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Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Classificação das obrigações (continuação) ................................................................ 2 1.2 Obrigações complexas quanto ao objeto ............................................................. 2 1.2.1 Obrigação facultativa ..................................................................................... 2 1.2 Obrigações complexas quanto ao sujeito ............................................................. 4 1.2.1 Divisíveis (Art. 257, CC) ................................................................................... 4 1.2.2 Indivisíveis (Arts. 258 a 263, CC) .................................................................... 5 1.2.3 Solidárias (Arts. 264 a 285) ............................................................................. 7 2. Obrigação pecuniária ................................................................................................ 16 2.1 Dívida em dinheiro .............................................................................................. 16 Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br Inicialmente, é necessário fazer uma observação acerca do recente julgamento do STF acerca das biografias não autorizadas, que afeta a disposição dos artigos 20 e 21 do Código Civil. CC, Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. CC, Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. Estes dois dispositivos, especialmente o artigo 20, já recebiam críticas, pois sua redação não é suficientemente eficaz para proteger a publicação, nem suficientemente boa capaz de proibir. Em alguns casos, vinha sendo entendido que a divulgação de fatos sobre uma pessoa, mesmo depois de sua morte, dependeria de uma autorização prévia. Essa interpretação entendia que os fatos poderiam ser contados não se colocando em foco a pessoa, mas sim em uma perspectiva histórica. Há uma necessidade de limitação de excessos, daquilo que invade desnecessariamente a intimidade. Estes excessos, de acordo com o STF, devem ser controlados repressivamente, e não preventivamente. Não haveria, portanto, uma censura prévia para a publicação. O controle ocorreria através de indenização ou da retirada de circulação. Por unanimidade, o STF estabeleceu interpretação conforme a Constituição, estabelecendo estes dispositivos do Código Civil não impedem a publicação de obras que buscam contar histórias de interesse da sociedade, ainda que não haja interpretação prévia. Este tema certamente será cobrado em concursos. 1. Classificação das obrigações (continuação) 1.2 Obrigações complexas quanto ao objeto 1.2.1 Obrigação facultativa É tratada junto com as obrigações complexas, pois com estas se confunde. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br Na obrigação facultativa há um credor e um devedor unidos em torno de uma prestação única, chamada de prestação principal. Esta prestação diz respeito ao direito de crédito do credor. Sobre esta prestação se estabelece o débito do devedor. Por uma questão de autonomia privada, admite-se que as partes convencionem que o devedor poderá se desobrigar do seu débito, desde que ele satisfaça, facultativamente, outra prestação, com caráter acessório. Há, portanto, uma faculdade de substituição. Há, assim, uma obrigação facultativa de caráter acessório. Diferente da obrigação alternativa, esta faculdade será sempre do devedor. Não se trata de conferir ao devedor a escolha entre várias prestações diferentes. Trata-se de dar ao devedor uma saída, para a hipótese de não querer ou não poder cumprir a obrigação principal. Como esta obrigação facultativa tem caráter acessório, ela segue o destino da principal. Na obrigação alternativa, por sua vez, todas as obrigações são principais. Assim, nas obrigações alternativas, a impossibilidade ou a nulidade de uma das prestações não impossibilita nem torna nula a obrigação como um todo, pois a outra prestação subsiste. CC, Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. No entanto, quando a obrigação é facultativa, há o princípio da gravitação, de modo que se a obrigação facultativa for nula, não há impacto na obrigação principal. Mas se a obrigação principal for nula ou se tornar impossível, o acessório seguirá o seu destino, nada mais sendo exigível. Quando a CESPE trata deste tema, costuma trazer a mistura de características, buscando confundir o candidato. Se o examinar diz, na prova, que é devida a obrigação A ou a obrigação B, na mesma oração, fala-se em uma obrigação alternativa. Se a questão dispõe que o devedor se obrigou a uma obrigação A, e posteriormente diz que foi estabelecido que ele poderia se desobrigar cumprindo uma obrigação B, há uma obrigação facultativa. Não é pacífico, mas alguns autores entendem que as arras penitenciais teriam a característica de obrigação facultativa. O devedor se obriga pelo negócio principal, mas tem a faculdade de não cumpri-lo, desde aceite devolver as arras em dobro ou perder as arras definitivamente. Exemplo: um fazendeiro havia se obrigado a entregar as 10 melhores vacas do seu rebanho. Neste primeiro contrato, estabeleceu-se que ele poderia se desobrigar da entrega Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br das vacas se ele entregasse 5 cavalos. Antes da tradição, o rebanho inteiro foi dizimado por uma doença e ele não tinha como escolher 10 vacas. Ele comunicou à outra parte que, diante da impossibilidade superveniente de cumprimento da obrigação, o negócio estaria desfeito. A outra parte alegava, no entanto, que diante da impossibilidade de entrega das vacas, ele deveria entregar os 5 cavalos. Neste caso, os cavalos eram uma faculdade de se desobrigar. Os cavalos, portanto, não eram exigíveis, já que a própria obrigação principal não era mais exigível. 1.2 Obrigações complexas quanto ao sujeito Há pluralidade de credores e/ou devedores. 1.2.1 Divisíveis (Art. 257, CC) Inicialmente, é necessário analisaro disposto no artigo 314 do Código Civil: CC, Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. A divisibilidade é irrelevante se só há um credor ou devedor, pois não se pode obrigar o devedor a pagar parceladamente ou o credor a receber parceladamente, se isto não foi convencionado. CC, Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. Neste artigo 257 do Código Civil, a obrigação é dividida entre mais de um credor ou devedor. É como se houvesse várias relações obrigacionais diferentes. A relevância da divisibilidade, portanto, está na pluralidade de sujeitos. O que discute é se a prestação é divisível. Exemplo: foi celebrado um contrato de mútuo, que tem por objeto R$ 90.000,00 (noventa mil reais). O credor é Tio Patinhas e os devedores são Huguinho, Zezinho e Luizinho. Aqui não se está discutindo a prática de algum ilícito. O prazo estabelecido para o pagamento foi de 180 dias, que é o prazo de vencimento. Como esta obrigação é fruto da autonomia privada, que estabelece um dever pessoal de prestação, é necessário analisar o artigo 265 do Código Civil: CC, Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br Na locação de imóveis, no silêncio das partes, a lei estabelece que há solidariedade entre as partes. na fiança, havendo mais de um fiador, a lei estabelece que entre os fiadores, salvo convenção em contrário, haverá responsabilidade pelo pagamento da dívida. No entanto, no caso do mútuo, a lei não estabelece solidariedade. Assim, a pergunta a ser feita é se o objeto é divisível. No exemplo acima, a prestação é em dinheiro, sendo divisível. Assim, o credor manterá várias relações jurídicas iguais distintas com os vários devedores. A quota parte de cada devedor será igual, salvo disposição em contrário. Huguinho, portanto, estará obrigado por R$ 30.000,00 (trinta mil reais), mesmo que o contrário assinado seja de R$ 90.000,00 (noventa mil reais). Pagando esses trinta mil, Huguinho terá extinguido o seu vínculo como credor. Se após o vencimento, Huguinho se tornar inadimplente, os efeitos da mora apenas sobre ele recairão. É normal que se estabeleça, no contrato, uma solidariedade como forma de trazer uma vantagem para o credor. O credor pode renunciar esta vantagem da solidariedade, cobrando a prestação como se fosse divisível, já que este benefício é apenas a seu favor. 1.2.2 Indivisíveis (Arts. 258 a 263, CC) Imaginando outra situação, em um contrato de depósito, em que o cavalo, no valor de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) pertença a Sérgio e a Wagner, que o confiaram a Maria e a Sabrina, depositárias. Há, portanto, dois devedores e dois credores. Não havendo solidariedade nesta relação, a indivisibilidade da obrigação leva à necessidade de um cumprimento único da prestação. CC, Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico. CC, Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Se o sacrifício econômico para o pagamento da dívida recair apenas sobre um dos devedores, ele se sub-roga no direito de cobrar do outro devedor o rateio deste valor. CC, Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. No exemplo acima dado, Sérgio não tem poder para dar quitação em nome de Wagner, e vice-versa. A situação é de indivisibilidade que faz com que os devedores, para se Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br desobrigarem, entregue o cavalo aos dois credores ao mesmo tempo, exceto se um deles der garantia (caução) para cobrir a quota parte do outro. Esta caução é dada até a quitação. CC, Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total. CC, Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão. Se houvesse solidariedade e um dos credores solidários perdoasse a dívida, o outro credor não poderia exigir nada, pois na solidariedade o que um diz, vale para todos. Ocorreria uma sub-rogação do credor remitente na posição de devedor. Ele passaria a responder perante os outros credores pelo perdão concedido. Na indivisibilidade isto não ocorre. O perdão concedido por um dos credores não atinge a quota- parte do outro. O perdão de um dos credores tem o efeito jurídico de uma doação ao devedor. O outro credor ainda poderá exigir o cavalo, mas vai ter que comprar a quota-parte do outro credor, ou conviver em um condomínio com as devedoras. Se um dos credores tiver dívida compensada com os devedores ou realizar transação ou confusão, a sua quota-parte da dívida se extingue. Na solidariedade é diferente. A extinção, salvo exceções pessoais, se estende aos demais credores solidários. CC, Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. § 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais. § 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. No exemplo dado, se o cavalo perecer, os R$ 80.000,00 são pagos a título de equivalente, além de demais perdas e danos decorrentes da frustração do contrato. Cada devedor responde de forma divisível pela sua quota da dívida. Desaparecendo a indivisibilidade do objeto, cada devedor passa a ter uma relação jurídica individual com o credor. Se as duas devedoras foram responsáveis pela perda, a divisão se dá tanto no equivalente quanto nas perdas e danos. Se a culpa é de apenas uma das devedoras, a outra fica exonerada da obrigação. A devedora culpada fica com a responsabilidade de pagar o equivalente e as perdas e danos. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br Observação1: o artigo 263 do Código Civil tem uma interpretação literal que gera muita controvérsia. Há uma crítica doutrinária ao disposto no §1º deste artigo. Alguns autores entendem que se todos deram causa ao dano, todos deveriam ser responsáveis pelo danopor inteiro, havendo uma solidariedade. Essa é a solução para a responsabilidade extracontratual, conforme dispõe o artigo 942 do Código Civil. Na responsabilidade contratual, no entanto, o legislador não estabeleceu isto. O entendimento majoritário é que o credor poderia ter se prevenido, negociando de forma diferente. Se ele não o fez, a solução se dará na forma disposta na lei. Assim, salvo disposição em contrário, cada um responderia apenas pela sua quota parte. CC, Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação. O §2º do artigo 263 do Código Civil, por sua vez, é criticado por possuir uma redação insuficiente. O legislador separa o equivalente das perdas e danos, embora tudo faça parte da indenização. Neste §2º não há referência ao equivalente. Uma corrente entende que como o equivalente integra a indenização lato senso, os outros devedores não culpados são exonerados até do equivalente. Mas isso geraria um enriquecimento sem causa, dependendo do tipo de contrato. Exemplo: em uma compra e venda em que os vendedores se obrigaram a entregar uma coisa da qual eles são condôminos, caso esta coisa venha a perecer antes da entrega por culpa de um deles, o outro poderá embolsar o valor mesmo sem entregar nada. Isto seria um contrassenso pela própria regra geral de que a coisa perece para o dono. Se ele ainda não entregou a coisa, ele não pode embolsar o dinheiro. Como as perdas e danos acrescidas derivam da culpa, apenas o culpado é responsável pelo seu pagamento. O Enunciado 540 da VI Jornada de Direito Civil propõe que, com relação ao equivalente, cada devedor, culpado ou não, responda pela sua parte, na medida em que a resolução leva ao estado anterior. E o culpado responderia pelas perdas e danos. ENUNCIADO 540 – Havendo perecimento do objeto da prestação indivisível por culpa de apenas um dos devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado, pelas perdas e danos. 1.2.3 Solidárias (Arts. 264 a 285) A solidariedade obrigacional pode ser ativa, passiva ou mista. a) Ativa: quando há solidariedade entre credores. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br b) Passiva: quando há solidariedade entre devedores. c) Mista: quando, na mesma relação obrigacional, há solidariedade ativa e passiva. A mais frequente é a solidariedade passiva, pois é um instrumento de garantia do credor frente ao inadimplemento. CC, Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Esta lei não é em sentido estrito. É norma jurídica, que pode ser um princípio normativo. Exemplo: função social do contrato e boa-fé objetiva, previstos nos artigos 421 e 422 do Código Civil. CC, Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. CC, Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. A função social do contrato significa que valores estabelecidos na Constituição Federal como de maior relevância social não podem ser ignorados pelas partes nas suas relações privadas. Assim, isto pode levar alguém a ser responsável solidariamente sem ter participado expressamente da relação. A função social possui uma eficácia externa e uma interna. A eficácia externa significa que o contrato passa a ter também interesse externo, e não apenas interesse para as próprias partes. Há três situações: tutela de interesses metaindividuais, terceiro ofendido e terceiro ofensor/cúmplice. Na hipótese de existência de terceiro ofendido, estranho ao contrato, essa pessoa que está fora da relação contratual será indenizada. O melhor exemplo é o disposto na Súmula 529 do STJ: Súmula 529, STJ. No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano. Esta súmula traz a possibilidade de incluir a seguradora no polo passivo de uma ação de responsabilidade, quando o segurado deu causa ao acidente. O terceiro ofendido, embora não tenha nenhuma relação jurídica com a seguradora, vale-se da função social do contrato para incluir a seguradora na demanda, desde que em litisconsórcio com o segurado. A figura do terceiro cúmplice, por sua vez, envolve o Enunciado 21 do CJF. Enunciado 21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br A hipótese prevista nesse enunciado é a de que o devedor do contrato pratica um inadimplemento voluntário. Como consequência, ele é chamado à responsabilidade contratual. Se este devedor se torna inadimplente com o auxílio ou por incitação ou aliciamento de uma conduta intencional de um terceiro, embora este terceiro não seja parte contratante, a responsabilidade contratual pode ser a ele estendida, de forma solidária. Passam a responder pelo inadimplemento o devedor inadimplente e o terceiro cúmplice. A fonte normativa desta previsão é a função social do contrato. O exemplo mais conhecido é o da campanha publicitária do Zeca Pagodinho para a Schincariol, que resultou numa quebra de contrato por aliciamento da Ambev, que levou o Zeca Pagodinho a fazer a campanha da Bhrama de forma jocosa com relação à Schincariol. Houve corresponsabilidade da Ambev com o Zeca Pagodinho pela quebra do contrato. Voltando à análise das regras gerais da solidariedade, importante a leitura do artigo 264 do Código Civil: CC, Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. Na solidariedade, a relação jurídica funciona de forma diferente. Ao invés de serem estabelecidos vários vínculos entre cada devedor e o credor, há um único débito integral que pode ser oponível a qualquer dos devedores, ou exigido por qualquer dos credores. Note-se que o artigo citado faz referência à dívida. Refere-se, portanto, ao débito, à prestação. Não é feita referência a um dever sucessivo de indenizar. O artigo está levando em consideração a prestação, não o inadimplemento. A dívida solidária é, assim, sobre a prestação. A corresponsabilidade solidária é que será sobre a indenização. É possível que a pessoa seja corresponsável solidário sem ser o devedor, como ocorre com o fiador, que não tem débito. É possível ser devedor solidário e não ser corresponsável pelas perdas e danos. CC, Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. Mesmo quando a obrigação é solidária, não significa que ela precisa ser exatamente igual para os co-devedores. Um exemplo disto é o disposto no parágrafo único do artigo 333 do Código Civil: CC, Art. 333. Ao credor assistirá o direitode cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código: I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor; Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. Assim, vence antecipadamente para cobrar do devedor insolvente, mas continua aguardando o vencimento para cobrar dos outros devedores. O vencimento antecipado para um não prejudica os outros. Ou seja, é possível cobrar a dívida integral do insolvente, ou aguardar o vencimento regular para cobrar a dívida integral dos outros. a) Solidariedade ativa O artigo 267 do Código Civil dispõe acerca da solidariedade ativa: CC, Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Exemplo: Tio Patinhas é credor solidário ao lado do Pato Donald, em um contrato de depósito em conta corrente. O Banco X é o devedor. Os credores depositaram em conta R$ 20.000,00. Este dinheiro depositado vira um mútuo, em que o Banco se apropria deste valor como se fosse seu, e fica obrigado a devolvê-lo quando exigido. Como a conta corrente foi feita de forma solidária, eles podem dar as ordem ou saques de forma conjunta ou separadamente. Neste contexto, Pato Donald celebrou um contrato de compra e venda pertencente a Gastão, e emitiu um cheque no valor de R$ 50.000,00. Gastão, vendedor do carro, apresente o cheque, que é devolvido por falta de fundos. Gastão propõe ação de execução do cheque em face de Tio Patinhas e Pato Donald. Tio Patinhas é parte legítima desta execução? Não. Ele era credor solidário na relação com o Banco, mas não na relação de compra e venda do veículo. Ele não emitiu o título de crédito. Não caberia sequer a negativação de seu nome no cadastro de inadimplentes, já que ele não é inadimplente de nada. O que pode gerar algum tipo de solidariedade passiva são as tarifas bancárias, por exemplo. A solidariedade é com relação às despesas bancárias. Neste ponto é tranquila a jurisprudência do STJ. A divergência surge, entre as Turmas de Direito Privado e as Turmas de Direito Público. No exemplo dado, se Gastão entra com a ação apenas em face de Pato Donald, requerendo o pagamento do valor, sob pena de penhora. O juiz determina a penhor online, bloqueando o valor de R$ 20.000,00 constante do Banco. Tio Patinhas aparece na ação, dizendo que é credor solidário perante o Banco, mas que cada um possui apenas parte do valor. A 3ª e a 4ª Turmas do STJ entendem que, de fato, é indevida essa penhora, já que Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br internamente cada um tem seu próprio crédito e Tio Patinhas não pode ter sua parte bloqueada. Nas execuções fiscais, as Turmas de Direito Público entendem que nesse caso de penhora integral, se foi convencionado esse crédito solidário, é como se este crédito pertencesse a qualquer uma das partes indistintamente. Se Pato Donald podia sacar o valor todo no Banco como se fosse apenas dele, é possível penhorar o valor todo na execução. Essa divergência ainda existe. Para fins de Direito Civil, tem sido preferida a primeira posição. CC, Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Depois que um dos credores propuser a ação de cobrança ou de execução, o devedor citado não poderá pagar extrajudicialmente aos demais credores. Ele deverá pagar àquele que o acionou. CC, Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Extingue para o devedor, mas se conserva internamente para os credores. O credor que recebeu o valor sozinho deve dividir com os demais credores. CC, Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. A solidariedade tem caráter personalíssimo. No caso de morte, esta solidariedade, com relação ao morto, desaparece. Seus sucessores não são, obrigatoriamente, sucessores na solidariedade. Entre os sucessores a obrigação é divisível, tendo cada um direito apenas a sua quota parte. Se a obrigação for indivisível, o tratamento se dará pela indivisibilidade, não pela solidariedade. CC, Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Observe-se que este artigo dispõe acerca da solidariedade ativa. A solidariedade subsistirá mesmo quando a prestação se converte em perdas e danos. Isto não acontece em caso de solidariedade passiva, em que deve ser analisado quem tem culpa. CC, Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. Este artigo 272 trata da sub-rogação na dívida. O credor que perdoar a dívida comum ou que receber o pagamento, sub-roga-se na posição de devedor em relação aos demais credores. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br CC, Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Se a questão se pauta em exceção pessoal, este devedor apena pode utiliza-la inter partes. CC, Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve. Observação2: a redação que o novo Código de Processo Civil está dando ao artigo 274 do Código Civil é: CPC, Art. 1.068. O art. 274 e o caput do art. 2.027 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passam a vigorar com a seguinte redação: (Vigência) “Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.” (NR) Imagine-se que um devedor tem direito de invocar, em relação a um dos credores, uma exceção pessoal que obstaria que este devedor exigisse a prestação. Um dos outros credores ajuíza ação de execução e obtém resultado favorável. Este resultado, embora em regra aproveite aos demais credores, não impede o credor que ajuizou a ação de opor ao outro credor a exceção que o devedor não pôde opor. Exemplo: o mesmo devedor deve a três credores solidários. Ele é casado com um dos credores e, por isto, entre eles não corre a prescrição. Os outros dois credores não demandaram. A partir do vencimento o prazo prescricional começou a correr e houve a consumação da prescrição. O devedor se divorciae o credor com quem ele era casado passa a poder exercer a pretensão. Ele propõe a ação, já que para ele não houve prescrição. Na redação original do Código Civil, entendia-se que este julgamento favorável aproveitaria aos demais credores solidários. A redação atual leva em consideração a possibilidade de o devedor invocar exceção pessoal neste caso, trazendo maior coerência. Esta não é a única alteração que o Novo Código de Processo Civil trouxe no Código Civil. A principal delas é com relação ao artigo 456 do Código Civil, sobre a denunciação da lide aos alienantes anteriores ao último, em relação ao evicto. É, também, uma questão de solidariedade. É uma solidariedade estabelecida pela função social do contrato. O artigo 456 do Código Civil estabelecia esta solidariedade para todos os alienantes anteriores, que respondiam ao último pela evicção. O Novo Código de Processo Civil revogou este dispositivo, tirando esta disposição de solidariedade, interpretando-o como mera questão processual. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br b) Solidariedade Passiva Ocorre quando todos os devedores têm dever com relação a toda a dívida. CC, Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Na medida em que os pagamentos são feitos, os valores vão sendo abatidos da dívida comum, mas todos continuam obrigados pelo restante. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores. Havia uma tese que defendia que se o credor propusesse a ação contra todos, ele teria renunciado à solidariedade, em uma interpretação a contrario senso. Esta tese não tem cabimento. CC, Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Assim, falecendo o devedor solidário, os seus herdeiros não se tornam internamente solidários. Eles deverão, pessoalmente, apenas a sua quota parte. O STJ se manifestou neste sentido, recentemente, com relação a este dispositivo. A demanda individual a um herdeiro, portanto, exige-lhe apenas sua quota parte. Quando a obrigação for indivisível, será exigida a dívida toda do herdeiro, mas em função da indivisibilidade, e não em razão da solidariedade. Assim, distingue-se a solidariedade da indivisibilidade, dentre outros as aspectos, porque a solidariedade desaparece com a morte, e a indivisibilidade não. CC, Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. Exemplo: voltando àquele primeiro exemplo dado, de contrato de mútuo, imagine- se que o Tio Patinhas é credor e exigiu solidariedade dos devedores. A dívida era de R$ 90.000,00 (noventa mil reais). Huguinho, Zezinho e Luizinho são devedores solidários. A solidariedade estabelece que o débito integral pode ser exigido de qualquer dos devedores. Pelo princípio do enriquecimento sem causa, qualquer pagamento realizado é abatido do todo, assim como qualquer perdão obtido. Isto porque internamente eles conservam posições autônomas. Neste exemplo, os devedores têm o débito. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br Situação diversa seria se alguns dos devedores tivessem apenas a responsabilidade, fosse garantidor. Neste caso, não haveria internamente rateio a ser feito, já que a dívida seria de apenas algum dos devedores. CC, Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. Nesta situação, os outros devedores seriam apenas corresponsáveis. Assim, o fiador não precisa fazer rateio com o afiançado. Internamente, o que ele pagar será integralmente ressarcido pelo devedor principal. Há dois efeitos importantes da solidariedade passiva: o credor tem como garantia a possibilidade de exigir de qualquer um dos devedores a dívida integral. Além disso, há uma importante observação sobre a questão interna dos devedores. Internamente, é “cada um por si”, exceto se houver insolvente entre eles. Se um deles for insolvente, existe entre eles um dever de rateio. CC, Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores. Todos, portanto, farão o rateio da quota do insolvente. No exemplo dado, se Tio Patinhas cobrou e recebeu de Huguinho a quantia de R$ 90.000,00 (noventa mil reais). Huguinho, assim, se sub-roga em R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) com relação aos outros. Mas ele não pode cobrar os R$ 60.000,00 integrais de Zezinho. Ele tem que cobrar R$30.000,00 de Zezinho e R$ 30.000,00 de Luizinho. Se Luizinho for insolvente, a sua quota, que já foi paga ao credor por Huguinho, será rateada entre Huguinho e Zezinho. Huguinho poderá cobrar de Zezinho, portanto, mais R$15.000,00. A quota do insolvente é dividida em partes iguais, mesmo que a quota do débito, entre os devedores, não seja igual. CC, Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Se o credor abre mão de sua garantia, não é afetada a relação interna entre os devedores. Muda-se apenas a possibilidade do credor de exigir a dívida inteira de qualquer dos devedores. Ele não precisa exonerar toda a solidariedade, nem exonera-la com relação a todos os devedores. Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais. Exemplo: o Tio Patinhas exonera Zezinho da solidariedade. Zezinho paga apenas os R$30.000,00. A dívida é diminuída para R$60.000,00, que continuam sendo devidos Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br solidariamente. Tio Patinhas cobra esses R$ 60.000,00 de Huguinho, que paga e se sub-roga no direito de cobrar a quem ainda deve (Luizinho). Se Luizinho está insolvente, ainda é possível o rateio da parte insolvente com Zezinho, que não é mais solidário? Sim. A Lei estabelece que a solidariedade não existe mais “para fora”, mas subsiste “para dentro”. A exoneração da solidariedade não tem efeitos entre os codevedores. CC, Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. Neste ponto há uma questão doutrinária controvertida: e se Tio Patinhas perdoa a dívida de Zezinho, dizendo-lhe que não precisa pagar mais nada? Os outros continuariam devendo. Huguinho pagaos R$ 60.000,00 após ser demandado por Tio Patinhas. Ao exercer seu direito de regresso contra Luizinho, descobre que este está insolvente. Como fica a questão do rateio? Há duas correntes para responder esta questão: A primeira corrente é prevista no Enunciado 350 do CJF e foi questão da VUNESP em uma prova objetiva em 2014. Enunciado 350 — Art. 284. A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão (PERDÃO DA DÍVIDA), em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual co-devedor insolvente, nos termos do art. 284. Assim, de acordo com esta primeira corrente, como o artigo 284 do Código Civil não fez menção ao devedor perdoado, o seu perdão alcança inclusive o rateio. Outra parcela da doutrina entende que o perdão concedido pelo credor nada alteraria na relação interna dos devedores. Ele continuaria participando do rateio. Se for adotada a corrente do CJF, quem paga o prejuízo de Huguinho, que perdeu a possibilidade de rateio? CC, Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. Pegando esta lógica da solidariedade ativa, quem perdoa mais do que tem, se sub- roga na dívida. Assim, por analogia, Tio Patinhas teria que fazer o rateio com Huguinho, no exemplo dado. CC, Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Este artigo 279 se aplica quando a solidariedade é apenas na dívida. Se a solidariedade for também na responsabilidade, as perdas e danos estendem-se a todos. Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 16 www.cursoenfase.com.br Se houver no contrato cláusula penal, em que as partes assumam solidariamente a obrigação de pagar a penalidade, mesmo que a culpa seja de apenas uma delas, esta cláusula será exigida de todos, pois é substitutiva do valor da indenização. CC, Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota. Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena. Art. 415. Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação. Este artigo 414 do Código Civil deve ser apontado como remissão no rodapé do artigo 263 do mesmo diploma legal, pois funciona como uma exceção ao §2º deste último. 2. Obrigação pecuniária Está prevista nos artigos 315 a 318 do Código Civil. 2.1 Dívida em dinheiro CC, Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes. Há aplicação do princípio do curso forçado da moeda nacional. CC, Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. Salvo os casos em que a lei expressamente autorize, são nulas as convenções para pagamento em ouro, em moeda estrangeira, bem como a cláusula de variação cambial. A lei permite, por exemplo, em cartão de crédito internacional, em contratos de importação/exportação, contratos celebrados com contratantes domiciliados no exterior (exceto sobre imóveis situados no Brasil), etc. De todas as normas que dispõem acerca deste tema, a mais importante é o Decreto- Lei 857, que estabelece algumas operações onde é possível o uso de moeda estrangeira ou a variação cambial. Exemplo: é celebrado um contrato de locação usando como parâmetro o dólar americano. Contrato de locação não pode utilizar moeda estrangeira. Até 1993 isto era permitido, pois era proibido apenas o uso do dólar como forma física de pagamento. Não Direito Civil O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 17 www.cursoenfase.com.br era proibido o uso do dólar como fator de variação cambial. Era possível, assim, se proteger da inflação ou da desvalorização da moeda. Em 1993, com o Plano Real, isto passou a ser proibido, sendo possível apenas o reajuste com base em índice nacional, exceto quando expressamente autorizado por lei. Se a parte estabeleceu o pagamento do contrato de aluguel em $1.000,00 (mil dólares), este valor vai ter que ser convertido para reais. Mas em que data? A nulidade é originária, então o dólar deve ser afastado na data da celebração do contrato. Esse valor é convertido para reais pelo valor do dia da celebração. A partir de então, a atualização do valor se dará por um índice oficial adotado pelo Tribunal onde a discussão estiver ocorrendo. O segundo princípio adotado é o do nominalismo. De acordo com o artigo 315 do CC, as prestações em dinheiro são devidas pelo seu valor nominal. Exemplo: a parte pegou um empréstimo no valor de R$100.000,00 (cem mil reais) no dia 05/06/2015, com vencimento no dia 05/06/2017. Considerando que esta dívida deve ser paga em dinheiro e pelo valor nominal, quando deverá ser pago no vencimento? R$ 100.000,00 (cem mil reais). Este valor não será corrigido, pois não foi contratada a cláusula de reajuste, que não é presumida. CC, Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. É lícito, portanto, convencionar reajuste. Mas se não for convencionado, a prestação é fixa, devida pelo seu valor nominal. CC, Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. Esta atualização não precisa constar de cláusula expressa, mas é devida a partir da mora, ou seja, a partir do vencimento. Se no vencimento não houver pagamento, começa a incidir atualização monetária. Essa atualização é ope legis. É possível prever no contrato que haverá reajuste a cada 6 meses, até a data do vencimento? Pelo Código Civil poderia, já que ele não estabelece periodicidade. Mas o Plano Real não permite, exceto nos casos em que houver lei específica autorizadora. Essa atualização deve ser anual. A atualização prevista no artigo 395, por sua vez, é feita enquanto durar a mora. Quando o Plano Real estabeleceu isto, alguns contratos já estavam em curso e previam a atualização a cada 6 meses, como as locações comerciais. O Plano Real estabeleceu que os contratos em curso deveriam se adaptar às novas regras. O STF, em ADI, decidiu, por maioria, que a norma é de ordem pública e tem incidência imediata, não havendo violação ao ato jurídico perfeito. Os novos reajustes, portanto, devem obedecer a nova previsão legal.
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