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Processo Penal - princípios e inquérito policial

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Processo Penal 
OBSERVAÇÕES INTRODUTÓRIAS 
Para a compreensão da matéria, é extremamente importante ter em mente que o processo penal se difere, em 
diversos aspectos, do processo civil. 
→ Os princípios que regem o processo civil, bem como a estrutura científica desse ramo do direito privado, se 
diferem dos princípios e estrutura científica do processo penal. Ou seja, o processo penal tem autonomia 
principiológica e estrutural em relação ao processo civil. 
 
→ Ademais, é extremamente importante citar o caráter estigmatizante do processo penal. O simples fato de 
um cidadão responder por um processo penal já é capaz de destruir sua vida. penal) é assim caracterizado 
porque o simples fato de um cidadão responder por um processo penal já destrói a vida dele. Às vezes, o fato 
de essa pessoa vir a ser condenada, ao final, não seja tão preocupante, mas o simples fato de responder por 
um processo penal já destrói a vida daquele cidadão. 
 
 Por ser estigmatizante, o tratamento dado ao processo penal deve ser muito mais prudente, porque 
pode estar sendo investigada uma pessoa inocente que, ao ser investigada, já sofre efeitos negativos 
em virtude de estar respondendo um processo de cunho penal 
 
→ Outra diferença entre os dois ramos processuais se encontra no quesito de que o processo penal não é tido 
sob condições de igualdade, uma vez que figuram como polos adversários do processo particular e Estado. 
Tendo isso em vista e buscando suprir tal situação de desequilíbrio, devem ser criados mecanismos (que é o 
caso dos princípios) de modo a viabilizar uma proteção do cidadão particular perante o Estado. 
 
PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL 
1. PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA // PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA // NÃO CULPABILIDADE 
O princípio da não culpabilidade encontra-se previsto no art. 5º, inciso LVII da CF, que dispõe que: 
 LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. 
 Por meio desse dispositivo percebe-se que enquanto não ocorrer o trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória (quando não couber mais nenhum recurso), a pessoa será inocente. 
 
Observação – quando ocorre o trânsito em julgado? Quando não cabe mais nenhum tipo de recurso 
(esgotou-se todas as vias recursais), ou quando há uma sentença e a parte abre mão de recorrer – nesses 
casos, a decisão proferida pelo juiz não poderá mais ser modificada. 
 
- O direito de não ser declarado culpado enquanto ainda há dúvida sobre se o cidadão é culpado ou inocente foi 
acolhido por alguns instrumentos internacionais: 
→ Declaração Universal de Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia da ONU, em seu art. 11.1, dispõe: 
“Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua 
culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias 
para sua defesa”. 
 
→ Dispositivos semelhantes são encontrados na Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e 
das Liberdades Fundamentais, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e na Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos (art. 8, §2º): “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma 
sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”. 
 
- No ordenamento pátrio, até a entrada em vigor da Constituição de 1988, esse princípio somente existia de forma 
implícita, como decorrência da cláusula do devido processo legal. Com a Constituição Federal de 1988, o princípio da 
presunção de não culpabilidade passou a constar expressamente do inciso LVII do art. 5º: “Ninguém será considerado 
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. 
→ Em síntese, pode ser definido como o direito de não ser declarado culpado senão após o término do devido 
processo legal (trânsito em julgado), durante o qual o acusado tenha se utilizado de todos os meios de 
prova pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas 
apresentadas pela acusação (contraditório). 
 
Portanto, há uma diferença na redação desse dispositivo nos Tratados Internacionais e na CF/88: 
TRATADOS INTERNACIONAIS CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
“Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se 
presuma sua inocência enquanto não se comprove 
legalmente sua culpa”. 
 
“Ninguém será considerado culpado até o trânsito em 
julgado de sentença penal condenatória”. 
 
→ Em razão da previsão da CF, no Brasil, o sujeito só perde o seu estado de inocente após o término do 
processo, após o trânsito em julgado (esgotando todas as possibilidades de prova + todas possibilidades de 
exercer o contraditório), 
 
→ Já nos Tratados Internacionais, a previsão de que “se presume a inocência, enquanto não se comprove 
legalmente sua CULPA” atribui um sentido diferente a esse princípio. 
 Em regra, as questões probatórias são discutidas apenas em 1ª e 2ª instância. Passada essas 
instâncias, não se considera mais valoração de provas, mas a discussão dali em diante é apenas uma 
questão jurídica. 
 
 Tendo isso em vista, por esses instrumentos normativos, o cidadão perde seu status de inocente a 
partir do instante que não se pode mais discutir prova. 
 
 Diante disso, a diferença fica nítida: se eu falo que alguém é considerado culpado somente após o trânsito em 
julgado, só ocorre essa consideração quando se utiliza o último recurso, mas se eu falo que a pessoa só é 
considerada culpada após a prova em contrário, questão de prova se exaure na 2ª instância. 
 
Então, segundo a CF/88 a culpa é declarada quando se exaure o recurso; para a Convenção 
Interamericana de Direitos Humanos e outros instrumentos internacionais, a pessoa é considerada 
culpada até que se prove o contrário e as provas são discutidas em 1ª e 2ª instâncias, portanto, o 
cidadão perde seu status de inocente a partir do instante que não se pode mais discutir prova. 
 
Sendo assim, para a nossa Constituição, por uma opção legislativa, foi dada uma amplitude muito 
maior ao princípio do estado de inocência. 
 
Do princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) derivam duas regras fundamentais: a 
regra probatória (também conhecida como regra de juízo) e a regra de tratamento, objeto de estudo nos próximos 
tópicos. 
 
• Regra probatória: in dubio pro reo 
- In dubio pro reo é uma expressão latina que significa “na dúvida, em favor do réu”. Portanto, a regra probatória que 
decorre do princípio da não culpabilidade impõe que, na dúvida, deve ser proferida uma decisão em favor do réu. 
→ Essa regra probatória deve ser utilizada sempre que houver dúvida sobre fato relevante para a decisão do 
processo. Trata-se de uma exigência segundo a qual, para a imposição de uma sentença condenatória, é 
necessário provar, eliminando qualquer dúvida razoável, ao contrário do que é garantido pela presunção de 
inocência, impondo a necessidade de certeza 
 
→ Ou seja, o juiz, no momento em que ele vai valorar uma prova (no momento em que ele vai decidir se aquela 
pessoa é culpada ou inocente), se ele tiver dúvidas, não podendo falar com certeza se o sujeito é culpado ou 
inocente, deverá ser aplicado o in dubio pro reo. 
 na dúvida, durante a valoração das provas, a decisão tem de favorecer o imputado, pois não tem ele 
a obrigação de provar que não praticou o delito 
- Portanto, para que se possa romper com o estado de inocência (status que o sujeito mantém durante todo o 
processo), é preciso haver certeza da culpabilidade do sujeito. 
→ Não havendo certeza, mas dúvida sobre os fatos em discussão em juízo, inegavelmente é preferível a 
absolvição de um culpado à condenação de um inocente, pois, em um juízo de ponderação, o primeiro erro 
acaba sendo menos grave que o segundo. 
 
 Revisão criminal: exceção in dubio pro reo 
- Há uma exceção ao in dubio pro reo: o recurso denominado revisão criminal. 
→ A revisão criminalé um recurso a ser usado pelo réu, procurador legalmente habilitado ou cônjuge, 
ascendente descendente do réu, caso este já tenha morrido (CPP, art. 623), em caso de existência de decisão 
condenatória com trânsito em julgado quando há demonstração de que houve erro judiciário. 
 Portanto, a revisão criminal tem 2 pressupostos para poder ser proposta: 
A) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado; 
B) demonstração de que houve erro judiciário. 
 
- O in dubio pro reo só incide até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Portanto, na revisão criminal, 
que pressupõe o trânsito em julgado de sentença penal condenatória ou absoluta imprópria, não há que se falar em 
in dubio pro reo, mas sim em in dubio contra reum. 
→ O ônus da prova quanto às hipóteses que autorizam a revisão criminal (CPP, art. 621) recai única e 
exclusivamente sobre o postulante, razão pela qual, no caso de dúvida, deverá o Tribunal julgar improcedente 
o pedido revisional. 
 
→ Portanto, na revisão criminal, como o réu já havia sido condenado definitivamente antes, não irá mais incidir 
a prerrogativa do in dubio pro reo. Em caso de dúvida, a condenação deve ser mantida. 
 
• Regra de tratamento 
A regra de tratamento que deriva do princípio da não culpabilidade impõe que enquanto não houver o trânsito em 
julgado, o sujeito deve ser tratado como inocente. 
→ Portanto, por força da regra de tratamento oriunda do princípio constitucional da não culpabilidade, o Poder 
Público está impedido de agir e de se comportar em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao 
acusado, como se estes já houvessem sido condenados, definitivamente, enquanto não houver o fim do 
processo criminal. 
 
→ O estado de inocência perde completamente o seu conteúdo quando a pessoa não é tratada seguindo, 
efetivamente, a presunção de que é inocente. São manifestações claras dessa regra de tratamento a vedação 
de prisões processuais automáticas ou obrigatórias, e a impossibilidade de execução provisória ou antecipada 
da sanção penal. 
 
 Essa regra de tratamento vai ter 3 desdobramentos importantes: 
 
PRISÃO APÓS DECISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA 
Como se sabe, muito já se discutiu – e ainda se discute – acerca da necessidade de se aguardar (ou não) o 
trânsito em julgado da sentença penal condenatória para o início da execução da pena 
 Entre fevereiro de 2016 e novembro de 2019, prevaleceu, no Supremo Tribunal Federal, por força do 
HC 126.292, o entendimento de que não havia necessidade de se aguardar o trânsito em julgado, 
justificando-se, assim, a denominada execução provisória da pena. Recentemente, porém, por 
ocasião do julgamento definitivo das Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43/DF, 44/DF e 
54/DF, houve uma mudança de orientação daquela Corte. 
- É necessário ressaltar que a execução provisória da pena (prisão após decisão em segunda instância) encontra-se 
em desacordo com a Constituição Federal que assegura a presunção de inocência (ou de não culpabilidade) até o 
trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 5º, LVII), e com o art. 283 do CPP que só admite, no curso da 
investigação ou do processo, a decretação da prisão cautelar por ordem estrita e fundamentada da autoridade 
judiciária competente: 
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da 
autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação 
criminal transitada em julgado. 
Art. 5º LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 
 
→ Portanto, diante desses dispositivos, o ordenamento jurídico é claro: o indivíduo só pode ser privado da sua 
liberdade após o trânsito em julgado ou, no curso do processo, mediante decretação da prisão cautelar por 
ordem estrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. 
 Não há, portanto, margem exegética para que o art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, seja 
interpretado no sentido de se admitir a antecipação ficta do momento formativo da coisa julgada 
penal de modo a concluirmos que o acusado é presumido inocente (ou não culpável) tão somente até 
o esgotamento da 2ª instância. 
 
 Ademais, o art. 283 do CPP, mesmo após a alteração promovida pelo Pacote Anticrime, é categórico 
ao estabelecer as hipóteses em que pode haver restrição à liberdade de locomoção no processo 
penal: 
 
a) prisão em flagrante e prisão cautelar (leia-se, temporária e preventiva): são as únicas espécies de 
prisão cautelar passíveis de decretação no curso da investigação ou do processo; 
 
b) prisão penal (carcer ad poenam): a prisão penal só pode ser objeto de execução com o trânsito em 
julgado de sentença condenatória. 
 
- Durante um tempo, foi defendido a prisão em 2ª instância pois o art. 637 do CPP autoriza a execução provisória de 
acórdão condenatório pelo fato de os recursos extraordinários não serem dotados de efeito suspensivo. Contudo, 
este dispositivo foi tacitamente revogado pela Lei nº 12.403/11, que conferiu nova redação ao art. 283 do CPP. 
 A questão da inconstitucionalidade da prisão em 2ª instância foi definida, por sua vez pelas Ações 
Declaratórias de Constitucionalidade de nº 43, nº44 e nº54. Assim, assentou a constitucionalidade do art. 283 
do CPP, que condiciona o início do cumprimento da pena ao trânsito em julgado do título condenatório. 
 
PRISÕES CAUTELARES 
OBSERVAÇÃO: O princípio da presunção de inocência não proíbe, todavia, a prisão cautelar (pessoa responde o 
processo presa) ditada por razões excepcionais e tendente a garantir a efetividade do processo, cujo permissivo 
decorre inclusive da própria Constituição (art. 5º, LXI), sendo possível se conciliar os dois dispositivos constitucionais 
desde que a medida cautelar não perca seu caráter excepcional, sua qualidade instrumental, e se mostre necessária 
à luz do caso concreto. 
→ Portanto, é possível que um indivíduo responda ao processo preso sem violar o princípio da presunção de 
inocência, uma vez que esse sujeito não está preso cumprindo uma pena, mas está preso enquanto responde 
a um processo, pois representa algum perigo para esse processo. 
 Então pode acontecer de o cidadão responder ao processo preso, mas nessa situação ele não está 
preso cumprindo pena, ele está preso cautelarmente e os motivos que permitem alguém ficar preso 
cautelarmente são expressos no artigo 312 do CPP. 
 
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem 
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando 
houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de 
liberdade do imputado. 
§1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das 
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, §4º). 
§2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo 
e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida 
adotada. 
 
OBS: nesses casos, o cidadão, apesar de representar uma ameaça ao processo, continua a manter seu 
estado de presunção de inocência, pois a sentença não transitou em julgado. 
 
→ Contudo, por força do dever de tratamento, qualquer que seja a modalidade de prisão cautelar, não se pode 
admitir que a medida seja usada como meio de inconstitucional antecipação executória da própria sanção 
penal, pois tal instrumento de tutela cautelar penal somente se legitima se se comprovar, com apoio em base 
empírica idônea, a real necessidade da adoção, pelo Estado, dessa extraordinária medida de constrição da 
liberdade do indiciado ou do acusado. 
 
➔ Então, para essas prisões preventivas não serem inconstitucionais, para não violarem o estadode 
inocência, elas devem ser feitas em casos excepcionais (porque aqui está sendo preso um inocente e 
prender um inocente sempre tem que ser a exceção e, nunca, a regra) e mediante requisitos 
extremamente específicos. 
 
ANTECEDENTES 
- Ademais, há outra questão acerca da regra de tratamento que decorre do princípio da presunção de não 
culpabilidade: 
→ Já é de conhecimento que a pena é fixada de acordo com o método trifásico: sendo a primeira fase as 
circunstâncias judiciais; a segunda as agravantes e atenuantes e; a terceira fase relativa às majorantes e 
minorantes. 
 
→ Quando se estuda a primeira fase é conhecido que uma das circunstâncias judiciais são os antecedentes e, a 
partir disso, têm-se que inquéritos//ações penais em andamento não podem ser usados para configuração 
de maus antecedentes, em virtude da presunção de inocência. 
 
✓ Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do 
agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da 
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime 
 
→ Nesse sentido, havendo várias ações penais em curso, ou vários inquéritos em curso contra um agente, 
não se pode dizer que esse sujeito tem maus antecedentes em razão do princípio da presunção da não 
culpabilidade. 
 
 Súmula 444 - É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a 
pena-base. 
 
 
 STF RE 591.054: Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais 
em curso são neutros na definição dos antecedentes criminais. 
 
 
ESQUEMA – Princípio da não culpabilidade 
 
1. Regra Probatória: In dubio pro reo. 
➔ Exceção: Revisão criminal. 
 
2. Regra de tratamento: 3 desdobramentos 
a) Prisão após decisão em segunda instância; 
b) Prisões cautelares 
c) Antecedentes 
 
 
 
 
 
 
 
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27444%27).sub.#TIT1TEMA0
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27444%27).sub.#TIT1TEMA0
2. PRINCÍPIO DA Publicidade 
A garantia do acesso de todo e qualquer cidadão aos atos praticados no curso do processo revela uma clara postura 
democrática, e tem como objetivo precípuo assegurar a transparência da atividade jurisdicional, oportunizando sua 
fiscalização não só pelas partes, como por toda a comunidade. 
→ Traduz-se, portanto, numa exigência política que visa, portanto: 
1. afastar a desconfiança da população na administração da Justiça; 
2. Controlar o poder judiciário (na medida que o a sociedade possa fazer um controle daquelas decisões, 
constituindo um freio para eventuais ilicitudes); 
3. Preservar a transparência. 
 
PREVISÃO LEGAL: 
CF, art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da 
Magistratura, observados os seguintes princípios: 
IX – Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, 
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, 
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique 
o interesse público à informação. 
art. 5º, XXXIII, CF: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou 
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas 
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 
art. 5º, LX, CF: a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o 
interesse social o exigirem. 
art. 792, caput, do CPP: as audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas 
sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, 
em dia e hora certos, ou previamente designados. 
art. 792, § 1º, do CPP: se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, 
inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou 
a requerimento da parte ou do Ministério Público determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o 
número de pessoas que possam estar presentes. 
Divisão da publicidade: ampla e restrita 
A publicidade é dividida em publicidade ampla e restrita. 
1. Ampla: a publicidade é tida como ampla, quando os atos processuais são praticados perante as partes e, ainda, 
abertos a todo o público. Ou seja, é ampla quando qualquer pessoa pode ter acesso àquele julgamento ou 
processo. 
 
 Nesse caso, além das partes, qualquer cidadão do povo poderá acompanhar as audiências criminais de 
coleta de provas e/ou julgamentos em qualquer grau de jurisdição, assim como consultar os processos ou 
obter certidões. 
 
 a publicidade externa tem inúmeras justificativas: possibilita o controle social da atividade jurisdicional, 
incrementa a confiança na Justiça no instante em que são conhecidos os motivos da decisão, evita a 
prática de arbitrariedades, é um freio e uma garantia contra a tirania judicial, otimiza o direito à 
informação, etc. 
 Como se percebe pela própria dicção da Constituição Federal e do Código de Processo Penal, a regra é a 
publicidade ampla no processo penal, estando ressalvadas as hipóteses em que se justifica a restrição da 
publicidade. Ou seja, apesar de a regra ser a publicidade ampla, deve-se compreender que, como toda e 
qualquer garantia, esta não tem caráter absoluto, podendo ser objeto de restrição em algumas situações. 
 
2. Restrita: a publicidade restrita ou interna se caracteriza quando houver alguma limitação à publicidade dos atos 
do processo. Nesse caso, alguns atos ou todos eles serão realizados somente perante as partes e seus respectivos 
procuradores. 
 
 São hipóteses que se justifica a restrição da publicidade: defesa da intimidade, interesse social no sigilo 
e imprescindibilidade à segurança da sociedade e do Estado (CF, art. 5º, incisos XXXIII e LX, c/c art. 93, IX); 
escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem (CPP, art. 792, § 1º). 
 
É o que acontece, v.g., com processos criminais relativos a crimes contra a dignidade sexual, nos quais a 
publicidade ampla poderia aumentar sobremaneira o sofrimento da vítima, causando-lhe desnecessária 
exposição e humilhação; com processos em que há a necessidade da decretação de uma interceptação 
telefônica, ou da quebra dos sigilos bancários1. 
 
Inquérito Policial x Processo Penal 
 
 A persecução penal é dividida em, basicamente, duas partes. Eu posso ter um inquérito policial, que serve para 
averiguar prova de autoridade e autoria, então o delegado vai investigar e, depois do inquérito policial se tem o 
processo, que tramita perante o poder judiciário, onde vai ser avaliado se o cidadão vai ser condenado ou não. O 
inquérito se resume a uma investigação para ver se temos materialidade e indícios de autoria para que possa ser 
iniciado o processo, onde se tem toda a instrução para, no final, termos uma condenação. 
➔ Ao contrário do que ocorre no processo penal, a regra do inquérito é que ele seja sigiloso. Existe, 
portanto, uma regra geral no sentido de que o inquérito policial é sigiloso, mas quando aqui se diz o 
termo “sigiloso”, no sentido de que só as partes envolvidas podem ter acesso (isso significa dizer que só 
o advogado, juiz, promotor e o investigado podem ter acesso). Se você não estiver sendo investigado, 
você não pode ter acesso ao inquérito, então, no inquérito policial, essa publicidade é uma publicidade 
restrita, porque ele é sigiloso. 
 
➔ Em contrapartida, a regra do processo penal é que ele é público, ou seja, a regrano processo penal é 
que ele tenha uma publicidade ampla, o que quer dizer que qualquer pessoa, seja ela parte ou não, pode 
ter acesso ao processo. 
 
 Então o inquérito é sigiloso, só as partes têm acesso (publicidade restrita), enquanto o processo é público 
(uma publicidade ampla, de modo que todas as pessoas, via de regra, podem ter acesso ao processo penal). 
OBS: O segredo de justiça serve para resguardar a privacidade das partes – a Constituição garante o direito à 
privacidade, então é preciso um balanceamento entre a privacidade das partes e a publicidade. A regra é que o 
processo seja público, mas quando se tem, ali, algum dado sigiloso que possa invadir a esfera da privacidade das 
partes, o acesso ao processo acaba se restringindo às partes. 
ESQUEMA: Princípio da publicidade 
1. Ampla 
2. Restrita 
 
Inquérito Policial x Processo Penal 
 
3. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL 
O princípio do juiz natural deve ser compreendido como o direito que cada cidadão tem de saber, previamente, a 
autoridade que irá processar e julgá-lo caso venha a praticar uma conduta definida como infração penal pelo 
ordenamento jurídico. 
→ Juiz natural, ou juiz legal, dentre outras denominações, é aquele constituído antes do fato delituoso a ser 
julgado, mediante regras taxativas de competência estabelecidas pela lei. Visa assegurar que as partes sejam 
julgadas por um juiz imparcial e independente. 
 
- Esse princípio possui 2 desdobramentos: 
1. PROIBIÇÃO DE TRIBUNAL DE EXCEÇÃO 
Apesar do princípio do juiz natural não constar da Constituição Federal expressamente com essas palavras, não há 
como negar origens na própria Carta Magna. O inciso XXXVII do art. 5º da Magna Carta preceitua: 
Art. 5º, XXXVII, CF - não haverá juízo ou tribunal de exceção. 
→ Juízo ou tribunal de exceção é aquele juízo instituído após a prática do delito com o objetivo específico de 
julgá-lo. Contrapõe-se, portanto, o juiz de exceção ao juiz natural, que pertence ao Judiciário e está revestido 
de garantias que lhe permitem exercer seu mister com objetividade, imparcialidade e independência. 
 
- A Constituição proíbe a criação de um juízo ou de um tribunal para poder julgar aquele caso especificamente. Na 
verdade, o juiz natural tem uma razão de ser que é zelar pela imparcialidade do juiz: esse juízo ou tribunal tem que já 
existir previamente, não é permitido o estabelecimento de um juízo ou de um tribunal especificamente para julgar 
determinado caso. 
OBS: Na nossa história moderna nós temos um tribunal de exceção que ficou famoso, inclusive há grande crítica a ele: 
o Tribunal de Nuremberg (julgou nazistas – 2ª guerra). 
OBS 2: Da vedação aos juízos ou tribunais de exceção não se pode concluir que exista qualquer impedimento à 
criação de justiças especializadas ou de varas especializadas (ex. de violência doméstica ou de família). Em relação a 
tais justiças, não se dá a criação de órgãos para julgar, de maneira excepcional, determinadas pessoas ou matérias. 
Ocorre, sim, simples atribuição a órgãos jurisdicionais inseridos na estrutura judiciária fixada na Constituição de 
competência para o julgamento de matérias específicas, com o objetivo de melhor atuar a norma substancial. 
 
2. JUIZ COMPETENTE 
Art. 5º, LIII, CF - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. 
- Esse desdobramento se refere ao impedimento à subtração da causa do tribunal competente. 
→ Autoridade competente, é aquela que possui competência atribuída constitucionalmente. Ou seja, a CF 
distribui a competência no processo penal. 
 
→ Quando o princípio do juiz natural nos diz que ninguém será processado e nem julgado, senão pelo juiz 
competente, quer dizer que ninguém será processado e/ou julgado senão pelo juiz que tenha competência 
constitucional (que a Constituição dê a ele poderes para julgar aquele caso). Então sempre que há uma pessoa 
sendo julgada pelo juiz não competente, haverá uma violação ao princípio do juiz natural, constituindo uma 
nulidade que não está sujeita a ser sanada ou convalidada e que pode ser arguida a qualquer momento. 
 
4. Direito a não autoincriminação // nemo tenetur se detegere 
 
 O direito a não autoincriminação impõe que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. 
 
De acordo com o art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, “o preso será informado de seus direitos, entre os quais 
o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. 
 
→ O direito ao silêncio, previsto na Carta Magna como direito de permanecer calado, apresenta-se apenas como 
uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a produzir 
prova contra si mesmo. 
 
OBS: o princípio a não autoincriminação não é uma consequência do direito ao silêncio, mas ao contrário, o 
direito à não autoincriminação é muito mais amplo, e uma das suas decorrências é o direito ao silêncio. Então, 
o direito ao silêncio é um desdobramento à não autoincriminação. Porém, a CF previu, de maneira expressa, 
apenas o direito ao silêncio – o que não quer dizer que não exista o direito a não autoincriminação. 
 
→ Além da Constituição Federal, o princípio do nemo tenetur se detegere também se encontra previsto na 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8º, § 2º, “g”). 
 
Artigo 8º - Garantias judiciais 
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for 
legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às 
seguintes garantias mínimas: 
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada. 
 
 
 - O princípio do direito a não auto incriminação trata-se de uma modalidade de autodefesa passiva, que é exercida 
por meio da a inatividade do indivíduo sobre quem recai ou pode recair uma imputação. 
→ Consiste, grosso modo, na proibição de uso de qualquer medida de coerção ou intimidação ao investigado 
(ou acusado) em processo de caráter sancionatório para obtenção de uma confissão ou para que colabore em 
atos que possam ocasionar sua condenação. 
 
 
• Titular do direito de não produzir prova contra si mesmo 
A forma como o direito de não se incriminar foi escrito e inserido em nosso texto constitucional e nos Tratados 
Internacionais acima referidos padece de deficiência, porque, em um primeiro momento, dá impressão de que 
teve como destinatário apenas a pessoa que se encontra na condição processual de preso, ou que figura como 
acusado da prática de determinado delito. 
Artigo 8º - Garantias judiciais 
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for 
legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às 
seguintes garantias mínimas: 
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada. 
 
Art. 5º, LXIII, CF - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, 
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado. 
 
→ Contudo, o dispositivo constitucional em destaque se presta para proteger não apenas quem está preso, como 
também aquele que está solto, assim como qualquer pessoa a quem seja imputada a prática de um ilícito 
criminal (imputado). 
 Pouco importa se o cidadão é suspeito, investigado, denunciado, acusado ou condenado, e se está 
preso ou em liberdade. Ele não pode ser obrigado a confessar o crime. 
 
→ Portanto, o titular do direito à não autoincriminação não é só aquele que está preso, mas sim toda pessoa 
que está diante de um ato que lhe possa prejudicar. 
 
OBS: É irrelevante, igualmente, que se trate de inquérito policial ou administrativo, processo criminal ou cível ou de 
Comissão Parlamentar de Inquérito. Se houver possibilidade de autoincriminação, a pessoa pode fazer uso do 
princípio do nemo tenetur se detegere. 
 
 
Importante– TESTEMUNHA: não é válido, arrolar alguém como testemunha e querer, em razão do dever de dizer a 
verdade aplicável à hipótese, forçá-la a responder sobre uma pergunta que importe, mesmo que indiretamente, em 
sua auto incriminação. 
→ De certo que a testemunha, diferentemente do acusado, tem o dever de falar a verdade, sob pena de 
responder pelo crime de falso testemunho (CP, art. 342), porém não está obrigada a responder sobre fato 
que possa, em tese, incriminá-la. 
 
→ Daí ter decidido o Supremo que não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo como 
testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam incriminá-la: 
 HC 73035: “Não configura crime de falso testemunho quando a pessoa, depondo como testemunha, 
ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam incriminá-la. 
 
Portanto, embora a testemunha não tenha direito ao silêncio, se ela está diante de uma questão que possa 
lhe incriminar, ela não é obrigada a falar a verdade pelo princípio da não autoincriminação. 
 
• Advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo 
 
- Diante do teor expresso do art. 5º, LXIII, da CF, segundo o qual o preso será informado de seus direitos, dentre os 
quais o de permanecer calado, não é válida a tese de que não é necessária a advertência quanto ao direito ao silêncio 
sob o argumento de que ninguém pode alegar o desconhecimento da lei. 
→ Com o objetivo de se evitar uma autoincriminação involuntária por força do desconhecimento da lei, deve, 
sim, haver prévia e formal advertência quanto ao direito ao silêncio, sob pena de se macular de ilicitude a 
prova então obtida. O acusado deve ser advertido, ademais, que o direito ao silêncio é uma garantia 
constitucional, de cujo exercício não lhe poderão advir consequências prejudiciais. 
 
 a omissão do dever de informação ao preso dos seus direitos, no momento adequado, gera efetivamente 
a nulidade e impõe a desconsideração de todas as informações incriminatórias dele anteriormente 
obtidas, assim como das provas delas derivadas 
 
- Impõe-se, pois, que qualquer pessoa em relação à qual recaiam suspeitas da prática de um ilícito penal seja 
formalmente advertida de seu direito ao silêncio, sob pena de ilicitude das declarações por ela firmadas. 
 Então não basta ter o direito ao silêncio, de modo que quando o cidadão vai depor (como investigado ou réu), o 
Estado deve informar à ele que ele tem esse direito (Aviso de Miranda / Lei de Miranda). 
 
 
OBSERVAÇÃO: 
 
Trata-se, o art. 5º, inciso LXIII, de mandamento constitucional semelhante ao famoso aviso de Miranda do direito 
norte-americano, em que o policial, no momento da prisão, tem de ler para o preso os seus direitos, sob pena de 
não ter validade o que por ele for dito. 
 
→ Os Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no famoso julgamento Miranda V. Arizona, verificado 
em 1966, em que a Suprema Corte americana, por cinco votos contra quatro, firmou o entendimento de 
que nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes 
ela tenha sido claramente informada de: 
 
1) que tem o direito de não responder; 
2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 
3) que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado. 
 
 
OBS: Tendo em vista que se considera ilícita a prova colhida mediante violação a normas constitucionais, notadamente 
aquelas que tutelam direitos fundamentais (CF, art. 5º, LVI, c/c art. 157, caput, do CPP), e como decorrência da 
necessidade de advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo, não se pode considerar lícita, 
portanto, gravação clandestina de conversa informal de policiais com o preso, em modalidade de “interrogatório” 
sub-reptício, quando, além de o capturado não dar seu assentimento à gravação ambiental, não for advertido do seu 
direito ao silêncio. 
 
 
Importante – imprensa: não raramente a conversa informal entre indiciados presos e repórteres, antes ou depois do 
interrogatório, é gravada sem o conhecimento daqueles, e, de igual modo, utilizada, judicialmente, em prejuízo da 
defesa. Em regra, a ausência de advertência quanto ao direito ao silêncio, macularia eventuais declarações por ele 
fornecidas que lhe sejam prejudiciais, em razão da violação ao princípio que assegura o direito ao silêncio. 
 Contudo, em relação à imprensa, não foi essa a orientação do STF. 
 
 Em habeas corpus apreciado pela 2ª Turma, em que se alegava a ilicitude da prova juntada aos autos, 
consistente em entrevista concedida a jornal, na qual o acusado narrara o modus operandi de 2 
homicídios a ele imputados, sem ter sido previamente advertido de seu direito ao silêncio, consignou-
se que o dever de advertir os presos e os acusados em geral de seu direito de permanecerem calados 
consubstanciar-se-ia em uma garantia processual penal que teria como destinatário precípuo o Poder 
Público. Concluiu-se, portanto, não haver qualquer nulidade na juntada da prova, entrevista concedida 
espontaneamente a veículo de imprensa 
 
 Portanto, o Aviso de Miranda se trata de uma obrigação destinada ao Estado – sempre que um 
agente estatal interrogar alguém, tem a obrigação de fazer a advertência -, não se aplicando ao 
particular (ex. repórter). 
 
 
 
 
 
 
• Desdobramentos do direito de não produzir prova contra si mesmo 
Em síntese, pode-se dizer que o direito de não produzir prova contra si mesmo, que tem lugar na fase investigatória 
e no curso da instrução processual, abrange: 
 
1. o direito ao silêncio ou direito de ficar calado: corresponde ao direito de não responder às perguntas formuladas 
pela autoridade, funcionando como espécie de manifestação passiva da defesa. Aqui, o cidadão opta pelo 
silêncio. 
 
→ O exercício do direito ao silêncio não é sinônimo de confissão ficta ou de falta de defesa; cuida-se de direito 
do acusado (CF, art. 5º, LXIII), no exercício da autodefesa, podendo ser usado como estratégia defensiva; 
OBS: Há uma tendência equivocada de se querer equiparar o princípio do nemo tenetur se detegere ao direito 
ao silêncio. Na verdade, é inadequado acreditar que o direito de permanecer calado somente confere à pessoa 
a garantia de que ela não pode ser obrigada a falar. 
 
 O que o constituinte diz, quando ele assegura o direito de permanecer calado, é que a pessoa não pode 
ser obrigada a se incriminar ou, em outras palavras, que ela não pode ser obrigada a produzir prova 
contra si. Portanto, deve se compreender que o direito ao silêncio funciona apenas como uma das 
decorrências do princípio do nemo tenetur se detegere, do qual se extraem outros desdobramentos 
igualmente importantes. 
 
→ É importante ressaltar também que, no Brasil, o direito ao silêncio é amplo: engloba o direito de ficar calado, 
bem como o direito de negar a verdade quando essa lhe desfavorece. 
 
→ Além disso, o direito ao silêncio engloba, também, o silêncio parcial: o investigado ou o réu podem escolher 
as perguntas que querem responder (ou de quem querem responder). 
 
OBS: quando o cidadão opta pelo silêncio, a autoridade policial ou judiciária deve encerrar o depoimento. 
 a nova figura delituosa introduzida pela nova Lei de Abuso de Autoridade, cujo art. 15, parágrafo único, 
inciso I, criminaliza a conduta do agente público que prossegue com o interrogatório de pessoa que 
tenha decidido exercer o direito ao silêncio. 
 
 De maneira contundente, o novo tipo penal esclarece que, uma vez feita a opção livre e voluntária pelo 
direito ao silêncio, seja em relação ao todo, seja de maneira seletiva (a exemplo do que ocorre quando 
responde apenas às perguntas formuladas por seu defensor), impõe-se a imediata interrupção do ato, 
sem a formulação de mais nenhum questionamento. 
 
 Toda e qualquer tentativa de dar continuidade ao ato poderá, doravante, tipificar a figura delituosa 
em análise, desde que,logicamente, presente o elemento subjetivo especial do art. 1º, §1º, da Lei n. 
13.869/19 (“Finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, 
ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal”). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: por força do direito de não 
produzir prova contra si mesmo, não se pode exigir um comportamento ativo do acusado que possa resultar a 
autoincriminação. A pessoa não é obrigada a praticar qualquer ato que, a juízo dela, possa a prejudicar ou 
incriminar. 
 
→ Assim, sempre que a produção de prova tiver como pressuposto uma ação por parte do acusado, será 
indispensável seu consentimento. 
Importante: Cuidando-se do exercício de um direito, tem predominado o entendimento de que não se admitem 
medidas coercitivas contra o acusado para obrigá-lo a cooperar na produção de provas que dele demandem um 
comportamento ativo. Além disso, a recusa do acusado em se submeter a tais provas não configura o crime de 
desobediência nem o de desacato, e dela não pode ser extraída nenhuma presunção de culpabilidade, pelo menos 
no processo penal 
 
OBS: São incompatíveis, assim, com a Constituição Federal e com a Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos quaisquer dispositivos legais que possam, direta ou indiretamente, forçar o suspeito, indiciado, 
acusado, ou até mesmo a testemunha, a produzir prova contra si mesmo. 
 
Exemplos: 
a) o acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de verificação 
de interlocutor; 
 
b) o acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico: no exame para o reconhecimento 
de escritos, por comparação de letra, pode ser necessário que a pessoa a quem se atribui o escrito forneça 
material de seu punho subscritor para que sirva de parâmetro para a comparação. Nesse caso, como a 
realização do exame demanda um comportamento ativo do acusado, a tanto não se pode compeli-lo; 
 
c) configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa destes em 
participarem de reconstituição do crime; 
 
d) Bafômetro: Para fins de comprovação de embriaguez ao volante, foi criado o bafômetro. Mas será que o 
condutor do veículo está obrigado a soprar o bafômetro ou se sujeitar ao exame de sangue? Não estaria ele, 
assim o fazendo, produzindo prova contra si mesmo? A respeito do assunto, é dominante o entendimento de 
que a recusa do condutor em submeter-se ao bafômetro ou a um exame de sangue não configura crime de 
desobediência nem pode ser interpretada em seu desfavor, pelo menos no âmbito criminal. 
 
 Nessa linha, há precedentes no sentido de que não se pode presumir a embriaguez de quem não se 
submete a exame de dosagem alcoólica: afinal, a Constituição da República impede que se extraia 
qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal, 
exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo (princípio do nemo tenetur se detegere). 
 
e) Se deseja fazer um teste de DNA e, para isso, uma pessoa precisa fornecer a sua saliva, se essa pessoa se 
recusar a fornecer essa saliva, ela não é obrigada a praticar aquele ato que possa lhe desfavorecer. Ninguém 
é obrigado a praticar qualquer ato que possa lhe desfavorecer. A pessoa não é obrigada a realizar o DNA ou 
fornecer seu material genético. 
 
 
3. Direito de recusar condutas invasivas: 
- Nesse ponto é importante compreender o que se entende por intervenções corporais, assim como o conceito de 
provas invasivas e não invasivas. 
1. Intervenções corporais: são medidas de investigação que se realizam sobre o corpo das pessoas, com a 
finalidade de descobrir circunstâncias fáticas que seja importantes para o processo. Ex.: exame de sangue, 
ginecológico, identificação dentária, endoscopia, exame do reto, entre outras tantas perícias como o exame de 
matérias fecais, de urina, de saliva, exames de DNA usando fios de cabelo, etc. 
As intervenções corporais podem ser de 2 espécies: 
1) Provas invasivas: são as intervenções corporais que pressupõem penetração no organismo humano, por 
instrumentos ou substâncias, em cavidades naturais ou não, implicando na utilização (ou extração) de alguma 
parte dele ou na invasão física do corpo humano, tais como os exames de sangue, o exame ginecológico, a 
identificação dentária, a endoscopia (usada para localização de droga no corpo humano) e o exame do reto; 
 
2) Provas não invasivas: consistem numa inspeção ou verificação corporal. São aquelas em que não há penetração 
no corpo humano, nem implicam a extração de parte dele, como as perícias de exames de materiais fecais, os 
exames de DNA realizados a partir de fios de cabelo encontrados no chão, etc. 
 
Portanto, por exemplo, as células bucais encontradas na saliva podem ser utilizadas para a realização de um exame 
de DNA. A forma de sua coleta é que vai determinar se é prova invasiva ou não invasiva. 
 Caso as células sejam colhidas na cavidade bucal, haverá intervenção corporal invasiva. Agora, a saliva 
também pode ser colhida sem qualquer intervenção corporal, possibilitando a realização do exame de 
DNA a partir de material encontrado no lixo, como chicletes, pontas de cigarro, latas de cerveja e 
refrigerantes, que contêm resquícios da saliva que podem ser examinados. 
 
- Ou seja, em se tratando de prova não invasiva (inspeções ou verificações corporais), mesmo que o agente não 
concorde com a produção da prova, esta poderá ser realizada normalmente, desde que não implique colaboração 
ativa por parte do acusado. 
→ Além disso, caso as células corporais necessárias para realizar um exame pericial sejam encontradas no 
próprio lugar dos fatos (mostras de sangue, cabelos, pelos, etc.), no corpo ou vestes da vítima ou em outros 
objetos, poderão ser recolhidas normalmente, utilizando os meios normais de investigação preliminar (busca 
e/ou apreensão domiciliar ou pessoal). 
 
→ Em outras palavras, quando se trata de material descartado pela pessoa investigada, é impertinente invocar 
o princípio do nemo tenetur se detegere. Nesse caso, é plenamente possível apreender o material descartado, 
seja orgânico (produzido pelo próprio corpo, como saliva, suor, fios de cabelo), seja ele inorgânico 
(decorrentes do contato de objetos com o corpo, tais como copos ou garrafas sujas de saliva, etc.) 
 
Exemplificando: se não é possível retirar à força um fio de cabelo de um suspeito para realizar um exame de 
DNA, nada impede que um fio de cabelo desse indivíduo seja apreendido em um salão de beleza. 
 
Situação semelhante ocorreu em caso envolvendo a descoberta do episódio em que uma criança recém-nascida foi retirada do 
berçário da maternidade por uma mulher que passou a assumir perante todos ser a verdadeira mãe. Como a suposta mãe não 
aceitou submeter-se à coleta de material genético, esperou-se uma oportunidade para arrecadar uma ponta de cigarro 
descartada pela “filha”, contendo partículas das glândulas salivares, o que permitiu, após a análise do DNA, ter-se a certeza de 
que ela, de fato, não era filha da investigada. Como a prova foi produzida de maneira involuntária pela suposta filha, a prova 
então obtida foi considerada lícita 
 
 
- Por outro lado, cuidando-se de provas invasivas, por conta do princípio do nemo tenetur se detegere, a 
jurisprudência tem considerado que o suspeito, indiciado, preso ou acusado, não é obrigado a se autoincriminar, 
podendo validamente recusar-se a colaborar com a produção da prova, não podendo sofrer qualquer gravame em 
virtude dessa recusa. Em diversos julgados, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que o acusado 
não está obrigado a se sujeitar a exame de DNA, mesmo no âmbito cível. 
 
OBS: Havendo o consentimento do sujeito passivo da medida, após prévia advertência do direito de não produzir 
prova contrasi mesmo, a intervenção corporal poderá ser realizada normalmente, seja a prova invasiva ou não 
invasiva. 
 A Carta Magna não estabeleceu a reserva de jurisdição para a determinação das intervenções 
corporais. Logo, não há necessidade de prévia autorização judicial para a realização dessas medidas, 
as quais podem ser determinadas inclusive pela autoridade policial. 
 
 Porém, mesmo com a anuência do cidadão, não se admite que o Estado submeta alguém a 
intervenções corporais que ofendam a dignidade da pessoa humana ou que coloquem em risco sua 
integridade física ou psíquica além do que é razoavelmente tolerável. A propósito, dispõe o art. 15 do 
Código Civil que ‘ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento 
médico ou a intervenção cirúrgica’. Exemplo de procedimento mais complexo que pode causar risco à 
saúde, o que é denominado pela doutrina alemã de ingerência corporal, é a radiografia em mulheres 
grávidas. 
 
OBSERVAÇÃO: consequências penais e cíveis da não obrigação de produzir prova contra si mesmo 
 
- Se o direito de não produzir prova contra si mesmo tem aplicação no âmbito extrapenal e no âmbito penal, daí 
não se pode concluir que a recusa em se submeter às provas invasivas seja tratada de modo semelhante no 
processo civil e no processo penal: 
 
→ De fato, há de se ficar atento à diferença do tratamento dispensado às consequências da recusa do agente 
em produzir prova contra si mesmo, porquanto, no que toca exclusivamente ao processo penal, vigora o 
princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII). 
 
- No âmbito cível: não vigora o princípio da presunção de inocência. Em razão disso, a controvérsia será resolvida 
com base na regra do ônus da prova, sendo que a recusa do réu em se submeter ao exame pode ser interpretada 
em seu prejuízo, no contexto do conjunto probatório. Nesse sentido, dispõe o art. 232 do Código Civil: A recusa à 
perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame. 
 
 Por sua vez, a súmula nº 301 do STJ destaca que em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-
se ao exame de DNA induz presunção iuris tantum de paternidade. Logo, apesar de o agente também não 
ser obrigado a se submeter à prova invasiva no âmbito cível, de sua recusa poderão ser extraídas 
consequências que lhe sejam desfavoráveis, tais como a presunção relativa de paternidade, em casos em 
que existam outras provas. 
 
- De modo diverso, no processo penal, firmada a relevância do princípio da presunção de inocência, com a regra 
probatória que dele deriva, segundo a qual o ônus da prova recai exclusivamente sobre a parte acusadora, não se 
admite eventual inversão do ônus da prova em virtude de recusa do acusado em se submeter a uma prova invasiva. 
 
 Assim, supondo um crime sexual em que vestígios de esperma tenham sido encontrados na vagina da 
vítima, da recusa do acusado em se submeter a um exame de DNA não se pode presumir sua culpabilidade, 
sob pena de violação aos princípios do nemo tenetur se detegere e da presunção de inocência. 
 
 
• O direito de não produzir provas contra si mesmo e a prática de outros delitos. 
- Não se pode negar a importância do direito a não autoincriminação. Contudo, em virtude do princípio da convivência 
das liberdades (pelo qual não se permite que qualquer das liberdades seja exercida de modo danoso à ordem pública 
e às liberdades alheias), esse direito não pode ser entendido em sentido absoluto: 
→ Discute-se, assim, se seria possível reconhecer a incidência do nemo tenetur se detegere quando um segundo 
delito fosse praticado para encobrir o primeiro. 
➔ É o que ocorre, por exemplo, quando o agente, após praticar determinado delito, inova 
artificiosamente o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito 
com o objetivo de produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado (CP, art. 347, parágrafo 
único). 
 
FRAUDE PROCESSUAL 
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, 
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. 
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, 
as penas aplicam-se em dobro. 
 
- Nesse caso, é possível que o agente responda pelos dois delitos em concurso material? Ou será que o segundo delito 
– fraude processual – está amparado pela excludente da ilicitude do exercício regular de direito (direito de não 
produzir prova contra si mesmo)? 
→ Caso haja a prática de nova infração penal, de maneira autônoma e dissociada de qualquer exigência de 
colaboração por parte de autoridade, com o objetivo de encobrir delito anteriormente praticado, não há falar 
em incidência do nemo tenetur se detegere. 
 
 Desse princípio não decorre anão punibilidade de crimes conexos praticados para encobrir a prática de 
outros. Não fosse assim, um crime de homicídio praticado contra a testemunha que presenciou o crime 
antecedente poderia ser considerado como exercício regular de direito. 
 
 Portanto, em tais situações, como não há risco concreto de autoincriminação, mas mero temor genérico 
de revelação de crime anteriormente praticado, não se pode admitir que o direito de não produzir prova 
contra si mesmo possa atenuar a responsabilidade criminal do agente. 
 
 A propósito, o Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado no vaso da 
Isabela Nardoni, e também por fraude processual, em decorrência da alteração do local do crime: “(...) O 
direito à não auto-incriminação não abrange a possibilidade de os acusados alterarem a cena do crime, 
inovando o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, para, criando artificiosamente outra realidade, levar 
peritos ou o próprio Juiz a erro de avaliação relevante (...)”. 
 
 Há também, a Súmula nº522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade 
policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. Portanto, dar uma identidade falsa, ainda 
que para se ver livre de uma acusação criminal, não é coberto pelo direito ao silêncio, respondendo por 
crime de falsa identidade. 
. 
 
- Em sentido semelhante, no julgamento de Recurso Extraordinário, com repercussão geral reconhecida, se discutiu a 
constitucionalidade da criminalização da fuga de local de acidente constante do art. 305 do CTB: 
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que 
lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. 
→ Nesse julgamento, o Plenário do STF aprovou a seguinte tese: 
“A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não infirmar o princípio da não 
incriminação, garantido o direito ao silêncio e as hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. 
 
➔ Na visão da Corte, a exigência de permanência no local do acidente e de identificação perante a 
autoridade de trânsito não obriga o condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou 
penal e tampouco enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda. 
Na verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até constituir um meio 
de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de esclarecer, de imediato, eventuais 
circunstâncias do acidente que lhe sejam favoráveis. 
 
➔ Portanto, ao permanecer no local, ele não estará automaticamente se incriminando. 
 
 
 
5. PROIBIÇÃO DE PROVAS ILÍCITAS 
 
CF, art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. 
Art. 157, CPP. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas 
as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. 
- As provas ilícitas são inadmitidas no processopenal. Se a prova for ilícita, ela deverá ser desentranhada dos autos. 
→ São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas (art. 157 §1º - Teoria dos Frutos da árvore 
envenenada), salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as 
derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
 
OBS: Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios 
da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (157, §2º). 
- Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, 
facultado às partes acompanhar o incidente (157 §4º). A prova declarada inadmissível não poderá constituir conteúdo 
da sentença ou acórdão a serem proferidos pelo juiz (art. 157, §5º). 
Importante: a prova ilícita pode ser utilizada quando ela vier a beneficiar o réu. Não se pode admitir que alguém 
venha a ser preso sabendo que há uma prova, ainda que ilícita, que o absolva. Há doutrinadores que dizem que, nesses 
casos, a prova nem mesmo poderia ser considerada ilícita, pois um dos fatos que exclui a ilicitude é o estado de 
necessidade. Então quando se produz uma prova ilícita para preservar a liberdade, há presente o estado de 
necessidade. 
Exemplo: um cidadão era gerente do Brasil e ele abriu uma conta em nome de um laranja e ele autorizou o 
empréstimo, para este laranja, de 200 mil reais e, da conta do laranja, ele transferiu os 200 mil reais para a conta 
corrente dele. Isso é, obviamente, crime de peculato, uma vez que ele é funcionário público (gerente do Banco do 
Brasil) e se apropriou de um dinheiro. O banco tinha dois gerentes, o outro gerente descobriu essa situação e 
imprimiu os extratos (pegou o extrato da conta do laranja, com a autorização do empréstimo de 200 mil e a 
transferência para a outra do outro gerente), esses extratos bancários foram levados para o delegado. O delegado 
já, de cara, falou que se tratava de um peculato e chamou o gerente que fez todo esse “rolo” que, por sua vez, ficou 
em silêncio. O MP denunciou por peculato dizendo que as provas dos extratos bancários eram claras – qual a 
solução para esse caso, lembrando que quebra de sigilo bancário precisa de autorização? 
Como, pelo visto, não houve uma determinação judicial para que ocorresse a quebra de sigilo bancário e, 
além disso, ficar evidente que a emissão desses extratos não terem sido realizados com a devida 
autorização do titular daquela conta ou por solicitação deste, o que pode ser presumido em virtude de se 
tratar de uma prova contra ele (gerente que, supostamente, cometeu peculato) fica configurada a violação 
do sigilo da conta. Assim, como a caracterização dessa quebra de sigilo bancário, ato que, por si só, trata-
se de ilícito gerador de dano moral, muito possivelmente não poderão ser utilizados tais extratos, 
orientando-nos pelo princípio da proibição de provas ilícitas, segundo o qual, tal espécie de prova é 
inadmitida. E, além disso, como ocorre essa quebra de sigilo bancário, o que se trata de um ilícito gerador 
de dano moral, conforme já dito, pode ser que venham a ser presumidos os prejuízos, não se fazendo 
necessário a sua prova para a caracterização do dano moral advindo do ilícito. 
Portanto, tratavam-se de provas ilícitas, devendo elas serem retiradas dos autos e, sendo assim, o juiz 
deve dar essa sentença sem as referidas provas, o que iria culminar na absolvição do réu, pois só havia 
essa prova a respeito do delito. 
 
6. Princípio Contraditório 
 
 De acordo com o art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal: aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e 
recursos a ela inerentes. 
- O princípio do contraditório, na sua concepção clássica, é a ciência bilateral dos atos ou termos do processo e a 
possibilidade de contrariá-los. 
→ De acordo com esse conceito, o núcleo fundamental do contraditório estaria ligado à discussão dialética dos 
fatos da causa, devendo se assegurar a ambas as partes, e não somente à defesa, a oportunidade de 
fiscalização recíproca dos atos praticados no curso do processo. É esse o motivo pelo qual a doutrina se vale 
da expressão “audiência bilateral”. 
 
→ Diante dessa concepção, seriam 2 os elementos do contraditório: é necessária a informação das partes 
sobree os atos, e permitir a participação das partes nos referidos atos. 
 
a) direito à informação: não se pode cogitar da existência de um processo penal eficaz e justo sem que a 
parte adversa seja cientificada da existência da demanda ou dos argumentos da parte contrária. Daí a 
importância dos meios de comunicação dos atos processuais: citação, intimação e notificação; 
 
b) direito de participação: também deriva do contraditório o direito à participação, aí compreendido como 
a possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão da parte contrária 
 
► Paridade de armas // igualdade de armas 
 
- Pela concepção original do princípio do contraditório, entendia-se que, quanto à reação, bastava que a mesma fosse 
possibilitada, ou seja, tratava-se de reação possível. No entanto, a mudança de concepção sobre o princípio da 
isonomia, com a superação da mera igualdade formal e a busca de uma igualdade substancial, produziu a necessidade 
de se igualar os desiguais, repercutindo também no âmbito do princípio do contraditório. 
 
→ Notadamente no âmbito processual penal, não basta assegurar ao acusado apenas o direito à informação e à 
reação em um plano formal, tal qual acontece no processo civil. Estando em discussão a liberdade de 
locomoção, ainda que o acusado não tenha interesse em oferecer reação à pretensão acusatória, o próprio 
ordenamento jurídico impõe a obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor. 
 
→ Nesse contexto, dispõe o art. 261 do CPP que nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será 
processado ou julgado sem defensor. E não se deve contentar com uma atuação meramente formal desse 
defensor. Basta perceber que, dentre as atribuições do juiz-presidente do júri, o CPP elenca a possibilidade 
de nomeação de defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso (CPP, art. 497, V). 
 
→ Portanto, pode-se dizer que se, em um primeiro momento, o contraditório limitava-se ao direito à informação 
e à possibilidade de reação. Contudo, atualmente, o contraditório passou a ser analisado também no sentido 
de se assegurar o respeito à paridade de tratamento (par conditio ou paridade de armas). 
 
 
► Inquérito e processo penal 
 
- Prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que a observância do contraditório só é obrigatória, 
no processo penal, na fase processual, e não na fase investigatória. Isso porque o dispositivo do art. 5º, LV, da Carta 
Magna, faz menção à observância do contraditório em processo judicial ou administrativo. Logo, considerando-se que 
o inquérito policial é tido como um procedimento administrativo destinado à colheita de elementos de informação 
quanto à existência do crime e quanto à autoria ou participação, não há falar em observância do contraditório na fase 
preliminar de investigações 
 
→ Apesar de não ter o que se falar de contraditório no inquérito, não significa que o investigado não tenha 
acesso aos autos do inquérito (ampla defesa). 
 
 
► Contraditório e produção de provas 
 
- Sempre que o juiz vai produzir uma prova, ele tem que permitir que as partes participem dessa produção. Contudo, 
há alguns casos específicos onde o contraditório é observado tão somente após a produção de provas, que é o caso 
das provas cautelares (não pode ter contraditório, pois corre-se o risco da prova se tornar ineficaz). 
 
 Pode-se dividir o contraditório para a prova e contraditório sobre a prova: 
 
a) Contraditório para a prova (ou contraditórioreal): demanda que as partes atuem na própria formação do 
elemento de prova, sendo indispensável que sua produção se dê na presença do órgão julgador e das partes. 
Ou seja, se refere aos elementos de convicção produzidos, em regra, no curso do processo judicial e com a 
necessária participação dialética das partes. 
 
Exemplo: É o que acontece com a prova testemunhal colhida em juízo, onde não há qualquer razão cautelar a 
justificar a não intervenção das partes quando de sua produção, sendo obrigatória, pois, a observância do 
contraditório para a realização da prova. 
 
 
b) Contraditório sobre a prova: refere-se ao caso de provas cautelares. 
 
→ O contraditório sobre a prova, também conhecido como contraditório diferido ou postergado, traduz-se no 
reconhecimento da atuação do contraditório após a formação da prova. Em outras palavras, a observância 
do contraditório é feita posteriormente, dando-se oportunidade ao acusado e a seu defensor de, no curso do 
processo, contestar a providência cautelar, ou de combater a prova pericial feita no curso do inquérito. 
 
Exemplo: É o que acontece, por exemplo, com uma interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso 
das investigações. Nessa hipótese, não faz sentido algum querer intimar previamente o investigado para 
acompanhar os atos investigatórios. Enquanto a interceptação estiver em curso, não há falar, portanto, em 
contraditório real. Porém, uma vez finda a diligência, e juntado aos autos o laudo de degravação e o resumo das 
operações realizadas (Lei nº 9.296/96, art. 6º), deles se dará vista à Defesa, a fim de que tenha ciência das 
informações obtidas através do referido procedimento investigatório, preservando-se, assim, o contraditório e a 
ampla defesa. Nesse caso, não há falar em violação à garantia da bilateralidade da audiência, porquanto o 
exercício do contraditório será apenas diferido para momento ulterior à decisão judicial. 
 
 
OBS: no processo penal, só pode ser chamado de prova o que passa pelo contraditório. O produzido no inquérito não 
pode ser considerado prova, pois não tem contraditório. Portanto, não pode ser usado de modo exclusivo pelo 
magistrado para fundamentar sua sentença. 
 
 
 
7. Ampla defesa. 
 
De acordo com o art. 5º, LV, da Magna Carta, “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” 
 
→ Quando a Constituição Federal assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral a ampla defesa, entende-se que a proteção deve abranger o direito à defesa técnica (processual ou 
específica) e à autodefesa (material ou genérica), havendo entre elas relação de complementariedade. 
 
OBS: Por força da ampla defesa, admite-se que o acusado seja formalmente tratado de maneira desigual em relação 
à acusação, delineando o viés material do princípio da igualdade. Por consequência, ao acusado são outorgados 
diversos privilégios em detrimento da acusação, como a existência de recursos privativos da defesa, a proibição da 
reformatio in pejus, a regra do in dubio pro reo, a previsão de revisão criminal exclusivamente pro reo, etc., privilégios 
estes que são reunidos no princípio do favor rei. 
 
 
a) Defesa técnica: todos que respondem a um processo criminal tem obrigação de serem assistidos por um 
advogado. Não basta ter um defensor, mas é necessária uma defesa efetiva. 
 
→ Defesa técnica é aquela exercida por profissional da advocacia, dotado de capacidade postulatória, seja ele 
advogado constituído, nomeado, ou defensor público. Para ser ampla, como impõe a Constituição Federal, 
apresenta-se no processo como defesa necessária, indeclinável, plena e efetiva, não sendo possível que 
alguém seja processado sem que possua defensor. 
 
 Defesa técnica necessária e irrenunciável: A defesa técnica é indisponível e irrenunciável. Logo, 
mesmo que o acusado, desprovido de capacidade postulatória, queira ser processado sem defesa 
técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a nomeação de defensor. Exatamente em 
virtude disso, dispõe o art. 261 do CPP que “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será 
processado ou julgado sem defensor”. Não se admite, assim, processo penal sem que a defesa técnica 
seja exercida por profissional da advocacia. 
 
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem 
defensor. 
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será 
sempre exercida através de manifestação fundamentada. 
 
 
 Caso o processo tenha curso sem a nomeação de defensor, seja porque o acusado não 
constituiu advogado, seja porque o juiz não lhe nomeou advogado dativo ou defensor público, 
o processo estará eivado de nulidade absoluta, por afronta à garantia da ampla defesa (CPP, 
art. 564, III, “c”). Nessa linha, segundo a súmula nº 708 do Supremo, “é nulo o julgamento da 
apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi 
previamente intimado para constituir outro”. 
OBS: Logicamente, se o acusado é profissional da advocacia, poderá exercer sua própria defesa 
técnica. Todavia, não o sendo, sua defesa técnica deverá ser exercida por profissional da 
advocacia legalmente habilitado nos quadros da OAB. Para que o próprio acusado possa exercer 
sua defesa técnica, não basta que seja dotado de capacitação técnica. O acusado deve ser 
advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. 
OBS 2: a despeito do evidente conhecimento jurídico de que são dotados, se acusados 
criminalmente, juízes e/ou promotores não podem exercer sua defesa técnica. Nesse sentido, 
como já se pronunciou o Supremo, “nas ações penais originárias, a defesa preliminar (L. 8.038/90, 
art. 4º), é atividade privativa dos advogados. Os membros do Ministério Público estão impedidos 
de exercer advocacia, mesmo em causa própria. São atividades incompatíveis (L. 8.906/94, art. 
28)”. 
 
 Defesa técnica plena e efetiva: Para que seja preservada a ampla defesa a que se refere a Constituição 
Federal, a defesa técnica, além de necessária e indeclinável, deve ser plena e efetiva. No curso do 
processo, é necessário que se perceba efetiva atividade defensiva do advogado no sentido de assistir 
seu cliente. Esse o motivo pelo qual a Lei nº 10.792/03 acrescentou o parágrafo único ao art. 261 do 
CPP, de modo a exigir que a defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, seja 
sempre exercida por manifestação fundamentada. 
 
 Caso não haja uma defesa técnica plena e efetiva, de modo que o profissional formalmente 
designado para defender o acusado tenha uma atuação precária, será como se o acusado 
tivesse sido processado sem defesa técnica. Em casos como este, recai sobre o Ministério 
Público e sobre o juiz o dever de fiscalizar a atuação defensiva do advogado, evitando-se, 
assim, possível caracterização de nulidade absoluta do feito, por violação à ampla defesa. 
 
 Nesse sentido, a súmula 523 do STF dispõe que, “no processo penal, a falta de defesa constitui 
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prejuízo para o réu”. Assim, 
caso haja falha na atuação do defensor, com a causação de prejuízo ao acusado, o processo 
deve ser anulado. Em outras palavras, a defesa não pode ser meramente formal, devendo 
ser adequadamente exercida. 
 
OBS: Obrigatoriamente, deve o defensor atuar em benefício do acusado, sob pena de se considerá-
lo indefeso. Isso, no entanto, não significa dizer que o defensor deverá sempre e invariavelmente 
pedir a absolvição do acusado. A depender das circunstâncias do caso concreto, esse pedido 
absolutório não será uma alternativa viável e tecnicamente possível. 
 
 
 
 
 
 Direito de escolha do defensor: Em virtude da relação de confiança que necessariamente se 
estabelece entre o acusado equem o defende, entende-se que um dos desdobramentos da ampla 
defesa é o direito que o acusado tem de escolher seu próprio advogado. Logo, não sendo possível ao 
defensor constituído assumir ou prosseguir no patrocínio da causa penal, incumbe ao juiz ordenar a 
intimação do réu para que este, querendo, escolha outro advogado. 
 
 Tem o acusado, portanto, o direito de escolher seu próprio defensor, não sendo possível que 
o juiz substitua seu advogado constituído por outro de sua nomeação. A nomeação de 
defensor pelo juiz só poderá ocorrer nas hipóteses de abandono do processo pelo advogado 
constituído e desde que o acusado permaneça inerte, após ser instado a constituir novo 
defensor. Assim, se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado 
o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, 
caso tenha habilitação (CPP, art. 263, caput). 
 
 Supondo, então, que o advogado constituído do acusado tenha deixado de apresentar 
memoriais (CPP, art. 403, § 3º), não poderá o juiz, de plano, nomear advogado dativo ou 
defensor público para oferecer a referida peça de defesa. Antes, deve intimar o acusado para 
que constitua novo advogado. P 
 
b) Defesa pessoal (autodefesa): Autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do 
processo. Diferencia-se da defesa técnica porque, embora não possa ser desprezada pelo juiz, é disponível, já 
que não há como se compelir o acusado a exercer seu direito ao interrogatório nem tampouco a acompanhar 
os atos da instrução processual. 
OBS: De modo a se assegurar o exercício da autodefesa, o acusado deve ser citado pessoalmente, pelo menos em 
regra. Caso o acusado não seja encontrado, e somente depois de esgotadas todas as diligências no sentido de 
localizá-lo, será possível sua citação por edital, com o prazo de 15 (quinze) dias. Daí dispor a súmula nº 351 do 
Supremo Tribunal Federal que “é nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que 
o juiz exerce a sua jurisdição”. Ora, se o acusado estava preso, é dever do Estado ter conhecimento de sua 
localização, a fim de citá-lo pessoalmente. Se a citação foi feita por edital, deve ser considerada nula. 
- A autodefesa se manifesta no processo penal de várias formas: a) direito de audiência; b) direito de presença; c) 
capacidade postulatória autônoma do acusado. 
 
B1. direito de audiência: direito de audiência pode ser entendido como o direito que o acusado tem de 
apresentar ao juiz da causa a sua defesa, pessoalmente. Esse direito se materializa através do interrogatório, 
já que é este o momento processual adequado para que o acusado, em contato direto com o juiz natural, possa 
trazer ao magistrado sua versão a respeito da imputação constante da peça acusatória. 
OBS: Daí o entendimento hoje majoritário em torno da natureza jurídica do interrogatório: meio de defesa. 
Atualmente, como o acusado não é obrigado a responder a qualquer indagação feita pelo magistrado 
processante em virtude do direito ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII), não podendo sofrer qualquer restrição em sua 
esfera jurídica em virtude do exercício dessa especial prerrogativa, entende-se que o interrogatório se qualifica 
como meio de defesa. O interrogatório está relacionado, assim, ao direito de audiência, desdobramento da 
autodefesa. 
 
 
B2. direito de presença: Por meio do direito de presença, assegura-se ao acusado a oportunidade de, ao lado 
de seu defensor, acompanhar os atos de instrução, auxiliando-o na realização da defesa. Daí a importância da 
obrigatória intimação do defensor e do acusado para todos os atos processuais. Afinal, durante a instrução 
criminal, podem ser prestadas declarações cuja falsidade ou incorreção só o acusado consiga detectar. Nesse 
caso, o acusado deve poder relatar de imediato tais falsidades ou incorreções ao seu defensor técnico, a fim de 
que este último tenha tempo hábil para explorá-las, durante a colheita da prova. 
OBS: Se o direito de presença é um desdobramento da autodefesa, a qual é disponível, conclui-se que o 
comparecimento do réu aos atos processuais, em princípio, é um direito, e não um dever, sem embargo da 
possibilidade de sua condução coercitiva, caso necessário, por exemplo, para audiência de reconhecimento, 
ato este que não está protegido pelo direito à não autoincriminação. Nem mesmo ao interrogatório estará o 
acusado obrigado a comparecer, até mesmo porque a Constituição Federal lhe assegura o direito ao silêncio. 
De todo modo, caso o acusado não compareça à audiência, a presença do defensor será sempre necessária e 
obrigatória, seja ele constituído, público, dativo ou nomeado para o ato 
 
B.3 capacidade postulatória: Quanto ao terceiro desdobramento da autodefesa, entende-se que, em alguns 
momentos específicos do processo penal, defere-se ao acusado capacidade postulatória autônoma, 
independentemente da presença de seu advogado. É por isso que, no processo penal, o acusado pode interpor 
recursos (CPP, art. 577, caput), impetrar habeas corpus (CPP, art. 654, caput), ajuizar revisão criminal (CPP, art. 
623), assim como formular pedidos relativos à execução da pena (LEP, art. 195, caput). 
 Em tais situações, mesmo não sendo profissional da advocacia, a Constituição Federal e a legislação 
ordinária conferem ao acusado capacidade postulatória autônoma, possibilitando que ele dê o impulso 
inicial ao recurso, às ações autônomas de impugnação ou aos procedimentos incidentais relativos à 
execução. Uma vez dado o impulso inicial pelo acusado, pensamos que, em seguida, e de modo a lhe 
assegurar a mais ampla defesa, há de ser garantida a assistência de defensor técnico, possibilitando, a 
título de exemplo, a apresentação das respectivas razões recursais, etc. 
 
 Essas manifestações do acusado não violam o disposto no art. 133 da Constituição Federal, que prevê 
a advocacia como função essencial à administração da justiça. Deve se entender que, no processo 
penal, essas manifestações defensivas formuladas diretamente pelo acusado não prejudicam a defesa, 
apenas criando uma possibilidade a mais de seu exercício. 
 
 
 
SISTEMAS PROCESSUAIS 
 
- SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS: são duas as formas de se entender o processo penal, por meio do sistema 
inquisitivo e acusatório. Não há nenhum sistema puro, mas sim com características predominantes inquisitivas ou 
acusatórias. 
 
➢ SISTEMA INQUISITORIAL 
 
- Típico dos sistemas ditatoriais, tem como característica principal o fato de as funções de acusar, defender e julgar 
encontrarem-se concentradas em uma única pessoa, que assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de 
juiz inquisidor. 
 
→ Essa concentração de poderes nas mãos do juiz compromete, invariavelmente, sua imparcialidade. Afinal, o 
juiz que atua como acusador fica ligado psicologicamente ao resultado da demanda, perdendo a objetividade 
e a imparcialidade no julgamento. 
→ Nesse sistema, não há falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de 
contraposição entre acusação e defesa. Ademais, geralmente o acusado permanecia encarcerado 
preventivamente, sendo mantido incomunicável. 
 
→ No sistema inquisitivo, não existe a obrigatoriedade de que haja uma acusação realizada por órgão público ou 
pelo ofendido, sendo lícito ao juiz desencadear o processo criminal ex officio. Na mesma linha, o juiz inquisidor 
é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de ofício a colheita de provas, seja 
no curso das investigações, seja no curso do processo penal, independentemente de sua proposição pela 
acusação ou pelo acusado. A gestão das provas estava concentrada, assim, nas mãos do juiz, que, a partir da 
prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia chegar à conclusão que desejasse. 
 
→ No sistema inquisitorial, o acusado é mero objeto do processo, não sendo considerado sujeito de direitos. 
Na

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