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Prévia do material em texto

Marcio Evangelista Ferreira da Silva 
Prefácio de Geilza Fátima Cavalcanti Diniz 
HERMENÊUTICA E HOMICÍDIO QUALIFICADO 
Brasília
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios 
2014 
II 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS 
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL – INSTITUTO 
MINISTRO LUIZ VICENTE CERNICCHIARO 
Direção-Geral 
Des. George Lopes Leite 
Coordenadoria de Cursos 
Juíza Geilza Fátima Cavalcanti Diniz 
Secretaria da Escola de Administração Judiciária 
Arlete Garcia Rodrigues 
Apoio: 
Primeira Vice-Presidência 
Desa. Carmelita Indiano Americano do Brasil Dias 
Secretaria de Jurisprudência e Biblioteca 
Tadeu Costa Saenger 
Colaboração: 
Subsecretaria de Biblioteca 
Marcelo Hilário de Moraes 
Subsecretaria de Pesquisa, Planejamento e Avaliação
Célia Regina Vasconcelos Soares Alves 
Serviço de Multimeios 
Lumi Ozaki Fukushima 
Serviço de Processamento Bibliográfico 
Daniel Marcus Ribeiro 
Olímpio Antônio Filho 
Diagramação: 
Subsecretaria de Doutrina e Jurisprudência 
Kelen Bisinoto Evangelista de Oliveira 
Serviço de Revista e Ementário 
Alexandre da Silva Lacerda 
Capa: 
Clarissa Silva de Azevedo 
Conselho Editorial: 
Fernando Brandini Barbagalo 
Geilza Fátima Cavalcanti Diniz 
Wagner Junqueira Prado 
III 
Silva, Marcio Evangelista Ferreira da. 
Hermenêutica e homicídio qualificado / Marcio 
Evangelista Ferreira da Silva ; prefácio de Geilza 
Fátima Cavalcanti Diniz. – Ebook. – Brasília : 
TJDFT, 2014. 
178 p. 
ISBN : 978-85-60464-01-2 
1. Direito Penal. 2. Homicídio Qualificado. 3. 
Hermenêutica Judicial. 4. Teoria do Tipo. 5. 
Princípios Jurídicos. I. Título 
CDU 343.2
S586h
IV 
A vida é curta, a arte é longa. 
A ocasião, fugidia. 
A esperança, falaz. 
E o julgamento, difícil 1.
 
1
 Hipócrates. Aforismos. 1,1. 
V 
Dedico o presente a todos os juízes, promotores, defensores públicos e 
advogados que diuturnamente enfrentam a árdua tarefa de interpretar enunciados normativos 
ambíguos, vagos e equívocos. 
VI 
Agradeço a meus pais pelos valores essenciais à formação do homem que sou hoje. 
Meu pai pelo exemplo de que realmente o trabalho enobrece o homem. 
Minha mãe pela sensibilidade e bom senso – solução simples para todas as 
agruras da vida. 
Agradeço a minha esposa e minhas filhas pelo amor e apoio incondicional. Peço 
perdão por minha ausência nos momentos de estudo. 
Enfim, a Deus, fonte de tudo. 
VII 
APRESENTAÇÃO 
Com a obra do Juiz MARCIO EVANGELISTA FERREIRA DA SILVA, “Hermenêutica e 
Homicídio Qualificado”, a Escola de Administração Judiciária do Distrito Federal e dos 
Territórios – Instituto Luiz Vicente Cernicchiaro inicia uma série de publicações em e-books
visando à divulgação do pensamento científico de Juízes e Desembargadores do Tribunal de 
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Objetiva-se com isso suprir uma lacuna no 
campo editorial da Escola e propiciar um espaço livre de debate do conhecimento acadêmico, 
sua aplicação prática e, também, incentivar a pesquisa em torno de temas candentes da 
atualidade. 
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, talvez em razão de 
suas peculiaridades, por ser mantido pela União, que não demanda seus serviços, e não 
depender do orçamento do Distrito Federal, fez-se merecedor de sólida reputação de 
autonomia e independência, graças, igualmente, à capacidade e à originalidade de pensamento 
dos seus Juízes. Neste Tribunal surgiram, cresceram e se notabilizaram no cenário do Poder 
Judiciário Brasileiro expoentes do porte do saudoso Luiz Vicente Cernicchiaro, ex-ministro 
autor de diversas obras no campo do Direito Penal, que muito contribuiu para a consolidação 
do Superior Tribunal de Justiça como Tribunal da Cidadania e deu nome à nossa Escola; o 
não menos saudoso Romildo Bueno de Souza, que se notabilizou no campo do Direito 
Administrativo, Civil e Processual Civil e também compôs no nascedouro esse mesmo 
Tribunal, e, mais recentemente, a Ministra Nancy Andrighi, que hoje ocupa o honroso cargo 
de Corregedora Nacional de Justiça, mas anteriormente já alcançara justo renome pelo 
trabalho desenvolvido na criação, solidificação e aperfeiçoamento das escolas judiciais, bem 
como dos juizados especiais, sendo também precursora no campo da conciliação. Junto com 
esses notáveis juristas, novos Juízes têm envidado esforços para o aprimoramento da cultura 
jurídica, com o decisivo apoio desta Escola de Administração Judiciária, irmanados na busca 
incessante por proporcionar aos jurisdicionados uma justiça mais célere e eficaz, fundada no 
equilíbrio perfeito entre emoção e razão, esta embasada em sólido conhecimento do estado da 
arte sobre os temas abordados em suas sentenças. 
Assim, a Escola de Administração Judiciária dá cumprimento à Resolução 
8/2013-TJDFT, que determina a disponibilização dos trabalhos de conclusão de curso para 
publicação e consulta gratuitas em veículos de comunicação do Tribunal. A citada Resolução 
instituiu uma forma interessante e moderna para disseminar o conhecimento científico haurido 
VIII 
pelos juízes nos cursos realizados por intermédio da Escola de Administração Judiciária. 
Cumpre, ainda, à Escola a missão institucional de proporcionar a magistrados e servidores um 
ambiente de educação continuada capaz de promover novas oportunidades de aprendizagem e 
de desenvolvimento profissional. Coloca-se, assim, à disposição do público interno um 
ambiente adequado para a veiculação de ideias, procurando estabelecer igualmente uma 
interface com o público externo, de molde a dar a conhecer o pensamento doutrinário e 
jurisprudencial dos nossos juízes. 
Com esta primeira publicação, espera-se estimular outros juízes, juristas, 
humanistas e filósofos que vicejam em nosso meio, para trazerem a lume a sua produção 
científica, fruto da inteligência, perspicácia e sensibilidade que sempre grassou neste Tribunal 
e fez a história de sua grandeza. 
Nesta oportunidade, não poderia deixar de ser reconhecido, além do esforço 
inaudito do autor Marcio Evangelista, o dos magistrados WAGNER JUNQUEIRA PRADO, 
FERNANDO BRANDINI BARBAGALO e GEILZA FÁTIMA CAVALCANTI DINIZ. Esses bravos Juízes 
encontraram espaço entre suas ingentes e diuturnas tarefas administrativas e judicantes para 
dedicar um pouco do precioso tempo ao estudo, à produção de conhecimento e à revisão de 
textos, contribuindo com isso para consolidar a política de aperfeiçoamento desta Casa. 
Honra-nos reconhecer e enaltecer o comprometimento do autor e dos membros do 
Conselho Editorial na realização de um trabalho de alta qualidade, que certamente não 
desmerece as honrosas tradições deste Tribunal de Justiça. Agradecemos esse importante 
contributo, destacando a competência, abnegação e empenho no cumprimento dos prazos 
estabelecidos, permitindo a publicação desta primeira de uma série de obras, que advêm das 
atividades-fins desta Escola. 
Brasília, 2014. 
George Lopes Leite 
IX 
PREFÁCIO 
Tenho acompanhado, ao longo de onze anos, as inquietações acadêmicas que 
Marcio Evangelista Ferreira da Silva tem tido a partir da prática judicante nas Varas 
Criminais do Distrito Federal. Essas inquietações o levaram a alçar voos ainda mais altos dos 
que ele já alçava como juiz de direito e professor universitário e procurasse aprofundar os 
estudos no Mestrado em Direito. 
Foram questionamentos surgidos na atividade da magistratura e do magistério que 
o levaram a ir além do célebre, mas ultrapassado brocardo de que o juiz é a boca da lei. De 
fato, o juiz moderno, atento à realidade social e às peculiaridades dos casos concretos que lhe 
são submetidos, deve se preocupar em procurar o verdadeiro alcance dos dispositivos 
normativos que iráaplicar. E determinados dispositivos parecem pretender mesmo essa 
atividade de busca pelo alcance, a depender de cada situação, por parte do magistrado. Não é 
à toa que o legislador, tantas vezes, usa conceitos fluidos, vagos, cuja aplicabilidade não pode 
ser feita por intermédio do processo de subsunção direta. 
O que seria motivo torpe? Se não dependesse de uma atividade de hermenêutica 
mais forte, o legislador já teria explicitado esse alcance. O mesmo se diga em relação a 
motivo fútil, perigo comum, meio que dificulte a defesa do ofendido, dentre tantos outros. 
Ronald Dworkin talvez chamasse esses casos, que demandam uma aplicação 
diversa daquela de subsunção direta, de hard cases; Marcio Evangelista Ferreira da Silva 
preferiu abordar a partir dos diversos métodos de hermenêutica e afirmar que os elementos 
normativos incriminadores (fechados ou abertos) demandam valoração subjetiva do 
intérprete. 
Para isso, faz uma abordagem de como os magistrados decidem e como deveriam 
decidir, traçando um paralelo entre a atuação do juiz em relação aos enunciados normativos 
genéricos e imperfeitos, que comportam menor grau de menos vinculação, face à necessidade 
de se complementar o texto; e a atuação do magistrado em relação a enunciados precisos, 
quando há então um maior grau de vinculação. 
Essa questão de fato é tormentosa, tanto que já se diferenciou as normas jurídicas 
em regras e princípios, sendo que um dos principais aspectos diferenciadores seria o grau de 
abstração da norma e, em contrapartida, o grau de vinculação da atividade judicial. 
X 
Atualmente, tal distinção tem ganhado críticas, mas a questão jamais deixou de ser 
tormentosa, e ganha especiais contornos no presente livro. 
O livro realiza ainda uma análise peculiar e cuidadosa, fazendo um paralelo 
inovador entre a teoria da tipicidade conglobante, de Zaffaroni, e a interpretação do enunciado 
normativo. Foge-se do locus mais comum daquela teoria, ou seja, sua utilização para a análise 
do sistema normativo penal considerado em sua globalidade, a fim de excluir antinomias e, 
com isso, a tipicidade; para utilizá-la com a finalidade de integrar o sistema punitivo, 
viabilizando de forma mais efetiva a adequação típica. 
Um dos grandes méritos da pesquisa do autor, além da farta pesquisa doutrinária e 
cuidadoso suporte jurisprudencial, foi superar a noção de que a analogia não pode ser 
utilizada em relação às normas penais incriminadoras, mas apenas nas normas penais 
permissivas. A utilização de termos vagos pelo legislador viabiliza, de fato, a consideração, 
pelo intérprete, de fatores e evolução sociais. 
Trata-se de uma leitura importante aos estudantes, professores, juízes, promotores 
e advogados que atuam na área criminal. Foi, por isso, com enorme prazer que aceitei o 
convite de prefaciar obra com tal magnitude, fruto de pesquisa de vários anos de Marcio 
Evangelista e que agora, por opção do autor, é colocada à disposição de todos, em iniciativa 
da Escola de Administração Judiciária do TJDFT. 
Brasília, 2014. 
Geilza Fátima Cavalcanti Diniz 
1 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 2
2. HERMENÊUTICA E TIPO PENAL _________________________________________ 6
2.1 Hermenêutica e interpretação _________________________________________________ 6
2.2 A ambiguidade e a interpretação do enunciado normativo _________________________ 17
2.3 O direito penal e a Constituição Federal ________________________________________ 27
2.4 O tipo e o direito penal ______________________________________________________ 38
2.5 A interpretação e o direito penal ______________________________________________ 43
2.6 A tipicidade conglobante e a interpretação do enunciado normativo_________________ 57
2.7 Hermenêutica judicial: Como os magistrados decidem e como deveriam decidir_______ 63
3. O HOMICÍDIO QUALIFICADO NO DIREITO BRASILEIRO __________________ 81
3.1 O crime de homicídio no Direito Penal brasileiro_________________________________ 81
3.2 O crime de homicídio e suas qualificadoras _____________________________________ 84
3.3 O crime de homicídio qualificado na dinâmica jurisprudencial _____________________ 91
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ______________________________________________ 95
5. REFERÊNCIAS _______________________________________________________ 103
6. ANEXO ______________________________________________________________ 113
6.1 – Análise de Julgados dos incisos do §2º do artigo 121 do Código Penal brasileiro_____ 113
6.1.1 Motivo torpe __________________________________________________________________ 113
6.1.2 Motivo fútil ___________________________________________________________________ 125
6.1.3 Meio que cause perigo comum ____________________________________________________ 135
6.1.4 Meio que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido_____________________________ 143
6.1.5 Assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime _______________________ 148
6.2 - Ementas de Julgados ______________________________________________________ 154 
6.2.1 - Homicídio Qualificado pelo motivo torpe (artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal) _______ 154
2 
1. INTRODUÇÃO 
Interpretar é determinar o sentido e o alcance das expressões do direito. 
O interprete é o renovador inteligente e cauto, o sociólogo do direito.
Carlos Maximiliano2
O objetivo central do livro é analisar a interpretação dos enunciados normativos 
incriminadores previstos nas qualificadoras do artigo 121, §2º, do Código Penal brasileiro, 
circunstâncias genéricas e abertas, são elas: motivo torpe, motivo fútil, meio que resulte 
perigo comum, meio que torne impossível ou dificulte a defesa do ofendido e crime praticado 
para assegurar a vantagem de outro crime. 
A finalidade é analisar, com fundamento na hermenêutica e em seus métodos, 
como os enunciados genéricos e abertos são interpretados e aplicados aos casos concretos, 
pois há conflitos exegéticos quanto ao conteúdo, sentido e alcance dos aludidos enunciados 
qualificadores. Quer-se demonstrar que todos os elementos normativos incriminadores 
(fechados ou abertos) demandam valoração subjetiva, pois só assim descortina-se o sentido e 
o alcance do tipo penal, revelando-se a intenção da lei. 
O Estado detém o poder de criar enunciados incriminadores com o intuito de 
proteger bens jurídicos, aqueles que o legislador entende merecer tutela estatal devido estarem 
sob aviltamento constante. Para criar o enunciado penal incriminador, o legislador 
infraconstitucional deve estabelecer qual o direito/interesse que visa proteger, bem como a 
conduta que deseja vetar a prática, ou seja, a conduta que doravante será considerada crime. 
Na tarefa de estabelecer a conduta criminosa, o legislador precisa atentar para os princípios 
constitucionais – o norte a seguir. 
A obra é dividida em duas partes. Na primeira analisam-se a hermenêutica, os 
métodos de interpretação e o enunciado normativo incriminador – o tipo penal. No estudo da 
hermenêutica verifica-se a importância do tema para o Direito Penal, pois como diz Inocêncio 
Mártires Coelho, tem o intérprete a tarefa de revelar o significado do texto legislativo como o 
músico revela a música de uma partitura (2001, p. 21). 
Ainda na hermenêutica, verifica-se que são apresentados métodos pelos quais o 
exegeta interpretará o enunciado normativo. Na interpretação do Direito Penal devem ser 
 
2
 MAXIMILIANO: 2000, p. 01 
3 
aplicados os métodos que a hermenêutica geral nos apresenta, eis que é universal, não 
havendo um campo específico, sendo que a intitulada hermenêutica jurídica nada mais é do 
que a hermenêutica geral com certas singularidades, ou como nominou Hassamer, “um 
rebento tardio da teoria geral da hermenêutica” (2007, p. 3-5). 
Nahermenêutica jurídica não ocorrem as discussões intermináveis comumente 
existentes na estética e na filosofia, eis que o enunciado normativo incriminador deve ser 
aplicado ao caso concreto e, assim, há uma resolução do conflito exegético com a imposição 
de um entendimento. 
A hermenêutica geral apresenta vários métodos para que o intérprete possa chegar 
a uma conclusão quanto ao conteúdo, o sentido e o alcance do enunciado normativo. Devido à 
extrema importância para o presente tema, aprofundou-se no estudo da interpretação 
extensiva, abordando-se as hipóteses de interpretação analógica, progressiva e evolutiva. 
Analisa-se, ainda que rapidamente, a teoria do tipo penal e suas espécies. Nessa 
parte, retomando-se a análise da interpretação extensiva do tipo penal, ou seja, do enunciado 
normativo incriminador, apresentou-se a proposta de Eugenio Raúl Zaffaroni, qual seja, a da 
teoria da tipicidade conglobante, na qual é apontada uma vertente de interpretação extensiva 
evolutiva considerando o termo aberto ou vago em todo o sistema jurídico para a correlata 
adequação típica. Note-se que tal vertente não é adotada pelo aludido autor, eis que defende o 
garantismo e a interpretação restritiva em Direito Penal. 
Para aprofundar o estudo da hermenêutica e dos métodos de interpretação do 
enunciado normativo incriminador, abordou-se especificamente a questão de como os 
magistrados brasileiros decidem e como deveriam decidir, constatando-se que deve haver um 
controle quanto ao processo decisório, já que o mesmo objeto interpretado não pode ter dois 
sentidos, eis que traria insegurança jurídica. 
Para a análise das formas de interpretação do enunciado normativo incriminador 
foram analisados, dentre outros, os estudos de Chaïm Perelman, Alf Ross, Hans Kelsen, 
Inocêncio Mártires Coelho e Carlos Maximiliano. 
Ao analisarmos os estudos sobre interpretação do enunciado normativo, ficou 
assente que a atividade do intérprete é complementadora do texto elaborado pelo Poder 
Legislativo, eis que aludido texto é incompleto, vago, abstrato e só ganha vida quando 
aplicado ao caso concreto e, para tanto, deve se adaptar e evoluir. 
4 
Na segunda parte realiza-se a análise do crime de homicídio qualificado sob as 
luzes do magistério penal brasileiro. Quer-se demonstrar como que o pensamento jurídico 
brasileiro analisa e interpreta os enunciados normativos qualificadores previstos para o crime 
de homicídio. 
Constatou-se que há uma tendência de restrição ao processo de interpretação do 
enunciado normativo qualificador, sempre fundado na alegação de que se for ampliado o 
conteúdo, o sentido e o alcance do enunciado, estar-se-ia afrontando os princípios da 
legalidade e da taxatividade/determinação. 
Ainda na segunda parte, a análise é aprofundada nos casos judiciais, nos quais são 
aplicados in concreto os enunciados normativos qualificadores previstos no artigo 121, §2º, 
do Código Penal brasileiro. Verificou-se que em se tratando de interpretação do enunciado 
normativo qualificador a maioria dos julgados aponta para a solução da subsunção, ou seja, se 
a situação de fato corresponde ao texto, se é adequada ao enunciado normativo. 
Notou-se em vários julgados o déficit de fundamentação quanto ao processo 
hermenêutico, eis que não há como saber qual método foi utilizado, pois há a imposição de 
um sentido que se atribui ao enunciado normativo qualificador, simplesmente pelo fato de se 
afirmar que se adequou ao fato. 
Nas considerações finais são apresentadas algumas conclusões acerca do 
magistério doutrinário e da prática judicial brasileira. Tentou-se demonstrar que o elemento 
normativo prescrito pelo legislador é mutável de acordo com a evolução social, bem como 
que cabe ao intérprete apresentar o sentido e o alcance de aludida prescrição, sempre fiel ao 
espírito da lei. Tentou-se ainda demonstrar que é possível aplicar a interpretação analógica 
aos enunciados normativos qualificadores utilizando-se como paradigmas as ilicitudes 
previstas no sistema penal como um todo. 
Na análise dos julgados tentou-se demonstrar que, na prática judiciária, há déficit 
de fundamentação quanto ao sentido e o alcance do elemento normativo qualificador. 
Em resumo, o livro tem a intenção de apresentar um estudo sobre a hermenêutica 
e a interpretação dos enunciados normativos incriminadores, em especial defendendo a 
possibilidade de interpretá-los extensivamente para o fim de mantê-los vivos e adequados à 
realidade da sociedade, pois como disse Carlos Maximiliano, a história demonstrou que a 
radicalização do direito positivo não se sustenta e que o extremismo da aplicação da lei, 
somente quando houver a exata subsunção, não pode subsistir (2000, p. 320-322). 
5 
Quer-se, por fim, demonstrar que, aceitando-se ou não a interpretação extensiva 
ou analógica no Direito Penal brasileiro, o resultado da interpretação do enunciado normativo 
incriminador é um dos possíveis resultados, que só será justo se for aceitável, equitativo, 
razoável e conforme a Constituição Federal, a intenção da lei e a realidade atual. 
6 
2. HERMENÊUTICA E TIPO PENAL 
No presente capítulo pretende-se analisar o processo hermenêutico e as regras de 
interpretação dos enunciados normativos. A intenção é apontar possibilidades sobre o controle 
racional do ato de interpretar, pois conforme Hans Kelsen (2011, p. 391-395), a “interpretação 
jurídico-científica não pode fazer outra coisa senão estabelecer as possíveis significações de 
uma norma jurídica". 
É importante salientar, desde já, que com o ato de interpretar busca-se o justo, o 
correto, ou seja, o coletivamente aceitável, pois nenhum método de interpretação pode 
garantir a correção da manifestação do intérprete, eis que sendo proferida por autoridade 
competente é válida. 
Pretende-se também apresentar uma síntese da teoria do enunciado normativo 
incriminador, nominado na academia penalista, bem como na prática de – tipo penal. Trata-se 
de tema ligado à descrição da conduta criminosa pelo legislador, pois conforme Nélson 
Hungria, definir um crime é “descrever o fato que o constitui” (1955, p. 11). 
2.1 Hermenêutica e interpretação 
O enunciado normativo incriminador é o texto da lei penal, ou seja, a descrição de 
uma conduta, mas não a norma, pois esta advém daquele, é ela o dever ser que vincula as 
condutas do cidadão, sendo que aquele é abstrato – só um texto (ALVES JUNIOR: 2010, p. 
78). 
O tema interpretação é campo de grandes debates. Cesare Beccaria era 
veementemente contra tal tarefa ser realizada pelo juiz, fazendo, inclusive, alerta sobre a 
obscuridade das leis. No seu entender, se a lei fosse simples e de fácil compreensão e 
entendimento pelos cidadãos, menos delitos teríamos. Queria ele dizer que o cidadão tem de 
ter ciência do que é proibido e, para isso ocorrer, deve entender o que diz a lei e, assim, se 
comportar conforme o mandamento da sociedade estatuído no enunciado normativo (1997, p. 
22). 
Em suas palavras: 
Enquanto o texto das leis não for um livro familiar, uma espécie de 
catecismo, enquanto forem escritas numa língua morta e ignorada do povo, e 
7 
enquanto forem solenemente conservadas como misteriosos oráculos, o 
cidadão que não puder julgar por si mesmo as conseqüências que devem ter 
os seus próprios atos sobre a sua liberdade e sobre os seus bens, ficará na 
dependência de um pequeno número de homens depositários e intérpretes 
das leis (BECCARIA: 1997, p. 22). 
Uma lei para obrigar “de maneira realmente efetiva”, deve ser breve e clara, ou 
seja, acessível a todos (VILLEY: 2009, p. 742). Nítido, então, que a lei deve conter 
expressões de fácil compreensão, bem como deve o enunciado normativo ser taxativo, certo e 
sem obscuridade. 
No entanto, convém salientar que o problema da interpretação não se cinge às leis, 
mas a todos os enunciados normativos,inclusive constitucionais. Com efeito, os enunciados 
constitucionais não contêm termos unívocos, mas sim palavras (símbolos linguísticos) que 
podem ter vários sentidos (ALVES JUNIOR: 2010, p. 76). 
No que diz respeito à interpretação de enunciados normativos, tormentosas são as 
discussões no campo da linguística e do ativismo judicial (COELHO: 2011, p. 47-51). Mas, 
como recorte metodológico, limitando o foco, o presente estudo não se aprofundará em tais 
pormenores. 
É cediço que o direito positivo estabelecido no enunciado normativo não encerra 
os problemas da sociedade. As disputas diuturnas na maioria das vezes se resolvem com a 
aplicação da norma ao caso concreto, sendo que tal aplicação é levada ao Poder Judiciário, 
surgindo o problema da aplicação do enunciado normativo abstrato ao problema real, pois 
cada litigante apresenta sua forma de ver o enunciado normativo, apontando que norma deseja 
ver aplicada. 
Note-se que o problema também ocorre, na maioria das vezes, quando não há uma 
correspondência métrica entre o que foi previsto pelo legislador e o caso do mundo, a 
distância entre a generalidade do enunciado normativo e a singularidade do caso concreto, ou 
seja, “a antinomia entre o abstrato e o concreto” (COELHO: 2001, p. 47-51). 
Interpretar o enunciado normativo é tarefa necessária, pois a antiga máxima in 
claris cessat interpretatio não se sustenta, tudo se interpreta (MAXIMILIANO: 2000, p. 9). 
Com efeito, como sempre há margem de interpretação, o enunciado normativo deve ser 
sempre avaliado quanto à vontade e à intenção da lei, pois como disse Ulpiano “embora 
8 
claríssimo o edito do pretor, contudo não se deve descurar da interpretação respectiva” (apud
MAXIMILIANO: 2000, p. 33). 
Francesco Ferrara argumenta que há uma confusão quanto ao brocardo in claris 
non fit interpretatio, pois não se deve confundir interpretação com dificuldade de 
interpretação, referindo-se, no primeiro caso às leis claras e, no segundo, às obscuras. Com 
efeito, a lei traz em seu enunciado um “complexo de palavras escritas” que, por vezes, se 
apresenta defeituosa, sendo curial, no ato da interpretação, a “experiência e domínio perfeito 
não só do material positivo, como também do espírito de uma certa legislação” (1987, p. 128-
129). 
Não se pode, então, aceitar a ideia do citado brocardo, pois mesmo sendo um 
enunciado normativo fechado, a ele podem ser atribuídos vários significados, mesmo quando 
exposto de forma clara. O “direito é hermeneuticamente aberto, pois suas ‘expressões não tem 
um sentido único e fixo’, pois admitem sempre sentidos ‘contextual-gramaticalmente 
diferente e lhes é assim conatural e ineliminável uma virtual ambigüidade’” (NEVES: 2003, 
p. 186-190). 
Corroborando tal assertiva, Karl Larenz afirma que não só os enunciados 
normativos obscuros demandam interpretação, mas também os que parecem claros, também 
afastando a máxima citada acima (1989, p. 240-241).
No mesmo sentido, Alf Ross relata que todo enunciado normativo, seja claro ou 
vago, depende de uma interpretação, pois “nenhuma situação concreta enseja uma aplicação 
única da lei” sendo “errôneo, também, portanto, crer que um texto pode ser tão claro a ponto 
de ser impossível que suscite dúvidas quanto a sua interpretação” (2007, p. 164-165 e 330). 
Há, então, necessidade de interpretar os enunciados normativos, havendo também 
a necessidade de racionalidade em tal processo, sendo que a hermenêutica apresenta métodos 
que podem ser racionalmente analisados e rotulados de aceitáveis ou não. 
A hermenêutica é universal, não há um campo específico, pois “o pensamento 
hermenêutico é como uma fita que mantém unidas as áreas separadas da ciência, como 
também a ciência e a prática e que consegue, em princípio, a unidade”. Assim, a hermenêutica 
é um método cientifico, não um campo objetivo ou disciplina, sendo que a chamada 
hermenêutica jurídica é “um rebento tardio da teoria geral da hermenêutica” (HASSAMER: 
2007, p. 3-5). 
9 
Segundo Inocêncio Mártires Coelho, compete à hermenêutica geral “atribuir às 
ações e criações humanas, de modo racional e controlável, um sentido que se considere, se 
não verdadeiro, pelo menos coletivamente aceitável”. Já a hermenêutica jurídica é dotada de 
certas singularidades, mas não difere da hermenêutica bíblica ou filosófica, eis que a religião, 
a moral e a lei são regras de condutas coletivas e, como tais, têm “finalidade diretiva comum, 
comportam uma só leitura adequada ao seu objeto, uma interpretação em função normativa, 
uma hermenêutica”. Como dito, há particularidades na hermenêutica jurídica, tais como o 
“método impositivo ou pragmático-autoritário de pôr termo aos conflitos exegéticos”, ou seja, 
distinta “da maneira aberta como se travam as intermináveis disputas estéticas ou filosóficas” 
(2011, p. 12-13, 21 e 82-83). 
No entanto, busca-se uma racionalidade para a tarefa do exegeta que concretiza a 
lei em sua singularidade. A racionalidade é necessária para reduzir-se o voluntarismo presente 
no ato hermenêutico. Com efeito, os textos, os enunciados normativos são “normas 
potenciais”, eis que possuem possibilidades de interpretações e, de tais enunciados, é que são 
extraídas as verdadeiras normas pelos aplicadores do direito (COELHO: 2011, p. 12-13 e 21). 
 Destarte, por mais claro que pareça o enunciado normativo, sempre haverá a 
incidência dos processos de interpretação estabelecidos pela hermenêutica. A hermenêutica, 
muito confundida, nada mais é do que a reunião de processos sistêmicos, de formas, de modos 
pelos quais se interpreta o texto da lei, de como é o processo de extração do sentido e de seu 
alcance (MAXIMILIANO: 2000, p. 1). 
O intérprete, conforme Dimitri Dimoulis, tem um leque de possibilidades ao se 
deparar com o enunciado normativo “cabendo a ele (e somente a ele) decidir qual será 
efetivamente adotada. Por óbvio, o intérprete deverá escolher uma das possíveis alternativas, 
mas deve decidir dentro da “moldura” de Hans Kelsen. A crítica que se faz à lógica de Kelsen 
reside na ausência de “métodos interpretativos que permitem constatar os limites da norma, 
isto é, traçar a moldura” (2006, p. 210-211). 
Pelo que foi visto, o processo de interpretação não é simples (não sendo possível 
acatar, como já dito, a antiga máxima in claris cessat interpretatio), pois há uma gama de 
processos sistêmicos, de formas, de modos pelos quais se interpreta o texto da lei. 
Diante de tal assertiva, historicamente, quando se analisa a questão da 
interpretação, várias vertentes são apresentadas. No entanto, segundo Carlos Maximiliano, no 
10 
meu sentir o melhor norte acerca do tema, a tarefa de interpretar é uma só, mas “exercita-se 
por vários processos e elementos” (2000, p. 106 e 210). 
No processo de interpretação gramatical, também chamado de filológico, o 
exegeta se preocupa com a letra da lei. É importante frisar que as palavras são apenas 
símbolos que, juntos “enfeixam, em reduzida síntese, um processo complexo de 
pensamentos”. Também é importante asseverar que é natural que as palavras revelem ideias, 
mas não perfeitas, pois “os limites do campo verbal são indefinidos” (MAXIMILIANO: 2000, 
p. 106 e 118). 
A interpretação literal é, sem dúvidas, o primeiro estágio para o intérprete, eis que 
“efectivamente, o texto da lei forma o substracto de que deve partir e em que deve repousar o 
intérprete”. (sic) Note-se que as palavras devem ser interpretadas no seu sentido comumente 
utilizado, salvo se merecerem acepção técnica, caso em que se deve interpretá-las no seu 
sentido técnico em detrimento do uso vulgar (FERRARA: 1987, p. 139-141). 
Para Carlos Maximiliano, a análise gramatical leva em consideração as várias 
acepções do vocábulo e “procura descobrir qual deve ou pode ser o sentido de uma frase, 
dispositivo ou norma”. Note-se que a interpretação gramatical depende de váriosfatores, 
como, por exemplo, “o conhecimento perfeito da língua empregada”. Deve-se também 
conhecer o contexto em que o autor do verbete vivia, ou seja, “a profissão, hábitos pelo menos 
intelectuais e estilo do autor, orientação de seu espírito, leituras prediletas, abreviaturas 
adotados” (2000, p. 107). 
A observação anterior fundamenta-se no fato de que as informações são 
necessárias pela peculiaridade dos idiomas das várias regiões, bem como “a variação de 
significados conforme a época em que o texto foi redigido” (MAXIMILIANO: 2000, p. 108). 
Note-se ainda que cada “palavra pode ter mais de um sentido” e o “juiz atribui aos 
vocábulos o sentido resultante da linguagem vulgar; porque se presume haver o legislador, ou 
escritor, usado expressões comuns; porém, quando são empregados termos jurídicos, deve 
crer-se ter havido preferência pela linguagem técnica”. É de se ressaltar que no âmbito do 
Direito Público é comum o emprego de vocábulos no sentido técnico, enquanto que, no 
Direito Privado, normalmente se utiliza da acepção vulgar (MAXIMILIANO: 2000, p. 109). 
Na tarefa da interpretação, ao se aplicar o processo gramatical, não se deve 
esquecer que o apego à literalidade do dispositivo não pode sacrificar as realidades morais, 
11 
econômicas e sociais, pois como dizia Ulpiano: “o sentido das leis se deduz tanto do espírito 
como da letra respectiva” (apud MAXIMILIANO: 2000, p. 111-112). 
Prosseguindo na análise, pode-se dizer que o processo lógico de interpretar o 
enunciado normativo se preocupa com o “espírito da norma” (MAXIMILIANO: 2000, p. 
106), ou seja, “move-se num ambiente mais alto e utiliza meios mais finos de indagação”. A 
lógica busca o espírito da disposição legal, deduz-se os fatores da razão, entrelaçando-se com 
outras normas e todo o sistema. “É da ponderação destes diversos factores que se deduz o 
valor da norma jurídica” (sic) (FERRARA: 1987, p. 139-141). 
Grosso modo, a interpretação lógica pode ser divida em duas: propriamente dita e 
a sociológica. Na primeira hipótese busca-se o espírito da norma “sem o auxílio de nenhum 
elemento exterior”, empregando-se as regras tradicionais da lógica geral com o intuito de, 
pelo “simples estudo das normas em si, ou em conjunto, por meio do raciocínio dedutivo, 
obter a interpretação correta” (MAXIMILIANO: 2000, p. 106, 123 e 125). 
Como tal hipótese não considera elementos exteriores, suas regras podem ser 
consideradas rígidas e, assim, “quando levadas às últimas consequências, não se adapta aos 
objetivos da lei, consistente em regular a vida, multiforme, vária, complexa” (sic) 
(MAXIMILIANO: 2000, p. 125). 
A segunda hipótese de interpretação lógica, a sociológica, traz a lume a principal 
característica de um ramo de estudo – ser uma ciência social. O processo interpretativo 
sociológico afasta a reducionista hermenêutica de brocardos, trazendo ao intérprete a tarefa de 
aproximar o verbete à realidade social, pois “acima das frases, dos conceitos, impõem-se, 
incoercíveis, as necessidades dia a dia renovadas pela coexistência humana, proteiforme, 
complexa” (MAXIMILIANO: 2000, p. 126). 
Assim, nos termos do aforismo de Celso, se “saber as leis é conhecer-lhes, não as 
palavras, mas a força e o poder”, diga-se, “o sentido e o alcance”, o processo lógico ganha 
espaço na vida do exegeta (apud MAXIMILIANO: 2000, p. 122). 
No intuito de aprofundar um pouco mais o tema, buscamos as lições de Norberto 
Bobbio. Afirma ele que o positivismo jurídico impõe apenas um limite ao ato de interpretar: 
“nunca será antitextual”. Quer o autor dizer que a interpretação pode ser textual ou 
extratextual, mas “nunca se colocará contra a vontade que o legislador expressou na lei” 
(2006, p. 214). 
12 
A tradição jurídica, segundo Bobbio, apresenta quatro meios hermenêuticos para a 
tarefa interpretativa textual, quais sejam: léxico (gramatical), teleológico, sistemático e 
histórico (2006, p. 215). 
O meio gramatical consiste na extração da definição dos termos insertos na lei 
pelo legislador. Já o meio teleológico busca o motivo da norma, ou seja, a ratio legis. Quanto 
ao meio sistemático, o exegeta busca o sentido da norma, esclarecendo seu conteúdo não de 
forma unitária, mas “considerando-a em relação a todas as outras”. Por fim, quanto aos meios 
de interpretação textual, Bobbio relata que o meio histórico busca “reconstruir a vontade do 
legislador”, a intenção que prevaleceu quando de sua aprovação (2006, p. 215-216). 
Mas, como dito acima, a tradição jurídica também apresenta meios de 
interpretação extratextual, ou seja, o emprego da analogia. Segundo Bobbio, o positivismo 
jurídico admite suas lacunas e, assim, é possível exercer a interpretação integrativa, mas não 
criativa. Fala-se, então, da interpretação que acarreta a integração que “ocorre no interior do 
ordenamento, com meios predispostos pelo próprio ordenamento (auto-integração)” (2006, p. 
215-216). 
Note-se que a interpretação analógica, também chamada de extensiva, não se 
confunde com analogia, eis que “a interpretação extensiva é uma forma menor de raciocínio 
por analogia. Enquanto na analogia legis se formula uma nova norma, semelhante a uma já 
existente, para disciplinar um caso não previsto por esta última mas similar, àquele por ela 
regulado, na interpretação extensiva amplia-se a hipótese estabelecida por uma norma, isto é, 
aplica-se esta mesma norma a um caso por ela não previsto, mas similar àquele expressamente 
regulado” (sic) (BOBBIO: 2006, p. 219). 
Não se deve esquecer que, o reconhecimento da interpretação extensiva não afasta 
o seu oposto, qual seja, a interpretação restritiva. No caso, entende-se que, mesmo havendo 
um enunciado normativo expresso de forma ampla, o legislador não quis abranger toda a 
classe, mas uma relação em especial. A interpretação restritiva tem lugar quando o texto 
genérico entra em contradição com outro enunciado, quando há uma contradição no próprio 
enunciado ou quando outra forma de interpretar ultrapassaria o fim almejado pelo enunciado 
(FERRARA: 1987, p. 141-150). 
A interpretação extensiva, “pelo contrário, destina-se a corrigir uma formulação 
estreita de mais”. (sic) Por vezes, por imprecisão do legislador, o texto contém referências à 
espécie quando deveria ser abordado o gênero. Há casos nos quais o texto exprime uma 
13 
singularidade específica, quando na realidade pretendia-se proteger toda uma categoria. 
Assim, com a interpretação extensiva, o intérprete pode corrigir tais imprecisões, alcançando 
situações não expressas no enunciado normativo, “despojando o conceito das 
particularidades” e abarcando “a generalidade das relações” (FERRARA: 1987, p. 141-150). 
Sendo a interpretação extensiva uma “reintegração do pensamento legislativo”, 
deve ter aplicação ampla, inclusive a enunciados normativos de índole penal. Com efeito, o 
que é vedado no Direito Penal é a analogia. No entanto, a lei não deve ser interpretada só no 
seu aspecto literal, mas em seu “conteúdo espiritual”. Ora, se o enunciado normativo tem a 
intenção de proibir certar condutas, verifica-se o fim da proibição e, em casos semelhantes, 
“de forma racionalmente interpretada, a proibição deve negar eficácia também àqueles outros 
meios que em outra forma tendem a conseguir aquele efeito” (FERRARA: 1987, p. 151). 
Na interpretação extensiva, busca-se no enunciado normativo o espírito, ou seja, o 
conteúdo, sendo que o intérprete deve, com tal raciocínio, pressupor “que o caso já está 
compreendido na regulamentação jurídica, entrando no sentido duma disposição, se bem que 
fuja a sua letra”. Ao se interpretar o enunciado normativo extensivamente nada mais se faz do 
que “reconstruir a vontade legislativa já existente”, tornando o caso incluído no texto, pois 
“por inexata formulação” parecia excluída. Revela-se, pois, o que a Lei pretendia com a 
proibição advinda do enunciado,sendo, assim, permitida a sua utilização no direito penal, 
pois a vedação é do uso da analogia e não da integração analógica (FERRARA: 1987, p. 162-
163). 
Com os métodos da hermenêutica e após a pesquisa do fato, pode-se atribuir ao 
caso concreto a norma aplicável. Interpretar, então, é analisar o enunciado normativo e 
declarar qual é o seu sentido e seu alcance no mundo real. Interpretar não é tarefa fácil, razão 
da hermenêutica apresentar métodos de se extrair o sentido, o alcance e a extensão do texto 
legal, regendo, assim, a arte de interpretar (MAXIMILIANO: 2000, p. 1). Portanto, a 
interpretação é uma atividade criadora que busca, por meio dos critérios hermenêuticos, a 
exata compreensão do enunciado normativo frente ao caso concreto (BATISTA: 1984, p. 
300). 
O enunciado normativo editado pelo Poder Legislativo é amplo e abstrato e, 
assim, há dificuldades de aplicação ao caso concreto diante das particularidades de cada 
situação vivida na sociedade. As dúvidas surgem das particularidades não só pelo fato dos 
enunciados serem amplos e abstratos, mas também pelo fato de que são feitos por homens e 
14 
aplicados por eles, ou seja, há uma imperfeição natural no plano normativo e no plano prático 
(MAXIMILIANO: 2000, p. 8-10). 
Nesses casos, a aplicação do enunciado ao caso concreto não é mero exercício de 
enquadramento do fato ao texto legal, pois pode ocorrer de não se apresentar a subsunção 
imediata, necessitando de que uma adaptação à realidade e, assim, o exegeta dá vida real ao 
enunciado que outrora era abstrato, eis que com a aplicação, após a interpretação, revela-se o 
sentido do enunciado normativo para o caso concreto (MAXIMILIANO: 2000, p. 8-10). 
Ora, um texto escrito há cem anos, ao ser interpretado nos atuais dias, sem 
dúvidas terá sentido, alcance e extensão diversos do preconizado à época de sua edição, em 
razão da evolução social. Assim, a hermenêutica apresenta processos que aproximam o texto 
normativo à realidade atual e, por isso, sempre há interpretação. Não há enunciado normativo 
que não necessite de interpretação, pois o aplicador parte da abstração e encerra a realidade. 
A dificuldade maior do exegeta é conseguir extrair o sentido e o alcance do 
enunciado que contem palavras ambíguas. A palavra por si só já é dúctil. Pode aparentar uma 
certeza encobertando várias realidades. Em sendo uma palavra ambígua, que não ostenta a 
certeza citada, o problema é maior, nascendo a dificuldade para o intérprete. 
Ainda abordando a questão da hermenêutica, Maria Helena Diniz, de forma mais 
didática, argumenta que há duas teorias quanto ao ato de interpretar: uma subjetiva e outra 
objetiva. A primeira busca a vontade do legislador quando do nascedouro da lei e a segunda 
busca a mens legis, ou seja, independentemente da vontade do legislador, pois “uma vez 
nascida a lei, ingressa na ordem jurídica nela articulando-se ou harmonizando-se. A norma já 
elaborada se adapta, se desenvolve, se amplia e se restringe por sua própria força” (2009, p. 
433-434). 
Da mesma forma que os demais autores citados acima, Maria Helena Diniz 
apresenta “várias técnicas ou processos interpretativos: gramatical ou literal, lógico, 
sistemático, histórico e sociológico ou teleológico” (2009, p. 438). 
Digna de nota é a afirmação de Diniz no pertinente à interpretação restritiva e 
extensiva. Para ela, não são técnicas, mas “o efeito obtido ou o resultado a que chegará o 
hermeneuta empenhado em desvendar o sentido e o alcance do texto normativo”. Nas duas 
hipóteses, deve-se considerar o fim do texto normativo, bem como os “valores jurídico-sociais 
que influíram em sua gênese e condicionam sua aplicabilidade” (2009, p. 443). 
15 
Assim, na interpretação extensiva, o exegeta avança “até o sentido literal possível 
da norma”, desenvolvendo “em torno de um preceito normativo” um processo para “nele 
compreender casos que não expressos em sua letra”. Já na interpretação restritiva, o intérprete 
limita a abrangência do texto normativo “impedindo que produza efeitos injustos ou danosos” 
(DINIZ: 2009, p. 444-445). 
Ao final de tais considerações, não se pode olvidar da hipótese declarativa, ou 
seja, aquela que o intérprete declara que há uma “correspondência entre a expressão 
linguístico-legal e a volunta legis”, pelo fato de que o “enunciado normativo contém apenas 
aqueles parâmetros que depreendem de sua letra” (DINIZ: 2009, p. 445). 
Ao cabo de tantos processos, elementos e regras ao ato de interpretar pode-se 
afirmar que “no meio está a virtude: os vários processos complementam-se reciprocamente, 
todos os elementos contribuem para a descoberta da verdade e maior se aproximam do ideal 
da verdadeira justiça” (MAXIMILIANO: 2000, p. 127).
No mesmo sentido, com apoio em Müller e Savigny, Inocêncio Mártires Coelho 
afirma que os processos, métodos e elementos de interpretação são interligados, “cuja 
integração é indispensável para o êxito da interpretação” (2011, p. 98). 
Prosseguindo na análise do ato de interpretação, pode-se dizer que o que vem 
primeiro à mente é a questão da subsunção, se a situação de fato corresponde, se é adequada 
ao enunciado normativo. No entanto, para a metodologia jurídica recente, conforme Engish, 
não basta a obviedade da subsunção, deve-se colocar o caso frente ao enunciado normativo 
para que se encontre, se concretize a norma do caso concreto, ou melhor, “norma e situação 
de fato produzem uma a outra no processo de aplicação da norma ou de decisão da situação de 
fato”. Assim, é pelo fato de que a letra do enunciado normativo não tem uma linguagem 
inteiramente determinante, bem como pelo fato de que as teorias metodológicas também não 
fixam univocamente como o intérprete deve proceder (HASSAMER: 2008, p. 81-83). 
A possibilidade de se encontrarem vários sentidos e outros alcances do enunciado 
pela interpretação ao caso concreto ocorre pelo fato de que a hermenêutica se presta ao estudo 
da linguagem expressa no enunciado normativo (MAXIMILIANO: 2000, p. 11). 
Analisando a interpretação da lei penal, Carlos Maximiliano relata que deve ser 
interpretada como qualquer outra lei, segundo “os vários processos de Hermenêutica”, desde 
que não se amplie o “catálogo de crimes”, pois só ao legislador cabe tal tarefa. No entanto, em 
16 
defesa da possibilidade de se ampliar o sentido da Lei Penal, a história demonstrou que a 
radicalização do direito positivo não se sustenta (2000, p. 320-322). 
Carlos Maximiliano lembra que o extremismo da aplicação da lei, somente 
quando houver a exata subsunção, não pode subsistir, citando, como exemplos, o caso em que 
houve absolvição de um suspeito pelo fato de que não cometera crime de bigamia por ter 
casado com três mulheres, porque o texto só previa o casamento com duas, e o caso em que 
foi declarado isento de pena o suspeito de “subornar uma testemunha”, quando o texto previa 
suborno de testemunhas – no plural (2000, p. 320-322). 
Assim, pode-se afirmar que a interpretação do Direito Penal é problema que 
pertence à teoria geral do direito. Debatem os juristas sobre a função do juiz na interpretação 
da lei, uns negando a ele o direito, como Beccaria, outros apoiando a função interpretativa, 
como Savigny (BATISTA: 1984, p. 289-290 e BATISTA: 1996, p. 12 e 52-53). 
Com efeito, o Direito Penal é instrumento de defesa social contra o absolutismo, 
ou seja, deve conter técnicas que garantam ao cidadão as liberdades individuais, coibindo a 
arbitrariedade e a discricionariedade do poder político. É também, o Direito Penal, um direito 
público, por duas razões. A primeira pelo fato de que se refere aos interesses da sociedade e, a 
segunda, pelo fato de que só o Estado detém o direito de legislar sobre ele (BATISTA: 1984, 
p. 289-290 e BATISTA: 1996, p. 12 e 52-53). 
Segundo Eugenio Raúl Zaffaroni e Nilo Batista, na interpretação do Direito Penal 
nãose deve olvidar que todo saber requer uma definição, pois para isso delimita o horizonte, 
ou seja, ao interpretar o Direito Penal não se deve esquecer que tem sua razão de existir para 
conter o poder punitivo, ou melhor, é o Direito Penal “o ramo do saber jurídico que, mediante 
a interpretação das leis penais, propõe aos juízes um sistema orientador de decisões” (2003, p. 
39-40). 
Assim, no Direito Penal, a interpretação a ser realizada pelo intérprete deve ser de 
contenção, redução do poder punitivo do Estado. Com efeito, os juízes são orientados por leis 
que condicionam a atuação do Estado, como por exemplo, a Constituição Federal e o Código 
Penal (2003, p. 39-40). 
Mas a interpretação da Constituição Federal ou do Código Penal brasileiro é 
realizada pelo povo, pelos acadêmicos, pelos advogados e pelo juiz que cria a norma para o 
caso concreto. As partes interessadas interpretam os enunciados normativos do modo que 
atendam suas expectativas, no interesse próprio ou de seu cliente. 
17 
O cientista, o acadêmico, interpreta o enunciado normativo apresentando todas as 
possíveis soluções para o caso. No entanto, o juiz realiza a interpretação partindo do texto e 
cria a norma para o caso concreto com sua decisão, firmando uma posição. 
Portanto, necessário é analisarmos como se busca o sentido, o alcance e a 
extensão do enunciado normativo, bem como identificar a razão da inserção de palavras 
ambíguas. Eros Roberto Grau argumenta que o enunciado normativo não é completo, 
passando a sê-lo somente quando o intérprete o aplica ao caso concreto (2006, p. 30). 
Ora, se o enunciado normativo não é completo, contém termos e expressões que 
podem ter vários sentidos, mormente se o termo for equívoco em sua natureza, o interprete 
criará o seu direito, sua norma advinda do enunciado normativo (ALVES JUNIOR: 2010, p. 
78). 
2.2 A ambiguidade e a interpretação do enunciado normativo 
O texto da lei nada mais é do que um complexo de palavras que expressam uma 
vontade e, para determiná-la, o intérprete deve investigar e encontrar o conteúdo deduzido por 
meio das palavras do legislador (FERRARA: 1987, p. 128). Com efeito, o Direito Penal como 
ciência não pode ficar limitado à interpretação hierárquica da lei, deve-se buscar “a revelação 
do seu espírito e a compreensão de seu escopo, para ajustá-la a fatos humanos, a lamas 
humanas, a episódios do espetáculo dramático da vida” (HUNGRIA: 1945, p. 6-7). 
Assim, o interprete não deve ser um autômato, deve analisar o enunciado 
normativo e dele extrair a norma para o caso concreto. O intérprete deve buscar sempre o fim 
da lei, já que um enunciado normativo tem a finalidade de proteger interesses e, o intérprete, 
deve assegurar tal finalidade em sua plenitude (FERRARA: 1987, p. 130). 
Inocêncio Mártires Coelho afirma que a primeira interpretação a ser realizada é a 
literal, uma vez que o legislador, ao redigir o enunciado normativo, utiliza a linguagem 
comum para que seja compreensível por todos (2011, p. 88). No entanto, sabe-se que a 
interpretação literal não resolve as agruras do intérprete, pois um termo inserto no texto da lei 
pode ter vários sentidos literários. 
Chaïm Perelman nos dá um exemplo que esclarece o problema da interpretação 
literal, confira: 
18 
[...] se uma placa avisar viajantes que lhes é proibido entrar na estação 
ferroviária acompanhado por um cão, deverá o encarregado permitir a 
entrada de um viajante que traz pela coleira um urso domesticado? Deve-se 
fazer prevalecer a letra ou o espírito do regulamento, ou seja, a intenção do 
legislador? (1998, p. 48). 
Assim, necessário analisar sempre o alcance e a extensão do enunciado normativo, 
pois, no exemplo visto, o inconveniente causado pelo urso na estação é igual ou superior ao 
causado por um cão, eis que a intenção3 da lei era evitar o inconveniente de um animal no 
local (PERELMAN: 1998, p. 72-76). 
É o problema da interpretação que, como dito, deve ser realizada com os 
processos de hermenêutica. No entanto, deve o intérprete se ater ao enunciado normativo, ou 
seja, não pode ir além do que está escrito, é limitado semanticamente, não pode atribuir 
significados não escritos na lei. E mais, não pode dizer que está escrito no enunciado 
normativo o que é contrário à realidade social (ALVES JUNIOR: 2010, p. 79). 
Surge, então, o problema de limitação quando o texto traz termos equívocos, ou 
seja, não limitando semanticamente a tarefa do exegeta, contrariando o que diz Luis Luisi, 
pois o Direito Penal liberal assevera que o legislador deve evitar o uso de elementos abertos, 
eis que o subjetivismo é perigoso (1987, p. 57-58). E mais, segundo Mariângela Gama 
Magalhães Gomes, não se deve olvidar que um dos objetivos do modelo penal garantista é a 
exigência de que o legislador crie, construa enunciados normativos incriminadores taxativos, 
objetivos, ou seja, enunciados normativos fechados (2003, p. 11-12). 
Antoine Garapon, analisando a linguagem utilizada nos meandros jurídicos, 
enfatiza que “não há necessidade de insistir no facto de a maior parte dos termos jurídicos ser 
incompreensível para os iletrados, que perfazem o grosso das pessoas que comparecem 
perante os tribunais” (1997, p. 110). 
Conforme Hans Kelsen, na formulação de enunciados normativos deve-se evitar a 
equivocidade dos termos linguísticos, eis que é necessário elaborá-los de “maneira tal que a 
inevitável pluralidade de significações seja reduzida a um mínimo e, assim, se obtenha o 
maior grau possível de segurança jurídica” (2011, p. 397). 
No entanto, mesmo havendo o alerta para que se criem enunciados normativos 
penais fechados, com conceitos delimitados, há uma tendência à criação de enunciados 
 
3
 É uma intenção presumida, fictícia, pois a questão pode não ter sido objeto de debate no parlamento. 
(PERELMAN: 1998, p. 74) 
19 
normativos abertos, com termos amplos. A par disso, Misabel de Abreu Machado Derzi relata 
que o enunciado normativo penal não pode ser considerado simplesmente uma hipótese, pois 
deve existir a “possibilidade de se estender” as consequências normativas. Finalizando a 
abordagem, relata que é fundamental que o enunciado seja aberto para ter gradação e 
flexibilidade e, assim, aproximar-se da realidade (2007, p. 65-70). 
É impossível ao legislador antever todas as situações do mundo real, da vida em 
ritmo alucinante, com a velocidade da informação tecnológica e da alteração de costumes, 
razão pela qual o enunciado normativo é formulado de maneira ampla e abstrata. Segundo 
Roberto Freitas Filho, a produção legislativa do direito brasileiro sofreu alteração, pois se 
privilegiou a técnica de criar enunciados normativos abertos, com “conceitos jurídicos 
indeterminados no intuito de permitir a aplicação a situações que se modificam de acordo com 
a dinâmica de uma sociedade complexa” (2009, p. 19). 
Em suas palavras: 
As cláusulas gerais são, portanto, identificadas como uma técnica legislativa 
por meio do qual se atribui a uma determinada norma o caráter de vagueza, 
permitindo assim a inserção no sistema [...] de elementos valorativos e 
permitindo ainda a formulação de novas normas. [...] As cláusulas gerais são 
formuladas com a utilização de termos vagos, imprecisos, semanticamente 
abertos de forma proposital, tendo em vista a necessidade de mobilidade na 
sua aplicação (2009, p. 262 e 281). 
Roberto Freitas Filho afirma que as cláusulas gerais são elaboradas por uma forma 
de legislar que estabelecem enunciados de conteúdo e extensão incertos, tais como “escuridão 
e perigo”. Assevera ainda que há diferenciação quanto ao conteúdo de um enunciado 
normativo aberto, qual seja, será impróprio quando diz respeito a coisas, objetos reais da vida, 
como por exemplo, casamento, menor, funcionário público, e próprio quando o enunciado 
“sempre necessitade uma valoração para que seja aplicado em um caso concreto” (2009, p. 
275-277). 
Sob o ponto de vista lógico, segundo Roberto Freitas Filho, a diferença entre os 
enunciados abertos e fechados é que neste há a possibilidade de utilizar-se do silogismo, pois 
há palavras descritivas, enquanto que naquele há somente palavras valorativas, avaliatórias 
(2009, p. 265). 
Segundo Luciano Santos Lopes, no enunciado normativo penal são encontrados 
elementos objetivos “que são meramente descritivos, há clareza e simplicidade no conceito”, 
20 
no entanto, também são encontrados elementos4 com “estruturas típicas que precisam ser 
especialmente interpretadas para terem sentido pleno. Não são compreendidas pela mera 
percepção descritiva/ontológica do objeto”. E mais, o tipo descritivo necessita de elementos 
com “carga axiológica”, pois “o tipo penal deve ir além da mera descrição de condutas 
proibidas, valorando-as também”, revelando a proibição almejada pela lei (2010, p. 66-69). 
No Direito Penal brasileiro, o cerne do problema da interpretação ocorre na 
aplicação de enunciados normativos abertos5, pois quando o intérprete se depara com 
enunciados fechados6, ele lança mão da técnica do “subsuntivo direto”, enquanto que nos 
abertos há “um esforço hermenêutico adicional”, permitindo grau maior de subjetividade. São 
processos distintos de interpretação, sendo que, na opinião de Roberto Freitas Filho: 
O que há de diferente na aplicação das normas abertas é que o sentido 
descritivo da norma não está expresso a priori em seu texto, ou seja, é 
necessário que o aplicador venha a especificar os elementos que compõem a 
regra na ratio decidendi da decisão (2009, p. 10 e 29). 
Com efeito, na aplicação do enunciado aberto o intérprete tem a necessidade de 
completar descritivamente os termos do enunciado normativo, enquanto que no enunciado 
normativo fechado, o intérprete já está diante de um enunciado descritivo e lhe resta o 
processo imediato da subsunção (FREITAS FILHO: p. 274-275). 
Ora, a aplicação do enunciado normativo aberto ao caso concreto se torna um 
problema quanto à certeza7, pois pode-se chegar a “um sem-número de situações concretas 
sob o mesmo dispositivo normativo”. E mais, o intérprete pode ser levado a utilizar de 
parâmetros extrajurídicos (FREITAS FILHO: 2009, p. 10-15). 
Note-se que, segundo Karl Larenz, ao interpretar o enunciado aberto, antes de 
realizar a subsunção, o intérprete realiza ato interpretativo no qual define, atribui o significado 
ao termo vago (1997, p. 299). 
Não é demasiado lembrar que a interpretação de enunciados abertos ou fechados é 
sempre um julgamento de valor. No entanto, deve existir uma racionalidade no que diz 
respeito à fundamentação, pois, só assim, o resultado da interpretação será objeto de críticas. 
No entanto, é preciso enfatizar que não “há possibilidade de absoluto controle sobre o 
 
4
 O autor os nomina de “elementos normativos” (2010, p. 67) 
5
 Enunciados dotados de vagueza socialmente típicas ou semanticamente abertas (FREITAS FILHO: 2009, p. 
10) 
6
 Enunciados casuísticos ou semanticamente fechados (FREITAS FILHO: 2009, p. 10) 
7
 Exigência do princípio da legalidade/taxatividade/determinação 
21 
resultado do processo de interpretação e aplicação das normas” (FREITAS FILHO: 2009, p. 
10-15, 16-17 e 30-31). 
Ainda assim, deve ser objeto de controle racional, eis que “não é admissível que 
se chamem coisas diferentes pelo mesmo nome, especialmente em um contexto no qual estão 
em jogo a vida, a liberdade e outras importantes dimensões da existência humana” (FREITAS 
FILHO: 2009, p. 318). 
Assim, fica a pergunta: como compatibilizar enunciados normativos 
incriminadores abertos com o princípio da legalidade8 e taxatividade9? 
Não se pode olvidar que o legislador necessita lançar mão de enunciado 
normativo genérico, mas não pode ser uma caixa vazia, deve conter um mínimo de 
determinação, de conteúdo, como, por exemplo, as fórmulas casuísticas e as genéricas, pois as 
primeiras indicam ao intérprete como aplicar as últimas nos termos dos princípios da 
interpretação do Direito Penal (BITENCOURT: 2011, p. 401). 
Diante disso já se aceita, modernamente, conceitos elásticos de condutas 
criminosas, pois do contrário o direito não seria viável. Deve-se ter em mente que o enunciado 
normativo não pode ser vago ao extremo, de notória indeterminação, pois se o for, será 
inconstitucional. Nota-se assim, que o legislador moderno renuncia à tarefa de tecer minúcias 
ao descrever a conduta proibida no enunciado normativo. Pode-se dizer que a técnica 
legislativa de descrever conceitos vagos seria resultado de um desacordo político, deixando a 
decisão final sobre o tema para quem aplica o enunciado ao caso concreto. 
Poder-se-ia dizer ainda que seria uma renúncia proposital diante da volatilidade do 
mundo (transformações científicas, tecnológicas e sociais), sendo uma técnica do legislador 
para que o direito seja viável, deixando ao juiz uma discricionariedade maior. Por fim, a 
vagueza do enunciado, ainda que proposital, tem lugar para que o juiz possa aplicá-lo de 
acordo com o caso concreto, sendo caso de suplência judicial para que se chegue à justiça 
(GOMES: 2008, p. 164-166). 
 
8
 “Pelo princípio da legalidade alguém só pode ser punido se, anteriormente ao fato por ele praticado, existir uma 
lei que o considere como crime” (MIRABETE: 2013, p. 39) 
9
 “O princípio da taxatividade estabelece a exigência de que a norma forneça uma descrição do fato punível apta 
a tornar facilmente reconhecida a correspondência, ao tipo incriminador, de uma conduta capaz de ser realizada 
concretamente” (GOMES : 2008, p. 13). O mandato de certeza como denomina Luciano Santos Lopes (2010, p. 
70). 
22 
Assim, o princípio da taxatividade pode ser mitigado, pois como diz Nilo Batista, 
é sabido que a lei é inegavelmente interpretada, pois impossível que tenha uma precisão 
absoluta e exaustiva do mundo. A atividade de interpretar na prática judiciária é necessária 
diante dos imprevistos do dia-a-dia que não são resolvidos pelo simples texto normativo 
(1984, p. 292). 
Em contraponto ao princípio da taxatividade, como exigência do princípio da 
legalidade, Nélson Hungria afirmou que o juiz criminal no direito brasileiro não é um 
aplicador de justiça tarifada, pois não tem à mão um vademecum que lhe dê todas as soluções, 
terá que, a cada julgamento, não ficar limitado ao silogismo, mas dar um pouco de si – 
interpretando o enunciado normativo, criando a justiça para o caso concreto (1942, p. 422). 
Prosseguindo na análise da interpretação do enunciado normativo e sua 
ambiguidade, curial asseverar que o intérprete, ao buscar como eram compreendidos os fatos 
e os motivos que levaram o legislador a formar sua opinião para redigir o enunciado 
normativo, está percorrendo o caminho da interpretação histórica. No entanto, ao proceder de 
tal forma, esquece que está em situação hermenêutica diversa e que o fato que será objeto da 
concretização do enunciado normativo “ocorre no presente e não ao tempo em que ela entrou 
em vigor” (COELHO: 2011, p. 65-69). 
Quando o intérprete busca adequar o enunciado normativo aos tempos atuais, 
quando busca “o significado jurídico da lei, que só pode ser o seu significado atual, e não o 
significado histórico, aquele que lhe foi atribuído ao tempo da promulgação” está no caminho 
da interpretação progressiva/evolutiva (COELHO: 2011, p. 71). 
O intérprete, ao procurar o significado atual do enunciado normativo, expande o 
sentido e o alcance de aludido preceito, “incorporando novos instrumentos de análise e 
descortina novos horizontes” (COELHO: 2011, p. 71).
Interpretando-se progressivamente o enunciado normativo terá aplicação a 
“situações quecontempladas à luz do sentido linguístico natural se encontram claramente fora 
de seu campo de referência”. Assim, amplia-se o sentido do enunciado normativo, pelo fato 
de que houve uma “formulação parcial, uma revelação incompleta”, sob o argumento de que 
essa era a vontade do legislador, presumindo-se tal desiderato, mas “é forçoso ter ele desejado 
o que é desejável para o próprio juiz” (ROSS: 2007, p. 179-183). 
Com efeito, a interpretação progressiva-evolutiva atende aos progressos sociais, 
eis que “a atividade interpretativa pode ser considerada um prolongamento ou até mesmo uma 
23 
fase do processo legislativo”. E mais, ao longo dos séculos, juristas apresentam renovadas 
interpretações sobre textos antigos, como por exemplo, a Lei das XII Tábuas e a Constituição 
dos Estados Unidos da América. Conclui-se, então, que as novas interpretações nada mais são 
do que a apresentação de elementos que originariamente já eram integrantes dos textos 
interpretados (COELHO: 2011, p. 41 e 71). 
Segundo Inocêncio Mártires Coelho, a “interpretação jurídica não é pura e 
simplesmente um pensar novo aquilo que já foi pensado, mas, pelo contrário, um saber pensar 
até o fim aquilo que já começou a ser pensado por um outro” (2011, p. 71). 
Não se pode olvidar que o processo de interpretação é uma constante. Inocêncio 
Mártires Coelho, com apoio de Richard Palmer, relata que o entendimento sobre certo 
enunciado normativo contém o que representava à época de sua edição, mas também o que 
representa no presente (2011, p. 49-50, 61-62 e 70). 
E mais, com suporte em Carlos Cossio, afirma que a alteração de uma 
interpretação sobre certo enunciado normativo não é correção de equívocos, mas, como na 
alteração legislativa, nada mais do que renovação decorrente de “epifenômenos de 
subjacentes transformações fático-axiológicas”, ou seja, é o trabalho do intérprete que 
revalida o enunciado às necessidades sociais e, assim procedendo, reduz o “descompasso 
entre os problemas sociais e as respectivas soluções legislativas”. A interpretação do 
enunciado normativo de acordo com as transformações sociais são “fatores de atualização e 
regeneração da sua força normativa” (2011, p. 49-50, 61-62 e 70). 
Misabel de Abreu Machado Derzi relata que a interpretação jurídica é uma 
intermediação da visão do mundo com a expressão do texto. Com efeito, há sempre uma 
tensão entre o sentido original do texto e o que se compreende na atualidade, ou seja, “o aqui 
e agora ou a historicidade do direito, através do caso, do problema proposto, atua 
continuamente no sentido da norma, no evoluir jurídico do texto” (2007, p. 60). 
Márcio Augusto Vasconcelos Diniz afirma que ao intérprete, diante de um texto 
ambíguo, nasce a necessidade da compreensão de dois mundos, “o mundo da experiência no 
qual o texto foi escrito e o mundo da experiência no qual está inserido o intérprete”. Assim, na 
interpretação evolutiva, o exegeta une os dois mundos, ou seja, “a compreensão vem a ser 
como uma evolução do limitado horizonte histórico para um novo horizonte superador” 
(2002, p. 218-219). 
24 
Sobre o tema, não é demasiado trazer a lume a contribuição de Chaïm Perelman 
que, ao analisar a escola da exegese, argumenta que a compreensão de um enunciado 
normativo pode parecer clara. No entanto, ao se consultar “comentadores” surgem dúvidas 
que levam o texto à obscuridade, citando, como exemplo a questão da “morte natural10”. O 
juiz, segundo Perelman, “deve buscar a interpretação mais razoável, a que permita a melhor 
solução, a mais equitativa ao caso particular, de acordo com o direito vigente”, mas a escola 
da exegese se recusa a assim proceder (1998, p. 51-52). 
Analisando a escola funcional, Perelman argumenta que o juiz não deve atuar com 
simples dedução do texto da lei, deve buscar seu espírito, tanto que deve lançar mão da 
interpretação analógica raciocinando a símile, pois no exemplo da proibição da entrada de um 
individuo com um cão na estação de trem, pelo argumento a símile também se proíbe a 
entrada do mesmo indivíduo acompanhado de um urso. Assim, conclui-se que o direito não 
pode ser compreendido como um jogo matemático, mas “um meio para alcançar o fim 
almejado pelo legislador” (1998, p. 71-81). 
Sobre o tema Perelman nos esclarece: 
[...] o direito só pode ser compreendido em relação com o meio social ao 
qual é aplicável. Se este meio se transforma sob a influência de novidades 
técnicas, ou se uma mudança nos costumes ou nos valores socialmente 
aceitos, o papel do juiz será [...] adaptar o texto de modo dinâmico, 
considerando que a lei não previu essa situação nova e que, diante de uma 
lacuna da lei, ele deve decidir conforme as regras que estabeleceria se 
devesse agir como legislador (1998, p. 81). 
Perelman, analisando o raciocínio judiciário, argumenta que “a interpretação da 
lei, para ser aplicada a um caso específico, deve ser considerada uma hipótese, que só será 
adotada definitivamente se a solução concreta em que redunda afigurar-se aceitável”. Com 
efeito, o sistema não é fechado, “novas leis são votadas e promulgadas, a jurisprudência e a 
doutrina mudam, embora de modo progressivo e raramente revolucionário” (1998, p. 115-
116). 
Ora, se assim é, conclui-se que o sistema sofre alterações progressivas e o juiz 
passa, com o influxo das novas situações sociais, a encontrar novas “soluções convincentes e 
 
10
 Relata que, com as novidades tecnológicas que permitem o transplante do coração de um indivíduo morto no 
corpo de outro, surgem dúvidas sobre manter o que se entendia por “morte natural” (PERELMAN: 1998, p. 51-
52). 
25 
satisfatórias em direito porque juridicamente motivadas” e instauradoras da paz judicial 
(1998, p. 115-116). 
Conforme A. Castanheira Neves, o texto solto nada mais é que um amontoado de 
palavras, um jogo linguístico. Assim, o enunciado normativo só ganha vida quando aplicado 
ao caso concreto, quando o intérprete realiza o direito e, para tanto, o adapta à realidade atual 
(2003, p. 190-195). 
Em suas palavras A. Castanheria Neves enfatiza: 
[...]vimos o aparecimento duma como que essencial ambigüidade nas 
significações das normas-prescrições jurídicas – os seus sentidos nunca são 
unívocos, mas variáveis em função da problemático-situacional e pragmática 
–, [...] a realidade ou os casos concretos da sua aplicação não se vêem nelas 
perfeitamente determinados e plenamente identificados e representados. 
Estas conclusões que têm simplesmente como pressuposto, já aludido e 
decerto irrecusável, a função prático-judicativa do direito e assim a sua 
intenção normativa relativamente à sua realidade histórico-social – a matriz 
dos casos jurídicos decidendos, que se constitui e evolui com autonomia 
perante o sistema de prescrições legais e as suas significações lingüísticas – 
são base suficiente para compreendermos que a procura e a determinação do 
sentido das normas-prescrições jurídicas para o cumprimento daquela função 
prático-normativa do direito, em adequação problemático-decisória ou 
pragmática, exige uma particular actividade de contínua recompreensão e 
reelaboração do sentido das normas-prescrições [...] (sic) (2003, p. 194). 
Manuel A. Domingues de Andrade argumenta que a interpretação 
progressiva/evolutiva é fundada no princípio da atualidade, mas assevera que há opositores a 
tal técnica hermenêutica, eis que esvazia o princípio da irretroatividade das leis, pois o Poder 
Judiciário é quem lapida novos sentidos ao texto do enunciado normativo. Argumenta, ainda, 
que o texto permanece o mesmo, não pela tolerância do Poder Legislativo ou pelo fato de que 
esse poder concorda com a hipótese, mas pela simples razão de não ser provocado. Assim, o 
texto continua em vigor e, à revelia do Poder Legislativo, o Poder Judiciário evolui o texto em 
vigência aoscontornos da atualidade (1987, p. 43-44). 
Note-se que, mesmo nesse contexto, a interpretação evolutiva tem assento 
constitucional, pois deve ser “conforme a provável intenção do próprio autor da lei 
interpretanda”, e: 
26 
[...] qualquer que seja, porém, a solução que haja de prevalecer, a tese da 
actualidade da lei, e portanto a interpretação evolutiva, sempre subsistirá 
como possível, restando apenas averiguar na sede própria se será também 
razoável, isto é, justa e oportuna (sic) (ANDRADE: 1987, p. 46). 
Ainda sobre o tema, já anotando a existência da interpretação evolutiva quando o 
enunciado normativo conter termos ambíguos, Manuel A. Domingues de Andrade relata que 
não há como afastar novos sentidos ao exposto literalmente pelo legislador, pois “ao regular 
certos aspectos da vida, a lei utiliza factores de sua natureza contingentes, relativos, móveis, 
capazes, portanto, de tomarem coloração diversa conforme os tempos” (sic) (1987, p. 47). 
Confira a seguinte assertiva que encerra o tema: 
Às vezes de facto, a lei serve-se de conceitos essencialmente flexíveis, meras 
directivas gerais muito vagas e plásticas, cuja consistência exacta não 
específica e tem de ser definida ou precisada pelo juiz, no momento da 
aplicação, segundo as convicções reinantes no agregado social ou também, 
porventura, em investigação livre, operando com a idéia de justiça sobre os 
dados da realidade ambiente (sic) (ANDRADE: 1987, p. 47). 
Destarte, a adaptação do enunciado normativo pelo juiz à realidade do fato ao 
decidir o caso concreto, torna a lei, em seu conteúdo, renovada. Com efeito, a necessidade da 
adoção da interpretação evolutiva tem fundamento na variabilidade do texto do enunciado 
normativo, pois há a “possibilidade de a lei ganhar, com o tempo, conteúdos novos” 
(ANDRADE: 1987, p. 19 e 48-49). 
No mesmo sentido confira Radbruch abordando o tema interpretação jurídica: 
[...] A vontade do legislador, a vontade do Estado que só na lei fala e que ela 
se esforça por descobrir, não é a vontade do redactor da lei; não é um 
pensamento que alguma vez tenha sido realmente pensado; não é um facto 
histórico fechado ou concluído; pelo contrário, está em permanente evolução 
e responde a novas necessidades, e a novos problemas jurídicos de mudados 
tempos e circunstâncias, com significações novas que o autor da lei nem por 
sombras podia pressentir (sic) (apud ANDRADE: 1987, p. 22). 
Assim, o juiz pode, a casos novos, aplicar princípios que evoluem o sentido do 
texto normativo. Pode também dar à lei um sentido novo, “desde que não vá de encontro com 
outras normas”. Ora, o direito só se realiza na aplicação do caso concreto, razão pela qual o 
juiz ao realizar o julgamento adapta o texto da lei às nuances do caso posto, sopesando os 
27 
princípios e as várias disposições legais que podem incidir na hipótese. Note-se que tal análise 
é crucial, qual seja, verificar a incidência não só de um enunciado, mas da totalidade do 
sistema (FERRARA: 1987, pp. 173-86). 
Por certo que o juiz tem, na sua atividade, o instinto pela justiça, e o segue, 
incluindo na seara da aplicação técnica, mas não deve – ao seguir o instinto – “perder de 
mente a sua função de executor da lei” (FERRARA: 1987, pp. 173-86). 
Ora, o legislador, por vezes, no próprio enunciado normativo já invoca do juiz a 
utilização de seus instintos, de sua experiência. Isso ocorre, por exemplo, quando o enunciado 
normativo “não determina com precisão o estado de facto, mas remete para factores sociais”, 
pois ao julgar “o juiz utiliza, e deve utilizar, conhecimentos extra-jurídicos que constituem 
elementos ou pressupostos do raciocínio” (sic) (FERRARA: 1987, p. 187). 
Destarte, não há como negar a atualização do enunciado normativo pelo 
intérprete, “pois ou se aceita a intervenção do hermeneuta, ou se decreta implicitamente a 
impunidade para a maioria dos delinquentes e contraventores” (MAXIMILIANO: 2000, p. 
320). 
Mas adverte Carlos Maximiliano: 
A exegese deve ser criteriosa, discreta, prudente: estrita, porém não 
restritiva. Deve dar precisamente o que o texto exprime, porém tudo o que 
no mesmo se compreende; nada de mais, nem de menos. Em uma palavra, 
será declarativa, na acepção moderna do vocábulo (2000, p. 324). 
Portanto, admitindo-se a interpretação extensiva, a mobilidade hermenêutica, a 
“exegese extensiva por força da compreensão”, deve o intérprete se ater ao “meio termo”, 
qual seja, utilizar-se dos processos hermenêuticos para encontrar o “espírito do dispositivo”, 
mas não indo “além das expressões da lei”, pois assim, o intérprete adaptará o texto do 
enunciado normativo à época de sua aplicação, atendendo os fatores sociais e as novas teorias 
– “pois todo direito é vivo, dinâmico” (MAXIMILIANO: 2000, p. 325-326). 
2.3 O direito penal e a Constituição Federal 
Todo direito fundamenta-se na Constituição Federal e nos tratados internacionais, 
pois há um conjunto de normas, sistêmico, que devem obediência à norma superior. O 
intérprete deve extrair do enunciado normativo a decisão para o caso concreto – a norma. 
28 
Nessa tarefa deve-se observar o “marco normativo imposto pela norma de nível superior”, eis 
que a norma do caso concreto é extraída por derivação da norma superior (COELHO: 2011, p. 
92). 
 Há, assim, uma estreita ligação da lei com a Constituição Federal, ou seja, uma 
relação de vinculação de “um escalão superior e um escalão inferior da ordem jurídica” 
(KELSEN: 2011, p. 388-389). 
A Constituição e as leis de um país são objetos culturais, são normas jurídicas 
criadas pelo homem e, sendo assim, “são idênticas e possuem as mesmas características” 
(COELHO: 2011, p. 37). No entanto, há algumas diferenças no que diz respeito à estrutura 
normativa e à sua função no ordenamento jurídico. 
Segundo Inocêncio Mártires Coelho a hermenêutica é idêntica no que diz respeito 
“ao problema do entender”, não havendo nenhuma singularidade “de fundo, na exegese da 
Constituição”, mas esclarece que há sim diferenças entre a Constituição e as leis, qual seja, na 
aplicação, ou melhor, na interpretação constitucional deve “empregar-se regras ou técnicas 
peculiares, distintas das que se utilizam noutros documentos normativos”. Reconhece-se, pois, 
a controvérsia quanto à “especialidade/autonomia da interpretação constitucional” (2011, p. 
43-46). 
Prosseguindo, ressalta-se que deve ser analisada a compatibilidade do Direito 
Penal frente à Constituição Federal, sendo sabido que a última palavra sobre a 
inconstitucionalidade ou não de um enunciado normativo aplicado ao caso concreto é da corte 
constitucional (COELHO: 2001, p. 57). 
No Direito Penal brasileiro, a Constituição Federal, de forma dirigente, estabelece 
princípios que regulam e limitam a atuação do Estado. Destarte o legislador 
infraconstitucional deve obediência à Constituição Federal, sendo o Direito Penal não apenas 
formal, mas funcional e axiologicamente conforme a Constituição, pois suas disposições 
somente valem e obrigam quando se prestam à realização dos fins constitucionais e prestigiam 
valores mais caros, aferidos naturalmente, segundo cada contexto histórico-cultural 
(QUEIROZ: 2005, p. 21-23). 
A pena no Estado Democrático de Direito deve ser o último recurso, eis que a 
intervenção estatal drástica não deve ser utilizada sem extrema necessidade. Assim, a relação 
do Direito Penal com o Direito Constitucional se torna estreita, pois cabe ao último limitar o 
poder exercido pelo Estado quando lança mão do primeiro. O Direito Constitucional por meio 
29 
da Constituição – lei fundamental – limita, vincula o legislador ordinário, pois só pode 
legislar de modo coerente com as diretrizes da lei maior (GOMES: 2003, p. 23-24). 
Segundo José Joaquim Gomes Canotilho, trata-se de uma limitação negativa de 
competência (1993, p. 73-74). E mais, sendo a ConstituiçãoFederal a carta que expressa a 
ordem social na qual se encontra a concepção do direito, as demais normas do sistema 
jurídico devem observar, se alicerçar no ordenamento constitucional (CARVALHO: 1992, p. 
36-37). 
Destarte, devido à ligação íntima entre o Direito Constitucional e o Direito Penal, 
sustenta-se que não estamos somente na seara de proteção do princípio da legalidade, mas sim 
do princípio da constitucionalidade, eis que a lei só terá validade se guardar conformidade 
formal e substancial à norma superior, vale dizer, a Constituição. Ou seja, à lei, para ter 
validade, não basta ser formalmente constitucional, ela deve ser também substancialmente 
constitucional. O significado do enunciado normativo deve corresponder, deve estar em 
conformidade ao estabelecido pela Carta Maior (GOMES: 2003, p. 26-27). 
Tal correspondência substancial faz com que o ordenamento infraconstitucional 
só seja válido quando o legislador ordinário atentar para as diretrizes constitucionais que são 
expressas nos princípios. Com efeito, a Constituição Federal do Brasil de 1988 trouxe 
inúmeros princípios norteadores que devem servir como fundamento para a construção do 
sistema jurídico, ou seja, os princípios constitucionais têm função de orientar a “hermenêutica 
teleológica e evolutiva” (GOMES: 2003, p. 29-30). 
Note-se que, segundo a hermenêutica, o juiz no Estado Democrático de Direito 
exerce a função de controlar a aplicação do enunciado normativo, mas sem substituir o papel 
do legislador, pois do contrário estaria ferindo-se a tripartição de poderes. Com efeito, ao juiz 
cabe examinar se o legislador “se manteve ou não dentro dos limites que lhe foram traçados 
pela Constituição”. Portanto, o controle exercido pelo juiz deve ser limitado à análise do 
enunciado normativo frente aos parâmetros constitucionais, mas, o juiz não pode alterar o 
sentido, a substância da criação da lei pelo legislador (GOMES: 2003, p. 222-223). 
Sem dúvida alguma, o princípio constitucional norteador do Direito Penal é o 
princípio da legalidade. Inicialmente, no entanto, convém salientar que regras diferem de 
princípios. Segundo Inocêncio Mártires Coelho, uma regra tem aplicação quando a situação 
do caso concreto se verificar, afastando, por lógica, a incidência de outras regras, pois: “A 
deve ser B, e não C, D, E” (2011, p. 120-124 e 187). 
30 
Já os princípios “apenas enunciam motivos para que o aplicador se decida neste 
ou naquele sentido”, ou seja, são “mandatos de otimização”, ou melhor, “pensamentos 
diretores”. A estrutura da lei está subordinada a ser ou não aplicada ao caso concreto, 
enquanto que os princípios “exigem uma aplicação diferenciada, do tipo ‘realize-se o ótimo 
dentro do possível’” (2011, p. 120-124 e 187). 
E conclui: 
Os princípios são fundamentos de regras, isto é, são normas que estão na 
base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, por isso, 
uma função normogenética fundamentante (COELHO: 2011, p. 131). 
Roberto Freitas Filho argumenta que um “princípio consagra sempre um elemento 
ético-social” e “tem a função de ser norma fundamentadora de outras, ideia ou valor diretriz 
que dá sentido a um sistema ou subsistema”. Assim, pode-se dizer que um princípio não 
determina um comportamento (fazer ou não fazer – ditado pela regra), mas simplesmente 
“algum valor a se respeitar ou algum fim a se atingir”. O princípio traz “os valores 
consagrados por uma determinada sociedade”, ou seja, são limitadores do processo 
hermenêutico na busca “de conteúdo de sentido de normas particulares” (2009, p. 192-205). 
Prosseguindo na análise dos princípios, convém salientar que o sistema penal 
brasileiro, inegavelmente oriundo do sistema romano-germânico, é sistema do direito positivo 
que pressupõe princípios que norteiam e delimitam a aplicação do Direito Penal e mais, 
“constituem um patamar indeclinável, como ilimitada valência na compreensão de todas as 
normas positivas” (BATISTA: 1996, p. 61). 
Na análise da relação íntima entre os princípios e a interpretação de um enunciado 
normativo penal, Heleno Cláudio Fragoso assevera que não existem regras específicas para 
interpretação do Direito Penal, razão pela qual devem ser aplicadas as regras e princípios que 
regem os demais ramos do direito (2006, p. 96). 
Note-se que alguns princípios são de grande relevância ao Direito Penal, são 
norteadores, ou seja, em que pese o citado autor relatar que não existem regras específicas, 
alguns princípios terão maior peso na interpretação do Direito Penal – em especial o da 
legalidade. Com efeito, para Nilo Batista, o princípio da legalidade é indispensável a qualquer 
sistema penal que deseje ser racional e justo (1996, p. 65). 
Necessário se faz também apontar que o Direito Penal advém da produção do 
Poder Legislativo infraconstitucional. Assim, o legislador ordinário, ao produzir, fica 
31 
vinculado às diretrizes estabelecidas na Constituição Federal, devendo respeito aos princípios, 
não podendo criar enunciados normativos incriminadores em afronta ao texto constitucional 
(GOMES: 2003, p. 24). 
A título de orientação, não são só os princípios que limitam o legislador 
infraconstitucional, pois a força da Constituição limita-o ainda mais, pois é a expressão do 
direito de uma determinada ordem social, ou seja, o legislador ordinário deve também 
trabalhar com a ideia de justiça11 ao elaborar o texto de um enunciado normativo 
(CARVALHO: 1992, p. 36-37). 
Limitemo-nos à vinculação do legislador aos princípios – por questão 
metodológica. Mas o que vem a ser o princípio que limita o poder legislativo ordinário em 
Direito Penal? 
Humberto Ávila assevera que princípios são normas que estabelecem 
fundamentos de um mandamento, enquanto que, segundo Karl Larenz, são normas que 
estabelecem os fundamentos para a interpretação e a aplicação do direito. Assim, os princípios 
diferem das regras, pois aqueles são fundamentos, são diretrizes a serem seguidas pelo 
intérprete. Já as regras descrevem uma hipótese e uma consequência (2009, p. 35). 
Como há muita divergência quanto à distinção entre regras e princípios, 
transcrevo o que diz Humberto Ávila: 
As regras são normas imediatamente descritivas, primariamente 
retrospectivas e com pretensão de decidibilidade e abrangência, para cuja 
aplicação se exige a avaliação da correspondência, sempre centrada na 
finalidade que lhes dá suporte ou nos princípios que lhes são 
axiologicamente sobrejacentes, entre a construção conceitual da descrição 
normativa e a construção conceitual dos fatos. Os princípios são normas 
imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e com pretensão de 
complementariedade e de parcialidade, para cuja aplicação se demanda uma 
avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos 
decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção (ÁVILA: 
2009, pp. 78-79). 
Destarte, pode-se afirmar que a regra tem natureza descritiva de objetos 
determináveis, enquanto que os princípios “descrevem um estado ideal de coisas”. Afirma-se, 
 
11
 “[...] realização de legítimas e aceitáveis aspirações individuais ou coletivas [...]” (ALVES JÚNIOR: 2010, p. 
142) 
32 
igualmente, que as regras, para serem aplicadas dependem de correspondência fática com a 
descrição normativa, sendo que nos princípios há apenas uma valoração dos efeitos do fato 
com “o estado de coisas que deve ser promovido”. Por fim, as regras propiciam uma solução, 
tem caráter de “decidibilidade” e os princípios não, pois “servem de razões a serem 
conjugadas com outras para a solução de um problema” (ÁVILA: 2009, p. 83-84). 
Mas não é só, além dos princípios e das regras, segundo Humberto Ávila, há os 
postulados, que não são regras nem princípios, grosso modo, são “normas que orientam a 
aplicação de outras”e se situam em um metanível. Os postulados “estabelecem diretrizes 
metódicas, com aplicação estruturante e constante relativamente a outras variáveis”, tais como 
o postulado da hierarquia e da coerência da regra com a constituição. Há divergência, no 
entanto, em ser o postulado um princípio ou uma regra (2009, p. 125-138). 
Prosseguindo, é sabido que, nos últimos tempos, as constituições dos Estados 
estabeleceram princípios no intuito de incorporar as diretrizes do Estado Liberal e do Estado 
Social. Para fazer valer tais diretrizes, são também estabelecidas normas para tornar concretos 
os direitos de liberdade e igualdade. Assim, as constituições veiculam matéria penal ao dispor 
princípios penais na defesa das garantias e limitando o poder do Estado (LUISI: 2003, p. 12). 
Os princípios de Direito Penal podem ser expressos, de maneira inequívoca, como 
o princípio da legalidade, ou implícitos, deduzidos das normas constitucionais, como o 
princípio da intervenção mínima. Assim, os princípios constitucionais penais são instrumentos 
de proteção dos direitos humanos, limitando a atuação estatal (LUISI: 2003, p. 12-14 e 104). 
Ora, ao analisarmos o Direito Penal brasileiro constatamos que a Constituição 
Federal traça os princípios que regem essa disciplina, sendo que todas as normas 
infraconstitucionais devem harmonizar-se com o texto constitucional – “sob pena de se 
tornarem inválidas” (TELES: 2006, p. 35). 
O princípio da legalidade é norteador do Direito Penal. Assim é pelo fato de que 
historicamente buscou-se vedar a utilização do Direito Penal como instrumento político, 
como, por exemplo, a prisão de um adversário político contrário ao sistema de governo 
(GOMES: 2003, p. 31) 
Com efeito, mesmo que a conduta praticada pelo agente seja totalmente imoral, 
repugnante, ele só será punido se existir lei anterior proibindo e prevendo a sanção para a 
citada conduta, ou seja, para que a sanção penal tenha aplicabilidade ao agente, deve ser 
anterior e fixada por lei (TELES: 2006, p. 38). 
33 
Aludido princípio rompeu com as práticas arbitrárias limitando a atividade 
punitiva do estado, protegendo a liberdade do cidadão, constituindo um início ao 
delineamento do direito de punir estatal. Antes da vigência do princípio da legalidade havia 
insegurança no âmbito jurídico, existiam penas cruéis e os procedimentos eram eivados de 
ofensas à liberdade individual – como a tortura (GOMES: 2008, p. 5-9). 
No entanto, o princípio da legalidade expressa duas exigências, uma no sentido de 
garantia do cidadão que limita o poder do Estado e, outra, de caráter político no intuito de 
prevenção, reforçando a ideia de ameaça (GOMES: 2008, p. 5-9). 
Segundo Nélson Hungria, a lei é a única fonte do Direito Penal e que não pode ser 
substituída pelo arbítrio judicial, constituindo um sistema fechado, ou seja, ainda que 
lacunosa ou omissa a lei penal em seus enunciados, o intérprete não pode se valer da analogia 
ou dos princípios gerais de direito para coibir uma conduta antissocial não prevista em lei 
como crime. Note-se que os códigos penais modernos são adeptos da legalidade rígida, de 
forma que o que não é proibido é lícito ou um indiferente penal (1955, p. 11-12). 
Ainda segundo Hungria, a não observância ao princípio da legalidade, traria 
insegurança, pois estaríamos diante da parcialidade “dos palpites de cada juiz na formação do 
direito” e mais, o arbítrio judicial como forma de aplicação da lei é marcado como 
vergonhosa prática nas páginas da história da humanidade (1955, p. 22). 
O artigo 8º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão expressa o 
seguinte mandamento: “ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e 
promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada”. Desde então, o princípio da 
legalidade vem sendo estabelecido nas legislações dos mais diversos países verdadeiramente 
democráticos (MIRABETE: 2009, p. 40). 
No Brasil não foi diferente, eis que a adoção do princípio da legalidade é tradição 
inspirada nos ideais da Revolução Francesa. A Constituição do Império de 1824 já o 
contemplava, sendo ele repetido nas Constituições de 1891, 1934, 1937 e 1946 (HUNGRIA: 
1955, p. 37). Atualmente, o princípio da legalidade é expresso no artigo 1º do Código Penal e 
foi positivado no artigo 5º, XXXIX da Constituição Federal de 1988. 
Assim, para que uma conduta seja punida penalmente, deve haver uma lei prévia 
proibindo o comportamento humano contrário aos interesses da sociedade. E não é só, a lei 
deve estatuir a conduta que visa proibir, de forma clara, pois do contrário, ou seja, descrições 
34 
vagas como a prevista no artigo 8º da Lei de Segurança Nacional12 não se pode “determinar 
qual a abrangência do preceito primário da lei penal e possibilita com isso o arbítrio do 
julgador” (MIRABETE: 2009, p. 39-40). 
Com a observância desse princípio, o cidadão terá prévio conhecimento da 
conduta proibida, bem como conhecerá e terá certeza de que não será punido de forma diversa 
da prevista se violar o enunciado normativo (BATISTA: 1996, p. 67). 
Para Bento de Faria, o princípio nullum crimen sine lege é garantia de liberdade, é 
garantia de tranquilidade ao cidadão, eis que não viverá na incerteza do que é proibido, não 
serão, os cidadãos, “servos da gleba” (1959, p. 81). 
Modernamente só se fala em Estado Democrático de Direito – no que diz respeito 
ao Direito Penal – quando a vontade do Estado é regida por lei, ou seja, segue orientação de 
regras jurídicas estabelecidas e legitimadas democraticamente. Ressalte-se, ainda, que no 
Direito Penal só se fala em segurança jurídica e controle do jus puniendi quando os crimes e 
as penas são fixadas previamente por lei, ou seja, para que tenhamos um verdadeiro Estado 
Democrático de Direito, o Estado deve atuar – na seara do Direito Penal – somente por 
expressa previsão legal, devendo obediência ao princípio da legalidade previsto na 
Constituição Federal (QUEIROZ: 2005, p. 25-27). 
Do princípio da legalidade a doutrina extrai subprincípios, mas a maioria da 
doutrina brasileira os denomina de princípios, são eles: da reserva legal, da taxatividade, 
também chamado de princípio da determinação e, por fim, o da irretroatividade da lei penal 
incriminadora. Tais princípios não são só consequências do princípio da legalidade, são na 
realidade sua essência, eis que ausente um deles, ausente também estará a ideia de legalidade 
(GOMES: 2008, p. 9; GOMES: 2003, p. 32-33 e BATISTA: 1996, p. 69-77). 
Sucintamente, o princípio da reserva legal diz respeito ao aspecto formal da lei 
penal incriminadora, ou seja, só pode ser considerado crime e só pode ser aplicada uma 
sanção penal se houver uma lei descrevendo-o, não sendo possível a criação de crimes e 
penas, por outra modalidade legislativa, como por exemplo, por meio de Decreto Presidencial 
(GOMES: 2008, p. 7). 
Aludido princípio é condicionante de que alguém só será punido se existir lei com 
uma norma proibindo a conduta, sendo que citada reserva de lei é presente em todos os 
 
12
 Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou a soberania de outro país. 
35 
diplomas penais brasileiros desde 1803, inclusive nas constituições brasileiras (BATISTA: 
1984, p. 301). 
O princípio da irretroatividade da lei penal incriminadora é intrinsecamente ligado 
ao da reserva legal, eis que para ser apenado por uma conduta considerada como crime, há de 
existir uma lei prévia, ou seja, lei anterior ao fato criando a figura incriminadora. Assim, se a 
lei é posterior, a conduta não será punida, pois não existia lei anterior estabelecendo a 
proibição da conduta. Melhor esclarecendo, a lei incriminadora posterior não retroagirá para 
alcançar situações pretéritas. 
Por questões metodológicas, deixamos o princípio da taxatividade/determinaçãopor último, devido a sua importância para o presente estudo. Com efeito, não há como dizer 
que um enunciado normativo obedeceu ao princípio em comento, se o intérprete não tiver 
condições de saber qual o sentido e alcance de aludido enunciado. 
Foi com a ideia de legalidade que nasceu a técnica de descrição de condutas 
reprováveis em enunciados normativos precisos, assegurando a liberdade e a segurança 
jurídica (GOMES: 2008, p. 7). 
E mais, do princípio da reserva legal pode-se afirmar que o enunciado normativo 
deve ser claro e determinado, eis que deve especificar a conduta para conhecimento do 
cidadão, limitando, demarcando o lícito do ilícito (BATISTA: 1984, p. 303). 
É corolário lógico do princípio da legalidade que o tipo penal seja determinado, 
ou seja, taxativo. Tal princípio é dirigido ao legislador, eis que em sua função de criar figuras 
incriminadoras, deve ser claro e preciso, não podendo valer-se de expressões ambíguas, 
equívocas ou vagas (LUISI: 2003, p. 24). 
No mesmo sentido, Nilo Batista enfatiza que a determinação/taxatividade do tipo 
penal é exigência ao legislador penal brasileiro, seja pelo fato de que não ocorrerá à 
autodeterminação do cidadão, eis que não terá conhecimento do que é penalmente proibido, 
conforme teoria da intimidação penal, seja pelo fato de que a vagueza no enunciado 
normativo dá margem para manipulação no momento da aplicação da lei (1996, p. 78-79). 
Antonio Carlos Santoro Filho, em comentários sobre o princípio da taxatividade, 
o denomina de princípio da tipicidade, pois o legislador deve descrever a conduta criminosa 
de “modo certo e inconfundível”. Ao descrever a conduta que visa coibir de forma taxativa, o 
legislador atende a uma das funções do tipo, qual seja: a de garantia. O cidadão tem a garantia 
36 
de que só as condutas taxativamente descritas são proibidas, não podendo o legislador criar 
figuras incriminadoras de forma genérica (2003, p. 60-61). 
Note-se, ainda, que a inobservância ao princípio da taxatividade/determinação 
também ofende os princípios da legalidade e da anterioridade, pois de nada adianta a lei ser 
anterior se não houver clareza, ou seja, a lei é anterior, mas a vagueza poderá resultar em 
variações diferenciadas e arbitrárias (LUISI: 2003, p. 24). 
Para Nilo Batista, o princípio da legalidade resta comprometido se a lei cria 
figuras incriminadoras sem clareza em seus elementos, tornando-se impossível que o cidadão 
conheça o que é ilícito e vaticina: “equivale teoricamente a nada formular” (1996, p. 78). 
A determinação taxativa do tipo penal é garantia do cidadão contra o arbítrio 
estatal, limitando, restringindo a discricionariedade no julgamento do caso concreto (LUISI: 
2003, p. 25). 
Tal princípio “limita a discricionariedade do órgão judicial”, eis que exige do 
legislador que, ao elaborar o enunciado normativo penal, seja claro, devendo evitar que as 
“normas incriminadoras sejam ambíguas, equívocas e vagas, o que poderia ensejar diferentes 
e casuísticos entendimentos”. Assim, a exigência ao legislador de que seja preciso ao criar um 
modelo incriminador é, como já visto, garantia do cidadão, evitando a arbitrariedade e, por 
consequência, controla o ius puniendi do Estado (GOMES: 2003, p. 33). 
Ora, o enunciado normativo penal incriminador, chamado de tipo penal/legal tem 
a função de garantia do cidadão na medida em que, sendo taxativo (certo e determinado – não 
vago) fornece elementos ao cidadão para se autodeterminar, de responsabilizar-se pela 
conduta ilícita que praticou, pois tinha conhecimento do conteúdo normativo expresso no 
enunciado (PALAZZO: 1989, p. 50). 
É o que se chama de eficácia preventiva do enunciado normativo, pois o indivíduo 
conhecendo a proibição, devido à certeza e à taxatividade, pode se autodeterminar e não 
praticar a conduta proibida pelo legislador (GOMES: 2003, p. 33). 
Assim, pode-se dizer que o princípio da taxatividade/determinação, como os 
demais princípios, tem índole política, pois é uma exigência de que todos os enunciados 
normativos incriminadores sejam claros e precisos para que a ideia de proteção do cidadão 
contra o arbítrio estatal não ocorra. 
37 
Note-se que sendo um enunciado normativo vago e impreciso não há segurança e 
a punição pode ser variada e mais, em sentido oposto, sendo o enunciado normativo 
incriminador “inequívoco, pouca discricionariedade terá o juiz quando da aplicação do 
direito”. Assim, enunciado normativo incriminador não pode ser vago, eis que a conduta 
proibida deve ser de fácil percepção, tornando evidente para o cidadão qual é o 
comportamento que acarretará o exercício do ius puniendi (GOMES: 2008, p. 13). 
O princípio da taxatividade pode ser entendido também como exercício do 
princípio da igualdade, pois a ambiguidade e a vagueza do enunciado normativo podem 
acarretar desigualdade na aplicação do enunciado normativo, sendo que os órgãos do Poder 
Judiciário podem sustentar opiniões divergentes – o que comumente ocorre (GOMES: 2008, 
p. 14-15). 
Nesse toar, a certeza emanada do enunciado normativo inequívoco traz segurança 
jurídica, fornecendo aos tribunais superiores elementos para o controle de legalidade das 
decisões proferidas pelas instâncias inferiores (GOMES: 2008, p. 14-15). 
Com efeito, se um enunciado normativo for vago, os tribunais superiores não 
terão elementos para decidir se a norma aplicada ao caso concreto é a correta, não existirá 
parâmetro objetivo devido a vagueza do texto normativo. Portanto, se o enunciado normativo 
é vago, não há segurança na aplicação ao caso concreto e, assim, o juiz não pode condenar um 
cidadão “que não se comportou como deveria, já que tal comportamento não estava 
claramente determinado a fim de orientar os cidadãos” (GOMES: 2008, p. 14-15). 
Sobre o princípio da taxatividade, Mariângela Gama de Magalhães Gomes 
esclarece: 
Ao assegurar a certeza da lei, afasta-se o arbítrio do juiz, impedindo que ele 
venha a punir casos não expressamente previstos em lei. Quanto maior é a 
certeza, menor o subjetivismo, ideológico ou pessoal do juiz. Além disso, 
assegura-se também a fragmentariedade do direito penal, a igualdade (que 
pressupõe a possibilidade de conhecimento da norma) e, portanto, também a 
prevenção geral, a possibilidade para os cidadãos de conhecer aquilo que é e 
o que não é penalmente vetado e conscientemente decidir o próprio 
comportamento (GOMES: 2008, p. 16-17). 
Luiz Luisi argumenta que o princípio da legalidade na modernidade exige a 
aplicação do princípio da determinação/taxatividade, ou seja, é exigência constitucional de 
que os tipos penais tenham clareza e precisão. E conclui, apresentando um novo conceito 
38 
sobre o princípio da legalidade, qual seja: “não há crime, não há pena sem lei prévia, precisa 
ou determinada e atual” (2003, p. 110-111). 
Nilo Batista assevera que há várias formas de desrespeito ao princípio da 
legalidade quando o enunciado normativo não é taxativo. Há, segundo o autor, violação 
quando o núcleo do tipo penal contém um verbo, um agir vago ou indeterminado, citando 
como exemplo a antiga conduta criminosa de “cometer adultério” e a ainda vigente, de 
“reduzir alguém a condição análoga de escravo” (1996, p. 81-82). 
Tal autor aponta ainda outra violação, qual seja, a utilização de elementos sem 
precisão semântica, como por exemplo, “casa mal-afamada” ou “espetáculo capaz de 
pervertê-lo”. Ainda como violação ao princípio da taxatividade, como subprincípio ou função 
do princípio da legalidade, é o emprego pelo legislador de tipificações abertas ou 
exemplificativas, pois os limites ao intérprete não são apresentados, como por exemplo, a 
conduta de “ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico 
de causar-lhe mal injusto e grave” (1996, p. 81-82). 
Paulo Queiroz relata que o Estado respeitará o princípio da legalidadequando a lei 
estipular condutas proibidas de forma precisa, não podendo ter conteúdo vago, obscuro ou 
amplo. Deve o enunciado normativo ser redigido com elementos precisos, sendo que, na 
interpretação pelo Poder Judiciário deve-se, segundo o citado autor, restringir o alcance do 
texto, sob pena de violação do princípio da legalidade e de trazer insegurança à liberdade do 
cidadão (2005, p. 27-28). 
Destarte, apontada a importância do princípio da legalidade e de seus 
subprincípios ou funções, constata-se que a não observância é perigosa, pois o cidadão pode 
desconhecer que condutas o Estado proíbe. 
2.4 O tipo e o direito penal 
O Direito Penal é veiculado por enunciados normativos incriminadores que 
definem fatos puníveis cominando sanções (BATISTA: 1984, p. 281). Tais enunciados 
incriminadores são chamados usualmente de tipos penais (Tatbestand). Trazem em seu bojo a 
descrição dos elementos materiais do delito, uma exigência na estipulação de condutas 
criminosas no intuito de limitar o arbítrio dos governantes (LUISI: 1987, p. 13-15). 
39 
O termo tipo tem origem grega e um dos seus sentidos é “exemplo ou modelo, em 
acepção mais valorativa, derivando para protótipo ou arquétipo”. Várias foram as acepções 
empregadas ao termo em comento, no entanto, o sentido originário do grego (modelo ou 
molde) “nunca se perdeu”. Mesmo sendo um molde, não se pode confundi-lo com um 
conceito (DERZI: 2007, p. 38-92). 
Com efeito, um conceito é rígido e fechado, nem sempre encontra 
correspondência com os fatos da vida. Já o tipo é flexível, criado para ser abstrato e genérico, 
podendo adequar-se, adaptar-se a situações modernas e atuais, mudando de “significado ao 
longo do tempo” (DERZI: 2007, p. 38-92). 
Misabel de Abreu Machado Derzi esclarece: 
Parece-nos que, pelo menos de acordo com a lógica aristotélica, o tipológico 
foge às características do pensamento científico conceitual clássico. O que 
importa é que (conceito ou não), tipo é o nome que se dá à ordem que, 
comparativamente, ordena objetos, segundo características nem rígidas nem 
flexíveis, em sistema aberto, graduável, voltado à realidade de valor e 
sentido (2007, p. 92). 
Mas não se deve olvidar que mesmo sendo flexível e abstrato, o tipo contém 
“ricas referências ao objeto”, uma delimitação que reduz a imprecisão, mas não elimina a 
zona de penumbra, como dizia Carrió. E mais, mesmo “[...] quando o legislador opera com 
conceitos fechados, há de restar sempre o conhecido fenômeno da mudança de significação 
das normas ao longo do tempo, dentro do ‘limites possíveis da palavra’” (DERZI: 2007, p. 
112). 
Existem fases quanto à evolução do conceito de tipo penal, sendo que a primeira 
diz respeito à concepção da independência, sendo o tipo penal apenas a descrição de uma ação 
determinada com função meramente descritiva. A segunda fase é conhecida como da 
antijuridicidade, que reconhece ser o tipo uma descrição, mas também um indício de 
contrariedade (BITENCOURT: 2012, p. 332-335). 
Ainda nessa fase, relata-se que o tipo não é só indício de antijuridicidade, mas 
também razão de ser, ou melhor, a tipicidade e a antijuridicidade são vinculadas. Segue-se 
com a fase chamada defensiva, fundamentada no princípio da legalidade, na qual o tipo penal 
é uma figura ideal, um “modelo conceitual extraído do acontecimento externo” 
(BITENCOURT: 2012, p. 332-335). 
40 
Assim, pode-se emprestar a definição de tipo penal ventilada por Cezar Roberto 
Bitencourt, qual seja: “Tipo é o conjunto de elementos do fato punível descrito na lei penal 
[...] Tipo é um modelo abstrato que descreve um comportamento proibido” (2012, p. 336). 
Guilherme de Souza Nucci entende da mesma forma, definindo o tipo penal como “uma 
conceituação puramente funcional que permite concretizar o princípio da reserva legal” 
(2008, p. 182). 
Assim, o tipo penal delimita o que é ilícito, mas não cria a conduta, apenas a 
transforma em crime. Com efeito, o tipo penal contém elementos descritivos “passíveis de 
reconhecimento por juízos de realidade, isto é, captáveis pela verificação sensorial (sentidos 
humanos)” (NUCCI: 2008, p. 183). 
No entanto, contém também alguns elementos que dependem de juízos de 
valoração, que são chamados, pela doutrina penal, de elementos normativos. A valoração 
pode ser cultural, como por exemplo, ato obsceno, ou jurídica, como por exemplo, o termo 
cheque (NUCCI: 2008, p. 183). 
O tipo penal, sendo o modelo descritivo de comportamentos proibidos, tem suas 
funções. Uma delas é a função indiciária, a qual a conduta sendo proibida é típica e, assim, 
há indícios de que também será antijurídica, pois infringiu o direito (BITENCOURT: 2012, p. 
339). 
Rogério Greco relata que o tipo também tem a função fundamentadora do ius 
puniendi. O Estado moderno detém o monopólio de aplicar sanções penais, sendo o tipo penal 
o meio pelo qual o Estado fundamenta e faz valer o direito de punir. Nos dizeres de citado 
autor “a função fundamentadora por ele exercida, abre a possibilidade ao Estado de exercitar 
o seu direito de punir sempre que o seu tipo penal for violado” (2010, p. 175). 
Outra função é a de garantia, que tem seu amparo no princípio da legalidade. O 
tipo penal tem a função de fundamentar o injusto e também limitar o âmbito de incidência, ou 
melhor, do que é proibido, penalmente relevante (BITENCOURT: 2012, p. 339). 
No mesmo sentido é o entendimento de Rogério Greco, sendo o tipo penal uma 
garantia do cidadão de que toda conduta é lícita, podendo praticar qualquer ato que não for 
expressamente proibido em um tipo penal, ou seja, tipificada em lei como um ilícito penal 
(2010, p. 175). 
Portanto, cada cidadão tem a garantia de que só será objeto de preocupação do 
Direito Penal a conduta que foi descrita por lei em um tipo penal e, conforme Cezar Roberto 
41 
Bitencourt, “o tipo penal tem a função de descrever de forma objetiva a execução de uma 
opção proibida” (2012, p. 339). 
Outra função do tipo penal, segundo Bitencourt, é a função diferenciadora do 
erro. O cidadão só pode ser punido quando sua conduta abrange todos os elementos 
constitutivos da descrição abstrata, isto é, a conduta para ser típica tem que ser dolosa e o dolo 
deve corresponder a todas as circunstâncias fáticas contidas no tipo penal. Assim, o tipo 
penal, presumidamente doloso, não se aperfeiçoa, tornando a conduta atípica, quando ocorrer 
o chamado erro de tipo (2012, p. 339). 
Ainda em relação às funções do tipo penal, Rogério Greco argumenta que há a 
função selecionadora, pois o legislador seleciona no mundo certas condutas que violam bens 
jurídicos que, no seu entender, são de maior relevância e merecem tutela estatal, tornando 
certas condutas tipificadas (2010, p. 176). Misabel de Abreu Machado Derzi entende da 
mesma maneira, asseverando que “o tipo seleciona as ações humanas relevantes para o direito 
penal” (2007, p. 161). 
Prosseguindo na análise do tipo penal, convém salientar que as prescrições 
normativas devem propiciar ao intérprete critérios não contraditórios, ou seja, critérios claros 
para que o dever ser tenha contato com o dado do ser (ZAFFARONI; BATISTA: 2003, p. 
64). Desta feita, um dos objetivos do modelo penal garantista é a exigência de que o 
legislador crie, construa tipos penais taxativos, objetivos, ou seja, tipos fechados (GOMES: 
2003, p. 11-12). 
Há muitos tipos penais que contém elementos que dependem de atividade 
valorativa, são os tipos abertos. Isso ocorre devido à dificuldade do legislador em modelar o 
tipo com dados objetivos, razão pela qual lança mão de expressões que dependem de análise 
subjetiva. Com efeito, o elemento aberto axiológico não é determinado, eis que cabe ao 
intérprete conferir o sentido do texto ao interpretá-lo, como no caso das nuances da ilicitude, 
como, por exemplo, “injustamente”, bem como quando diz respeito à parte da estruturado 
tipo, um elemento constitutivo, como por exemplo, “perigo comum, cruel, torpe” (LUISI: 
1987, p. 58-59). 
Os elementos abertos podem ser classificados como jurídicos ou culturais, sendo 
que no primeiro já há um conceito consagrado e expresso em outras normas jurídicas, como 
por exemplo, a expressão “funcionário público” definida no artigo 327 do Código Penal. Já no 
último, a valoração é livre, pois não há uma significação expressa no tipo, como, por 
42 
exemplo, a expressão “fraude” prevista no artigo 155, §4º, II, do Código Penal (LUISI: 1987, 
p. 58-59). 
Inocêncio Mártires Coelho relata que a concretização do enunciado normativo 
genérico, no caso concreto, amplia o modelo criado pelo legislador, abarcando possibilidades 
“que não poderiam ter sido imaginadas sequer pelos mais proféticos dos legisladores 
históricos”. E prossegue, apoiando-se em Miguel Reale, esclarecendo que o magistrado, não 
podendo se eximir do ato de julgar, pode até assumir o papel de legislador quando houver 
lacuna na legislação (COELHO: 2011, p. 48-50). 
Em seguida, abordando a questão da interpretação constitucional alerta para a 
hipótese dos enunciados abertos. Em suas palavras: 
Apesar da natural abertura dos enunciados normativos, a ensejar diversas 
interpretações, nem por isso quaisquer leituras podem ser consideradas 
igualmente válidas, até porque existem critérios para verificar a sensatez de 
uma interpretação textual e, à luz desses parâmetros, para desqualificar as 
que se mostrarem, indubitavelmente, erradas ou clamorosamente inaceitáveis 
(2011, p. 186). 
Em linha semelhante, Winfried Hassamer relata que os conceitos ambíguos 
contidos no enunciado normativo permitem as diferentes formas de conceituação devido a 
vagueza, há um preenchimento valorativo pelo intérprete, ou seja, o “intérprete encontra na 
lei apenas uma informação incompleta relativa à decisão que lhe concede espaços para sua 
decisão” (2007, p. 10). 
Eros Roberto Grau não concorda com a nominação conceitos ambíguos, eis que 
seria um contrassenso, já que conceito dá a ideia de determinação, de forma que, a questão 
não é conceitual, mas de tipos indeterminados, que possuem termos ambíguos ou imprecisos 
que necessitam de uma complementação do exegeta para a aplicação ao caso concreto (2009, 
p. 239-240). 
Em suas palavras: 
Os parâmetros para tal preenchimento – quando se trate de conceito aberto 
por imprecisão – devem ser buscados na realidade, inclusive na consideração 
das concepções, essas, que variam conforme a atuação das forças sociais. 
Quando se trate de conceito aberto por ambigüidade seu preenchimento é 
procedido também mediante a consideração do contexto em que inserido – o 
que, de qualquer forma, não deve obscurecer a verificação de que, sempre, é 
43 
da participação do jogo da linguagem no qual inserido o termo do conceito 
que decorre a possibilidade de o compreendermos, procedendo ao seu 
preenchimento (2009, p. 240). 
Adverte Eros Roberto Grau que, “ainda que ambíguas e imprecisas, as palavras e 
expressões jurídicas [...] expressam significações determináveis” (2009, p. 240). A respeito do 
tema, Winfried Hassamer, conclui que um enunciado normativo é vago (aberto) quando a ele 
pode ser atribuído um sentido positivo, um negativo e um neutro. Sendo comum, pois a 
linguagem da lei é semântica, isto é, aberta e ambígua, expressando a experiência comum do 
cotidiano (2005, p. 249-362). 
Assim, os tipos penais que contenham somente elementos descritivos objetivos 
são chamados de tipos fechados, enquanto os que contiverem em sua estrutura elementos que 
dependem de uma valoração para além do vernáculo são denominados de tipos abertos
(NUCCI: 2008, p. 184). Destarte, quando um tipo penal contém um elemento aberto que 
depende da valoração do intérprete, chama-se, comumente, de tipo penal aberto e, quando 
não, de tipo fechado. 
O tipo penal ainda pode ser classificado como formal ou material. O primeiro é a 
descrição objetiva realizada pelo legislador quando cria e molda a conduta criminosa que visa 
coibir. Já o segundo vincula-se à lesão ao bem jurídico a ser protegido pelo enunciado 
normativo (NUCCI: 2008, p. 187). 
Assim, há casos em que há tipicidade formal, mas não material, como por 
exemplo, a lesão corporal causada pelo furo de um brinco na orelha de uma pessoa. Há uma 
adequação formal ao descrito no enunciado normativo, no entanto, como não há ofensa aos 
parâmetros éticos e sociais, a conduta é considerada atípica materialmente (NUCCI: 2008, p. 
187). 
Há outros tipos de classificação, no entanto, para fins de análise de hermenêutica e 
interpretação, basta, no meu sentir, o apontado acima. 
2.5 A interpretação e o direito penal 
Thomas Kuhn relata que na prática da ciência os estudantes se familiarizam com a 
arte que se propõem a desempenhar estudando os manuais que apontam os paradigmas a 
serem seguidos. Quando tais paradigmas não resolvem as questões, ocorrendo anomalias, 
nasce a crise. Ora, se as crises não são resolvidas pelos manuais – que só apresentam os 
44 
resultados sedimentados do que outrora foram teses – o estudante precisa de mais, ou seja, 
precisa de fundamentos, precisa dos elementos que alicerçaram as citadas teses, ou 
paradigmas como nominou Kuhn, para poder prosseguir e tentar resolver os problemas – as 
novas crises (2011, p. 30). 
O agente que pratica uma conduta criminosa age exatamente nos termos da 
conduta prevista no enunciado normativo, pois como já dito anteriormente, o agente viola a 
norma que se extrai do aludido enunciado. Assim, é possível dizer que no Código Penal não 
há enunciado normativo incriminador por imperativo expresso, há uma proibição “no bojo dos 
dispositivos legais” (BITENCOURT: 2011, p. 158). 
Com efeito, o Código Penal contém enunciados normativos no intuito de punir 
quem viola a norma contida em tais enunciados, mas não é só, o legislador também traz 
enunciados normativos permissivos, explicativos e complementares. 
Os escritos brasileiros de Direito Penal são na sua grande maioria manuais e, em 
específico ao tema da interpretação do enunciado normativo, praticamente todas as obras13
citam os mesmos autores como fonte de entendimento. Assim, para início da abordagem ao 
magistério brasileiro no Direito Penal, vamos à fonte. 
Se buscamos a fonte do Direito Penal vigente em termos de interpretação, não se 
pode olvidar Nélson Hungria.14 Não se trata de reverencialismo, pois a unanimidade das obras 
de Direito Penal o citam como fundamento para as formas de interpretações que apresentam. 
O problema da interpretação da lei penal já foi objeto de muitas abordagens. 
Devido aos infortúnios causados pelo arbítrio judicial, Beccaria chegou ao ponto de asseverar 
que “feliz a nação em que as leis não são objeto de uma ciência” (HUNGRIA: 1955, p. 49-
50). 
Na análise da interpretação da lei penal, não se pode reduzir a função do juiz ao 
automatismo, eis que as leis contêm defeitos e, em suas redações, são ambíguas e obscuras, 
ostentando também contradições (HUNGRIA: 1955, p. 50-51). 
Na defesa do Código Penal brasileiro vigente, Nélson Hungria argumentou que há 
precisão nos enunciados incriminadores, mas observou que a interpretação é indispensável 
para “explicar-lhe o verdadeiro sentido, o justo pensamento, a real vontade, a exata razão 
 
13
 Deixo de nominá-las, eis que realmente todos os manuais e tratados de direito penal que foram consultados, os 
mais comuns, citam Nélson Hungria 
14
 Com mais de 20 mil escritos conforme Cid Flaquer Scartezzini (RUFINO; PENTEADO: 2003, p. 209) 
45 
finalística, quase nunca devidamente expressos com tôdas as letras” (sic), eis que a 
interpretação realizada pelos órgãos judiciários revela a justiça para o caso concreto e serve de 
diretriz para a solução de casossimilares (HUNGRIA: 1955, p. 57-59). 
O intérprete, ao deparar-se com uma lei que contém expressões gramaticais que 
geram dúvidas, deve analisá-la no sentido jurídico, mas, se ainda persistir dúvida, deve 
apegar-se ao sentido do uso comum, o extrajurídico (HUNGRIA: 1955, p. 67). 
Com efeito, o intérprete deve buscar a razão finalística da lei, a chamada ratio 
legis, ou seja, o interesse da norma, o bem jurídico que visa tutelar. Impende lembrar que a 
ratio legis é diversa da occasio legis. É sabido que o legislador tem seus motivos para 
formular a lei, os fatos que geraram a preocupação legislativa, a occasio legis. Entretanto, 
com a vigência da lei, há um desprendimento de tal occasio legis, eis que a lei passa a ter vida 
e existência “em si e por si” (HUNGRIA: 1955. p. 70-71). 
A lei sobrevive aos motivos que a ensejaram e continua a servir o fim do “direito 
que o seu texto consagra”, pois não é inflexível e se perpétua à occasio legis, sendo que o 
homem evolui e os conceitos da vida também, razão pela qual não se pode recusar ao Direito 
Penal a interpretação evolutiva e adaptativa (HUNGRIA: 1955. p. 70-71). 
Hungria esclarece que “se o direito é feito para o homem e não o homem para o 
direito, o espírito que vivifica a lei deve fazer dela um instrumento dócil e pronto a satisfazer, 
no seu evoluir, as necessidades humanas” (1955, p. 75). 
Dizia também que não se pode negar ao juiz penal a faculdade de interpretar a lei 
de modo a adaptá-la aos atuais aspectos da vida social. Deve o juiz buscar o pensamento do 
legislador atual “no espírito evoluído da sociedade e no sentido jurídico imanente, que se 
transforma com o avanço da civilização”. Mas adverte, o intérprete que, ao dar à lei 
interpretação adaptativa não deve negá-la, não pode reformulá-la, deve ater-se ao texto e no 
caso concreto procurar apresentar o que a lei não disse claramente (1955, p. 76-78). 
Acrescenta ainda que o juiz deve definir a justiça do caso concreto nos limites 
permitidos pela lei, não pode ir além, eis que, se o fizer, estará deixando aos juízes a definição 
do que é o direito, o que acarretaria ameaça à segurança jurídica e mais, ameaça aos direitos 
individuais e sociais (1955, p. 76-78). 
Na interpretação da lei, por vezes, o juiz amplia o sentido e o alcance das 
palavras, é a chamada interpretação extensiva. Segundo Hungria, o primeiro passo é utilizar a 
máxima de que o que é incriminado quanto ao mínimo também o é quanto ao máximo. 
46 
Esclarece também que o que é proibido quanto ao gênero, também o é quanto à espécie, como 
por exemplo, o crime de bigamia, ou seja, também é fato criminoso a poligamia. Há também 
o exemplo do crime de perigo, ou seja, pune-se também quando o perigo resulta em dano 
efetivo (1955, p. 82-84). 
O enunciado normativo pode conter elementos que dependem de uma valoração 
subjetiva do intérprete, comumente encontrados no tipo penal aberto. Com efeito, na 
interpretação de tipos penais abertos se utiliza a interpretação extensiva, também chamada de 
analógica. Segundo Hungria, a ampliação do sentido das palavras é realizada para buscar 
acomodar o verbete à vontade da lei. Todavia, quando o legislador estabelece exemplos 
casuísticos e uma fórmula genérica, esta só pode englobar casos análogos aos exemplos 
(1955, p. 86). 
Nos casos em que a fórmula genérica é demasiadamente ampla, como por 
exemplo, “ter o agente cometido o crime à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação 
ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido”, Hungria adverte 
que é “uma elasticidade inteiramente aberrante do seu sentido”. Narra ainda que, no Direito 
Penal, a interpretação extensiva deve apresentar o que do texto provém, por força de 
compreensão, ou seja, o que declarou o legislador – não podendo desvirtuar tal objetivo 
(1955, p. 86-87). 
Roberto Lyra inicia o tema interpretação narrando que os princípios gerais são 
aplicados a todos os ramos do direito. Mas, assevera que há uma teoria especial de 
interpretação das leis penais, pois especifica o que é privativo do Direito Penal. Note-se que à 
doutrina coube especificar tal teoria, mas as leis cada vez mais vêm regulando a tarefa da lei 
penal. Os métodos de interpretação têm histórico na escola do direito justo de Stammler e 
também nas escolas da sociologia e do direito livre, preconizadas por, respectivamente, Geny 
e Kantorowicz (1955, p. 183-186). 
Ora, interpretar é conhecer o objeto e o alcance da norma, sendo que tal tarefa 
pode ser do legislador (interpretação autêntica), dos juristas (interpretação acadêmica) e do 
juiz (interpretação judicial) quando aplica a lei ao caso sob sua análise. É sabido que a 
interpretação realizada pelo juiz dá-se por meio da lógica, pois busca ele “a alma que lhe 
transfundiu o legislador, por sua vez extraída da ciência e da vida” (LYRA: 1955, p. 183-
184). 
47 
Essa interpretação pode ser restritiva, sendo vedado ao juiz sair do texto, da letra 
da lei, limitando a atividade de julgar. A crítica que se faz a tal método é que a limitação 
induz um direito longe da realidade, podendo enveredar-se para uma fonte de opressão e não 
de justiça, pois o direito se tornaria isolado de outras manifestações sociais. Ora, o rigor da 
lei, por vezes, arbitrário, quando interpretado pelo juiz, ao aplicá-lo ao caso concreto se 
humaniza, adapta-se ao caso da vida, ao ritmo do convívio social (LYRA: 1955, p. 176 e 
186). 
A interpretação pode ser extensiva, permitindo ao intérprete que inclua casos que, 
à primeira vista, pareciam estar excluídos do texto da lei. Tal interpretação pode ser analógica, 
ou seja, “inspira-se no confronto da lei com os institutos análogos”. E mais, pode ainda ser 
por paridade, no qual, o intérprete aplicará o texto da lei “em tôda a extensão de seu preceito, 
aos casos compreendidos nos seus termos” (sic) (LYRA: 1955, p. 184-185). 
Note-se que a interpretação extensiva tem limites no Direito Penal, pois é 
expresso no artigo primeiro do Código Penal brasileiro que o intérprete não pode criar crimes. 
Trata-se, como já visto, do princípio da legalidade. Todavia, adverte Roberto Lyra, mesmo 
quanto à definição dos crimes é permitido interpretar quanto ao alcance do texto da lei por 
força da compreensão, ou seja, é permitida a interpretação evolutiva quando o texto da lei 
carrega fórmulas largas – conferindo independência ao intérprete (1955, p. 185-186). 
Interpretar o Direito Penal, ao contrário do que vem sendo alardeado por vários 
julgados dos tribunais brasileiros e manuais de direito processual penal, não é procurar uma 
forma de beneficiar o acusado, pois a tarefa do intérprete é buscar o verdadeiro sentido da lei, 
beneficie ou não o acusado (LYRA: 1955, p. 185-186). 
No mesmo sentido, Galdino Siqueira argumentava que só se interpreta em favor 
do acusado quando persistir dúvidas quanto ao sentido e ao alcance do enunciado normativo – 
quando não houver certeza quanto à intenção do legislador (2003, p. 42-43). 
Bento de Faria argumentava que a interpretação, como processo lógico de 
verificar o sentido do enunciado normativo penal, coloca em evidência o conteúdo da 
disposição legislativa, devendo-se atentar que não é a vontade do legislador, mas da lei. Tal 
processo, como dizia Manzini, é subjetivar a regra objetiva, é buscar a vontade da lei posta na 
realização de determinado caso ou série de casos. Note-se que mesmo sendo claro o 
enunciado da lei, necessário se faz interpretar o enunciado normativo, pois afasta-se o perigo 
48 
que sua letra pode gerar, ou seja, no ato da interpretação busca-se mais o espírito da lei do que 
sua letra (1958, p. 59-60). 
É sabido que os princípios gerais que norteiam a tarefa de interpretar têm 
cabimento em qualquer ramo do direito e aplicam-se a qualquer lei. No entanto, para o Direito 
Penal há regras específicas e distintas que o inspiram,como o espírito legalista que garante o 
cidadão de eventuais abusos do poder estatal. A tarefa de interpretar é compreender e 
harmonizar os diversos textos da lei, uns com outros para que não haja contradições (FARIA: 
1958, p. 61-63). 
Para tanto, a interpretação não deve se restringir ao sentido da palavra 
gramaticalmente, mas interpretar é conhecer a força do enunciado, que se deduz das palavras 
e do espírito da lei. A interpretação não deve imobilizar o enunciado normativo, eis que ao 
juiz é permitido ampliar o sentido, o pensamento da lei para melhor adaptá-la às necessidades 
da vida (FARIA: 1958, p. 61-63). 
Para se realizar a interpretação de um enunciado normativo que não é claro, 
utiliza-se a interpretação lógica. Por meio desse processo, busca-se a vontade da lei que se 
encontra implícita no enunciado normativo, trata-se, pois, de um processo dedutivo que se 
realiza da análise do que o legislador concebeu ao dispor o enunciado de tal maneira, o que o 
moveu a estabelecer tal preceito. Ora, o enunciado normativo é uma frase, um esqueleto 
gramatical que ganha vida na dedução racional quanto ao motivo do legislador, o seu espírito 
(FARIA: 1958, p. 63-64). 
Na interpretação lógica pode-se restringir ou estender o sentido do enunciado 
normativo. Na primeira, restringe-se o texto do enunciado normativo, mas advirta-se, não se 
pode restringir o sentido da lei ao ponto de ir ao sentido oposto de sua vontade. Na segunda – 
interpretação extensiva –, amplia-se o alcance do que está escrito. Tal processo é 
perfeitamente possível no Direito Penal, pois há uma integração do texto, do pensamento do 
legislador e o caso concreto. Bento de Faria, afirmava que “a interpretação extensiva, quando 
não é mais do que a reintegração do pensamento legislativo, aplica-se a todas as normas, 
sejam embora de caráter penal ou excepcional” (1958, p. 64-66). 
Ainda em relação à interpretação lógica, vale lembrar os elementos sistemático, 
histórico e sociológico a considerar no ato de interpretar. O intérprete deve considerar, quando 
realizar a dedução no processo de interpretação lógico, do elemento sistemático, ou seja, que 
49 
o enunciado normativo está conectado, vinculado às regras da unidade jurídica que pertence, 
como por exemplo, o Direito Penal (FARIA: 1958, p. 70-71). 
Deve o intérprete, na busca do sentido da lei, compará-la com os dispositivos do 
mesmo repositório ou de outros, mas que tenham o mesmo objeto – deduzindo do exame das 
regras em conjunto. A título de exemplo, um capítulo do código sobre certo objeto apresenta 
grande importância no momento da interpretação, pois representa o que o legislador pensa 
sobre o bem tutelado no referido capítulo (FARIA: 1958, p. 70-71). 
Já o elemento histórico também é de suma importância, pois revela o progresso da 
sociedade e mais, apresenta questões importantes da aplicação de determinado elemento 
normativo no passado, que podem ser confrontadas com a atualidade do pensamento jurídico 
(FARIA: 1958, p. 71). 
Novamente apoiado em Ferrara, Bento de Faria asseverava: 
Compreende-se que precioso auxílio para plena inteligência de um texto 
resulta de se descobrir a sua origem histórica, e seguir o seu 
desenvolvimento e as suas transformações, até ao arranjo definitivo do 
assunto no presente. Fórmulas e princípios que considerados só pelo lado 
racional parecem verdadeiros enigmas, encontram a chave da solução numa 
razão histórica, no rememorar de condições e concepções dum tempo 
longínquo que lhes deram uma fisionomia especial (FARIA: 1958, p. 71-72). 
No elemento sociológico, busca o intérprete o sentido da lei nas transformações 
sociais. Interessante é que na dúvida, hodiernamente busca-se a interpretação em favor do 
acusado. Tal procedimento, no entanto, não deve ser a regra, pois deve-se em primeiro lugar 
resolver a dúvida “favoràvelmente à defesa social, pois na sua segurança assenta, 
fundamentalmente, o objetivo da norma penal”. (sic) Note-se que o antigo adágio in dubio pro 
reo não pode servir para afastar o verdadeiro sentido e escopo da lei, ainda que este não seja 
favorável ao réu (FARIA: 1958, p. 71-72). 
É sabido que no Direito Penal não se permite analogia para criar enunciados 
normativos incriminadores, todavia, não é vedado o uso da interpretação analógica – 
extensiva. Esta tem o condão de dar ao enunciado normativo a extensão decorrente da 
“significação própria das palavras em conexão com a intenção do legislador”, ou seja, entorno 
de uma disposição da lei e de acordo com o espírito e sua razão por dedução lógica (FARIA: 
1958, p. 79-80). 
Sobre o tema, confira o escólio de José Duarte: 
Há norma e há penas, préviamente fixadas, cuja regulamentação concreta 
aparece em cada caso ou procedimento que se lhe assemelha. Aplica-se-lhe, 
50 
então, o mesmo dispositivo, com o que não se legisla, mas apenas se ajusta a 
novo caso a regra existente. Ficam ambos, sob o conteúdo do abstrato da 
norma. Há submissão do Juiz a lei positiva. É uma situação de necessidade 
que se resolve dentro do quadro legal (apud FARIA: 1958, p. 79-81). 
Aníbal Bruno no início de sua obra, apoiado em Ferri, faz um alerta ao ato de 
interpretar do magistrado, eis que “[...] o juiz não pode nem deve fazer o legislador nem 
substituir-se a ele. A observância das leis tais como são é condição fundamental da sociedade 
civilizada: legun servi debemus, ut liberi esse possimus” (1967, p. 203-204). 
Galdino Siqueira argumentava que há necessidade de que os delitos e as penas 
sejam fixadas por lei, mas não só para garantia do cidadão, como já visto anteriormente, mas 
também para atribuir ao Estado o direito de punir. O enunciado normativo apresenta uma 
descrição que, implicitamente, contém uma norma, como por exemplo, o crime de homicídio 
no qual o legislador descreve: matar alguém, quando na realidade a norma é não matar (2003, 
p. 35-42). 
É cediço que há resistência na aplicação da interpretação extensiva no âmbito 
penal, mas segundo Galdino Siqueira, tal posicionamento é resquício antigo da reação de 
todos contra o arbítrio judicial. Ora, a interpretação extensiva é necessária, pois por meio da 
lógica busca-se “reconstruir o pensamento do legislador de recorrer aos motivos informativos 
da lei, para lhe dar exacta applicação” (sic) (2003, p. 42-44). 
Assim, a interpretação extensiva nada mais é do que aplicar o enunciado 
normativo ao caso concreto, estendendo o alcance de acordo com o espírito da lei no sentido 
que o legislador quis lhe dar, ou seja, é dar “traducção fiel de uma vontade manifestada por 
palavras, que forma regular e scientificamente entendidas pelo interprete” (sic) (2003, p. 42-
44). 
Heleno Cláudio Fragoso asseverava que todo direito é norma de conduta social e 
tem a finalidade de preservação de interesses. Narrava que a Constituição Federal contempla 
normas aplicáveis ao direito punitivo, inclusive como garantia individual estabelecendo a 
obediência do Direito Penal ao princípio da legalidade (2006, p. 4-7, 19-20 e 98-99). 
Segundo Fragoso, o Direito Penal, como ciência, deve ser estudado 
dogmaticamente, eis que, diante do princípio da legalidade (reserva legal), se assenta somente 
na lei. No entanto, para o estudo dogmático, diante da crise do Direito Penal, o intérprete deve 
apresentar sempre uma postura crítica, interpretar a lei buscando a realidade para a realização 
51 
de direitos. O objeto da interpretação é conhecer o significado preciso do enunciado penal, 
descobrir o atual significado da norma (2006, p. 4-7, 19-20 e 98-99). 
Adotar a interpretação evolutiva no Direito Penal é caminho para a realização da 
justiça de acordo com a atualidade, é desejado, inclusive, mas não se pode violar o texto da 
lei. A interpretação do enunciado normativo inicia-se pelas palavras que a lei contém, 
devendo o intérprete buscar o sentido pelo significadodas palavras e mais, deve-se ter em 
mente que as palavras possuem sentido técnico e não o vulgarmente empregado (FRAGOSO: 
2006, p. 100-101). 
Nilo Batista argumenta que o Direito Penal brasileiro, grosso modo, é veiculado 
pelo Código Penal e pelas leis extravagantes – é o Direito Penal positivado. O citado código e 
as leis especiais estabelecem enunciados normativos que definem fatos puníveis cominando 
sanções, mas também dispositivos que contêm princípios, estruturas, forma de aplicação e 
execução dos enunciados que definem as condutas delituosas (1984, p. 281). 
Afirma ainda Nilo Batista, que o enunciado normativo que estabelece o fato 
punível e a respectiva sanção é uma norma pura, comumente chamada de Direito Penal em 
sentido estrito. Já o enunciado que estabelece um princípio, uma forma de aplicação e 
execução, é norma impura, constituindo espécie de “metadireito”, pois se ocupa em 
estabelecer como são aplicadas as normas puras, comumente agrupadas na parte geral dos 
Códigos e formam a teoria geral da Lei Penal (1984, p. 282-283). 
Assim, indissociáveis a parte geral, com normas impuras – como denomina Nilo 
Batista, da parte especial, com normas puras (1984, p. 282-283). Com efeito, para aplicar o 
enunciado normativo incriminador, o intérprete deve se valer dos princípios e regras dispostas 
na teoria geral da lei penal e, assim, apresentar a norma para o caso concreto – ainda que de 
forma extensiva. 
Cezar Roberto Bitencourt relata que interpretar é descobrir o sentido e o alcance 
do enunciado normativo diante de suas ambiguidades, mas adverte que se deve sempre 
observar o contexto jurídico e político-social. No Direito Penal, o intérprete não deve se 
esquecer de que há um agrupamento sistêmico, teleológico superior, com critérios que 
permitem descobrir o escopo singular do enunciado. Trata-se da interpretação constitucional 
penal, com base nos princípios que dão garantia ao cidadão e segurança jurídica ao sistema. 
Não pode o intérprete se divorciar do ordenamento ao qual o enunciado normativo pertence, 
52 
inclusive não pode se afastar da concepção de Estado ao qual pertence, como no Brasil, o 
Estado Democrático de Direito (2011, p. 166-167). 
Para interpretar o enunciado normativo, o intérprete deve valer-se dos métodos 
usuais, todos, pois um não deve excluir o outro, complementam-se. Note-se ainda que, não há 
um método exclusivo para o Direito Penal, pode o intérprete utilizar-se de quaisquer 
processos idôneos da hermenêutica. Ressalta-se, ainda, que a interpretação “mais benévola” 
não é obrigatória no Direito Penal e mais, equivocada é a ideia de que na dúvida interpreta-se 
em favor do réu. Com efeito, a tarefa do intérprete é buscar o sentido e o alcance do 
enunciado normativo, ou seja, buscar a vontade da lei – severa ou benigna (BITENCOURT: 
2011, p. 167). 
Variadas são as formas de interpretar o enunciado normativo penal, podendo ser 
quanto à fonte, autêntica, jurisprudencial ou doutrinária. A primeira é realizada pelo 
legislador, a segunda, pelos órgãos decisores e, a última, pelos estudiosos com conhecimento 
técnico (BITENCOURT: 2011, p. 168-172). 
Quanto aos meios pode se interpretar de forma gramatical, histórica, lógica e 
sistemática. Na interpretação gramatical, também chamada de filológica, o intérprete busca o 
significado das palavras que o enunciado normativo contém, o sentido dos termos, sendo que 
à princípio busca-se o sentido comum do uso das palavras, mas também o sentido técnico dos 
termos jurídicos. A crítica que se faz é que o intérprete ao adotar tal critério será um 
formalista e aplicará a letra fria da lei (BITENCOURT: 2011, p. 168-172). 
Note-se que o enunciado normativo deve ser composto por palavras que indiquem 
claramente a conduta proibida e, o legislador, só alcançará tal objetivo quando utilizar-se de 
linguagem comum. O dispositivo penal incriminador é dirigido a todo e qualquer cidadão, ou 
seja, o legislador deve se expressar com precisão que dispensará outros esclarecimentos e, em 
sendo certa a prescrição normativa, com termos inequívocos, a interpretação gramatical 
“assinala o limite da interpretação” (BITTENCOURT: 2011, p. 173). 
Já na interpretação histórica, o intérprete busca o sentido e o alcance do enunciado 
normativo na orientação legislativa que culminou na edição do texto, busca-se, então, qual era 
a política criminal adotada pelo Estado, ou seja, a finalidade objetiva da lei. Interessante 
ressaltar que, para a aplicação da interpretação histórica, o intérprete pode se valer na maioria 
das vezes da exposição dos motivos apresentada pelo legislador, pois lá se encontram as 
53 
“conclusões sobre os motivos, sobre as esperanças e sobre as representações da norma” 
(BITTENCOURT: 2011, p. 173). 
Na interpretação lógico-sistemática, o intérprete busca sanar as contradições dos 
enunciados normativos. Com a lógica, o intérprete busca encontrar os fundamentos do 
enunciado normativo relacionando-o com outros que dele se aproximam, acarretando, assim, 
a ampliação do seu alcance. Com o uso do elemento sistêmico o intérprete, após o uso da 
lógica, analisará o enunciado normativo de forma ampla, ou seja, “investigando o sentido 
global do direito, que a lei expressa apenas parcialmente”. Com esse método, o intérprete 
aplicará o enunciado normativo de forma contextualizado, de forma a garantir a unidade do 
ordenamento (BITTENCOURT: 2011, p. 174-175). 
Ainda quanto à interpretação do enunciado normativo, o intérprete pode, quanto 
aos resultados, valer-se da forma declarativa, extensiva ou restritiva. Na interpretação 
declarativa, o intérprete nada mais faz do que afirmar exatamente qual é o sentido do 
enunciado normativo, não o ampliando ou o restringindo, ou seja, limita-se a declarar a 
vontade da lei que coincide com o texto legal. Já na interpretação restritiva, no intuito de 
encontrar o sentido e o alcance do enunciado normativo, o intérprete procura reduzir, 
minimizar o sentido e o alcance do texto legal, pois o legislador foi além do que queria dispor 
(BITTENCOURT: 2011, p. 175-176). 
Com efeito, é comum restringir o sentido e o alcance do enunciado normativo 
utilizando-se dos métodos lógico-sistemático, teleológico ou histórico. Em situação inversa, 
quando o intérprete amplia o sentido e o alcance do enunciado normativo está valendo-se do 
método ampliativo, extensivo, eis que o legislador disse menos do que desejava, pois o 
sentido e o alcance do enunciado normativo vão além do que se extrai do texto legal literal 
(BITTENCOURT: 2011, p. 175-176). 
Muito se confunde a interpretação extensiva, chamada de interpretação analógica, 
com a analogia. Desde já se assenta que em matéria de enunciado normativo incriminador não 
é possível o uso da analogia – que na realidade não é forma de interpretação, mas de 
preencher lacunas do sistema. Ora, na interpretação busca-se o sentido e o alcance do texto 
legal normativo, sendo que na analogia não há o texto a interpretar, há um vácuo legislativo. 
Assim na interpretação extensiva ou analógica, o intérprete busca harmonizar o enunciado 
normativo com a volunta legis (BITTENCOURT: 2011, p. 177-179). 
54 
Destarte, não se pode confundir com a analogia, pois na interpretação analógica 
há um processo de interpretação orientado pelo próprio enunciado normativo, eis que há “um 
meio indicativo para integrar o preceito normativo dentro da própria norma, estendendo-se a 
situações análogas”. Assim o intérprete estende o conteúdo do enunciado normativo a casos 
semelhantes aos previstos no texto legal por expressa determinação, ou seja, não deixa de ser 
uma interpretação sistêmica, eis que abrange casos semelhantes ao previsto pelo legislador 
nos termos de sua vontade (BITTENCOURT: 2011, p. 177-179). 
Damásio Evangelista de Jesus ao tratar da interpretação no Direito Penal esclarece 
que se aplicam as regrasgerais a todas as leis, ou seja, por mais clara que lhe pareça o 
enunciado normativo “não prescinde do labor exegético”. Em seguida, traz a clássica 
definição das espécies de interpretação (quanto ao sujeito, quanto aos meios empregados e 
quanto ao resultado). Interessante é a passagem da espécie interpretação judicial, relatando 
que o juiz diuturnamente, em contato com os mais variados casos, dá novos significados aos 
enunciados normativos propiciando a aproximação da lei à vida social (2010, p. 75-83). 
Trata-se da interpretação progressiva, pois aproxima, adapta o enunciado 
normativo aos fatos presentes, ou seja, “a lei vive e se desenvolve em ambiente que muda e 
evolui e, uma vez que não queiramos reformá-la frequentemente, é mister adaptar a norma, 
como sua própria vontade o permite, às necessidades da época” (JESUS: 2010, p. 87-89). 
Outra passagem interessante é a abordagem da possibilidade da interpretação 
analógica no Direito Penal, pois tal espécie de interpretação deve ser intra legem eis que “toda 
vez que uma cláusula genérica se segue a uma fórmula casuística, devendo entender-se que 
aquela só compreende os casos análogos aos mencionados por ela”. O legislador brasileiro 
utilizou-se de tal fórmula (casuística seguida de genérica) largamente no Direito Penal, 
havendo mais de vinte e nove enunciados normativos que demandam a interpretação 
analógica intra legem (JESUS: 2010, p. 87-89). 
No que diz respeito à interpretação extensiva, Mirabete argumenta que o 
interprete amplia o sentido e o alcance do enunciado normativo. Pode ocorrer pela 
interpretação progressiva ou pela interpretação analógica. A primeira ocorre quando o 
intérprete atualiza o sentido das expressões contidas no enunciado normativo, adaptando-o à 
atualidade ditada pelas transformações sociais. Já na interpretação analógica o legislador 
introduz no enunciado normativo espécies genéricas, abertas, que devem ser interpretadas à 
semelhança das espécies casuísticas previstas no mesmo enunciado. Com efeito, o intérprete 
55 
“busca da vontade da norma por meio da semelhante com fórmulas usadas pelo legislador” 
(2012, p. 35-36). 
Rogério Greco inicia a abordagem do tema interpretação da Lei Penal narrando 
que a máxima in claris cessat interpretatio não se sustenta, pois não há enunciado normativo 
totalmente claro que dispense a interpretação e mais, diz que se há uma conclusão quanto à 
clareza do enunciado, é porque ocorreu o exercício da interpretação (2009, p. 35-42). 
Interessante é a dicotomia que apresenta quanto a interpretação ser objetiva ou 
subjetiva. Na primeira o intérprete busca encontrar a vontade da lei. Já na segunda o exegeta 
busca a vontade do legislador. Mas, após apresentar tal explicação, faz uma ressalva de que há 
críticas quanto ao intérprete buscar a vontade do legislador, eis que não se trata de uma única 
pessoa e sim uma variedade de pessoas que participam do processo legislativo (GRECO: 
2009, p. 35-42). 
E mais, não há razão de buscar a vontade do que o legislador disse, mas, diante do 
princípio da legalidade presente do Direito Penal brasileiro, o que foi dito pela lei, ou seja, 
busca-se no Direito Penal o que a Lei estabeleceu (GRECO: 2009, p. 35-42). 
Outra passagem interessante de Greco é a abordagem sobre a interpretação 
analógica no Direito Penal. A justificativa apresentada para se utilizar a interpretação 
extensiva analógica é a dificuldade em prever “todas as situações que poderiam ocorrer na 
vida em sociedade”. Assim, o legislador permite que o exegeta lance mão do recurso que 
amplia o alcance do enunciado normativo. Para tanto, a lei apresenta exemplos – as chamadas 
cláusulas, fórmulas casuísticas – e encerra com uma expressão genérica – as cláusulas, 
fórmulas genéricas – permitindo que tudo que “seja semelhante possa também ser abrangido 
pelo mesmo artigo” (2009, p. 43). 
Para exemplificar a hipótese de ampliação do conteúdo do enunciado normativo 
pela interpretação analógica, Greco narra que o legislador no crime de homicídio 
casuisticamente estipula que tal crime será qualificado quanto praticado com o emprego de 
veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura, mas também estabelece que o crime será 
igualmente qualificado se for cometido por meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar 
perigo comum. 
Conclui Greco: 
Quando o legislador fez inserir as expressões ou por outro meio insidioso ou 
cruel, ou de que possa resultar perigo comum, ele quis dizer que qualquer 
56 
outro meio dissimulado ou que cause excessivo sofrimento à vítima e aquele 
que possa trazer uma situação de perigo a um número indeterminado de 
pessoas, embora não elencados expressamente por esse inciso, estão também 
por ele abrangidos e, em virtude disso, qualificam o crime de homicídio 
(2009, p. 43). 
Verifica-se, então, que a interpretação analógica é uma espécie de interpretação 
extensiva, sendo que aquela difere desta pelo fato de que o legislador apresentou o norte ao 
exegeta, qual seja, a cláusula, a fórmula casuística que deve ser seguida na aplicação da 
fórmula genérica (GRECO: 2009, p 43-44). 
Ney Moura Teles, ao abordar a interpretação do Direito Penal brasileiro, também 
apresenta a clássica classificação de como interpretar um texto legal e narra que o enunciado 
normativo penal nada mais é do que uma ordem estatal destinada a todos os cidadãos que 
apresenta um mandamento de fazer ou não fazer algo, ou seja, determina comportamentos 
(2006, p. 94-108). 
 Argumenta ainda que sendo o enunciado normativo uma ordem que impõe 
comportamentos permitidos ou proibidos, não pode haver dúvidas sobre o conteúdo, a 
extensão e o significado, pois “toda norma, de consequência, necessita ser conhecida em sua 
inteireza para que se possa bem saber o que se pode e o que não se pode fazer, o que é certo e 
o que é errado, distinguindo o proibido do permitido” (2006, p. 94-108). 
Interessante é a passagem que Teles faz sobre a interpretação extensiva quanto ao 
enunciado normativo incriminador, argumentando que é preciso ter cuidado ao interpretar 
extensivamente, vez que não se pode olvidar que vige o princípio da reserva legal. Para que se 
respeito o princípio da legalidade, o enunciado normativo incriminador deve conter termos 
claros e taxativos, sendo que a vagueza é proibida, mas nem por isso a interpretação extensiva 
é proibida no Direito Penal brasileiro, no entanto, o enunciado normativo deve atender duas 
necessidades básicas que são: 
Uma, a de não violar o princípio da legalidade, descrevendo, o mais 
exatamente, precisamente, possível o comportamento que deseja proibir sob 
ameaça de pena. A outra necessidade é a de alcançar, abarcar, abranger todos 
os comportamentos que constituam graves agressões aos bens jurídicos mais 
importantes (TELES: 2006, p. 113). 
Assim, respeitando o princípio da legalidade o legislador deveria taxar todas as 
hipóteses possíveis da conduta que visa coibir, mas, se o fizesse, teríamos centenas de termos 
e expressões contidas no enunciado normativo. Destarte, para que não tenhamos um tipo com 
inúmeras expressões, o legislador confere ao intérprete a possibilidade de aplicar a 
interpretação analógica, selecionando algumas condutas proibidas, taxando-as no enunciado 
57 
normativo e, ao final, descreve uma conduta genérica para que abarque, abranja todas as 
condutas análogas às descritas casuisticamente. Note-se que não se trata de analogia, eis que 
não há lacunas no enunciado normativo. Com efeito, na interpretação analógica a própria lei 
indica ao intérprete como estender o alcance do conteúdo do elemento normativo, qual seja: 
“analogicamente à fórmula casuística que determinou” (TELES: 2006, p. 114-115). 
Enfim, o intérprete terá um norte a seguir ao aplicar a interpretação analógica: os 
exemplos listados pelo legislador antes da inserção da fórmula genérica. Noentanto, o 
intérprete não pode olvidar que na tarefa da interpretação deve sempre buscar a ratio legis, ou 
seja, finalisticamente qual era a vontade da lei (TELES: 2006, p. XXXVI). 
Paulo Queiroz, ao abordar o tema interpretação do Direito Penal, assevera que 
para cada caso particular ocorrerá uma interpretação específica do enunciado normativo na 
busca do seu significado, nascendo as “dificuldades interpretativas” e que não há uma única 
interpretação do enunciado normativo, existem “várias possibilidades igualmente validas”. 
Com efeito, o legislador positiva o direito e estipula parâmetros, sendo que, apoiado em 
Kelsen, assevera que tal parâmetro pode ser chamado de moldura, quadro e mais, há várias 
hipóteses de interpretação que cabem na citada moldura “em qualquer sentido possível” 
(2005, p. 48-55). 
Há duras críticas ao positivismo, de que é antiliberal, que impede a evolução do 
direito, contudo, o direito positivado pode ter inúmeras variações interpretativas, não sendo, 
assim, antievolutivo, antiliberal o sistema positivado. Portanto, o intérprete compreende o 
sentido do enunciado normativo dentro das várias possibilidades possíveis – dentro da 
moldura – de acordo com o conhecimento e a experiência que tem do objeto, ou seja, “a 
interpretação é uma fotografia da alma do intérprete” (QUEIROZ: 2005, p. 48-55). 
2.6 A tipicidade conglobante e a interpretação do enunciado 
normativo 
O enunciado normativo incriminador, o tipo penal, é o modelo abstrato descritivo 
de condutas que o Estado, por meio da lei, sob ameaça de sanção, visa coibir (GRECO: 2010, 
p. 151-152). Ou, como define Luciano Santos Lopes, “um esquema legal abstrato que 
descreve condutas proibidas/ordenadas pela ordem jurídica” (2010, p. 53). 
58 
Foi visto também que o enunciado normativo incriminador é aplicado ao caso 
concreto quando há adequação típica formal ou legal, ou seja, a subsunção do caso concreto 
ao texto normativo (GRECO: 2010, p. 151-152). 
O tipo penal pode ser classificado em formal e material, o primeiro, como a 
descrição abstrata da conduta proibida e, o segundo, como a desconformidade da conduta com 
os parâmetros éticos e sociais aceitos pela sociedade. Nessa linha de raciocínio note-se que, 
para o acatamento da atipicidade material, invocam-se os princípios da insignificância15 e da 
adequação social.16 Mas não basta. 
Só há tipicidade quando a conduta praticada pelo agente é inaceitável em todas as 
regras do ordenamento jurídico – não só no âmbito penal. É o que se nominou de tipicidade 
conglobante, ou seja, não se considera o fato, isoladamente, na seara penal, mas globalmente 
em todos os ramos do direito. Com isso corrigem-se os rigores da tipicidade formal, excluindo 
de sua abrangência, condutas que efetivamente não lesaram o bem jurídico protegido 
(NUCCI: 2008, p. 187-188). 
No mesmo sentido, abordando a questão da tipicidade no Direito Penal, Misabel 
de Abreu Machado Derzi relata que, na interpretação, o exegeta deve buscar o sentido do tipo, 
sendo que, para tanto, “não se extrai da literalidade estanque”, mas em uma análise de todo o 
sistema jurídico (2007, p. 218). 
Na interpretação do enunciado normativo, o intérprete deve buscar não só a 
subsunção do fato à forma, deve buscar o fim proposto pelo legislador, qual seja, o desajuste 
da conduta frente ao bem protegido pela norma. 
Assim, só poderá ser considerada típica a conduta desajustada socialmente, 
“aquelas afastadas das relações sociais que se inserem no campo da normalidade da vida em 
comum”. Note-se que na interpretação o exegeta deve buscar a finalidade intrínseca do 
enunciado normativo que é a proteção do bem jurídico protegido, ou seja, buscar um sentido, 
um comportamento que não seja aceito socialmente (SANTORO FILHO: 2003, p. 175-176). 
Nesse sentido confira: 
 
15
 Segundo esse princípio [...], é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se 
pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determinado tipo 
penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância material (BITENCOURT: 2012, p. 58). 
16
 [...] segundo esta teoria, as condutas que se consideram “socialmente adequadas” não se revestem da 
tipicidade e, por isso, não podem constituir delitos (BITENCOURT: 2012, p. 55). 
59 
[...] se o legislador, ao criar os tipos do injusto, parte da experiência concreta 
das relações sociais e tem por fim elaborar os modelos de condutas 
desvaloradas socialmente, não se poderia pretender que os tipos fossem 
amplos a ponto de abranger comportamentos considerados corretos, ou ao 
menos tolerados pela sociedade (SANTORO FILHO: 2003, p. 176). 
Eugenio Raúl Zaffaroni afirma que somente a adequação típica formal/legal não 
basta para que a conduta analisada seja considerada antinormativa – típica. Narra que para 
ocorrer a tipicidade deve existir uma antinormatividade em todo o ordenamento jurídico, ou 
seja, a conduta será típica penalmente quando for proibida em todos os campos do direito, o 
que denominou de tipicidade conglobante (1997, p. 460-461). 
Não há tipicidade, segundo Zaffaroni, quando uma conduta é permitida pelo 
ordenamento civil, mesmo sendo vetada no ordenamento penal, pois seria uma contradição. A 
premissa é de que para ser típica a conduta deve ser antinormativa como um todo, não 
havendo tipicidade (mesmo havendo subsunção formal/legal do caso ao texto normativo 
incriminador) quando no ordenamento a conduta prevista como um direito ou dever em outro 
ramo do direito, como por exemplo, na seara cível. Em síntese, para ser típica, nos termos da 
teoria em comento, deve a conduta ser típica formalmente (tipicidade legal ou formal no 
Direito Penal) e ainda ser antinormativa conglobantemente – contrária a todo o ordenamento 
jurídico (1997, p. 460-461). 
Nas palavras de Zaffaroni e Pierangeli: 
A norma jurídica que dá lugar ao tipo (e que permanece anteposta a ele: não 
matarás, não furtarás etc.) não está isolada, mas permanece junto com outras 
normas também proibitivas, formando uma ordem normativa, onde não se 
concebe que uma norma proíba e outra fomenta. Se isso fosse admitido, não 
se poderia falar em ordem normativa e sim um amontoado caprichoso de 
normas arbitrariamente reunidas (ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 
522). 
Assim, fica claro que para haver tipicidade, não basta a adequação ao tipo, há de 
ocorrer a adequação formal, bem como a adequação “a luz da consideração conglobada da 
norma” (ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 522). 
Analisando a proposta de Zaffaroni, vem à mente a narrativa de Eros Roberto 
Grau quando aborda a questão da interpretação, na qual o direito não pode ser interpretado em 
tiras, deve sim, ser analisado como um todo, pois o enunciado normativo não é singular, deve-
60 
se considerar que o texto “ocupa no todo do ordenamento jurídico” uma posição não avulsa 
(2009, p. 131-132). 
E conclui: 
A interpretação do direito – lembre-se – desenrola-se no âmbito de três 
distintos contextos: o lingüístico, o sistêmico e o funcional. No contexto 
lingüístico é discernida a semântica dos enunciados normativos. Mas o 
significado normativo de cada texto somente é detectável no momento em 
que se o toma como inserido no contexto do sistema, para após afirmar-se, 
plenamente, no contexto funcional (GRAU: 2009, p. 132). 
Normalmente a teoria da tipicidade conglobante é difundida para afastar os rigores 
da tipicidade formal, mas, é possível utilizá-la de outro modo, interpretá-la de outra forma. 
Com efeito, ao analisar um enunciado normativo, a priori, a conduta analisada pode parecer 
não inserta ao disposto no texto, mas se o caso for analisado sob o enfoque da normatividade 
conglobante, ocorrerá a adequação típica – havendo uma integração do sistema punitivo(ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 522-523). 
No sentido confira: 
Pode-se argumentar que, assim como a consideração conglobante da norma 
anteposta ao tipo pode revelar que uma conduta abarcada pelo tipo penal, na 
realidade não está proibida, pode também acontecer o contrário, ou seja, que 
uma conduta que não seja alcançada pelo tipo legal apareça como proibida 
ante a consideração conglobante da norma anteposta a ele (ZAFFARONI; 
PIERANGELI: 2007, p. 523). (grifei) 
No entanto, para a análise da tipicidade conglobante, de forma diversa da 
comumente difundida – não para excluir, mas para incluir no âmbito do enunciado normativo 
– o intérprete deve ater-se aos princípios penais, como por exemplo, o da vedação da analogia 
in mallam parte. Todavia, conforme Zaffaroni e Pierangeli, não “há inconveniente algum em 
que a tipicidade conglobante sirva para esclarecer o alcance de um tipo penal” (2007, p. 523). 
De tudo o que foi visto, pode-se afirmar que a hermenêutica apresenta o método 
de interpretação progressiva/evolutiva, adequando o enunciado normativo às alterações 
sociais. Em Direito Penal, o princípio da legalidade limita a atividade interpretativa extensiva 
devido à necessidade de que o tipo penal deve ser certo, claro e taxativo. 
61 
Conforme teoria da tipicidade conglobante, o direito só pode proibir certas 
condutas no ordenamento jurídico em sua totalidade. Mas como conciliar a interpretação 
progressiva/evolutiva e o princípio da legalidade diante da evolução social? 
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy, apoiando-se no livro-manifesto, The Critical 
Legal Studies Movement, de Roberto Mangabeira Unger, nos apresenta uma nova visão do 
pensamento jurídico, inclusive no que toca ao Poder Judiciário. Trata-se de crítica ao 
formalismo e ao objetivismo – que “afasta o entorno jurídico de seus vínculos com a realidade 
vivente” –, trazendo um discurso sobre o moderno pensamento e a prática do direito pelo 
Poder Judiciário, que teria nova função, pois “deveria assumir maiores responsabilidades no 
sentido de revisar o que o legislador faz e de transformar, por intermédio dessa revisão, a 
estrutura de poder que presentemente viceja na sociedade” (GODOY: 2010, p. 152-177). 
Misabel de Abreu Machado Derzi, abordando a questão da indeterminação e 
obscuridade dos enunciados normativos, argumenta que para a aplicação do texto que é 
flexível “há um esforço doutrinário e jurisprudencial para desvelar as notas fixas e rígidas, 
diferenciadoras, que se destinam a esclarecer os casos limites” (2007, p. 237). 
Para Winfried Hassamer o enunciado normativo penal é a expressão da realidade, 
ou seja, traz a linguagem cotidiana, a experiência, que muda de acordo com as alterações da 
sociedade – necessariamente aberta e ambígua. Portanto, cabe ao legislador moldar 
enunciados normativos unindo a precisão dos termos à flexibilidade da linguagem (2005, p. 
242-362). 
Assim, acreditamos ser possível – conciliar a interpretação progressiva/evolutiva e 
o princípio da legalidade diante da evolução social –, pois a interpretação 
progressiva/evolutiva apenas adequa o texto do enunciado normativo aos dias atuais, não 
sanciona novas condutas não previstas no Direito Penal. Com efeito, não se pode olvidar que 
“são os homens sábios e prudentes que foram progressivamente fazendo o direito” (VILLEY: 
2009, p. 746). 
Inocêncio Mártires Coelho narra que a interpretação não é tarefa definitiva, “pois 
a interpretação é algo que está sempre a caminho, que nunca se conclui”. Argumenta, ainda, 
que nenhuma interpretação é descontextualizada, pois “se leva a cabo em condições históricas 
e sociais determinadas” (2001, p. 88 e 95). 
Ora, as bases da estrutura do tipo penal se transformam diuturnamente, pois a todo 
o momento nos deparamos com novas formas de violar o bem jurídico protegido e, as bases 
62 
do Direito Penal e de outras áreas também se transformam, como por exemplo, novas 
proibições no âmbito civil que regram as relações jurídicas (MISABEL: 2007, p. 63). 
Nélson Hungria argumentava que o juiz, ao analisar o caso concreto, apresenta a 
interpretação judicial que não tem força obrigatória – senão para o caso concreto – no entanto, 
“serve como diretriz para a solução dos casos similares, tanto mais prestigiosa quanto mais 
perseverante e pacífica”. Narrava ainda que “o juiz deve ter alguma coisa de pelicano. A vida 
é variedade infinita e nunca lhe assentam com irrepreensível justeza ‘as roupas feitas’ da lei e 
os figurinos da doutrina” (1955, p. 58-75). 
Destarte, para Hungria, se a lei deve ser aplicada a essa “variedade infinita” de 
fatos da vida, o intérprete não pode ficar adstrito ao que o legislador previa à época occasio 
legis, deve apresentar uma resposta atual, pois “a lei não pode ficar inflexível e perpetuamente 
ancorada nas ideias e conceitos que atuaram na sua gênese”, ou seja, não se pode olvidar da 
interpretação evolutiva (1955, p. 58-75). 
Hungria, com apoio em Maggiore, argumentava que a lei é destinada ao homem e, 
assim, deve ser dinâmica, pois deve ser “um instrumento dócil e pronto a satisfazer, no seu 
evoluir as necessidades humanas”. Destarte, o intérprete deve buscar imprimir ao enunciado 
normativo “elasticidade” a fim de adaptá-lo aos novos aspectos da vida em sociedade. Deve 
ser, diante da lei, “um revelador de todo o possível direito que nela se encerra, suprindo-lhe a 
inexplicitude decorrente da imperfeição da linguagem humana” (1955, p. 75-77). 
É sabido que não é possível prever pormenorizadamente todas as condutas que 
possam atentar contra o bem jurídico protegido pelo enunciado normativo. Daí a necessidade 
do legislador de utilizar-se de expressões abertas na constituição do elemento normativo 
incriminador, sintetizando “a descrição do comportamento criminoso”. Assim procedendo, o 
legislador deixa ao intérprete a função de complementar o enunciado penal, ou seja, 
interpretá-lo com um juízo de valoração (SILVEIRA: 2007, p. 74). 
Tal valoração é variável de acordo com a época em que o exegeta se debruça 
sobre o problema, ou seja, é passível de evolução. Segundo Fabiano Augusto Martins 
Silveira, “parece indiscutível que os elementos normativos possuem uma capacidade superior 
de atualização histórica, uma vez que reproduzem conceitos potencialmente aberto às 
variações socioculturais (2007, p. 75). 
Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, abordando o tema, em 
específico ao Direito Penal, argumentam que é possível a extensão do enunciado normativo, 
63 
mas dentro do “limite semântico do texto legal”. A interpretação extensiva deve observar 
ainda outro limite, qual seja, os princípios norteadores do Direito Penal, como por exemplo, a 
vedação da utilização da analogia para a criação de punição. Assim, como pode haver um 
enunciado normativo com várias hipóteses de interpretação, é perfeitamente possível acatar o 
enunciado normativo em sentido mais amplo, desde que harmonizado dentro do sistema penal 
(2004, p. 170-171). 
2.7 Hermenêutica judicial: Como os magistrados decidem e como 
deveriam decidir 
De início, convém relatar que a decisão para o caso concreto não é extraída do 
texto do enunciado normativo, é sim, segundo A. Castanheira Neves, construída a partir do 
texto, mas amoldada ao fato posto (2003, p. 190). 
A função do magistrado, como intermediário entre o enunciado normativo e o 
caso concreto, é vinculada, sendo executor do estabelecido pelo legislador, sua função é 
aplicar o direito (FERRARA: 1987, p. 111). Tal tarefa, segundo Márcio Augusto Vasconcelos 
Diniz, tem função complementar, pois: 
A tarefa da interpretação é a de concretização da lei em cada caso, o que é 
também tarefa da aplicação. A função de complementação produtiva do 
direito, que nela [na interpretação] acontece está, desde logo, reservada ao 
juiz, o qual está, todavia, sujeito à lei, exatamente domesmo modo que todo 
membro da comunidade jurídica (DINIZ: 2002, p. 225). 
Note-se que a vinculação do intérprete à lei depende da lei, ou seja, os enunciados 
normativos genéricos e imperfeitos redundam em vinculação menor, pois deve-se 
complementar o texto. Em situação oposta, quando o enunciado é preciso, pode-se esperar 
maior vinculação (HASSAMER: 2005, p. 242). 
No entanto, é necessário divisar a atuação do intérprete comum da atividade do 
magistrado. Na filosofia procura-se uma justiça in abstracto, buscando-se um ideal, enquanto 
que o magistrado imerge no mundo in concreto. O magistrado “experimenta quotidianamente 
o mal, a crueldade dos homens, a resistência dos factos, o carácter perecível da cidade 
política, a fragilidade das provas e a exclusão da verdade” (sic) (GARAPON: 1997, p. 19). 
64 
Antoine Garapon argumenta que “o juiz delibera apenas sobre casos particulares 
envolvendo homens de carne e osso, enquanto que o jurista trata os problemas do direito 
abstraídos da sua dimensão humana” (1997, p. 18). 
No mesmo sentido, Luis Carlos Martins Alves Júnior assevera que, no ato de 
decidir, o magistrado “interpreta as circunstâncias fáticas, os valores sociais e os enunciados 
jurídico-prescritivos” (2010, p. 143). 
Segundo Winfried Hassamer, não há certeza de como se interpretar o enunciado 
normativo. Acrescenta ainda que as regras existentes não são capazes de determinar 
resultados, são nada mais do que “ofertas desejáveis e legitimadoras de resultados” (2007, p. 
12). 
Com o magistrado não é diferente, eis que no ato de julgar carrega o ato com os 
valores adquiridos em sua experiência de vida, no entanto, tal subjetividade no ato de 
interpretar e aplicar o enunciado normativo ao caso concreto deve ter um limite, qual seja: as 
“palavras da Lei”. Ora, não se pode desprezar o texto normativo, pois o “intérprete não pode 
dizer o que o texto não diz, nem deixar de dizer o que o texto diz” (ALVES JÚNIOR: 2010, p. 
94, 143 e 146). 
No mesmo sentido, Inocêncio Mártires Coelho assevera que o disposto na lei é 
“ponto de partida para a elucidação do sentido pelo intérprete e, de outro, como limite à 
atividade hermenêutica enquanto tal”. Se o limite imposto for violado, o será pelo fato de que 
adentrou ao subjetivismo desrespeitando o “marco normativo” (2011, p. 91-92). 
Hans Kelsen argumentava que interpretar é um ato mental que fixa o sentido da 
norma aplicada ao caso concreto, ou seja, o conteúdo que será atribuído ao enunciado 
normativo. O intérprete pode ser um cidadão, que necessita saber qual o sentido e o conteúdo 
do enunciado normativo para observá-lo – para não sofrer sanção. Também são intérpretes o 
cientista que descreve o direito positivo e, por fim, o magistrado que interpreta o enunciado ao 
aplicá-lo ao caso concreto (2011, p. 387). 
A tarefa do magistrado é, na aplicação do enunciado normativo, uma continuidade 
do processo de determinação do sentido e do conteúdo e, havendo “pluralidade de 
significações de uma palavra”, o intérprete, que aplicará o texto legal ao caso concreto, 
encontrará “várias significações possíveis”, ou seja, a interpretação exarada por tal intérprete 
“é uma das normas individuais que podem ser produzidas dentro da moldura da norma geral”. 
65 
Nítido, pois, que qualquer que seja a interpretação realizada será “um resultado apenas 
possível, nunca a um resultado que seja o único correto” (KELSEN: 2011, p. 389-392). 
O enunciado normativo incriminador é, por sua natureza, abstrato, flexível e 
adapta-se à realidade da vida que é mutante. Assim, a expressão de tal mutação é encontrada 
nas novas interpretações que os magistrados elaboram para o caso concreto (DERZI: 2007, p. 
112). 
Nesse sentido, confira: 
A evolução jurisprudencial em torno da interpretação de uma mesma norma, 
a qual se mantém literalmente inalterada no tempo, atua no campo do 
conceito que ‘significa’ o objeto e no campo semântico mais amplo, que 
pode colher diferentes possibilidades conotativas (DERZI: 2007, p. 112).
Assim, segundo Misabel de Abreu Machado Derzi, o enunciado normativo 
incriminador contém referências a objetos, sendo que tais referências são abertas e flexíveis, 
adequando-se à realidade na interpretação do caso concreto realizada pelo juiz (2007: p. 114). 
Há relatos de que a sentença do magistrado é resultado do simples silogismo. No 
entanto, a decisão do caso concreto depende da apreciação do sentido do enunciado 
normativo, ou seja, a tarefa da aplicação do citado enunciado ao caso do mundo real depende 
da análise do seu significado e de seu valor (FERRARA: 1987, p. 112-113). 
Assim, o magistrado terá que se valer dos ensinamentos da doutrina e da 
jurisprudência e, na aplicação da lei, “fará sentir, ao lado da lei e do direito científico, a voz 
da própria conciência e a conciência coletiva, diante da realidade de cada crime e de cada 
criminoso” (sic) (HUNGRIA: 1942, p. 422). 
Interpretar um enunciado normativo é indicar o “significado da diretiva” do texto 
elaborado pelo legislador, é expor como o magistrado aplicará o enunciado ao caso concreto. 
A interpretação do direito vigente redunda em uma interpretação vigente, ou seja, aquela que 
recebe adesão dos tribunais. Há, assim, uma previsão de como o enunciado é aplicado ao caso 
concreto, no entanto, “uma previsão desse tipo pode apoiar-se em precedentes. Neste caso o 
pronunciamento referente à interpretação pode ser equiparado aos pronunciamentos acerca do 
direito vigente” (ROSS: 2007, p. 135-136). 
66 
No sistema baseado no direito positivo17 no qual a lei é a “fonte predominante do 
direito”, a interpretação busca “descobrir o significado da lei e a sustentar que os fatos dados 
são abarcados por ele ou não”. O enunciado normativo, sendo um texto, expressa uma forma 
linguística escrita que possui significados que “designam (querem dizer) ou apontam para 
algo que é distinto deles mesmos”. No entanto, o significado do texto escrito só terá sentido 
dentro de um contexto, ou seja, descobrindo-se qual a referência, descobriremos o campo 
correspondente à palavra (ROSS: 2007, p. 135-141). 
Note-se que as palavras, em sua maioria, não contêm campo de referência único, o 
que gera uma incerteza quanto a seu significado, ou seja, são as palavras ambíguas por 
natureza, cujo significado só poderá ser obtido “quando é considerada como parte integrante 
de uma expressão definida”. No entanto, mesmo dentro de um contexto, por ser ambígua, o 
resultado da interpretação da palavra escrita não é “preciso” ou “isento de ambiguidade”, pois 
há problemas sintáticos, lógicos e semânticos, buscando-se, com a interpretação, “descobrir 
significado bom ou razoável que se harmonize com aquele que o contexto e a situação 
indicam como tais” (ROSS: 2007, p. 143-151). 
Abordando o tema específico “administração da justiça”, Alf Ross relata que o ato 
do magistrado é um ato de vontade, pois ao decidir não faz simplesmente compreender o 
significado da lei frente ao fato concreto. Com efeito, “a inevitável imprecisão das palavras 
[...] fazem com que, freqüentemente, seja impossível estabelecer se o caso é abarcado ou não 
pelo significado da lei”. (sic) A interpretação pode conduzir pela aplicação ou não do texto do 
enunciado normativo. Assim, o magistrado faz uma escolha mediante sua valoração e nessa 
medida, é “um ato de natureza construtiva, não um ato de puro conhecimento” (2007, p. 166-
167). 
Esse ato de construção, do magistrado, vem carregado dos valores pessoais e 
sociais, fazendo com que a decisão, no seu entender, seja a correta “de acordo com o espírito 
da tradição jurídica e cultural”, eis que “na medida do possível, o juiz compreende e interpreta 
a lei à luz de sua consciência jurídica material, a fim de que sua decisão possa ser aceita não 
só como correta, mas também como justa e socialmente desejável” (ROSS: 2007, p. 168).O magistrado, ao decidir, leva em consideração dois fatores, ou vetores 
dominantes como nomeia Alf Ross. O primeiro é a consciência jurídica formal (a lei) e, o 
segundo, a consciência jurídica material (a justiça). Destarte, o magistrado apresenta suas 
 
17
 Diferente do sistema inglês que é baseado nos precedentes e no raciocínio via exemplos (ROSS: 2007, p. 138) 
67 
conclusões de modo a aparentar que não deixou a lei de lado, mas, na realidade, decidiu de 
acordo com sua função criadora. “Trata-se de uma interpretação construtiva, a qual é, 
simultaneamente, conhecimento e valoração, passividade e atividade” (2007, p. 168-169). 
Fica cristalino que o magistrado é influenciado pelo texto da lei, pelas 
considerações pragmáticas e pelo fato que avalia, proferindo sua decisão com uma fachada, 
ou seja, como se fosse a aplicação da lei. Nesse sentido confira a conclusão de Alf Ross: 
Se o juiz se limitar a aplicar a lei aos claros casos referenciais, se manterá 
preso às palavras literais da lei, atitude que possivelmente se liga à rejeição 
de uma concebível restrição dela, para o que aplica por analogia outras 
normas jurídicas. Por outro lado, se o juiz desejar tomar uma decisão que se 
situa na zona duvidosa da regra (interpretação especificadora), ou que, 
inclusive é contrária ao significado lingüístico natural (interpretação 
restritiva ou por extensão) buscará apoio para o resultado desejado onde quer 
que possa encontrá-lo (2007, p. 182). 
Destarte, o magistrado, quando interpreta o enunciado normativo, atua com 
objetividade dentro da lei quando sua decisão se expressar “dentro de princípios de 
interpretação ou valorações que são correntes na prática”, ou seja, “justa em sentido objetivo”. 
Será, por outro lado, injusta quando se afastar do sentido comumente expressado pela prática 
(ROSS: 2007, p. 331). 
Mas qual o limite da atividade do magistrado ao criar a norma para o caso 
concreto? 
Sabe-se que cabe ao Poder Legislativo a tarefa de redigir os enunciados 
normativos, cabendo ao Poder Judiciário a tarefa de interpretá-los e aplicá-los aos casos 
concretos. É sabido que os enunciados normativos nada mais são do que a expressão de 
“conceitos, ideias e valores” e que, de modo objetivo, destinam-se a todos. No entanto, a 
interpretação, pelo Poder Judiciário, deve ser criativa, eis que adequará o preceito “à luz do 
dia”. Tal criatividade na interpretação do enunciado normativo ocorre devido à generalidade e 
à abstração da redação legislativa, mas também pelo fato das transformações histórico-sociais 
(COELHO: 2011, p. 52-53 e 55). 
Interpretar é, diante das circunstâncias fáticas do caso concreto, atribuir ao 
enunciado normativo um significado – racional – socialmente aceitável. Não se pode esquecer 
que o intérprete é um ser humano carregado de valores pessoais vividos que formam sua 
personalidade. O intérprete, ao extrair a norma do enunciado normativo, para aplicá-la ao caso 
68 
concreto, carrega sua pré-compreensão sobre o objeto, seus preconceitos, sendo impossível 
adotar o objetivismo em tal tarefa – é uma ilusão. E mais, segundo Gilmar Ferreira Mendes, é 
por meio do trabalho hermenêutico que o magistrado aproxima o texto da lei ao caso concreto 
(COELHO: 2011, p. 12-13). 
O intérprete, ao revelar o significado da lei, adiciona o seu entendimento sobre o 
objeto. Possui os dados da realidade e também todo o campo normativo – delimitado – para 
construir “a norma de decisão ou a norma do caso”, ou seja, nasce o problema sobre o 
controle do espaço normativo que trabalha o intérprete (COELHO: 2011, p. 21-22). 
Nas palavras de Inocêncio Mártires Coelho: 
[...] o grande esforço rumo à racionalidade e à controlabilidade do resultado 
da interpretação consistirá em concebermos métodos e critérios que 
assegurem autonomia do objeto, sem impedir, no entanto, que sobre ele 
trabalhe o sujeito da interpretação (COELHO: 2011, p. 21). 
Comumente se fala que o magistrado da civil law é a boca da lei, que realiza 
somente o silogismo (fato – texto normativo), no entanto, tanto o magistrado da common law 
quanto o da civil law criam e moldam o direito no ato de interpretar, ou seja, “a suposta 
diferença entre o juiz do common law, livre para construir novas soluções para novos casos, 
era amplamente imaginária . O juiz do civil law também cria e molda o direito, embora pareça 
que está somente aplicando o código” (KELLY: 2010, p. 537). 
Portanto, há de se manter um campo para o intérprete desempenhar sua atividade, 
ou como diria Kelsen, atuar dentro da moldura. No entanto, mesmo assim há de existir uma 
controlabilidade, pois do contrário estaríamos na seara do “vale-tudo hermenêutico”. Busca-
se, então, a interpretação razoável, pois, como sabido, é impossível buscar a interpretação 
verdadeira (COELHO: 2011, p. 24-25). 
Por razoável deve-se entender como uma razoabilidade objetiva que “possa 
legitimar a atividade hermenêutica em padrões aceitáveis no Estado de Direito de 
configuração democrática e social”. Os padrões aceitáveis da razoabilidade são encontrados 
na “consciência jurídica geral” e no “devido processo legal”, pois historicamente tais critérios 
demonstram a criatividade do intérprete e impedem o voluntarismo (COELHO: 2011, p. 24-
25). 
Portanto, deve-se buscar uma racionalidade no ato do intérprete que, para 
Inocêncio Mártires Coelho, ocorre quando o ato for realizado em um devido processo legal e 
69 
motivado, sob pena de não ser legítimo. Narra, ainda, que “os métodos e os princípios da 
interpretação, apesar da sua multiplicidade e da inexistência de critérios, minimamente 
objetivos”, são mecanismos de controle e legitimação (2011, p. 75 e 186-187). 
Quando se adentra na seara da controlabilidade logo vem à mente a questão da 
taxatividade do enunciado normativo, quer-se dizer, é necessária para garantir “a 
transparência e o controle” da atuação do intérprete. No entanto, “a norma não pode ser 
entendida sem a imaginação das circunstâncias às quais ela deva ser ‘adequada’” 
(HASSAMER: 2007, p. 6-17). 
Note-se que, ao se aceitar a interpretação evolutiva, na qual o magistrado concebe 
um sentido novo ao enunciado normativo, não se quer ferir a segurança jurídica, pois é sabido 
que “o direito situa-se sempre entre tradição e inovação, permanência e adaptabilidade”. Para 
que haja segurança jurídica o cidadão deve saber qual regra é válida e qual o seu alcance. 
Com efeito, há segurança quando não há riscos, quando há uma previsibilidade ainda que 
relativa (ÁVILA: 2012, p. 66-77). 
Na interpretação feita pelo magistrado, devido ao princípio da legalidade, o ponto 
de partida é o texto do enunciado normativo. A decisão é declarativa e retroativa, pois diz 
respeito a fatos passados, isso não quer dizer que é uma decisão imprevisível. Para haver 
segurança jurídica, há de existir no mínimo uma previsibilidade relativa, que estará presente 
quando for possível “prever um número reduzido de alternativas decisórias” (ÁVILA: 2012, 
p. 626-627). 
Teremos um número reduzido de variáveis decisões quando a jurisprudência 
atentar para o princípio da igualdade, fazendo com que o próprio tribunal se autolimite quanto 
a alterar o sentido de uma interpretação, ou seja, tratará situações iguais de acordo com seus 
próprios precedentes (ÁVILA: 2012, p. 626-627). 
Confira a seguinte transcrição de Humberto Ávila: 
A lei deve valer para todos igualmente, mediante a aplicação uniforme a todos os 
casos que se enquadrem em seus termos. Portanto, ainda que cada caso seja um 
caso, incumbe ao Poder Judiciário aplicar de modo uniforme os seus próprios 
precedentes, estendendo para os casos futuros o mesmo tratamento, dado aos 
passados quando entre estes existirem as mesmas circunstâncias relevantes de fato 
(ÁVILA: 2012, p. 627). 
Ao analisar a interpretaçãorealizada pelos magistrados, Chaïm Perelman relata 
que na aplicação da lei o magistrado não a observa “ao pé da letra”, pois leva em 
70 
consideração a finalidade a que se propõe o texto do enunciado normativo. O magistrado 
amplia ou restringe o alcance da lei de acordo com os “valores que ela protege” (2005, p. 616-
619). 
Note-se que a inadaptação do texto do enunciado normativo à situação concreta é 
que faz incidir a “interpretação dinâmica que quer adaptar o sentido da lei às mudanças 
ocorridas desde a sua promulgação”, sendo a prescrição da vontade atual do legislador. Com 
isso há uma flexibilidade no sistema formalista, no entanto, para tanto deve-se enxergar que a 
decisão do juiz não advém de uma conclusão necessária das premissas, mas sim de um 
raciocínio dialético, pois “é a escolha e a força dos motivos, tais como são apreciados pelo 
juiz, que manifestam a racionalidade de sua decisão, e não o fato de moldá-los a um 
formalismo qualquer, indiferente ao conteúdo das premissas” (2005, p. 616-619). 
Em Lógica Jurídica, Perelman aborda, inicialmente, a questão do raciocínio 
definindo-o como uma atividade mental que revela, através de seu produto, as intenções e as 
influencias de quem o elaborou. A citada atividade mental pode ser estudada por meio da 
lógica, pois se analisam as premissas, a estrutura e a conclusão, bem como “a validade do 
vínculo que as une” (1998, p. 1). 
Com apoio em Aristóteles, Perelman argumenta que o raciocínio pode ser 
analítico ou dialético. O primeiro, utiliza-se de premissas válidas que resultam em conclusões 
também válidas, transferindo “à conclusão a necessidade e a verdade das premissas”, ou seja, 
ocorre um silogismo que pode ser traduzido pelo esquema clássico de que: “se todos os B são 
C e se todos os A são B, todos os A são C”. A lógica analítica, que exige a condição de 
verdade para as premissas é a lógica formal, pois “estuda as inferências válidas, graças 
unicamente à sua forma”. O segundo, o raciocínio dialético, é referente às deliberações e 
controvérsias, não a demonstrações científicas. Com efeito, o raciocínio dialético diz “respeito 
aos meios de persuadir e de convencer pelo discurso” (1998, p. 1-2). 
Ora, se o silogismo da lógica formal exige “a passagem das premissas à 
conclusão”, uma decisão se distancia do raciocínio analítico e se aproxima do dialético, pois, 
do contrário, “não estaríamos diante de uma decisão, que supõe sempre a possibilidade quer 
de decidir de outro modo, quer de não decidir de modo algum” (PERELMAN: 1998, p. 2-3). 
A discussão em comento é travada na seara da lógica comum, ou seja, pura e 
simples. No entanto, quando se fala em lógica jurídica (ainda que haja restrição na utilização 
de tal terminologia), não se pode igualá-la à lógica formal, sob pena de reduzir o raciocínio a 
71 
estruturas formais. Perelman, com apoio em E. H. Lévi, argumenta que “o raciocínio jurídico 
tem uma lógica específica. Sua estrutura se adapta a dar um sentido à ambiguidade e a 
constantemente verificar se a sociedade chegou a discernir novas diferenças ou similitudes” 
(1998, p. 4-7). 
Portanto, a lógica formal, importante a vários campos do conhecimento, tem sua 
relevância mitigada no campo do direito, pois "a lógica jurídica é ligada à ideia que fazemos 
do direito e se lhe adapta”. O direito é repleto de incessantes controvérsias, seja dos juristas 
ou dos magistrados, sendo que o resultado final, quando não se chega a um acordo, é obtido 
mediante uma imposição de autoridade, o que o difere da ciência comum, pois nesta, na 
ausência de acordo, as partes permanecem, cada uma, na posição em que se encontra 
(PERELMAN: 1998, p. 7-8). 
Se a controvérsia no direito é resolvida por imposição, não se pode afirmar que a 
decisão imposta é ou não correta ou ainda se é a “única solução justa para o problema 
levantado”, mas que é a mais razoável, equitativa de acordo com aquele que a proferiu, ou 
seja, se diz que é aquela que conciliou o raciocínio jurídico com a justiça gerando a 
“aceitabilidade social da decisão” (PERELMAN: 1998, p. 7-13). 
Assim, se há controvérsias, há a necessidade de se aprofundar nas disposições da 
lei e, em tal busca, entra-se na análise do raciocínio judiciário que, grosso modo, percorreu 
três fases (PERELMAN: 1998, p. 25-30). 
A primeira é a escola da exegese que, sinteticamente, pretendia “reduzir o direito 
à lei”, nada cabendo ao exegeta, pois “os códigos nada deixam ao arbítrio do intérprete”. Tal 
doutrina é fundada na separação dos poderes, ou seja, cabe ao Poder Legislativo elaborar as 
Leis, estabelecendo o direito como “expressão da vontade do povo, enquanto que ao 
magistrado cabe somente a função de aplicar o direito que lhe é dado” (PERELMAN: 1998: 
p. 31-32). 
Nesse sentido, confira a seguinte passagem: 
Uma vez estabelecidos os fatos, bastava formular o silogismo judiciário, cuja 
maior devia ser fornecida pela regra de direito apropriada, a menor pela 
constatação de que as condições previstas na regra haviam sido preenchidas, 
sendo a decisão dada pela conclusão do silogismo (PERELEMAN: 1998, p. 
33). 
72 
Note-se que pretendia, a escola da exegese, que os magistrados dissessem o 
direito como se fosse o direito somente a lei, ou seja, “uma entidade quase mística”. Por óbvio 
que tal silogismo só encontra respaldo em um sistema onde os enunciados são “isentos de 
toda ambigüidade”. No entanto, o sistema não é assim, não é completo, pois “se o sistema é 
coerente, deveria ser impossível demonstrar dentro dele uma proposição e sua negação” 
(PERELMAN: 1998, p. 33-34 e 53). 
Por fim, nas palavras de Perelman, a impossibilidade de tal sistema fica clara, 
confira: 
Para evitar a obscuridade da lei, resultante da imprecisão e da ambigüidade 
de seus termos, era necessário que a doutrina e a jurisprudência se 
esforçassem para definir, de modo tão claro quanto possível, todos os termos 
usados pela lei (1998, p. 69). 
A segunda fase, na busca das disposições da lei no raciocínio judiciário, é a da 
concepção teleológica, funcional e sociológica do direito. Na visão funcional, o direito não é 
“um sistema mais ou menos fechado”, mas um meio pelo qual o Poder Legislativo lança mão 
para atingir os seus objetivos – promovendo os valores da sociedade. Assim, ao contrário da 
escola da exegese, na qual o magistrado partia da simples dedução dos enunciados 
normativos, na escola funcional o magistrado deve buscar a intenção do legislador que 
redundou na elaboração da lei, perseguindo o fim e o espírito, não a letra do enunciado 
normativo (PERELMAN: 1998, p. 70-71). 
Muda-se, então, o papel da doutrina, pois na escola funcional não se busca 
somente esclarecer os termos literais do enunciado normativo, mas uma “investigação teórica 
da intenção que presidiu à elaboração da lei” (PERELMAN: 1998, p. 71). 
O último período na busca das disposições da lei no raciocínio judiciário, é pós 
1.945, que se caracteriza pela singularidade de uma concepção tópica. Em linhas gerais, trata-
se de uma reação ao positivismo jurídico, uma reação ao entendimento que afastou da 
aplicação do direito qualquer inferência da ideia de justiça e de valores. É uma reação contra a 
eliminação de qualquer traço de subjetivismo, enfim, uma reação à transformação do direito 
como uma ciência objetiva (PERELMAN: 1998, p. 91). 
Segundo Perelman, Hans Kelsen apresentou uma teoria hierarquizada, mas não 
formal, pois nesta a norma inferior é deduzida da superior, enquanto que na teoria de Kelsen, 
há uma hierarquia de adesão, ou seja, autoriza-se a criação de uma norma inferior se 
73 
fundamentada na superior – a Constituição de um Estado. Tal teoria trouxe ainda o 
dinamismo, pois confere maior campo de atuação na medida em que “a norma superior que 
determina o quadro em que aquele a quem é conferida a autoridade de exercer um poder legal 
[...] podeescolher livremente uma linha de conduta, desde que não saia dos limites fixados 
pela norma superior” (PERELMAN: 1998, p. 91-92). 
Para Perelman, Kelsen elimina qualquer análise de valor (justiça, moral, política 
ou ideologia) quando se trata da ciência do direito, pois para ele a preocupação está nas 
“condições de legalidade, de validade dos atos jurídicos, com sua conformidade às normas 
que os autorizam”. No entender de Perelman, para Kelsen, o magistrado não é mera boca da 
lei, eis que pode proceder a diversas interpretações do enunciado normativo. Assim, se 
reconhece “que a indeterminação do âmbito legal no qual o juiz exerce sua atividade fornece-
lhe a oportunidade não só de deduzir a solução concreta a partir da regra geral, mas de 
proceder livremente a uma interpretação da lei, sendo esta resultante de uma escolha exercida 
por sua vontade” (1998, p. 92-93). 
Entrementes, após o “Estado criminoso que foi o Estado Nacional-Socialista”, 
passou-se a se questionar a ideia do direito como sendo a lei. Para Perelman, o direito é 
princípio não expresso na lei, não é só a vontade do legislador, o direito é mais, são os valores 
que o legislador tem por missão promover – “dentre os quais figura em primeiro plano a 
justiça” (1998, p. 95). 
Concluindo a análise das três fases mencionadas acima, Perelman diz que “O juiz 
não pode considerar-se satisfeito se pôde motivar sua decisão de modo aceitável; deve 
também apreciar o valor da decisão, e julgar se lhe parecer justa, ou, ao menos sensata” 
(1998, p. 96). 
Mas, como a ideia de justiça é vaga e adentra na seara da moral, da política e da 
religião, surge o problema da segurança jurídica, eis que o magistrado não pode laborar com 
arbitrariedade. A subjetividade conferida ao magistrado pelo Estado o “impede identificar, 
pura e simplesmente, o que é justo, segundo o direito como que parece justo a um indivíduo” 
(PERELMAN: 1998, p. 103). 
Assim, surgiu a aplicação dos princípios, pois no caso da Alemanha de Hitler, 
mesmo não havendo crime fixado em lei anterior, entendeu-se que existia “um princípio geral 
reconhecido pelas nações civilizadas, concernente ao respeito da dignidade da pessoa 
humana”. Como os princípios, supõe-se, são reconhecidos e aplicados em toda parte, mesmo 
74 
não escritos, o magistrado os declara quando na resolução do caso concreto. No entender de 
Perelman, com a aplicação dos princípios, o magistrado terá “as justificações de direito 
conformes ao interesse público e à moral dominante” (1998, p. 103-111). 
Após a exposição das três escolas, Perelman adentra ao pensamento moderno de 
Esser, que constitui uma reação ao positivismo, não fundada em ideologias ou no direito 
natural, mas em uma análise metodológica do raciocínio judiciário. Em linhas gerais, da 
análise do pensamento de Esser, pode-se afirmar que os métodos de interpretação, os 
princípios e os precedentes não são suficientes para guiar os magistrados no julgamento do 
caso concreto. Com efeito, a prática judiciária deve ser guiada nas “motivações e justificações 
da decisão, ou seja, visa essencialmente demonstrar o caráter sensato da solução, inserindo-a 
no sistema jurídico em vigor” (1998, p. 113-114). 
Nos dizeres de Chaïm Perelman, quanto a teoria de Esser: 
Conclui-se destas considerações que a solução justa da lide não é 
simplesmente, como afirmaria o positivismo jurídico, o fato de ser conforme 
a lei; isto é legal. [...] Pelo contrário, são os juízos de valor, relativos ao 
caráter adequado da decisão, que guiam o juiz em sua busca daquilo que, no 
caso específico, é justo e conforme ao direito, subordinando-se normalmente 
esta última preocupação à precedente. [...] A tarefa que o juiz se impõe é 
portanto a busca de uma síntese que leve em conta, ao mesmo tempo, o valor 
da solução e sua conformidade ao direito: o teórico deverá apenas examinar 
os métodos que o juiz utiliza para chegar a esse resultado (1998, p. 114-115). 
Com isso, segundo Perelman, não se pode negar a segurança jurídica que advém 
de tal pensamento, eis que “confere a capacidade jurídica de prever, de modo praticamente 
satisfatório, as reações daqueles que estão encarregados de dizer o direito”. A previsão, 
antever como o direito será aplicado, é o problema central da análise do raciocínio judiciário 
frente à segurança jurídica. Na lógica, o raciocínio dos juristas é melhor analisado não como 
uma lógica formal, “mas como uma argumentação que depende do modo como os 
legisladores e os juízes concebem sua missão e da idéia que têm do direito e de seu 
funcionamento na sociedade” (1998, p. 115-243). 
Assim, necessária a análise da lógica e da argumentação do discurso judiciário. 
Quando se fala em lógica, comumente se refere à lógica formal, matemática, que apresenta 
técnicas de raciocínio. Mas, a lógica formal que se utiliza de teoremas rígidos não se presta 
aos juízos de valor do raciocínio judiciário, chegando a concluir-se que “não havia lógica 
75 
específica dos juízos de valor, mas que, nas áreas examinadas, bem como em todas aquelas 
em que se trata de opiniões controvertidas se discute e delibera, recorre-se a técnicas de 
argumentação”. Destarte, se assim é, a lógica jurídica deve empenhar-se de descobrir 
“mediante quais procedimentos intelectuais o juiz chega a considerar tal decisão como 
equitativa, razoável ou aceitável” (PERELMAN: 1998, p. 138-139). 
Para tanto, utiliza-se do raciocínio dialético e retórico, eis que ausentes técnicas 
unânimes que estabelecem acordo sobre questões controvertidas. Com a retórica procura-se, 
com o discurso, “provocar ou aumentar a adesão das mentes às teses apresentadas”. Busca-se 
persuadir por meio do discurso, demonstrando as relações de lógica (PERELMAN: 1998, p. 
141-143). 
Note-se que o discurso procura apresentar, de modo convincente, a verdade das 
premissas para garantir a verdade da conclusão. Note-se, ainda, que a adesão não é baseada 
em uma verdade, mas em valores, que têm intensidade variada, eis que “a intensidade da 
adesão sempre pode ser utilmente aumentada, pois nunca se sabe com qual tese ou qual valor 
ela poderia entrar em competição, em caso de incompatibilidade e, portanto, de escolha 
inevitável” (PERELMAN: 1998, p. 141-143). 
Como visto, o raciocínio dialético e retórico é baseado em valores, na adesão e, 
assim, há auditório específico do discurso, “pois um discurso só pode ser eficaz se é adaptado 
ao auditório que se quer persuadir ou convencer”. No entanto, não se olvida que uma 
argumentação convincente se dirige a qualquer auditório, seja de “estudiosos ou de 
ignorantes”, mas por óbvio, toda argumentação deve iniciar-se por teses que já possuem 
adesão do auditório que se pretende persuadir, concluindo-se, pois, que o orador deve 
conhecer o posicionamento de seu auditório. Por fim, a argumentação eficaz possui uma 
totalidade, uma integração dos argumentos “que acodem espontaneamente ao espírito de 
quem ouve o discurso” (PERELMAN: 1998, p. 143-180).
O magistrado, portanto, atento a seu auditório (partes, advogados e sociedade18) 
passa a ser agente complementador do legislador, pois buscará para o caso concreto “uma 
solução equitativa e razoável”, mas para isso deve permanecer “dentro dos limites autorizados 
por seu sistema de direito”, recorrendo, assim, às técnicas argumentativas onde demonstrará a 
aceitabilidade de sua conclusão (PERELMAN: 1998, p. 185-200). 
 
18
 O auditório universal (PERELMAN: 1998, p. 210) 
76 
A aceitabilidade da decisão é sempre resultado de uma “argumentação jurídica 
suficientemente sólida”, pois só assim não ocorrerá a continuação do litígio, nascendo a paz 
judicial. O argumento é sólido não só quando atende ao descrito no enunciado normativo ou à 
vontade do Estado, mas quando apresenta os valores dominantes na sociedade (PERELMAN: 
1998, p. 185-200).Note-se, ainda, que uma decisão é aceitável quando motivada, ou seja, quando 
expressa “com fidelidade todas as operações da mente que conduziram o juiz ao dispositivo 
por ele adotado”, ou melhor, quando indica as escolhas que fez. Portanto, tem o magistrado a 
função de, por meio da fundamentação, “tornar a decisão aceitável” aos juristas e, 
especialmente, às partes. Com efeito, é importante convencer os juristas pelo fato de que a 
decisão será um precedente para casos semelhantes. Já para as partes, convencendo-as de que 
é a melhor decisão para o caso concreto haverá, como já dito, a paz judicial (PERELMAN: 
1998, p. 213-223). 
O raciocínio judiciário quanto à matéria fática não é comumente utilizado como 
precedente, pois diz respeito ao estabelecimento dos fatos. Já o raciocínio judiciário de direito 
é utilizado como precedente, eis que trata da definição ou alcance do texto legal. O enunciado 
normativo, que traz noções vagas, tem seu sentido atribuído gradualmente pela jurisprudência, 
pois “cada decisão, que implica uma qualificação positiva ou negativa, contribui para precisar 
a noção, que, como sabido, são variáveis, de uma sociedade para outra, de uma época para 
outra” (PERELMAN: 1998, p. 224-226). 
A respeito, Perelman enfatiza: 
O direito admitido não é simplesmente o direito imposto pelo legislador: é 
preciso torná-lo flexível para conciliá-lo com o que é considerado equitativo 
ou razoável; é neste sentido que evolui o direito contemporâneo em todas as 
sociedades democráticas, nas quais a simples afirmação por parte da 
autoridade é fortemente contestada (1998, p. 229). 
Destarte, o magistrado não pode impor sua decisão, deve apresentar um discurso 
aceitável, com motivação convincente. Mas se indaga: e se tal “motivação convincente” soar 
como uma subjetividade que busca o arbítrio? (PERELMAN: 1998, p. 233).
Perelman relata que o magistrado não será arbitrário quando o direito se 
desenvolver em equilíbrio da ordem sistemática e da ordem jurídica coerente. Com efeito, a 
ordem sistemática é baseada na coerência do sistema de direito que o magistrado deve 
77 
salvaguardar – o texto da lei. Já a ordem jurídica coerente é fundada na decisão razoável, 
aceitável e com senso na equidade. Assim, o magistrado, ao final, tomará a “decisão que lhe 
parecer, ao mesmo tempo, a mais equitativa e a mais conforme ao direito em vigor” (1998, p. 
238-240). 
Do presente capítulo pode-se concluir que a hermenêutica e as regras de 
interpretação são universais e que a hermenêutica jurídica tem certa peculiaridade, qual seja, a 
da imposição pragmático-autoritária para por fim ao conflito exegético. Concluiu-se que todo 
texto normativo carece de interpretação, por mais claro que pareça, eis que de acordo com o 
plano contextual, várias significações podem surgir, não se concebendo mais validade ao 
antigo adágio in claris cessat interpretatio. 
A hermenêutica apresenta métodos para se buscar significações possíveis e 
razoáveis ao enunciado normativo, mas repita-se, possíveis, eis que nenhum método pode 
garantir correção no ato de interpretar. Abordou-se, ainda que rapidamente, a interpretação 
literal, lógica, restritiva e extensiva, sendo que, quanto ao último método, demonstrou-se que 
a preocupação se dá quando a interpretação apresenta um distanciamento entre o fato e o 
enunciado normativo. 
Em específico à interpretação extensiva, que pode ser 
progressiva/evolutiva/analógica, conclui-se que é aceita no Direito Penal, pois interpretar é a 
arte de criar e completar o texto elaborado pelo legislador, pois há uma imperfeição natural e 
os enunciados penais são abstratos e amplos. A justificativa, para se aceitar a interpretação 
extensiva no Direito Penal, sustenta-se no fato de que o sentido e o alcance do enunciado 
normativo varia de acordo como passar dos anos – com a evolução social. 
Na interpretação dos enunciados normativos fechados, há uma pseudo19 segurança 
no processo de subsunção, sendo que nos enunciados normativos com termos ambíguos e 
vagos há margem para o subjetivismo, o que também ocorre com os enunciados penais 
abertos. No entanto, a racionalidade no ato de interpretar pode ser alcançada com a exigência 
de fundamentação, pois assim poderá ocorrer críticas ao modelo apresentado, mas não há 
como haver controle absoluto, eis que se busca significações possíveis com o ato de 
interpretar. 
 
19
 Digo pseudo, pois foi visto que todos os enunciados normativos, ainda que fechados, podem ter vários 
significados possíveis. 
78 
A influência da Constituição Federal na interpretação do Direito Penal é notória20, 
realçando a importância da necessidade de que o texto aplicado ao caso concreto tenha 
suporte na norma superior. A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios norteadores 
à atividade penal do Estado, sendo que os princípios gerais e os princípios do Direito Penal 
não ostentam diferencial em sua aplicação, pois são diretrizes do sistema às quais orientam o 
intérprete. 
Diante de tal assertiva, a criação de enunciados normativos incriminadores deve 
obedecer ao princípio da legalidade. Tal princípio, previsto tanto na Constituição Federal 
quanto no Código Penal, orienta o intérprete no momento da exegese, eis que do texto não 
pode ser afastar – sob pena de afronta constitucional – e, se assim proceder, estará diante de 
uma decisão inválida. 
Do princípio da legalidade extrai-se subprincípios, como o da 
taxatividade/determinação que orienta o legislador a elaborar enunciados claros e objetivos, 
devendo se afastar da vagueza e da ambiguidade e que, ocorrerá ofensa ao princípio da 
legalidade quando o destinatário da lei não tiver condições de afirmar qual o sentido e o 
alcance do enunciado normativo devido a sua indeterminação. A ofensa ao princípio da 
taxatividade/determinação pode gerar a ofensa a outro princípio, qual seja, o da igualdade, eis 
que sendo vago o enunciado normativo, poderão ocorrer decisões dispares em casos 
semelhantes. 
Assim, há uma tensão entre a aplicação dos princípios da legalidade (da 
taxatividade/determinação) com a interpretação extensiva evolutiva/progressiva/analógica, 
sendo preferível que os enunciados normativos sejam objetivos. No entanto, fechados ou 
abertos, com a interpretação evolutiva/progressiva/analógica busca-se ajustar o enunciado 
normativo aos tempos atuais, de acordo com as alterações sociais, reduzindo o distanciamento 
do texto da lei aos casos concretos. 
A interpretação evolutiva/progressiva é necessária, pois o direito é vivo, dinâmico 
e só é viável quando o juiz o adapta aos casos concretos de acordo com a atualidade. Ora, o 
juiz quando assim procede está baseado no texto normativo, mas descortina novos horizontes 
– afastando-se do positivismo exacerbado – que não sustenta mais. 
A interpretação evolutiva/progressiva não afronta o princípio da legalidade, pois 
esse processo hermenêutico apenas adequa o texto normativo à realidade atual e mais, pode 
 
20
 A Constituição Federal de 1988 é dirigente no aspecto penal. 
79 
ampliar o sentido do aludido enunciado quando se apoia na teoria da tipicidade conglobante 
que, como visto, pode estender o sentido e o alcance do enunciado normativo com apoio no 
ordenamento jurídico total, como por exemplo, um homicídio ser considerado torpe quando a 
morte é motivada pela briga de gangues de “pontos de tráfico de drogas”, será torpe pelo fato 
de que o sistema também considera ilícita a associação em gangues para a prática de crimes, 
bem como torpe pelo fato de que o tráfico de drogas, por si só, também é crime. Assim, 
adequa-se o termo torpe à realidade atual e legal. 
Nélson Hungria realçava a necessidade da interpretação, pois só assim se encontra 
a justiça para o caso concreto, reconhecendoa possibilidade de interpretação evolutiva e 
progressiva, advertindo que não se deve afastar do enunciado normativo, deve o intérprete 
acomodar o verbete à vontade da lei. 
Já para Roberto Lyra o intérprete dá vida ao enunciado, ou seja, o traz à realidade 
social e mais, não se deve sempre interpretar a favor do réu, pois na dúvida deve-se buscar o 
sentido da lei – beneficie ou não o réu – tese também professada por Galdino Siqueira, Heleno 
Cláudio Fragoso e Cezar Roberto Bitencourt. 
Bento de Faria asseverava que se deve buscar a vontade da lei e não do legislador, 
pois a análise do caso frente ao enunciado afasta o perigo que a letra fria da lei pode gerar, 
sendo que tal proceder visa harmonizar o texto à realidade, admitindo, igualmente, a 
interpretação extensiva no Direito Penal. 
Cezar Roberto Bitencourt argumenta que o intérprete deve considerar o contexto 
político-social e jurídico no momento da aplicação da lei ao caso concreto, tese corroborada 
por Damásio Evangelista de Jesus quando afirma que o juiz diuturnamente dá novos 
significados aos enunciados quando entra em contato com os mais variados casos. 
No pertinente à interpretação extensiva por analogia, o legislador usa termos 
casuísticos e genéricos, sendo que o intérprete deve aplicar a cláusula genérica a casos 
semelhantes aos exemplos apresentados pelo legislador, não podendo se afastar da 
interpretação progressiva, eis que se deve dar nova roupagem ao texto vetusto da lei, 
atualizando-o e mais, sempre há várias possibilidades igualmente válidas de interpretação – 
desde que dentro da moldura, com dizia Kelsen. 
Indagou-se como magistrados decidem e como deveriam decidir. É sabido que o 
juiz cria, na decisão do caso concreto, uma norma a partir do texto normativo – a lei – que o 
vincula. No entanto, tal vinculação não o impede de, diante das circunstâncias fáticas e dos 
80 
valores sociais, adequar a lei ao caso concreto, inclusive carregando a decisão com seus pré-
juízos, seus valores pessoais. 
A atividade do magistrado é completar o texto elaborado pelo legislador, 
adequando-o ao caso concreto, aproximando o texto da lei à realidade, pois o tipo penal é 
geral e abstrato, sendo mutável de acordo com a época que é aplicado. Mas, tal tarefa deve ser 
controlada para se evitar o arbítrio e, para tanto, a decisão deve ser fundamentada, pois assim 
será passível de controle quando confrontada com a consciência jurídica geral, bem como 
com os precedentes. Note-se que, ainda que o juiz analise o caso de acordo com a consciência 
jurídica geral e os precedentes, deve também basear-se na lei e na justiça. 
Perelman – Lógica Jurídica – argumenta que o intérprete, após as discussões, 
resolve a pendenga por atos de imposição por autoridade, mas isso não quer dizer que seria a 
única decisão possível. Nota-se que é aceita a hipótese da evolução do direito por meio da 
interpretação progressiva, eis que o direito é dinâmico, a escolha da decisão mais aceitável e 
razoável sofre influência da evolução social. 
Com a interpretação evolutiva, segundo Perelman, pode-se prever qual decisão 
será tomada para casos semelhantes quando a fundamentação, a argumentação e os métodos 
utilizados são conhecidos – podendo haver um controle. A argumentação deve gerar um 
resultado aceitável, razoável nos termos do auditório (partes, advogados e sociedade) e não 
será arbitrária, mesmo oriunda do subjetivismo, se encontrar amparo na ordem jurídica, ou 
seja, se for conforme o direito. 
Assim, como conclusão parcial, pode-se afirmar que o legislador descreve 
condutas – que visa proibir – de forma pormenorizada ou não, nascendo o problema da 
interpretação extensiva no Direito Penal nos enunciados vagos e ambíguos. Neste caso, pode-
se afirmar que ocorrerá um esforço do intérprete para complementar o tipo penal deficitário 
semanticamente, podendo ser de grande auxílio analisar o caso nos termos propostos pela 
teoria da tipicidade conglobante – havendo uma inclusão típica por extensão quando se 
analisar o tipo e o caso frente ao sistema como um todo e não de forma estanque. 
81 
3. O HOMICÍDIO QUALIFICADO NO DIREITO BRASILEIRO 
Foi visto anteriormente que os estudos sobre a interpretação do enunciado 
normativo revelam que a atividade do intérprete é complementadora do texto elaborado pelo 
Poder Legislativo. 
Notou-se também que a lei penal não apresenta tipos penais21 imunes à 
interpretação, pois todo enunciado normativo demanda interpretação. Assim, pretende-se no 
presente capítulo analisar como o direito brasileiro22 aborda a questão. 
Damásio Evangelista de Jesus, ao abordar o tema “A interpretação analógica e o 
CP brasileiro”, argumenta que há vinte e cinco tipos penais que demandam o emprego da 
integração pelo intérprete (2012, p. 88-89). 
Como recorte de pesquisa, optou-se pela abordagem do crime de homicídio e suas 
nuances no sistema penal. Busca-se com o estudo apresentar os posicionamentos acerca da 
interpretação dos enunciados normativos qualificadores previstos no artigo 121, §2º, do 
Código Penal, em especial a análise sobre os termos vagos, ambíguos e equívocos, sendo que, 
para tanto, foram analisados diversos autores e vários julgados sobre o tema. 
3.1 O crime de homicídio no Direito Penal brasileiro 
O crime de homicídio sempre teve grande atenção do legislador, pois o bem vida 
é pressuposto de direito para todos os outros direitos. Nélson Hungria dizia que o homicídio, 
devido a sua vital importância para o Código Penal, é “o ponto culminante na orografia dos 
crimes” (1955, p. 25). 
Segundo Cezar Roberto Bitencourt, o Código Penal vigente rompeu com a 
tradição da supremacia do Estado sobre a pessoa, iniciando sua parte especial alocando “o ser 
humano como epicentro do ordenamento jurídico, atribuindo à pessoa humana posição 
destacada na tutela que o direito penal pretende exercer” (BITENCOURT: 2011, p. 23). 
Como dito, o Código Penal deu grande importância ao crime de homicídio, 
inaugurando sua parte especial ao tipificá-lo como: Matar alguém. Trata-se de um enunciado 
normativo cuja norma é não mate, pois se o fizer estará sujeito às sanções penais. A norma de 
 
21
 Seja tipo penal fechado ou aberto 
22
 Doutrina penal e precedentes jurisprudenciais 
82 
conduta não matar é implícita, pois o crime em comento não veio tipificado como Moisés 
revelou a Lei Divina não matarás (BATISTA: 1984, p. 284-286). 
Ora, quando o Código Penal prescreve matar alguém o preceito que está implícito 
é uma premissa lógica, está se exigindo que não mate. Assim, quando um sujeito elimina a 
vida de outro homem pratica uma conduta que se amolda ao tipo previsto matar alguém, 
violando, destarte, a norma que implicitamente previa que não matasse alguém, ou seja, a lei 
penal descreve condutas que se cometidas violam a norma (BATISTA: 1984, p. 284-286). 
O Código Penal, ao dar início à parte especial com a vedação do ato de matar 
alguém, segue um sistema classificatório, qual seja, o do valor social do bem jurídico 
protegido, pois a vida é pressuposto para todos os direitos (BATISTA: 1984, p. 282). Abre-se 
o Código Penal proibindo os crimes contra a pessoa porque “o ser humano é a razão de ser da 
sociedade e, portanto, do Direito” (TELES: 2006, p. 1). 
Com efeito, o Código Penal adotou um critério sistemático ao elencar os crimes 
em espécie, pois não poderia se afastar da técnica legislativa, no entanto, o sistema adotado é 
também uma forma de auxiliar àqueles que o consultam. Historicamente a catalogação era 
empírica e genérica, como por exemplo, os delitos públicos e privados. Grotius e Puffendorf 
foram os primeiros a apontar para uma classificação sistemática. O primeiro, selecionando os 
crimes pela gravidade e, o segundo, de acordo com categorias, como por exemplo, crimes 
contra Deus, Sociedadee Estado (HUNGRIA: 1942, p. 7-8). 
Outras espécies de classificação surgiram no decorrer dos tempos, como a de 
Beccaria, que elencava os crimes contra a sociedade, contra o indivíduo e os crimes que o 
cidadão deve ou não fazer. Já Carrara, dividia os crimes classificando-os em naturais e 
sociais, sendo que Franz Von Liszt os dividia em crimes contra o indivíduo e contra os bens 
da coletividade. De extrema importância é a classificação dada por Arturo Rocco, pois elenca 
os crimes de acordo com a existência humana, ou seja, como centro de “irradiação de todos os 
bens ou interesses juridicamente protegidos” (HUNGRIA: 1942, p. 8-12). 
No entanto, segundo Hungria, com o tempo o critério racional de objetividade 
jurídica, ou seja, atentando-se ao bem ou interesse jurídico a ser tutelado, foi sendo adotado 
pela maioria dos códigos. O Código Penal brasileiro adotou o critério de objetividade jurídica, 
optando por iniciar pelos crimes contra a pessoa, eis que são presumidamente os crimes mais 
primitivos, mas não é só, além de adotar o critério de acordo com o objeto jurídico, adotou 
83 
também o critério metodológico, partindo do crime mais simples para o mais complexo 
(1942, p. 8-12). 
Assim, o Código Penal brasileiro de 1940 inicia sua parte especial tipificando o 
crime de homicídio, pois a pessoa é um dos mais importantes objetos de tutela penal, pois a 
vida é pressuposto da personalidade (HUNGRIA: 1942, p. 14). 
Hungria, com apoio em Carmignani, define o crime de homicídio como a “occisão 
violenta de um homem injustamente praticada por outro homem”, no entanto, apoiando-se em 
Von Liszt, sinaliza para uma definição mais simples, qual seja: “a destruição da vida humana” 
(1942, p. 25). 
Os crimes de homicídio podem ocorrer das mais variadas formas e, no decorrer 
dos tempos, várias foram as classificações, como por exemplo, o simples, o deliberado, o 
qualificado e até o parricídio – para um caso específico. O Código Penal brasileiro, seguindo a 
tradição do anterior, definiu o crime de homicídio como simples e qualificado. Na figura 
simples, o Código Penal brasileiro não apresenta peculiaridade específica, pois apenas 
descreve a conduta homicida que visa coibir (HUNGRIA: 1942, p. 26-29). 
Damásio Evangelista de Jesus, ao iniciar a análise dos crimes em espécie 
estipulados pelo Código Penal brasileiro, argumenta que o legislador os classificou de acordo 
com “a natureza e importância do objeto jurídico”, ou seja, o bem que visa proteger proibindo 
determinadas condutas (2010, p. 37). 
O crime de homicídio é classificado como simples pelo fato de atingir o bem 
jurídico tutelado, a vida humana extrauterina sem nenhuma outra peculiaridade. Será, no 
entanto, qualificado quando a conduta do agente é diferenciada, demonstrando maior desvalor 
para com a vida, necessitando de uma reprovação maior, eis que os motivos, os meios e a 
forma destoam do simples ato de matar alguém (TELES: 2006, p. 12-19). Ou seja, nas 
qualificadoras o legislador apresenta peculiaridades não incluídas na figura básica do 
homicídio simples (HUNGRIA: 1942, p. 26-29). 
Julio Fabbrini Mirabete, abordando a parte especial do Código Penal, 
argumentava que não há uma conexão entre a parte geral e a especial, sendo necessário, para 
alguns, elaborar uma introdução à parte especial do Código (2012, p. 3-4). Sobre tal 
pormenor, Luciano Santos Lopes argumenta que “a análise da parte geral deve ser feita com 
um traço de união com a parte especial, para existir integridade do ordenamento jurídico-
penal” (2010, p. 73). 
84 
No entanto, modernamente não se vê tal necessidade, pois “a ilicitude é 
descontínua e casuística e os elementos diferenciais próprios a cada figura penal impedem um 
critério de absoluto rigor na formulação de princípios ou fórmulas gerais”, ou seja, é 
necessário realizar um estudo aprofundado da parte geral casuisticamente para cada tipo penal 
previsto na parte especial (MIRABETE: 2012, p. 3-4). 
3.2 O crime de homicídio e suas qualificadoras 
O enunciado normativo incriminador, o tipo penal, é uma figura abstrata que 
descreve condutas proibidas, pois ou são danosas ou são ético-socialmente reprovadas. A 
figura descritiva contém elementos suficientes para estabelecer a conduta proibida. No 
entanto, há casos em que o legislador apresenta tipos derivados da figura principal, na maioria 
das vezes para qualificá-los com outros elementos. Quando o legislador qualifica o crime, o 
faz na intenção de estabelecer maior punição devido a certas circunstâncias (não previstas 
expressa ou intrinsecamente no tipo penal básico), que são de “especial gravidade objetiva ou 
subjetiva” (GOMES: 2003, p. 193-194). 
O legislador penal, ao definir o crime de homicídio, na sua forma qualificada, 
apresentou peculiaridades que recomendam maior reprovação, razão de cominar pena diversa 
da figura simples. O código considerou os motivos determinantes (torpe, fútil) e os meios e 
modos de execução (cruel, tortura, tocaia, que cause perigo comum) como formas que 
representam maior periculosidade do agente, justificando a exasperação da pena (HUNGRIA: 
1942, p. 29). 
Assim, as qualificadoras são alheias ao tipo penal, pois não são elementares do 
tipo, são, como nomeadas, circunstâncias. Digo mais, são acidentais, vez que, se presentes, 
incidirá nova pena – diversa da pena prevista para a figura básica – mas, se ausentes, o tipo 
penal incriminador contínua a ser o mesmo – um crime de homicídio. As qualificadoras são 
circunstâncias que o legislador entendeu por bem tipificar fora da figura básica do tipo penal 
incriminador, já que extrapolam as circunstâncias normais previstas para o crime comum, 
como por exemplo, matar desferindo um disparo de arma de fogo. Nas qualificadoras, há 
circunstâncias motivacionais ou modais que exigem uma punição maior, citando-se como 
exemplo matar a modo de Calígula – empalando as vítimas (HUNGRIA: 1942, p. 144). 
Segundo Bento de Faria, um tipo penal é qualificado quando há uma circunstância 
prevista para agravar a pena. O agravamento ocorre pelo fato de as circunstâncias serem 
85 
reveladoras de maior periculosidade ou de elevado grau de perversidade do sujeito (1959, p. 
17-18). 
Justifica-se a análise das qualificadoras do crime de homicídio dada a importância 
do bem em litígio, bem como pelas penas previstas ao crime em comento, que são ásperas 
para quem viola o bem maior do Código Penal e, por isso, as agruras jurídicas são da mesma 
forma ásperas entre os litigantes, eis que o acusador pleiteia a incidência de qualificadoras 
como intuito de elevar a reprimenda, enquanto o defensor pleiteia a não incidência de aludidas 
exasperadoras de pena, nascendo, assim, o problema de interpretação do sentido, alcance e 
extensão dos enunciados normativos qualificadores, hoje presentes nos incisos do artigo 121, 
§2º, do Código Penal. 
Modernamente, o motivo determinante é a “pedra de toque do crime”, pois 
quando se sabe o motivo da prática do crime, sabe-se, em princípio, que personalidade e qual 
a antissociabilidade do agente (HUNGRIA: 1942, p. 112-113). Não é por outra razão que o 
Código Penal inicia o elenco das qualificadoras pelo motivo torpe, aquele repugnante, de 
extrema vileza, sendo que o Código Penal cita como exemplo de torpeza o crime de 
homicídio mercenário. Na exposição de motivos do Código Penal, Francisco Campos relata 
que o motivo torpe “é o que suscita a aversão, a luxúria, o despeito da imoralidade 
contrariada, o prazer do mal, etc.” (HUNGRIA: 1955, p. 244). 
Na análise do artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, verifica-se que há 
menção de um exemplo casuístico (paga ou promessa de recompensa) e, em seguida, um 
verbete genérico (ou outro motivo torpe). Nélson Hungria, ao analisar tal questão, não faz 
nenhuma menção de como o intérprete deve aplicar o enunciado normativo qualificador pelo 
motivotorpe (1942, p. 140). 
Assim, surge a indagação: Torpe pode ser todo e qualquer motivo repugnante? O 
que é motivo repugnante? Cada intérprete apresentará uma solução para o caso, surgindo nova 
indagação: criar um tipo penal com tal vagueza não fere o princípio da legalidade, 
especificamente o da taxatividade/determinação? Tal indagação é o que aflige o intérprete da 
lei ao caso concreto, problema de interpretação, pois a lei não contém somente termos 
inequívocos. 
Ainda sobre o crime de homicídio qualificado, o artigo 121, §2º, inciso II, do 
Código Penal prescreve que o motivo fútil é causa que demanda maior reprovabilidade. Fútil, 
nos termos da exposição de motivos do Código Penal é aquele “que, pela sua mínima 
86 
importância, não é causa suficiente para o crime”, ou seja, é o motivo desproporcional ou 
inadequado (HUNGRIA: 1955, p. 244). Surge novamente o problema citado alhures, o que é 
fútil para uns pode não ser para outros – acarretando inúmeras interpretações. Mais uma vez 
Nélson Hungria não indica como o intérprete deve proceder ao se deparar com o vocábulo em 
comento (1942, p. 141). 
No artigo 121, §2º, inciso III, do Código Penal o legislador novamente qualifica o 
crime de homicídio apresentando exemplos casuísticos de meios de matar (veneno, fogo, 
explosivo, asfixia, tortura) e, em seguida, finaliza a qualificadora com enunciados genéricos 
(meio insidioso, cruel ou de que possa resultar perigo comum), ou seja, texto com casuística 
exemplificativa e fórmula genérica ao final (HUNGRIA: 1942, p. 141). 
O texto é novamente equívoco e gera dúvidas. Ora, o que é causar perigo comum 
na prática de um crime de homicídio? Seria dirigir um veículo com excesso de velocidade em 
racha automobilístico, com dolo eventual, e matar uma pessoa por atropelamento, causando 
também a outras pessoas perigo pelo fato de que o veículo ostenta um tanque de combustível 
que poderia explodir? Seria o crime de homicídio praticado com disparo de arma de fogo 
contra uma única pessoa, mas pelo fato de existirem outras pessoas no recinto (causando 
perigo a elas)? 
Nélson Hungria ao comentar tal qualificadora não esclarece ao intérprete de como 
se chega a uma interpretação segura que importaria respeito e obediência ao princípio da 
taxatividade/determinação, relatando que “o meio de que possa resultar perigo comum é o 
meio que além de atingir a vitima escolhida, pode criar uma situação de perigo extensivo a um 
indeterminado número de pessoas” (1955, p. 90). 
Constata-se que existem cláusulas genéricas com vocábulos amplos que podem 
gerar uma interpretação generosa, como, por exemplo, dizer que a superioridade de armas é 
causa que impossibilita ou dificulta a defesa do ofendido, ou que dirigir veículo automotor 
com excesso de velocidade é um meio que pode causar perigo comum – mesmo que se trate 
de período em que não há pessoas na via pública. 
Roberto Lyra, ao abordar o tema das qualificadoras, argumenta que o motivo 
torpe não é definido pelo Código atual e era tratado de forma vaga no Código Penal de 1890. 
Para ele, torpe é o motivo repugnante ao senso ético da coletividade e, fútil, aquele cometido a 
pretexto gratuito, desproporcionado. Note-se que na abordagem faz um cotejo com o projeto 
do Código Penal Italiano que previa motivos abjetos (torpes), perversos ou fúteis 
87 
(desproporcionais), mas que o termo perverso foi omitido por ser muito genérico, ou seja, foi 
demonstrada a preocupação com termos abertos (1955, p. 268-271). 
No entanto, apesar de adentrar ao estudo do Código Penal Italiano, Roberto Lyra 
define o que vem a ser o termo expresso no Código Penal brasileiro, mas não analisa a 
questão da interpretação. Porém, ao citar Marciano (Il Nuovo Codice Penale, Nápoles, 1932) 
argumenta que cada juiz pode ter uma interpretação do que vem a ser fútil ou torpe, mas para 
interpretar tais termos qualificadores não se pode analisar o caso de acordo com seu 
individualismo, mas deve-se orientar para o todo, para a sociedade e não o indivíduo em 
particular (1955, p. 268-271). 
No que diz respeito ao meio cruel e a tortura, ambos são definidos como sendo o 
que causa o sofrimento desnecessário e extraordinário, físico ou moral à vítima. Já para 
configurar o perigo comum basta a potencialidade deste para integrar o crime, não importando 
que ela se concretize (LYRA: 1955, p. 288-290). Percebe-se, mais uma vez, que não se 
aborda o tema interpretação, não se analisa o alcance do vernáculo, apenas os define. 
Segundo Heleno Cláudio Fragoso, na interpretação do Direito Penal deve-se 
observar o princípio da legalidade e seu subprincípio taxatividade/determinação. É sabido que 
tais princípios vedam a incriminação vaga e indeterminada, pois não tornam certa a ilicitude 
da conduta, o que redunda em ofensa à segurança jurídica do cidadão, bem como deixa ao 
julgador a tarefa de identificação do fato punível. No entanto, ao abordar os crimes praticados 
por motivo torpe, fútil, para assegurar a vantagem de outro crime, cometido com recurso que 
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido, bem como que possa resultar perigo 
comum, limita-se a definir cada situação e não analisa o pormenor de que o tipo contém 
cláusulas casuísticas e genéricas (2006, p. 114-115 e 423-426). 
Bento de Faria, ao tratar das qualificadoras do crime de homicídio, asseverou que 
a primeira traz exemplos e encerra com a afirmação de que o homicídio também será 
qualificado se praticado por motivo torpe. Como Hungria, relata que é o motivo desprezível, 
repugnante, o que revela um particular grau de perversidade, no entanto, não traça nenhuma 
forma de como o juiz deve buscar a citada torpeza junto ao fato concreto. Na sequência, ao 
tratar da qualificadora do motivo fútil, limita-se a definir que será aquele que tem uma 
desproporção entre a causa e o crime de homicídio. Nada aborda sobre a vagueza 
terminológica utilizada pelo legislador (1959, p. 18-19). 
88 
Ainda Bento de Faria, analisando a crueldade e o meio insidioso, apenas os 
define, mas nada argumenta sobre o limite que o intérprete terá na análise do caso concreto, 
sequer aborda a questão do perigo comum, tampouco se há in casu interpretação analógica. 
Em seguida, analisa o crime qualificado pela traição, emboscada, dissimulação ou outro 
recurso que torne difícil ou impossibilite a defesa do ofendido, limitando-se a afirmar que se 
trata de circunstância que revela “sangue frio” do agente, ou seja, maior gravidade da conduta. 
No mesmo toar é a abordagem da qualificadora por conexão, ou seja, que será o crime de 
homicídio conexo com qualquer outro crime, mas não aborda a vagueza do enunciado 
normativo que diz “matar alguém para assegurar a vantagem de outro crime” (1959, p. 19-25). 
Segundo Cezar Roberto Bitencourt, às qualificadoras se aplica o princípio da 
legalidade, ou seja, o termo qualificador deve ser certo e determinado, mas como é sabido, o 
legislador vale-se, por vezes, de terminologias abertas para estabelecer a proibição a certas 
condutas, o que também ocorre nas figuras qualificadoras (2011, p. 80-81). 
No entender de Bitencourt, o legislador ao qualificar o homicídio trouxe alguns 
exemplos, tal como o homicídio qualificado pela tortura, mas ao final trouxe uma 
terminologia aberta, qual seja, homicídio qualificado quando praticado por meio cruel. São as 
chamadas cláusulas/fórmulas casuísticas ou genéricas (2011, p. 80-81). 
No entanto, em análise detida, verifica-se que pouco se fala da interpretação das 
terminologias abertas. Para Bitencourt, na interpretação das qualificadoras genéricas, o 
intérprete deve buscar a similitude com as qualificadoras casuísticas, pois “servem apenas de 
paradigmas dos diversos modos de execução do crime de homicídio”. Destarte, na 
interpretação do enunciado genérico existente na qualificadora, o intérprete deve buscar a 
natureza da qualificadoraapresentada no enunciado normativo qualificador fechado utilizado 
como exemplo pelo legislador, um parâmetro, ou como já foi dito anteriormente – como 
paradigma (2011, p. 80-81 e 84-85). 
Damásio Evangelista de Jesus analisa diversas figuras típicas do crime de 
homicídio (simples, privilegiada, qualificada e culposa) e, no caso específico do crime de 
homicídio qualificado, narra que deixa de ser simples o ato de matar alguém quando os 
motivos, os meios, as formas ou a conexão com outro crime for tipificado como um tipo 
derivado, secundário (2010, p. 45-51 e 97). 
Ao tecer comentários sobre o homicídio qualificado por motivo torpe, Jesus 
argumenta que o intérprete deve lançar mão da interpretação analógica, pois “a paga e a 
89 
promessa de recompensa são motivos torpes”. E, quanto ao crime de homicídio cometido por 
meio cruel, insidioso ou por meio que possa resultar perigo comum, novamente afirma que 
deve-se utilizar da interpretação analógica (2010, p. 98-101). 
No entanto, o autor assevera que a interpretação deve atentar para a natureza do 
meio empregado, pois deve ter semelhança ao exemplo casuístico. Explicação que se repete 
quando é abordada a qualificadora da traição, emboscada, dissimulação ou com o emprego de 
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido, qual seja, que na análise 
das cláusulas genéricas, o intérprete deve interpretar analogicamente com as cláusulas 
casuísticas, pois devem ter idêntica natureza das hipóteses descritas pelo legislador (2010, p. 
98-101). 
Julio Fabbrini Mirabete, abordando o estudo específico do crime de homicídio 
qualificado, afirmava que será qualificado o crime de homicídio quando o Estado deseja uma 
punição maior, quando os meios, as formas e os motivos revelarem maior periculosidade do 
agente. Na sequência, como vários autores, abordou especificamente cada qualificadora 
disposta no §2º do artigo 121 do Código Penal brasileiro. Definiu as hipóteses, analisou a 
tipologia dos enunciados normativos, citou exemplos e julgados, mas nada relatou sobre a 
existência e aplicabilidade das cláusulas genéricas, como por exemplo: perigo comum, meio 
insidioso ou meio cruel, bem como qualquer meio que dificulte ou impossibilite a defesa do 
ofendido (2012, p. 34-39). 
Abordando as qualificadoras do crime de homicídio, Ney Moura Teles tece 
comentários sobre a definição e a aplicabilidade de cada enunciado, no entanto, ao referir-se à 
motivação torpe, narra que se trata de uma forma genérica que deve ser interpretada à 
semelhança da casuística, qual seja, a paga ou promessa de recompensa e diz que: “serão 
torpes todos os motivos que, à semelhança do fim lucro, ou da contratação de alguém para 
destruir uma vida humana, impelirem o sujeito a matar alguém. São os motivos indignos, que 
contrastam com os valores morais” (2006, p. 23). 
Na sequência da análise das qualificadoras, o autor as define e tece comentários 
sobre a aplicabilidade da norma genérica, enfatizando que a expressão “meio insidioso ou 
cruel, ou de que possa resultar perigo comum”, deve ser interpretada analogicamente, ou seja, 
o meio utilizado pelo agente deve ser semelhante às fórmulas casuísticas para serem inseridas 
na fórmula genérica (TELES: 2006, p. 30). 
90 
Rogério Greco, analisando o crime de homicídio e suas qualificadoras, inicia o 
tema apresentando uma introdução ao estudo da parte especial do Código Penal, realçando a 
importância do princípio da legalidade especificamente quanto à necessidade da lei penal ser 
certa. A lei, então, deve ser clara e simples para que seu destinatário, o cidadão brasileiro, 
tenha conhecimento e, assim, comportar-se de acordo com o que é proibido ou não. Com isso, 
ou seja, sendo o enunciado normativo certo, taxativo, afasta-se a insegurança na aplicação do 
texto legal, bem como se evita o arbítrio – como ocorrido na época no nazismo23, na qual os 
enunciados eram vagos, amplos e incertos, permitindo todo tipo de atrocidades (2009, p. 30-
34). 
Segundo Greco, a pena para o delito de homicídio qualificado será mais severa 
devido aos motivos, meios, modos e fins aliados à prática do crime. O legislador, para abordar 
o maior número de casos, lançou mão da interpretação analógica, pois considerou como 
modelo casuístico do motivo torpe – a paga e a promessa de recompensa (2009, p. 163). Na 
sequência, tecendo comentários sobre a qualificadora do homicídio praticado com o emprego 
de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel ou de que possa 
resultar perigo comum, narra que o legislador utilizou-se da velha fórmula casuística seguida 
da fórmula genérica e vaticina: 
Tal recurso visa preservar, na verdade, o princípio da isonomia, no qual 
situações idênticas merecerão o mesmo tratamento pela lei penal. Ou seja, 
tudo aquilo que for considerado meio insidioso, cruel ou de que possa 
resultar perigo comum qualificará o homicídio, a exemplo das hipóteses 
mencionadas expressamente pelo inciso III (veneno, fogo, explosivo, asfixia 
e tortura) (GRECO: 2009, pp.167-168). 
Destarte, o intérprete deve, ao analisar as hipóteses genéricas, procurar a isonomia 
com as hipóteses casuísticas prescritas pelo legislador no enunciado normativo qualificador, 
para assim, atender a vontade da lei (GRECO: 2009, p. 167). 
Ao analisar os termos genéricos e abertos inseridos nos enunciados normativos 
qualificadores do crime de homicídio, Cezar Roberto Bitencourt argumenta que 
modernamente se aceita alguma indeterminação no enunciado normativo, pois o legislador 
não tem como antever todas as possíveis condutas que podem ocorrer na violação de um bem 
jurídico, ou seja, utiliza-se da generalidade para tentar abranger um número maior de condutas 
 
23
 Citando como exemplo: punição por fato praticado contra “o são sentimento do povo alemão” (GRECO: 2009, 
p. 30-34) 
91 
nocivas à sociedade. Assim, o legislador apresenta algumas circunstâncias tipologicamente 
fechadas coibindo certas condutas e, ao final, apresenta uma terminologia aberta para que 
condutas semelhantes também sejam consideradas proibidas (2011, p. 80-81). 
No mesmo sentido, defendendo a possibilidade ventilada acima, Rogério Greco 
argumenta que o legislador lança mão da fórmula genérica no intuito de abarcar hipótese não 
elencada expressamente, mas desejando que fosse, podendo, assim, ser ampliado o sentido do 
enunciado normativo (2010, p. 39). 
3.3 O crime de homicídio qualificado na dinâmica jurisprudencial 
O legislador penal prescreve condutas proibidas e os juristas apresentam suas 
conclusões. Segundo Carlos Maximiliano, “encher a cabeça de regras de direito sem consultar 
julgado algum é tão ridículo como aprender literatura sem nada ler, ou história da arte sem 
contemplar um quadro ou uma estátua, ou botânica sem observar uma planta sequer” (2000, p. 
33). 
Chaïm Perelman afirma que o direito é o que os tribunais decidirem, mais 
precisamente a Corte Suprema, pois incumbidos de dizer o direito. Assim, examinando as 
decisões dos tribunais é que saberemos o que é o direito, diferindo do que o individuo 
comumente entende como regra, pois “cada pessoa pode formular as regras que considera 
obrigatórias e os ideais que se propõe a realizar” (2005, p. 611). 
Daí a importância de se estudar os precedentes dos tribunais, pois, nos dizeres de 
Perelman: 
A determinação da regra de direito, através de suas aplicações em casos 
concretos, pressupõe uma colaboração de fato entre os poderes legislativo e 
judiciário, sendo a importância de seus respectivos papeis variável conforme 
os casos. [...] A análise das decisões judiciárias fornece, assim, um excelente 
material para a constituição de uma lógica dos juízos de valor, integrados 
numa teoria geral da argumentação (2005: p. 615-620). 
Note-se que um antigo texto,ainda em vigência, tem atualmente uma 
interpretação diversa da época de sua edição, por vezes, pelo fato do legislador consagrar 
“com o seu silêncio, a interpretação nova que a jurisprudência fornece, de tempos em tempos, 
de um texto antigo” (PERELMAN: 2005, p. 625-626). 
92 
Resta claro, então, que a concepção estática da interpretação não tem mais lugar, 
pois o direito não pode ser identificado só como a lei. Com a dinâmica, o juiz adapta o direito 
às necessidades atuais, já que “o papel do juiz é tomar uma decisão, resolver, escolher, em 
nome do que considera o direito e a justiça, sabendo que suas decisões vão integrar-se no 
sistema de direito de que ele constitui um elemento central” (PERELMAN: 2005, p. 632). 
Realizou-se, então, uma abordagem de julgados em específico24. Foram 
consultados vários acórdãos25 da maioria dos tribunais do País26, porém só alguns foram 
selecionados, sendo que o corte metodológico incluiu os cinco incisos do artigo 121, §2º, do 
Código Penal. 
A análise foi realizada por incisos27, seguindo-se da argumentação sobre o 
julgado. Muitos dos julgados apresentaram déficit de fundamentação28 quanto à interpretação 
do enunciado normativo qualificador, às vezes sob o argumento de que o caso deve ser 
analisado pelo corpo de jurados e, na maioria das vezes, por haver adequação fática – mas 
sem análise técnica29 do enunciado. 
Ao final da análise dos julgados é possível afirmar que o legislador brasileiro 
tratou o crime de homicídio como a tradição moderna o trata, recebendo dela influência, ou 
seja, revelou no artigo 121 do Código Penal a importância do direito à vida para o sistema 
penal. 
O legislador estipulou uma forma simples de homicídio, mas também previu 
formas qualificadas quando o meio, a forma ou motivo do crime revelarem maior 
periculosidade do agente ou sua elevada perversidade. A estrutura do crime de homicídio é 
prevista no caput do artigo 121 do Código Penal, comumente chamado pela doutrina penal de 
tipo penal, sendo que os enunciados qualificadores estão previstos nos incisos do §2º do 
aludido artigo. 
Constatou-se que os enunciados normativos qualificadores não fazem parte da 
estrutura básica do crime de homicídio, pois são circunstâncias acidentais que elevam a 
reprimenda, mas não alteram a conduta que o legislador visa coibir – matar alguém. Notou-se 
 
24
 Confira a análise e as ementas no anexo 
25
 Cerca de cento e oitenta 
26
 Em alguns incisos também são abordados julgados do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal 
Federal 
27
 As ementas dos julgados estão no anexo 
28
 No sentido: “Percebe-se, na prática judiciária, uma precariedade argumentativa quanto à análise da teoria do 
delito [...] Há um déficit operacional nesse sentido, ao não se correlacionar adequadamente a prática jurídica com 
a teoria correspondente” (LOPES: 2010, p. 220) 
29
 No que se refere à interpretação do enunciado normativo 
93 
que há inúmeras discussões doutrinárias sobre a definição e a forma de interpretar os 
enunciados normativos qualificadores, mormente a extensão e o alcance na interpretação 
analógica. 
No estudo da primeira qualificadora (artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal) 
verificou-se que há duas correntes doutrinárias, uma que diminui a atuação do intérprete, na 
medida que limita o alcance da fórmula genérica (motivo torpe), pois restringe a aplicação da 
interpretação analógica a casos semelhantes aos da fórmula casuística (paga ou promessa de 
recompensa). A outra corrente doutrinária assevera que o legislador deixou ao intérprete a 
tarefa de complementar o enunciado normativo, ou seja, cabe ao exegeta definir o que é 
motivo torpe, sugerindo que a definição seja a expressada pela consciência jurídica atual. 
Na segunda qualificadora (artigo 121, §2º, inciso II, do Código Penal), verificou-
se que há uma tendência majoritária na doutrina brasileira, pois se define motivo fútil como 
sendo aquele de somenos importância, o banal, desproporcional ao ato de matar, ou seja, 
passível de aplicação da interpretação extensiva evolutiva. 
Na terceira qualificadora (artigo 121, §2º, inciso III, do Código Penal), a exemplo 
da primeira, há duas vertentes doutrinárias, sendo que uma relata que as expressões abertas 
(contidas no enunciado normativo qualificador) devem ser interpretadas à semelhança das 
fórmulas casuístas, aplicando-se a interpretação analógica, restringindo o alcance do texto 
legal. Já a outra, permite ao exegeta interpretar as cláusulas abertas de acordo com o sentido 
que expressam, independente da semelhança com os exemplos casuísticos apresentados pelo 
legislador, permitindo a incidência da interpretação extensiva progressiva/evolutiva. 
Na quarta e quinta qualificadoras (artigo 121, §2º, incisos IV e V, do Código 
Penal), notou-se a fragilidade dos argumentos da consciência jurídica atual, ou seja, a doutrina 
penal brasileira pouco discorre sobre a forma de interpretar os referidos enunciados 
qualificadores. No entanto, há também duas correntes doutrinárias, sendo que um 
posicionamento doutrinário restringe o alcance dos enunciados às hipóteses semelhantes aos 
exemplos do legislador (interpretação analógica), e o outro posicionamento permite uma 
interpretação desvinculada dos exemplos legais (interpretação extensiva 
progressiva/evolutiva), podendo, por exemplo, ser qualificado o crime de homicídio pela 
conexão de assegurar a vantagem de outro crime, mesmo que a vantagem não seja 
patrimonial. 
94 
Assim, notou-se que o legislador delegou ao intérprete a complementação do 
sentido e do alcance do enunciado qualificador aberto, havendo discussões doutrinárias sobre 
se há ou não limites ao intérprete, ou seja, de um lado o exegeta deve se espelhar nos 
exemplos casuísticos apresentados pelo legislador ou, de outro lado, o exegeta pode 
apresentar uma definição com alcance maior do enunciado normativo qualificador. 
Na análise dos julgados dos tribunais pretendeu-se demonstrar os problemas na 
interpretação e a valoração dos enunciados normativos incriminadores que contém termos 
vagos, ambíguos e abertos, restando claro que na prática judiciária há uma insegurança quanto 
ao sentido e o alcance dos citados enunciados penais. 
Com efeito, na análise de casos similares30, constatou-se que um tribunal31 
considerou o crime de homicídio qualificado por motivo torpe, enquanto que outro32 o 
considerou qualificado pelo motivo fútil. 
Em outros dois casos similares33, constatou-se que um tribunal34 considerou o 
crime de homicídio qualificado pelo perigo comum, sendo que o outro35 afastou a 
qualificadora sob o argumento de que não houve correta interpretação do enunciado 
normativo. 
Verificou-se, por fim, que na maioria36 dos casos não houve análise dos elementos 
constitutivos do enunciado normativo incriminador, pois os enunciados normativos 
qualificadores não são analisados pelos julgadores, havendo uma tendência em negar 
provimento aos recursos sob os argumentos de que não se deve excluir as qualificadoras da 
acusação quando não são manifestamente improcedentes; que o caso deve ser analisado pelo 
corpo de jurados; ou quando há duas vertentes nos autos (uma pró e outra contra a existência 
da qualificadora) e os jurados acatam uma delas, não havendo nulidade no julgamento. 
 
30
 Matar a companheira por ciúmes 
31
 Fl. 102 
32
 Fl. 115 
33
 Matar dirigindo veículo automotor em excesso de velocidade 
34
 Fl. 132 
35
 Fl. 126 
36
 Quase à unanimidade 
95 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A hermenêutica jurídica difere pouco da hermenêutica geral, destacando-se que 
naquela, no ato de aplicar o enunciado normativo ao caso concreto, há uma imposição 
autoritária para por fim ao conflito exegético.Vários são os métodos de interpretação apresentados pela hermenêutica, no 
entanto, um não pode excluir o outro, devendo haver uma harmonia, pois nenhum método é 
absoluto. 
O ato de interpretar deve buscar o justo, o correto, o coletivamente aceitável, pois 
nenhum método hermenêutico garante o acerto da decisão proferida ao caso concreto, mas 
apenas resultados possíveis. 
Todo enunciado normativo demanda interpretação, seja de terminologia fechada 
ou aberta, eis que, sem a tarefa do exegeta de complementar o texto legislativo, o enunciado 
nunca se adequará à singularidade dos casos concretos que evoluem diuturnamente e, sendo 
assim, várias significações podem ser apresentadas, não sendo mais aceito o brocardo in claris 
cessat interpretatio. 
O enunciado normativo é defeituoso por natureza e, ao compararmos com o caso 
concreto, verifica-se na maioria das vezes que não há uma correspondência imediata, exata, 
sendo natural a ambiguidade, já que a nenhuma expressão pode ser atribuído um único 
significado. 
O elemento normativo incriminador, denominado tipo penal, é por sua natureza 
abstrato e vago quanto ao sentido e o alcance de suas expressões que evoluem de acordo com 
a ordem social e os novos valores do Direito Penal.
O intérprete, quando aplica o enunciado normativo incriminador ao caso concreto 
corrige as imperfeições e ambiguidades do texto, fazendo com que a letra da lei, genérica e 
abstrata por natureza, seja reduzida à particularidade da realidade. 
Toda interpretação do enunciado normativo incriminador deve respeito à 
Constituição Federal, necessita ter suporte na norma superior sob pena de 
inconstitucionalidade, mas, quando se interpreta o enunciado quanto ao seu alcance e sentido, 
só terá validade se também tiver suporte na intenção da lei. 
96 
Os princípios constitucionais orientam o Direito Penal brasileiro como limitadores 
ao direito de punir, mas também são ideais a serem seguidos pelo intérprete no processo 
hermenêutico, já que expressam os valores e os fins almejados pela norma superior. 
A taxatividade/determinação, como princípios da legalidade, são orientações que 
devem ser seguidas pelo Poder Legislativo no ato de legislar em Direito Penal. No entanto, 
tais princípios não limitam a atividade hermenêutica na interpretação evolutiva e progressiva, 
já que atualiza o sentido e o alcance do enunciado normativo que foi elaborado com 
terminologia comum à época de sua edição. 
Na elaboração do enunciado normativo incriminador há uma tendência de se optar 
por termos claros e objetivos, com elementos de fácil percepção que auxiliam a análise do 
enunciado, facilitando a aplicação da norma ao caso concreto. 
Se existirem no enunciado normativo elementos abertos ou genéricos, a análise 
será mais dificultosa, mas não impossível, pois a certeza exigida pelos princípios da 
legalidade e da taxatividade/determinação será revelada pela análise do processo 
hermenêutico utilizado pelo intérprete, nas técnicas de interpretação e argumentação, sendo 
que, poderá ser chamada de justa a decisão que expressar os princípios constitucionais, for 
decorrente do texto da lei, seguir a orientação da consciência jurídica geral e dos precedentes, 
enfim, for aceitável coletivamente. 
O elemento normativo incriminador aberto ou fechado, ao longo do tempo é 
interpretado de forma diversa, adaptando-se, renovando-se paulatinamente, sem, contudo, 
ferir os princípios da legalidade e da taxatividade/determinação, pois o processo hermenêutico 
é realizado a partir do texto da lei, nos limites das palavras e das expressões que contém. 
O enunciado normativo incriminador aberto ou fechado, por não exprimir 
conceitos, permite diferentes interpretações, sendo que a vagueza e a imprecisão devem ser 
complementadas pelo intérprete, buscando o sentido e o alcance na intenção da lei que, por 
vezes, não vem expressa com todas as letras. 
Há uma falsa segurança jurídica na exigência de formulação de enunciados 
normativos fechados, pois mesmo que se atenda aos princípios da legalidade e da 
taxatividade/determinação, nada impede que vários sentidos possam ser atribuídos ao 
enunciado normativo incriminador que se diz fechado. 
A segurança jurídica exigida pelos princípios da legalidade e da 
taxatividade/determinação só se implementa quando o significado atribuído ao enunciado 
97 
normativo vir acompanhado de fundamentação na qual seja possível identificar o processo 
hermenêutico. 
A natural ambiguidade dos enunciados normativos incriminadores não ofende aos 
princípios da legalidade e da taxatividade/determinação pelo fato de que há segurança jurídica 
nos processos hermenêuticos que demonstram, de forma racional e controlável, que o sentido 
e o alcance do enunciado apresentado ao caso concreto são aceitáveis coletivamente. 
No processo hermenêutico o intérprete, ao buscar o sentido e o alcance do 
enunciado normativo, deve buscar a intenção da lei, não a professada na occasio legis, mas a 
atual, pois o direito é vivo, transforma-se e evolui de acordo com a sociedade e seus valores. 
O intérprete deve buscar o sentido e o alcance do enunciado normativo na vontade 
da lei a fim de viabilizar que a letra fria do texto se harmonize com a realidade da vida, 
fazendo com que o texto da lei não seja considerado ultrapassado e sem aplicação. 
No Direito Penal, na interpretação evolutiva e progressiva, o intérprete deve 
considerar a lógica sistêmica, ou seja, analisar o enunciado normativo em todo o ordenamento 
jurídico, pois só assim encontrará a intenção da lei na proteção dos bens jurídicos. 
Na interpretação extensiva, pela lógica jurídica, o intérprete deve buscar o sentido 
e o alcance do enunciado normativo no espírito da lei, ou seja, a intenção proibitiva de 
condutas nocivas ao bem juridicamente protegido, sendo que se estatuí que uma conduta na 
sua singularidade é proibida, condutas semelhantes que atinjam o mesmo bem também serão 
proibidas. 
A exigência do modelo penal garantista, de que os enunciados normativos 
incriminadores devem ser objetivos e taxativos, deve ser observada com reservas, pois se o 
termo do texto da lei não permitir uma interpretação extensiva acabará por inviabilizar a 
própria lei, em curto prazo de tempo, diante da volatilidade das situações reais da sociedade. 
Modernamente, opta-se, no processo legislativo, pela edição de enunciados 
normativos abertos, fazendo com que, pela interpretação extensiva, a lei tenha vigência por 
longo tempo, pois com o passar dos anos é atualizada pelo intérprete, face às alterações 
sociais, renovando-a e a revalidando. 
O intérprete, diante do caso concreto, cria a norma para resolver os conflitos, 
dando vida ao enunciado normativo que era abstrato, adequando-o à realidade atual. No 
entanto, só será justo se o processo hermenêutico demonstrar que a interpretação está nos 
98 
termos da intenção da lei e apresentar, de modo convincente, os valores dominantes da 
sociedade. 
O enunciado normativo incriminador, seja fechado ou aberto, está em constante 
evolução e ganha novos significados de acordo com a mudanças sociais, sendo falsa a 
afirmação de que elementos normativos previstos de forma objetiva garantem segurança 
jurídica, pois com o passar do tempo, novos alcances e novas significações lhe são atribuídos. 
A interpretação evolutiva e progressiva não afronta os princípios da legalidade e 
da taxatividade/determinação, já que tal processo hermenêutico apenas adequa o enunciado 
normativo à realidade atual, dando ao Direito Penal a dinâmica necessária para não se tornar 
obsoleto e distante da sociedade. 
Na interpretação extensiva evolutiva/progressiva o intérprete busca o sentido da 
lei para apresentar um resultado de acordo com a realidade, ou seja, há a evolução, o 
progresso do enunciado normativo. 
Na interpretação analógica, o intérpretebusca o sentido da lei nos exemplos 
apresentados pelo enunciado incriminador e apresenta um resultado de acordo com o 
paradigma legal. 
Seja na interpretação extensiva ou na analógica, sempre há a intenção da lei e, se 
assim é, o intérprete para apresentar um resultado razoável, deve atualizar o texto à realidade 
da vida, aproximando-o das questões diárias da sociedade. 
No enunciado normativo genérico, acompanhado de fórmula casuística, o 
intérprete, como primeiro passo, deve partir da semelhança do texto posto pelo legislador para 
aplicá-los ao caso concreto, desde que seja similar, utilizando-se do sentido usual do termo. 
Na interpretação do enunciado normativo genérico, acompanhado de fórmula 
casuística, o intérprete vincula-se ao exemplo legal somente no primeiro passo do processo de 
interpretação. No segundo passo, todavia, não está vinculado, eis que deve atender aos fins da 
lei e apresentar um resultado que se adeque à evolução social e jurídica. 
Na interpretação do enunciado normativo aberto, conforme teoria da tipicidade 
conglobante, o intérprete, para inclusão de tipicidade, busca amparo no ordenamento jurídico 
total para complementar o texto da lei, adequando-se um vetusto enunciado normativo às 
legislações modernas. 
99 
Na interpretação do enunciado normativo incriminador, há de se observar a 
antinormatividade da conduta descrita no ordenamento jurídico total e, se assim for, pode 
ocorrer a interpretação extensiva, abarcando hipóteses não descritas expressamente pelo 
legislador, mas que pela interpretação extensiva fundamentada na teoria da tipicidade 
conglobante – se supõe que era a vontade da lei abarcá-las. 
Os magistrados, quando apresentam a decisão, criam a norma para o caso 
concreto, partindo do texto apresentado pelo legislador. No entanto, para que a decisão seja 
justa e controlável, para que não seja arbitrária, deve vir acompanhada de dados que indiquem 
que processo hermenêutico e quais métodos de interpretação foram utilizados. 
A lei penal vincula a atividade do magistrado, eis que executor do texto criado 
pelo Poder Legislativo. No entanto, sua atividade não está restrita aos termos e expressões 
contidas na lei, pois deve complementar o processo legislativo, ampliando o sentido e o 
alcance do enunciado normativo à atualidade do direito, respeitando a intenção da lei em seu 
conteúdo. 
Os magistrados estão vinculados ao texto apresentado pelo legislador, mas, 
quando criam a norma para o caso concreto, adequam o enunciado normativo à circunstâncias 
fáticas e jurídicas presentes no momento da decisão e não às da época da edição da lei. 
Nos enunciados normativos abertos, os magistrados ao criarem a norma para o 
caso concreto, complementam a lacuna deixada pelo texto, adequando-o aos fins da lei, nos 
termos da situação atual. 
A interpretação do enunciado normativo aberto, realizada pelo magistrado, é 
tarefa complementar à do legislador e passível de controle na análise da fundamentação 
exposta na decisão. 
O magistrado apresentará uma interpretação aceitável quando se extrai do 
processo hermenêutico que a decisão está de acordo com a consciência jurídica geral e com os 
precedentes dos tribunais. Assim, há controlabilidade no processo decisório, pois da 
argumentação utilizada pelo magistrado pode-se saber quais foram os métodos utilizados para 
se chegar à conclusão apresentada e, assim, criticá-la e avaliá-la como justa ou injusta. 
A interpretação do enunciado normativo, pelo magistrado, será inaceitável quando 
não vier acompanhada de processo hermenêutico que demonstre como chegou ao resultado 
apresentado, sendo, então, fruto da arbitrariedade.
100 
A tarefa do magistrado na interpretação do enunciado normativo incriminador 
parte do texto da lei, mas, ao aplicá-lo ao caso concreto, apresentará o processo hermenêutico 
com os métodos de interpretação utilizados para dizer o direito, ou seja, se o enunciado 
normativo em seu conteúdo, alcance e sentido aplica-se ao fato concreto da vida, e se encontra 
no sentido que a lei visa coibir. 
No crime de homicídio, o legislador tipificou certas condutas de forma aberta e 
genérica, sendo necessária a utilização da interpretação extensiva, evolutiva e progressiva no 
primeiro caso e, no segundo, da interpretação analógica, para se encontrar o sentido e o 
alcance dos enunciados normativos qualificadores. 
Assim, a interpretação dos enunciados normativos qualificadores, na dinâmica, 
com a interpretação extensiva, evolutiva e progressiva ou pela interpretação analógica, deve 
se orientar pela consciência jurídica geral, o que pensam os juristas, e pelos precedentes 
jurisprudenciais da atualidade, o que os tribunais decidem. 
Segundo a consciência jurídica geral, atualmente, motivo torpe pode ser 
considerado como aquele que causa uma repulsa social, a especial repugnância na motivação 
do ato de matar, entendimento também aceito pelos precedentes jurisprudenciais. 
Nos termos da consciência jurídica geral, o motivo fútil, atualmente, pode ser 
classificado como aquele que apresenta uma desproporcionalidade com o ato de matar, o 
desarrazoado, entendimento também aceito pelos precedentes jurisprudenciais. 
Já o perigo comum, como resultado oriundo do ato de matar, segundo a 
consciência jurídica geral atual, é qualquer meio que, além de causar a morte da vítima 
visada, também causa perigo comum a um número indeterminado de pessoas, orientação 
também professada nos precedentes jurisprudenciais.
Segundo os precedentes jurisprudenciais e a consciência jurídica geral e atual, 
recurso que impossibilita ou dificulta a defesa do ofendido é qualquer meio que indique que a 
vítima foi atacada de surpresa, de forma que não esperava o ataque, ou seja, a vítima não pode 
se defender ou quando pode foi dificultada pelo ato inesperado do seu algoz. 
Por fim, segundo a consciência jurídica geral e atual e os precedentes 
jurisprudenciais, o crime de homicídio será qualificado por conexão com outro crime desde 
que haja intenção maléfica do agente em praticar um crime contra a vida para poder praticar 
outro crime (assegurar a execução), a fim de que o crime cometido permaneça desconhecido 
das autoridades ou da vítima (assegurar ocultação), para que a autoria do crime cometido 
101 
fique desconhecida das autoridades (assegurar impunidade) ou para obter o produto, proveito 
ou preço do crime, qualquer que seja, com ou sem conotação econômica (assegurar a 
vantagem de outro crime). 
Na análise das qualificadoras do crime de homicídio é possível a aplicação da 
interpretação extensiva, dando-se ao texto da lei novo sentido e alcance, nos termos da 
realidade. Busca-se com isso a lógica de um sistema dinâmico, como por exemplo, estender a 
abrangência da qualificadora do perigo comum a quaisquer condutas que além de matar a 
vítima visada, também causam qualquer perigo a um número indeterminado de pessoas, v.g., 
atirar na vítima em local habitado por várias pessoas ou matar alguém na direção de veículo 
automotor (disputando racha, embriagado e com excesso de velocidade) em via pública na 
qual se encontram várias pessoas trafegando/transitando. 
Pode-se, ainda, com a interpretação extensiva, estender o sentido e o alcance da 
qualificadora do motivo torpe, pensada inicialmente para os crimes mercenários, para toda 
conduta de matar que for motivada, hodiernamente, por assuntos que causem asco e 
repugnância social, ou seja, torpe na acepção atual. 
Notou-se uma insegurança nos precedentes dos tribunais brasileiros, casos 
semelhantes sendo julgados de forma diversa, talvez pelo fato de não haver a demonstração 
do processo hermenêutico sobre o sentido e o alcance do enunciado normativo aberto ou 
genérico. 
Há um déficit de fundamentação nos precedentes dos tribunais brasileiros, pois 
não há análise do sentido e alcance dos enunciados normativos,havendo, na maioria dos 
casos, somente análise de subsunção. 
O déficit também é encontrado nos precedentes dos tribunais brasileiros nas 
decisões processuais, chamadas de jurisprudência defensiva, eis que os recursos não são 
conhecidos, ou quando conhecidos são improvidos com base em brocardos e súmulas que 
impedem a análise da interpretação dos enunciados normativos. 
Concluindo, a hipótese de que a previsão da cláusula genérica no enunciado 
normativo incriminador, que demanda interpretação analógica, afronta o princípio da 
legalidade restou refutada, pois o intérprete se atém ao texto e à intenção da lei. 
De outro lado também restou refutada a hipótese de que a interpretação 
progressiva e evolutiva de um enunciado normativo incriminador com cláusula genérica 
afronta o princípio da legalidade, pois o intérprete parte do texto da lei e, considerando a 
102 
evolução social, apresenta significados novos de acordo com a realidade, revigorando a 
intenção da lei. 
A hipótese de que seria possível compatibilizar o princípio da legalidade com a 
interpretação progressiva e evolutiva restou comprovada: a) quando a lei apresenta o 
enunciado normativo oriundo de processo legislativo e encontra amparo na norma superior; b) 
quando o intérprete utiliza os termos da lei no sentido usual, nos termos da consciência 
jurídica e dos precedentes; c) quando o intérprete utiliza as cláusulas casuísticas como 
paradigma para casos semelhantes; d) quando o intérprete, ao aplicar a interpretação evolutiva 
e progressiva, ampara-se na teoria da tipicidade conglobante, eis que no primeiro passo utiliza 
o sentido comum do termo, no segundo utiliza o exemplo casuístico como paradigma e, no 
terceiro passo, amplia o sentido e o alcance do enunciado normativo incriminador com base 
no ordenamento jurídico total. 
Finalmente, pode-se assentar que, de toda forma, seja pela aceitação ou não da 
interpretação extensiva (evolutiva/progressiva) ou analógica, qualquer que seja o resultado da 
interpretação do enunciado normativo incriminador trata-se de um dos possíveis resultados, 
mas enfatiza-se que tal interpretação só poderá ser considerada justa se for coletivamente 
aceitável, se for equitativa e razoável e, só será, se a fundamentação demonstrar de forma 
convincente, pelos métodos de interpretação, que a decisão está conforme a Constituição 
Federal, conforme a intenção da lei e nos termos da realidade atual. 
103 
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Disponível em <http://www.tj.sp.jus.br> Acesso em junho de 2013. 
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. ÓRGÃO: OITAVO GRUPO 
DE DIREITO CRIMINAL, CLASSE: REVISÃO CRIMINAL, N. PROCESSO: 0113323-
03.2011.8.26.0000. Disponível em <http://www.tj.sp.jus.br> Acesso em junho de 2013. 
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. ÓRGÃO: PRIMEIRA 
CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, CLASSE: 
APELAÇÃO, N. PROCESSO: 963.620.3/3-00. Disponível em <http://www.tj.sp.jus.br> 
Acesso em junho de 2013. 
112 
TOCANTINS. Tribunal de Justiça do Tocantins. ÓRGÃO: 3ª TURMA 
JULGADORA DA 2ª CÂMARA CRIMINAL - CLASSE: RSE – RECURSO EM SENTIDO 
ESTRITO – PROCESSO N. 5010008-37.2013.827.2706. Disponível em 
<http://www.tjto.jus.br> Acesso em janeiro de 2013.
113 
6. ANEXO 
6.1 – Análise de Julgados dos incisos do §2º do artigo 121 do 
Código Penal brasileiro 
6.1.1 Motivo torpe37
a)38 Verifica-se do acórdão que o réu foi denunciado pelo Ministério Público 
como incurso no artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, pois teria agredido a vitima, 
mediante espancamento, deixando-a sangrar até a morte, sem prestar-lhe o devido socorro. 
Consta ainda do julgado que o motivo do crime consubstancia-se no fato de que o réu 
“admitiu ter sido acometido de ciúme por suspeitar que estivesse sendo traído pela 
companheira”. Os Desembargadores, à unanimidade, mantiveram a qualificadora do motivo 
torpe, sob o fundamento de que o ciúme configura a torpeza da atitude do réu. 
Analisando o fato concreto, verificou-se que, na atitude do réu ao agredir sua 
companheira até a morte por ciúme, há indicativo de torpeza. Não se olvida que é comum 
encontrarmos na doutrina39 que o ciúme não é indicativo de torpeza ou futilidade, sendo um 
sentimento comum. 
Tal posicionamento é equivocado – pelo menos no caso de violência entre casais 
–, pois não se pode considerar como um sentimento comum o ciúme doentio que causa a 
morte de uma mulher, não se pode considerar como um sentimento comum o ciúme capaz de 
gerar na mente do homem a vontade de matar. 
De outro lado, ao analisarmos o dispositivo qualificador motivo torpe, constata-se 
que se trata de uma cláusula genérica com paradigmas casuísticos. Verifica-se que, a princípio 
a torpeza deveria cingir-se somente a fatos semelhantes à fórmula casuística – crime 
mercenário. No entanto, tal exegese seria uma indevida limitação ao processo de interpretação 
analógica, pois nos termos da interpretação progressiva/evolutiva, o direito deve ser 
interpretado – inclusive em Direito Penal – de forma a atualizar o enunciado normativo aos 
dias atuais. 
 
37
 Artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal 
38
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Primeira Turma Criminal, N. Processo: 2012 
06 1 008 482-2, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
39
 O ciúme, por si só, como sentimento comum à maioria da coletividade, não se equipara ao motivo torpe 
(BITENCOURT: 2012, p. 83) 
114 
Assim, à época dos fatos o legislador apresentou exemplos de crimes que 
causavam repulsa social (a torpeza) e elencou o exemplo casuístico comum à época (crime 
mercenário). No entanto, com a evolução da sociedade, outros fatos passaram a integrar o rol 
da torpeza. No caso julgado, constata-se que o réu, por ciúmes, agrediu e matou sua 
companheira. Tal conduta, por si só, atualmente é considerada torpe, abjeta, pois a sociedade 
não tolera tal proceder, sendo, inclusive, ilícito autônomo, conforme dicção da Lei Maria da 
Penha40. 
Com efeito, o ciúme não justifica o ato tresloucado de Otelo, devendo, sim, ser 
considerado torpe, eis que abjeto, causa uma repulsa social, tanto é que os movimentos 
sociais, desde a década de setenta, evidenciaram que a violência contra a mulher, sob o slogan 
quem ama não mata, não se justificava e que não mais se pode alegar a malfadada legítima 
defesa da honra (MATOS; CORTES: 2011, p. 39). 
Note-se que a sociedade passou a considerar os crimes de homicídio passionais 
como repulsivos, resultando na edição da Lei Maria da Penha, que visa coibir a violência 
contra a mulher, pois em 2010 a taxa de homicídios femininos foi de 4,4 mortes de mulheres 
por 100 mil habitantes (REVISTA: Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as 
Mulheres: 2011, p. 6). 
Destarte, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal de 
forma mais abrangente, bastando aplicar a teoria da tipicidade conglobante41, analisando-se o 
dispositivo qualificador no sistema – não simplesmente frente às fórmulas casuísticas, mas em 
todo o sistema penal. Com efeito, se o legislador atual entende que qualquer forma de 
agressão à mulher é ilícito penal, civil e familiar, também o será para qualificar o crime de 
homicídio – pois coíbem a agressão por ciúmes42. 
Portanto, se a qualificadora em comento visava punir mais severamente o crime 
de homicídio que também causasse repulsa social, é legítima a interpretação que amplia o rol 
 
40
 Artigo 7º, inciso II, da Lei n. 11.340/2006: São formas de violência domésticae familiar contra a mulher, entre 
outras: I – in omissis; II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe causa dano 
emocional ou diminuição da autoestima ou que lhe prejudique ou perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise 
degradar ou controlar suas ações [...] 
41
 No sentido não comumente utilizado, mas nos termos do escólio de Eugênio Raúl Zaffaroni: Pode-se 
argumentar que, assim como a consideração conglobante da norma anteposta ao tipo pode revelar que uma 
conduta abarcada pelo tipo penal, na realidade não está proibida, pode também acontecer o contrário, ou seja, 
que uma conduta que não seja alcançada pelo tipo legal apareça como proibida ante a consideração conglobante 
da norma anteposta a ele (ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 523). (grifei) 
42
 Nos termo do artigo 2º e 5º da Lei n. 11.340/2006, a agressão moral e psíquica é fato ensejador da 
interferência estatal – por não ser mais aceito pela sociedade 
115 
para além dos exemplos da fórmula casuística, eis que permitido pela interpretação analógica 
progressiva/evolutiva, bem como pela análise frente à tipicidade conglobante. 
b)43 Do relatório do julgado se extrai que o réu foi denunciado como incurso no 
artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, pois teria desferido golpes na vítima, com um 
pedaço de madeira, ocasionando o óbito. Segundo o Ministério Público, a motivação do crime 
se deu pelo fato de desacerto envolvendo o comércio de entorpecentes, bem como pelo fato de 
que a companheira do réu estava deixando-o para se relacionar com a vítima. 
Os desembargadores mantiveram a condenação do réu à unanimidade, no entanto, 
não adentraram na análise da incidência ou não da qualificadora do motivo torpe, eis que, ao 
que parece, o recurso interposto pela defesa era genérico e pleiteava a absolvição, bem como a 
nulidade do julgamento. Mas interessa saber se o fato de matar por dívida de drogas pode ser 
considerado homicídio qualificado por motivo torpe, pois, como cediço, o enunciado 
qualificador traz a fórmula casuística de matar mediante paga ou promessa de recompensa, 
paradigma da cláusula genérica – torpeza. 
Com efeito, a decisão de condenação pelo motivo torpe encontra amparo na 
interpretação progressiva/evolutiva, bem como na teoria da tipicidade conglobante44. À época 
da promulgação do Código Penal, o legislador trouxe exemplos de crimes que demonstravam 
a torpeza, casuísticos comuns à época. No entanto, a sociedade evoluiu e outros fatos 
passaram a causar a repulsa social acentuada, o asco social. O direito, como sistema vivo, 
também deve evoluir e abarcar as novas situações que são declaradas diuturnamente, pela 
sociedade, abjetas. 
No caso julgado, constata-se que o réu matou a vítima diante do desacerto de 
mercancia de entorpecentes, ou seja, tal conduta – comércio de drogas –, por si só, atualmente 
é considerado crime autônomo, conforme a Lei 11.343/200645. 
 
43
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, N. Processo: 2010 
01 1 227 873-0, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
44
 No sentido já apontado em nota acima. 
45
 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter 
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, 
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
multa. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, 
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação 
legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; 
116 
Assim, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal de forma 
a abranger o caso em comento, bastando analisar o dispositivo qualificador no sistema – não 
simplesmente frente à fórmula casuística, mas no sistema penal geral, pois se o legislador 
atual entende que comerciar entorpecentes é crime, também o será para qualificar o crime de 
homicídio – pois ambos são espécies de enunciados normativos que coíbem a torpeza, qual 
seja: repulsa social no ato da mercancia de drogas.
Portanto, se a qualificadora em comento visava punir mais severamente o crime 
de homicídio que causasse asco social, é legítima a interpretação que amplia o rol para além 
dos exemplos da fórmula casuística, eis que permitido pela interpretação analógica 
progressiva/evolutiva, bem como pela análise frente à tipicidade conglobante. 
c)46 Constata-se do julgado que o réu foi denunciado como incurso no artigo 121, 
§2º, incisos I e IV, cc artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, por ter efetuado disparos 
de arma de fogo contra a vítima no intuito de matá-la. O Ministério Público argumentou que o 
motivo foi torpe, eis que “decorrente de desavença proveniente de um empréstimo de arma de 
fogo”. No recurso os desembargadores, à unanimidade, mantiveram na acusação a 
qualificadora. 
Mais uma vez surge o problema da interpretação analógica ou extensiva, pois, 
como já visto, o enunciado qualificador apresenta, a exemplo de motivo torpe, o homicídio 
mercenário, literalmente distante da motivação apontada pelo Ministério Público no julgado 
em comento. 
Na fundamentação do julgado verifica-se que não se adentra na questão da 
interpretação do enunciado normativo qualificador, pelo contrário, no recurso utiliza-se a 
 
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, 
de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; 
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou 
vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo 
com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. 
§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI 4274) 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. 
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a 
consumirem: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) 
dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. 
§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois 
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons 
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, 
de 2012) 
46
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Terceira Turma Criminal, N. Processo: 2012 
04 1 008 389-8, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
117 
manobra processual de que, quando não “se evidencia que as mencionadas qualificadoras são 
manifestamente improcedentes ou destituídas de amparo no contexto fático-probatório dos 
autos”, devem ser mantidas para serem apreciadas pelo corpo de jurado. 
Com efeito, tal tarefa é técnica por demais e não pode ser deixada aos juízes 
leigos47. Deve o magistrado – como intérprete construtor – analisar se a interpretação que se 
dá ao texto é razoável e aceitável pelos juristas, pelas partes e pela sociedade. 
Pois bem, emboranão contenha fundamentação sobre a questão da extensão do 
enunciado normativo, pode-se apresentar uma interpretação, mantendo-se a acusação, como 
formulada, já que há amparo. Ora, o réu, com intenção de matar, assim agiu devido a um 
desacerto de um empréstimo de uma arma de fogo que, como sabido, por si só, é uma conduta 
coibida pela legislação penal48. 
Assim, eventual condenação do réu por homicídio com motivo torpe encontra 
amparo na interpretação progressiva/evolutiva, bem como na teoria da tipicidade 
conglobante49, eis que se atualiza o modelo de torpeza de acordo com a evolução da 
sociedade, pois não é mais tolerável, causando repulsa social, que se empreste arma de fogo – 
ainda que gratuitamente. 
Destarte, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal de 
forma a abranger o caso em comento, bastando analisar o dispositivo qualificador no sistema 
– não simplesmente frente à fórmula casuística, mas no sistema penal geral, já que, se o 
legislador atual estabeleceu que ceder ou emprestar arma de fogo é crime, também o será para 
qualificar o crime de homicídio, ampliando o rol para além dos exemplos da fórmula 
casuística, eis que permitido pela interpretação analógica progressiva/evolutiva, bem como 
pela análise frente à tipicidade conglobante. 
d)50 Do relatório e do voto do Desembargador Relator extrai-se que o réu foi 
denunciado como incurso no artigo 121, §2º, incisos I e IV, do Código Penal, pelo fato de 
desferir disparos de arma de fogo, contra a vítima, ocasionando sua morte. Narrou o 
Ministério Público que o motivo do crime foi torpe pelo fato de que o réu estava se vingando, 
 
47
 O corpo de jurados. 
48
 Art. 14. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que 
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou 
munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – 
reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (grifei) 
49
 No sentido já apontado em nota acima. 
50
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, N. Processo: 2012 
03 1 004 250-2, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
118 
pois a vítima tinha tentado roubar seu boné em data anterior. No recurso os desembargadores, 
à unanimidade, mantiveram na acusação a qualificadora. 
Da análise do caso surge novamente o problema da interpretação do enunciado 
normativo qualificador. É possível considerar a vingança como motivo torpe? Estaria a 
vingança dentro da semelhança do catalogo casuístico51 apresentado pelo legislador no inciso 
I do artigo em comento? 
São perguntas que não foram respondidas no julgado, pois os desembargadores 
mantiveram a sentença do corpo de jurados sob o fundamento de que se baseou em prova 
fática. Com efeito, não se analisou – mesmo havendo prova incontroversa de que houve 
vingança – se tal proceder do réu pode ser equiparado a motivo torpe, pois na literalidade do 
texto há uma distância muito grande da fórmula casuística.52
Analisando o caso fático sob a ótica da interpretação da tipicidade conglobante53, 
verifico que é possível manter a torpeza na acusação, tal como formulada. Ora, o réu, com 
intenção de matar, assim agiu, movido pelo sentimento de vingança, pois foi vítima de roubo, 
ou seja, estava fazendo justiça com as próprias mãos que, como cediço, por si só, é uma 
conduta coibida pela legislação penal54. 
Portanto, eventual condenação do réu por homicídio por motivo torpe encontra 
amparo, pois a torpeza se apresenta no fato de que o réu não podia fazer justiça com as 
próprias mãos – matando a vítima – mesmo sendo ela suspeita de um crime. 
Enfim, ao se interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, inclui-se 
como torpe o exercício arbitrário das próprias razões – analisando o dispositivo qualificador 
no sistema penal em geral, pois também é crime, ampliando-se o rol para além dos exemplos 
da fórmula casuística. 
e)55 Consta do julgado que o Ministério Público denunciou o réu como incurso 
nos artigos 121, §2º, incisos I e IV (vítima Eloá), 121, §2º, incisos I e IV, combinado com 14, 
inciso II (vítima Nayara), 121, §2º, inciso V, combinado com 14, inciso II (vítima Atos), 148, 
 
51
 Mediante paga ou promessa de recompensa 
52
 Homicídio mercenário 
53
 No sentido já apontado em nota acima. 
54
 Art. 345. Fazer justiça com as próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a leio o 
permite: Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. 
55
 Tribunal de Justiça de São Paulo, Órgão: 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. 
APELAÇÃO. N. 9000016-07.2008.8.26.0554, disponível em <www.tj.sp.jus.br> 
119 
§1º, inciso IV, por cinco vezes (vítimas Eloá, Victor, Iago e Nayara, esta por duas vezes), 
todos do Código Penal. 
Narrou o parquet que o réu, com vontade de matar, efetuou disparos de arma de 
fogo acarretando o óbito de sua ex-namorada. A motivação, segundo a acusação, seria torpe, 
eis que o réu assim agiu “por ciúmes e brigas”, já que a vítima encerrou o relacionamento, 
fato não aceito pelo réu e que, no dia dos fatos, a vítima não quis reatar o namoro. Os 
desembargadores mantiveram na acusação a qualificadora em comento. 
Verifica-se do julgado que os desembargadores fundamentaram que o crime seria 
de motivação torpe pelo fato de “que na hipótese dos autos, seria a vingança, seu 
inconformismo com o término do relacionamento”. Os desembargadores ainda 
fundamentaram sua decisão transcrevendo doutrina sobre o tema na qual é afirmado que o 
motivo torpe é aquele “vil, imoral, desprezível e que contrasta com a moralidade média”. 
O Tribunal agiu com acerto, eis que realmente matar sua ex-namorada por ciúmes 
é de motivação abjeta. Com efeito, não se tolera mais o entendimento de que o ciúme doentio 
é um sentimento comum, não se pode considerar comum o sentimento capaz de gerar na 
mente do homem a vontade de matar. 
Ora, ao analisarmos o enunciado qualificador em comento, verifica-se que o 
legislador trouxe exemplos de torpeza e segue com uma cláusula genérica, sendo que a 
torpeza não pode se cingir somente a fatos semelhantes aos da fórmula exemplificativa. 
Note-se que, aplicando-se a interpretação analógica, nos termos da interpretação 
progressiva/evolutiva, atualiza-se o enunciado normativo aos dias atuais. Não se pode olvidar 
que à época da edição do Código Penal havia a malfadada “legítima defesa da honra” – não 
tolerada nos dias atuais. Com efeito, se o réu, por ciúmes, matou sua ex-namorada, agiu com 
torpeza, pois quem ama não mata e, conforme evolução do direito, hoje quem atentar contra a 
integridade física e mental da mulher pratica ato ilícito nos termos da Lei Maria da Penha. 
f)56 Conforme consta do julgado o Ministério Público denunciou o réu como 
incurso no artigo 121, §2º, inciso I e III, do Código Penal, pois teria esganado a vítima após 
discussão entre o casal. O motivo do crime, segundo a acusação, seria acerca de valores que o 
réu teria subtraído da vítima. O Ministério Público relatou que antes da data dos fatos houve 
 
56
 Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Órgão: Segunda Câmara Criminal - Classe: RSE – Recurso em Sentido 
Estrito – Processo N. 0072201-68.2012.8.19.0000, disponível em <www.tjrj.jus.br> 
120 
uma discussão entre réu e vítima sobre valores que o primeiro tinha subtraído da segunda, 
sendo que no dia dos fatos o réu, para se vingar, matou a vítima por asfixia. 
Os desembargadores mantiveram a sentença que pronunciou o réu por ter 
praticadocrime de homicídio por motivo torpe (discussão sobre valores) e meio cruel 
(asfixia). 
Analisando o julgado constata-se que houve acerto, eis que a interpretação 
apresentada ao artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal está em consonância ao que dispõem 
a doutrina e os precedentes em casos semelhantes, ou seja, que o crime foi torpe pelo motivo 
mercenário. Com efeito, o enunciado qualificador traz os exemplos casuísticos, paga ou 
promessa de recompensa e a fórmula genérica, ou outro motivo torpe. 
Vimos no presente estudo que há parte da doutrina sustentando que a fórmula 
genérica é hipótese de interpretação extensiva e integrativa, sendo que o intérprete não deve 
se afastar da semelhança com os exemplos apresentados pelo legislador. Pois bem, se assim é, 
o julgado em comento teve acerto, eis que os desembargadores relataram que “[...] a prova 
colhida, demonstra que a discussão que teria supostamente motivado o homicídio referiu-se à 
subtração de determinada quantia em dinheiro pertencente à vítima, portanto, evidenciado o 
motivo torpe”. 
Destarte, fica evidente que houve a interpretação extensiva não se afastando do 
modelo casuístico que incida crime por motivo vil – o crime mercenário. No entanto, o crime 
pode ser considerado motivado pela torpeza quando há o indicativo mercenário, bem como 
quando o fato cause o asco social – a torpeza que o próprio termo indica – que será suficiente 
para qualificar o crime de homicídio. 
Ora, no caso dos autos houve a morte da companheira do réu, ou seja, motivação 
de gênero, contra a mulher em relação doméstica. Consta que o réu subtraiu dinheiro de sua 
companheira, a ameaçou e, ao fim, a matou por esganadura. O crime é torpe, seja pelo fato de 
envolver quantia em dinheiro, seja por ter matado a mulher em situação de violência 
doméstica. 
Exigir do intérprete que só considere torpe o motivo mercenário é uma indevida 
limitação ao processo de interpretação analógica, pois nos termos da interpretação 
progressiva/evolutiva, o direito deve ser interpretado – inclusive em direito penal – de forma a 
atualizar o enunciado normativo aos dias atuais. 
121 
Assim, com a evolução da sociedade, outros fatos passaram a integrar o rol da 
torpeza, sendo que no caso em análise constata-se que o réu, por discussão de companheiros, 
ameaçou e ao fim matou sua companheira, ou seja, tal conduta, por si só, atualmente é 
considerada torpe, abjeta, pois a sociedade não tolera tal proceder, sendo, inclusive, ilícito 
autônomo, conforme dicção da Lei Maria da Penha57. 
Posto isso, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I do Código Penal de 
forma mais abrangente, bastando aplicar a teoria da tipicidade conglobante58, analisando-se o 
dispositivo qualificador no sistema – não simplesmente frente às fórmulas casuísticas, mas em 
todo o sistema penal. Com efeito, se o legislador atual entende que qualquer forma de 
agressão à mulher é ilícito penal, civil e familiar, também o será para qualificar o crime de 
homicídio. 
Portanto, se a qualificadora em comento visava punir mais severamente o crime 
de homicídio que também causasse repulsa social, é legítima a interpretação que amplia o rol 
para além dos exemplos da fórmula casuística, pois permitido pela interpretação analógica 
progressiva/evolutiva, bem como pela análise frente à tipicidade conglobante. 
g)59 Se extrai do julgado que o Ministério Público denunciou o réu como incurso 
nos artigos 121, §2º, incisos I, II e III, 212, e 244-B, todos do Código Penal, pois o réu, na 
companhia de um menor, teriam esfaqueado a vítima e ateado fogo em seu cadáver. Segundo 
a acusação, a motivação do crime foi torpe, pois a vítima teria dito que estaria grávida do réu 
e, assim, por tal motivo o réu a matou. 
Verifica-se do julgado que os desembargadores mantiveram a qualificadora da 
torpeza na acusação sob dois argumentos. O primeiro de índole processual, narrando que 
“Sabe-se que as qualificadoras só podem ser excluídas da análise do Tribunal Popular se 
manifestamente inexistentes, o que não acontece neste caso concreto”. O segundo argumento, 
de índole simplista – subsunção do fato – segundo os desembargadores é de que “Quanto ao 
 
57
 Artigo 7º, inciso II, da Lei n. 11.340/2006: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: I – in omissis; I – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe causa dano 
emocional ou diminuição da autoestima ou que lhe prejudique ou perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise 
degradar ou controlar suas ações [...] 
58
 No sentido não comumente utilizado, mas nos termos do escólio de Eugênio Raúl Zaffaroni: Pode-se 
argumentar que, assim como a consideração conglobante da norma anteposta ao tipo pode revelar que uma 
conduta abarcada pelo tipo penal, na realidade não está proibida, pode também acontecer o contrário, ou seja, 
que uma conduta que não seja alcançada pelo tipo legal apareça como proibida ante a consideração conglobante 
da norma anteposta a ele (ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 523). (grifei) 
59
 Tribunal de Justiça do Paraná, Órgão: Primeira Câmara Criminal - Classe: Recurso em Sentido Estrito –
Processo N. 970.849-6, disponível em <www.tjpr.jus.br> 
122 
motivo torpe, entendido como aquele que causa repulsa excessiva, vê-se que o recorrente, em 
tese, tirou a vida da vítima somente pelo fato de ela estar dizendo que estava grávida dele”. 
Em que pese não concordarmos com a fundamentação apresentada pelos 
desembargadores, acredita-se que houve acerto no julgado, eis que se utilizando da definição 
comum para o termo torpe, verifica-se que há uma adequação ao caso em comento. 
A princípio, a torpeza deveria cingir-se somente a fatos semelhantes à fórmula 
casuística – crime mercenário. No entanto, tal exegese limitaria o processo de interpretação 
analógica (progressiva/evolutiva), pois o direito deve ser interpretado de modo a atualizar o 
enunciado normativo aos dias atuais. 
Com efeito, matar uma mulher pelo fato de desconfiar que ela esteja grávida causa 
asco social. No caso julgado, constata-se que o réu, por suspeitar que a vítima disse estar 
grávida, a matou, ou seja, tal conduta, por si só, atualmente é considerada torpe, abjeta, pois a 
sociedade não tolera tal conduta, sendo, inclusive, ilícito autônomo, conforme dicção da Lei 
Maria da Penha60. Ora, é abjeta a causa da morte em comento.
h)61 Consta do julgado que o réu foi denunciado pelo Ministério Público como 
incurso no artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, pois teria cometido crime de homicídio 
consumado. A motivação do crime, segundo o julgado, foi torpe pelo fato do homicídio ter 
sido “cometido por ter a vítima furtado a quantia de R$ 10,00 (dez reais) do Apelante”. Os 
desembargadores negaram provimento ao recurso sob o fundamento de que os jurados 
analisaram o fato e decidiram que foi uma conduta torpe, preservando-se a soberania dos 
veredictos. 
Acreditamos que houve acerto no julgado, pois na análise do artigo 121, §2º, 
inciso I, do Código Penal, verifica-se que há menção de um exemplo casuístico (paga ou 
promessa de recompensa) e em seguida um verbete genérico (ou outro motivo torpe). O 
motivo, como cediço, é a “pedra de toque do crime”, eis que quando se sabe o porquê da 
prática do crime, sabe-se, em princípio, a personalidade e a antissociabilidade do agente 
(HUNGRIA: 1942, p. 112-113). O Código Penal Brasileiro inicia o elenco das qualificadoras 
 
60
 Artigo 7º, inciso II, da Lei n. 11.340/2006: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: I – in omissis; I – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe causa dano 
emocional ou diminuição da autoestima ou que lhe prejudique ou perturbe o pleno desenvolvimento ouque vise 
degradar ou controlar suas ações [...] 
61
 Tribunal de Justiça do Acre, Órgão: Câmara Criminal - Classe: Apelação – Processo N. 0010790-
90.2010.8.01.0001, disponível em <www.tjac.jus.br> 
123 
pelo motivo torpe, sendo aquele repugnante, de extrema vileza, ou como o próprio código 
exemplifica, o crime de homicídio mercenário. 
Pois bem, no caso analisado o réu matou a vítima porque ela teria lhe furtado R$ 
10,00 (dez) reais. A conduta do réu revela motivação mercenária, com conotação econômica, 
pois o que fez nascer em sua mente a vontade de matar foi o vil metal. Assim, há uma 
similitude do fato genérico com as casuísticas apresentadas pelo legislador no artigo 121, §2º, 
inciso I, do Código Penal – homicídio mercenário. 
Ora, revela asco social a conduta de matar por causa de dinheiro, conforme o 
espírito do enunciado qualificador, sendo, então, razoável a interpretação que adequa o termo 
torpe ao fato matar por causa de furto de seu patrimônio. 
No entanto, como os enunciados do artigo 121, §2º incisos I e II, do Código Penal, 
são abertos fica a pergunta: poderia o fato descrito acima ser considerado fútil? Como não há 
uma delimitação poder-se chegar a tal interpretação, pois comumente futilidade é definida 
como sendo o motivo de somenos importância, ou seja, matou somente por causa de R$ 10,00 
(dez) reais? 
Para ter segurança na aplicação dos enunciados qualificadores, o intérprete deve 
explicitar o processo hermenêutico de como chegou a definir o alcance do enunciado vago e, 
só assim, saberá se o fato pode ser definido como torpe ou fútil. Com efeito, o fato descrito no 
julgado em comento melhor se adequa à torpeza do que à futilidade, pois nesta o legislador, 
bem como a doutrina e os precedentes, desejam que haja uma desproporcionalidade entre a 
conduta de matar e a motivação, sendo que naquela, o que classifica a conduta como torpe é, 
em primeira análise, o motivo econômico. 
i)62 Analisando o julgado constata-se que o réu foi denunciado pelo Ministério 
Público como incurso no artigo 121, §2º, incisos I e IV, do Código Penal, pois teria ceifado a 
vida da vítima. A motivação do crime, segundo o julgado, seria a vingança, pois o réu teria 
desavença com a vítima por ter-lhe desferido um tiro em data pretérita, sendo torpe a conduta 
no entender do órgão da acusação. 
O crime seria ainda qualificado pelo recurso que impossibilitou a defesa da 
vítima, um senhor com mais de setenta anos, que foi atingido pelas costas. Os 
desembargadores mantiveram a sentença de pronúncia negando provimento ao recurso. As 
 
62
 Tribunal de Justiça do Tocantins, Órgão: 3ª Turma Julgadora da 2ª Câmara Criminal - Classe: RSE – Recurso 
em Sentido Estrito – Processo N. 5010008-37.2013.827.2706, disponível em <www.tjto.jus.br> 
124 
qualificadoras de igual modo foram mantidas, sob o argumento processualista de que “as 
qualificadoras somente devem ser excluídas da pronúncia se manifestamente improcedentes, 
ou seja, sem qualquer sustento no acervo probatório dos autos”. 
Os desembargadores fundamentaram que o motivo foi torpe devido ao réu vingar-
se de desavença anterior (a vítima desferiu um tiro no réu que tentava lhe esfaquear), bem 
como seria crime qualificado pelo fato de atingir a vítima pelas costas. 
Pois bem, entendemos que não houve acerto no julgado. Foi visto no início do 
presente estudo que há enunciados normativos incriminadores que descrevem condutas 
genéricas, como por exemplo, praticar um ato por motivo torpe. Assim, surge a indagação: 
torpe pode ser todo e qualquer motivo repugnante? O que é motivo repugnante? Cada 
intérprete apresentará uma solução para o caso. 
No julgado em análise o julgador considerou o crime de homicídio qualificado 
pelo motivo torpe com suporte na prática de vingança. Surge, então, o problema da 
interpretação do enunciado normativo qualificador, eis que é possível considerar a vingança 
como motivo torpe? Estaria a vingança dentro da semelhança do catalogo casuístico 
apresentado pelo legislador no inciso I do artigo em comento? 
São perguntas que não foram respondidas no julgado, pois os desembargadores 
mantiveram a sentença de pronúncia sob o fundamento de que o ato de vingar-se é torpe. Com 
efeito, não se analisou – mesmo havendo prova incontroversa de que houve vingança – se o 
ato do réu pode ser equiparado a motivo torpe, pois na literalidade do texto há uma distância 
muito grande da fórmula casuística.63
É sabido que, diante do enunciado aberto, o intérprete deve, pelo processo 
hermenêutico, adequar o texto normativo à realidade atual, ampliando o sentido do aludido 
enunciado. O intérprete pode apresentar uma definição de torpeza se apoiando na teoria da 
tipicidade conglobante – que analisa o termo do enunciado com apoio no ordenamento 
jurídico total. 
Destarte, no caso, o homicídio não poderia ter sido considerado torpe, pois o 
motivo é um ato antecedente de tentativa de homicídio, ou seja, tentou uma vez, não 
conseguiu e, da segunda vez, tentou e conseguiu. Com efeito, o motivo não foi explicitado na 
decisão, pois não se sabe qual foi o móvel da tentativa de homicídio (fato antecedente) e do 
 
63
 Homicídio mercenário pela paga ou promessa de recompensa 
125 
homicídio (fato julgado), não podendo o intérprete considerar que o ato é torpe com a simples 
afirmação que foi ato de vingança. 
Ora, vingança – por si só – não pode ser considerada uma conduta torpe, fútil etc., 
sendo que o fato que origina a vingança é que deve ser analisado para fins de adequação típica 
e objeto de interpretação, sendo, sem fundamentação a classificação de torpe – só pelo ato de 
se vingar. 
6.1.2 Motivo fútil64
a)65 O réu, conforme o julgado, foi denunciado pelo Ministério Público como 
incurso no artigo 121, § 2º, inciso II, c/c artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, pois 
desferiu facada contra a vítima com o intuito de matá-la, não conseguindo seu desiderato por 
forças alheias à sua vontade. Pesou sobre o réu a qualificadora do motivo fútil, eis que agiu 
por ciúmes, consubstanciado no fato de que a vítima estaria se relacionando com a ex-
namorada do réu. Os desembargadores, à unanimidade, mantiveram na acusação a 
qualificadora sob o argumento de que há indícios fáticos de sua ocorrência – não analisando 
se o ciúme é ou não fútil. 
O caso em análise – futilidade – é mais complicado de se analisar do que o motivo 
torpe, eis que neste o legislador exemplifica o que se compreende por torpeza66, sendo que 
naquele não há um indicativo sequer, trata-se de prescrição normativa reconhecidamente 
aberta. 
O primeiro passo, é utilizar o sentido comum do termo fútil que, como visto em 
capítulos anteriores, é definido como aquele “que, pela sua mínima importância, não é causa 
suficiente para o crime”, ou seja, é o motivo desproporcional ou inadequado (HUNGRIA: 
1955, p. 244). Assim, a princípio não é possível considerar o ciúme como motivo fútil, pois 
“o ciúme, por exemplo, não se compatibiliza com motivo fútil”, eis que é um sentimento 
“comum à maioria da coletividade” (BITENCOURT: 2012, p. 83-84). 
O segundo passo é analisar se é possível considerar a motivação – ciúmes – como 
sendo fútil sob o enfoque da interpretação progressiva/analógica e da tipicidade conglobante. 
Sob tal enfoque, a conduta, por si só, atualmente é considerada torpe (como visto acima), 
 
64
 Artigo 121, §2º, inciso II, do Código Penal 
65 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Terceira Turma Criminal, N. Processo: 2011 
03 1 012 412-8, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
66
 Paga ou Promessa de Recompensa 
126 
abjeta, pois não se tolera tal proceder, sendo, inclusive, ilícito autônomo, conformedicção da 
Lei Maria da Penha67. Com efeito, atualmente passou-se a considerar os crimes de homicídio 
passionais como repulsivos e não de somenos importância. 
Destarte, o julgado não atende aos dois passos analisados acima, pois não é 
utilizado o sentido comum do termo (pela definição dos juristas ciúme não é fútil), bem como 
não encontra amparo na tipicidade conglobante (tentar matar por ciúme é torpe, pois encontra 
amparo na Lei Maria da Penha – não fútil). 
b)68 Constata-se do julgado que o réu foi denunciado pelo Ministério Público 
como incurso no artigo 121, §2º, incisos II e IV, c/c o artigo 14, inciso II, ambos do Código 
Penal, pois, com vontade de matar, desferiu disparos de arma de fogo contra a vítima, que não 
veio a óbito devido a não ser “atingida em local de letalidade imediata” e pelo fato de que 
“recebeu pronto e eficaz atendimento médico”. Consta do relatório que o crime foi motivado 
por “conta de desavenças entre gangues rivais”. 
Os desembargadores negaram provimento ao recurso, à unanimidade, mantendo a 
qualificadora na acusação, sob o argumento processualista de que a “exclusão das 
qualificadoras, na fase de pronúncia, somente é possível se manifestamente improcedentes e 
sem qualquer lastro nas provas coletadas nos autos” . 
Ousamos discordar, eis que ao contrário do entendimento dos desembargadores, 
não houve futilidade – mas torpeza no ato do réu. Com efeito, briga de gangue revela asco 
social, revela repulsão social e não uma motivação de somenos importância. 
Já foi dito que o primeiro passo para analisar o enunciado normativo qualificador 
do motivo fútil é a utilização do sentido do termo comumente utilizado. Nélson Hungria 
considera o motivo fútil como aquele que “não é causa suficiente para o crime”, 
desproporcional ou inadequado (1955, p. 244). Assim, não há fundamento para afirmar ser 
uma briga de gangues – fútil – quando não está sendo usado o sentido normal do termo. 
No entanto, ao adentrarmos na análise do caso – briga de gangues – consta-se que 
se utilizando o sentido normal do termo motivo torpe, verifica-se que há uma adequação, pois 
torpe é aquele “que suscita a aversão, [...] o despeito da imoralidade contrariada, o prazer do 
 
67
 Artigo 7º, inciso II, da Lei n. 11.340/2006: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: I – in omissis; I – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe causa dano 
emocional ou diminuição da autoestima ou que lhe prejudique ou perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise 
degradar ou controlar suas ações [...] 
68
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Terceira Turma Criminal, N. Processo: 2010 
05 1 009 450-3, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
127 
mal, etc.” (HUNGRIA: 1955, p. 244). De outro lado, briga de gangues pode ser considerada, 
pela ótica da tipicidade conglobante – também como motivo torpe. 
Com efeito, uma gangue quando pratica crime de tráfico de drogas é ilícito penal 
tanto pela mercancia69 quanto pela associação para o tráfico70, conforme Lei n. 11.343/2006. 
Se a gangue se une para praticar qualquer outro crime, também será crime nos termos do 
Código Penal, eis que quadrilheiros71, conduta também ilícita. Assim, se o réu tentou matar a 
vítima por briga de gangues, tal conduta – por si só – será considerada crime autônomo, pois 
estavam associados ou em quadrilha, sendo possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do 
Código Penal de forma a abranger o caso em comento, bastando analisar o dispositivo 
qualificador no sistema – não simplesmente frente à fórmula casuística, mas no sistema penal 
geral. 
Portanto, se o fato não é fútil, mas torpe, não haverá acerto na interpretação do 
enunciado qualificador, pois a conduta não era de somenos importância, mas conduta que 
causa asco social. 
 
69
 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter 
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, 
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
multa. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: 
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, 
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação 
legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; 
II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, 
de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; 
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou 
vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo 
com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. 
§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI 4274) 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. 
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a 
consumirem: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) 
dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. 
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois 
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons 
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, 
de 2012) 
70
 Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos 
crimes previstos nos arts. 33, caput, e §1º, e 34 desta Lei. Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e 
pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias multa. 
71
 Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena – 
reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo Único. A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é 
armado. 
128 
c)72 Em análise do julgado verifica-se que o Ministério Público denunciou o réu 
como incurso no artigo 121, §2º, incisos II e IV, do Código Penal e artigo 12 da Lei n. 
10.826/2003. Consta que o réu desferiu disparos de arma de fogo contra a vítima acarretando 
o óbito desta. Constata-se que o motivo do crime foi fútil, eis que decorrente de 
desentendimento por dívida de drogas. Os desembargadores deram provimento parcial ao 
recurso do réu para afastar a incidência do crime de porte ilegal de arma de fogo, 
reconhecendo que tal conduta foi crime meio para o crime de homicídio. 
Os desembargadores mantiveram a qualificadora do motivo fútil em arrepio ao 
entendimento doutrinário e jurisprudencial. Com efeito, matar por dívida de drogas é crime 
motivado pela torpeza, que não se enquadra na definição doutrinária da futilidade, qual seja, 
aquele que “não é causa suficiente para o crime”, ou seja, é o motivo desproporcional ou 
inadequado (HUNGRIA: 1955, p. 244). Do julgado se extrai que os desembargadores 
entenderam que a motivação do crime era de somenos importância, eis que a vítima era 
devedora do réu “pois havia pegado certa quantidade de droga e não quitado a débito”. O 
fundamento, então, foi de que “o ato trágico (homicídio) não decorreu, unicamente, de brigas 
ou discussões, mas pela rivalidadeentre eles (dívida de drogas)”. 
Ora, já foi dito alhures que mercancia de entorpecentes é motivo torpe, eis que 
modernamente é considerado crime e se adapta – pela teoria da tipicidade conglobante – à 
cláusula genérica do disposto no artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal. Adapta-se, 
inclusive, também pela interpretação progressiva/evolutiva, pois o direito atua de acordo com 
as inovações da sociedade, ou seja, se era torpe a circunstância do homicídio mercenário, será 
torpe a morte motivada pela cobrança de drogas – mas nunca fútil. 
d)73 Extrai-se do julgado que o Ministério Público denunciou o réu como incurso 
no artigo 121, §2º, inciso II, do Código Penal. Segundo consta, o réu munido de uma faca 
desferiu golpes na vítima acarretando o óbito. O crime foi motivado, segundo a denúncia 
ministerial, pelo fato de que a vítima negou ceder um cigarro ao réu que, descontente, deixou 
o local, armou-se, voltou e cometeu o crime de homicídio. Os desembargadores, à 
unanimidade, negaram provimento ao recurso do réu, mantendo a qualificadora do motivo 
fútil na acusação. 
 
72
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, N. Processo: 2011 
05 1 023 903-4, disponível em <www.tjdf.jus.br> 
73
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, N. Processo: 2011 
05 1 023 903-4, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
129 
A manutenção da qualificadora do motivo fútil no caso em comento tem 
fundamento, eis que de acordo com o que dispõem a doutrina e a jurisprudência sobre o tema. 
Com efeito, segundo Roberto Lyra, fútil é crime cometido a pretexto gratuito, 
desproporcionado (1955, p. 268-271). 
Ora, fútil é o motivo que se revela desproporcional ao ato de matar – como no 
caso em análise. Com efeito, a negativa em ceder um cigarro não pode gerar o ato extremo de 
ceifar a vida alheia, ou seja, a motivação é ínfima para o ato máximo de matar. 
Assim, houve acerto em manter na acusação a qualificadora do motivo fútil, eis 
que na praxe doutrinária e jurisprudencial, o termo fútil foi empregado como era de se esperar 
do intérprete. 
e)74 O julgado trata de crime de homicídio qualificado por motivo fútil. O 
Ministério Público denunciou o réu como incurso no artigo 121, §2º, inciso II, cc artigo 14, 
inciso II, ambos do Código Penal pelo fato de ter desferido disparos de arma de fogo contra à 
vítima, levando a mesma a óbito. Segundo o julgado, a motivação do crime se deu pelo fato 
de que o réu não concordou com o a atitude da vítima de entrar no supermercado com um 
cachorro e, depois de uma discussão, interrompida por terceiros, aguardou a vítima deixar o 
local e desferiu disparos de arma de fogo contra ela, só não a matando por forças alheias à sua 
vontade, qual seja, pronto atendimento médico. 
Os desembargadores negaram provimento ao recurso à unanimidade, inclusive 
mantendo a qualificadora do motivo fútil, sob o argumento de que encontra respaldo nos autos 
e que “decerto que a origem da altercação foi a presença do cachorro dentro do supermercado, 
fato este que incomodou o acusado, impelindo-o a provocar e a agredir a vítima. Aliás, a 
discussão somente evidencia a futilidade por que foi praticado o delito, havendo uma notória 
desproporção entre a origem do desentendimento e a reação do apelante”. 
No caso, acreditamos que os desembargadores laboraram com acerto, pois o fato 
capitulado como fútil encontra amparo na descrição doutrinária de motivo fútil. Com efeito, 
futilidade nos termos da exposição de motivos do Código Penal Brasileiro é aquele “que, pela 
sua mínima importância, não é causa suficiente para o crime” (HUNGRIA: 1955, p. 244). 
O fato de o réu discutir com a vítima e depois tentar matá-la pelo fato de a mesma 
ter entrado em um supermercado com um cão é, sem dúvidas, motivação desarrazoada para o 
 
74
 Tribunal de Justiça de São Paulo, Órgão: Oitava Câmara de Direito Criminal, Classe: Apelação, N. Processo: 
0034355-7.2004.8.26.0001, disponível em <www.tj.sp.jus.br> 
130 
ato de matar, é uma reação desproporcional. O que ocorreu é que o réu teve como motivo de 
sua empreitada criminosa, como dizia Roberto Lyra, o pretexto gratuito, desproporcionado 
(1955, p. 268-271). 
Assim, se a razão do crime, o que fez nascer na mente do réu a vontade de matar, 
foi a vítima ter entrado em um supermercado com um cão houve sim a desproporcionalidade 
apontada pela doutrina penalista brasileira, devendo o caso ser classificado como fútil. 
f)75 Consta do julgado que o Ministério Público denunciou o réu como incurso no 
artigo 121, §2º, incisos II, III, e IV, do Código Penal, pois teria matado a vítima com diversos 
golpes, em local ermo, motivado por eventual traição e recusa ao sexo. O crime foi 
classificado como fútil, cruel e com recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Os 
desembargadores mantiveram a condenação por homicídio qualificado, conforme pleiteado 
pela acusação. 
O julgado pouco traz de elementos para a análise do processo de interpretação, 
uma pelo fato de que há a exortação de precedentes processuais de que não é possível 
reformar a decisão dos jurados se há indícios nos autos da versão por eles acatada. Duas, os 
desembargadores afirmaram que a motivação é fútil pelo fato de que a vítima teria recusado 
sexo com o réu, bem como havia suspeita de traição.
No entanto, analisando o fato narrado no presente caso, constata-se que mais 
razoável76 seria a adequação do crime pela motivação torpe. Com efeito, não é de somenos 
importância, desproporcional, matar pelo motivo apontado no julgado (negativa de sexo ou 
traição). Ora, já foi visto no presente estudo que as relações intimas de afeto não podem ser 
consideradas de pouca importância, tanto é que hoje há legislação específica tratando do 
tema77. 
Assim, se a motivação do crime foi intriga de relacionamento amoroso, fútil não 
é, mas torpe. Já foi dito que crimes como o narrado acima são torpes só pelo fato de envolver 
companheiros, ou seja, a conduta de matar sua companheira/namorada etc., por si só, 
atualmente é considerada torpe, abjeta, pois não se tolera tal proceder, eis que causa repulsa 
social. Com efeito, os movimentos sociais, desde a década de setenta, evidenciaram que a 
 
75
 Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Órgão: Sexta Câmara Criminal - Classe: RSE – Recurso em Sentido 
Estrito – Processo N. 0000447-58.2006.8.19.0006, disponível em <www.tjrj.jus.br> 
76
 Aceitável e justificável pelo processo hermenêutico da interpretação evolutiva/progressiva 
77
 Lei Maria da Penha 
131 
violência contra a mulher, sob o slogan quem ama não mata, não se justificava (MATOS; 
CORTES: 2011, p. 39). 
Os crimes de homicídio passionais são considerados como repulsivos, resultando 
na edição da Lei Maria da Penha, que visa coibir a violência contra a mulher. Assim, o crime, 
não foi fútil, mas torpe, pois é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal 
de forma mais abrangente, bastando aplicar a teoria da tipicidade conglobante78, analisando-se 
o dispositivo qualificador no sistema – não simplesmente frente às fórmulas casuísticas, mas 
em todo o sistema penal. Com efeito, se o legislador atual entende que qualquer forma de 
agressão à mulher é ilícito penal, civil e familiar, também o será para qualificar o crime de 
homicídio. 
g)79 Consta do julgado que o Ministério Público denunciou o réu e seus comparsas 
como incursos nos artigos 121, §2º, inciso II, 211 e 212, todos do Código Penal, pois em 
unidade de desígnios ceifaram a vida da vítima. Narrou o órgão da acusação que a motivação 
do crime foi fútil, eis que houve desentendimento acerca do valor de R$ 300,00 entre a vítimae o réu - relativa a conserto de automóvel. Um dos comparsas do réu efetuou dois disparos de 
arma de fogo na cabeça da vítima, acarretando-lhe o óbito. Destruíram o cadáver, serrando as 
pernas, bem como partindo o corpo ao meio e o ocultaram, enterrando-o em um matagal. 
Analisando o julgado verifica-se que pouco se fundamenta acerca da incidência ou 
não da qualificadora prevista no artigo 121, §2º, inciso II, do Código Penal. Com efeito, há 
uma fundamentação de subsunção – de que o fato que ocorreu é fútil, pois segundo a acusação 
houve condutas “motivadas pela total futilidade, já que a animosidade foi gerada pela quantia 
de R$ 300,00 (trezentos reais)”. 
Os desembargadores, corroborando os argumentos ministeriais, fundamentaram a 
manutenção da qualificadora em comento relatando os fatos, que o réu “aumentou o preço 
inicialmente acordado e a vítima de início não concordou”, nascendo à intriga que resultou na 
morte da vítima. Outro fundamento utilizado pelos desembargadores é de que o crime foi 
considerado fútil pelos jurados, não havendo nulidade, no entanto, nada foi dito quanto ao 
método de interpretação quanto à vagueza do termo fútil. 
 
78
 No sentido não comumente utilizado, mas nos termos do escólio de Eugênio Raúl Zaffaroni: Pode-se 
argumentar que, assim como a consideração conglobante da norma anteposta ao tipo pode revelar que uma 
conduta abarcada pelo tipo penal, na realidade não está proibida, pode também acontecer o contrário, ou seja, 
que uma conduta que não seja alcançada pelo tipo legal apareça como proibida ante a consideração conglobante 
da norma anteposta a ele (ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 523). (grifei) 
79
 Tribunal de Justiça do Paraná, Órgão: Terceira Turma Criminal - Classe: Apelação – Processo N. 770.236-5, 
disponível em <www.tjpr.jus.br> 
132 
Pois bem, ao analisar o enunciado normativo qualificador do motivo fútil deve-se 
ter em mente que o sentido do termo deve ser o usual. Nélson Hungria relata o motivo fútil 
como sendo aquele que “não é causa suficiente para o crime”, o motivo que se revela 
desproporcional ao ato de matar (1955, p. 244). 
Visto isto, não houve acerto no julgado, eis que não há fundamento para afirmar 
ser a motivação, fútil – utilizando-se o sentido normal do termo. Se adentrarmos na análise do 
caso – morte por causa de R$ 300,00 – utilizando-se o sentido normal do termo motivo torpe, 
verificamos que há uma adequação, pois torpe é aquele “que suscita a aversão, [...] o despeito 
da imoralidade contrariada, o prazer do mal, etc.” (HUNGRIA: 1955, p. 244). 
Ora, se o exemplo casuístico apresentado pelo legislador no artigo 121, §2º, inciso 
I, do Código Penal é a motivação mercenária (paga ou promessa de recompensa), o caso em 
análise é torpe e não fútil, eis que a motivação do crime foi o fato da vítima não querer pagar 
valor acima do acertado anteriormente – o que revelou a fúria do réu e de seus comparsas. 
Portanto, se o fato não é fútil, mas torpe, não houve acerto na interpretação do 
enunciado qualificador, pois a conduta não era de somenos importância, mas conduta que 
causa asco social. 
h)80 Consta do julgado que o réu foi denunciado pelo Ministério Público como 
incurso no artigo 121, §2º inciso II, do Código Penal, pois teria atirado na vítima com uma 
escopeta acarretando-lhe a morte. A motivação do crime, segundo a sentença de pronúncia, 
seria fútil, eis que o móvel do réu foi uma discussão “envolvendo uma dívida de R$ 20,00 
reais”. Os desembargadores mantiveram a sentença de pronúncia, inclusive mantendo a 
qualificadora do motivo fútil sob o fundamento de que “testemunhas confirmaram ter sido o 
homicídio gerado por sentimentos de vingança”. 
Analisando o julgado verifica-se que não houve acerto, pois o processo 
hermenêutico apresentado não condiz com a orientação doutrinária, tampouco com os 
precedentes. Com efeito, na fundamentação, os desembargadores citam como precedente um 
julgado no qual o fato não é semelhante para sustentar que se trata de motivo fútil, qual seja, 
“de que o delito contra a vida teria ocorrido em razão da suposição do recorrente de que a 
vítima estaria falando de seu irmão”. 
 
80
 Tribunal de Justiça do Acre, Órgão: Câmara Criminal - Classe: Apelação – Processo N. 0000604-
93.2010.8.01.0005, disponível em <www.tjac.jus.br> 
133 
Ora, falar mal de um irmão é motivo desproporcional ao ato de matar, mas matar 
por discussão dívida não – são situações fáticas distintas que não podem ser tratadas como 
semelhantes, eis que a última denota torpeza pela razão econômica da discussão. 
Foi visto que os desembargadores fundamentaram que o motivo foi fútil devido ao 
réu vingar-se de desavença anterior (“testemunhas confirmaram ter sido o homicídio gerado 
por sentimentos de vingança”). Como dito, não houve acerto no julgado, pois seria possível 
considerar a vingança como motivo fútil? Estaria a vingança dentro da intenção do legislador 
para a futilidade descrita no inciso II do artigo em comento? 
Indagações que não foram respondidas no julgado, pois os desembargadores 
mantiveram a sentença de pronúncia sob o fundamento de que “subsistindo elementos de 
convicção quanto à incidência da qualificadora atribuída aos Apelantes, não deve o Tribunal 
afastá-la, sob pena de usurpar a competência constitucional do Tribunal Popular, que é o juiz 
natural para apreciação da causa”. 
Com efeito, diante do enunciado aberto, o intérprete deve, pelo processo 
hermenêutico, adequar o texto normativo à realidade atual, ampliando o sentido do aludido 
enunciado. O intérprete apresentará a definição de futilidade se apoiando na teoria da 
tipicidade conglobante – que analisa o termo do enunciado com apoio no ordenamento 
jurídico total. 
Destarte, no caso, o homicídio não poderia ter sido considerado fútil, pois o 
motivo é um ato antecedente de discussão por dinheiro (R$ 20,00), não podendo o intérprete 
considerar que o ato é fútil com a simples afirmação que foi ato de vingança. Tal fato se 
amolda melhor, uma adequação razoável e aceitável, ao que dispõe o artigo 121, §2º, inciso I, 
do Código Penal – motivo torpe. 
Ora, no caso analisado o réu matou a vítima por causa de uma dívida de R$ 20,00 
(vinte) reais, ou seja, a conduta do réu revela motivação mercenária, com conotação 
econômica, pois o que fez nascer em sua mente a vontade de matar foi o vil metal. 
i)81 Extrai-se do julgado que o réu foi denunciado pelo Ministério Público como 
incurso no artigo 121, §2º, inciso II, do Código Penal, eis que efetuou disparos de arma de 
fogo na direção da vítima acarretando seu óbito. O motivo do crime teria sido, conforme 
 
81
 Tribunal de Justiça do Pará, Órgão: Terceira Turma Criminal, Classe: RSE – Recurso em Sentido Estrito, N. 
Processo: 2012.3.022654-5 (0000663-75.2000.814.0051), disponível em <www.tjpa.jus.br> 
134 
acusação, o fato da vítima prejudicar a imagem do réu, bem como discussões acerca de horas 
extras e cobrança de valores devidos, portanto, fútil. 
A qualificadora do motivo fútil foi afastada pelos desembargadores sob o 
argumento de que não é fútil a cobrança de valor que entende devido, bem como pelo fato de 
que não comprovada a desproporcionalidade, “Isto porque a futilidade aqui sopesada remete a 
uma causa esdrúxula, alguma coisa dotada de insignificância tamanha em relação à gravidade 
do ilícito perpetrado”. 
Pois bem, analisando o caso acreditamos que houve acerto, pois o réu teria 
praticado o crime por discussões acerca de valores que entendia ser-lhe devidos. Fútil 
realmente não é, pois analisando a doutrina sobre o tema sempre encontramos a definição 
traçada por Nélson Hungria, qual seja, o motivo que “não é causa suficiente para o crime”, ou 
seja, é omotivo desproporcional ou inadequado (1955, p. 244). Ora, discutir sobre dívidas de 
valores que lhe são devidos, ou indevidos, não pode ser equiparado a insuficiência de causa. 
A futilidade é, segundo Roberto Lyra, o crime cometido a pretexto gratuito, desproporcionado 
(1955, p. 268-271). 
Com efeito, se a motivação tinha fundamento em valores, como bem alinhavado 
no julgado, fútil não pode ser, mas poderia ser torpe, eis que cobrar dívidas legais seria crime 
de exercício regular de direito, quando entabulada de forma intimidatória ou com violência. 
Ora, ao analisarmos o dispositivo qualificador “motivo torpe”, cláusula genérica 
com paradigmas casuísticos, verifica-se que, a princípio, a torpeza deveria cingir-se somente a 
fatos semelhantes à fórmula casuística – crime mercenário. No entanto, nos termos da 
interpretação progressiva/evolutiva, o direito deve ser interpretado de forma a atualizar o 
enunciado normativo. 
Assim, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal de forma 
abrangente, aplicando, no caso, a teoria da tipicidade conglobante82, analisando-se o 
dispositivo qualificador no sistema – não simplesmente frente às fórmulas casuísticas, mas em 
todo o sistema penal. Ora, se o legislador entende que a cobrança de valores de forma 
 
82
 No sentido não comumente utilizado, mas nos termos do escólio de Eugênio Raúl Zaffaroni: Pode-se 
argumentar que, assim como a consideração conglobante da norma anteposta ao tipo pode revelar que uma 
conduta abarcada pelo tipo penal, na realidade não está proibida, pode também acontecer o contrário, ou seja, 
que uma conduta que não seja alcançada pelo tipo legal apareça como proibida ante a consideração conglobante 
da norma anteposta a ele (ZAFFARONI; PIERANGELI: 2007, p. 523). (grifei) 
135 
intimidatória ou com violência é crime83, tal conduta também o será para qualificar o crime de 
homicídio. 
Portanto, se o réu se defende dos fatos, realmente fútil não é a conduta que lhe é 
imputada, no entanto, deveria ser capitulado como torpe, conforme permite a interpretação 
analógica progressiva/evolutiva, bem como a tipicidade conglobante. 
6.1.3 Meio que cause perigo comum84
a)85 Extrai-se do julgado que o Ministério Público ofereceu denúncia dando o réu 
como incurso no artigo 121, §2º, inciso III, do Código Penal (homicídio qualificado por 
causar perigo comum). Narrou o parquet que o réu transitava com seu veículo, em via 
pública86, e veio a colidir na parte traseira do veículo da vítima acarretando o óbito. 
Consta do julgado que o réu desenvolvia velocidade incompatível com a do local 
(165 Km/h) e, assim, assumiu o risco de produzir o resultado morte87, bem como, por 
desempenhar velocidade incompatível com o local e estar em racha, expôs a perigo comum as 
pessoas que trafegavam pela via – local do evento. 
No julgamento do recurso à decisão de pronúncia, os desembargadores, à 
unanimidade, mantiveram a pronúncia quanto ao crime de homicídio com dolo eventual, no 
entanto, confirmaram o decote da qualificadora do perigo comum da acusação. 
Um dos argumentos foi o de que o legislador, ao utilizar a fórmula casuística e 
genérica, forneceu ao intérprete exemplos e determinou que o mesmo fizesse uma 
interpretação analógica para abarcar casos não previstos na lei, mas que a interpretação 
analógica deve seguir a linha da fórmula casuística, ou seja, há o exemplo legal e o intérprete 
deve encontrar casos semelhantes ao exemplo. 
 
83 Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o 
permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. 
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
84
 Artigo 121, §2º, inciso III, do Código Penal 
85
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Primeira Turma Criminal, N. Processo: 2004 
01 1 015 922-9, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
86
 Distrito Federal, Brasília, Ponte Juscelino Kubitschek-JK 
87
 Homicídio com dolo eventual/indireto 
136 
No caso julgado, os desembargadores entenderam que dirigir um veículo em 
velocidade excessiva não é semelhante ao fogo ou explosivo88 e que, se assim entender, seria 
ampliar demais o sentido da lei, seria, inclusive, analogia in malan partem. 
Outro argumento para excluir a qualificadora da acusação, foi no sentido de que 
não se pode equiparar um veículo a uma bomba89 – para aproximá-lo do exemplo casuístico 
explosivo. Os desembargadores narraram que o intérprete, no processo de autointegração da 
norma não pode se afastar do paradigma, in casu, fogo e explosivo. 
Ainda como motivo para excluir a qualificadora do perigo comum, os 
desembargadores narraram que a conduta de dirigir um veículo não é voltada ao fim matar, o 
que afastaria a qualificadora em comento, eis que a qualificadora do perigo comum deve, 
necessariamente, derivar da conduta lesiva do réu ao atingir a vítima, produzindo-lhe o 
resultado morte. 
Pois bem, em que pese a fundamentação no julgado em comento, inclusive com 
transcrições doutrinárias, constata-se que não houve acerto. Com efeito, analisado o fato 
concreto, verifica-se que o réu ao desempenhar, com seu veículo, velocidade incompatível 
para o local já estaria colocando em perigo um número indeterminado de pessoas. Note-se, 
ainda, que assim procedendo, já está assumindo o risco de matar, ou seja, sua conduta é 
direcionada ao resultado morte (ao assumir o risco), caindo por terra o argumento de que o 
perigo comum não derivou da conduta inicial. 
De outro lado, em termos de interpretação da cláusula genérica com o paradigma 
casuístico, verifica-se que houve indevida limitação ao processo de interpretação analógica. 
Com efeito, nos termos da interpretação progressiva/evolutiva, o direito deve ser interpretado 
– inclusive em Direito Penal – de forma a atualizar o enunciado normativo aos dias atuais. 
Assim, à época dos fatos o legislador apresentou exemplos de crimes que causam 
perigo comum, casuísticos comuns à época, no entanto, com a evolução da sociedade, outros 
crimes passaram a integrar o rol de crimes de perigo. No caso julgado constata-se que o réu 
dirigia em excesso de velocidade, ou seja, tal conduta, por si só, atualmente é considerada 
crime autônomo, conforme o Código de Trânsito Brasileiro90. 
 
88
 Exemplos casuísticos do enunciado qualificador do perigo comum 
89
 Tese apresentada pelo Ministério Público no Recurso em Sentido Estrito 
90
 Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, 
estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação 
ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. 
137 
Destarte, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso III, do Código Penal de 
forma mais ampla, bastando aplicar a teoria da tipicidade conglobante91, ou seja, analisa-se o 
dispositivo qualificador no sistema – não simplesmente frente às fórmulas casuísticas, mas em 
todo o sistema penal. Com efeito, se o legislador atual entende que dirigir veículo automotor 
em excesso de velocidade é crime, também o será para qualificar o crime de homicídio – pois 
ambos são espécies de enunciados normativos que coíbem condutas que causam perigo 
comum92. 
Portanto, se a qualificadora em comento visava punir mais severamente o crime 
de homicídio que também causasse perigo comum, é legítima a interpretação que amplia o rol 
para além dos exemplos da fórmula casuística, eis que permitido pela interpretação analógica 
progressiva/evolutiva, bem como pelaanálise frente à tipicidade conglobante. 
Note-se que o presente caso também foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça 
e pelo Supremo Tribunal Federal. Na corte superior de justiça o acórdão foi reformado, 
determinando-se que a qualificadora do perigo comum fosse novamente incluída na acusação. 
O argumento dos ministros foi no sentido de que o agente que desenvolve velocidade 
excessiva e, com dolo eventual, mata o condutor do veículo que estava na via em velocidade 
normal, além de responder por homicídio doloso, deve responder pela qualificadora do perigo 
comum, eis que causou perigo a um número indeterminado de pessoas. O argumento é válido, 
mas não acompanhado de razões, transparecendo mais ato de autoridade do que julgamento 
fundamentado, pois não há a apresentação do processo hermenêutico quanto ao cerne da 
questão – interpretação analógica. 
No Supremo Tribunal Federal não foi diferente, ou seja, manteve-se a 
qualificadora do perigo comum na acusação sob o fundamento processualista de que só é 
possível decotar da acusação a qualificadora que se apresente “manifestamente 
improcedente”, mas não se adentrou na análise do cerne da apelação – a interpretação 
analógica. 
 
91
 No sentido já apontado em nota acima. 
92
 Crime de perigo é aquele que se consuma coma superveniência de um resultado material que consiste na 
simples criação do perigo real par o bem jurídico protegido, sem produzir um dano efetivo. Nesses crimes, o 
elemento subjetivo do tipo é o dolo de perigo, cuja vontade limita-se à criação da situação de perigo, não 
querendo o dano, nem mesmo eventualmente (BITENCOURT: 2012, p. 274). 
138 
b)93 Constata-se do julgado que o Ministério Público ofereceu denúncia dando o 
réu como incurso no artigo 121, §2º, incisos II e III, cc artigo 14, II, ambos do Código Penal 
(tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil e por causar perigo comum). 
Narrou o parquet que o réu efetuou disparos em direção a um bar onde se 
encontrava elevado número de pessoas. O motivo do crime, segundo o Ministério Público, foi 
de que houve “negativa de sua entrada no estabelecimento comercial, gerando um 
desentendimento banal”. 
Os desembargadores negaram, à unanimidade, o recurso do réu que visava à 
exclusão das qualificadoras. O fundamento para o não provimento do recurso foi de que 
restou evidente que o réu, ao “disparar sua arma de fogo em local onde se encontravam várias 
pessoas”, provocou, com sua conduta, perigo comum a “qualquer pessoa” que estivesse no 
estabelecimento comercial. 
Pois bem, em que pese não encontrarmos fundamentação jurídica no julgado em 
comento – havendo somente indicação de subsunção de fato ao descrito no enunciado 
qualificador – constata-se que houve acerto no julgado. 
Com efeito, analisando o fato concreto, verifica-se que o réu ao desferir disparos 
de arma de fogo em local habitado por várias pessoas colocou, efetivamente, em perigo um 
número indeterminado de pessoas. Assim procedendo, o réu assumiu o risco de matar e, em 
termos de interpretação da cláusula genérica com o paradigma casuístico, houve aplicação do 
processo de interpretação analógica (ainda que não expresso no julgado). 
Nos termos da interpretação progressiva/evolutiva, o direito deve ser interpretado 
atualizando o enunciado normativo à realidade. O legislador quando elaborou o Código Penal 
vigente apresentou os crimes que causam perigo comum casuísticos à época. No entanto, com 
a evolução da sociedade, outros crimes passaram a integrar o rol de crimes de perigo. 
No caso julgado constata-se que o réu ao efetuar disparos de arma de fogo em via 
pública (direcionando sua fúria ao estabelecimento comercial) colocou um número 
indeterminado de pessoas em perigo, devendo incidir a qualificadora em comento, eis que tal 
conduta, por si só, atualmente, é considerada crime autônomo, conforme o Estatuto do 
 
93
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Primeira Turma Criminal, N. Processo: 2005 
04 1 000 423-0, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
139 
Desarmamento94. Assim, pode-se afirmar que é legítima tal interpretação do artigo 121, §2º, 
inciso III, do Código Penal se aplicarmos a já mencionada teoria da tipicidade conglobante95, 
ou seja, analisa-se o dispositivo qualificador no sistema penal. 
Ora, se o legislador atual entendeu que disparar arma de fogo em via pública e em 
local habitado é crime autônomo, também o será para qualificar o crime de homicídio – pois 
ambos são espécies de enunciados normativos que coíbem o perigo comum. 
Destarte, se a qualificadora em comento visava punir mais severamente o crime de 
homicídio que também causasse perigo comum, torna-se plausível e legítima a interpretação 
que amplia o rol para além dos exemplos da fórmula casuística, eis que permitido pela 
interpretação analógica progressiva/evolutiva, bem como pela análise frente à tipicidade 
conglobante. 
c)96 Do Habeas Corpus em referência é possível extrair-se que ao réu foi 
imputada a prática do crime previsto no artigo 121, §2º, incisos II, III e IV, do Código Penal 
pelo fato de, segundo o Ministério Público, ter efetuado disparos de arma de fogo “em local 
movimentado e em direção ao bar, onde se encontrava elevado número de pessoas”, 
provocando, com sua conduta, “perigo comum a qualquer pessoa que estivesse no 
estabelecimento comercial”. 
No Habeas Corpus, os desembargadores, à unanimidade, denegaram a ordem 
argumentando que “os disparos foram efetuados ao lado de um quiosque de lanches, sendo 
que no momento do crime havia um grande número de pessoas no local e nas imediações, de 
modo que a conduta do paciente resultou em perigo comum”. 
Novamente não se encontra, no julgado, fundamentação jurídica – havendo 
somente indicação de subsunção de fato ao descrito no enunciado qualificador. No entanto, 
constata-se que houve acerto por parte dos desembargadores, pois o réu ao desferir disparos 
de arma de fogo em local frequentado por várias pessoas, assumiu o risco de matar, não uma, 
mas várias pessoas, ou seja, causou perigo comum a um número indeterminado de pessoas. 
E mais, em termos de interpretação da cláusula genérica com o paradigma 
casuístico, como já visto anteriormente, houve aplicação do processo de interpretação 
 
94 Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública 
ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, 
de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
95
 No sentido já apontado em nota acima. 
96
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, N. Processo: 2001 
0 02 009 170-4, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
140 
analógica, eis que se fugiu dos exemplos casuísticos abarcando situação não prevista no 
enunciado normativo. 
Nos termos da interpretação progressiva/evolutiva, o Direito Penal deve ser 
interpretado de forma a atualizar o enunciado normativo aos interesses da sociedade – 
diversos da época da produção legislativa. O legislador atua com os problemas que estão 
latentes ao tempo da produção legislativa, no entanto, com o passar do tempo, outras 
interpretações e outros crimes passam a integrar a noção do que vem a ser definido como 
crime de perigo. 
In casu, o réu ao efetuar disparos de arma de fogo em direção a local povoado 
colocou um número indeterminado de pessoas em perigo, devendo incidir a qualificadora em 
comento, eis que tal conduta, por si só, como já visto, é considerada crime autônomo, 
conforme o Estatuto do Desarmamento. 
Portanto, é coerente a interpretação dada ao artigo 121, §2º, inciso III, pois se 
funda na aplicaçãoda teoria da tipicidade conglobante e na interpretação 
progressiva/evolutiva, coibindo condutas que geram perigo comum. 
d)97 Analisando o julgado, verifica-se que o réu foi denunciado pelo Ministério 
Público como incurso no artigo 121, §2º, incisos I, III, e IV, do Código Penal. Consta do 
julgado que o réu, na condução de um veículo automotor, dirigiu em via pública no sentido de 
contramão, mesmo sendo advertido por passageiros que estavam no interior do veículo, 
assumindo o risco de matar. O veículo conduzido pelo réu colidiu com outro causando a 
morte de cinco vítimas que estavam em veículo que transitava na mesma via em sentido 
oposto. 
Conforme a denúncia, o crime foi praticado por motivo torpe, eis que o réu, 
mesmo advertido dos riscos, disse que gostava de aventura. Verifica-se, ainda, que o réu tinha 
ingerido bebida alcoólica e dirigia na contramão, quase atropelando pessoas que estavam no 
acostamento e paradas de ônibus, colocando em risco um número indeterminado de pessoas. 
Por fim, consta que o réu, ao colidir com o veículo da vítima na contramão, dificultou a 
defesa das vítimas. 
Os desembargadores, à unanimidade, mantiveram a qualificadora do perigo 
comum, sob o argumento de que o réu, ao dirigir em via pública, sob efeito de álcool e na 
 
97
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, N. Processo: 2008 
07 1 011 689-7, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
141 
contramão, colocou em risco um número indeterminado de pessoas “que porventura passaram 
naquele local, naquele momento, configurando, a princípio, a qualificadora ora em questão”. 
Consta ainda que a ação do réu fez “periclitar a incolumidade social”. Precedentes e doutrina 
foram transcritas para fundamentar o decisum. 
Verifica-se que a decisão se encontra bem fundamentada no que diz respeito à 
aplicação da qualificadora do perigo comum ao crime de homicídio, no entanto, não adentra 
na análise de ser uma interpretação extensiva ou progressiva/evolutiva. Com efeito, a decisão 
em comento apenas adentra na situação fática – dirigir na contramão – frente ao termo 
linguístico – perigo comum. Não demonstra a necessidade ou não da interpretação integrativa 
com as cláusulas casuísticas, bem como não expõe se a expressão perigo comum, inserta na 
qualificadora do crime de homicídio, abrange toda e qualquer conduta de perigo. 
No entanto, mesmo com fundamentação somente em relação à subsunção do fato 
e explicação do que vem a ser a qualificadora do perigo comum ao crime de homicídio, 
constata-se que a decisão teve acerto em manter a qualificadora. 
Com efeito, foi visto acima que é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso III, 
do Código Penal de forma mais ampla, bastando aplicar a teoria da tipicidade conglobante, 
ampliando o rol para além dos exemplos da fórmula casuística, eis que permitido pela 
interpretação analógica progressiva/evolutiva, pois o fato de dirigir na contramão – sem 
dúvidas é dotado de circunstância que causa perigo comum a um número indeterminado de 
pessoas. 
e)98 Conforme consta do julgado, o Ministério Público denunciou o réu como 
incurso no artigo 121, §2º, incisos I, III e IV, do Código Penal, pois perseguiu a vítima e 
efetuou disparo de arma de fogo que a atingiu e a levou a óbito. 
O motivo do crime, segundo a acusação foi torpe, praticado com recurso que 
dificultou a defesa do ofendido, bem como, com sua conduta, causou perigo comum, eis que 
efetuou os aludidos disparos de arma de fogo em via pública atingindo terceiros, causando 
lesões corporais. 
Os desembargadores mantiveram a qualificadora do perigo comum na acusação, 
negando provimento ao recurso sob o argumento de que "tiros foram trocados na rua, havendo 
 
98
 Tribunal de Justiça de São Paulo, Órgão: Sexta Câmara Criminal de Julho/99, Classe: Apelação, n. Processo: 
248.937-3/6-00, disponível em <www.tj.sp.jus.br> 
142 
pessoas presentes, tanto que duas delas consta terem sido feridas" e que “As qualificadoras só 
podem ser afastadas na pronúncia quando manifestamente impertinentes”. 
Houve acerto no julgado, pois Nélson Hungria ao comentar tal qualificadora 
relatou que “o meio de que possa resultar perigo comum é o meio que além de atingir a vitima 
escolhida, pode criar uma situação de perigo extensivo a um indeterminado número de 
pessoas” (1955, p. 90). Roberto Lyra considera presente a qualificadora em análise com o 
simples fato de existir a potencialidade do perigo para integrar o crime, não importando a 
concretização (1955, p. 288-290). 
No caso em análise, o réu efetuou disparos de arma de fogo na direção da vítima 
e, além de atingi-la, colocou em perigo várias pessoas que transitavam pelo local, inclusive, 
atingiu duas delas, ferindo-as. 
Na interpretação da qualificadora em comento, conforme Damásio Evangelista de 
Jesus, deve-se utilizar da interpretação analógica atentando-se para a natureza do meio 
empregado, ou seja, semelhante ao exemplo casuístico, pois devem ter idêntica natureza das 
hipóteses descritas pelo legislador (2010, p. 98-101). 
Em termos de interpretação da cláusula genérica com o paradigma casuístico, 
verifica-se que houve uma interpretação progressiva/evolutiva – de forma a atualizar o 
enunciado normativo aos dias atuais. Com efeito, no caso julgado constata-se que o réu 
efetuou disparos em via pública, ou seja, tal conduta, por si só, atualmente é considerada 
crime autônomo, conforme o Estatuto do Desarmamento99. 
Destarte, é possível interpretar o artigo 121, §2º, inciso III do Código Penal de 
forma mais ampla, bastando aplicar a teoria da tipicidade conglobante100, ou seja, analisa-se o 
dispositivo qualificador no sistema, não simplesmente frente às fórmulas casuísticas, mas em 
todo o sistema penal. 
Assim, se é crime disparar arma de fogo em via pública pelo fato de criar risco à 
vida de transeuntes, tal conduta como meio para o crime de homicídio também será ilícita 
 
99
 Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública 
ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, 
de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
100
 No sentido já apontado em nota acima. 
143 
para qualificar o crime de homicídio, pois ambas são espécies de enunciados normativos que 
coíbem o perigo comum101. 
6.1.4 Meio que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido102
a)103 Constata-se do julgado que a ré foi denunciada pelo Ministério Público como 
incursa no artigo 121, §2º, inciso IV, cc artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, pois teria 
tentado golpear a vítima no pescoço com vontade de matá-la. Narrou o parquet que a ré 
atacou a vítima pelas costas, dificultando sua defesa. Os desembargadores mantiveram a 
acusação de homicídio tentado – qualificado pela dificuldade de defesa da vítima. 
Verifica-se da fundamentação do julgado que não há análise sobre o alcance da 
qualificadora em comento, eis que toda discussão cingiu-se sobre a questão de ser o ataque da 
ré um elemento que dificulta ou não a defesa do ofendido, bem como se é possível suprimir 
da apreciação do corpo de jurado a análise da qualificadora. 
A fundamentação dos desembargadores é no sentido de que “o fato de a ré ter-se 
sentado atrás da cadeira da ofendida, local em que o campo de visão é limitado, para, só 
então, atacá-la por trás, é circunstância que dá sinais que a vítima teve dificuldade de se 
defender do intento da recorrente”. Verifica-se que o entendimento esposado no caso é o 
comumente adotado pela doutrina, pois Bento de Faria argumenta que condutas como a da ré 
em comento revelam maior reprovabilidade daconduta, bem como retiram da vítima a 
capacidade de se defender – revelando “sangue frio do agente”. (1959, p. 19-25) 
Ora, a ré ao se esconder para efetivar o ataque é circunstância abarcada pela 
intenção do legislador, eis que as fórmulas casuísticas, todas104, revelam o ataque de surpresa, 
ou seja, a ré se escondendo dentro do coletivo e, no momento certo, ataca o ofendido pelas 
costas é fato inesperado e que torna difícil ou impossível a defesa do ofendido. 
Portanto, em que pese não haver fundamentação jurídica sobre o alcance da 
fórmula casuística – “recurso que torne difícil ou impossibilite a defesa do ofendido” – o 
julgado teve acerto em manter na acusação a qualificadora em comento. 
 
101
 Crime de perigo é aquele que se consuma coma superveniência de um resultado material que consiste na 
simples criação do perigo real par o bem jurídico protegido, sem produzir um dano efetivo. Nesses crimes, o 
elemento subjetivo do tipo é o dolo de perigo, cuja vontade limita-se à criação da situação de perigo, não 
querendo o dano, nem mesmo eventualmente (BITENCOURT: 2012, p. 274). 
102
 Artigo 121, §2º, inciso IV, do Código Penal 
103
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Primeira Turma Criminal, n. Processo: 2010 
08 1 002 190-4, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
104
 Traição, emboscada ou dissimulação 
144 
b)105 O julgado trata de crime de homicídio qualificado no qual o Ministério 
Público denunciou o réu como incurso no artigo 121, §2º, inciso IV, cc artigo 14, inciso II, 
ambos do Código Penal, pois o réu efetuou disparos de arma de fogo contra a vítima de forma 
inesperada, crime que só não se consumou pelo fato da vítima receber pronto e eficaz 
atendimento médico. Os desembargadores mantiveram a acusação formulada pelo Ministério 
Público à unanimidade. 
Do julgado se extrai que os desembargadores entenderam que há subsunção do 
fato (“tendo disparado contra a vítima, que se encontrava de costas”) com o enunciado 
qualificador (“que a forma de execução dificultou a defesa da vítima”). 
Extrai-se do julgado que os desembargadores debateram somente quanto a 
existência ou não da tentativa de homicídio, bem como se incidia ou não a qualificadora do 
recurso que dificultou a defesa da vítima, no entanto, não discutiram sobre a interpretação 
analógica que se opera quando se aplica aludido enunciado qualificador, cingindo-se, então, a 
discussão somente sobre a subsunção do fato ao texto qualificador. 
No entanto, analisando o texto da qualificadora em análise, constata-se que a 
decisão operou-se com acerto, eis que o ataque do réu contra a vítima – pelas costas – revela 
surpresa e, como já dito, faz incidir o enunciado qualificador. Com efeito, Rogério Greco 
relata que o intérprete deve “procurar a isonomia com as hipóteses casuísticas elencadas pelo 
legislador no enunciado normativo qualificador, para assim, atender a vontade da lei”. (2009, 
p. 167) 
Assim, no caso dos autos, se o ataque do réu foi de surpresa pelas costas, é, sem 
dúvida, semelhante às fórmulas casuísticas, eis que sempre há surpresa na traição, na 
emboscada e na dissimulação – pois em todas as hipóteses a vítima não espera pelo ataque 
homicida. 
c)106 Verifica-se do julgado que o réu foi denunciado pelo Ministério Público e 
condenado pelo Tribunal do Júri como incurso no artigo 121, §2º, incisos II e IV, do Código 
Penal, eis que após discussão com a vítima desferiu disparos de arma de fogo acarretando seu 
óbito. O recurso pleiteia a exclusão das qualificadoras do motivo torpe e do recurso que 
impossibilitou a defesa do ofendido. 
 
105
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Terceira Turma Criminal, n. Processo: 2011 
01 1 174 293-4, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
106
 Tribunal de Justiça de São Paulo, Órgão: Oitavo Grupo de Direito Criminal, Classe: Revisão Criminal, n. 
Processo: 0113323-03.2011.8.26.0000, disponível em <www.tj.sp.jus.br> 
145 
Os desembargadores mantiveram a condenação, inclusive com as qualificadoras 
aludidas anteriormente, sob o argumento de que “não há dúvidas a respeito de ter esse 
requerente atingido o ofendido de inopino e desferido contra ele inúmeros disparos com arma 
de fogo em razão de xingamento antes recebido”. 
Analisando os fatos relatados no julgado, bem como a decisão dos 
desembargadores, cremos que houve acerto, pois em uma análise detida constata-se que o 
ataque do réu contra a vítima foi de surpresa. O legislador no artigo 121, §2º, inciso IV, do 
Código Penal apresentou exemplos casuísticos e, em seguida, fórmulas genéricas com as 
quais o intérprete pode incluir situações semelhantes às casuísticas, porém não expressas. A 
qualificadora em comento é a qualificadora da surpresa, ou seja, o ofendido não espera o 
ataque e, assim, é um recurso que dificulta ou torna impossível a sua defesa. 
No julgado fica claro que a vítima foi alvejada de inopino, assim, não teve 
oportunidade de defesa. No caso, se o paradigma é indicativo de surpresa e o ataque do réu 
revela que sua intenção era atingir a vítima desprevenida, sem possibilidade de reação, 
razoável a decisão que mantém na acusação uma qualificadora que exacerba a pena sob o 
fundamento de dificuldade ou impossibilidade de defesa do ofendido – pelo ataque inesperado 
do algoz. 
d)107 Extrai-se do julgado que o Ministério Público denunciou a ré como incursa 
no artigo 121, §2º, incisos I e IV, do Código Penal, pois teria matado a vítima por ser ela fruto 
do relacionamento de seu companheiro com outra mulher, bem como por aproveitar-se do 
fato de ser adulta e a vítima uma criança, o que lhe facilitou a prática do crime. O crime foi 
classificado como torpe e com recurso que impossibilitou a defesa da vítima. A ré foi 
impronunciada. Os desembargadores deram provimento ao recurso do Ministério Público 
pronunciando a ré como incursa no artigo 121, §2º, inciso IV, do Código Penal, pois a “idade 
da vítima, 1 ano e 2 meses, tornou impossível qualquer possibilidade de resistência”. 
Verifica-se do julgado que os desembargadores deram provimento ao recurso 
ministerial pronunciando a ré pelo crime de homicídio sob o fundamento processualista de 
que havia indícios de que ela teria praticado o crime, não podendo subsistir a impronúncia. 
Quanto ao enunciado qualificador do artigo 121, §2º, inciso IV, do Código Penal, os 
desembargadores argumentaram que houve recurso que impossibilitou a defesa da vítima pelo 
fato de ser ela uma criança de tenra idade. 
 
107
 Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Órgão: Oitava Câmara Criminal - Classe: Apelação – Processo N.
0063535-76.2006.8.19.0004, disponível em <www.tjrj.jus.br> 
146 
Analisando o enunciado qualificador e seguindo o raciocínio de parte da doutrina, 
verifica-se que o julgado inovou, pois não apresentou uma interpretação da fórmula genérica à 
semelhança da cláusula casuísta. Com efeito, foi visto que o legislador apresentou como 
exemplos de causas que dificultam ou impossibilitam a defesa do ofendido a traição, a 
emboscada e a dissimulação. No caso dos autos, ter a criança tenra idade não é semelhante ao 
modelo casuístico, ou seja, houve uma interpretação fora dos parâmetros elencados pela 
doutrina – que assevera que o modelo deve ser seguido como paradigma. 
No entanto, cremos que houve acerto no julgado. Com efeito, a cláusula genérica 
de recurso que impossibilite ou dificulte a defesa do ofendido pode ser qualquer meio 
utilizado para a prática do crime que deixa a vítima sem possibilidade de defesa, como por 
exemplo, sua idade. Trata-se de verdadeira interpretação extensiva, abordando situações não 
explicitadas pelo legislador – que não poderia prever todas as hipóteses.Se justifica a utilização da interpretação extensiva analógica pela dificuldade em 
prever “todas as situações que poderiam ocorrer na vida em sociedade”, permitindo, o 
legislador, que o exegeta lance mão do recurso que amplia o alcance do enunciado normativo 
(GRECO: 2009, p. 43). 
Assim, o modelo casuísta traz exemplos que revelam surpresa, ato que a vítima 
não espera. No entanto, é possível utilizar a interpretação extensiva dando novos contornos à 
cláusula genérica. Ora, analisando o caso fático sob a ótica da interpretação da tipicidade 
conglobante108, verifica-se que é possível manter a qualificadora do recurso que 
impossibilitou a defesa da vítima, tal como formulada. Nota-se do julgado que a ré 
aproveitou-se de sua proximidade com a vítima (madrasta) e também do fato de que a vítima 
não tinha como se defender (pouco mais de um ano de idade) e a matou, ou seja, cometeu 
crime utilizando dos meios que impossibilitaram a defesa do ofendido, fato que, como cediço, 
por si só, é uma conduta coibida pela legislação penal109 110. 
Portanto, eventual condenação da ré por homicídio praticado com recurso que 
impossibilitou ou dificultou a defesa da vítima encontra amparo, pois se apresenta no fato de 
que a vítima, por sua idade, não poderia se defender. 
 
108
 No sentido já apontado em nota acima. 
109
 Art. 121, §4º do Código Penal. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é 
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
110
 “Instituiu-se, assim, uma espécie de homicídio agravado por considerar-se que a vítima, nessas hipóteses, tem 
maiores dificuldades em se defender, além da maior censurabilidade que cerca esse crime quando tem por sujeito 
passivo uma criança ou uma pessoa idosa” (MIRABETE: 2013, p. 41). 
147 
Enfim, ao se interpretar o artigo 121, §2º, inciso IV, do Código Penal, se inclui 
como recurso que impossibilita a defesa da vítima sua tenra idade, analisando o dispositivo 
qualificador no sistema penal em geral, pois também é ilícito penal atentar contra quem é 
menor, ampliando-se o rol para além dos exemplos da fórmula casuística. 
e)111 Do julgado se extrai que o réu desferiu disparos de arma de fogo contra a 
vítima, acarretando-lhe a morte. Consta que a motivação do crime foi de que a vítima iria 
denunciar o sobrinho de réu como autor de um crime. Do julgado se extrai ainda que a vítima 
foi atacada de surpresa, bem como quando já prostrada ao chão, continuou a ser atacada pelo 
réu. O Ministério Público, então, denunciou o réu como incurso no artigo 121, §2º, incisos I 
(motivo torpe) e IV (recurso que impossibilitou a defesa da vítima), do Código Penal. Os 
desembargadores negaram provimento ao recurso. 
Analisando o julgado, verifica-se que a motivação não se enquadra na torpeza 
prevista no artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, pois agir por vingança, por si só, não 
induz a motivação abjeta prevista no enunciado qualificador. Com efeito, deve-se analisar, 
como já foi visto, o motivo que antecedeu a vingança. No caso constata-se claramente da 
denúncia de que o motivo do crime foi porque a vítima “havia prestado declaração para a 
polícia a respeito do que sabia sobre a morte” de outra vítima, cujo autor teria sido o sobrinho 
do denunciado. 
Ora, o fato é reprovável, mas não se enquadra na hipótese da torpeza prevista 
como qualificadora. O fato se enquadra nos termos do artigo 121, §2º, inciso V, do Código 
Penal, pois a motivação do crime foi para que o sobrinho do réu ficasse impune de crime que 
cometeu, ou seja, houve homicídio por conexão consequencial com outro crime (praticado 
pelo sobrinho do réu). É neste ponto que se constata o perigo de enunciados abertos, eis que 
se estendeu o sentido e o alcance do termo torpe a casos que não se amoldam ao espírito da 
lei. Assim, por meio da fundamentação é possível tecer críticas quanto ao resultado 
apresentado pelo magistrado, eis que se aponta o erro no processo hermenêutico. 
No que diz respeito ao enunciado qualificador previsto no artigo 121, §2º, inciso 
IV, do Código Penal, acreditamos que houve acerto no julgado. O réu “para execução do 
crime, surpreendeu a vítima [...] quando este se encontrava distraidamente em um andaime no 
interior de uma residência onde trabalhava”. Assim, a vítima foi alvejada sem poder se 
 
111
 Tribunal de Justiça do Paraná, Órgão: Primeira Câmara Criminal - Classe: Recurso em Sentido Estrito –
Processo N. 1.002.741-5, disponível em <www.tjpr.jus.br> 
148 
defender, de surpresa, adequando-se ao enunciado qualificador aberto – qualquer meio que 
impossibilite ou dificulte a defesa do ofendido. 
6.1.5 Assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime112
a)113 Verifica-se do julgado que o Ministério Público denunciou o réu como 
incurso no artigo 121, §2º, inciso I, cc artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, eis que 
desferiu disparos de arma de fogo contra a vítima, não acarretando o óbito. O motivo do 
crime, segundo a acusação, seria torpe, eis que atingiu a vítima que defendia seu filho. O 
magistrado pronunciou o réu como incurso no artigo 121, §2º, inciso V, cc artigo 14, inciso II, 
ambos do Código Penal, atribuindo nova definição jurídica ao fato qualificador no sentido de 
que o réu atingiu a vítima para assegurar a execução de seu crime fim – o filho da vítima. 
Os desembargadores mantiveram a sentença de pronúncia ao argumento de que a 
adequação formulada pelo magistrado é mais adequada ao caso, eis que o réu “alvejou 
intencionalmente a vítima quando esta defendia a vida do próprio filho. Desse modo, supõe-se 
que o réu objetivava continuar seu intento homicida original”, narrando ainda que a definição 
de torpeza não se amolda “ao contexto fático apresentado”. 
O julgado é de extrema simplicidade114, não adentrando na análise da 
interpretação do enunciado qualificador, adequando-o simplesmente ao fato sem maiores 
detalhes. A qualificadora em comento – assegurar a execução de outro crime – é um 
enunciado amplo, pois o que se pode entender por assegurar? Qual o limite de condutas que 
podem ser consideradas o fim almejado pelo agente? 
O julgado em análise não adentra na questão, relata que o fato do réu alvejar a 
vítima que protegia seu filho é conduta que se amolda ao texto do enunciado qualificador. 
Com efeito, Ney Moura Teles relata que assegurar a execução de outro crime é “tornar 
possível ou mais fácil a realização de outro crime” (2006, p. 33). 
Assim, se no caso analisado, o intento do réu era alvejar o filho da vítima, mas 
diante de sua interferência, alvejou a vítima, o delito em questão se amolda ao texto 
qualificador, pois atingiu a vítima para poder alcançar seu desiderato – o filho da vítima –, a 
 
112
 Artigo 121, §2º, inciso V, do Código Penal 
113
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Primeira Turma Criminal, n. Processo: 2011 
09 1 022 778-4, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
114
 Três laudas com a ementa 
149 
vítima visada desde o princípio, ou seja, o julgado foi acertado, em que pese não adentrar na 
análise da interpretação do enunciado qualificador.
b)115 Consta do julgado que o réu foi denunciado pelo fato de ter participado de 
crime de homicídio tentado, com outros elementos, que, com sua anuência, efetivaram 
disparos de arma de fogo contra vítimas que estavam no local, bem como contra os policiais 
que tentavam impedir a consumação de crime de roubo praticado pelo grupo a que pertencia o 
réu. 
O Ministério Público denunciou o réu como incurso no artigo 121, §2º, inciso V, 
cc artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, ao argumento de que o crime não se 
consumou por erro de pontariados agentes, bem como qualificado pelo fato de que efetuaram 
disparos de arma de fogo contra as vítimas para assegurar a impunidade de delito anterior – 
crime de roubo. 
A acusação foi mantida pelos desembargadores, sob o argumento de que o réu ao 
fugir do local com os demais agentes contribuiu para o crime, eis que foram efetivados 
disparos de arma de fogo contra os policiais para “garantir o sucesso do plano comum” – o 
anterior crime de roubo. 
O julgado, como outros já analisados, não contém análise sobre a interpretação do 
enunciado qualificador, há apenas a adequação fática ao texto da lei. Segundo Ney Moura 
Teles, o crime de homicídio será qualificado quando o agente “busca um fim abjeto, 
repugnante, desvalorizando uma vida humana por puro egoísmo, para livrar-se da aplicação 
da lei penal” (2006, p. 34). 
Constata-se no julgado que houve acerto por parte dos desembargadores, eis que o 
crime de homicídio tentado só ocorreu por uma finalidade maléfica anterior, qual seja, alvejar 
os policiais ou qualquer pessoa que poderia impedir o réu e seus comparsas de fugir – após a 
prática do crime de roubo. 
Verificando as nuances do fato descrito no julgado pode-se concluir que os 
corréus, na companhia do réu, após praticarem crime de roubo, buscavam a impunidade – por 
meio dos disparos de arma de fogo contra os policiais. É neste ponto que se constata que a 
cláusula é aberta, pois pode o agente pode buscar sua impunidade por qualquer meio, 
 
115
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Segunda Turma Criminal, n. Processo: 2010 
04 1 000 462-2, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
150 
havendo, uma integração analógica no enunciado qualificador, podendo o intérprete estender 
o conteúdo do enunciado às novas formas de se buscar a impunidade. 
c)116 Analisando o julgado verifica-se que o Ministério Público denunciou o réu 
como incurso no artigo 121, §2º, incisos IV e V, do Código Penal pelo fato de, na companhia 
de seu comparsa, ter efetuado disparos de arma de fogo contra a vítima acarretando o óbito da 
mesma. 
Segundo a acusação, o crime foi motivado por uma dívida do réu com a vítima, ou 
seja, “em função das atividades ilícitas que praticaram juntos” sendo um “indício de que o 
crime pode ser cometido para assegurar vantagem de outro crime”. A acusação foi mantida 
pelos desembargadores. 
O fundamento, para a manutenção da qualificadora na acusação, foi 
processualista, qual seja, de que a qualificadora só pode ser excluída da denúncia se for 
provada sua “manifesta improcedência”, aplicando-se o adágio in dubio pro societate. 
Argumentou-se também que há uma adequação do procedimento do réu com o 
descrito no enunciado normativo qualificador – que o réu matou para ficar com a vantagem 
das atividades ilícitas que mantinha com a vítima. 
Pois bem, a qualificadora em comento traz a expressão “vantagem de outro 
crime”, ou seja, o móvel do agente é ficar com o que os envolvidos angariaram com a prática 
de crime anterior. Mas o que seria vantagem? Só aquela que tem fins econômicos ou pode ser 
qualquer tipo de vantagem? 
Quanto ao primeiro questionamento, vantagem para os termos da lei, nos dizeres 
de Damásio Evangelista de Jesus, pode ser o produto117, o proveito118 ou o preço119 adquirido 
com a prática de crime anterior (2012, p. 103). Quanto ao segundo, a vantagem “pode ser de 
qualquer natureza, patrimonial ou moral” (TELLES: 2006, p. 35) . 
Assim, se o réu e seu comparsa alvejaram a vítima no intuito de não repassar 
quantia em dinheiro de “atividades ilícitas que praticaram juntos”, houve sim uma perfeita 
interpretação do enunciado normativo, eis que se integrou à intenção do legislador – o Código 
Penal “pune mais severamente a maior censurabilidade da conduta, revelada na intenção” do 
 
116
 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Órgão: Primeira Turma Criminal, n. Processo: 2009 
04 1 016 759-4, disponível em <www.tjdft.jus.br> 
117
 Produto do crime são os objetos ou coisas adquiridas diretamente do crime, como o objeto furtado. (JESUS: 
2010, p. 103) 
118
 Proveito do crime é toda e qualquer vantagem que não seja produto nem preço do delito. (idem) 
119
 Preço do crime é a paga ou a promessa de recompensa. (ibidem) 
151 
agente que pratica o crime para apoderar-se da vantagem obtida anteriormente com prática de 
outro delito (JESUS: 2010, p. 103). 
d)120 Segundo consta do julgado o réu foi denunciado pelo Ministério Público 
como incurso no artigo 121, §2º inciso V, do Código Penal, pelo fato de que teria desferido 
disparos de arma de fogo contra a vítima, matando-a. Segundo o Ministério Público, o réu 
assim agiu pelo fato de que a vítima iria denunciá-lo às autoridades públicas como sendo 
autor de crime de roubo e, assim, praticou homicídio para assegurar a ocultação de outro 
crime. 
Os desembargadores mantiveram a sentença de pronúncia, inclusive classificando 
o crime como qualificado, sob o argumento de que “havendo nos autos indicação de que a 
vítima fora morta porque estaria a revelar a autoria de um roubo anteriormente praticado” 
deve ser mantida na acusação a qualificadora prevista no artigo 121, §2º, inciso V, do Código 
Penal. 
Pois bem, a decisão em análise não adentra na questão da interpretação do 
enunciado normativo, simplesmente faz uma análise de subsunção do fato ao enunciado. Ora, 
o artigo 121, §2º, inciso V, do Código Penal traz elementos abertos e vagos, tanto é que do 
julgado se encontra confusão entre ser qualificado para assegurar a impunidade ou a vantagem 
de crime anterior, sendo que os desembargadores tratam como se fossem termos iguais. 
Com efeito, assegurar a ocultação de um crime é impedir que a autoridade pública 
e a vítima tenham conhecimento de que um crime ocorreu, sendo que assegurar a impunidade 
de outro crime é coibir que a identidade do autor do crime chegue ao conhecimento da 
autoridade pública. Por fim, assegurar a vantagem é eliminar os comparsas para permanecer 
com todo o produto do crime. 
Da análise do julgado verifica-se que o caso se amolda ao que define a doutrina 
como sendo assegurar a impunidade, pois o crime era conhecido, mas não se sabia quem eram 
seus autores e a vítima iria delatá-los. O móvel do crime, assim, foi eliminar a testemunha que 
poderia incriminá-lo perante as autoridades públicas. 
Não há sequer adequação típica do fato ao termo “vantagem de outro crime” 
inserta no artigo 121, §2º, inciso V, do Código Penal, eis que se o réu matou a vítima para que 
ela não o delatasse, não cometeu o crime para assegurar nenhuma vantagem, pois neste caso o 
 
120
 Tribunal de Justiça de São Paulo, Órgão: Primeira Câmara Criminal, Classe: Apelação, n. Processo: 
963.620.3/3-00, disponível em <www.tj.sp.jus.br> 
152 
Código Penal “pune mais severamente a maior censurabilidade da conduta, revelada na 
intenção” do agente que pratica o crime para apoderar-se da vantagem obtida anteriormente 
com prática de outro delito (JESUS: 2010, p. 103), o que não é o caso dos autos. 
Assim, os desembargadores obraram com acerto em manter a qualificadora pelo 
fato de que o réu matou a vítima para não ser delatada (“havendo nos autos indicação de que a 
vítima fora morta porque estaria a revelar a autoria de um roubo anteriormente praticado”), no 
entanto, equivocaram-se em utilizar o termo “vantagem” como sendo motivação do crime. 
e)121 Do julgado se extrai que os réus foram denunciados pelo Ministério Público 
como incursos no artigo 121, §2º, incisos IV e V, do Código Penal, pois combinaram em 
praticar crime de roubo e, suspeitando que um dos comparsas estivesse traindo-os, resolveram 
matá-lo. Segundo a acusação o crime foi praticado com recursoque impossibilitou a defesa, 
eis que sob o pretexto de urinar pararam o veículo e, então, efetuaram disparos de arma de 
fogo contra a vítima, acarretando o óbito. O crime foi praticado, segundo a acusação, para 
assegurar a empreitada do crime de roubo, bem como o proveito que teriam com o crime 
contra o patrimônio. 
Os desembargadores mantiveram a condenação dos réus sob o argumento de que 
não houve nulidade no julgado, bem como que a decisão dos jurados não pode ser alterada 
pelo colegiado, eis que “Não pode o Tribunal togado impor a sua conclusão a respeito dos 
fatos, devendo limitar-se a cassar as decisões que deles sejam delirantes. Do contrário, a dita 
soberania do Júri seria outra inútil ficção”. 
Em que pese não se encontrar fundamentação quanto a aplicação do artigo 121, 
§2º, inciso V, do Código Penal, constata-se que houve meio acerto no julgado, eis que o 
motivo do crime foi assegurar outra empreitada criminosa e não para garantir o proveito do 
crime, pois houve, no caso, uma conexão entre o crime de homicídio e o crime fim – roubo. 
A cláusula apresentada no enunciado qualificador traz uma vagueza, eis que o 
crime pode ser qualificado pela conexão teleológica ou consequencial. Na primeira o crime de 
homicídio é crime meio para o crime fim, já na segunda, o crime de homicídio é crime 
posterior ao crime fim. 
No caso, a acusação faz uma confusão, pois imputa aos réus a prática de crime de 
homicídio para assegurar a empreitada do crime de roubo, bem como o proveito que teriam 
 
121
 Tribunal de Justiça do Paraná, Órgão: Primeira Câmara Criminal - Classe: Apelação – Processo n. 826612-6, 
disponível em <www.tjpr.jus.br> 
153 
com o crime contra o patrimônio. Com efeito, são coisas diversas insertas na mesma 
qualificadora. 
Na primeira hipótese do enunciado qualificador considera-se qualquer conduta 
que, conforme Ney Moura Teles, torne “possível ou mais fácil a realização de outro crime” 
(2006, p. 33). Assim, se houve o homicídio de um comparsa sob a suspeita de traição, houve 
sim uma interpretação estendendo o enunciado qualificador, pois a traição poderia impedir a 
prática do crime desejado pelo grupo – o roubo. 
Já na segunda hipótese, para a configuração, o crime fim já foi praticado e o 
homicídio é para garantir o proveito que obtiveram com o crime. No entanto, do julgado se 
extrai que não houve sucesso na empreitada, ou seja, não ficaram os réus com o produto do 
crime, não havendo a conduta de homicídio para garantir a féria da empreitada criminosa. 
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6.2 - Ementas de Julgados 
6.2.1 Homicídio Qualificado pelo motivo torpe (artigo 121, §2º, inciso I, do 
Código Penal): 
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios: 
a) ÓRGÃO: PRIMEIRA TURMA CRIMINAL, CLASSE: APR – APELAÇÃO, 
N. PROCESSO: 2012 06 1 008482-2 
E M E N T A. PENAL E PROCESSUAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO POR MOTIVO 
TORPE. ALEGAÇÃO DE NULIDADE PELO USO DE ALGEMAS DURANTE O JULGAMENTO. 
IMPROCEDÊNCIA. CRÍTICA OCA À DOSIMETRIA DA PENA. SENTENÇA CONFIRMADA. 1 Réu 
condenado por infringir o artigo 121, § 2º, inciso I, do Código Penal, por haver matado a companheira por 
politraumatismo, espancando-a até a morte, depois de áspera discussão provocada por suspeitar que estivesse 
sendo traído. O réu a deixou exangue em cima da cama e ela só foi socorrida pelo sangue na manhã seguinte, 
sucumbindo depois de três dias de sofrimento em Unidade de Terapia Intensiva. 2 O fato de o réu ficar algemado 
durante a sessão de julgamento não causa nulidade quando sua necessidade é justificada fundamentadamente na 
periculosidade do réu, recomendando a cautela fundada no risco de fuga ou de ofensa à integridade física própria 
e alheia, conforme a Súmula Vinculante nº 11-STF. 3 A culpabilidade exacerbada do réu ficou evidenciada com 
o espancamento brutal da companheira na intimidade do lar, onde ela deveria se sentir mais segura. Disso se 
prevaleceu o agente para espancá-la à noite e deixá-la prostrada e exangue sobre a cama, somente sendo 
socorrida na manhã seguinte, perecendo três dias depois na UTI do Hospital de Base. A brutalidade inaudita 
justifica a avaliação negativa da culpabilidade e o acréscimo de três anos na pena-base, reduzida depois em um 
ano em razão da confissão espontânea. 4 Apelação desprovida. A C Ó R D Ã O. Acordam os Senhores 
Desembargadores da 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, GEORGE 
LOPES LEITE - Relator, SANDRA DE SANTIS - Revisora, ROMÃO C. OLIVEIRA - Vogal, sob a Presidência 
do Senhor Desembargador GEORGE LOPES LEITE, em proferir a seguinte decisão: DESPROVER. 
UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 25 de abril de 2013, 
Desembargador GEORGE LOPES LEITE, Presidente e Relator. 
b) ÓRGÃO: SEGUNDA TURMA CRIMINAL, CLASSE: APR – APELAÇÃO, 
N. PROCESSO: 2010 01 1 227873-0 
E M E N T A. PENAL E PROCESSO PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO 
QUALIFICADO (MOTIVO TORPE). CONDENAÇÃO. RECURSO DO RÉU. NULIDADE POSTERIOR À 
PRONÚNCIA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Os documentos públicos (as folhas de antecedentes penais dos 
réus) não estão inseridos no rol de referências proibidas durante a sessão de julgamento. Ademais, o documento 
constava dos autos, acessível às partes e aos jurados (art. 480, §3º, CPP), e não influenciou na apuração da 
verdade substancial ou na decisão da causa. 2. Negado provimento ao recurso do réu. A C Ó R D Ã O. Acordam 
155 
os Senhores Desembargadores da 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, 
JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA - Relator, SOUZA E AVILA - Revisor, ROBERVAL CASEMIRO 
BELINATI - Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador SOUZA E AVILA, em proferir a seguinte 
decisão: NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. 
Brasília (DF), 2 de maio de 2013. Desembargador JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA, Relator. 
c) ÓRGÃO: TERCEIRA TURMA CRIMINAL, CLASSE: RSE – RECURSO EM 
SENTIDO ESTRITO, N. PROCESSO: 2012 04 1 008389-8 
E M E N T A - PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. 
TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MOTIVO TORPE E PELO EMPREGO DE 
RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. PROVA 
DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DA AUTORIA. LEGÍTIMA DEFESA NÃO 
COMPROVADA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. INVIABILIDADE. EXCLUSÃO DE QUALIFICADORA. 
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. INAPLICABILIDADE. 1. Nos termos do art. 413 do 
Código de Processo Penal, a pronúncia, como mero juízo de admissibilidade da acusação, deve ser proferida 
sempre que o juiz se convencer da existência do crime e houver indícios suficientes de que o réu seja o seu autor, 
fase em que vigora o princípio do in dubio pro societate. 2. Inviável a absolvição sumária quando não há prova 
incontestável da incidência de circunstância que exclua o crime ou isente o agente de pena, devendo o réu ser 
submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri. 3. Na fase de pronúncia, a exclusão das qualificadoras só é 
permitida quando manifestamente improcedente ou completamente dissociada do contexto fático-probatório dos 
autos. Do contrário, deve ser submetida à apreciação pelo Conselho de Sentença. 4. A absorção do crime de 
porte ilegal de arma de fogo pelo de homicídio qualificado tentado, somente é possível diante da existência de 
prova inequívoca de que a obtenção da arma tenha sido ato preparatório para a execução do homicídio. Não 
sendo esse o caso, a matéria deve ser submetida à apreciação do Conselho de Sentença. 5. Recurso desprovido. 
A C Ó R D Ã O - Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do 
Distrito Federal e dos Territórios, JOÃO BATISTA TEIXEIRA - Relator, HUMBERTO ADJUTO ULHÔA - 
Vogal, NILSONI DE FREITAS - Vogal, sob

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