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! / . .:i •\, 5 A psicologia hum anista e a abordagem gestáltica ., ~- IUS;Jl-i=iiM §Hi·Sêi•••=Hi=i§í•M mm A o estudar a história da psicologia, percebem os que por m uitos séculos essa disciplina esteve vinculada à filosofia. N o final do século 19, os acadêm icos da época resolvem distan- ciar um a da outra, dando origem -ao que se cham ou de psico- logia m oderna, que hoje tem um cam po conceitua! e teórico próprio. Segundo L im a (2009), um a corrente da nova ciência se voltou para a fisiologia, tentando dar um cunho experi- m ental e científico à disciplina; outra, de, m enor realce, se voltou para um entendim ento m ais sociológico das questões hum anas, dedicando-se ao estudo dos grupos e tentando identificar seus padrões de funcionam ento. O prim eiro grupo, de m aior influência na nova disciplina, concebia a psicologia com o um ram o das ciências naturais e tom ou cO m o m odelo os padrões da ciência m édica, voltando-se para o entendim en- to e para propostas de cura dos desajustes de ordem psicoló- gica. E sse m odelo cientificista vigorou até m eados do século passado, quando os desenvolvim entos tanto da psicanálise 7 6 ; i 1 l G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas com o do behaviorism o acadêm ico eram m uito tributários · desse espírito e constituíam as duas forças m ais relevantes dentro da psicologia da época. N a década de 1960 surgiu, na psicologia am ericana, o m ovim ento cham ado de "terceira força em psicologia", refle- xo do sentim ento de descontentam ento que predom inava contra os aspectos m ecanicistas e m aterialistas da cultura oci- dental - os quais instruíam tam bém a -nossa profissão. Esse m ovim ento visava hum anizar a atividade psicológica sem se lim itar a ser apenas m ais um a revisão da teoria de outras abordagens, m as questionar algum as teses psicológicas da psicanálise e do behaviorism o, sistem as dom inantes na época. O s psicólogos hum anistas eram contrários a essas duas cor- rentes por considerar que am bas concentravam -se apenas em partes do ser hum ano, desatentos à com plexidade da pessoa pela ênfase nas partes (um , no com portam ento observável; a outra, na dim ensão inconsciente). A ssim , afirm á H olanda ..• (1997, p. 16), "a psicologia hum anista nasce, pois, da necessi- dade de am pliar a visão do hom em , que se achava lim itada e restrita a apenas alguns aspectos, a alguns elem entos, segundo as perspectivas behaviorista e psicanalítica". T ributária do pensam ento holístico· que tam bém vicejava nessa década, a vertente hum anista da psicologia afirm ou ser a dim ensão não canse· t · · 1en e, assun com o o com portam ento observável, apenas um a perspectiva da realidade do hom em e não sua totalidade. A consideração pela dim ensão conscien~ te _do h_om _em retom ou a questão da liberdade e do presente e fo1 m ~1to m fluenciada pela contribuição filosófica da fenom e- nologia e do · · 1· existenc1a ism o, que ganhavam vulto na época O s hum anistas tam b, , . . · em se opuseram as ideias da psicanálise 7 7 ' :li . ~/ f~ '.7, .. i1 t t ( _.-.: ! f ·': :, . . ~: i.:1 ~-: -·, •O ·. ; Lilian M eyer Frazão e Karina O kajim a Fukum itsu (orgs.) p~l~ fato de Freud ter se ,baseado apenas em estudos de neu- rot1cos e psicóticos, sem o~servar as possibilidades do indiví- duo saudável Para el · nd b . - . . · es, qua . se a na m ao dos aspectos posm vos do ser hum ano, focanJlo "1l,penas o lado obscuro da personalidade, a psicologia ignorava forças e potencialidades da pessoa que os hum anistas se em penharam em recuperar em conceitos com o tendência à autorrealização, status de ho- m em consciente e - ao retom ar a questão da liberdade com o extensão conceituai - im portância do m om ento presente. Seus m aiores representantes foram A braham M aslow , C lark M oustakas e C arl R ogers, entre outros. M aslow é considerado o pai espiritual da psicologia hu- m anista e foi quem m ais contribuiu para incentivar o desen- volvim ento dessa vertente e conferir-lhe certo grau de respe1- tabilidade acadêm ica. A creditava que todos os indivíduos tinham um a força inata que os conduzia à autorrealização, característica usada de form a ativa em todas as suas habilida- des na aplicação plena do potencial. C arl R ogers é m ais conhecido por sua abordagem de psi- coterapia cham ada de abordagem centrada na pessoa. Ele tam - bém utilizou um conceito sem elhante ao da autorrealização de M aslow ; porém , diferentem ente deste, .as ideias de Rogers não resultaram do estudo de pessoas em ocionalm ente saudáveis, e sim da aplicação da terapia centrada nos seus paci~ntes. Sua .,_ . clm ' i·ca o convenceu de que as pessoas senam capa- expenenc1a . , zes de m udar pensam entos e com portam entos do indese1avel d . , 1 de for.i:na consciente e racional, desde que en- para o eseiave . _ Po P ropício principalm ente a ace1taçao contrassem um cam ' . . d. . l pelo terapeuta. R ogers acreditava que a persona- m con 1c10na . · d. , 1 m aneira com o o m iv1- lidade é constituída no presente, pe a 7 8 G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas duo percebe as circunstâncias; assim , a qualidade da am biência relacional terapêutica ganhou enorm e im portância. Em resum o, o foco da psicanálise no inconsciente e seu determ inism o e o foco na observação apenas do com porta- . m ento pelo behaviorism o foram as críticas m ais fortes dos novos m ovim entos de psicologia surgidos em m eados do sé- culo 20. É útil inform ar que a psicologia hum anista não é um a escola de pensam ento, m as um conjunto de diversas cor- rentes_ teóricas que têm em com um a convergência hum aniza- dora da abordagem do hom em . Por suas origens fenom enológico-existenciais e holísticas, a G estalt-terapia, que se enquadra ness~ abordagem , chegou ao Brasil som ente no final dos anos 1960. O espírito de con- tracultura dessa época foi construindo práticas alternativas no âm bito psicológico, com o o m ovim ento do potencial hu- m ano, surgido nos Estados U nidos, e outras opções diferen- ciadas do m odus operandi vigente. Essas alternativ-as - entre elas a G estalt-terapia -, cham adas de terceira força em psico- logia, já bebiam da fonte do existencialism o e do hum anism o. A visão fenom enológico-existencial traz um extenso m odelo de ideias, em especial o valor do m undo vivido com o fonte do conhecim ento e da consciência e a concepção de ser hum ano com o detentor de liberdade de escolha, processo que acontece a cada m om ento. A volta à experiência presen- te e im ediata, tão cara à G estalt-terapia, tem tam bém sua ancoragem no preceito fenom enológico de voltar às coisas m esm as - o que, no âm bito terapêutico, se refere ao vivido pelo diente. A G estalt-terapia está especialm ente associada ao hum a- nism o pela sua visão holística do hom em . N a prática terapêu- 7 9 r ~ t 1 / ,. 1 1 lilian M eyer Frazao e K arina O kajim a Fukum itsu (orgs.) rica, é preciso entender o hom em com o um ser inteiro, em bo- ra, com o diz a fenom enologia, ele se apresente por perfis. A credita · · 0 r que existe na pessoa \.U ll"\pO tencial que ultrapassa sua existência presente, que é o im p~fso para o crescim ento, para o processo de atualização com o um todo cada vez m ais integrado, é a contrapartida psicológica do vir a ser existen- cial. Esse preceito positivo é o que m ove o esforço dessa abor- dagem . A autonom ia do espírito hum ano, capaz de encontrar por si m esm o a m elhor alternativa para suas dificuldades, é o ponto de encontro entre o hum anismo e a G estalt-terapia. A m bos veem o hom em com o possuidor de um valor positivo, capaz de se autogerir e de se autorregular sem a tutela de au- toridade externa, inclusive a do terapeuta'. C ontudo, notam -se na prática gestáltica atitudes que re- velam alguns rem anescentes do hum anism o individualista an- tropocêntrico. O m al-entendido sobre o hom em com o centro de todas as coisas tem encontrado aprovação terapêutica em frases tais com o "V ou cuidar de m im e o resto que se dane", "M inha fam ília não tem nada a ver com a drogadição do m eu irm ão, ele sem pre foi difícil", "É um problem a m eu e você não deve se preocupar", "N ão vou m udar m inha atitude para ajudar ninguém ; pois quem vai m e ajudar?" Essas frases têm sua legitim idade na experiência presente do cliente e seu sen- tido atual deve ser com preendido profundam ente pelo profis- sional. N ada de julgam entos apriorísticos na abordagem ges- táltica. Julgam entos m orais fechados à investigação do sentido são a m eu ver: a m aior debilidade e a grande falência de um a ' ' escuta terapêutica. N ão estam os nos referindo à desatenção pela com preensão do ponto de vista do cliente, atitude central para a fertilidade do encontro terapêutico. A apreensão do B o ~ ,,~:;;i:.;::,:,..=-.....-~··~ t1 .i Gestalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas não dito naquilo que é-dito é, segundo penso, a essência do fazer fenom enológico-dialógico hum anista da G estalt. Perce- ber que sob essa cam ada autocentrada existe um a aguda e dolorosa frustração da necessidade do encontro previne du- plam ente o terapeuta de ver de form a superficial e parcial o ser hum ano à sua frente e de apoiar padrões egocêntricos de- fensivos que, justam ente por estarem nesse patam ar, infelici- tam a pessoa. N ão é propósito deste trabalho descrever a m etodologia fenom enológica-dialógica da G estalt. Porém , quero adiantar que essa posição, em bora respeite com o sagradas a experiên- cia e a individualidade do cliente, jam ais é conivente e refor- . çadora daquilo que aparece com o individualism o autocentra- do e vem trazendo infortúnio à existência da pessoa. A escuta não judicativa, curiosa, investigativa, sintonizada e confirm a- dora é a aw areness fundam ental exigida do tera_peuta para prom over a abertura do cliente às suas próprias possibilida- des dialógicas, abrangentes e centradas na sua convivência inter-hum ana. A com preensão dos m otivos geradores da exis- tência egocentrada do cliente é tributária da com paixão hu- m ana do terapeuta. M as essa m esm a com paixão vai se esfor- çar para que ele não fique aí. M esm o entre os profissionais nem sem pre conseguim os escapar a esse antigo condicionam ento individualista. Q uan- do dam os cursos ou fazem os supervisão na abordagem , vem os com frequência nossos terapeutas questionarem o cliente quando este traz à sessão suas preocupações com ou- tros - filhos, cônjuges, parentes, am igos ou c_olegas. A pergun- ta quase autom ática é: "E você, com o fica nisso? V ocê está olhando para os outros e não ~stá olhando para as suas neces- 8 1 ' ~ t~ ; " 1,-: fi i,1 . r ; i:: J ;; i :i 1 ·:, 1 ;. : I; ;{. I ,. !fi !/ J.!11 f1 fl ~i ! ·;: 1 ~; f ,íi 1 -, i '~ 1 } i "• ·" , ;. ., ·;,; " o~ .j ,. -j.1 lj ,. -~ . !~ : Lilian M eyer Frazão e K arina O kajim a Fukum itsu (orgs,) sidades" O "V . u: oce está falando da sua filha. N ão está fal - do de você!" Intervenções des~e tipo incorrem em dois eq :- vocos fundam entais relativos às b is~ teóricas e filosóficas da G es~alt-terapia: prim eiro, desvincula~~º Eu do O utro, con- tr~ n an d º ª prem issa radical da tese dialógica buberiana assu- m ida pela abordagem e caindo num solipsism o uhrapassado p o r essa tese; segundo, ignoram um conhecim ento básico da teoria organísm ica ou holística gestáltica: a noção d~ que a preocupação do sujeito lhe pertence e tem sua razão de ser na totalidade m ais am pla de suas m otivações existenci~is presen- tes, estando vinculadas a si m esm o e não alheias ao seu ser, com o a questão sugere. E sses sim ples exem plos m e perm item ilustrar a subjacente atitude apoiada no hum anism o que se tom ou centrado em si m esm o e, portanto, individualista. Esse "hum anism o",que pode orientar, em bora com toda boa vontade e de form a não reflexi- va, a conduta do terapeuta. O hum anism o gestáltico deve se nortear pelas bases holísticas da sua gênese. Q uase todas as disciplinas académ icas e filosofias nas quais espelhou sua cons- trução teórica e m etodológica são herdeiras do pensam ento holístico, iniciado por Jan C . Sm uts na obra H olism and evolu- tion (1926), ou que com ele se afinam : a G estalt-teoria, a teoria organísrnica, a teoria de cam po, a fenom enologia, o exi~tencia- lism o heideggeriano e sartreano, a dialógica, o zen-bud1sm o. C ontudo, no cenário atual da nossa consciên~ia hum ana e social, vem os a necessidade de dar um passo adiante e a~- pliar o holism o da G estalt, do seu papel clinicam ent~ pragm ~- tico para além da totalidade da pessoa, das fronteiras fam 1- liar;s e dos pequenos grupos. D evem os estender nosso olhar para a com unidade, com o prenun.ciava B uber. E m esm o que 8 2 I ., G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas nossa ação, com o terapeutas e com o clientes, aconteça no li- m itado terreno de nossa sessão, de nossas fam ílias, de nossas parcerias e de nosso grupo social ela se reveste de um a signi- ficação com unitária. N ão é a dim ensão do espaço em que atuam os que dá sentido à nossa ação. É a atitude para com as coisas do m undo que lhe confere o sinal de um ou outro m o- delo de hom em e de hum anidade. N o nosso pequeno consul- tório, no hum ilde espaço do nosso lar, no curto trajeto para o trabalho, no pequeno parque de nossa cidadezinha habita toda a hum anidade nas pessoas e espécies viventes, que se apresentam com o concretude cotidiana do m esm o espírito ge- rado da Terra. C reio que, no âm bito da clínica psicoterápica, a ética hu- m anista ou consideração pela dignidade hum ana se norteia por dois vetores:. , A reverência fenom enológica do terapeuta pela experiên- cia do cliente, seja ela qual for; o encantam ento com aquilo que é, abrindo m ão da arrogância cientificista de alterar "a natureza" das coisas do espírito, acreditando firm em ente que aquilo que está sendo é o que tem de ser. E o que ainda está sendo, o ~ue tem de ser, ao defrontar- -se no encontro no qual tem perm issão para ser, não é aquilo que já é, com o som os tentados a pensar, m as entre as várias possibilidades de sua plenitude, da sua totaliza- ção, um a possibilidade resulta do encontro criador do .inter-hum ano terapeuta/cliente. Porque o que tem de ser, o que está exigindo ser, não é a essência ou form a prévia da vivência inte~rom pida, m as possibilidades expressivas ou de m anifestação da vivência que, no encontro terapêu- 8 3 ' ·; r / '" ,"; .; Lilian M eyer Frazão e Karina O kajlm a Fukum itsu (orgs.) tico, no m om ento criador do "entre", se atualizam pela · m obilização energética do~ parceiros. Entre os dois ato- res, fundem -se a natureza esp~~ífica da vivência e a natu- reza do encontro. Enquanto a p;iineira determ ina suas várias possibilidades de com pletar-se ou as várias po~sibi- lidades de perspectiva que a vivênci~ pode ter da realida- de, a natureza do encontro direciona para um a das awa- reness possíveis. Q uando o encontro é perm issivo e sintônico com a m eta teleológica do ser do cliente, a pos- sibilidade de com pletude na direção do créscim ento e evolução do ser é aquela que será realizada.Essa crença hum anista do profissional no poder do "entre dois" no fazer terapêutico é indispensável para a perm issão e o encorajam ento para que em irja aquilo que está sendo, e para que aquilo que é solitário ou par- cial se torne conjugado ou inteiro na parceria ... e só assim possa aparecer com o realidade· fenom ênica psico- lógica em um a das suas possibilidades. Talvez na m elhor das suas possibilidades. 2 A preocupação do terapeuta com a com unidade próxim a do cliente. A com preensão da experiência vivida pode se tornar inadvertidam ente a aprovação de um a existência autocentrada. C am inham os, com o tem ia e alertava Bu- ber, por um a "vereda estreita", e o risco de cair no despe- nhadeiro do individualism o terapêutico nos ronda a cada passo! A ética hum anista, herdeira tam bém do existencia- lism o, nos atribui a condição de ser com . Se essa é um a determ inação ontoló~ica, alienarm o-nos dela é sofrer a queda no m odo de ser inautêntico, portanto de~citário. A ssim , ·a ética hum anista da sua abordagem obnga o te- 8 4 r 'I,, G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas rapeuta gestáltico a ultrapassar a tarefa inicial e essencial de com preender o cliente e suas razões. A profunda em patia e a com paixão para com a dor e a situação da pessoa, condição necessária ao espírito hum anista do terapeuta, quando autenticam ente sentidas e não m era- m ente funcionais, com põem um m odelo hum ano poderoso, que tende a prom over no cliente um novo olhar para o outro; am pliando nessa pessoa, pela sua e pela nossa sem elhança com a condição hum ana com um , o despertar da sua em patia e da com preensão dos seus parceiros hum anos. E quando m e refiro à com preensão entre os pares não estou prescrevendo a coni- vência com atitudes abusivas ou aviltantes da dignidade pró- pria. Ser consciente é saber distinguir entre a lim itação psico- lógica atual do outro e a atitude intencionada de prejudicar, utilizar ou ignorar os dem ais pelo individualism ~ egoísta de poder ou de sucesso, tão vigente nas nossas instituições. A em patia a que m e refiro assem ~lha-se à inclusão da di~- lógica buberiana. C onsidero-a a m ais poderosa via de acesso ao conhecim ento do hom em . N enhum contato racional, por m ais disciplinado que seja seu m étodo de observação, por m ais refinados seus postulados teóricos ou requintados seus instru- m entos investigativos, pode prescindir da em patia para ter um conhecim ento real do outro. A em patia, vista com o inclu- s~o, _é um conhecim ento im ediato, sem nenhum tipo de m e- diaçao, no qual o estado vivido por alguém é im aginado e sentido no próprio c d b d d . orpo o o serva or, e m ane1ra tal que a evidência do que est, d . . a se passan o no m undo subiet1vo do outro é apreendida a · · • , · . o vivo, com o Jam ais podera ser pelo pro- cesso de apreensão intelectual. 85 ,...._~.::~ " ,I t ;.; ,, .) ,:; ,, ,, ll li ,., ; 1\i : ' 'J'l :m ;j,: :{j :H r ~; I' l" ' ~' :il l !] 1[ •Íi 'i-' :tj '1·-' )J li: '' '". i'" Q '' :i] . : i fi j t (i 1 f i :, I: ~· : ! ~1 ii ¼ fi '/.'1 -~ ;r , !f.i " 1 Lilian M eyer Frazão e Karina O kajim a Fukum itsu (orgs.) Q uanto ao projeto terapêutico que, a· m eu ver, pode ser re- putado com o genuinam ente hum anista, deve tam bém ser guiado pelo propósito de prom over duas di:ntmsões da cura existencial: ·•.ç,- • a perm issão, dada pela pessoa do cliente, de deixar ser aquilo que está sendo. N a nom enclatura gestáltica, é perm i- tir que em irjam as Gestalten que estão sendo interrom pi- das, não no sentido do pragm atism o im ediato de fazer algo com aquilo que em ergiu, m as no sentido· dado pela nossa visão de awareness, com o um processo vivencial da cons- ciência em que é alterada a visão de si m esm o e do m undo próprio, na direção de um a das perspectivas possíveis de ajustam ento criativo à realidade. A G estalt que em erge é atualizada e transform ada no encontro terapêutico; • o acesso do cliente à capacidade de estabelecer relações de intim idade - ou dialogais - no espaço próxim o da con- vivência. A prim eira dim ensão evolui necessariam ente para a segunda, desde que não tenha sido um a sim ples sim ula- ção. T odos os nossos autores afum am a awareness com o um a experiência transform adora. E am bas só podem ser conseguidas na tarefa terapêutica da nossa abordagem se for criada entre nós e nosso cliente um a autêntica relação de sintonia e intim idade, ou seja, o "entre" dialógico. N esse particular, M essa (2009) contribui com um a con- ceituação m uito útil para nosso argum ento.· C onsiderando que o processo da relação pais-filhos exige o estabelecim ento da intim idade, ele esclarece que a intim idade entre estes e o,s parceiros em geral não é um a ocorrência necessária, e sim um a possibilidade. A centua tam bém que um a relação de 8 6 \ 1 l í f, l j G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas grande intim idade convive em perfeita harm onia com a indi- vidualidade, m as essa intim idade entra em oposição franca com o individualism o. Q uerem os ser ainda m ais incisivos, acreditando que a natureza do relacionam ento íntim o é justa- m ente aquela que prom ove o respeito e a apreciação pela in- dividualidade do outro. É indubitável, em contrapartida, que a intim idade é inteiram ente antagônica ao individualism o, não podendo coexistir com essa atitude, já que, por definição, ele é solitário e fechado ao outro, enquanto intim idade signi- fica essencialm ente conceder abertura e com -partilhar, isto é, tom ar parte e deixar o outro tom ar parte naquilo que está no m ais oculto e íntim o da pessoa. O nosso hum anism o é, ainda, aquele que preserva a digni- dade do paciente num a ação terapêutica isenta de todo uso ou exploração da sua pessoa - a exploração se dá até m esm o quando o bajulam os em vista de nossos interesse~ m ercantis ou psicológicos. O respeito hum anista à sua dignidade aparece ainda no nosso esforço para que ele alcance o m áxim o de suas possibilidades hum anas, que são inseparáveis da consciência da sua interdependência socioam biental e, com o corolário, da awareness am pliada do seu com prom isso com a construção, em cada atitude cotidiana, de um a hum anidade m ais com pro- m etida que o padrão, considerado norm al, de hum anos indivi- dualistas, artificialm ente isolados das suas raízes e de seu com - prom isso com outros hum anos e com a natureza. N esse esforço de am pliar a consciência das possibilidades de ser com , vem os um a vertente da poética hum anista da G es- talt de n t · ·1 ,' _ a ureza sm u ar ao valo! desem penhado pela criação arnstica, conform e R icoeur (1977 p 57)· "P I fi - 1 . .. , . . e a cçao, pe a poesia, abrem -se novas possibilidades de ser no m undo na 8 7 , :'t . :1 ~; i 1 1 1 • l i ! ,. - - .. ~, ""' uKaJ1m a Fukum itsu (orgs.) realidade cotidiana. Ficção e· poesia visam ao ser, não m ais sob o m odo de ser dado, m as sob_a m aneira do poder ser". B uber (1982, p. 44) assegura:• ·'\ ·•.~ N ão apenas as pessoas nos falam , m as tam bém os eventos do m undo nos falam [ ... ] O s eventos são palavras a m im dirigidas[ ... ] Som ente quando os esterilizo elim inando neles o germ e da palavra dirigida é que posso com preender aquilo que m e acontece com o um a parte dos eventos do m undo que não m e dizem respeito. V em os ainda a poética hum anista gestáltica em outra ver- tente clínica, quando ante o .apelo do "incurável" abrim os m ão das certezas para operar com a esperança ... É tam bém por m eio dessa poética que, ao encontrar o outroà sua frente, não se pergunta com o fazer para tratá-lo, e sim com o recebê-lo sem rótulos, com o escutar a voz do seu silêncio, com o reconhecer nele a m esm a hum anidade que m e atorm enta, m e eleva e m e perm ite seguir confiante na evidência da nossa identidade ... Po- rém , quando diante do sobressalto inesperado da sua singulari- dade, essa m esm a poética faz que se calem e se recolham todas as vozes da m inha ciência, na escuta reverente do m istério que se anuncia. A ssim m eu testem unho privilegiado levará à constru- ção de um saber visceralm ente enraizado no fenôm eno hum ano .. O H U M A N IS M O E m virtude da. constante confusão entre hum anism o e psico- logia hum anista, e por serem teorias. diferentes, apresenta-se, a seguir, um a sinopse s_obre o hum anism o, seu histórico e al- gum as definições. 8 8 l ;· f t 1 f j :j i í } " : ij ; ; ll 11 ~-'.l íl 11 G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas D e form a genérica, a expressão "hum anism o" pode ser definida com o um conjunto de princípios que estabelecem a valorização e a dignidade inerentes à pessoa, independente- m ente de qual seja a sua condição atual no m undo, prescre- vendo que cada hom em deve ser tratado por qualquer outro hom em e por todas as instituições sociais sob a regência de valores m orais com o respeito, justiça, honra, am or, liberdade, solidariedade etc. Em bora tenha antecedentes nos filósofos gregos antigos, o hum anism o com o doutrina é algo recente. Esse m ovim ento foi . iniciado no século 15, com o interesse dos sábios do Renasci- m ento pelos textos da A ntiguidade Clássica ( em latim e grego) · e em oposição à escolástica m edieval, cujos dogm as religiosos eram dom inantes. Som ente no R enascim ento, ante a insusten- tabilidade da cultura teológica m edieval, o desenvolvim ento da consciência hum ana se revela na arte, na m úsic~, n.a litera- tura, na filosofia. Com o florescim ento das grandes navega- ções, a alternativa hum anista foi exposta publicam ente com o . contrapartida a um a existência centrada nos dogm atism os da visão religiosa. Tam bém prom oveu o crescim ento científico, com o nascim ento do m étodo em pírico, que foi fundam ental para dar credibilidade à ciência (D uarte, 2001). A ssim se pronuncia N ogare (1985, p. 63) sobre o caráter central da consciência da época: O s hom ens da R enascença, m ais que os de qualquer outra época passada, tom aram consciência de que o hom em não é um sim ples expec,tador do universo, m as que o pode m odificar, m elhorar, re- criar. Foi esse aspecto criativo do hom em que em polgou os hum a- nistas e fez com que com eçasse a ser m odificada profundam ente a 8 9 ...~~41~ ·t, r·-.. 1 / r li. t ;,; .-. ·;; ,.J q -~ -~ •J " ~i :., , 2 3 4 lilian M eyer Fraz~o e Karina O kajim a Fukum itsu (orgs.) avaliação do engajam ento térreno e das atividades t~m porais, an- tes subestim adas em com paração ~om a ascese e o tsolam ento. . .. ,. Podem ser identificados os segui~t~s tipos dessa doutrina: O hum anism o greco-latino (G récia e R om a) colocou o hom em com o o centro de todas as coisas. Revelou-se principalm ente na filosofia e nas artes p~ásticas. O hum anism o renascentista, tam bém cham ado de hum a- nism o clássico, nos séculos 15 e 16, caracteriza-se ·justa- m ente pelo resgate da dignidade hum ana presente nos valores hum anistas da cultura greco-rom ana e abandona- dos na Idade M édia. A ssum iu a form a de antropocentris- m o (o hom em é o centro de tudo), que norteou o desen- volvim ento intelectual e artístico dessa fase e das seguintes no m undo ocidental. O hum anism o ilum inista foi um m ovim ento cultural de intelectuais europeus do século 17 que buscava realçar a razão para transform ar a sociedade. O hum anism o positivista, que se desenvolveu na segunda m etade do século 19, valorizava o pensam ento científico, destacando-o com o única form a de progresso. Teve em A uguste C om te seu principal idealizador. s O hum aajsm o contem porâneo está dividido em diversas vertentes: 9 0 Jf,• 1, i: {·. t, " 1; J.\ /i r, [; r~ ,t " g r, 'I t -~ ,; !T t\ ÍJ n M ,,, ~; fi m 1) M rl ':1 ,; ) '.j '.ii ~! 1; ( G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas • O hum anism o ·m arxista é baseado nos m anuscritos da juventude de M arx, nos quais ele critica o idealism o he- geliano que coloca o hom em com o ser espiritual. Para M arx, o hom em é antes de tudo um ser natural e históri- co, m anifestando-se sua consciência histórica com o saber da sua condição de ser histórico. • O hum anism o cristão-desenvolveu-se principalm ente no norte da Europa, centralizado na figura de Erasm o de R oterdã. Segundo essa vertente, o cristianism o deveria centrar~se na leitura do Evangelho, no exem plo da vida de C risto, no am or desprendido, na sim plicidade da fé e na reflexão interior. • O hum anism o existencialista tornou-se popular nos anos posteriores às duas guerras m undiais, reafum ando a im portância da liberdade e da individualidade hum ana, e considerando o hom em com o construtor do ~eu próprio projeto de vida. • O hum anism o secular, tam bém conhecido por hum a- nism o laico, desenvolvido no~ últim os 40 anos, assum e um a posição m ais racionalista e em pirista e m enos espiri- tual que o cristão. Seus adeptos têm , com o os dem ais, preocupação com a ética e afirm am a dignidade do ser hum ano, recusando, porém , explicações transcendentais e preferindo a racionalidade. . • N ogare ( 1985) ainda nos fala de um hum anism o ético-sociológico, que visa se tornar um m odo de convi- vência social. O hum anism o afirm ava assim , desde o início, a autono- m ia do espírito hum ano. T~·m ando o hom em com o valor em 91 fi :~ ,. )cÍ : ,{ ' 1~ ·'· J !')', 1,. ·::=: \j :t )~ ,, it li \o.!, :& ! ~l !~ ·t'l ,~ ! ii) . ~:; :~ :•,) •I ,·:• .;·: ' 1-i; ·; ., ,, 1 >: / -~ 1 (i i !' t :1 l: i í 1 .. íl . J 1· I.' , '.l .. J 1 lilia n M eyer Frazão e K arina O kajim a Fukum itsu (orgs.) si m e~m o, ess~ corrente filosó~ca foi se em penhando para que ª razao substituísse gradativainep.te as crenças religiosas na tentativa de com preender a realidade ·f 'V' O Ilum inism o do século 17 é referência histórica m uito im portante porque o racionalism o próprio da cultura m oder- na encontra o seu principal ponto de ancoragem nesse m ovi- m ento. Sob sua tutela, artistas, cientistas e filósofos puderam finalm ente envolver-se no que se tornou conhecido com o o m ovim ento do "livre-pensam ento" ou "livre-pensador". Ini- ciado no século 19 na A m érica do N orte e na Europa O ciden- tal, tornou possível para o cidadão com um a rejeição da fé cega e da superstição sem o risco de perseguição. D iante do exposto até então podem os, em acordo com A ndrade (2000), identificar o hum anism o ocidental contem - porâneo com o expressivo de três princípios: 1 O hom e~ visto com o o centro no m undo, cuja raiz encontra-se na célebre proposição de Protágoras: "O ho- m em é a m edida de todas as cois•as·". 2 A exaltação da razão com o atributo m aior e exclusivo do hom em . 3 O hom em pensado com o fim e nunca com o m eio ou com o instrum ento, sendo tom ado com o valor absoluto. A despeito da im portante diversidade contem porânea, a nosso ver, dos três princípios enunciados, o terceiro nos pare- ce ser o elo entre todas as form çls de hum anism o. 9 2 1,i_·. i !: n li i~ i r:j J " f] I'. 1:; :;; f' i; f; r t'. F: (i i F G estalt-te rapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas o hum anism o antropocêntrico:a m atriz m oderna do individualism o O pensam ento hum anista foi, ao lado das descobertas cientí- ficas do século 17, extrem am ente im portante ao libertar o hom em das am arras obscurantistas do autoritarism o religio- so e autocrático .. Poder ·ser um livre-pensador é, talvez, a m aior conquista da espécie hum ana ocidental. H oje, nin- guém é m ais condenado, aprisionado ou m orto por expressar ideias diferentes de qualquer doutrina política ou religiosa. O cidadão com um deve se sentir vitorioso ante a falência do poder e do arbítrio que o levava, pelo m edo, a negar a pró- pria razão ou a subm eter-se àquilo que sua consciência ou sua experiência recusavam . N o transcurso da sua evolução - em especial pelo endeu- sam ento do aspecto racio~al -, a ideologia antropocêntrica foi tom ando vulto. A o naturalizar o antropocentrism o com o condição inerente à natureza hum ana, e não com o construção ideológica do próprio hom em , o ser hum ano viu-se, por ex- tensão pragm ática, no direito de ser o m andatário legítim o dos. que habitam a natureza, determ inante racional do seu destino e senhor exclusivo dos m istérios da vida. A m egalo- m ania da sua epistem e levou toda a T erra a ser violentam ente devastada, à extinção m aciça das outras espécies e ao dese- quilíbrio de diversos ecossistem as. A dem ais, do ponto de vista da convivência social o hu- . ' roanism o antropocêntrico alienante foi evoluindo de form a inevitável para o individualism o de nossos dias. Enten'de G ué- non (1977 p 18) " · d' ;d 1· , , · .que o m 1v1 ua ism o e a negação de qual- q~e~ princípio superior à individualidade e, por consequên- cia, a redução da e· ·1· - d , . ·. 1v1 1zaçao, em to os os dom m 10s, apenas 9 3 -,--::-?~~~, t);._·•.:,,,.,: ... ~-~ i; .. l'it~ ~ -â';;_--.~ ~-:i{J / Lillan M eyer Frazão e K arina O kajim a Fukum itsu (orgs,) ·• - 0 ::•.•-"-'l'.é.:~·,Lc.Jz,~1;.e-~1 ~ '\W -0'Jlez:r::,:;., 1 i 1 1-, 1 ; 1 l ' \ , , 1· _, I' ,. i 1 i ;· 1 aos elem entos hum an ,, •E · d os • a~rescenta que, no fundo, trata-se os m esm os pressupost . , . os que, oa epoca do R enascim ento, foram cham ados de "hum anism o';'.\_, -t· O utro desvio do hum anism o antropocêntrico constitui-se n u ~ paradoxo deveras surpreendente: o próprio pensam ento racional, louvado com o um potencial criador hum ano, desa- guou na desvalorização da subjetividade por cuja recupera- ção foi travada a grandiosa batalha renascentista. T em os pensado que a ideia hum ana de hom em com o "o centro do universo" não é exatam ente o que explica o caráter nocivo e m alévolo do antropocentrism o. N ão é ser "o centro das coisas" a doença epistêm ica da visão do hom em sobre si m esm o. Para o ser hum ano - e todo discurso hum ano sobre o m undo, incluindo o científico, é um a visão hum ana -, o gênero hum ano é e sem pre será prioridade. É e sem pre será a categoria m ais im portante rio m undo da vida. A grande enferm idade cultural é esse ho- m em , que ocupa lugar central entre as espécies, ir-se tor- nando arrogante e infantilm ente autocentrado, abraçando o m undo com o um a criança egocêntrica abraça o pai que chega à fam ília, dizendo: "É m eu!" · A im aturidade sociocultural da posição antropocentrada ignora que o seu evidente poder hum ano sobre a natureza o obriga ao cuidado am oroso para com ela e não só consigo m esm o, sob pena de que sua despreocupação egocêntrica e alienada das outras form as de vida lhe m ine sorrateiram ente o próprio poder no qual se sustenta. 9 4 _j ;~ ! /: f1 r 1\ r: ij G estalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas o novo hum anism o: a am pliação do paradigm a sobre a hum anidade' N o final de abril de 2012 assistiu-se, nas redes sociais da inter- net, a um a m anifestação pública m ostrando pessoas vestidas de preto, usando luvas cirúrgicas e carregando bichos m ortos ou torturados. A cena, intencionalm ente sinistra, visava de- nunciar à população m undial o enorm e desrespeito à vida ani- m al. Esse ato público não apenas expressa o repúdio à cruel- dade e a com paixão pela vida, m as significa essencialm ente a am pliação da consciência hum ana e nos rem ete à em ergência sim ilar do hum anism o clássico, do qual descendem os. C om o espantoso crescim ento da ciência e da tecnologia, o hom em ficou deslum brado consigo m esm o. A lém disso, vi- m os que na esteira desse antropocentrism o foi-se desenvol- vendo um individualism o crescente, a ponto de nossa época ter sido caracterizada com o a época da solidão (Frazão, 2006). O avanço tecnológico, inform acional e industrial da sociedade tem gerado m etas produtivas segundo as quais a prescrição de êxito parece ser a utilização de um com porta- m ento com petitivo e um a m entalidade utilitarista que vê o º~ ~ o com o um objeto interm ediário para satisfazer seus pro- positos. C ada vez m ais pessoas têm assum ido essa m eta para sua existência, ficando subordinadas a um a lógica e a um rit- m o de trabalho rotinizante e padronizado que as m antêm confinadas, abrindo m ão do espaço e das oportunidades para 0 encontro inter-hum , · - ano intim o e, portanto, para a criação da su h ·d d . . . a ~ am a e potencial. V ão construindo, assim um in- d1v1duahsm o e - · , ' pragm atism o tam bem . desm edidos, que são 1. Slogan de um canal sobre a vida ani I d. - . Planet: surpreendentem ente h ,,m a isponivel na T V por assinatura· "A nim al um ano . · 9 5 ' 'G;-~~:!~,~, 1 ,..-"'!lt;•--·:it~ -:: ~~.;;r- '~ "~ ~ •i·,.-•. ·, •"': ... ~.J,_- -~~-~·, / ,. ,, ; :~ ri l~ --~ :jj :~ •t ·;, :a ,;;i : ,~ \~ \t 1~ . ; t; \t \ii 1 ~: Í' l ·l li \.\ \fl i \U lt) \i' !il .. i• 11·r_, !"' ii (! !~ t. ,,, i' '.~ f:' ;-: ií 'fj i~ :1 ,. ., 1 :~ \ :· :~ i· i~ l~ h 1 j:S ri !~ ,É ifl i~ 1 'I ) &' ,. -~ l .,,,.... Lilian M eyer Frazao e K arina O k .. aJ1ma Fukum itsu (orgs.) sustentados no fundo p l · l . e o cu to ao eu . f 1· sucesso a qualquer ., , ao tnun a ism o e ao preço. E ssa cultura da produ - d º tem d d çao esertJreada e do m ercado voraz ecreta o o exterm ' . d , -t· . . l 'd , . m io as arvores, dizim ado os anim ais po u1 o as aguas a . d .,.. ' . ' queci O a .Lerra ... e lançado no isolam ento as pessoas. T udo ind' 'A • 1ca que a consc1enc1a hum ana com eçou a perceber essa destrut· 'd d d A 1v1 a e o uso antropocentrico e pratica- m ente entrou em A • E , paruco. sta nascendo dessa consciência com partilhada um novo hum anism o contem porâneo. Podem os ver sinais de um novo hum anism o na preocupa- ção com o destino do hom em . Em nosso auxílio, recorrem os a W erle (2003, p. 98), que com enta a proposta de H eidegger para um a filosofia da existência afirm ando que "o que distin- gue o hom em é a sua relação com o ser e o m odo com o ele resguarda o ser, e não na m edida em que é definido com o um dotado de razão". Essa tem ática do cuidado com ci ser é a que estam os tentando m ostrar com o inerente ao novo hum anism o. O novo hum anism o está nascendo sob a égide e liderança da ecologia, m ovim ento de m áxim a oportunidade nos dias atuais. M as tem os visto que o discurso ecológico tem se lim i- tado à vertente antropocêntrica, "corporativista", referindo- -se à preocupação do hom em com o próprio hom em ; o cuidado com a natureza se expressa apenas diante do receio da falência da própria espécie. Essa tendênciá é com preensível em vista do seu surgim ento ainda recente, m as a nosso ver esse foco não exprim e com justiça aquilo que o novo hum a- nism o potencialmente pode gerar. A nova revolução hum anista é a que valoriza a viqa das dem ais espécies e não som ente a da hum a~a. É a revolução do espírito hum ano incorporando toda a vida em si, pela percep- 9 6 ~,·.[ 1,p_,~c:---=== r: f' !; j i i: !' 1 11 r: ti a r~ l ',1. ! t,~ F·_ ( fi h ,. t~ H ~; [\ i r 1) }:; t, t;, 1, !) (: 1 (, t. :, ., ;:; t t - --------- ---- Gestalt-terapia - Fundam entos epistem ológicos e influências filosóficas ção am pliáda do seu enraizam ento diário essencial ao m eio em que vive e pela percepção em pática do vínculo de paren- tesco biológico e, portanto, da sujeição de todas as espécies viventes à m esm a condição de vulnerabilidade ao sofrim ento. Sonham os a hum anidade cam inhando para além de um hu- m anism o red~zido ao atual pragm atism o ecológico do ho- m em , em vista do risco rondan:do a sua m orada. Q uando o hom em é o foco, o espírito hum anista verda- deiro é o que faz que vejam os cada pessoa com o im portante em si m esm a, independentem ente da classe social, do nível de cultura ou instrução, da etnia, do status econôm ico ou cientí- fico, e até do próprio valor da pessoa para a com unidade. É o espírito hum anista que nos faz com preender que, além da si- tuação provisória, todo hom em é potencialm ente disponível para a evolução e a aquisição da ciência e da técnica. A dife- rença entre o erudito e o ignorante é m eram ente circunstan- cial, não decorrendo da essência prévia de um a dupla nature- za. D aí serm os tom ados por um a sensação secreta de ridículo . e vergonha diante da pessoa que ostenta um a postura de so- berba acadêm ica ou social. Para finalizar: qual é o nosso hum anism o? E ntão, de que hum anism o falam os quando o vinculam os à G estalt-terapia? Esse é um tópico essencial para aquele que denom ina de hum anista a sua abordagem . É necessário exa- m inar se adotam os, de form a inadvertida, o hum anism o an- tropocêntrico individualista - centrado no E u, ainda com ple- tam ente vigente nas ciências, na psicologia, na educação e nas igrejas - ou se nosso hum anis~o inclui a aw areness da iden- tidade essencial da condição hum ana, aw areness capaz de ul- 9 7 t:-..., ,..,~'-'i ' (_,.,.....,: ~<."< -, -,,..:_-· \ / ! ~.,.. 1 1 ·! J . , i 1. ,· i' j ' 1. ,1 . . ~1 :.! :, ·, 1 Lilian M eyer Frazão e Karina O kajim a Fukum itsu (orgs.) trapassar· a categorização do nosso cliente m esm o quando de utilidade prática para nosso fazer terapêutico, vendo nessa categorização apenas um esforço~recário da ciência hum ana na busca de entendim ento do ser: Entendim ento inevitavel- m ente provisório e parcial ao extrem o, em bora necessário, quando ainda lhe escapa a apreensão am orosa da sua totali- dade. U m hum anism o, enfim , que pretende libertar o ser hu- m ano das tendências antropocentradas e individualistas, pois nasce da expansão da consciência em pática que, de form a vi- gorosa, nos im pulsiona à aceitação de todos, hom ens, anim ais plantas, com o m em bros de um a única fam ília universal, tra- tando com com paixão as diferentes espécies e buscando a fra- ternidade entre elas. R E F E R tN C IA S B IB L IO G R Á F IC A S A N D R A D E , M . O . "H um anism o no segundo m ilênio: um rápido balanço". ln: M IEI.E, N .; A N D R A D E., M . O . (orgs.). O 11elho e o no110 em m il anos.João Pessoa: M anufa- tura, 2000, p; 147-58. BU lll!R, M . D o diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectíva, 1982. D U A R TE, M . C . Breve introdução à história do hum anism o secular. Lisboa: ISCI'E, 2001. FRAZÃO, L. M . "A solidão na contem poraneidade". Re11ista do XII Encontro G oiano da Abordagem G estáltica, 2006. G utN oN , R. A crise do m undo m oderno. Lisboa: V ega, 1977. 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Essa concepção sofreu um a reviravolta quando o fi.Jósofo Franz B rentano (1838-1917) criou a psicologia d<? a{b', segun- do a qual os fenôm enos m entais são atos qu~ im plicam obje- tos externos, devendo a psicologia estudar Ós processos m en- tais não seus conteúdos. A noção de intencionalidade (a consciênci~ é sem pre a consciên,9-Í de algo) f~i introduzida· por ele e m fluenciou, além do filósofo H usserl, M einong e /99 , ..,·. ,.,,.~,se:.-,. "'. ,, ''Ôt..~,~:.·>~ ..... . ~ • -..: ·,~.>,.-... ..,..-1;,,,_ .... . *.:;;·.-·~~. :~•--' --.: .. ~·~.;.-,. ~ /
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