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A Vida de Santa Flora

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Prévia do material em texto

VIDA DE SANTA FLORA 
 “VIE DE SAINTE FLEUR” 
CURÉ DE SAIN MERRY 
 MONS. CHANOINE GALLAY 
du Clergé de Paris 
1938 
 
 
 
 
Tradução: 
MADRE HILDA BERND 
Religiosa da Congregação Santa Teresa de Jesus 
Porto Alegre 
1980 
 
 
 
 
 
 
 
Com a aprovação eclesiástica Vigário Geral de Cahors. 
França Cahors. 28/08/1938 
Imprimatur – Cahors 02/09/1938 
 
 
 2 
 
 
Porto Alegre, 12 de julho de 2010 
 
A tradução da Vida de Santa Flora, do original datado de 1938, foi um 
trabalho desenvolvido em 1980, pela Madre Hilda Bernd da congregação 
Teresina de Porto Alegre. Esta freira inaugurou em 1977, na Paróquia Santa 
Flora - situada na rua de mesmo nome, no Bairro cavalhada, em Porto Alegre - 
o apostolado da Legião de Maria. Este texto traduzido sobre a vida de Santa 
Flora foi apresentado ao apostolado sendo entregue à Irmã Legionária 
Teresinha Souza, hoje vice-presidente do Praesidium da Paróquia, que o 
entregou após a leitura, ao pároco da época, Pe. João Poletto. 
O trabalho datilografado ficou guardado durante muitos anos vindo ao 
conhecimento de toda a comunidade na festa de Santa Flora, realizada de 9 a 
13 de junho, deste ano de 2010, pelo atual pároco, Pe. Armando Furlin. Para a 
festa, a Legião de Maria, por meu intermédio, editou um pequeno vídeo que 
ilustrou a vida de nossa padroeira. Para tanto, se fez necessário disponibilizar 
o referido texto e a leitura da única referência bibliográfica que encontramos, e 
que hoje, na paróquia é considerado um verdadeiro tesouro. 
 
Com a intenção de garantir a perpetuação desta importante história e 
divulgar mais informações sobre a vida de nossa padroeira com fácil acesso, 
digitei o texto que ficará preservado nos arquivos de nossa paróquia sob a 
guarda e responsabilidade do pároco que o disponibilizará da forma e meio que 
considerar adequados. 
 
Próprio de um trabalho de tradução e, em especial, de uma obra antiga, 
o texto nos apresenta algumas características que dificultam a sua 
compreensão fazendo-se necessário algumas alterações gramaticais e de 
formatação. Contudo, encontrei algumas questões não me foram possível 
solucionar como a falta de referências nas citações, bem como as referências 
bibliográficas que estão incompletas. Não me foi possível também, fazer a 
 3 
confirmação dos nomes próprios apresentados que, às vezes, se mostram com 
grafias diferentes. 
 
Estas observações, no entanto não encobrem o brilho de tão importante 
trabalho da saudosa Ir. Hilda que pela graça de Deus nos permitiu conhecer 
mais a vida de nossa padroeira, garantindo a admiração e devoção dos 
paroquianos e de mais cristãos que sabem valorizar a transcrição das obras de 
Deus em vidas como a de Santa Flora. 
Espero que o desejo de nossa tradutora, aqui apresentado e que esta 
nova versão possam chegar às suas mãos e, principalmente ao seu coração. 
Salve hoje e sempre Santa Flora! 
 
Lia Conceição Mineiro de Souza Magalhães 
Legionária de Maria da Paróquia Santa Flora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Ofereço ao Julinho, o fruto do meu trabalho de três meses. 
Que esta leitura eleve ao céu as almas dos leitores”. 
Ir. Hilda Bernd 
 
Porto Alegre, 17 de maio, de 1980. 
 
 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Flora (da Ordem de São João de Jerusalém) nasceu em 1309. 
Partiu desta vida mortal para a vida imortal com cerca de 38 anos de idade, no 
ano de 1342, no mosteiro chamado Hospital, em Beaulieu. 
Deus a honrou com muitos milagres na vida, na morte e depois desta. 
Seu corpo é ali venerado com muita devoção, e sua festa é celebrada com 
grande afluxo de povo no dia 11 de junho. 
Conta-se que o nome de Sta. Flora lhe foi dado por ocasião de um 
milagre, quando na sua grande caridade, levou pães aos pobres e, perguntada 
pela Prior o que estava carregando, mostrou a ela rosas e flores. 
 
A Ordem de São João de Jerusalém foi fundada nessa mesma cidade, 
no Hospital dedicado a S. João Batista, fundado em 1048. Em 1099 os 
cruzados conquistados Jerusalém; cavaleiros entram na Ordem. Fundam-se 
conventos no sul da Itália e na França. 
O hábito das religiosas era o seguinte: hábito vermelho com a cruz 
branca sobre o peito e manto preto com a cruz dos joanistas. 
Mais tarde, quando os cruzados perderam, Rodes, trocaram o hábito 
vermelho pelo marrom, e o manto preto pelo amarelo, deixando ambas as 
cruzes. 
 
 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÍNDICE 
 
 
 
 
Prefácio.................................................................................................. 07 
1. A FLOR DA BELEZA MORAL ............................................................ 09 
2. A FLOR DA LAREIRA FAMILIAR...................................................... 13 
3. A FLOR DA IDADE MÉDIA................................................................. 18 
4. A FLOR DO HOSPITAL DE BEAULIEU............................................ 24 
5. A FLOR DO CALVÁRIO..................................................................... 31 
6. A FLOR DO AMOR DIVINO............................................................... 35 
7. A FLOR DO PARAÍSO....................................................................... 39 
8. A FLOR DA IGREJA.......................................................................... 43 
9. FLORESCEI EM BELEZA PARA FRUTIFICAR EM BONDADE....... 46 
10. DESEJO SACERDOTAL................................................................. 51 
11. GLÓRIA A DEUS NO MAIS ALTO DOS CÉUS............................... 53 
12. LADAINHA DE SANTA FLORA....................................................... 56 
BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 69 
 
 
 
 
 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREFÁCIO 
 
Nós lemos nas Sagradas Escrituras estas encantadoras palavras: “Fazei 
desabrochar vossa flor como o lírio e exalai vosso perfume”. 
Os escritores sagrados, que sob a poesia das coisas criadas nos 
revelaram esplendores reais das verdades sobrenaturais e se serviram, 
freqüentemente, para melhor se fazer compreender, de símbolos comparações, 
emblemas e de analogias, de imagens e de metáforas. A descrição da flor com 
suas variedades e suas espécies, seus matizes e seu colorido sua 
magnificência e seu brilho, voltam freqüentemente sob suas narrações. 
A flor, não é ela, no reino vegetal o que há de mais encantador e mais 
suave? Vede, dizia Nosso Senhor Jesus Cristo a seus Apóstolos, vede os lírios 
do campo como eles crescem! Nada é tão belo nos campos como os prados 
esmaltados de flores sob o calor acariciante do sol, vê-se e flor aparecer 
pouco a pouco se matizar e espalhar seu perfume. A Flor é o sorriso de Deus! 
Nosso Senhor Jesus Cristo, não é Ele a flor da Divindade? Ele é, em Belém a 
flor em pleno campo, a flor do Eterno Amor! 
Uma outra imagem empregada pelos autores sagrados é a do fruto. 
Entretanto, dizia São Paulo aos romanos: “fostes libertados do pecado e vos 
tornastes filhos de Deus, tendes agora, por fruto, vossa santificação. Os frutos 
do Espírito Santo são, a justiça, caridade, alegria, paz, bem-aventurança, a 
 8 
bondade, a paciência e a doçura”, dizia então, o apóstolo aos primeiros 
cristãos. 
Da mesma forma que a árvore nas Campinas, na primavera se cobre de 
flores enriquecidas e matizadas de variadas cores e muda pouco em frutos 
dourados e saborosos,assim o discípulo de Cristo deve, na primavera da vida, 
ornar sua lama dos encantos da virtude e produzir, `a medida que toma 
consciência de suas responsabilidades, frutos abundantes de santidade. 
Todos estes pensamentos o Soberano Pontífice Pio XI os resumia 
admiravelmente nestes termos: “Florescei em beleza para frutificar em 
bondade”. Estas palavras do Augusto Vigário de Jesus Cristo têm 
surpreendente aplicação na nobre vida de Santa Flora, ilustre e simpática 
Padroeira da piedosa Paróquia de Issendolus, na França. Flor do lar familiar do 
Hospital de Beaulieu. Flor do Calvário e do amor divino, “ela floresceu em 
beleza para frutificar em bondade”. 
O grande naturalista Linneu dizia um dia: “Eu vi passar Deus numa flor”. 
Estas palavras encontram uma realização superior na pessoa de nossa querida 
Santa Flora. Flor viva, deliciosamente ornada dos dons da graça e santuário 
amado da Santíssima Trindade, ela respondeu perfeitamente ao apelo de 
Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se alguém me ama e guarda minha Palavra, meu 
Pai o amará e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
 
A FLOR DA BELEZA MORAL 
 
Santa Flora teve o insigne privilégio de nascer no seio de uma família 
profundamente cristã. 
Ela, por isso, agradecerá a Deus por toda a sua vida, considerando esta 
graça como benefício supremo de Deus. 
Seu pai chamado Pons de Corbie, sua mãe chamada Melhors, eram 
todos dois religiosamente apegados a sua Fé cristã. Dez brancas flores 
germinaram e desabrocharam nesse delicioso jardim sob o orvalho fecundante 
das bênçãos divinas. Entre sete filhas, quatro foram religiosas da Ordem de 
São João de Jerusalém e a honraram por suas virtudes. 
Nascida em 1309, em Maurs, no Cantal, uma das mais belas regiões da 
França, Flora cresceu no meio familiar rodeada de devotamento e dos 
exemplos dos piedosos pais, ternamente amados. 
A cidade de Maurs está magnificamente edificada a 260 metros de altura 
sobre uma colina entre os vales de Rance e o riacho de Arcombes a pouca 
distância do Departamento de Lot, sobre a estrada de Aurillac e Figeau. Seu 
belo aspecto lembra Naím, a encantadora cidade da Palestina que no tempo de 
Nosso Senhor Jesus Cristo levava o nome nobre de graça e beleza. A seus pés 
estendem-se vastas pastagens e terrenos que os habitantes cultivam com 
cuidado. 
Construída sobre as alturas da cidade, a Igreja contemporânea de Santa 
Flora é do século XIV. Ela possui obras de arte, no meio das quais estátuas 
finamente esculpidas e painéis de madeiras notáveis. 
 10 
Em 1895, os habitantes de Maurs dedicaram à Santa Flora um sino cujo 
bronze leva esculpida a piedosa súplica em língua latina “Santa Flora, gloriosa 
filha da cidade de Maurs, rogai por nós.” O Vigário atual de Maurs, o cônego 
Guirbaldie, fiel às tradições de seus predecessores conserva o culto de Santa 
Flora. Este digno sacerdote celebra muito piedosamente sua festa cada ano, no 
domingo que segue o dia 5 de outubro. A jornada começa por uma missa de 
Comunhão e no fim da novena por uma Missa solene acompanhada de belos 
cantos litúrgicos. Acaba-se a festa pela procissão com as relíquias da Santa 
que se desenvolve com magnificência através de uma multidão religiosamente 
recolhida e piedosa. 
Em razão de seu nascimento em Maurs, a Santa é inscrita no catálogo 
dos Santos de Cantal. Ela tem sua festa e seu ofício. O Bispo de Saint-Flours, 
S.Excia. Mons. Lecoeur que é rodeado de veneração e da afeição de todos os 
seus, se encontra feliz de ter entre os santos de sua diocese a Santa Flora e lhe 
rende todos os anos muitas e fervorosas homenagens. 
Estas crônicas designam como lugar do nascimento de Santa Flora, uma 
casa da cidade, hoje pertencente à casa de Falvelly, outros lhe dão como berço 
no território de Chaule, o castelo de Marle. Este castelo foi destruído pela 
revolução. Uma gravura inserida nestas páginas representa suas crianças de 
uma família de Chaule.Em baixo o castelo, em ruínas. A menina com seu franco 
sorriso nos parece ser, como uma visão, a Santa Flora quando criança. 
Os pais de Flora, dignos cristãos, possuíam no vale um vasto domínio 
que eles cultivavam. Seu elogio se encontra formulado num trabalho premiado 
pela Academia Francesa, intitulado: O Velho Quercy. O autor, o abade Sol, 
arquivista muito erudito, bispo de Cahors, dotou a diocese de importantes 
trabalhos. Encantado pelo esplendor de Quercy, depois de ter elogiado a Fé 
religiosa de seus habitantes, ele escreve estas linhas: 
“Quem não amará estas paisagens e os ricos vales 
de uma região onde se encontram, a cada passo, o 
lavrador traçando com o arado o campo, e a 
camponesa de cabelos esbranquiçados e longo 
manto azul guardando suas ovelhas? Toda esta 
brava gente laboriosa sabe de uma maneira 
enérgica, disputar sua vida numa terra ingrata. 
 11 
Evocar a graciosa fisionomia de Santa Flora, é 
recordar a lembrança de um grande mestre num 
quadro onde as cores mais ricas e mais variadas se 
apresentam nos traços de uma imortal e soberana 
beleza. Lá, em uma doce luz se refletem e se 
penetram, se fundem e se harmonizam todos os 
matizes da perfeição ideal das grandezas brilhantes 
e as qualidades e os dons sublimes da virtude 
escondida. Fazei reviver esta lembrança e vós 
descobrireis com enlevo os esplendores de um 
magnífico espetáculo.” 
 
 Mas antes de entrar na narração de alguns feitos da admirável vida de 
Santa Flora, lembremo-nos da verdadeira noção de beleza. A beleza se revela 
a nós como o reflexo de um espelho e dos esplendores das perfeições divinas. 
Este esplendor tanto mais brilhante e tanto mais doce e gracioso, nos enleva, 
nos cativa e nos fascina. 
Quem tem, por exemplo, sentido uma viva impressão diante de um 
bosque florido, estes carvalhos antigos, estas faias carregadas de folhagens ou 
os pássaros cantando para São Francisco e trinando alegremente? Tanto é 
verdade que o contato com a natureza que, segundo a expressão de um poeta 
é a vizinhança com Deus, nos enleva e nos emociona. 
São Francisco de Sales no seu Tratado do Amor de Deus nos Diz: “O 
belo é aquilo cujo conhecimento nos satisfaz e nos agrada. O belo, é ainda, o 
esplendor do verdadeiro.” Acrescente-se a ele: a beleza espiritual , moral e 
sobrenatural torna sempre o olhar mais belo, o sorriso mais doce, o tom de voz 
mais harmonioso, a fisionomia mais viva; mostra a elevação da alma superior a 
tudo que deve ter fim. Quanto a beleza física, é um bem efêmero, o mais frágil 
de todos. Semelhantes a certas flores que têm na manhã da vida um certo 
brilho, depois, murcham, secam e desaparecem rapidamente. A beleza moral, 
dizia o Padre Lacordaire “é a harmonia do belo e do verdadeiro em uma lama 
confundindo um com o outro”. A beleza moral é feita no interior por pensamento 
elevados e por palavras delicadas e amáveis no exterior. A beleza moral supõe 
na sua plenitude o esplendor, a ordem e a harmonia. Esta beleza luminosa é 
ainda, feita de lembranças refletidas daquilo que há de divino em nosso interior. 
O Divino em nós e nos outros é a alma imortal, a graça e a amizade com Deus, 
 12 
é a dignidade e a santidade da criatura, imagem de Deus. Quem não ficou 
preso de admiração diante das nobres fisionomias de santos sobre os quais se 
refletem os pensamentos, os sentimentos e as emoções de suas almas 
enamoradas da perfeição cristã? Quem não estremeceu nas profundidades de 
seu coração contemplando religiosamente Aquele que a Sagrada Escritura 
chama “O mais belo dos Filhos dos homens”? 
Jesus é a suprema beleza, pois Ele é a irradiação da glória Divina, não 
só seureflexo, mas seu esplendor. Está em Jesus Cristo a beleza e a 
harmonia do bem e da verdade no esplendor de sua plenitude. Jesus é belo no 
seu aniquilamento, na sua Encarnação e no seu nascimento. Jesus é belo na 
graça de sua infância. Jesus é belo na sua pobreza voluntária, na sua 
obediência devotada ao Pai, na sua paciência admirável, na sua doçura 
inalterável. Ele é belo na brancura de sua pureza, como na púrpura de se 
Sacrifício. Ele é belo na retidão de seus julgamentos como na ternura de seu 
amor. Ele é belo na eloqüência de seus discursos como no silêncio de sua 
Paixão. 
Que diremos agora, da beleza moral da SSma. Virgem? Em que êxtase 
entra Miguel Ângelo diante da candura imaculada da Virgem? Ela é tão bela 
que ninguém pode contemplá-la sem experimentar seu encanto. Que impressão 
não sentiremos diante da incomparável beleza da Rainha de todos os Santos? 
Certamente, diz Bossuet, era conveniente que a Humanidade de Cristo, por 
causa de sua união com a Divindade, resplandecesse com todas as perfeições 
da natureza, como da graça. Ele foi assim privilegiado com uma beleza, de 
alguma forma divina. Maria é tão bela que os Anjos ficam em êxtase diante 
dela. Que digo eu? O próprio Deus se encanta com a Beleza de Maria. Ele a 
compara ao que há de mais gracioso na criação e a considera como a mais 
bela flor do gênero humano e a perfeita imagem de seu Filho. 
Santa Flora experimentou uma imensa satisfação ao contemplar este 
sublime ideal de perfeição. Ela floresceu, pois em beleza para frutificar em 
bondade. 
 
 
 13 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
 
FLORA, A FLOR DA LAREIRA FAMILIAR 
 
A família cristã é um santuário onde nascem, crescem e desabrocham 
corações, nobres e fortes, grandes e generosos. Nascida do sopro de Deus, 
protegida e vivificada pela Igreja, a família guarda como um depósito sagrado o 
tesouro dos princípios evangélicos. Ela guarda por si mesma a saúde do 
mundo. Embalsamada pelo perfume da religião, santificada em sua origem pelo 
sacramento que confere a graça e reabilitada por Nosso Senhor Jesus Cristo, a 
família aparece sobre a terra em todo seu esplendor e majestade do ideal de 
beleza que a graça confere. 
 No santuário familiar, Flora brilha com um vivo clarão e irradia as virtudes 
de Nazaré e espalha os encantos maravilhosos de sua alma. Santa Flora tinha 
o espírito aberto e cultivado sedenta de luz e de verdade, inimiga do erro e da 
mentira. Além disso, ela estava dotada das vantagens da fortuna. Longe de se 
prevalecer de tanto bem, ela os imola à glória de Deus e em proveito dos 
pobres. De uma docilidade perfeita em consideração a seus pais, ela luta 
energicamente contra o egoísmo natural e contra os defeitos inerentes à sua 
idade. 
Os primeiros anos de Flora passaram deliciosamente. Ah! – dizia ela 
mais tarde – como passaram tão rapidamente estes anos ensolarados de minha 
infância! Quão boa e suave impressão deixaram em minha alma! 
Semelhante a São Francisco de Assis, a jovem experimentava uma 
religiosa emoção na presença das maravilhas e dos mistérios da natureza. 
Flora as celebrava em doces melodias e glorificava nelas o Divino artista. A 
 14 
Santa recolhia piedosamente as lições que cada estação lhe trazia: o outono 
com sua melancolia; o inverno, com suas geadas, despertava em sua alma a 
visão severa da passagem das coisas deste mundo e os graves ensinamentos 
do velho Simeão Nun Dimittis; a primavera com suas promessas; e o verão com 
suas riquezas reanimavam nela as esperanças da felicidade eterna. 
Flora vivia feliz nesta terra amada de Quercy que seus antepassados 
tinham fecundado com seus trabalhos, e sobre a qual eles tinham chamado as 
melhores bênçãos de Deus. Admirável espetáculo que oferecia a seus olhos 
límpidos e puros esta região privilegiada e querida do céu, enchia sua alma de 
encantadora alegria. Com efeito, os belos dias inundados de sol, revelavam à 
piedosa menina os campos esmaltados de flores e carregados de frutos a 
vasta campina que se estendia coberta de messes douradas, de prados 
ondulantes de frutos maduros e de carvalhos e faias de aspecto majestosos. 
Vibrando de alegria, a Santa adorava Aquele que sendo o esplendor da 
glória do Pai, o imprime de sua substância e sustenta todas as coisas por sua 
poderosa Palavra. Santa Flora, cujos sentimentos eram tão harmoniosos e tão 
elevados, possuía também toda a delicadeza de uma piedade verdadeira, 
sincera e esclarecida do amor de Deus, de zelo por sua glória e devotamento 
pelo próximo. A Santa estava animada de uma atividade sobrenatural por tudo 
aquilo que se referisse aos interesses superiores da Religião. Este entusiasmo 
sublime de sua alma dava aos seus sentimentos, às suas palavras e às suas 
obras uma suavidade, um vigor e um remate que provocavam em seu redor a 
simpatia, a admiração e a afeição. 
Sempre atenta a dar prazer a Deus, Flora achava no cumprimento de 
seus deveres uma fonte incomparável de felicidade. Ela experimentava por 
Deus, não somente respeito, admiração, mas um completo abandono e uma 
confiança muito filial. Era com estes sentimentos de inefável ternura que ela 
dirigia a Deus a prece por excelência: “Pai Nosso que estais nos céus.” Depois 
elevando sua alma a Santíssima Virgem ela dizia com amor de criança para 
com sua mãe “Eu vos saúdo Maria cheia de graça”. 
O primeiro encontro de sua alma com o Divino Mestre no Banquete 
Eucarístico, foi dos mais doces e consoladores. Admitida muito cedo à Primeira 
 15 
Comunhão ela se preparou com muita piedade e recolhimento e se aplicou em 
crescer em bondade moral. Voltava freqüentemente à Santa mesa para aí 
beber as virtudes e graças necessárias à perfeição de sua alma. Auxiliada pelos 
socorros divinos, ela realiza então, o programa de sua santificação que lhe 
havia traçado seu diretor espiritual, o vigário da Maurs, homem de Deus, 
piedoso e esclarecido. Sinceramente devotada à pessoa de Nosso Senhor 
Jesus Cristo, Flora entrava frequentemente na igreja e se prostrava ao pé do 
altar e adorava profundamente a Deus de toda a bondade que, por seu amor e 
por amor à humanidade, reside no meio de seus filhos sob os véus 
Eucarísticos. Como outrora em Betânia, Maria Madalena escutava as Palavras 
do Mestre, Flora ouvia com fervor os ensinamentos de Jesus e se alimentava 
com a SSma. Eucaristia que lhe aumentava seus sentimentos de amor, fé e 
confiança em Jesus Cristo. Possuidora em alto grau do sentido das realidades 
sobrenaturais, Flora assistia cada dia ao santo sacrifício da Missa e comungava 
freqüentemente. Seu coração era um altar de onde subia incessantemente para 
Deus o perfume de suas adorações de seus louvores e ações de graças. Os 
habitantes de todas as regiões de Quercy não podiam encontrar a jovem santa 
sem amá-la sem submeter-se á sua feliz ascendência que era de uma alma 
radiante e pura. Flora conduzia a piedade às meninas de sua idade e lhes 
inspirava o posto pelas virtudes e as animava na estrada da santidade. Arrasta-
nos ao vosso seguimento -pareciam lhe dizer suas companheiras, empregando 
a linguagem da Sagrada escritura - e nós vos seguiremos ao perfume de 
vossas virtudes. Sólida e forte a piedade de Flora foi como uma alavanca 
poderosa que elevou muito alto as virtudes cristãs das jovens. Os fatos 
narrados nestas páginas rendem um preito de testemunho à vida da Santa de 
Quercy. Severa para si mesma, Flora era indulgente com os outros. Sua 
piedade não impedia nenhum de seus deveres, não era importuna a nenhum 
dos seus e respirava sempre a bondade, a doçura e a amabilidade. Sua 
conversação era agradável simples e afável, mas acompanhada de uma certa 
reserva que inspiravarespeito. Amando, sobretudo falar em Deus, de seu reino 
e de seu serviço, ela deixava sempre a impressão de uma menina piedosa, 
devota e mortificada. Sua piedade era compassiva e condescendente. 
 16 
Percebendo um pobre mendigo, ou sabendo que um doente estava sem 
recursos, logo seu coração se afligia e se aplicava então a procurar socorro e 
remédio e a palavra que deviam aliviar o infortúnio e curar seu sofrimento e 
elevar sua coragem no padecer lembrando-lhe o Divino Crucificado. 
Em resumo, Santa Flora era profundamente generosa, isto é, de sua 
raça, segundo etimologia da palavra e de raça escolhida. Ela realizava em 
plenitude todos os tesouros contidos nesta eminente qualidade. Segundo livro 
da Sabedoria: “Ela manifestava em todas as circunstâncias a glória de sua 
origem”. Ela tinha gravado em seu coração a palavra de São Pedro aos 
primeiros Cristãos: “Vós sois a raça escolhida, o sacerdócio real, a nação santa 
a fim de que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas à sua 
admirável luz”. O cristão - dirá mais tarde Bossuet, fazendo eco às palavras do 
apóstolo - nasceu do ferimento de Cristo, nasceu do amor de Deus. Eis a 
explicação de tudo o que há de grande, de amor generoso na natureza. 
Na medida que avançava em idade, Santa Flora tomava mais 
consciência da grandeza de sua origem e da nobreza de sua raça e esplendor 
de seu nome. Como mais tarde, Joana de Chantal, sob a recomendação de 
São Francisco de Sales, ela agradecerá a Deus cem vezes ao dia em que ela 
era filha de Deus. 
 
Flora, a pequena Irmã Teresa do Menino Jesus, do século XIV 
Surpreendente semelhança liga estas duas santas que transfiguradas 
pelo radioso brilho das amáveis e sublimes virtudes foram, segundo a 
expressão de São Paulo a jóia e a coroa de sua família, do Mosteiro e da Igreja. 
Uma e outra nascem num lar profundamente cristão, rodeadas de afeição, 
solicitude e de excelentes exemplos. Uma e outra têm uma infância piedosa e 
cultivada mais tarde à sombra do Claustro de onde irradia a prece, a penitência 
e a caridade. Uma e outra fazem entrar em sua vida religiosa o sofrimento que 
resgata e expia a prece redentora que ganha e salva as almas, a santidade 
enfim que satisfaz e glorifica a Deus. 
Montalembert, nas últimas páginas de seu belo trabalho Os Monges do 
Ocidente escreve “Mas qual é, pois, este amável e invisível companheiro, morto 
 17 
num patíbulo há 18 séculos que assim atrai a si a juventude , a beleza e o amor 
e que aparece às almas com um clarão luminoso que atrai, ao qual elas não 
podem resistir. É um homem? Não, é Deus. Eis aí o grande segredo, a chave 
deste sublime mistério”. Somente um Deus pode alcançar tal triunfo e merecer 
tal abandono em suas mãos, tal confiança em sua Palavra. Este Jesus, cuja 
divindade é sempre insultada e negada, aprova todos os dias, entre milhares de 
outras provas pelos milagres de desinteresse, de coragem e de abandono o 
que se chama VOCAÇÃO. Ele nos fez de si mesmo e este sacrifício que o 
crucifica não é mais que a resposta de amor humano ao amor de um Deus que 
se fez crucificar por amor de nós. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 18 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 
 
 
A FLOR DA IDADE MÉDIA 
 
Nascida ao alvorecer do século XIV , a piedosa religiosa do Hospital de 
Beaulieu foi uma das mais belas flores da Idade Média. Sob os quentes raios 
desta era, a grandeza de justiça, de fé se abriu em sabedoria, devotamento e 
santidade. 
O século XIII acabava em beleza, depois de ter projetado no mundo 
inteiro o vivo clarão de suas magníficas instituições, de suas admiráveis 
fundações e de sua prodigiosa atividade. Ele foi o século de São Luiz, o rei 
cristianíssimo de 1226 a 1270, governou a França com uma iminente 
inteligência, um profundo amor a seus súditos e uma elevada perfeição cristã. 
Foi em 1235, sob o reinado deste ilustre soberano é que foram 
construídos os edifícios do Hospital de Beaulieu, onde se manifestaram as 
virtudes da humilde religiosa hospitalar de São João de Jerusalém. Entretanto, 
antes de falar mais detalhadamente de Flora, convém traçar um esboço do 
meio histórico onde ela viveu, isto é, a era cristã, chamada Idade Média. 
Na Idade Média, sob influência felicíssima do cristianismo, a sociedade 
toma uma orientação nitidamente religiosa. Tal é a nota característica. 
Profundamente impregnada do pensamento e do senso de Cristo, ela trabalha 
com um generoso entusiasmo e realiza no seu ambiente um sublime ideal que 
o Filho de Deus propôs à humanidade. 
Alimentada excelentemente da admirável doutrina do Evangelho, ela se 
aplica profundamente a marcar todas as suas instituições com o cunho e sinete 
de Deus. Ele forma de qualquer maneira no coração do homem a eminente 
virtude da caridade que apaga as discórdias, mantém a paz e fortifica a união. 
 19 
Em todas as ocasiões ela lembra ao mundo a palavra de ordem do Mestre: 
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. 
“Amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e todo o espírito e ao 
próximo como a ti mesmo”. Este é o primeiro mandamento, mas o segundo é 
semelhante: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. 
Elevada por tal ideal, uma sociedade devia desabrochar aos melhores 
resultados. 
Montalembert no Os Monges do Ocidente consagra belas páginas para o 
estudo da Idade Média. A religião, diz ele, não era relegada a um canto da 
sociedade ou murada com recinto fechado de seus templos ou da consciência 
individual. Ao contrário, convidava tudo a amar a religião, a tudo declarar, a 
tudo penetrar do espírito de vida e depois de ter assistido as fundações de um 
edifício sobre uma base inquebrantável, a mão maternal da Igreja vinha ainda 
coroar o cume de sua inteligência e de sua bondade. A lembrança da redenção 
e a dívida contraída com Deus pelo homem resgatado no Calvário, a incluía a 
tudo e se encontrava em todas as instituições, em todos os monumentos, em 
todas as almas. 
A vitória da caridade sobre o egoísmo, da humildade sobre o orgulho, do 
espírito sobre a matéria e de tudo aquilo que eleva a natureza, sobretudo 
aquilo que se encontra impuro, nela era freqüentemente combatido. Isto 
assegurava outrora, o reino da liberdade da Idade Média. Era o caráter enérgico 
dos homens e das instituições. Tudo aí respirava a sinceridade e santidade de 
vida. Tudo aí era pleno de seiva, de força e de juventude. Um fermento 
generoso e ardente. O bem aí toma parte superior pelos esforços e sacrifícios 
prolongados de uma multidão de almas admiráveis. 
 É preciso concluir que a Idade Média é uma época de sombras e trevas? 
Certamente que não. A virtude e a felicidade não estiveram sempre no mesmo 
nível da Fé? Ao lado de um céu aberto havia sempre o inferno, dizia 
Montalambert. Mas mesmo num quadro de mestre, as sombras realçam mais 
vivamente as cores e suas belezas, assim na Idade Média, algumas fraquezas 
históricas descobrem mais poderosamente o alto valor de seus homens e de 
suas instituições. 
 20 
Jean Guiraud em sua História Parcial e História Verdadeira, denuncia a 
falsa fé de certos escritores que levando ao extremo o desprezo da verdade 
quiseram desconhecer as belezas da Idade Média. Estes homens são de 
lamentar. De uma parte eles são privados das reais satisfações que dão à alma 
enamorada um ideal de verdade e um dos mais atraentes espetáculos; e de 
outra parte, eles ignoram as alegrias espirituais que experimentam os 
historiadores íntegros oferecendo à contemplação de suas leituras as 
magnificências de uma época particularmente gloriosa. 
Numerosos historiadores não partilham de nossas crenças, entretanto 
respeitama verdade e rendem homenagens à grandiosidade das Instituições 
da Idade Média, inspirada pela fé cristã e pelos imensos benefícios que elas 
espalharam no mundo. 
A vida material da Idade Média, a história o atesta, era próspera. Os 
trabalhadores tinham mais satisfações e bem-estar que os de nossos dias. A 
idade Média foi a era dos grandes Papas. Entre eles citaremos Gregório VII e 
Alexandre III que firmaram os direitos da Igreja e reivindicaram sua 
independência dos Estados. Inocêncio III foi um dos Papas mais ilustres da 
Idade Média. Os historiadores param de admiração diante da figura desse 
grande Papa. 
Possuindo em alto grau todas as qualidades de um Chefe Supremo da 
catolicidade, dotado de um perfeito conhecimento dos homens e de um 
admirável talento par ao governo da Igreja, Inocêncio III acrescentava a suas 
altas qualidades morais uma grande piedade e uma profunda humildade ao 
lado de uma vasta ciência. Sobre seu augusto pontificado se realizou o mais 
imponente dos Concílios Ecumênicos, o 4º Concílio de Latrão, em 1215. 
Os padres do Concílio decidiram as cruzadas para libertar os lugares 
santos. Depois, apareceram os decretos relativos às heresias dos tempos e da 
disciplina. Estes últimos decretos são até hoje, a base do direito Eclesiástico. 
Inocêncio III intervinha freqüentemente nos desentendimentos dos 
soberanos para fazer reinar a paz e a concórdia. Foi sob seu reinado que Felipe 
Augusto alcançou em 1214, a célebre vitória de Bouvines contra Otão que 
queria, apesar da proibição do Papa, anexar as Duas Sicílias ao reino 
 21 
germânico. Esta vitória salvou a França e acrescentou visivelmente o poder 
real. 
No meio de tantas instituições da Idade Média mencionaremos a 
Cavalaria que foi a consagração de uma parte da nobreza feudal e a defesa da 
Igreja, dos pobres e dos oprimidos. Uma palavra resume o dever dos 
cavaleiros: HONRA, ou ainda “Faze ainda que doa e venha o que vier”. 
Guizot afirma em uma página de sua História que a cavalaria teve um 
grande papel, o maior e o mais longo que se imagina no desenvolvimento moral 
da França. 
A Idade Média foi a era dos Grandes Santos. Foi com efeito, o 
florescimento de santos, tais como: Santo Anselmo e São Bernardo, no século 
XIII, São Luiz e São Tomáz de Aquino, São Francisco de Assis, São Domingos, 
São Raimundo de Pena Fort, Santa Clara, Santa Elizabete, Santa Brígida, 
Santa Catarina de Sena, Santa Gertrudes, Santa Juliana e Santa Flora de 
Querçy. 
A Idade Média foi a era das grandes ordens religiosas. Citaremos entre 
elas Franciscanos; Dominicanos; Carmelitas; Agostinhos; Cisterciences; 
Monges de Cluny; Ordens Mendicantes; Ordens Hospitalares; Ordens Militares; 
Nossa Senhora das Mercês para resgate dos cativos; e a terceira Ordem de 
São Francisco destinada aos deveres da vida ordinária com a vida religiosa. As 
Ordens mendicantes prestaram à Igreja e à sociedade serviços inapreciáveis. O 
Gênero da Cavalaria, moderna ao serviço de todas as nobres e santas causas 
não possuíam outras almas além da pobreza, penitência e amor às almas. 
Estes institutos era a expressão vivente do Evangelho. No meio delas 
assinalamos as ordens Militares. Essas Ordens nasceram da mesma inspiração 
das Ordens hospitalares da Caridade. Proteger os peregrinos da Terra Santa 
contra os muçulmanos, tal era sua função. A primeira em ordem cronológica foi 
a dos Cavaleiros de São João de Jerusalém. 
Distinguiam-se aí três categorias de religiosos: os cavaleiros para defesa 
armada dos peregrinos e de todos os cristãos; segundo, os Sacerdotes para 
culto; terceiro, os irmãos e irmãs devotados ao serviço dos enfermos; e outros 
ao serviço dos cavaleiros nas expedições militares. Pois como veremos, para o 
 22 
Hospital Beaulieu, uma congregação de religiosas foi fundada sob o mesmo 
nome para o cuidado dos pobres e dos doentes. 
A Idade Média foi a época das Corporações. Nesta época, os grupos de 
trabalhadores colocavam seus trabalhos e seus interesses sob a garantia do 
juramento religioso e sob a proteção dos Santos. A Corporação era uma 
verdadeira família onde reinava a afeição, a concórdia e a paz. 
A idade Média foi a Era dos grandes devotamentos e dos generosos 
sacrifícios. Ao grito de DEUS O QUER, os Senhores e os povos cristãos se 
lançavam em socorro de seus irmãos oprimidos na Palestina, rivalizando em 
coragem para resgatar das mãos dos muçulmanos o Santo Sepulcro. 
Sob o comando de Monfort, em 1212, realizou-se a batalha decisiva de 
Muret que assegurou a vitória da fé contra a invasão de Islan. 
A Idade Média foi a Era dos grandes teólogos. Foi na Idade Média que 
Dante Aliguieri, célebre poeta italiano, elevou com a Divina Comédia, o edifício 
grandioso da epopéia teológica. Foi a Súmula de S. Tomáz de Aquino, 
chamado o Doutor Evangélico, o “Anjo das Escolas”. A Súmula é um código 
completo de erudição filosófica e religiosa. Santo Tomáz foi e continua sendo o 
grande luzeiro da Igreja Católica. Verdadeiro gênio, ele trata dos maiores 
problemas religiosos com uma claridade junto a uma profundidade e uma 
grande precisão nos termos, uma lógica rigorosa e uma exatidão perfeita da 
doutrina cristã. 
Entre tantos escritores, muitos mereceram serem particularmente 
nomeados: Alberti, o Grande (1193 –1280),da Ordem dos irmãos Predicadores; 
Jean Duns Scot (1266- 1308), da Ordem dos Frades Menores, doutor sutil, 
assim nomeado devido à sagacidade de seu espírito; Roger Bacon (1214- 
1294), da Ordem dos Frades Menores, chamado Doutor Maravilhoso que 
avançou os séculos e foi um profeta científico das idades seguintes; São 
Boaventura, da Ordem dos Frades Menores, chamado Doutor Seráfico; 
Alexandre de Halés (1245), da Ordem dos Frades Menores de uma grande 
reputação de saber, chamado Doutor Irrecusável. 
A Idade Média foi a Era das grandes Catedrais revestindo o mundo com 
o branco adorno das Igrejas destes maravilhosos edifícios que constituem o 
 23 
mais precioso tesouro de nosso patrimônio artístico. As Igrejas da Idade Média 
com a elegância de suas colunas, a espessura de suas muralhas e a majestade 
de suas cúpulas, a harmonia de suas linhas e o acabamento de seus detalhes e 
com as obras-primas que eles encerram, merecem seguramente serem 
classificadas entre as mais belas jóias da arquitetura mundial. Inclinamo-nos 
com respeito diante do gênio que as concebeu e o talento que as executou e a 
fé que as inspirou. Isto é a manifestação de uma civilização profundamente 
cristã. 
Estas Igrejas se apresentam a nós como a expressão religiosa da Idade 
Média, esta foi a Era das Universidades, isto é a datar de Luiz, o Santo Rei da 
França. Foi nessa época que fundaram as universidades. Os Soberanos 
Pontífices favoreceram seu desenvolvimento e estabeleceram a seu lado 
numerosos edifícios para colégios. No meio deles o mais célebre, o mais antigo, 
o de Sorbonne, fundado em 1252, pelo Cônego Roberto Sorbon, da Catedral de 
Paris e amigo de São Luiz. A Universidade de Paris, a mais antiga, a mais 
sábia, a mais gloriosa das universidades da França teve seu berço na Igreja de 
“Notredame” e Abadia de Santa Genoveva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 24 
 
 
CAPÍTULO 4 
 
 
A FLOR DO HOSPITAL DE BEAULIEU 
 
Sob os raios ardentes da graça divina, a querida Santa na primavera da 
vida espalhou em torno de si o delicioso perfume de suas virtudes familiares. 
Seu coração era um desses lugares abençoados onde cresciam as flores e se 
desenvolviam em frutos saborosos de suas delicadezas, Floresceu em beleza 
para frutificar em bondade, esta foi a vida de Santa Flora. 
Os pais da jovem preocupados com o seu futurotinham formado a seu 
respeito projetos de casamento. Mas logo que eles lhe participaram de seus 
projetos, Flora lhes respondeu imediatamente: “Eu jamais procurarei outro 
esposo, senão Jesus Cristo. Eu desejo me consagrar a seu serviço. Eu vos 
peço, colocai-me em um Mosteiro onde eu possa responder ao chamado 
divino”. 
Os pais eram muito cristãos para se opor à realização de um voto tão 
sublime. Eles se inclinaram, pois, a ceder, embora a separação lhe fosse muito 
amarga. Eles favoreceram do melhor modo possível, a vocação de sua filha 
bem amada. 
Deus devia transportar essa flor para despontar em um de seus jardins 
onde floresceria a santidade. 
Quanto à afeição de Flora a seus pais, sempre foi crescendo. Ela não os 
esquecia em suas preces e nada levou vantagem ao sentimento filial que lhes 
demonstrou sempre, mas fez a renúncia total de viver com eles e de todas as 
vaidades terrestres. 
Foi no ano de 1358, sob o Pontificado de Bento XII (1334- 1342), que 
Flora bateu às portas do Hospital de Beaulieu. Ela foi acolhida como uma jóia e 
admitida nas filas das postulantes. Logo que entrou no Mosteiro, Flora se 
 25 
entregou totalmente à vida de prece, de penitência e de caridade que ela tinha 
escolhido sob a inspiração do Altíssimo. 
As origens do Hospital de Beaulieu são as mais nobres. Relembrá-las é 
recordar as grandes lembranças que ficaram dessa época. 
No século III, viviam muito cristãmente em seu castelo, Guibert de 
Themines e sua esposa Aigline. Seu domínio compreendia as duas comunas 
atuais de Issendolus e de Themines com seu povoado, e mais o território 
chamado LePech-Vilange que compreendia o hospital Teulières e o moinho de 
vento, isto é, o lugar e seus arredores imediatos ao mosteiro. 
Muito desejosos de fazer uma boa obra, os piedosos castelães 
alimentavam uma magnífica idéia: Erigir um hospital com sua capela, uma casa 
de caridade onde os pobres, os doentes seriam cuidados, socorridos e 
consolados, segundo o pensamento de fé do Evangelho. Foram esses 
pensamentos que inspiraram os dignos castelães de Thémines a realizar esta 
admirável fundação. 
Todos os dias à porta de seu castelo desfilavam longos cortejos de 
misérias humanas. Um vasto hospital servido por cristãos de coração dedicado 
e desinteressado devia tomar neste lugar eminentes serviços de caridade. Um 
outro motivo levou igualmente os generosos castelães pôr seu projeto em 
execução: seria esse hospital edificado sobre uma estrada mito freqüentada 
por peregrinos, que se tornavam numerosos ao correr dos anos, aos santuários 
muito venerados tais como de Roma, Jerusalém, São Tiago da Compostela, e o 
túmulo de Martim, RocAmado, O edifício projetado devia oferecer a esses 
peregrinos o socorro de uma benevolente hospitalidade. 
O Bispo do lugar, Pons d’Antejac, felicitou calorosamente os castelães, 
os encorajou e abençoou seu belo projeto, cuja execução durou o período de 
1235-1253. 
Foi no reinado glorioso de São Luiz que se elevou o vasto e magnífico 
edifício do Hospital de Beaulieu. 
Os piedosos castelães agruparam em redor dele personagens ávidos de 
espalhar o bem e a continuar a mais grandiosa obra de caridade.Durante 
quinze anos, eles se dedicaram sem calcular despesas sem se cansar, eles se 
 26 
doaram sem enfraquecer no serviço dos pobres, dos doentes e peregrinos. 
Nenhuma ambição terrestre se apoderou deles, afirmam as crônicas. Eles se 
consagraram sem reservas ao cuidado dos humildes e dos doentes aspirando 
unicamente reinar com Deus por ter tido piedade com seus pobres. Mas se o 
coração dos castelães de Thémines e de seus colaboradores eram sempre 
generosos, suas forças físicas enfraqueciam. Foi por isso que quiseram 
assegurar o futuro dessa casa Evangélica. Os Senhores de Thémines fizeram 
um apelo à Ordem de São João de Jerusalém que era hospitalar, para tomar 
conta do hospital. 
No dia 19 de julho de 1259 na Abadia de Eigene, Guibert de Thémines e 
sua esposa Aigline assinaram um ato de doação em favor da Ordem de São 
João de Jerusalém. A abnegação da qual os senhores de Thémines deram 
prova, nestas circunstâncias manifestavam altamente em homenagem às suas 
vistas sobrenaturais e seu perfeito desapego das riquezas do mundo e uma 
profunda piedade cristã. Retirados em seu castelo ali viveram alguns anos 
dando sempre o belo exemplo de sua vida cristã. 
Quanto à Ordem Hospitalar de S. João de Jerusalém, recebeu com não 
menos espírito de fé, o magnífico patrimônio da caridade que lhe foi legado tão 
generosamente e honrou a seus doadores. Sob excelente administração da 
Ordem de São João de Jerusalém, o Hospital Beaulieu viveu mais de cinco 
séculos. 
O mosteiro foi restaurado no século XVII por duas pessoas de qualidade: 
tia e sobrinha, Dama Galiote de Vaillac que teve um priorato de 64 anos, e 
Galiote de Sainte-Anne. Elas foram tanto uma quanto a outra, educadoras 
maravilhosas e mestras perfeitas na vida religiosa plena de vida e de fervor, de 
devotamento ao Hospital de Beaulieu que produziu durante muitos séculos os 
mais assinalados serviços de caridade. Foi nesta ardorosa atmosfera de vida 
religiosa que se desenvolveu piedosamente a vida de nossa santa. A prova de 
postulantado terminou. Flora foi admitida ao Noviciado e vestiu o hábito das 
Irmãs da Ordem de São João de Jerusalém. Sua alegria foi completa de 
pertencer à Ordem que tinha como Padroeiro São João Batista, o precursor de 
Cristo. Ela honrava igualmente em seu culto religioso a São Evangelista, o 
 27 
discípulo amado, o apóstolo da Ceia Eucarística. Muitas vezes, Flora meditou 
esta passagem evangélica, penetrada de unção, piedade e de amor 
considerando o discípulo amado repousando sobre o Coração do Mestre, sentir 
as palpitações e segredos divinos e recolher as ternas efusões que brotariam 
do coração de Cristo. 
A propósito destas pequenas virtudes tão bem praticadas pela piedosa 
noviça, São Francisco de Sales dirá mais tarde: 
“Cada um quer ter virtudes brilhantes, a fim de que sejam 
vistas de longe e que sejam admiradas por todos. Muito 
poucos se apressam a colher os grãos que crescem ao pé 
da cruz. Não se faz quase caso destas pequenas 
condescendências aos desagradáveis humores do próximo 
e ao sofrimento oculto que causa uma mal humorada 
fisionomia, a este amor de abjeção que nos faz suportar 
uma preferência mal fundada e uma pessoa importuna e 
responder agradavelmente a quem nos repreende com 
agressividade”. 
 
Tudo isso parece pequeno aos que não fazem caso de virtudes 
pequenas aos que só admiram virtudes enérgicas revestidas de reputação. 
Assim, sob os mais felizes auspícios começava Flora esta bela vida pela qual 
tanto tinha sonhado em dias anteriores. Sob o véu religioso e o hábito de burel, 
Flora conserva sempre a graça de sua fisionomia, seu doce sorriso e a 
juventude de seu coração. Esquecendo os ruídos do mundo, por um incessante 
diálogo com o Divino Mestre, ela se oferecia generosamente em holocausto 
para conversão dos pecadores e se imolava à glória de Deus para suprir a 
ingratidão dos homens pecadores. 
Flora sentia vivamente que sua vocação a chamava a fazer uma obra 
reparadora e indenizar Deus dos ultrajes que Ele recebia da parte dos homens. 
Com este fim e por sua profunda devoção a Jesus Hóstia ela se esforçava para 
render à Divina Majestade, tanta glória quanto o pecado lhe roubara. A grande 
devoção de Flora foi o Santo Sacrifício da Missa. Ela tinha consciência do seu 
valor infinito. 
Aplicada a recolher piedosamente seus grandes pensamentos que tirava 
da vida dos Santos, era como um perfume que lhe inundava a alma. 
Contemplando com êxtase a perfeita unidade que agrupa à Missa a Igreja28 
Triunfante, a militante e a padecente, ela percebia o brilhante esplendor da 
inefável Doutrina do Corpo Místico de Cristo. A vida de Santa Flora sustentada 
por uma imensa devoção à Eucaristia não podia ser mais que intensa vida 
religiosa ardente se fecunda. Um santo - dizia o Padre Mateus - é um cálice 
cheio de Jesus o qual ao encher-se em demasia transborda para o mundo. 
Flora era esse cálice. Não havia mais que uma voz em todo o Mosteiro para 
louvar altamente sua grande solicitude no serviço de Deus e dos enfermos. 
Pela pureza e limpidez de sua alma, Flora era uma viva imagem dos anjos na 
terra. 
Santo Agostinho dizia que as virgens têm na carne qualquer coisa de 
anjo, e que não é carne, é a sua alma transparente de limpidez, isto pode se 
aplicar a Santa Flora. Seu noviciado foi para ela um período de preparação às 
graves obrigações de sua profissão religiosa. Sem perder tempo ela pôs à obra 
e fez rápidos progressos nas virtudes de seu santo estado. Obedecer, apagar-
se, ser esquecida e passar despercebida tal foi o sonho de Flora. Esforçar-se 
cada dia para crescer em humildade, obediência e caridade tal foi sua grande 
obra. Glorificar a Deus e trabalhar para o reino de Cristo por uma vida de prece, 
de recolhimento, de trabalho e de penitência, de zelo e de devotamento, tal foi a 
nobre ambição de sua alma. 
 No noviciado, Flora completa sua instrução religiosa por um estudo 
profundo das Verdades da Fé. Ela gravou em seu coração estas palavras de 
Nosso Senhor a seu Pai: “Pai Santo, a vida eterna consiste em conhecer um só 
e verdadeiro Deus e conhecer Aquele que vós enviastes: Jesus Cristo. 
Flora, por um trabalho assíduo encheu sua alma desta ciência divina. 
Mas este estudo de Deus, de suas revelações, de sua Igreja, longe de ficar nela 
em estado especulativo, provocou o desabrochamento de todas as faculdades 
de sua alma. Isto foi o princípio de uma prece mais fervorosa, de um amor mais 
intenso para com Deus. 
Chegou, enfim a hora a hora tão esperada de sua profissão, Flora então, 
possuía a ciência que se volta par ao amor. "Magnífica é a porção da herança 
que me coube”, tal foi o grito de alegria e de reconhecimento que se escapou 
de seu coração cheio de emoção ao anúncio que ela era chamada a este 
 29 
grande fervor. Pronunciar seus votos solenes que deviam prendê-la 
irrevogavelmente ao serviço de Deus. Não era isto então, seu imenso desejo? 
Para Flora, fazer profissão religiosa era tornar-se uma coisa santa, santa como 
o tabernáculo, onde reside o Verbo Eterno, santa como o cálice sagrado onde 
na Santa Missa fica o sangue de Cristo pelo Sacramento da Eucaristia. 
O dia da profissão religiosa foi para Flora o dia mais feliz de sua vida. No 
sentimento de sua felicidade, empregando a linguagem da Santa Escritura, ela 
exclamou : “Deus das virtudes, como vossos Tabernáculos são amáveis! 
Vossos altares, Senhor, eis único asilo que meu coração deseja. Vós sois o 
Deus de minha alma, minha porção por toda a eternidade”. 
O humilde hábito de sua Ordem que ela tinha alegremente recebido na 
sua entrada ao Noviciado deveria sempre ser para sua alma religiosa o símbolo 
amado das altas virtudes da pobreza, obediência e castidade que ela devia 
perfeitamente praticar. 
Santa Flora se pôs muito docilmente, sob a dependência da regra 
religiosa que ela sempre estimou com muito respeito. A regra é o grande 
instrumento da santidade porque aquele que a ela se submete, sabe em todas 
as horas do dia qual é a Vontade de Deus. A regra chama constantemente aos 
membros do Instituto, a lei da abnegação, do sacrifício e da imolação de si 
mesmo. Ela persegue e combate o egoísmo, o amor próprio, a inconstância e a 
negligência, a natureza com suas paixões. Ela não deixa nada e não abandona 
a nenhum instante à fantasia, ao capricho, ao humor, à impressão do momento, 
à ligeireza e a precipitação. Admirável mistura de doçura e de força a regra 
desenvolve e faz crescer todas as virtudes. Ela fornece aos membros da família 
religiosa os meios mais eficazes para lhes fazer adiantar e crescer em todas as 
virtudes no serviço de Deus. A Regra é como um muro de defesa que preserva 
os religiosos dos perigos e os coloca ao abrigo das surpresas do demônio. Esta 
é a Regra que conserva em cada Instituto a sua fisionomia própria seus traços 
característicos, seu carisma, seu espírito de família. Ela conserva o fervor e a 
caridade, a disciplina e a edificação. 
A Regra, diz um autor, é como um molde experimentado e aprovado ao 
qual são colocados e provados os elementos diversos que se apresentam para 
 30 
fazer parte do Instituto e de onde eles saem com a forma e a constituição 
definitiva, as sombras e as cores especiais que lhes convém. No seu livro O 
Cristo Ideal do Monge, Dom Columba Marmion, diz estas palavras: 
 “Obedecer é se elevar, porque reconhece uma só 
autoridade diante da qual todas as nações devem se 
abaixar em adoração. Servir a Deus é reinar, é se levantar 
acima de todos os contingentes humanos até o Ser 
Supremo e Soberano Deus, isto é verdadeiramente ser 
livre, ser forte, ser grande, porque não é escravo de 
nenhuma criatura por elevada que ela seja.” 
 
 Dom Marmion acrescenta, “não há mais que a fé, uma fé viva e ardente 
que possa nos elevar a esse nível e aí nos manter”. 
É nessa direção destes cumes altos e radiosos que se elevou 
rapidamente a grande Santa de Quercy. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 31 
 
CAPITULO 5 
 
 
A FLOR DO CALVÁRIO 
 
Toda grandeza está incompleta se ela não está rematada com o 
sofrimento ligado à virtude. Este acabamento de sua beleza, Deus queria dar à 
sua piedosa serva. O sofrimento é a consagração sangrenta e costumeira de 
toda eminente virtude. Ela é a participação ao sacrifício supremo de Nosso 
Senhor Jesus Cristo, às suas expiações e à sua Redenção. 
Santa Flora, pois devia entender no íntimo de sua alma as mesmas 
palavras que o Anjo Rafael dirigiu a Tobias: “Porque vós sois agradáveis a 
Deus é necessário que o sofrimento vos prove”. 
Mons. Hulst em seu magnífico panegírico da bem aventurada Maria 
Luisa de França, a religiosa carmelita de Saint-Denis e irmã de Luiz XV, disse 
estas palavras: “É um mistério par anos a solidariedade que admite as almas 
inocentes se substituírem aos culpados, na reparação de seus excessos”. 
Toda religião cristã está fundada sobre esta economia redentora. A 
virtude do sacrifício redentor ilumina as vítimas voluntárias que o amor insiste 
em acabar nelas o que falta ao sofrimento do Verbo encarnado. Certamente a 
Paixão de Cristo é superabundante, mas em vista do Dogma do Corpo Místico 
de Cristo. Cristo vive em cada um de seus membros e remata em sua carne 
seus próprios sofrimentos. 
Três motivos, com efeito, obrigam os cristãos a fazer penitência: o 
primeiro é a justiça face a Deus. A teologia nos ensina que o pecado exige em 
justiça uma reparação. Esta reparação consiste em render a Deus, na medida 
em que podermos, a honra e a glória da qual nós o privamos pelo pecado. Esta 
reparação deve ser tanto mais extensa quanto maiores e numerosas forem as 
faltas graves. O segundo motivo, resulta da nossa incorporação ao Cristo, esta 
existe em efeito na comunidade de vida com Jesus Cristo e nós. “Eu sou a 
vinha e vós os ramos”, dizia um dia Nosso Senhor a seus discípulos. Daqui é 
 32 
fácil passar a concepção do Corpo Místico. Jesus é a cabeça deste Corpo e nós 
somos os membros. O Apóstolo São Paulo, desenvolvendo de uma maneira 
admirável esta sublime doutrina dizia aos seus habitantes de Corinto: “Vós sois 
o Corpo de Cristo se um membro sofre todos os membrossofrem com ele, ou 
se um membro é honrado, todos os senhores se regozijam com ele”. 
Nosso Senhor Jesus Cristo, se bem que impecável, tomou sobre Si 
como chefe do Corpo Místico, o peso e a responsabilidade das faltas de todos 
os homens. Ele se oferece todos os dias como Hóstia de reparação. Sua vida 
foi, segundo a expressão da Imitação de Cristo, cruz e martírio. Os Cristãos 
para serem purificados têm o dever de se unir ao seu sacrifício, de participar de 
sua paixão e de se conformar com sua Imagem. Nada falta à integridade do 
sacrifício de Jesus Cristo porque sua paixão foi superabundante em méritos e 
toda poderosa em eficácia. Mas, sendo o Divino Redentor chefe de uma Igreja 
da qual somos membros uma harmonia se impõe entre o chefe da Igreja e seus 
súditos, entre o Corpo e seus membros. “Eu completo em minha carne - diz São 
Paulo - o que falta aos sofrimentos de Cristo, pelo seu Corpo que é a Igreja”. O 
terceiro motivo de penitência é caridade, em respeito ao próximo. O Pecador 
recebe o perdão de Deus e fica ainda a sofrer as penas mais ou menos longas, 
segundo a gravidade de suas culpas. 
Ora, a expiação nesta vida, segundo o sentir de todos os teólogos, é 
mais fácil e mais fecundo. Os cristãos são todos os irmãos e solidários uns com 
os outros. Expiar por seus irmãos, satisfazer por eles a fim de obter, seja em 
conversação, seja sua perseverança, é melhor serviço que se possa fazer aos 
outros. 
Tertuliano, esse grande gênio do III século dizia: “A penitência é 
felicidade e a beatitude do homem”. Longe de ser um paradoxo, esta frase é 
uma alta verdade. 
Todos os Santos, como Santa Flora, gozavam no meio de suas 
penitências uma alegria profunda e uma paz inalterável junto a uma confiança 
em Deus muito consoladora. Isto é um fato de experiência, pois ao entregar-se 
à penitência e mortificação nos enchemos da alegria do Espírito Santo. Os 
apóstolos superabundavam de gozo no meio de suas atribulações. 
 33 
O amor de Santa Flora por Nosso Senhor Jesus Cristo provocou sempre 
nela, a respeito da cruz e do sofrimento, uma imensa generosidade, 
considerando a morte de Jesus na cruz, o ponto culminante de sua vida e a 
hora solene que Ele lança por terra Satanás, o mundo e o pecado. Santa Flora 
caminhou piedosamente pela estrada do sacrifício. Chamada à honra de 
colaborar e de participar da grande obra da Redenção, a Santa religiosa subiu 
com esforço o áspero caminho do Calvário aceitando voluntariamente e mesmo 
alegremente as tribulações exteriores e interiores. 
Satanás, inimigo de toda santidade, devia com efeito, apresentar terríveis 
e violentos assaltos contra este anjo de pureza e de piedade que era a Flor do 
Hospital de Beaulieu, mas ele encontrou sempre uma alma invencível, como 
uma fortaleza inexpugnável. Multiplicava seus ataques violentos à medida que 
era vencido miseravelmente, então ele desencadeava sobre ela odiosos 
artifícios. Ele sugeria dúvidas sobre sua vocação e representava a loucura dos 
votos religiosos, animava a voltar ao mundo, onde lhe esperavam os 
verdadeiros prazeres. Os ataques de Satanás hipocritamente conduzidos 
fizeram cruelmente sofrer Santa Flora, mas longe de abalar sua coragem, 
consolidaram sua confiança em Deus. 
Uma grande prova foi para Santa Flora, a de causar a suas Irmãs 
profunda aflição. Como elas não tinham a chave do mistério de suas lágrimas, 
viam com tristeza e compaixão a sua piedosa companheira, antes tão alegre, 
agora mergulhada num mar de sofrimentos. 
Flora as ouvia implorando socorro da Virgem Maria dos Santos do 
Paraíso, porém longe de se justificar e falar dos violentos ataques do demônio, 
Flora calava oferecendo generosamente a Jesus Crucificado toda amargura de 
sua dor. 
Nosso Senhor teve piedade dela e a reconfortou com freqüentes 
aparições. Durante três meses, dizem as crônicas do tempo, Jesus apareceu à 
sua piedosa serva diante do parlatório do Mosteiro. A Igreja de Issendolus 
possui um quadro em alto relevo que representa Jesus aparecendo à Santa 
Flora. Coroado de espinhos curvado sob o peso da cruz que Ele sustenta em 
 34 
suas mãos, sua fisionomia amortecida, coberta de sangue, o Cristo sofredor fixa 
com ternura seus olhos sobre sua piedozíssima e fiel serva. 
Ajoelhada sobre a laje do claustro, Santa Flora contempla com enlevo a 
sublime visão, enquanto ela escuta no fundo de sua alma a voz do Pai, 
chamando-lhe com doçura que ela era predestinada a tornar-se conforme a 
imagem de seu Filho. Eis em que termos Monsenhor Abadae Amadieu 
descreve as visões da Santa: 
“Diante do parlatório, à direita do claustro, onde um 
Anjo está pintado na abóbada, durante três meses, Jesus 
apareceu à piedosa Flora. Do lugar em que ela viesse, da 
igreja, do dormitório ou do refeitório, ela via Jesus morto e a 
fisionomia em lágrimas olhando para ela. As torturas da 
Paixão suportadas por nós pecadores a penetravam”. 
 
O ardor de sua piedade compadecente lhe dava impressão de levar em 
seu coração Deus Crucificado, a ponto de sentir o braço da cruz a dilacerar e 
transpassá-la de dor. Flora morreu consumida de amor. Não tendo conhecido 
mais que um amor, nem mais que uma ciência, a do amor a Jesus, só de Jesus 
crucificado. Ela foi uma vítima de amor em resgate dos pecadores. Quando 
Flora experimentava o sofrimento e se achava nas trevas, ela dizia: “Eu sei que 
Jesus me olha com um olhar cheio de amor. Isto me basta”. 
O Calvário que subiu Santa Flora foi para ela uma grande escola de 
amor compadecente. Sua vida consagrada a aliviar todos os miseráveis o prova 
altamente. 
 Servindo-se das palavras que um poeta latino pôs sobre os lábios de 
uma mulher sofredora de cruéis provas, Santa Flora podia dizer com toda 
sinceridade: “Não ignorando o sofrimento eu aprendi a socorrer os 
desgraçados”. 
 
 
 
 
 35 
CAPÍTULO 6 
 
 
A FLOR DO AMOR DIVINO 
 
Nosso Senhor dizia um dia a seus discípulos: “Eu vim trazer fogo à terra 
e o que quero eu senão que ele arda e os ilumine?” 
Este fogo do amor de Deus que o Salvador tinha iluminado a alma de 
Santa Flora, provocou nela uma chama ardente e brilhante. Ela desejava 
vivamente que Deus fosse conhecido, amado e servido por todos os homens e 
para isso trabalhava todos os dias pelo exemplo e boas obras. Repetia 
diariamente com um novo fervor as sublimes palavras da oração dominical: “Pai 
Nosso que estais no céu que Vossa vontade seja feita na terra como no céu”. 
Ela conservava piedosamente em seu coração este amor a Deus que São 
Francisco Sales chamava “amor de bem-aventurança”. Seu amor, contrário às 
afeições egoístas, era centralizado em Jesus, do qual ela contemplava e 
meditava sem jamais se cansar as suas incomparáveis grandezas e as infinitas 
perfeições, as inefáveis delicadezas e as adoráveis misericórdias. Este 
espetáculo soberanamente atraente, penetrava em sua alma como a mais 
suave satisfação de prazer. Sobressaltava de alegria e prodigalizava a Deus os 
mais sublimes louvores. 
Ela traduzia seus sentimentos de piedade filial com sua alegria e suas 
Irmãs estavam profundamente maravilhadas de sua atitude sempre bem 
disposta e alegre. 
Qual deve ser a extensão de nosso amor para com Deus que nos 
prodigalizou tantos benefícios e tão insignes atos de bondade misericordiosa 
semeou em nossa vida? São Bernardo responde nestes termos: “A medida de 
amar a Deus é amá-Lo sem medida. Compreendeis - dizia ainda ele - que por 
uma bondade toda gratuita, apesar de sua infinita grandeza , dignou-se amar-
nos, primeiro, a nós criaturas ruins e miseráveis, então vemos que nosso amor 
por Ele não deve ter limites”. Tal era seguramente o amor de Santa Flora por 
 36Deus, um amor sem medida. Ele não era para ela um sentimento vago e 
impreciso, mas um fogo ardente de energias. 
Alimentada pela contemplação dos atributos de Deus, pela meditação e 
oração, seu amor tornava-se cada dia mais vivo, mais terno, mais ativo. 
“Elevai-vos vozes da natureza” - devia exclamar Santa Flora, como 
outrora Santo Agostinho, diante dos esplendores da obra da criação – “elevai-
vos ecos sublimes de infinitas bênçãos, vozes eloqüentes de todos os seres, 
elevai-vos até o trono de Deus! Aclamai e retumbai louvores místicos, santos e 
brilhantes harmonias da criação, é ela a beleza substancial e a amabilidade 
infinita!” É por ela que é preciso amor o Criador. O amor de complacência, pelo 
qual Santa Flora se regozijava de ver Deus que ela amava, tão perfeito, tão 
belo e tão bom. Ela se alegrava com um tão grande amor de condolência e de 
compaixão. Afligia-se dolorosamente pelos ultrajes que o pecado faz a Deus. 
Santa Flora partilhava plenamente dos sofrimentos de Nosso senhor Jesus 
Cristo na sua paixão e morte na cruz. 
Ao correr do ano 1347, ainda no Hospital Beaulieu cumpria sua missão, 
com toda sua magnificência Flora caiu perigosamente doente. Durante vários 
meses, presa de vivos sofrimentos, a Santa não se afastou jamais de sua 
paciência, de sua doçura e de sua serenidade. Aceitando heroicamente os 
males que a atormentavam rezava sem cessar e fixando seu olhar sobre Cristo 
Crucificado, a Bem-aventurada se oferecia a Deus em holocausto pela 
conversão dos infiéis, dos incrédulos e dos prevaricadores. 
Dirigindo-se aos pecadores, o Padre Lacordaire dirá mais tarde estas 
solenes palavras: 
“Deus vos encheu de seus benefícios por toda 
eternidade e vós profanastes a graça. Ele vos deu como um 
vaso de ouro o vosso corpo todo puro e dessa obra prima 
saída de suas mãos amorosas Ele pôs uma luz viva, cujos 
raios têm afinidade com seu próprio brilho, mas vós, filhos 
ingratos, fugistes de seu amor gratuito desse amor que só 
pedia correspondência de vossa parte, mas vós 
concentrastes sobre vós mesmos, vós fechastes os vossos 
olhos para não ver e vossos ouvidos para não ouvir e não 
entender a voz de vosso Criador e Deus que vos amava...” 
 
 37 
Deus pensou ter feito ainda pouco pelos homens e desceu do céu, veio 
às sombras deixadas pelo pecado. Ele veio colocar diante do homem sua 
Pessoa, sua Palavra, seus Atos, sua Vida para resgatar totalmente a culpa do 
homem e de toda a humanidade. Ele, o Filho de Deus feito homem, entrega-se 
a seus inimigos e voluntariamente morre crucificado entre dois ladrões sob os 
olhos dos homens que por suas próprias mãos O crucificam. Assim, movidas 
por uma imensa caridade, almas da elite, entre as quais está Santa Flora, 
elevam aos céus suas fervorosas preces e seus ardentes atos de adoração ao 
Senhor e por seus atos de reparação e desagravo pedem perdão a Deus 
lembrando as Palavras de Cristo na Cruz: “Pai perdoai-lhes, porque não sabem 
o que fazem”. O Pai misericordioso, apesar da ingratidão de seus filhos, ouve a 
prece dessas almas fervorosas e lhes concede suas graças. 
Eis aqui um traço que relatam os cronistas do Hospital de Beaulieu. 
“Perto do Mosteiro, vivia um homem de nome 
Guilherme, pecador escandaloso. Qual não foi o espanto do 
Padre Esmoler do Convento quando ele viu vir a ele, 
penitente e contrito, aquele que era a calamidade da 
cidade: 
- Por amor de Deus, Padre, quereis me ouvir em confissão? 
Parece-me que se eu disser meus pecados ao Padre, Deus 
me perdoará. 
O monge cheio de piedade acolheu com misericórdia o filho 
pródigo que até a sua morte edificou a comunidade por sua 
vida honesta e piedosa”. 
 
No momento dessa conversão, Flora tinha sob seus olhos uma visão 
maravilhosa que lhe representava toda alegria do céu pela conversão desse 
pecador. Um anjo lhe disse: “hoje o pecador Guilherme confessou todos seus 
pecados e foi absolvido e recebeu a graça de Deus, eis a causa da alegria no 
céu”. 
Do fundo de sua solidão amada, onde escondia suas virtudes 
sobrenaturais, Flora expandia seu coração em inesgotáveis súplicas pelos 
pecadores, semelhantes aos pára-raios que se encontram em cima dos 
edifícios para preservá-los dos raios. Assim, as orações de Flora preservavam 
as tempestades e desarmava a justiça soberana de Deus. Semelhante ainda, 
às cidadelas construídas nas alturas para a segurança dos povos, assim o 
 38 
coração de Santa Flora, verdadeira fortaleza espiritual que se dirigia, por assim 
dizer, do homem revoltado para quebrar seu ódio, dobrar sua vontade e 
transformar o seu interior e levá-lo para Deus. Semelhante, enfim à água que 
descendo das montanhas se infiltra na terra e a fertiliza, os favores celestes 
desciam da alma fervorosa de Flora para se espalhar em seguida sobre o 
mundo, santificá-lo e ganhá-lo para Deus. Santa Flora realizava 
verdadeiramente as palavras de São Paulo dirigida aos fiéis de Corinto: “A 
caridade nos oprime para viver não para nós, mas para Cristo que morreu e 
ressuscitou por nós”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 39 
CAPÍTULO 7 
 
 
A FLOR DO PARAÍSO 
 
Flora olhava a terra como um lugar de exílio e aspirava com toda sua 
alma para os bens eternos da Cidade de Deus. Contemplar a Deus face a face, 
admirar a imensidade de sua beleza e bondade, a grandeza de todas as suas 
imperfeições, amá-Lo e possuí-Lo sem temor de perdê-Lo, tal era a suprema 
ambição de Santa Flora. Admitida a antever como São Paulo, as maravilhas 
dessa deliciosa morada, ela não tinha termos para descrever essa morada. Ela 
repetia como o Apóstolo: “A vista do homem jamais sentiu o que Deus tem 
preparado para aqueles que O amam”. 
- Como é magnífica essa glória! - dizia ela - Como é grande essa 
felicidade! Quão maravilhoso esse amor! 
 Cheia de confiança total na Palavra do Mestre, de fé profunda na 
existência de um Deus remunerador e de adesão firme aos ensinamentos da 
Santa Igreja, a virtude da esperança era nela inquebrantávelvel. “Eu sei em 
quem creio”, dizia ela como São Paulo. Ela gostava de repetir estas palavras 
não menos consoladoras do apóstolo: 
“Vós recebestes um espírito de adoração com o qual dizeis: 
ABBA –PAI. O Espírito Santo dá, ele mesmo, testemunho de que 
somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também 
herdeiros de Deus e cordeiros de Cristo. Se, é verdade que 
sofremos com Cristo, nós seremos glorificados com Ele porque eu 
sinto que o sofrimento do tempo presente não tem proporção com 
a glória que deve ser manifestada em nós. A espera impaciente da 
criatura que aspira a manifestação de filhos de Deus”. 
 
Tornando-se em seguida para Deus, Flora, com uma confiança mais viva 
exclamava: - Senhor eu serei saciada só no momento em que aparecer a Vossa 
Glória! Por este motivo a serva de Deus merece ser chamada A FLOR DO 
PARAISO. As belas visões das quais ela foi tão felizmente favorecida o 
justificam altamente. 
 40 
Eu vos assinalarei algumas dentre elas: Santa Flora, no dia de Todos os 
Santos, enquanto ela cantava o ofício com muito fervor e exaltava com 
entusiasmo a glória dos eleitos entreviu rapidamente e admirou a alma plena de 
delícias e esplendor da cidade celeste. Esta visão fez sobre ela uma viva 
impressão, tão forte que ela jamais perdeu a lembrança daquela felicidade. 
O céu se abriu novamente a seus olhos deslumbrados no dia da festa de 
Santa Cecília. Flora percebeu no paraíso, uma Virgem de resplandecente 
beleza, magnificamente ornada e rodeada de uma multidão de virgens que 
enchiam o lugar santo de seus harmoniosos cantos. 
- Quem é, pois, esta Virgem resplandecente entre todas? PerguntouFlora ao anjo. Este respondeu-lhe – Ela se chama Cecília, ela é resplandecente 
entre todas porque guardou sua fé, sua virgindade e foi mártir, por isso ela 
goza aqui no céu de uma glória imperecível. 
 Santa Flora, em outra ocasião, viu em espírito, uma árvore celeste de 
uma magnífica floração. Eis aqui que o cume que toca uma águia formava a 
cruz com suas asas abertas. Ela percebeu entre suas garras um diamante de 
um brilho luminoso onde se refletia a glória dos anjos e dos santos. - Contempla 
e agradece a Deus, disse uma voz celeste. Ela obedeceu e diante das 
maravilhas que se ofereciam a seus olhos encantados, ela expandiu sua alma 
em vivas ações de graças. 
 Em uma outra visão não menos atraente, um anjo a transportou ao 
paraíso e a conduziu no meio de tronos brilhantes de esplendor e lhe designou 
um trono mais brilhante que os outros e disse-lhe: - Eis o trono que o senhor te 
reserva para toda a eternidade. O êxtase terminou e Flora ficou por demais 
emocionada. Ela teve ocasião de falar dessa visão a um santo religioso que 
estava de passagem pelo mosteiro e recebeu esta resposta: - Esta visão pode 
ser verdadeira e merece fé, sobretudo se uma segunda vez vier confirmá-la. 
Três dias depois, a mesma visão apareceu a Santa Flora e diz-lhe: “Eis aqui o 
trono disse o anjo, quando humildemente te declaraste indigna de sua glória, 
por este motivo Deus quis aumentá-la. Tu estarás mais perto dEle – Eis aqui o 
lugar por toda eternidade – Eis os Santos que partilharão contigo alegremente e 
sem fim”. 
 41 
 Muito numerosas foram as graças de eleição que Nosso Senhor 
prodigalizou paternalmente à sua piedosa serva. Santa Flora vivia numa 
constante oração, o espírito Divino, em recompensa lhe mostrava as maravilhas 
e as delícias desse lugar encantador. 
 Para a piedosa serva de Deus a Santa Eucaristia era o paraíso da terra. 
Também tinha ela como um alto dom de Deus, uma ardente fé e devoção na 
presença do Senhor na Santa Hóstia. Conta-se nas crônicas do tempo que um 
Irmão Menor cantando um dia na Missa do convento de Fieux -distante do 
Hospital Beaulieu, pelo menos umas três horas - o Sacerdote depois do Pai–
Nosso, tinha deposto sobre a patena as duas frações da Hóstia, tendo entre os 
dedos a terceira fração para misturar no cálice do Sangue de Cristo, mas qual 
foi a surpresa do Sacerdote, quando essa fração desapareceu de suas mãos. 
Um anjo do Senhor a tinha tomado e levado em comunhão à Santa Flora. 
Como o religioso se tornou perplexo, vindo ao mosteiro encontra-se com Santa 
Flora e lhe conta o sucedido e ela lhe revelou o miraculoso e extraordinário 
favor que recebera: Um anjo lhe trouxera a partícula consagrada que tirara das 
mãos do sacerdote esse extraordinário favor que a ela fora beneficiada. 
A Santa Eucaristia que ela recebia freqüentemente alimentava e 
desenvolvia nela sem cessar, suas aspirações ao céu. Santa Flora entregou 
piedosamente sua alma a Deus no dia 11 de junho de 1347. 
 Servindo-nos de uma magnífica comparação de Bossuet, nós podemos 
aplicar a Santa Flora: Como o mais leve abalo destaca da árvore o fruto 
maduro, e como uma chama se eleva e voa sozinho ao lugar de seu centro, 
assim foi colhida a alma abençoada por ser repentinamente transportada ao 
céu. Sua alma foi levada por uma multidão de desejos sagrados. Então, os 
anjos fizeram ouvir um delicioso concerto cujas as notas harmoniosas 
encantaram a todos os eleitos. Quem é essa que se levanta como uma fumaça 
odorífera de uma composição de nardo de incenso? 
 Dia de natal exclama a morte de um santo. Dia de nascimento, com 
efeito, é aquele em que o santo começa a viver plenamente. Assim aconteceu à 
Santa Flora no dia de sua morte. Foi o dia de sua introdução gloriosa na celeste 
pátria, o dia em que a Santíssima Trindade lhe revelou seus inefáveis 
 42 
esplendores. Este foi o dia em que a Igreja militante contou com mais uma 
santa no céu pelos seus méritos e favores divinos. Então se realizaram 
magnificamente as palavras do Divino Missionário: “Se o grão de trigo caindo 
na terra não morrer ele ficará estéril, mas se ele morrer produzirá muito fruto”. 
 Da câmara funerária da Santa exalou um perfume de lírios e rosas, sua 
fisionomia serena e plácida nos parecia resplandecente com uma auréola de 
luz. 
 Quantas lágrimas, soluços de pesar se espalhou por todo Mosteiro e fora 
dele quando souberam da morte de Santa Flora. No Hospital a piedosa religiosa 
fazia falta em toda parte, sempre estava pronta para ajudar a todos: suas 
companheiras edificava por sua vida evangélica; aos moribundos confortava 
pelas sublimes promessas de Deus infinitamente bom; aos pobres e aos 
doentes ela alegrava com suas visitas de caridade, suas carícias agora 
faltavam aos pequeninos e seu sorriso aos velhos e sua visita a todos. Mas, 
uma grande consolação reinava em todos os corações: o paraíso não se povoa 
em detrimento da terra. A religiosa agora, mais lembrada e chorada, estendeu 
sobre aqueles que deixara, o manto de sua doce e piedosa proteção. 
 Quão bela é a geração dos corações castos com seu brilho! - escrevia 
um autor inspirado do Livro da Sabedoria - sua memória é imortal em honra de 
Deus e diante dos homens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 43 
CAPITULO 8 
 
 
A FLOR DA IGREJA 
 
 O sepulcro de Santa Flora foi, segundo a expressão de Isaías, um túmulo 
glorioso. Foram recebidas graças, favores foram obtidos, milagres sem conta 
foram aí realizados pela intercessão da santa muito venerada e querida do povo 
católico. O seu túmulo tornou-se o centro de uma piedosa peregrinação. 
Quantas aflições aí encontraram a paz, o alívio, o reconforto. 
 Santa Flora leva a sua fama além de Beaulieu até os confins do reino. 
Havia treze anos que a Santa recebia todas essas honras quando Bertrnand 
Cardillac, Bispo de Cahors, permitiu a exumação porque o povo não podia crer 
na corrupção do corpo da Santa. Géraud lentillac, abade de Figeac, presidia o 
levantamento do sepulcro. As estradas estavam sulcadas de peregrinos 
cantando e rezando para a santa e invocando seus Anjos protetores. A cena foi 
muito emocionante: Na aurora de 11 junho de 1360, grupos numerosos 
rodearam o túmulo. Logo um silêncio profundo e religioso parou sobre a 
multidão dos peregrinos. Repentinamente a pedra foi levantada, um perfume 
suave desprendeu-se do túmulo e se espalhou sobre a multidão e se estendeu 
até bem longe. O mesmo prodígio devia se reproduzir dez séculos depois, mais 
tarde a 6 de setembro de 1910, o dia da translação das relíquias de Santa 
Terezinha do Menino Jesus. Quando os operários levantaram a pedra que 
fechava a entrada do sepulcro, um perfume suave e delicioso se espalhou das 
profundezas do sepulcro. 
 Flora assinalou sua volta como a Santa de Lisieux, com numerosas 
curas. Os Bispos de Cahors tiveram sempre grande devoção às preciosas 
relíquias da Santa de Quercy. Mencionaremos, entre eles o Monsenhor de 
Noailles que se tornou arcebispo de Paris e cardeal da Santa Igreja; Monsenhor 
Lejai; Monsenhor Giray, de feliz memória; Monsenhor Moussaron, hoje chefe 
venerável da Diocese. Quando Santa Flora recebeu as honras da canonização 
suas relíquias foram levadas solenemente à Capela de Beaulieu. Mas rebentou 
 44 
a revolução. Dias nefastos de 1792, a tempestade revolucionária se abateu 
cruelmente em Beaulieu, centro de piedade e de devoção. Em 1793, os restos 
mortais da querida Santa foram profanados e dispersos à exceção de alguns 
que fiéis tiveram a felicidade de subtrair das barbaridades sacrílegas. O 
convento foi saqueado e pilhado, arruinado. As religiosas foram obrigadas a 
pedirem um abrigo nas Casas

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