nelson Jobim]. Para maiores detalhes vide item 8.4, p. 52-54.
4.2.2 – Condenação Anterior por Outro Crime
Ab initio, cabe salientar que a lei, ao utilizar da palavra “crime”, excluiu a condenação por contravenção. Logo, em princípio, não é obstáculo a concessão da suspensão do processo. Dependerá de um juízo positivo das condições judiciais.
A lei não fez distinção entre crime doloso ou culposo, tentado ou consumado. Pergunta-se: independentemente da natureza do crime, será que a lei adotou o sistema da perpetuidade ou deve ser aplicado o prazo de reincidência de 5 (cinco) anos referido no art. 64, inc. I, do Código Penal?
De nossa parte entendemos que a interpretação deve ser restritiva para aplicar a regra do art. 64, inc. I do Código Repressor. Ao revés, prejudicaria o acusado. Utilizamos o adágio: semper in dubiis benigniori praeferenda sunt [Nos casos de dúvida sempre se preferirá a solução mais benigna].
 Imagine a hipótese de uma pessoa ter sido condenada por lesão corporal leve há 6 anos e depois comete um crime tentado de furto. Seria justo não lhe conceder os benefícios da suspensão do processo? Parece que não.
Folgado (2002, p.114) entende, por sua vez, que, embora transcorrido o prazo o condenado deixa de ser reincidente, não terá direito a nova suspensão do processo em razão de a lei impor requisito mais abrangente do que a simples exigência da não-reincidência.
4.2.2.1 – Condenação Anterior à Multa
A pena de multa anterior não impede a suspensão condicional do processo tendo em vista que, por força do art. 92 da Lei dos Juizados Especiais, aplicam-se subsidiariamente o Código Penal e o CPP, no que não forem incompatíveis com a citada lei. Portanto, se houve condenação anterior à pena de multa, não há nenhum fato grave que possa simplesmente repelir a transação processual. Se presentes todos os demais requisitos, será possível a suspensão. No sentido do texto: STJ, HC 7.749, DJ 15.10.98, Min. Rel. Felix Fischer; STJ, Resp 558.184, DJ 17.08.04, Min. Rel. Gilson Dipp. 
4.2.3 – Reincidente em Crime Doloso
Com espeque no art. 77, inc. I, do CP c/c art. 89 da Lei n. 9.099/95, quem é reincidente em crime doloso não faz jus ao benefício da suspensão. Reincidente, repise-se, é aquele que cometeu crime doloso anteriormente, sendo definitivamente condenado, e, no interstício de 5 (cinco) anos, praticou um novel delito doloso. Tourinho Filho e Figueira Júnior (2002, p. 727) entendem não se aplicar este inciso uma vez que basta que o acusado esteja respondendo a processo ou que tenha sido condenado por outro crime, culposo ou doloso, o benefício não poderá ser concedido.
4.2.4 – Circunstâncias Judiciais Favoráveis
São necessários que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a concessão do benefício.
A culpabilidade, em sentido lato, é a reprovação social que o crime e o autor do fato merecem. É entendida, modernamente, como reprovabilidade, censurabilidade, ao agente, não ao fato.
Os antecedentes são tudo o que existiu ou aconteceu, na seara penal, ao agente antes da prática do fato criminoso, ou seja, sua vida pregressa em matéria criminal. Salientamos que filiamos àqueles que entendem que os antecedentes são apenas as condenações com trânsito em julgado que não são aptas a gerar reincidência. Nesse sentido, é a doutrina de Nucci (2003, p. 264)
Cremos acertada esta posição para o fim de fixação da pena, pois não se devem levar em conta inquéritos arquivados, processos com absolvição ou em andamento, entre outros fatores transitórios ou concluídos positivamente para o réu, como causa de majoração da reprimenda. 
No que se refere à conduta social, Franco e Belloque (2007, p. 345) informam que
deve ser avaliada enquanto o comportamento desenvolvido pelo agente na comunidade em que vive, abrangendo as suas relações familiares e de vizinhança, o seu modo de vida no trabalho e nos espaços comunitários de lazer, as condutas que – de maneira recorrente – apresenta no inter-relacionamento humano e social.
A personalidade, segundo ensinamento de Mirabete, obra atualizada por Renato N. Fabrinni (2005, p. 456)
registram-se qualidades morais, a boa ou má índole, o sentido moral do criminoso, bem como sua agressividade e o antagonismo com a ordem social intrínsecos a seu temperamento. Deve-se incluir, portanto, nessa circunstância, a periculosidade do agente, ou seja, as condições que indiquem a probabilidade de voltar a delinquir.
Os motivos do crime são, segundo Delmanto et al (2007, p. 188)
as razões que moveram o agente a cometer o crime. Deve-se atentar para a maior ou menor reprovação desses motivos. A circunstância, embora seja mais questionada nos delitos dolosos, excepcionalmentepode sê-lo nos culposos. Observa-se que não devem refletir, nesta fase, certos motivos (torpe, fútil, para assegurar a execução de outro crime etc.) que já estão especialmente classificados como circunstâncias legais, causas de aumento ou diminuição da pena ou mesmo qualificadoras.
Por fim, as circunstâncias do crime, nos ensinamentos de Regis Prado (2003, p. 285), “compreendem os fatores de tempo, lugar, modo de execução, excluindo-se aqueles previstos como circunstâncias legais”. 
5 – Proposta de Suspensão do Processo 
5.1 – Iniciativa
A proposta de suspensão do processo, em princípio, cabe exclusivamente ao Ministério Público, de acordo com o disposto no art. 89 da Lei Federal n.º 9.099/95. O juiz não pode tomar a iniciativa. Não pode, nesse comenos, agir ex officio, em razão do processo acusatório instaurado com a Carta Magna de 1988. Quem detém, em princípio, a iniciativa da proposta é o Parquet, que deve dispor da ação pena pública. Mas essa iniciativa não lhe confere uma atuação arbitrária. Em sentido contrário ao nosso é o ensinamento de Folgado (2002, p. 116):
Adotado este entendimento, que, vale a pena repetir, não é pacífico, tem-se que, ao lado do promotor de justiça, cabe também ao juiz indagar ao réu e seu defensor se concordam com a suspensão do processo e com o cumprimento das condições legais e judiciais fixadas. Se estes concordarem o processo será suspenso.
5.1.1 – Poder ou Dever do Parquet	
A lei preconiza que o Ministério Público poderá propor a suspensão condicional do processo. Tal como já se passa com tantas outras situações em que o verbo “poder” foi transformado em “poder-dever”, uma vez mais, a outra conclusão não se pode chegar. A dupla fase do princípio da oportunidade regrada bem explana tudo: por força deste princípio, pode o Ministério Público agora, em lugar da via clássica (repressiva) também direcionar a via alternativa (despenalizadora). Essa opção, no entanto, deve seguir rigorosamente os critérios legais, não pessoais. 
De outro lado, preenchidos os critérios que foram eleitos pelo legislador para a suspensão do processo, o Parquet, como é defensor da ordem jurídica (CF, art. 129) além de poder, se quer adstringir-se à legalidade, deve formular a proposta prevista no mencionado art. 89. Ao revés, sua atuação se afastaria da legalidade.
Em suma, se presentes todos os requisitos legais da suspensão condicional do processo, conforme analisados no capítulo 4, p. 13-35, deve o Ministério Público formular a proposta respectiva. Não se trata, portanto, de ato meramente discricionário. Não é uma mera facultas agendi.
 Indaga-se, e se o Ministério Público, mesmo assim, não o fizer? Pode o juiz agir de ofício? Ou se utilizaria a analogia do art. 28 do CPP?
Mirabete entende que (2002, p. 343): 
O dispositivo não pode ser aplicado, sequer por analogia, pois se destina justamente a uma situação oposta, ou seja, a de não exercer o Ministério Público o direito de ação penal. No caso, o representante do Parquet deseja a instauração do processo. Assim, o único remédio jurídico possível estaria a cargo do réu, que poderia propor pedido de habeas corpus pelo entendimento de que a omissão injustificada da proposta constitui constrangimento ilegal sanável pela via do mandamus. 
Damásio de Jesus, ao seu turno, preleciona que (2003, p. 123)
Nos termos dos princípios da informalidade e celeridade processual: o juiz, desde que presentes as condições legais, deve, de oficio, suspender o processo, cabendo recurso de apelação. A suspensão provisória da ação penal, assim como o sursis, tem natureza de medida alternativa. Se o juiz pode aplicar o sursis, que tem natureza punitiva e sancionatória, inclusive em face da discordância do Ministério Público, o mesmo deve ocorrer na suspensão condicional do Processo, forma de despenalização.
 No mesmo sentido Tourinho Filho (2007, p. 216-217):
 Como já tivemos oportunidade de salientar, numerosos atos que deveriam, num processo penal acusatório ortodoxo, isto é, fiel aos princípios, ser exclusivos do titular da ação penal, como requisitar inquérito policial, ser destinatário de representação, determinar a produção da prova que bem quiser e entender e pedir o arquivamento de inquéritos que lhe são dirigidos. Por isso não é de causar estranheza possa ele, também, já agora ante infundada recusa do Ministério Público ou querelante a propor a transação ou a suspensão condicional do processo, fazê-lo...
A nosso ver, a melhor solução está com Ada Pellegrini et al (2005, p. 319):
O instituto da suspensão condicional do processo tem natureza processual, atrelado ao princípio da discricionariedade regrada, cabendo ao Ministério Público a escolha da via reativa ao delito. A suspensão, por outro lado, de modo algum poderia ser concebida – no plano consensual – sem a transação explícita do órgão acusatório. A solução para a recusa injustificada está no art. 28 do CPP, portanto.
Registre-se que Mirabete nos dá uma outra solução (Op. cit., p.343):
é a comunicação pelo juiz da omissão injustificada do representante do Ministério Público ao Procurador-Geral de Justiça, ou a imediata remessa dos autos ao chefe do Parquet, não por analogia com o art. 28, mas por conduta indevida do membro do Parquet.
Numa ou noutra hipótese, se o Procurador-Geral de Justiça ou da República, dependendo de o crime ser estadual ou federal, insistir na não realização da proposta de suspensão, nada mais pode ser feito no âmbito do Tribunal.
Entretanto, por lógica, se a manifestação do Procurador-Geral foi absolutamente infundada, pode-se pensar no habeas corpus. Mas agora já não estamos no plano do consenso, mas da controvérsia. Certo é que nenhum ato do poder público está fora de controle. Toda manifestação que atenta contra a razoabilidade deve ser passível de exame. Mas, em se tratando de recusa fundamentada, não há falar em arbítrio.
Deixamos consignado também o posicionamento de Sidnei Beneti (1996, p. 173):
A proposta de suspensão deve ser apresentada pelo Ministério Público, mas, tratando-se de poder-dever, não fica na discricionariedade do Promotor de Justiça, de maneira que se tem uma exclusividade mitigada: se o Promotor não propõe a suspensão, pode o próprio acusado requerê-la, demonstrando-lhe a presença dos requisitos. Passe, nesse caso, à ouvida do Promotor e ao julgamento. Não se chega, assim, à necessidade de aplicação analógica do art. 28 do Código de Processo Penal.
5.2 – Momento Adequado da Proposta.
Normalmente o momento adequado para se formular a proposta da suspensão do processo é o do oferecimento da denúncia. Isso é válido para todas as denúncias oferecidas após 26.11.1995 (data da vigência da lei). 
No que diz respeito às denúncias oferecidas antes da vigência da lei, cabe ao juiz, na primeira oportunidade, provocar a manifestação do Ministério Público. Antes do oferecimento da denúncia é impossível a proposta, porque a suspensão só pode ser feita com arrimo em um fato concreto, com sua qualificação jurídica. No caso de desclassificação final da infração, de tal modo a permitir a suspensão, ela pode e deve ser concedida fora do seu tempo normal.
O entendimento no sentido de que após o oferecimento da denúncia já não se justificaria qualquer proposta de suspensão condicional do processo deve ser visto com ressalva. Com efeito, cuidando-se de processos que estavam em curso na data da vigência da lei nova, esta tem eficácia retroativa e os alcança na altura em que se acham. 
Logo, em muitos casos haverá proposta de suspensão do processo mesmo depois da instrução ou da sentença, de primeiro grau ou mesmo em grau de recurso. Tudo por força da Carta Republicana, em vigor desde 1988, que manda aplicar retroativamente a lei penal mais benéfica.
Mesmo após a sentença condenatória não transitada em julgado não se afasta a possibilidade de concessão da suspensão condicional do processo se reunidos os requisitos objetivos à sua admissibilidade.Pergunta-se: pode haver segunda proposta no mesmo processo? 
Pensamos que não tendo em vista que já foi feita uma primeira proposta sendo rejeitada pelo acusado. Depois de iniciada a audiência de instrução e julgamento conforme novo rito do processo penal, considerando-se as denúncias oferecidas após o advento da lei, torna-se impossível a suspensão do processo, afora casos excepcionais: desclassificação final da infração, por exemplo. Em sentido contrário: Tourinho Neto e Figueira Júnior (2002, p. 749).
5.2.1 – Rejeição Liminar da Proposta
O juiz não pode impedir que o Ministério Público formule a proposta de suspensão. A tanto não chega sua função de fiscal do exercício do princípio da oportunidade regrada, função fiscalizatória essa que ele exerce também em relação ao princípio da obrigatoriedade. 
Mas pode rejeitar de plano a proposta quando vislumbra, com segurança, a inexistência dos requisitos de sua admissibilidade. Seria um contra-senso ter de ouvir o acusado primeiro (sobre eventual aceitação) para em seguida dizer que não estão presentes seus requisitos legais. É melhor que expresse desde logo seu indeferimento, sujeitando-se, obviamente, ao controle recursal.
6 – Bilateralidade da Suspensão
6.1 – A Bilateralidade da Suspensão
Jamais a suspensão do processo será possível sem a concordância clara e inequívoca do acusado. Dentro do sistema clássico conflitivo sabemos que este não pode escolher a pena a ter incidência. Quem se encarrega da sua individualização é o juiz. 
No que atina à via alternativa da suspensão, contudo, a manifestação de vontade do acusado é soberana, insubstituível. E ele pode dizer sim ou não: ambas as formas configuram estratégia de defesa. 
Nenhuma imposição de qualquer tipo pode encontrar espaço, sob pena de se desnaturalizar o instituto da suspensão, fundado no senso de responsabilidade. Sendo assim, a suspensão do processo é sempre bilateral, isto é, sem sua impostergável aceitação, nada se concretiza.
6.1.1 – Ato Personalíssimo
Ninguém pode aceitar a suspensão no lugar do acusado, mesmo porque ela tem por fundamento a autodisciplina e o senso de responsabilidade. Nunca será possível tal ato por procurador, ainda que conte com poderes especiais. É o acusado que tem que saber das condições da suspensão e assumi-las. É um ato em que se assumem responsabilidades.
O juiz tem que conversar com o próprio acusado, inclusive para ajustar a dosimetria das condições, tão importante em termos de prevenção geral (intimidação) como especial (ressocialização). Se o acusado é revel ou não comparece (exceto motivo justo) na audiência de conciliação, torna-se impossível a suspensão.
 6.1.2 – Ato Voluntário
Será voluntária a aceitação se for consciente e livre. Para ser consciente o acusado tem que saber a natureza exata da suspensão, seus efeitos, suas conseqüências. 
Deve ter consciência inequívoca de que participa de uma transação, que significa abster-se de direitos constitucionais (contraditório, ampla defesa, v.g.) Deve ainda estar ciente da natureza transacional da suspensão, que carrega consigo a realização de outras metas: reparação dos danos, reinserção social etc. 
Impõe-se, sobretudo, que tenha prévio conhecimento das condições da suspensão. Na eventualidade de que o juiz possa fixar “outras”, além das obrigatórias (art. 89, §2º) impõe-se sua comunicação prévia. Não pode haver surpresas.
6.1.3 – Ato Absoluto
A aceitação, de outra parte, não pode ser condicional. Não pode estar atrelada a nenhuma condição fixada pelo acusado que ultrapasse os limites da legalidade ,da moralidade ou da dignidade humana. A aceitação, ademais, não pode implicar obrigação ou compromisso para terceira pessoa. É ato inter partes.
6.1.4 – Ato Formal
A aceitação tem que reunir todas as solenidades exigidas por lei. Não pode ser extraprocessual. E se o for, como por exemplo o acordo prévio entre o beneficiado e o membro do Parquet em seu gabinete, tem que ser pessoalmente ratificado em juízo. Não tem nenhum valor a aceitação concretizada fora da presença do magistrado.Será em regra oral. Mas pode ser manifestada de outra forma, v.g. por escrito em razão de o réu ser mudo, mas desde que presente a voluntariedade.
6.1.5 – Ato Vinculante
A aceitação da suspensão só é válida nos limites em que tudo foi transacionado. Ela está atrelada a uma acusação formal. Logo, possui vínculo com os fatos narrados e com a qualificação jurídica dada. Vincula o órgão acusador, mas não o juiz, evidentemente. Se bem que o juiz, para rejeitar a aceitação, formulada em sua presença, deve apresentar motivo justo e fundamentar sua decisão, que ficará sujeita ao controle recursal, evidentemente. 
Na hipótese de o acusado não concordar com os limites da proposta, nada impede que faça contraproposta. O ato é transacional, informal, oral, logo, deve discuti-la. O promotor não impõe as condições. Essa tarefa é do juiz. Mas nada impede que ele faça sugestões, inclusive no ato da proposta.
6.1.6 – Ato tecnicamente assistido
Considerando a importância da manifestação de vontade do acusado, cuja conformidade processual, como já enfatizamos, implica no recuo de direitos e garantias fundamentais, quis o legislador cercar a aceitação de mais uma garantia: deve ser tecnicamente assistida, isto é, só pode se realizar na presença de defensor. 
E não só isso, a lei foi mais longe: também deve haver aceitação do defensor. Se o acusado for advogado, sua presença única é o suficiente. E se houver divergência entre a vontade do acusado e do seu defensor? A resposta nos é dada pela própria lei, art. 89, § 7º: “o que prevalece é a vontade do acusado”.
6.2 – Audiência de Conciliação
A lei determinou a realização de uma audiência especial para o ato da aceitação. É indispensável, diríamos, que tal audiência especial seja designada, mesmo porque tal ato deve se realizar na presença do juiz. Para ela devem ser intimadas as partes, evidentemente. No ato da intimação do acusado, se feito por escrito, deve constar a advertência do art. 68 da Lei Federal n.º 9.099/95 (necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público).
6.3 – Acusado que Reside em Outra Comarca
Nada impede que o acusado seja intimado para comparecer no juízo processante. Essa intimação pode ser feita, de outro lado, de maneira informal, tal como autoriza o art. 67 da Lei Federal n.º 9.099/95. Havendo impossibilidade absoluta de comparecimento, nada obsta que seja deprecada a audiência conciliatória. 
Nessa altura, já teremos a denúncia e a proposta de suspensão, assim como as condições preestabelecidas pelo juízo processante (quem formula a proposta de suspensão, assim, é o promotor da denúncia, não o que oficia no juízo deprecado).
Pergunta-se: qual será a conduta do juízo deprecado caso o réu não aceite a proposta ofertada pelo juízo deprecante?
O juízo deprecado cumpre, em princípio, executar a medida contida na carta precatória sem perquirir o mérito. Contudo, partindo da premissa que o ato deprecado é essencialmente dialogal, o juízo deprecado enfrentará uma situação de eventual negociação. Portanto, caso não haja aceitação da proposta oferecida pelo juízo deprecante pode o juízo deprecado flexibilizá-la. Contudo, salienta-se que o que acabamos de dizer somente é possível caso o juízo deprecado primeiramente discuta as propostas formuladas pelo juízo deprecante e não, desconsiderando a proposta anterior, faça-a segundo o seu entendimento uma vez que, nesta hipótese, haverá exorbitação de sua competência, esquivando-se das condições constantes da carta precatória. 
 Na conciliação, é preciso que todas as condições fiquem devidamente esclarecidas, inclusive local de cumprimento, forma de cumprimento etc. 
O juízo deprecado pode, no nosso entender, flexibilizar as condições antes fixadas pelo juízo deprecante. No diálogo pessoal com o acusado podem ser reveladas circunstâncias que justifiquemtal medida. Aceita a proposta, retornam os autos ao juízo de origem (porque quem defere a suspensão é o juízo deprecante). E pode haver necessidade de uma nova precatória, mas agora a fiscalização das condições – que fica por conta do juízo deprecado. No mesmo sentido está a jurisprudência do STJ:
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. CARTA PRECATÓRIA. MODIFICAÇÕES DAS CONDIÇÕES PELO DEPRECADO. DETERMINAÇÃO DA SUSPENSÃO PELO DEPRECADO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Quando se depreca a realização da audiência de suspensão condicional do processo, deve o deprecado cumprir a carta, como enviada. Dada a característica transacional do ato, é possível, todavia, a flexibilização, pelo deprecado, das condições. No entanto, a decisão sobre a suspensão é privativa do deprecante – juiz natural da causa.
2. Conflito de competência conhecido para declarar competente o suscitante para a formulação da proposta do art. 89 da Lei nº 9.099/95, anulando-se a suspensão condicional do processo efetivada pelo suscitado, o qual deverá apresentar as condições como estabelecidas pelo suscitante.
(CC 90339/PR; Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura; Órgão Julgador: Terceira Seção; DJU 28.03.2008; DJ 25.04.2008 p.1).
6.4 – Não Aceitação da Proposta e Hipótese de Vários Acusados
Se o acusado não aceitar a proposta do instituto transacional do processo, por força do art. 89, § 7º, “o processo prosseguirá em seus ulteriores termos”. De se observar que é a vontade do acusado a que prevalece, sempre que houver divergência entre ele e seu defensor. 
Interpretando-se o mesmo parágrafo a contrario sensu, se o acusado aceitar (mesma que seu defensor seja contra) o processo se suspende. 
Caso haja, exemplo, dois réus e um aceita e outro não, dá-se a ruptura do processo. O ato é personalíssimo. Para um ficará suspenso, para o que recusou a proposta o processo prossegue. 
E se no final o juiz reconhecer a atipicidade do fato? Ficará sem efeito a suspensão condicional do processo para aquele que a ela se sujeitou. A decisão do juiz terá efeito extensivo, aplicando-se analogicamente o disposto no art. 580 do CPP ou o juiz reconhecerá a falta de justa causa ou condição da ação e a trancará ex officio.
6.5 – Retratação. Arrependimento e Limite Temporal da Aceitação
Depois de manifestada a aceitação, não existe a possibilidade de retratação. Mas se o acusado se arrependeu de ter aceitado a suspensão, é muito fácil rompê-la: é só provocar a sua revogação. Isso pode ocorrer de várias formas, inclusive com prévia comunicação ao juízo, querendo.
Pode acontecer, também, de o acusado na audiência conciliatória vir a rejeitar a suspensão e depois se arrepender. Poderá expressar esse seu arrependimento e pedir uma nova audiência ao juiz. Porém, até que momento pode fazer isso? Qual é o limite temporal máximo da aceitação? 
Pensamos que o limite extremo está no ato da defesa preliminar até o período da data da feitura da audiência de instrução e julgamento. Durante esta já não será possível a suspensão do processo, a não ser por mera liberalidade do Ministério Público e do juiz.
7. O Recebimento da Denúncia como Pressuposto da Suspensão do Processo
7.1 – Momento Adequado Para o Exame da Denúncia
O art. 89, § 1º, da Lei Federal n.º 9.099/95, preconiza, in verbis: aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições. 
Analisando atentamente esse dispositivo, o juízo de admissibilidade da denúncia deve anteceder à designação da audiência de conciliação. Azos de ordem sistemática justificam tal mister. 
E caso o juiz desde logo perceba que é o caso de rejeição, conforme novo procedimento processual, não deve nem sequer designar a audiência. Deve imediatamente rejeitar a peça acusatória. 
O recebimento da denúncia, por outro lado, continua com a eficácia de interromper o interstício prescricional, com espeque no art. 117, inc. I, do Código Penal, aplicável subsidiariamente, por não ser incompatível, conforme positivado pelo art. 92 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
7.2 – Motivos e Rejeição Ab Initio
Uma vez ofertada a denúncia e formulada a proposta de suspensão do processo, cabe ao magistrado examinar sua pertinência jurídica desde logo, antes da marcação da audiência de conciliação.
 Dentre as condições da ação está o interesse de agir que, na seara do processo penal, consiste na seriedade do pedido formulado (probabilidade de existência do crime e probabilidade de autoria).
Se o juiz percebe, desde logo, que irá rejeitar a denúncia por falta de elementos condicionantes para o seu recebimento, a nós nos parece muito clarividente que deve imediatamente tomar tal providência. 
Nenhum outro ato processual deverá praticar, mesmo porque é pressuposto da suspensão do processo a existência de uma imputação séria e que conte com a viabilidade jurídica. 
Na eventualidade de que o juiz não rejeite a denúncia ab initio, em razão da informalidade, a imediatidade, a oralidade, economia processual e outros princípios, nada impede que o acusado, pelo seu defensor, em lugar de aceitar a proposta de suspensão do processo, faça a argüição da inviabilidade da peça acusatória conforme novel art. 396 e 396-A do CPP. E cabe ao juiz decidir tudo na hora. De qualquer maneira, a rejeição ou não da denúncia ensejará o controle recursal.
7.3 - Decisão Interlocutória
A atuação do juiz na suspensão condicional do processo não é meramente homologatória. O Ministério Público pode ofertar sugestões, mas não lhe cabe impor nada. Essa é mais uma prova de que o juiz deve desempenhar uma relevante atividade dentro desse instituto.
A decisão do juiz que determina a suspensão condicional do processo não julga o mérito – não absolve e nem julga extinta a punibilidade. Não se trata, portanto, de sentença, muito menos de mero despacho. 
Só resta admitir ser uma decisão interlocutória, pois sobrestamento não é encerramento. Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: (Resp 601924/PR, 5ª Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU de 07/11/05; Resp 296343/MG, 5ª Turma, Rel. Min. Wilson Dipp, DJ de 16/09/02; Resp263544/CE, 6ª Turma, Rel. Hamilton Carvalhido, DJu de 19/12/02)
7.3.1 – Recursos Cabíveis
Complementando o que foi acima exposto, na letra do artigo 581, inciso XI, do Código de Processo Penal, cabe recurso em sentido estrito da decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena, havendo firme entendimento, não unânime, de que se cuida de enumeração exaustiva, a inibir hipótese de cabimento outra que não as expressamente preconizadas na lei.
Tal disposição, contudo, por força da impugnabilidade recursal da decisão denegatória do sursis, prevista no artigo 197 da Lei de Execuções Penais, deve ter sua compreensão dilatada, de maneira a abranger também a hipótese de suspensão condicional do processo, admitida a não revogação parcial da norma inserta no Código de Processo Penal. 
Desse modo, cabe a aplicação analógica do inciso XI do artigo 581 do Código de Processo Penal aos casos de suspensão condicional do processo, viabilizada, aliás, pela subsidiariedade que o artigo 92 da Lei nº 9.099/95 lhe atribui. A recorribilidade das decisões é essencial ao Estado de Direito, que não exclui a proteção da sociedade.
	Parte da doutrina tem o entendimento de que quando se revoga a suspensão condicional do processo o recurso cabível é o de apelação: Mirabete (2002, p. 384), Pelegrini at al (2005, p. 339/340, n. 10.2); Tourinho Filho (2007, p. 222); Folgado (2002, p.134/135).
Tourinho Neto e Figueira Júnior (2002, p. 740) entendem que, quando a proposta de suspensão é negada pelo juiz, cabe correição parcial haja vista que a decisão não põe fim ao processo e muito menos se trata das hipóteses elencadas no art. 581 do CPP e, por sua vez, Borges de Andrade (1996, p. 132) informa

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