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EMERJ Direito Empresarial I perguntas

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EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 1 
Tema I 
 
Objeto, fontes e autonomia do Direito Empresarial. Teoria dos Atos de Comércio. Teoria da Empresa. 
Direito de Empresa no Novo Código Civil. As figuras do comerciante e do empresário. Conceito e 
caracterização. Critérios de distinção entre empresários e não-empresários. Distinção entre empresa, 
empresário e estabelecimento. 
 
Notas de Aula 
 
1. Intróito Comparativo entre o Regime Anterior e o Atual 
 
 Em primeiro plano, é necessário traçar um estudo comparativo entre o tratamento 
dado à matéria na vigência do regime do Código Civil de 1916, e no regime do novel 
codex, sendo foco natural as alterações promovidas quanto ao próprio regime civilista e 
quanto ao Código Comercial. 
 Anteriormente, a dicotomia existente era entre a figura do comerciante e a do não-
comerciante. O conceito clássico de comerciante era “aquele que praticava atos de 
comércio”. Fosse o comerciante pessoa física, singular, era chamado de comerciante 
individual; fosse uma pessoa jurídica, o nome dado era de sociedade mercantil. Assim, era 
comerciante, lato sensu, qualquer pessoa física ou jurídica que praticava atos de comércio. 
 Sendo pessoa física comerciante, comerciante individual, a sua regularidade era 
adquirida com a averbação da firma individual na Junta Comercial; sendo pessoa jurídica, 
adquiria-se a regularidade com a averbação dos seus atos constitutivos (contrato social ou 
estatuto) na Junta Comercial. 
 O comerciante, individual ou pessoa jurídica, na vigência do CC de 1916, do 
Código Comercial, e do Decreto 7.661/45 (falimentar) podia incidir em falência, bem como 
requerer a concordata. 
Os não-comerciantes pessoas físicas eram os profissionais autônomos, os 
profissionais liberais, e os prestadores de serviços. As pessoas jurídicas que eram 
consideradas não-comerciantes, por sua vez, eram as sociedades civis. 
Daqui exsurge uma das diferenças mais fundamentais no tratamento às figuras de 
direito empresarial: a prestação de serviços, no antigo regime, era uma atividade civil, não-
mercantil, fosse desempenhada por pessoa física ou jurídica. Assim sendo, não poderiam os 
não-comerciantes, prestadores de serviço individuais ou sociedades civis, incidir em 
falência ou obter concordata, mas apenas em insolvência civil. Esta distinção entre 
comerciante e não-comerciante, para efeitos de falência, concordata ou insolvência, ainda 
persiste para a identificação dos empresários e não-empresários. 
A classificação das sociedades, antes do advento do novo CC, assim se desenhava: 
sociedade era o gênero, dividido nas espécies sociedades com fim lucrativo e sociedades 
sem fim lucrativo. As sociedades com fim lucrativo se subdividiam em sociedades 
mercantis, aquelas em que o lucro é o escopo da atividade, e se destina a ser rateado entre 
os sócios; e sociedades civis, em que o lucro também é buscado, mas o seu destino é ser 
reinvestido na própria sociedade (aos sócios cabendo apenas a contraprestação pelo 
trabalho denominada pró-labore, que não é rateio de lucros). 
As sociedades sem finalidade lucrativa, à época do antigo CC, eram as associações 
e as fundações. Nestas, o lucro não era objetivado, mas não era vedado: havendo lucro 
eventual, este deveria ser também reinvestido na própria associação ou fundação. 
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Vale traçar o esquema gráfico: 
 
 
 
 
 
 
 
 
O atual CC alterou esta classificação, em razão da adoção da teoria da empresa. De 
acordo com os parâmetros desta teoria, o conceito de comerciante foi substituído pelo 
conceito de empresário. Isto porque a caracterização do comerciante era restrita à 
constatação da prática ou não de atos de comércio – o que era deveras restrito. Por isso, o 
conceito de empresário é bem mais amplo, pois engloba em si também as atividades de 
prestação de serviços. 
Empresário, então, não é apenas aquele que exerce atos de comércio. Hoje, 
empresário é aquele que desenvolve atividade econômica organizada, nos termos do artigo 
966 do novo CC: 
 
“Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, 
de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou 
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” 
 
Veja que o objeto do conceito – produção ou circulação de bens e serviços – é 
tremendamente mais amplo do que o antigo critério, a “prática de atos de comércio”. Hoje, 
estão sob a caegoria de empresários as pessoas que desenvolvam toda e qualquer atividade 
que se subsuma a este objeto legal, sendo especial ampliação a inclusão dos prestadores de 
serviço. O não-empresário, então, é somente aquele que desenvolve atividade que se alheia 
a este objeto. 
Passemos, então, ao estudo do empresário como hoje se delineia. 
 
1.1. Empresário Individual 
 
Este conceito veio em substituição do antigo conceito de comerciante individual, 
como se viu. É empresário individual a pessoa física que exerce atividade econômica 
organizada em nome próprio. Por óbvio, não há qualquer relação entre o conceito de 
empresário individual e a sociedade empresária. 
A regularidade do empresário individual é obtida com o registro da firma individual 
na Junta Comercial, que hoje é denominada Registro Público de Empresas Mercantis 
(RPEM) pelo CC, no artigo 967: 
 
“Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de 
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.” 
 
Em outro aspecto, o empresário individual adquire a personalidade com o seu 
próprio nascimento com vida: a regularidade da atividade empresária depende do registro 
Sociedades no CC de 1916 
Com fim lucrativo Sem fim lucrativo 
Fundações Associações Soc. mercantis Sociedades civis 
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no RPEM, mas a personalidade do empresário é adquirida no nascimento1, pois é uma 
pessoa física, apenas exercendo a empresa em nome próprio – sua personalidade é de 
pessoa física, natural. A regularidade do exercício, no entanto, depende do dito registro. 
A pessoa física não-empresária, de seu lado, é conceituada no artigo 966, parágrafo 
único, já transcrito. Aqueles que exercem seus ofícios – médicos, engenheiros, etc – não 
são, em regra, empresários, sendo apenas profissionais liberais. 
 
1.2. Sociedades 
 
O conceito de sociedades, gênero, é trazido no artigo 981 do CC: 
 
“Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se 
obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade 
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais 
negócios determinados.” 
 
Assim, no gênero, as sociedades, todas elas, exercem atividade econômica, que 
implica em objetivar lucro. Assim, de acordo com o novo CC, todas as sociedades 
objetivam o lucro. 
Há duas espécies de sociedades reguladas no novo regime privado: a sociedade 
empresária e a sociedade simples. Ambas têm finalidade lucrativa (pois esta finalidade é 
um pressuposto do conceito de atividade econômica), e podem destinar o lucro para o que 
bem entenderem, admitindo-se o rateio dos lucros pelos sócios, em qualquer das espécies 
(não é imposto o reinvestimento dos lucros na própria sociedade). 
Isto significa que as associações e as fundações não mais se configuram como 
espécies de sociedades sem fins lucrativos, porque, simplesmente, não se enquadram sob o 
conceito de sociedades. Veja: o artigo 981 doCC, ao conceituar sociedades, estabelece que 
é um pressuposto do conceito o exercício de atividade econômica, e este tipo de atividade é 
naturalmente dedicado a perseguir lucro. Sendo assim, se a pessoa não busca o lucro, não é 
sociedade, por simples silogismo. 
Como fica classificada a associação e a fundação, então, no novo regime? Qual é o 
ponto de interseção entre as sociedades e estas entidades? Mais uma vez, o conceito é da 
lei: segundo o artigo 44 do CC, enquadram-se, sociedades, associações e fundações, sob um 
gênero mais amplo, superior – são todas espécies de pessoas jurídicas de direito privado. 
 
“Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 
I - as associações; 
II - as sociedades; 
III - as fundações. 
IV - as organizações religiosas; 
V - os partidos políticos. 
(...)” 
 
 
1 Vale mencionar que o surgimento da personalidade é disputado por três correntes, a concepcionista, a 
natalista e a condicionalista, mas esmiuçar esta questão é incumbência do Direito Civil. Aqui, então, 
menciona-se apenas a tese majoritária, natalista. 
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 Assim, vale sintetizar a explanação: se a pessoa jurídica de direito privado objetiva 
lucro, realizando atividade econômica, é sociedade; se não tem finalidade lucrativa, é uma 
das espécies ali arroladas. Não permanece a classificação de 1916. Veja como é hoje: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A sociedade, seja ela simples ou empresária, adquire regularidade quando leva seus 
atos constitutivos ao registro. E é no registro que surge também a personalidade: 
diferentemente do empresário individual, pessoa natural, a sociedade sói surge como pessoa 
jurídica, só adquirindo personalidade, quando é devidamente registrada2. 
 
1.3. Responsabilidades 
 
A responsabilidade do empresário individual é ilimitada, respondendo pelas 
obrigações com todo o seu patrimônio pessoal; a responsabilidade das sociedades é 
igualmente ilimitada, nos limites do patrimônio da sociedade. Veja: não se está cogitando 
da responsabilidade dos sócios, e sim da sociedade, enquanto pessoa jurídica autônoma. 
Como pessoa que existe por si só, também responde com todo o seu patrimônio pelas 
obrigações contraídas. 
Esta regra é contida no artigo 591 do CPC: 
 
“Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com 
todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.” 
 
É comum se confundir a responsabilidade da sociedade com a dos sócios. Quando 
se cogita da responsabilidade destes, esta sim vai depender do tipo societário em questão, e 
poderá ser limitada ou ilimitada, a responsabilidade dos sócios, à sua parcela do capital. 
Este assunto será abordado tempestivamente, quando se tratar de cada tipo societário. Por 
ora, fica apenas a separação da responsabilidade da própria sociedade desta 
responsabilidade de cada sócio: a responsabilidade da sociedade, qualquer que seja o tipo, é 
sempre ilimitada, tal qual a do empresário individual (pois são eles que desempenham a 
atividade empresária, contraindo as obrigações que suscitam responsabilidade). 
 
 
 
 
2 O registro Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) é necessário a qualquer um que exerça atividade 
empresária, e, mesmo que o nome do cadastro seja de “pessoas jurídicas”, para efeitos de tributação se impõe 
o registro ali, também, dos empresários individuais, por ficção jurídica. 
Sociedades no CC de 2002 
Todas com fim lucrativo 
Sem fim lucrativo 
Fundações Associações Partidos políticos Org. Religiosas 
Pessoas jurídicas de direito privado 
Simples Empresária 
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1.4. Empresa, Empresário e Estabelecimento 
 
 O conceito de empresa é um conceito econômico: empresa é a atividade econômica 
organizada. É econômica porque busca o lucro; e é organizada, não sendo eventual ou 
aleatória. 
 A empresa é uma atividade, e não uma entidade. Por isso, não é sujeito, mas apenas 
objeto de direito: não pode exercer direitos ou contrair obrigações. Mas esta confusão que 
se faz, corriqueiramente, entre os conceitos de empresa e sociedade é tão arraigada que o 
próprio legislador se engana, por vezes: o artigo 2° da CLT, no caput, ao definir o 
empregador, assim dispõe: 
 
“Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, 
assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação 
pessoal de serviço. 
(...)” 
 
 O artigo 20 da Lei 5.474/68, lei que trata das duplicatas, é outro exemplo de má 
interpretação legislativa do conceito: 
 
“Art . 20. As emprêsas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, 
que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, 
emitir fatura e duplicata. 
(...)” 
 
Resumindo, empresa não é entidade: é atividade, não tendo personalidade jurídica 
por sua própria lógica (não há como se personificar uma atividade). Entidade, ou é o 
empresário, ou a sociedade. 
Assim se passa ao conceito de empresário, lato sensu: se a empresa é uma 
atividade, alguém precisa exercê-la, e este alguém é justamente o empresário, quer seja ele 
a pessoa física, o empresário individual, quer seja a pessoa jurídica, a sociedade empresária. 
São eles que desempenham a atividade econômica organizada, a empresa. 
A caracterização do empresário parte de um critério formal, qual seja, o registro no 
órgão competente, ou de um critério real, que é o exercício da empresa? É empresário 
aquele que se registra como tal – a firma, se individual, ou o ato constitutivo, se sociedade – 
ou aquele que pratica os atos de empresa? O critério a ser utilizado é o real: se se valer do 
critério formal, ninguém teria interesse no registro. O critério formal serve apenas para 
aferir a regularidade do empresário individual, e criar personalidade e regularidade à 
sociedade. 
Destarte, o empresário, ele sim, é sujeito de direito: é ele quem detém direitos e 
contrai obrigações, quer seja o empresário individual exercendo a atividade em nome 
próprio, quer seja a sociedade empresária exercendo a atividade em seu próprio nome 
empresarial – sendo que a sociedade empresária, por não ser ente corpóreo, é representada 
pelo administrador no exercício da atividade de empresa. Assim, ao representar a 
sociedade, o administrador manifesta a vontade da própria sociedade, e é esta quem se 
obriga perante os credores, e titulariza direitos perante seus devedores. 
Os sócios, nem mesmo se administradores, não são considerados empresários: quem 
exerce a empresa é a própria sociedade, em nome próprio. É assim que os credores devem 
pedir a falência, por exemplo, da sociedade (representada pelo administrador), e não dos 
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sócios, assim como é a sociedade, pelas mãos do administrador, que requer a sua 
recuperação judicial. 
O conceito de estabelecimento, por sua vez, remete ao antigo fundo de comércio: o 
empresário, pessoa física ou jurídica, ao exercer a empresa, precisa ter bens que habilitem-
no a desempenhar tal atividade. E este conjunto de bens, corpóreos ou incorpóreos, 
dedicados à atividade de empresa é o estabelecimento. O artigo 1.142 do CC traça conceito 
diferencial entre empresa, empresário e estabelecimento: 
 
“Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para 
exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.” 
 
Sempre houve, e persiste, controvérsia acerca da natureza jurídica do 
estabelecimento. Dentre as inúmeras correntes, pode-se apontar um ponto central da 
discussão, que defineduas grandes correntes: seria o estabelecimento uma universalidade 
de direito ou uma universalidade de fato? 
A universalidade de direito é aquela que tem sua criação determinada por lei. são 
exemplos o espólio, a massa falida e a herança jacente. Já a universalidade de fato é aquela 
criada pela vontade de seu instituidor. No estabelecimento, quem estabelece a sua reunião 
em uma universalidade é o próprio empresário, a própria pessoa física ou jurídica que 
desempenha atividade de empresa, e por isso a tese majoritária é a que defende que o 
estabelecimento é uma universalidade de fato. De uma forma ou de outra, os conceitos de 
universalidade, de direito ou de fato, são apresentados nos artigos 90 e 91 do CC: 
 
“Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, 
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. 
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de 
relações jurídicas próprias.” 
 
“Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de 
uma pessoa, dotadas de valor econômico.” 
 
1.5. Registro 
 
A natureza jurídica do registro é declaratória ou constitutiva? Para efeitos de 
caracterização do empresário, o registro é claramente declaratório desta condição, pois 
como se viu, empresário é constatação de fato, critério real, baseado na verificação real de 
prática da atividade de empresa. 
 Há uma exceção, do empresário rural, que segundo os artigos 971 e 984 do CC só 
ganha esta condição de empresário com o registro – sendo este constitutivo, então (havendo 
quem entenda que, mesmo assim, é declaratório). Veja: 
 
“Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, 
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, 
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, 
caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao 
empresário sujeito a registro.” 
 
“Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de 
empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos 
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de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição 
no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de 
inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. 
Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o 
pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a 
transformação.” 
 
 O registro, como já se disse, é servível à outorga de regularidade ao empresário 
individual, e à criação da personalidade jurídica (e conseqüente regularidade) à sociedade. 
Assim dispõe o artigo 985 do CC: 
 
“Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro 
próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).” 
 
 Assim, o registro, do ponto de vista da personalidade jurídica, é claramente 
constitutivo. 
 Resumindo: o registro é declaratório da atividade de empresa, e constitutivo da 
regularidade e personalidade jurídica da sociedade (e regularidade do empresário 
individual). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Michell Nunes Midlej Maron 8 
Casos Concretos 
 
Questão 1 
 
Os usos e costumes, com o advento do novo Código Civil, ainda são considerados 
fontes do Direito Empresarial? 
Resposta fundamentada. 
 
Resposta à Questão 1 
 
 Sim, especialmente em casos em que a praxe local é determinante para a 
consolidação de situações jurídicas específicas. A fonte imediata do direito empresarial é a 
lei, mas os costumes, fontes mediatas, são regras de conduta de uso geral e permanente, 
cuja presença é necessária à estabilidade social. 
Por este conceito se percebe que os costumes têm elementos objetivos e subjetivos: 
subjetivo é o uso geral e permanente; objetivo é a sua necessidade. Os costumes podem se 
fazer valer por três formas: 
 
- Secundum legem: Tem lugar quando a própria lei indica que a fonte a sanar lacuna 
é o costume. Como exemplo, o artigo 1.297, § 1º, CC. 
 
- Praeter legem: Se a lei não supre e não há outra fonte analógica, se encaminha a 
solução naturalmente aos costumes, pela própria ordem de suprimento de lacunas do 
artigo 4º da LICC; é o costume puro, enquanto interpretação legal. 
 
- Contra legem: O costume jamais terá aplicação quando dispuser de forma 
contrária a qualquer dispositivo legal. 
 
 Na verdade, não houve qualquer alteração no valor dos costumes desde a 
derrogação do Código Comercial e revogação do CC de 1916. 
Para além disso, a Lei 8.934/94 dispõe, no artigo 8°, VI: 
 
Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe: 
I - executar os serviços previstos no art. 32 desta lei; 
II - elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as normas legais 
pertinentes; 
III - processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e intérpretes 
comerciais; 
IV - elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações, bem como as 
resoluções de caráter administrativo necessárias ao fiel cumprimento das normas 
legais, regulamentares e regimentais; 
V - expedir carteiras de exercício profissional de pessoas legalmente inscritas no 
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins; 
VI - o assentamento dos usos e práticas mercantis.” 
 
O Decreto 1.800/96 estabelece, nos artigos 87 e 88, regulamentando a Lei 8.934/94: 
 
“Art. 87. O assentamento de usos ou práticas mercantis é efetuado pela Junta 
Comercial. 
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§ 1º Os usos ou práticas mercantis devem ser devidamente coligidos e assentados 
em livro próprio, pela Junta Comercial, ex officio, por provocação da Procuradoria 
ou de entidade de classe interessada. 
§ 2º Verificada, pela Procuradoria, a inexistência de disposição legal contrária ao 
uso ou prática mercantil a ser assentada, o Presidente da Junta Comercial solicitará 
o pronunciamento escrito das entidades diretamente interessadas, que deverão 
manifestar-se dentro do prazo de noventa dias, e fará publicar convite a todos os 
interessados para que se manifestem no mesmo prazo. 
§ 3º Executadas as diligências previstas no parágrafo anterior, a Junta Comercial 
decidirá se é verdadeiro e registrável o uso ou prática mercantil, em sessão a que 
compareçam, no mínimo, dois terços dos respectivos vogais, dependendo a 
respectiva aprovação do voto de, pelo menos, metade mais um dos Vogais 
presentes. 
§ 4º Proferida a decisão, anotar-se-á o uso ou prática mercantil em livro especial, 
com a devida justificação, efetuando-se a respectiva publicação no órgão oficial da 
União, do Estado ou do Distrito Federal, conforme a sede da Junta Comercial.” 
 
“Art. 88. Quinqüenalmente, as Juntas Comerciais processarão a revisão e 
publicação da coleção dos usos ou práticas mercantis assentados na forma do 
artigo anterior.” 
 
 Veja que os costumes são tão importantes no Direito Empresarial que podem ser 
levados ao registro, a assentamento na Junta Comercial, passando a servir como meio de 
prova, inclusive. 
 Como adendo: costumes não podem ser revogados por lei, mas somente por outros 
costumes. Isto porque a própria natureza dos costumes os torna alheios ao domínio da lei, a 
própria dialética de formação dos costumes responde à reiteração de condutas em 
determinado sentido, e não à imposição legal. 
 Outra consignação a ser feita é quanto aos cheques pós-datados (ou pré-datados), 
que são criações do costume comercial, mas na verdade são uma prática contra legem,e 
por isso desconsiderada para o Direito Empresarial: a Lei 7.357/85 dispõe que o cheque, 
qualquer um, é ordem de pagamento à vista, e a consignação de algum prazo é irrelevante 
ao título de crédito – se apresentado, é exigível, e será pago (ou executado, se não houver 
fundos). A pós-datação não é defesa admissível pelo devedor. Vale lembrar que, entretanto, 
a indenização, regrada no Direito Civil, pode ser cabível contra o credor que apresenta o 
cheque antes do vencimento – mas para o direito cambiário, não tem qualquer valor a pré-
datação. 
 
Questão 2 
 
Aponte os traços distintivos entre os conceitos jurídicos de empresário, empresa e 
estabelecimento. 
 
Resposta à Questão 2 
 
Consiste em empresário individual a pessoa física que exerce atividade de empresa 
em nome próprio. Jamais se confunda com o sócio: este é a pessoa física que integra 
sociedade empresária, pessoa jurídica esta que vai desempenhar, em seu nome jurídico, a 
atividade de empresa. O sócio sequer precisa exercer empresa, pois pode haver 
administrador não-sócio, ou outro sócio que a exerça só. 
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Empresa é a “atividade econômica organizada” – ou seja, é conceito bem mais 
amplo. 
Estabelecimento é o conjunto de bens que o empresário reúne e destina ao exercício 
da atividade de empresa. Antigamente, era denominado de fundo de comércio, mas hoje, 
pela teoria da empresa, só é correto se falar em estabelecimento de empresa. É sinônimo de 
azienda. Qualquer bem compõe o estabelecimento, seja corpóreo ou incorpóreo. O ponto e 
a marca são exemplos de bens incorpóreos do estabelecimento, enquanto o computador e o 
prédio são bens corpóreos da atividade empresária. 
 
Questão 3 
 
HOSPITAL SÓ SAUDE LTDA. registrou os seus atos constitutivos no Registro Civil 
de Pessoas Jurídicas, como sociedade civil, em 2000. Em razão de inadimplemento de 
obrigação assumida, teve a sua falência requerida dezembro de 2005, sob o fundamento da 
impontualidade (art. 94,I da Lei de Falências e Recuperação). O devedor, em contestação, 
alegou sua ilegitimidade passiva. O processo foi sem extinto sem resolução do mérito. 
Correta a decisão? 
Resposta fundamentada. 
 
Reposta à Questão 3 
 
 Em 2000, a atividade do hospital, prestação de serviços, não era atividade 
empresária. O hospital era sociedade civil, regular, pois registrados seus atos no órgão 
competente (RCPJ). Em 2005, na vigência da Lei 11.101/05, requereu-se a falência por 
inadimplemento pontual das obrigações (presumindo-se protestadas, pois é requisito para 
consolidar a exigibilidade). Também, neste momento, era vigente o novo CC, e as 
atividades de um hospital – leia-se prestação de serviços – são atividades empresariais, pelo 
quê o hospital do enunciado se configura como sociedade empresária. 
 Veja que a mesma entidade, desenvolvendo a mesma atividade, sofreu uma releitura 
na sua estrutura conceitual: sem alterar a sua atividade, teve alterada sua natureza de 
sociedade civil para sociedade empresária. Destarte, deve ser atendido o previsto no artigo 
2.031 do CC: 
 
“Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis 
anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste 
Código até 11 de janeiro de 2007. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas 
nem aos partidos políticos.” 
 
 In casu, este artigo diz respeito ao registro da sociedade: se o hospital era registrado 
no RCPJ, hoje deve ser registrado no RPEM, pois este é o órgão competente para seu 
cadastro, atualmente. 
 Contrário a esta tese, absolutamente isolado, Sérgio Campinho defende que não há 
necessidade da migração dos registros, pois entende que o registro da época é ato jurídico 
perfeito, e que a sociedade tem direito adquirido a mantê-lo lá, só migrando se o quiser – a 
nova regra, em relação ao registro, não retroage, mesmo sendo a nova natureza a de 
sociedade empresária. Seria caso excepcionalíssimo de sociedade empresária com registro 
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no RCPJ, e não no RPEM. Como dito, é tese isolada, pela perplexidade que gera diante da 
lógica sistemática das sociedades: se o artigo 51, V, da Lei 11.101/05, por exemplo, exige 
que haja a apresentação do registro no órgão competente – que hoje é o RPEM –, não se 
poderia admitir uma petição de recuperação instruída com o registro no RCPJ: 
 
“Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: 
(...) 
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato 
constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; 
(...)” 
 
 Por isso, a decisão que entende que o hospital não é uma sociedade empresária, não 
admitindo sua legitimidade no pólo passivo, e, por isso, extinguindo o processo sem 
resolução do mérito, é consoante com a maior corrente: se o registro ainda está no RCPJ, a 
sociedade é irregular. Entretanto, ainda que esteja irregular – pois carente do registro no 
órgão competente –, a sociedade ainda pode falir (não podendo valer-se da recuperação, 
todavia, que é uma benesse do empresário regular, nem podendo participar de licitações). A 
condição de empresário não exige a comprovação do registro dos atos no órgão 
competente, pois é situação de fato: basta que se caracterize a prática da atividade 
econômica organizada. Do contrário, o legislador estaria premiando e incentivando a 
irregularidade, pois se a falência só fosse imposta a sociedades regulares, não haveria quem 
fosse regularizar-se. Destarte, a decisão foi equivocada. 
Como adendo, fosse um consultório médico, e não um hospital, seria sociedade 
simples, e não seria necessário o registro no RPEM, e sim no RCPJ – a atividade é focada 
na pessoa dos sócios. No hospital, não está a atividade focada na pessoa dos sócios (mor 
das vezes, sequer se sabe quem são). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 12 
Tema II 
 
Empresário Individual. Caracterização. Responsabilidade. Capacidade. Impedimentos ao exercício da 
empresa. Prosseguimento da empresa pelo incapaz. Empresário individual casado. Alienação de bens pelo 
empresário individual casado. Pequeno empresário. 
 
Notas de Aula 
 
1. Empresário Individual 
 
 Muito do assunto já se abordou no tema anterior. A caracterização do empresário 
individual, por exemplo, é de pessoa física que exerce a atividade empresarial em nome 
próprio, ganhando personalidade no nascimento com vida, e regularidade com o registro da 
firma individual. 
 A responsabilidade do empresário individual, também como já se disse, é ilimitada, 
pois todos os bens de seu patrimônio respondem pelas obrigações contraídas3, em razão do 
disposto no artigo 591 do CPC, já transcrito. O empresário individual tem um único 
patrimônio, uno e indivisível, com o qual responde pela atividade da empresa, e pelas 
responsabilidades pessoais. Não há divisão entre patrimônio pessoal e estabelecimento: 
confundem-se os patrimônios dedicados à atividade de empresa e os bens pessoais do 
empresário individual. 
 Havendo esta unicidade patrimonial, sequer há de se observar ordem na execução 
dos bens: se o patrimônio é um só, executa-se como um todo, não havendo que incidir 
primeiro nos bens que são dedicados à empresa, para depois adentrar nos bens pessoais. 
Simplesmente não há qualquer separação a ser observada, na responsabilização. 
 A fim de traçar um paralelo, nas sociedades esta não é a configuração dos 
patrimônios. Há um patrimônio da sociedade, e há o patrimônio pessoal de cada sócio, que 
em nada se confunde com o patrimônio da sociedade (quando regular,pois do contrário não 
existe a personalidade da pessoa jurídica, e não há patrimônio social desenhado em 
separado). E é por esta separação clara que se verifica a necessidade da exceção que se 
configura na desconsideração da personalidade jurídica, instituto que será estudado amiúde 
adiante. 
 
1.1. Capacidade para a Atividade de Empresário Individual 
 
 A partir de dezoito anos, pode a pessoa natural ostentar a figura de empresário 
individual. O artigo 972 do CC diz: 
 
“Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno 
gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.” 
 
 Esta questão simples pode oferecer complicações quando se tratar de pessoas 
emancipadas. Veja: pessoa com dezesseis anos está em pleno gozo da capacidade, e por 
 
3 É justamente por conta desta responsabilidade ilimitada que é praticamente ausente a figura do empresário 
individual, na prática comercial. Em geral, os empresários que deveriam ser individuais se associam a outra 
pessoa, com baixíssima porcentagem de quotas, a fim de fugir à responsabilidade ilimitada. Mas veja que esta 
sociedade aparente, fictícia, pode sofrer desconsideração de sua personalidade, por fraude na constituição. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 13 
isso poderá, em regra, ser empresário. Assim sendo, tem responsabilidade ilimitada, 
podendo sofrer execução individual, incidir em falência (a partir da Lei 11.101/05, pois a 
legislação anterior impunha limite de idade). 
 Mas veja que a infração penal falimentar eventualmente cometida pelo empresário 
menor de dezoito anos não poderá ser-lhe imputada. A responsabilidade penal não se altera 
com a emancipação: o limite para ser imputável é de no mínimo dezoito anos. Será 
responsabilizado exatamente como os demais menores, quando cometem crimes: segundo o 
Estatuto da Criança e do Adolescente, recebendo medidas terapêuticas. 
 Outra diferença reside na sua impossibilidade de requerer recuperação: para 
requerê-la, precisa estar regular, e esta regularidade vem com o registro da firma individual. 
Ocorre que o artigo 48 da Lei 11.101/05, no caput, impõe o decurso de um prazo mínimo 
da atividade de empresa para poder requerer a recuperação: 
 
“Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do 
pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda 
aos seguintes requisitos, cumulativamente: 
(...)” 
 
 Assim, é temporalmente impossível o exercício de dois anos pelo emancipado, sem 
antes completar a maioridade. Por mera lógica, não poderá haver a recuperação enquanto 
for menor. 
 Há uma tese isolada que entende que, havendo a autorização judicial para a 
continuação da empresa, o que é autorizado pelo artigo 974 do CC, e a emancipação aos 
dezesseis anos, poderia haver a concessão de recuperação ao menor, considerando o prazo 
pretérito da atividade. É corrente minoritária, porém. 
 
1.2. Impedimentos ao Exercício da Empresa 
 
 O artigo 973 do CC impõe limite ao exercício da empresa: 
 
“Art. 973. A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de 
empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas.” 
 
 Os legalmente impedidos são diversos. Como exemplo, os magistrados. Veja que se 
uma pessoa impedida de exercer empresa o fizer, responderá como empresário irregular, 
pelo quê poderá até mesmo incidir em falência. Do contrário, estar-se-ia fomentando a 
irregularidade. 
 Veja que os impedidos poderão compor os quadros societários de uma LTDA ou de 
uma S/A; o que não poderão é exercer a atividade econômica organizada, a atividade de 
empresa, quer em nome próprio, quer em nome da sociedade que compõem (como sócios-
administradores). Note que, então, nunca poderão ser empresários individuais, mas podem 
compor sociedades, desde que não exerçam a administração. 
 
1.3. Empresário Individual Casado 
 
 O empresário individual tem um só patrimônio, que responde, todo ele, pelas 
obrigações contraídas na atividade de empresa. Ocorre que, se o empresário individual for 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 14 
casado, há que se considerar acerca da meação do patrimônio com seu cônjuge. Como se 
resolve a comunicação patrimonial? 
 A invasão ou não da meação cabível ao do cônjuge não-empresário é controvertida. 
A solução empresarial entende aplicável o artigo 3° da Lei 4.121/62, que dispõe: 
 
“Art. 3° Pelos títulos de dívida de qualquer natureza, firmados por um só dos 
cônjuges, ainda que casados pelo regime de comunhão universal, somente 
responderão os bens particulares do signatário e os comuns até o limite de sua 
meação.” 
 
 Isto significa que a responsabilidade do empresário será limitada à meação que a 
este incumba, não podendo comprometer a meação do cônjuge não-empresário, 
independentemente do regime de casamento. A exceção, em que a meação será invadida, 
ou melhor, em que todo o patrimônio conjugal (é claro que não incidindo jamais sobre o 
patrimônio pessoal do não-empresário) será imputável pela divida empresarial, ocorre 
quando o proveito do débito contraído pelo empresário reverte em benefício do casal. Neste 
caso, o ônus de comprovar que o casal se beneficiou com o débito assumido é do credor. 
 A solução civilista, ao contrário, entende que o CC de 2002 revogou a Lei 4.121/62, 
pois trata exaustivamente do tema ali versado. A regra, para esta corrente, é que a 
responsabilidade da meação do cônjuge não-empresário vai depender do regime: se for 
separação total, não responde; se comunhão universal, responde, e neste regime só não vai 
responder se restar comprovado que o débito não reverteu em benefício do casal, sendo 
ônus do cônjuge não-empresário a prova da não reversão em seu benefício 
(processualmente, por meio de embargos de terceiros, se ausente do pólo passivo, ou 
embargos à execução, se presente no pólo passivo, ou mesmo exceção de pré-
executividade, segundo a Defensoria). 
 Quanto à alienação dos bens, o empresário individual casado poderá alienar os bens 
que integrem o patrimônio do estabelecimento, sem a vênia conjugal, como dispõe o artigo 
978 do CC: 
 
“Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, 
qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio 
da empresa ou gravá-los de ônus real.” 
 
 Veja que esta possibilidade é uma exceção legal. A regra, sobre a outorga uxória 
(hoje chamada conjugal) é a presente no artigo 1.647, I, do CC: 
 
“Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem 
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: 
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; 
(...)” 
 
 Note que o empresário individual tem um só patrimônio, mas é perfeitamente 
definível quais são os bens que têm relação com o desempenho da atividade empresária e 
quais não guardam relação direta, e para os que são pertinentes ao estabelecimento, há esta 
exceção do artigo 978 do CC. Mas veja que se a finalidade do imóvel não for 
exclusivamente a atividade de empresa, não pode haver esta alienação sem vênia (como 
uma pousada, em que se realiza a empresa e ao mesmo tempo residem os cônjuges). 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 15 
2. Continuação da Empresa por Incapaz 
 
 Dispõe o artigo 974 do CC: 
 
“Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, 
continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo 
autor de herança. 
§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das 
circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, 
podendo a autorização serrevogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou 
representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos 
adquiridos por terceiros. 
§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, 
ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, 
devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização.” 
 
 O incapaz de que trata o caput deste artigo é definido no § 1°, como o menor ou o 
interdito. O interdito é o empresário individual capaz, que por algum motivo teve decretada 
sua incapacidade superveniente, sendo interditado. Em regra, a atividade que exercia não 
poderia ser continuada por ele, depois de interditado, vez que a empresa somente pode ser 
exercida por quem estiver em pleno gozo da capacidade civil. Este artigo traz esta exceção, 
desde que autorizada judicialmente, tendo por mens legis a o princípio da preservação, bem 
como da função social da empresa. 
 Note que não é o interdito quem praticará a atividade de empresa, e sim o 
representante, em nome do incapaz. Quem exerce direitos e contrai obrigações é o 
representante, mas o faz em nome do interdito. Por isso, quem tem a responsabilidade 
ilimitada é o interdito, e não o representante. O patrimônio do representante não é afetado 
pelas obrigações da atividade empresária, exceto se houver uma das hipóteses que o tornam 
imputável, como quando excede seus poderes, ou age de má-fé. Assim, em regra, o credor 
deve acionar o incapaz, na figura de seu representante. 
 A lei salvaguarda parte do patrimônio do interdito, como se vê no § 2° deste artigo 
974. O dispositivo é expresso, atribuindo uma “blindagem” patrimonial aos bens 
previamente existentes à interdição (ou sucessão, no caso dos menores), que nada tinham a 
ver com a atividade de empresa. Esta blindagem precisa ser consignada no alvará de 
continuação da empresa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 16 
Casos Concretos 
 
Questão 1 
 
 Dr. Frederik, veterinário, titular de vários imóveis, tem uma clínica veterinária, 
onde clinica e realiza pequenas cirurgias. Também é titular de um pet shop, FREDERIK 
CÃES E GATOS, em que vende produtos ligados à sua atividade. Pergunta-se? 
a) Dr. Frederik pode ser considerado empresário individual? 
b) Quantos patrimônios possui? 
 
Resposta à Questão 1 
 
a) Pela clínica, é profissional liberal, estando a atividade que exerce centrada em 
sua própria figura, e nos termos do artigo 966, parágrafo único, do CC: 
 
“Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, 
de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou 
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” 
 
Pela pet shop, ao contrário, é sim considerado empresário individual, pois 
claramente realiza atividade de empresa, sem integrar sociedade (como indica o 
nome do enunciado). Exercendo-a sozinho, é empresário individual. 
 
b) Tem um único patrimônio, pois em uma atividade é pessoa natural não-
empresária – que responde com todo o patrimônio pela regra cível-processual do 
artigo 591 do CPC; e na pet shop, como visto, é uma só pessoa a desempenhar a 
empresa – podendo, inclusive, falir, incidindo a falência em todo seu 
patrimônio. 
 
Questão 2 
 
MAURÍCIO, empresário individual, faleceu e deixou como herdeiro seu filho 
RENATO, de cinco anos. O juiz autorizou a continuação da empresa pelo menor, em nome 
de sua representante, com a respectiva expedição do alvará competente. Em razão do 
inadimplemento de obrigação contraída, a representante do menor foi demandada por 
CARLOS. A ré, em sua defesa, alegou ilegitimidade passiva por não ter responsabilidade 
pelas obrigações assumidas em nome do menor. A preliminar foi acolhida. Correta a 
decisão? Analise a questão sob todos os aspectos. 
 
Resposta à Questão 2 
 
O individuo absolutamente incapaz, como aquele com idade menor ou igual a 
dezesseis anos, jamais poderá iniciar atividade empresária individual, mas poderá ser 
autorizado judicialmente a continuar a empresa iniciada por outrem e a si legada – sempre 
representado (artigo 974, CC). O absolutamente incapaz que assim se afigura por 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 17 
interdição, poderá também ser autorizado a continuar a empresa iniciada por si mesmo, 
enquanto ainda era capaz. Esta continuação excepcional autorizada aos absolutamente 
incapazes de qualquer espécie se funda na proteção ao princípio da preservação da função 
social da empresa, enquanto geradora de estabilidade social. 
Estando representado, a responsabilidade recai sobre o incapaz, e não sobre o 
representante. Não há legitimidade. Acertou o juiz. 
 
Questão 3 
 
ROBERTO DOS SANTOS, empresário individual falecido, deixa, como herdeiro, 
seu filho MATEUS, com 13 anos de idade. O incapaz obteve por meio de sua representante 
legal autorização judicial para continuação da atividade herdada. Aos dezesseis anos 
MATEUS, em razão de emancipação, requereu e obteve o deferimento da revogação da 
autorização anteriormente concedida. Após 1 (um) ano do registro de sua firma individual 
no órgão competente requereu a concessão de recuperação judicial em razão de crise 
econômico-financeira. Deve o pedido ser deferido? Analise a questão sob todos os 
aspectos. 
 
Resposta à Questão 3 
 
 A recente Lei 11.101/05 trouxe ao ordenamento a nova regulamentação da 
recuperação de empresas e do processo de falência. A prioridade, no novel diploma, é a 
recuperação, pelo que esta é, de fato, instituto prévio à instauração do procedimento 
falimentar. Assim agiu o legislador por atentar à função social da empresa, pois esta, em 
regra, é mais valiosa à sociedade quando em funcionamento do que falida. 
 A recuperação é sempre, então, preventiva à quebra da empresa: se puder ser 
cabível, é sempre priorizada contra a falência. 
 A recuperação pode ser judicial ou extrajudicial. A recuperação judicial assemelha-
se, em alguns aspectos, à concordata preventiva, da antiga Lei de Falências, Decreto-Lei 
7.661/45. A recuperação extrajudicial, acordo fora do Poder Judiciário, é novidade 
inaugurada na Lei 11.101/05. 
 Ocorre que o artigo 48 desta lei impõe condição inarredável: o exercício da 
atividade há mais de dois anos. Por isso, in casu, não pode ser deferido o pedido. 
 
“Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do 
pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda 
aos seguintes requisitos, cumulativamente: 
(...)” 
 
 Veja que ao emancipar-se, registrou a firma individual, e é do registro que se 
consolidou a regularidade – é dali que se contam os dois anos da lei. Poder-se-ia cogitar, de 
outro lado, que a atividade vinha sendo desempenhada de forma autorizada pelo Judiciário, 
pelo quê o prazo poderia ser somado ao período pós-registro, somando o período necessário 
à recuperação. Esta tese da soma, porém, é minoritária, vez que se calca fundamentada 
apenas na própria lógica sistemática da Lei 11.101/05 como um todo, que intenta promover 
a recuperação antes da quebra, enquanto a primeira corrente tem a seu lado a expressão da 
lei, no artigo 48. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 18 
Tema III 
 
Sociedades. Conceito. Elementos caracterizadores. Sociedades unipessoais. Classificação - sociedades de 
pessoas e de capital. Sociedades cooperativas. A participação de pessoas casadas e impedidas. 
 
Notas de Aula 
 
1. Conceitode Sociedades 
 
 Como já se viu, sociedades de dividem em simples e empresárias, podendo adotar 
diversos tipos societários. O artigo 981 do CC estabelece conceito legislativo de sociedade, 
pelo quê vale sua transcrição: 
 
“Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se 
obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade 
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais 
negócios determinados.” 
 
 Dali se depreende que sociedades são contratos celebrados entre pessoas, naturais 
ou jurídicas, que se obrigam a contribuir com a sociedade para o efetivo exercício de 
atividade econômica. 
 Quanto às pessoas, a sua pluralidade é um elemento regra, havendo poucas 
exceções, que serão vistas, em que a unipessoalidade é admitida. As pessoas podem ser 
naturais ou jurídicas, mas há alguns tipos societários que restringem esta liberdade: na 
sociedade em nome coletivo, só são admissíveis como sócios pessoas naturais, jamais 
jurídicas; e na sociedade em comandita simples, o sócio comanditado só pode ser pessoa 
natural. Nas demais formas societárias, não há limitação à natureza das pessoas. 
 Os atos constitutivos das sociedades regidas no CC – comandita simples, em nome 
coletivo, simples pura e limitada – têm natureza de contrato plurilateral, como visto. Nas 
sociedades alheias ao CC, chamadas institucionais, o ato é um estatuto. 
 
2. Sociedades Unipessoais 
 
 É cediço, como se viu no conceito legislativo de sociedades, que a pluralidade de 
sócios é elemento necessário, em regra. Ocorre que a lei admite, de forma temporária ou 
perene, a unipessoalidade, a título excepcional. 
Veja que em regra a existência de um só sócio contraria a regra geral da formação 
de uma sociedade, e por isso seria causa de dissolução da sociedade. Contudo, o legislador 
preferiu estabelecer situações excepcionais em que se tolera o funcionamento da sociedade 
com um só sócio, em ordem a promover a preservação da atividade empresária e 
salvaguardar a função social da empresa. 
Durante o prazo de recomposição, a responsabilidade do sócio remanescente é 
limitada a suas quotas, ou do contrário não haveria vontade em continuar a empresa por 
este sócio, dado o risco. 
Tais são as exceções: 
 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 19 
- A Lei 6.404/76, no artigo 206, I, “d”, garante o funcionamento da sociedade com 
um só acionista pelo período compreendido entre a constatação da unipessoalidade 
e a assembléia geral ordinária do próximo ano. É o primeiro caso de 
unipessoalidade temporária, em que se admite um período para recomposição do 
quadro social plural, ao invés de se dissolver a sociedade de plano. Veja: 
 
“Art. 206. Dissolve-se a companhia: 
I - de pleno direito: 
(...) 
d) pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembléia-geral 
ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte, 
ressalvado o disposto no artigo 251; 
(...)” 
 
Não é técnico se falar que este prazo é de um ano, pois o período entre as 
assembléias pode variar muito, podendo chegar perto de dois anos entre si. 
Expirado o prazo legal, se o acionista não conseguiu recompor a sociedade, 
será causa de dissolução da sociedade, de pleno direito. Não promovendo a 
dissolução, o acionista remanescente passa a ter responsabilidade ilimitada, vez que 
a sociedade se torna irregular. Vencido o prazo, o credor desta sociedade unipessoal 
irregular poderá, fazendo aplicação subsidiária do artigo 1.080 do CC, autorizada 
pelo artigo 1.089 do CC, ajuizar ação contra o sócio, diretamente, ou a sociedade e 
o sócio, em pólo solidário, sem que este sócio possa alegar benefício de ordem em 
relação ao capital social. Veja que não se trata de responsabilização por 
desconsideração da personalidade jurídica, e sim de imputação direta por infração 
praticada pelo sócio. 
 
“Art. 1.089. A sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se-lhe, nos 
casos omissos, as disposições deste Código.” 
 
“Art. 1.080. As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a 
responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.” 
 
- O artigo 1.033, IV, do CC, estabelece situação similar para as sociedades regidas 
pelo codex civilista: 
 
“Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: 
(...) 
IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta 
dias; 
(...)” 
 
A diferença, de fato, entre esta situação e a do artigo 206 da lei 6.404/76, é o 
prazo: aqui, a recomposição deve ser feita em até cento e oitenta dias, sob pena de 
dissolução de pleno direito, a qual, se não procedida, torna o sócio remanescente 
ilimitadamente responsável, com fulcro no artigo 1.080 do CC. 
 
 - O artigo 251 da Lei 6.404/76 estabelece a exceção da subsidiária integral: 
 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 20 
“Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo 
como único acionista sociedade brasileira. 
§ lº A sociedade que subscrever em bens o capital de subsidiária integral deverá 
aprovar o laudo de avaliação de que trata o artigo 8º, respondendo nos termos do § 
6º do artigo 8º e do artigo 10 e seu parágrafo único. 
§ 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante aquisição, 
por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do artigo 252.” 
 
A subsidiária integral é uma companhia que tem como único acionista uma 
sociedade brasileira. Veja, então, que é um caso peculiar de sociedade unipessoal 
perene, ou seja, que pode existir validamente com um único sócio, sem precisar 
compor pluralidade de sócios jamais. 
Em verdade, a subsidiária integral é sempre unipessoal. Se compuser-se 
quadro pluripessoal, a sociedade deixa de ser subsidiária integral. É o estatuto desta 
que determina se haverá pluralidade ou não, algum dia. 
Note-se que a subsidiária integral somente pode adotar o tipo societário S/A, 
pois assim prevê a lei, neste artigo 251. A sociedade que é sócia desta S/A, porém, 
pode adotar qualquer tipo societário, pois a lei menciona que o único acionista será 
“sociedade brasileira”, e não “companhia brasileira”. Assim, nada impede que uma 
LTDA, por exemplo, seja a única sócia de uma S/A subsidiária integral. 
A responsabilidade do acionista é limitada, vez que ele é um sócio como 
outro qualquer da S/A, que calha de ser uma subsidiária integral. Da mesma forma, 
a responsabilidade do sócio desta sociedade, que é a única sócia da subsidiária 
integral, é atinente ao tipo societário que for: se esta é uma LTDA, sua 
responsabilidade é limitada; se a sociedade sócia exclusiva da subsidiária integral 
for uma sociedade em nome coletivo, por exemplo, todos os sócios terão 
responsabilidade ilimitada. 
 
- As empresas públicas são outro exemplo de sociedades que podem assumir a 
forma unipessoal perenemente. Em essência, não são unipessoais: são empresas em 
que a totalidade do capital social é detido pelo Poder Público, mas não 
necessariamente a um só ente. Se calhar de um só ente público deter cem por cento 
de seu capital, é caso de unipessoalidade, e esta pode ser permanente. No Brasil, há 
um exemplo: a Caixa Econômica Federal é da União, sem mais sócios. 
 
- Tavares Borba defende que a sociedade em que haja composição dos quadros por 
mais de um sócio, mas é notória a atividade de um só sócio, sendo que a divisão do 
capital lhe contempla a absoluta maioria, deixando parte ínfima ao outro sócio, é 
sociedade aparente, ou fictícia, que só se compõe com o fito de burlar as regras da 
responsabilidade ilimitada, caso este sócio realizasse a empresa sozinho (quando 
seria empresário individual). Nestecaso, há unipessoalidade de fato, mesmo que 
formalmente haja pluralidade. 
 Assim sendo, é caso em que o credor poderá pleitear a desconsideração da 
personalidade jurídica, por vício de constituição, fraude originária, invadindo o 
patrimônio pessoal de ambos os sócios. 
 
 
 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 21 
3. Requisitos Essenciais das Sociedades 
 
O primeiro requisito é justamente a pluralidade de sócios: ressalvadas as exceções 
exibidas, a sociedade deve ser composta por ao menos dois sócios. 
O segundo requisito é a necessária contribuição dos sócios com bens ou serviços. 
Como já se viu, a sociedade de capital e indústria não mais existe, mas os sócios ainda 
podem contribuir exclusivamente com serviços nas sociedades simples puras e nas 
sociedades cooperativas. Veja: 
 
“Enunciado 206 do CJF - Arts. 981, 983, 997, 1.006, 1.007 e 1.094: A contribuição 
do sócio exclusivamente em prestação de serviços é permitida nas sociedades 
cooperativas (art. 1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 
2ª parte).” 
 
Outro requisito é a necessária partilha entre os sócios dos resultados da atividade 
empresária, ou seja, jamais poderá o contrato excluir o sócio da percepção de lucros, sob 
pena de nulidade da cláusula que assim dispuser. Há quem sustente que pode haver a 
suspensão temporária de direitos essenciais dos sócios – como o é a percepção dos lucros –, 
calcando este entendimento no artigo 120 da Lei 6.404/76, em interpretação sistemática 
com o artigo 1.008 do CC: 
 
“Art. 120. A assembléia-geral poderá suspender o exercício dos direitos do 
acionista que deixar de cumprir obrigação imposta pela lei ou pelo estatuto, 
cessando a suspensão logo que cumprida a obrigação.” 
 
“Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar 
dos lucros e das perdas.” 
 
3.1. Affectio Societatis 
 
Último requisito que demanda explanação é a affectio societatis. A definição deste 
elemento subjetivo, volitivo, é a intenção dos sócios em constituir a sociedade, ou dar 
continuidade à atividade. Assim, a affectio é verificada originariamente, ou seja, é medida 
da vontade do sócio em se associar; e no curso da existência da sociedade, medida da 
vontade do sócio em permanecer conduzindo-se associado, ou seja, dar continuidade à 
sociedade. 
Muito se confunde a presença da affectio com a natureza da sociedade, separando-as 
em sociedade de pessoas ou de capital. Veja que se valer desta separação para dizer que a 
sociedade de pessoas tem affectio e a sociedade de capital não tem é critério atécnico, pois 
na sociedade de capital pode haver affectio, decerto, pondo por terra este critério. O que 
diferencia a sociedade de pessoas da de capital não é a presença ou não da affectio, que é 
requisito indispensável em ambas; a diferença está na preponderância, na sociedade de 
pessoas, na figura dos sócios (o que é a própria pessoalidade), ou seja, os sócios se 
associam de acordo com a confiança recíproca que depositam entre si. E é por esta 
confiança, esta pessoalidade, que os sócios devem admitir a entrada de terceiros no quadro 
social. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 22 
Já na sociedade de capital, o elemento que prepondera é o capital, e não a pessoa do 
sócio. É a contribuição pecuniária que tem relevância, e não a figura do sócio, motivo pelo 
qual a entrada ou saída do quadro social é livre. 
É necessário, então, se analisar a questão da presença ou não da affectio nas 
sociedades anônimas. Antes de tudo, é necessário se traçar a diferença entre as companhias 
abertas e fechadas: segundo o artigo 4° da Lei 6.404/76, a S/A é aberta quando tem seus 
valores mobiliários admitidos à negociação no mercado: 
 
“Art. 4o Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os 
valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no 
mercado de valores mobiliários. 
(...)” 
 
Veja que não é apenas a admissão das ações no mercado que torna a S/A aberta, e 
sim qualquer valor mobiliário, como debêntures e bônus de subscrição, além das ações 
(lembrando que partes beneficiárias, espécies de valores mobiliários, não podem ser 
emitidas por companhias abertas, e portanto não são negociáveis no mercado). Assim, se a 
S/A não em ações no mercado, mas tem debêntures, por exemplo, admitidas a negócios no 
mercado, é considerada aberta. 
A S/A é fechada quando seus valores mobiliários só são admitidos a negociação 
com terceiros, diretamente, sem exposição livre ao mercado. Por óbvio, os valores 
mobiliários têm maior liquidez na S/A aberta; por isso, suas ações são de livre compra e 
venda, ou seja, o sócio pode entrar ou sair da sociedade livremente, bastando colocar suas 
ações à venda no mercado. 
Suponha-se a seguinte situação: acionista de S/A fechada propõe ação de dissolução 
total por fundamento na quebra da affectio, restando comprovado o fato que identificou esta 
quebra. Seria procedente esta ação? 
Veja que na sociedade anônima fechada há entendimento de que, se quebrada a 
affectio, será causa bastante à dissolução, mas não total: será possível a dissolução parcial, 
ou seja, a retirada do sócio havendo sua parcela de capital. Não haverá dissolução total por 
respeito aos princípios da preservação da atividade, e à função social da empresa. Este é o 
posicionamento reiterado do STJ, e o acompanha o CJF. Veja: 
 
“Enunciado 390 do CJF- Em regra, é livre a retirada de sócio nas sociedades 
limitadas e anônimas fechadas, por prazo indeterminado, desde que tenham 
integralizado a respectiva parcela do capital, operando-se a denúncia (arts. 473 e 
1.029).” 
 
Mesmo tendo sido requerida a dissolução total, poderia o julgador dar procedência 
parcial, a fim de conceder a dissolução parcial, sem configurar julgamento extra petita, pois 
quem pode o mais, pode o menos. E ressalte-se: só há procedência porque a S/A é fechada, 
pois a liquidez de suas ações é menor (uma vez que não as pode expor ao mercado); fosse 
aberta, não haveria interesse processual em dissolução da sociedade, sequer em dissolução 
parcial4, pois poderia o sócio simplesmente colocar as suas ações à venda, no mercado, 
retirando-se muito mais facilmente da sociedade. 
 
4 A expressão dissolução parcial é construção doutrinária, pois o CC trata a hipótese sempre como resolução 
da sociedade em relação a um sócio. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 23 
4. Casados e Impedidos 
 
O artigo 977 do CC traz a seguinte previsão: 
 
“Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, 
desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da 
separação obrigatória.” 
 
Este artigo inaugurou, quando o CC de 2002 entrou em vigor uma polêmica sobre 
os empresários casados. Isto porque o antigo regime não previa qualquer impedimento aos 
casados, na composição de sociedades. Hoje, como se vê, se impõe a limitação referente ao 
regime: se casados em regime de separação legal, ou comunhão universal, não poderão 
contratar sociedade entre si5. 
Veja a posição do CJF nesta questão: 
 
“Enunciado 204 do CJF - Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas 
sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as 
sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002.” 
 
Assim, o artigo 2.031 do CC, quando determina a adaptação das sociedades ao novo 
regime, não tem aplicação ao artigo 977. 
 
“Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis 
anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste 
Código até11 de janeiro de 2007. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas 
nem aos partidos políticos.” 
 
Outra interpretação é quanto à expressão “com terceiros”: o que o artigo impede é a 
presença de pessoas casadas nestes regimes em uma mesma sociedade, ou seja, é claro que 
os cônjuges casados nestas condições poderão contratar sociedade com terceiros, desde que 
na mesma sociedade o seu cônjuge não figure como sócio. Esta é a interpretação dada pelo 
CJF: 
 
“Enunciado 205 do CJF - Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: 
(1) a vedação à participação de cônjuges casados nas condições previstas no artigo 
refere-se unicamente a uma mesma sociedade; (2) o artigo abrange tanto a 
participação originária (na constituição da sociedade) quanto a derivada, isto é, fica 
vedado o ingresso de sócio casado em sociedade de que já participa o outro 
cônjuge.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 É claro que esta regra não tem aplicabilidade para as situações consolidadas antes da entrada em vigor do 
novo CC, pois deve ser respeitado o direito adquirido e ato jurídico perfeito. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 24 
Casos Concretos 
 
Questão 1 
 
Cotejar a regra do art. 981 do Código Civil, que determina a pluralidade de sócios 
como requisito essencial das sociedades, com as sociedades unipessoais, indicando, em 
cada caso, a responsabilidade dos sócios. 
 
Resposta à Questão 1 
 
 Sociedades unipessoais, em apertada síntese, são aquelas que contam com apenas 
um sócio. Em regra, não é admissível a sociedade unipessoal senão por curto período, e 
excepcionalmente. Veja que, apesar dos termos serem contraditórios em si mesmos 
(unipessoal e sociedade), é admissível, por exemplo, a subsidiária integral e a empresa 
pública nesta condição. 
 
“Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se 
obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade 
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais 
negócios determinados.” 
 
 A responsabilidade dos sócios é atinente à sua parcela de quotas do capital. Como 
na unipessoal o capital é integralizado por um só sócio, responde este por toda a sociedade. 
 
Questão 2 
 
CLÁUDIO RIBEIRO ajuizou ação de dissolução parcial de sociedade anônima 
aberta alegando quebra da affectio societatis. O processo foi extinto sem julgamento do 
mérito por falta de interesse do autor porque, diferentemente das sociedades limitadas, não 
existe affectio societatis nas sociedades por ações em razão de sua natureza: sociedade de 
capital. 
Analise a questão sob todos os aspectos. 
 
Resposta à Questão 2 
 
Em princípio, impende consignar que a decisão de extinção foi correta: a ação de 
dissolução parcial da sociedade aberta não é a via adequada para satisfazer sua pretensão, 
uma vez que pode simplesmente vender as suas ações no mercado: carece interesse de agir 
ao autor, pois há meio mais eficaz (potestativo, inclusive) e menos oneroso de satisfazer sua 
pretensão. 
Entretanto, o fundamento da extinção não foi correto. Na sociedade por ações há, 
sim, affectio societatis, pois este conceito, este elemento, não se atém à natureza capital da 
sociedade, e sim à intenção de constituir ou dar continuidade à sociedade. 
 
 
 
 
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Michell Nunes Midlej Maron 25 
Questão 3 
 
CARLOS, casado em comunhão universal de bens com ISADORA, constituiu 
sociedade simples com mais três sócios. A sociedade teve indeferido seu registro no 
Registro Civil de Pessoas Jurídicas com base no art. 977 do Código Civil, que veda a 
constituição de sociedades entre cônjuges. Correta a decisão? Resposta justificada. 
 
Resposta à Questão 3 
 
Absolutamente incorreta. Em nada há relação entre o casamento de Carlos com a 
constituição de uma sociedade simples, a qual se destina a registro exatamente no RCPJ. O 
artigo 977 do CC veda a sociedade entre um cônjuge e outro, não ente um sujeito casado e 
outras pessoas. Qualquer que seja o regime, se um cônjuge não está associando-se ao outro, 
não há impeditivo: o que não poderia era Carlos associar-se a Isadora, mesmo havendo 
outros sócios. 
 Assim interpreta o CJF, em seu enunciado 205, da Terceira Jornada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Michell Nunes Midlej Maron 26 
Tema IV 
 
Sociedades. Espécies - sociedades simples e empresárias. Conceito. Noções gerais. Caracterização. 
Elementos de distinção. Cooperativas. Atividade Rural. 
 
Notas de Aula 
 
1. Atividade Rural 
 
 Os artigos 971 e 984 do CC tratam desta situação: o artigo 971 trata do empresário 
individual rural; o 984, da sociedade rural. São exemplos de atividade rural a agricultura, a 
pecuária, dentre outros. 
 
“Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, 
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, 
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, 
caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao 
empresário sujeito a registro.” 
 
“Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de 
empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos 
de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição 
no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de 
inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. 
Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o 
pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a 
transformação.” 
 
A sociedade ou o empresário rural é aquele cuja principal atividade seja rural. 
Quando assim for, poderá optar por registrar-se na Junta Comercial ou no RCPJ. 
Registrando-se no RCPJ, não será considerada, a atividade, como empresária; se inscrever-
se na Junta, no RPEM, será empresária. 
Vejas que a atividade de empresa e depreendida de um critério real, e não formal, 
em regra. A sociedade ou a pessoa física será considerada empresária a partir de um critério 
real, ou seja, da verificação fática da natureza da atividade, e não da constatação do órgão 
em que foi registrada. Será empresário aquele que exerce a atividade econômica 
organizada, e por isso o registro, para a atividade de empresa, tem mera natureza 
declaratória: não é o registro que constitui a natureza de empresário, apenas se restando a 
declarar sua existência fática. Ocorre que a atividade rural subverte esta regra: se o 
indivíduo exerce atividade rural economicamente organizada, ainda assim poderá ser 
considerado não empresário, bastando, para isso, que opte por registrar-se no RCPJ, e não 
no RPEM. Portanto, a condição de empresário rural é adquirida com o registro, com a 
opção pelo RPEM, ou seja, é meramente formal: o registro é constitutivo da qualidade de 
empresa. 
Esta é a posição da doutrina majoritária, de que o registro do empresário rural no 
RPEM é uma exceção à regra, pois é constitutivo da natureza de empresária à atividade. 
Há, porém, tese contrária, minoritária – por todos, Cláudio Calo – que sustenta que, ainda 
que seja atividade rural, o registro só pode ter natureza declaratória: vai apenas extrair da 
realidade a natureza empresária da atividade. Assim, se a atividade rural não for 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 27 
economicamente organizada, nãopoderá haver opção, não poderá o indivíduo ou sociedade 
se registrar no RPEM, sendo obrigatória a inscrição no RCPJ. 
Na verdade, a controvérsia sobre a atividade rural é grande. Para Sérgio Campinho, 
assim se apresenta a situação: se a atividade for rural, seja ela organizada ou não, é o 
bastante para que a pessoa, indivíduo ou sociedade, possa optar pelo registro no RCPJ ou 
RPEM. Sendo assim, se a atividade for organizada, será empresária de fato, mas será 
empresária apenas se levada ao registro no RPEM, o qual é uma opção do sujeito. Se não 
for organizada, ou seja, se for atividade rural econômica simples, não empresária de fato, 
ainda assim poderá ser levada ao registro no RPEM, se for da vontade do sujeito, quando 
então será empresária: há a opção de, mesmo sendo materialmente atividade de sociedade 
simples, ou de pessoa natural não empresária, registrar seus atos na Junta Comercial, 
quando então será reconhecida como empresária. Em suma, para Campinho, o único 
requisito para que haja a opção entre registro no RPEM ou no RCPJ é que haja atividade 
rural. Registrada no RPEM, mesmo que tenha natureza material de atividade simples, será 
empresária, com todos os consectários – para efeitos falimentares, inclusive. 
Para Mônica Gusmão, o critério para haver a possibilidade de opção é mais 
intrincado. Segundo exegese do artigo 971 do CC, é necessário, para que haja opção, que o 
empresário tenha como principal atividade a rural. Dali surgem, então, dois requisitos: é 
necessária a presença de atividade rural economicamente organizada, dando o caráter de 
empresário que está textualmente apontado no artigo – e não qualquer atividade rural –, e a 
principal atividade do empresário deve ser rural. Somente com a cumulação destes dois 
requisitos cria para a pessoa, para o indivíduo ou sociedade, a faculdade de registrar-se na 
Junta Comercial ou no RCPJ. Para esta segunda corrente, então, se não há esta cumulação 
de requisitos, e a sociedade se registra no RPEM, é irregular, e por isso será tratada como 
sociedade em comum. 
Corroborando a segunda corrente, há os enunciados 201 e 202 do CJF: 
 
“Enunciado 201 do CJF - Arts. 971 e 984: O empresário rural e a sociedade 
empresária rural, inscritos no registro público de empresas mercantis, estão sujeitos 
à falência e podem requerer concordata.” 
 
“Enunciado 202 do CJF - Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade 
rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao 
regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade 
rural que não exercer tal opção.” 
 
Veja que, em ambos os enunciados, se usa o termo “empresário”, entendendo que a 
atividade deve ser materialmente empresária para haver a opção pelo registro no RPEM. 
Segundo ponto controvertido sobre a atividade rural é quanto à cumulação desta 
atividade com outra de natureza industrial. Sérgio Campinho entende que, havendo 
atividade industrial concomitante à atividade rural, esta será considerada empresária, sendo 
imposto o registro no RPEM, não sendo necessário cogitar-se qual será a preponderante. 
Sendo ou não preponderante a atividade rural, se há cumulação de atividade industrial, não 
há opção no registro: será necessariamente na Junta Comercial. 
A corrente majoritária, porém, fazendo uma leitura mais literal dos artigos 971 e 
984 do CC, entende que mesmo se houver cumulação com atividade industrial, se a 
atividade rural for preponderante, se for a principal atividade, vai haver o direito de opção 
no registro. Neste diapasão, só será materialmente empresária a atividade da pessoa que, 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 28 
cumulando atividade rural e industrial, tiver a indústria preponderando sobre a atividade 
rural. Se a atividade rural preponderar, poderá haver escolha do registro, no RPEM ou no 
RCPJ6. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 O critério para verificar qual é a atividade principal é pela eliminação hipotética: se suprimida uma das 
atividades, a outra for suficiente para manter a atividade da pessoa, é porque a suprimida não era 
preponderante. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
Michell Nunes Midlej Maron 29 
Casos Concretos 
 
Questão 1 
 
Responda se são simples ou empresárias: 
a) uma sociedade limitada que tenha por objeto a criação de gado e crie 5.000 
cabeças em uma área de 10.000 hectares no Estado de Mato Grosso do Sul; 
b) uma sociedade anônima que tenha por objeto a prestação de serviços médicos; 
c) uma sociedade limitada que tenha por objeto a prestação de serviços de 
auditoria. 
 
Resposta à Questão 1 
 
a) É simples, pois é atividade rural, que só se torna empresária pela efetivação, 
facultativa, do registro no RPEM. Como não há, no enunciado, informação de 
que haja registro na Junta Comercial, a sociedade é simples. 
 
b) É empresária, vez que a sociedade anônima é sempre empresária, mesmo que 
sua atividade seja materialmente de sociedade simples: prepondera a forma 
sobre o objeto, ou seja, se adotada a forma S/A, será empresária, debalde a 
natureza da atividade. 
 
c) Uma vez que a atividade de auditoria é eminentemente intelectual, e como o 
artigo 966 do CC, no parágrafo único, dispõe que as atividades desta natureza 
não são, em regra, organizadas, não há exercício de empresa, o caso é de 
sociedade simples. Contudo, se a sociedade de auditoria, no caso concreto, 
apresentar o elemento de empresa, será considerada como empresária. 
 
Questão 2 
 
Três médicos - um cirurgião, um clínico e um ortopedista - constituíram uma 
sociedade limitada para explorar uma casa de saúde, na qual os sócios passaram a exercer 
suas especialidades médicas, com concurso de colaboradores e auxiliares. 
Esta sociedade caracteriza-se, ou não, como empresa? 
Resposta fundamentada. 
 
Resposta à Questão 2 
 
 Depende. Se a atividade for economicamente organizada, será empresa; se não há a 
organização, é sociedade simples. Se a atividade estiver centralizada na atuação pessoal dos 
sócios, é o caso exato da previsão legal para a atividade de sociedade simples, em que o 
foco é na pessoa dos sócios, e não na pessoa jurídica, carecendo da organização de diversos 
escopos para formar a atividade: o escopo é um só, o atendimento médico pelos sócios. Se, 
de outro lado, a atividade contar com um aparato tal, em que os auxiliares e colaboradores 
exercem, eles próprios, a atividade-fim, ou dela participam com papel fundamental, estará 
presente o elemento de empresa, e será a atividade considerada empresária. 
EMERJ – CP I Direito Empresarial I 
 
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 Veja que, in casu, a presença de um cirurgião dá a entender que é necessária a 
organização econômica em torno da atividade, ou seja, é necessário o acompanhamento 
pós-operatório por equipe de colaboradores, dedicados à consecução da atividade fim. Por 
isso, o caso concreto pende à caracterização da sociedade como empresária. 
 
Questão 3 
 
Sociedade limitada tem por objeto declarado no seu contrato social a exploração 
de atividades agropecuárias. No curso de sua existência a sociedade passou a desenvolver 
a industrialização de produtos agrícolas e pecuários produzidos por ela própria e por 
terceiros. Pergunta-se: 
a) Quais as conseqüências do exercício concomitante das atividades industrial e 
agropecuária? 
b) Essa sociedade pode incidir em falência? 
Respostas fundamentadas. 
 
Resposta à Questão 3 
 
a) A conseqüência é que, para a corrente doutrinária majoritária, o registro na junta 
Comercial será optativo se a atividade rural for predominante,

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