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Mudanças na Vida e no Trabalho

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Introdução 
Às vezes fico atônito com as mudanças que ocorreram em minha vida e em meu trabalho. Este livro abrange as mudanças ocorridas na década passada — mais ou menos nos anos setenta. Reúne vários artigos que escrevi nos últimos anos. Algumas dessas idéias foram publicadas em várias revistas, outras nunca o foram. Antes de começar a apresentá-las, gostaria de fazer uma retrospectiva de alguns marcos dessa mudança. 
Em 1941 escrevi um livro sobre aconselhamento e psicoterapia, publicado no ano seguinte. Ele estava impregnado da consciência de que eu estava pensando e trabalhando com pessoas de um modo totalmente diferente do de outros conselheiros. O livro referia-se integralmente ao intercâmbio verbal entre uma pessoa que ajuda e uma pessoa em busca de ajuda; não continha qualquer indício de maiores implicações. 
Uma década depois, em 1951, esse ponto de vista foi apresentado de modo mais completo e seguro em um volume sobre terapia centrada no cliente. Neste livro, reconheci que os princípios da terapia podiam ser aplicados a outros campos. Em capítulos escritos por outros autores, ou baseados, em grande parte, na experiência de outras pessoas, discutia-se a terapia de grupo, a liderança, a administração de grupos e o ensino centrado no aluno. O campo de aplicação se ampliava. 
Mal posso acreditar na lentidão com que percebi as ramificações do trabalho que eu e meus colegas estávamos fazendo. Em 1961 escrevi um livro que intitulei A Psicoterapia vista por um Terapeuta, indicando que a ênfase de todos os artigos estava no trabalho individual, embora, na realidade, vários capítulos tratassem das áreas de aplicação em crescente expansão. Felizmente, o editor no gostou do título, e inspirando-se em um dos capftulos, 
Tradução de Maria Cristina Machado Kupfer. 
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sugeriu que eu o intitulasse Tornar-se Pessoa. Aceitei a sugestão. Pensei que estivesse escrevendo para psicoterapeutas, mas para minha grande surpresa, descobri que estava escrevendo para pessoas — enfermeiras, donas-de-casa, pessoas do mundo dos negócios, padres, pastores, professores, jovens — todo tipo de pessoas. O livro, em inglês e em suas várias traduções, já foi lido por milhões de pessoas em todo o mundo. Seu impacto forçou-me a abandonar minha visão estreita, segundo a qual o que tinha a dizer interessava somente a terapeutas. A repercussão desse livro ampliou tanto minha vida como meu pensamento. Acredito que, desde então, está presente em minha obra a compreensão de que aquilo que vale numa relação entre terapeuta e cliente vale também para um casamento, uma família, uma escola, uma administração, uma relação entre culturas ou países. 
Bem, agora eu gostaria de voltar a este livro e seu conteúdo. Reuni, de início, cinco artigos muito pessoais. Falam de minhas experiências inter- pessoais, meus sentimentos à medida que envelheço, as origens da minha filosofia, minhas perspectivas profissionais, uma concepção pessoal sobre a “realidade”. Basicamente foram escritos não só por mim, mas para mim. Não sei se serão significativos para você e sua experiência pessoal. 
Nesta primeira parte e no decorrer de todo o livro, os artigos podem, até certo ponto, estar marcados pelo uso que faço dos pronomes ele-ela e seu- sua. Graças à minha filha e a outros amigos feministas, tornei-me cada vez mais sensível à desigualdade lingüística entre os sexos. Creio que sempre tratei as mulheres como iguais, mas só mais recentemente adquiri uma consciência nítida da discriminação contida no uso de pronomes unicamente masculinos em afirmações de significado geral. Preferi deixar meus artigos como estavam, em vez de adaptar a linguagem aos meus padrões atuais, pois isto poderia parecer de certo modo desonesto. O que eu disse está dito. Alguns desses artigos estão também marcados por referências à nossa guerra do Vietnã, terrivelmente estúpida, impessoal e destruidora (na minha opinião), tão trágica para os americanos como para os vietnamitas. 
A segunda parte refere-se a meus pensamentos e atividades profissionais. A mudança na terminologia utilizada atesta a ampliação do campo de aplicação: o velho conceito de “terapia centrada no cliente” foi transformado em “abordagem centrada na pessoa”. Em outras palavras, não estou mais falando somente sobre psicoterapia, mas sobre um ponto de vista, uma filosofia, um modo de ver a vida, um modo de ser, que se aplica a qualquer situação onde o crescimento — de uma pessoa, de um grupo, de uma comunidade — faça parte dos objetivos. Dois desses artigos foram escritos no ano passado, enquanto outros o foram há mais tempo. Mas tomados em conjunto, apresentam as linhas fundamentais do meu pensamento atual. Pessoalmente, sinto-me orgulhoso do capítulo que contém seis vinhetas — instantâneos de experiências com as quais aprendi muito. 
A terceira parte trata da Educação, uma área de aplicação na qual me sinto capaz. Apresento alguns desafios às instituições educacionais e alguns pen sarnento 
sobre o que talvez tenhamos que enfrentar no futuro. Temo que meus pontos de vista sejam muito pouco ortodoxos e que não encontrem muita repercussão num clima educacional temporariamente conservador, numa época de orçamentos reduzidos e de visões estreitas. São reflexões sobre a educação num futuro ainda distante. 
Na parte final, apresento meus pontos de vista sobre as transformações radicais enfrentadas por nossa cultura, decorrentes das conquistas pouco conhecidas do pensamento científico e dos recentes progressos em muitos outros campos. Faço especulações em torno da maneira como se dará a mudança da face do mundo e apresento também minha concepção sobre o tipo de pessoa que poderá viver nesse mundo transformado. 
Vários capítulos foram publicados anteriormente sob diferentes formas. O capítulo 4, “Crescer envelhecendo: ou envelhecer crescendo? “, o capítulo 9, “Criando Comunidades Centradas na Pessoa: Implicações para o Futuro”, e o capítulo 15, “O Mundo do Futuro e a Pessoa do Futuro”, estão sendo publicados aqui pela primeira vez. 
O fio condutor de todo o livro é o fato de que cada capítulo expressa, de uma maneira ou de outra, um modo de ser pelo qual luto — um modo de ser que pessoas em vários países, em várias ocupações e profissões, acham atraente e enriquecedor. Se ele o será para você, só você poderá dizer. Em todo caso, eu lhe dou as boas-vindas ao iniciar sua viagem através deste “caminho”. 
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XI

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