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A organização espacial — a vida na cidade como referência para o conceito de organização espacial Conhecer a forma, a função e as estruturas que envolvem o espaço, bem como seu processo de formação e que em sua perspectiva histórica resultou na formação das cidades. Vivendo na cidade Até aqui, estudamos as relações espaciais, a maneira como a criança constrói as noções espaciais e introduzimos a linguagem cartográfica como recurso para compreender o espaço em que vivemos, sempre preocupados com esta dimensão na formação da criança, sobretudo em sua educação escolar. Nesta aula, vamos pensar no espaço, compreendendo como o homem o organizou para viver nele. A cidade é essencial para essa compreensão. A cidade é uma organização espacial que vem dando sentido à vida do homem que se estabelece para poder viver e sobreviver. Surgiram conforme os homens foram se aglomerando em espaços que se tornaram o território que lhes garantia água, alimento, caça, abrigo e se edificaram a partir do momento em que os homens puderam fazer a divisão social do trabalho, o que deu regularidade à vida nas cidades antigas. As cidades antigas, do período que chamamos de Antiguidade, na história, surgiram há mais de 10.000 anos. Há muitas explicações sobre esse surgimento. De modo geral se admite que as cidades nasceram de assentamentos e aglomerados que os homens estabeleceram para facilitar sua sobrevivência. A capacidade de trabalhar marca o surgimento da cidade. O comércio surge como atividade que também marca essa capacidade de organizar tarefas (trabalho). Ao produzir alimentos pela atividade agrícola os homens puderam realizar trocas considerando o que tinham e o que não tinham, o que precedeu o comércio organizado. A permanência das atividades organizadas fez surgir as sociedades nas cidades. Na tradição do ocidente, temos as cidades de Atenas e Roma como exemplos de cidades que deram origem a nossa civilização. Em qualquer arranjo espacial que possamos denominar de cidade, será sempre fundamental poder compreender a Vida que ali circula. Basicamente a cidade conta com a concentração de pessoas que se estabelecem em suas edificações e circulam em suas ruas e avenidas, praças e parques. A forma como as pessoas se organizam com relação aos objetos do espaço dá origem as paisagens da cidade. Temos a ideia de que a paisagem é uma manifestação da natureza, dos elementos naturais, harmonizados e belos. A paisagem, na verdade, do ponto de vista da Geografia, é o resultado das ações do homem transformando a natureza e, sobretudo, a partir de lugares no espaço em que foi construindo o sentido de sua vida individual ou coletivamente. Para Milton Santos (2006, p. 39) espaço geográfico pode ser definido como segue: Levando em conta as afirmações de Santos (2006) podemos observar que os sistemas de ação e objetos estão presentes na vida urbana. Lembra que mesmo os trabalhadores agrícolas passam a residir na zona urbana. Por outro lado e próximo a zonas urbanas, observa-se a existência de atividades agrícolas produtivas. Estudar a cidade para compreender o espaço geográfico é uma das tarefas da escola. Aí é possível fazer à síntese dos conceitos geográficos, que dará a oportunidade de a criança pensar do ponto de vista espacial e geográfico, o lugar, a paisagem, a cidade. As diversas propostas curriculares destinadas a Educação Básica indicam essa necessidade. Considerar a cidade como uma categoria (palavra que ajuda a entender as ideias em estudo) ajuda a organizar unidades de ensino que vão levar em conta o que a criança já sabe para favorecer a aprendizagem do que é importante vir a saber. Viver a cidade Todos nós temos como origem natural a cidade. O primeiro documento que devemos obter é o registro que é feito na cidade de onde somos naturais, ou seja, a cidade em que nascemos, a qual pertence o lugar do nascimento. Mesmo que tenhamos nascido no sítio, alguém vai à cidade registrar esse nascimento. Crescemos e construímos nossas referencias no espaço da cidade. A cidade está organizada em diferentes lugares. Há o centro, os bairros, as vilas, a periferia. A ideia é que quem mora na cidade é o cidadão. Na realidade, nem sempre é assim. A cidade é organizada por critérios que envolvem regras para o uso do solo, por exemplo. É comum verificar que nas cidades os espaços são usados de forma diferente no centro e nas chamadas periferias. Um critério para usar o solo é o econômico. A lei que regula o uso do solo resulta na cobrança do IPTU, por exemplo. A cidade, por meio de sua administração combina modos entre o tipo de atividade (morar, vender e comprar, produzir na indústria, prestar serviços de educação, saúde, etc., atividades culturais, dentre outras) e como solo deve ser ocupado. O que se observa é que a cidade constrói suas experiências de organização espacial de um modo que acaba levando em conta as áreas que contam com uma capacidade econômica melhor definida. A região de comércio, as moradias de alto padrão, os espaços para produção recebem uma infraestrutura mais adequada a seus propósitos que casas e serviços destinados a regiões periféricas. Assim surgem os lugares mais ricos e os lugares onde vivem os trabalhadores, os desempregados, em que não há uma rede de serviços, de comércio, de produção. São lugares destinados a moradia precária. Esses espaços são conhecidos como favelas e já os estudamos quando vimos os dados do IBGE que os caracterizaram como espaços subnormais. Em cada um desses lugares, mergulhados em diferentes paisagens, formam-se os vínculos da população que ali está construindo sua história de vida. Questionar as condições de vida na cidade partindo da ideia de direito a ela, que é de todo morador que esteja em seu território, é uma das expectativas do processo de ensino da geografia. Ocorre que mesmo segregando a população em territórios mais ou menos organizados a partir de determinada infraestrutura, os coletivos, as pessoas que convivem acabam por construir sentidos aos lugares onde moram, trabalham se divertem. As pessoas inventam a cidade todos os dias. Esse convívio estabelece vínculos com os lugares geográficos e surge a cultura na cidade, com a produção de paisagens significativas para os que dela usufruem. Já falamos que a ideia de paisagem que fazemos tem a ver com o de natureza em equilíbrio e harmonia. Aqui devemos lembrar que dar sentido a própria vida e a vida de sua comunidade não tem a ver com harmonia, mas com a possibilidade da sobrevivência. E a rigor isso é bom quando as ações da vizinhança levam a conquistas que transformam os espaços e lugares da cidade. A cidade e o cidadão Pedro Jacobi (1986) afirma que "[...] as cidades são construídas como um produto de consumo [...] para consumir a cidade é preciso ter poder aquisitivo, o que exclui dos benefícios urbanos e de muita coisa boa da vida a maioria da população". A rigor a discussão sobre ter direito a cidade é a discussão sobre ter direito a vida em seu modo urbano. Isso significa, na modernidade e na contemporaneidade, o direito de encontrar as condições para realizar projetos de vida pessoal e coletiva. Como as cidades se organizam a partir da definição de governos que assumem o poder de realizar a gestão, pelo voto, parece que boas propostas de governos que se formam podem resolver os problemas da cidade. Historicamente não tem sido assim. A cidade de certa forma materializa as desigualdades que derivam do modo de agir do poder econômico que toma a cidade para si. O lugar e a paisagem revelam como a cidade pensa sobre os cidadãos. Entretanto, para além das desigualdades, os homens reconstroem lugares para viver que afrontam todas as formas de segregação. O ensino da cidade pode colaborar para o avanço de outros pontos de vista de como a vida pode se organizar no urbano, sob os projetos dos que estão vivendo nos lugares geográficos. Ensinando a cidade Ao ensinar o tema cidade no Ensino Fundamental I, persiste no material didático certa formalidade quanto aos conteúdos que são propostos nas referências curriculares. A cidade ainda é descrita a partir de sua função, de sua paisagem, de suas manifestações naturais, etc. Para pensarmos além dessas formalidades, é importante levar em conta o que diz Santos (2003) sobre como os lugares poderão, inclusive, mudar a cidade e sua paisagem: Ensinar o lugar às crianças é tarefa das mais instigantes. Didaticamente, tendo sido feito o trabalho que já discutimos em aulas anteriores e que envolveram as relações espaciais e a linguagem cartográfica, será importante tomar os lugares da cidade para desencadear os processos de observação, registro e análise do cotidiano vivido pelas crianças. As imagens abaixo, que tomamos como a fala mais importante para o ensino da Geografia convidam a pensar a realidade da cidade e seus lugares de direito, aqueles que envolvem todos os cidadãos. As imagens da cidade Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, veja o slideshow abaixo. Este slideshow faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem. São Paulo em todos os lugares. Outros lugares e outros homens. A partir destas imagens, por exemplo, podemos começar a pensar nas condições que se pode mobilizar para dar sentido ao viver na cidade. Leia na íntegra o artigo As grandes cidades e a vida do espírito. Disponível em:1. http://www.scielo.br/pdf/mana/v11n2/27459.pdf. Acesso em: 06 dez. 2013. Acesse o site a seguir para ler o artigo A cidade e os cidadãos. Disponível em2. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-64451986000100004&script=sci_arttext. Acesso em: 06 dez. 2013. Referências SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. São Paulo: Edusp, 2005 ______. A natureza do espaço: técnica e ação/razão e emoção. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. ______. Por uma outra globalização — do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2003.
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