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1 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB DIREITOS INDIVIDUAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 O art. 5º da CF consagra o que denominou direitos individuais e coletivos. Apresenta a Constituição aquela confusão de classificações dos direitos fundamentais em gerações ou dimensões e de acordo com o titular do direito. Na realidade o art. 5º expõe os clássicos direitos de primeira dimensão, as liberdades públicas: vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade e, ao mesmo tempo dá ideia de que trata também dos direitos fundamentais do ponto de vista do titular e da natureza do direito, se é divisível ou não, ao abordar a expressão “direitos individuais e coletivos”. O fato é que o caput do art. 5º da CF estabelece os destinatários dos direitos individuais, os grandes grupos de direitos individuais e os seus incisos apresentam aspectos desses direitos individuais. O caput do art. 5º prevê que os direitos individuais serão assegurados aos brasileiros e estrangeiros residentes no país. Esta expressão gerou inúmeras discussões, até que prevaleceu o entendimento de que não se deve analisar ou interpretar literalmente esta expressão: “brasileiros e estrangeiros residentes”. Afinal, como ficariam os estrangeiros que estiverem no Brasil, mas não residentes. Prevaleceu evidentemente o entendimento, inclusive com julgados do Supremo nesse sentido, de que os estrangeiros não residentes também estariam amparados pelos direitos previstos pelo art. 5º da Constituição. Afinal, a razão de ser dessa expressão constitucional tem na verdade caráter territorial para designar o âmbito de incidência da Constituição Federal, simplesmente isso. Então, na realidade apesar da expressão “brasileiros e estrangeiros residentes no país”, os direitos previstos no art. 5º também alcançam os estrangeiros que estiverem no Brasil, mas que aqui não residirem. Além dessa problemática surgida e resolvida em relação aos destinatários do art. 5º, também surgiu a discussão se pessoas jurídicas poderiam ser consideradas como titulares dos direitos previstos no art. 5º, isto também em razão da expressão utilizada pelo caput do dispositivo: brasileiros e estrangeiros residentes. Evidentemente prevaleceu o entendimento, de que sempre que a natureza do direito comportar também pessoa jurídica terá os direitos previstos neste dispositivo. O caput do art. 5º que consagra inclusive os cinco grandes grupos de direitos individuais: vida, liberdade, propriedade, igualdade e segurança. Vejamos inicialmente os parágrafos do art. 5º, para depois ingressarmos nos próprios incisos principais deste dispositivo. O §1º do art. 5º prevê que normas constitucionais sobre direitos fundamentais possuem aplicabilidade imediata. O primeiro problema está no fato de que o parágrafo tratou de algo além do que próprio dispositivo disciplinou. O dispositivo trata de uma das modalidades de direitos fundamentais e o §1º aparece fazendo alusão aos direitos fundamentais em geral, por isso é que muitos autores entendem que este dispositivo refere-se na verdade aos direitos previstos no próprio art. 5º. O problema que surge deste §1º é o fato de que muitas vezes é preciso reconhecer que uma ou outra previsão do art. 5º não teria uma aplicabilidade imediata, por exemplo, o inciso XXXII que prevê que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. De tal modo que a própria Constituição Federal nas disposições transitórias no art. 48 estabeleceu um prazo de 120 dias, contados da promulgação da Constituição, para a edição da norma regulamentadora do Código de Defesa do Consumidor. 2 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB Por isso é que, a interpretação que prevalece do §1º do art. 5º da Constituição é: sempre que possível deve ser dada às normas desse dispositivo uma interpretação que favoreça sua aplicabilidade imediata. Sempre que possível. O §2º do art. 5º prevê que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a república Federativa do Brasil seja parte”. Primeiro lugar, a primeira parte desse §2º do art. 5º estabelece que os direitos expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados. Indiscutivelmente, no decorrer da própria Constituição mesmo fora do art. 5º é possível encontrar alguns direitos individuais implícitos, que decorrem dos próprios princípios da Constituição, como o Supremo Tribunal Federal já reconheceu mais de uma vez. É o caso do princípio da anterioridade do art. 150 da Constituição, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal como um direito individual, e também o princípio da anterioridade eleitoral previsto no art. 16 da Constituição Federal, também reconhecido como um direito individual implícito. Outro detalhe importante, esta parte do §2º do art. 5º tem sido apontada também como um dos focos de ativismo judicial. A ideia de que o judiciário produz normas supletivamente a partir da aplicação direta da Constituição, dos próprios princípios constitucionais, independentemente de ter a lei como intermediário, o que gerou o chamado neoconstitucionalismo, tem como foco importante esta previsão do §2º do art. 5º. Afinal, qual órgão ou qual poder identificará esses direitos decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição? É aí que se encontra uma possibilidade de se considerar como autorização para que o judiciário promova essa identificação, portanto defina quais são esses direitos, suas condições de aplicação, aplicando então, diretamente a Constituição. A segunda parte do §2º art. 5º prevê a existência de outros direitos decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil. Este dispositivo foi tomado por base por um seguimento doutrinário, como Flávia Piovesan, para sustentar que os tratados internacionais de direitos humanos firmados pelo Brasil teriam estatura constitucional. Mas esta posição não encontrou apoio no Supremo Tribunal Federal. A questão teve o desdobramento com a promulgação da Emenda 45 de 2004, que criou o parágrafo subsequente: o § 3º do art. 5º, segundo o qual, os tratados internacionais de direitos humanos firmados pelo Brasil, que passarem pelo processo legislativo das emendas, equivalerão às emendas. Portanto, terão status de norma constitucional. A Emenda 45/2004 ao criar o §3º do art. 5º estabeleceu a condição para que um tratado de direitos humanos adquira estatura constitucional: ser apreciado pelo Congresso e pelo processo legislativo próprio das emendas. E os tratados anteriores a esta previsão constitucional? Os tratados de direitos humanos que não passaram pelo processo legislativo, das emendas? O Supremo Tribunal Federal firmou uma posição desde o final de 2008 no sentido de que, os tratados de direitos humanos que não forem submetidos ao processo legislativo próprio das emendas não terão estatura constitucional, não terão status de norma constitucional. Mas também não serão considerados como simples leis ordinárias, terão um status intermediário, abaixo da Constituição e acima das leis ordinárias, terão caráter de infra- constitucionalidade, de supra legalidade. E o último parágrafo do art. 5º o §4º diz que o Brasil se submete a jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. Na realidade a interpretação que tem prevalecido sobre este parágrafo 4º é a de que não é o Brasil que está submetido ao Tribunal Penal Internacional, mas os brasileiros. 3 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB Como compatibilizar o disposto neste §4ºdo art. 5º com o que prevê o próprio art. 5º, mas o inciso LI, ou seja, de que os natos não serão extraditados e que os naturalizados, via de regra, também não serão extraditados salvo, em relação os naturalizados, por crimes comuns cometidos antes da naturalização ou então, por participação em atividades de tráfico ilícito de entorpecentes e atividades do gênero, a qualquer momento antes ou depois da naturalização. A compatibilização é simples, na realidade prevaleceu o entendimento de que o §4º do art. 5º não trata da figura da extradição, e sim da entrega de brasileiros, que é feita por requisição de tribunal internacional por crime contra a humanidade. Portanto, os brasileiros sujeitam-se a entrega, mas não a extradição, que são figuras diferentes. Em relação à extradição está a ressalva mencionada anteriormente relativa aos naturalizados. Como havia dito no início, o art. 5º consagra cinco grandes grupos de direitos individuais e seus incisos apresentam vários aspectos desses direitos, sendo que muitas vezes estes aspectos se entrelaçam e o mesmo inciso serve para a proteção de mais de um direito individual. Vejamos os aspectos principais desses grupos de direitos individuais e seus aspectos protegidos pelo art. 5º. DIREITO À VIDA A Constituição protege a vida de forma ampla, o chamado direito fundamental por excelência, sem o qual de nada adiantariam os demais direitos individuais. Protegeu, portanto, vários aspectos da vida. Primeiro dele é a proteção à própria existência. A Constituição destaca a proteção à existência ao vedar no próprio artigo 5º a pena de morte, salvo em caso de guerra, guerra externa e não em guerra civil. Aí está a principal previsão constitucional que estabelece a proteção à própria existência. O grande dilema desta proteção, desse aspecto desse direito a vida protegido pelo art. 5º é que a Constituição não entra na discussão do momento em que começa esta proteção, do momento, portanto que começa a existência. E aí é possível encontrar na doutrina algumas posições divergentes, as duas principais posições opostas são as seguintes: A primeira posição é no sentido de que não cabe à própria Constituição a definição do início da vida, isso seria uma tarefa das ciências biológicas. E como, para as ciências biológicas a vida já existiria com a fecundação, a partir desse momento é que ocorre a proteção constitucional à existência. Para os seguidores dessa linha a lei que autorizasse o aborto seria, portanto, contrária à Constituição. Outra posição é a que sustenta que a Constituição não faz referência à proteção da vida intrauterina, partindo de uma interpretação literal do caput do art. 5º que prevê inviolabilidade à vida aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país. Portanto, este seguimento doutrinário diz: só há que se falar em nacionalidade a partir do nascimento com vida, portanto, a Constituição neste art. 5º simplesmente não faz referência à vida intrauterina. Havia expectativa de que o Supremo definisse algo nesse sentido no julgamento da arguição de descumprimento fundamental n. 54, que tratou do caso do feto anencéfalo. Entretanto, o julgamento final do Supremo Tribunal Federal acabou se manifestando no sentido de que não há aborto naquela situação. O Supremo Tribunal Federal disse simplesmente que, não incide aborto no crime de aborto previsto no Código Penal a interrupção da gestação do feto anencéfalo, porque não há vida. Esta é a posição firmada do Supremo Tribunal Federal, que entendeu que não há vida no feto anencéfalo, portanto, não entrou nesta discussão direta sobre o início da proteção constitucional da existência humana como aspecto do direito à vida. Então, esse é o primeiro aspecto do direito à vida, constitucionalmente protegido: a própria 4 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB existência. Segundo aspecto é a proteção à integridade física. Vejam que do ponto de vista constitucional a proteção à integridade física implica a proteção à vida, daí é a previsão do inciso III do art. 5º da vedação a tortura e de tratamento desumano ou degradante. Dispositivo constitucional que incontestavelmente, como afirmam vários autores como Peter Häberle, é absoluto não pode existir exceção à vedação a tortura. O terceiro aspecto protegido do direito à vida é a proteção à integridade moral, é o reconhecimento da plena proteção à vida depende da proteção também à honra, à imagem do indivíduo, à reputação do indivíduo. Daí a previsão do art. 5º inciso V do direito de resposta proporcional ao agravo, à ofensa e da indenização por dano material e moral, havendo ofensa à honra. Esse inciso V consagra com isso a própria proteção à honra. E o quarto aspecto, como bem anota José Afonso da Silva, os direitos à privacidade podem ser considerados direitos conexos à vida. O ideal seria que pela importância da privacidade, no atual momento histórico, constassem esses direitos no próprio caput do art. 5º como um sexto grupo de direito individuais, mas isso não ocorreu. Portanto, é preciso considerá-los como direitos conexos à própria vida. Constam os direitos à privacidade do inciso X do art. 5º, segundo o qual são invioláveis: a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem, cuja violação implica responsabilidade e indenização. Houve divergência se haveria ou não distinção entre intimidade e vida privada. Prevaleceu o entendimento de que se a Constituição utilizou expressões distintas é porque quis diferenciar: uma norma não contém palavras inúteis. Portanto, intimidade diz respeito aos aspectos mais reservados da esfera pessoal, as relações afetivas, as relações domésticas, enquanto que, a vida a privada expõe um aspecto um pouco menos reservado se comparada à intimidade, mas ainda atinente à esfera pessoal. Seria o que até alguns autores denominam de intimidade social seria o relacionamento do indivíduo no seu ambiente de trabalho, no clube, nas associações que participa, com os amigos mais próximos, portanto, uma dimensão um pouco mais ampla do que a da intimidade. A previsão à honra neste inciso X não é uma repetição da proteção à honra do inciso V. Na realidade, o que quis a Constituição ao prever a honra no conjunto dos direitos à privacidade do inciso X foi amparar o direito de manter sob sigilo os fatos desabonadores à honra que o indivíduo possa passar. E em decorrência dos direitos à privacidade, surgem outros incisos desse artigo 5º, como prevê o próprio inciso XI, que prevê a inviolabilidade de domicílio, considerando a casa o asilo inviolável, salvo nas hipóteses de flagrante delito, desastre ou prestação de socorro, em que o ingresso na casa pode ocorrer independentemente da vontade do morador a qualquer momento. E também por determinação judicial, mas neste caso, o ingresso sem o consentimento do morador só pode ocorrer durante o dia, merecendo destaque a controvérsia sobre a expressão “durante o dia”. José Afonso entende que é o período das 06h00 às 18h00, enquanto que Celso de Melo entende que deve ser levado em conta o critério físico-astronômico. É bom lembrar também, que o Supremo Tribunal Federal tem entendido que a inviolabilidade de domicílio alcança também os compartimentos reservados do local de trabalho, assim como os compartimentos ocupados das habitações coletivas, como hotel. O inciso XII também decorre dos direitos à privacidade, prevê sigilo de correspondência e sigilo de comunicações telegráficas de dados e telefônicas. Exatamente porque o dispositivo decorre dos direitos à privacidade, que a expressão “sigilo de dados” refere-se a todo e qualquer dado relacionado aos direitos à privacidade, por isso é que esta é a base constitucional do sigilo fiscal, do sigilo bancário, do sigilo negocial, do sigilo de dadostelefônicos, de registros telefônicos e 5 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB do sigilo de dados telemáticos de informações computadorizadas. É interessante notar que o dispositivo só prevê de forma textual, a possibilidade de quebra do sigilo telefônico, da interceptação telefônica, a partir de ordem judicial para instrução de investigação criminal ou de processo crime e nas hipóteses na forma previstas em lei. O Supremo Tribunal Federal entendeu que apesar da literalidade do dispositivo, excepcionalmente também os demais sigilos podem ser quebrados por decisão judicial, porque não teria sentido imaginar que o constituinte pretendeu por meio de um sigilo absoluto autorizar que operações ilícitas ou criminosas tivessem como escudo, como amparo, um sigilo absoluto e extremo. Também decorre dos direitos à privacidade a previsão do inciso XIV do art. 5º que consagra o sigilo de fonte, o sigilo de fonte literalmente relacionado a informações ou a informações jornalísticas, mas que pode ser estendido a outras atividades profissionais ou não, mas que lidam com sigilo dados privados. Como é o caso de atividades profissionais na advocacia, psicologia, medicina e até atividades não profissionais, como algumas atividades religiosas que lidam com informações reservadas, privadas. DIREITO À PROPRIEDADE O segundo direito individual protegido pelo art. 5º é o direito à propriedade. A Constituição reforça a proteção à propriedade prevendo de forma duplicada no art. 5º, o que nem o direito à vida mereceu da Constituição. No art. 5º há previsão da proteção ao direito à propriedade no próprio caput e repetido no inciso XXII, além da previsão do direito à propriedade lá na frente no art. 170. Mas a Constituição não consagrou a orientação puramente liberal do direito à propriedade, que o considerava um direito absoluto. A Constituição admite e reforça a proteção à propriedade privada, o considera inclusive como base da ordem econômica, mas não como um direito absoluto. De tal modo, que o próprio art. 5º inciso XXIII assim como o art. 170 vinculam a propriedade ao cumprimento da função social. A Constituição não define com todas as letras o que seria função social, mas dá alguns indicativos. Só ficou claro, de forma inequívoca, que a Constituição só fez referência ao dever de cumprimento da função social para a propriedade imóvel urbana e rural, não fez referência pelo menos textual à propriedade móvel. Portanto, o art. 182 assim como o art. 184, o art. 186, tratam da função social da propriedade urbana e da propriedade rural, da propriedade urbana dando a entender que ela tem estreita relação com a moradia e que se o proprietário não cumprir a função social, definida em lei, poderá sofrer uma sanção que comina com a desapropriação, é a chamada desapropriação sanção. Assim, como na área rural se o proprietário não cumprir os pressupostos da função social previstos nos artigo 186 da Constituição poderá sofrer a desapropriação sanção. E como desapropriação sanção, a indenização não é em dinheiro, mas em títulos, porque é uma desapropriação punição. Além dessa limitação que é uma limitação contundente, aliás, diga-se de passagem, de natureza polêmica segundo a doutrina porque, autores clássicos como Léon Duguit, consideravam que a função social não seria uma limitação a propriedade, mas propriedade seria uma função, a propriedade não seria um direito, mas seria uma função, seria uma grandeza econômica apenas assegurada enquanto cumprisse a sua função social. Mas pelo o que se extrai da disciplina a Constituição 1988, na verdade a função social foi considerada como um limite e a propriedade como um direito. Existem também outros limites constitucionais à propriedade até mesmo que possibilita a limitação, que possibilita a desapropriação comum. Neste caso não é uma punição, neste caso é 6 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB poder público por razões de necessidade, utilidade pública ou interesse social, entende que deve desapropriar determinado bem particular. Mas a indenização deve ser prévia, justa e em dinheiro, porque não há o caráter punitivo. Também merece citação a chamada requisição temporária de bens particulares, prevista no art. 5º, inciso XXV, segundo o qual o poder público, no caso de emitente perigo público, poderá requisitar o uso de bem particular e só indenizará se houver dano. Para o Supremo Tribunal Federal essa requisição temporária tem que ser motivada, salvo situações extraordinárias, deve ser definido um prazo para o uso do bem particular e o uso dado ao bem requisitado deve ser diverso daquele de sua destinação habitual. DIREITO À IGUALDADE Outro direito individual consagrado pelo artigo 5º é o direito à igualdade, enaltecido também o direito à igualdade, fala-se em igualdade na lei e igualdade perante a lei. A igualdade na lei seria voltada ao legislador, proibindo de editar normas de cunho discriminatório e a igualdade perante a lei é relativo à aplicação da lei, que não poderia ser também discriminatória e deveria evidentemente atender aos preceitos de justiça da própria Constituição. A igualdade também pode ser classificada como formal e material. A igualdade formal tem relação com a igualdade perante a lei, no sentido de que deve a lei tratar igualmente aqueles que se encontram na mesma situação e desigualmente aqueles que se encontra em situação diferenciada, evidentemente que, na medida dessa desigualdade. A igualdade material ou substancial é a igualdade social, a igualdade econômica, a igualdade de riqueza. A Constituição enaltece no art. 3º que é objetivo da República Federativa do Brasil a redução das desigualdades sociais, o que tem relação direta com a obtenção da igualdade material, substancial. É interessante notar que a Constituição trata expressamente de políticas de vedação de combate à discriminação e existem na verdade dois tipos de políticas públicas de combate à discriminação. Existem as políticas de feição clássica, que são as normas constitucionais e infraconstitucionais de conteúdo proibitivo e inibitório da discriminação, como faz a Constituição várias vezes no art. 3º, inciso IV, no próprio art. 5º, ao considerar o racismo como crime, e o art. 7º inciso XXX. Mas existe também outro modelo de políticas públicas de combate à discriminação é o que se denomina teoria da ação afirmativa ou afirmative action ou de ações positivas ou de discriminação positiva, que surgiu no EUA na década de 60, e que envolve a concessão temporária de um tratamento preferencial a grupos sociais que por muito tempo foram discriminados, para que num determinado momento eles possam atingir a posição de igualdade em relação aos grupos que historicamente foram beneficiados por esta exclusão. Então são medidas de promoção, de afirmação, de restauração como, por exemplo: previsão de sistema de quotas para ingresso em Universidade Pública ou mesmo para serviço público. A constitucionalidade dessas politicas chegou a ser discutida no Supremo Tribunal Federal, que se posicionou no sentido da constitucionalidade das medidas de ação afirmativa. DIREITO À LIBERDADE O quarto direito individual previsto pela Constituição é o direito à liberdade. E o direito à liberdade também foi amplamente protegido pela Constituição, que teve a preocupação de estabelecer a restrição à liberdade humana, partindo da lei daí o princípio da legalidade incerto no 7 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB inciso II do art. 5º da Constituição e fortalecido com enfoque mais rigoroso pelo art.37, voltado à Administração Pública. O art. 5º prevê vários aspectos do direito à liberdade. O primeiro, no direito à liberdade de locomoção no art. 5º inc. XV e previu que é livre o direito ir, vir e permanecer no território nacional. Qualquer pessoa pode nele ingressar permanecer ou sair com seus bens, no tempo de paz. Vejam que não é uma liberdade ilimitada, em tempo de paz e na forma da lei, indicando que a lei poderá criar restrições, que tenham por objetivo o interesse público. O segundo aspecto é a liberdade profissional no inciso XIII do art. 5º, norma de eficácia contida ao prever que é livre o exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão, mas atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. A lei, portanto pode restringir a liberdade profissional estabelecendo requisitos para o exercício das profissões. O terceiro aspecto e o mais amplo do direito à liberdade é a liberdade de pensamento. A liberdade de pensamento que tem como base o próprio inciso IV do art. 5º que garante a livre manifestação do pensamento, sendo vedado anonimato. E a proteção ao pensamento ela se dá duas maneiras: de foro íntimo que é a chamada liberdade consciência, conforme se extrai do inciso VI e do inciso VIII do art. 5º. É a ideia de ter, é o direito de ter convicções políticas, filosóficas, intelectuais de todas as formas para uma prática reservada na verdade, uma postura individual de foro íntimo. Daí a própria previsão da escusa de consciência, a possibilidade de se pedir ao poder público, autorização para não cumprir obrigação legal por contrariedade às convicções políticas, filosóficas e até religiosas. E se o poder público entender que é pertinente o pedido concede uma obrigação alternativa. Claro que, o não cumprimento da obrigação legal e da obrigação alternativa terá repercussão no âmbito dos direitos políticos conforme estatui o art. 15 da Constituição Federal. Além disso, a liberdade de pensamento também é assegurada no seu caráter externo, é a liberdade de expressão, é a exteriorização do pensamento, é o direito de manifestar publicamente suas convicções, de defender publicamente suas ideias, é o direito ao proselitismo, de tentar convencer, de conseguir adeptos, é a expressão nos vários planos políticos, artísticos, é a liberdade de comunicação, é a liberdade científica, é o que se encontra consagrado no inciso IX do art. 5º. Inclusive, a liberdade de comunicação, sendo vedada a censura. Mas evidentemente, não é ilimitada a liberdade de expressão, porque a própria Constituição considera como limites a honra, a privacidade, a liberdade, o sigilo de fonte, portanto, nem a liberdade de expressão é ilimitada. É interessante notar também, que alguns autores consideram como manifestação, como ramificação da liberdade de pensamento a liberdade religiosa, que também foi protegida pela Constituição Federal no seu duplo aspecto: a liberdade de crença, com base nos incisos VI e VIII de ter uma convicção religiosa de foro íntimo e, a manifestação, a exteriorização, a prática religiosa, a liberdade de culto, também com base no inciso VI do art. 5º. A proteção ao culto, às liturgias e à prática religiosa em público, inclusive em edifícios com aparência externa de templo. Evidentemente, que não integra à liberdade religiosa, práticas consideradas pela lei como criminosas. A garantia da liberdade religiosa também veda discriminações estatais por este motivo. DIREITO À SEGURANÇA E finalmente, o direito individual à segurança, o quinto grande grupo de direitos individuais. A Constituição procura traduzir a proteção à segurança pessoal individual, bem como, aos direitos do indivíduo. O direito à segurança como direito individual tem essa conotação, enquanto que o 8 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB direito à segurança como um direito social do art. 6º da Constituição deve ser mais próximo ao direito à segurança pública. O direito à segurança do ponto de vista da garantia dos direitos e da própria liberdade do indivíduo, a proteção pessoal tem como grande aspecto o devido processo legal. O devido processo legal que a Constituição garante, segundo reconheceu a doutrina e segundo reconheceu o Supremo Tribunal Federal, no seu aspecto substantivo e no seu aspecto adjetivo. Do ponto de vista substantivo, é o direito a decisões justas pautadas pela razoabilidade e proporcionalidade. É o acesso ao judiciário no sentido de acesso à justiça, a decisões justas como se extrai do próprio artigo 5º, XXXV e até do que prevê textualmente o devido processo legal que é o inciso LIV. Além disso, também consagrou a Constituição o aspecto adjetivo, o aspecto processual do devido processo legal, que segundo o próprio Supremo Tribunal Federal compreende: a) direito ao processo, portanto, o sentido formal de acesso ao judiciário; b) o direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação; c) o direito ao julgamento público e célere, portanto aquilo que consta do inciso LXXVIII do artigo 5º, que foi criado da Emenda Constitucional n. 45, os direitos à celeridade processual e a razoável do duração do processo já são inerentes ao devido processo legal; d) um direito ao contraditório e a plenitude de defesa, o que inclui autodefesa e defesa técnica; e) o direito à igualdade entre as partes; f) o direito de não ser processado, com base em provas obtidas de forma ilícita, embora o Supremo Tribunal Federal tem admitido, conforme as circunstâncias concretas com base na proporcionalidade e razoabilidade, poderá ser até admitida a prova obtida por meios ilÍcitos. g) o direito ao benefício da gratuidade; h) o direito à observância do princípio do juiz natural; i) o direito ao silêncio na dimensão da não autoincriminação; j) o direito à produção de provas. Estes os aspectos centrais dos direitos individuais, que possuem eficácia horizontal, que são aplicados também às relações privadas, afinal a própria Constituição constitucionalizou os direitos privados. NACIONALIDADE A palavra nacionalidade historicamente é empregada no sentido sociológico e no sentido jurídico. No sentido sociológico a palavra nacionalidade refere-se ao integrante de uma nação, é o sentido clássico do termo nacionalidade. E no sentido jurídico, designa o vínculo entre um indivíduo e um Estado. É exatamente pela associação do termo à nação. A própria origem etimológica que em alguns países o termo nacionalidade é de uso restrito para designar o membro de uma nação, por isso, o sentido sociológico, porque a nação não compreende uma organização político jurídica. De tal modo, em alguns países, inclusive na Europa, quando se quer designar um vínculo entre um indivíduo, o Estado utiliza-se o termo “cidadania”, por isso, que é muito comum na Europa falar-se em dupla cidadania ou cidadania europeia, o que aqui, na verdade, denominamos de nacionalidade. A cidadania tem uso restrito no âmbito político para designar o exercício dos direitos políticos. 9 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB A nossa Constituição evidentemente ao tratar da nacionalidade como direito fundamental, consta do Capítulo III, do Título II, prevê os direitos fundamentais, nossa constituição aborda evidentemente o sentido jurídico de nacionalidade como o vínculo entre os indivíduos e o Estado Brasileiro. Outrossim, a nossa Constituição adota um critério misto de atribuição de nacionalidade na condição de nato, adotando tanto o critério do direito do sangue quanto o critério do direito do solo. Na realidade, historicamente países que tem tendência à emigração adotam como regra o direito do sangue, enquanto, que os paísesque tem tendência ou vocação para emigração adotam como regra o direito do solo. Também países que passaram por guerras graves adotam o direito do sangue como forma de preservação da nacionalidade. Desse modo, não há que se falar em melhor ou pior critério da nacionalidade isso, depende das características históricas e das circunstancias históricas de cada Estado. A Constituição trata da nacionalidade no art. 12, que prevê que brasileiros serão natos e naturalizados. Portanto, a nacionalidade é um gênero que comporta duas modalidades duas espécies os natos e os naturalizados, portanto, é sempre bom lembrar naturalizado é o nacional, naturalizado não é mais estrangeiro, até recomendo que evitem a expressão “estrangeiro naturalizado” se é naturalizado não é mais estrangeiro, naturalizado, é brasileiro e as poucas distinções entre os naturalizados e os natos estão na própria Constituição como veremos adiante. No art. 12, inciso I, a Constituição trata da aquisição da nacionalidade, na condição de nato, prevendo ali três alíneas, já destaco, reitero o que eu havia dito a pouco, neste dispositivo é possível perceber a opção da Constituição Brasileira ao direito do solo como regra geral de atribuição da nacionalidade na condição de nato como regra geral, mas não é o único critério, se alínea ‘a’ do inciso I, do art. 12, expõe a regra geral como direito do solo, as alíneas ‘b’ e ‘c’ expõe que o critério foi misto, pois admite também o direito de sangue como critério de atribuição da nacionalidade. Então, vejamos cada uma das hipóteses de atribuição da nacionalidade na condição de nato. 1ª) alínea “a”, do inciso I, do art. 12: como já dito, prevê a regra geral, os direitos do solo, que é brasileiro nato aquele que nasce no território nacional. Mesmo, sendo filho de estrangeiros, destaca o dispositivo e prevê uma exceção: Salvo se os estrangeiros que tiveram filho no Brasil, aqui estiverem a serviço oficial de seu país, portanto, seu país de origem, esta é a ressalva constitucional, esta é a exceção, portanto, um filho de um estrangeiro que esteja no Brasil a serviço oficial, não a serviço privado, não a serviço particular, mas a serviço de seu país de origem, seu filho, que nascer no Brasil, não receberá a nacionalidade brasileira, na condição de nato. Evidentemente que esta exceção refere-se à hipótese em que pai e a mãe, são estrangeiros, porque se um deles for brasileiro, poderá evidentemente incidir sobre outra hipótese. A dúvida que pode este dispositivo suscitar é a seguinte: Isso já caiu em concurso. Se o estrangeiro estiver no Brasil a serviço oficial de outro país, diverso do seu país de origem. Imagine um cenário hipotético, um argentino no Brasil, mas a serviço oficial do Uruguai e tem um filho no Brasil, nasce no Brasil, embora exista divergência na doutrina, tem prevalecido à posição de que neste caso, o Brasil concede a nacionalidade na condição de nato. Afinal, se o Brasil não concedesse nesta situação, haveria o risco da existência de um apátrida nascido no território brasileiro, porque em um cenário como este poderia ser que os estados estrangeiros tanto de origem daquele estrangeiro como aquele para o qual ele presta serviço, pode 10 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB ser que ambos os estados estrangeiros não atribuam a nacionalidade a este filho. Se o Brasil também não atribuísse, haveria um caso de apátrida nascido no território brasileiro, é por esse motivo que prevalece o entendimento de que a exceção prevista na alínea ‘a’, do inciso art. 12, deve ter interpretação restritiva à regra, é a concessão da nacionalidade com base no direito do solo, nasceu no território brasileiro, será brasileiro nato, essa é a regra. Portanto, a exceção deve ter interpretação restritiva, desse modo, repito só não se atribui nacionalidade brasileira na condição de nato, ao filho de estrangeiro que estiver no Brasil a serviço do seu país de origem, porque se estiver a serviço oficial de outro país, o Brasil atribuirá à nacionalidade na condição de nato. Regra geral na concessão de nacionalidade na condição de nato: a expressão “território nacional” deve ser interpretada de modo abrangente, deve ser interpretada abrangendo todas as modalidades de território, território terrestre, território marítimo, território aéreo e até mesmo território ficto. Território ficto é aquele que do ponto de vista geográfico não integra o território de um Estado, mas é considerado como tal, por força do direito internacional, isso diz respeito à matéria política e a nacionalidade é um vínculo político jurídico com o Estado, isso não tem nada a ver com a aplicação da lei penal, com a aplicação de lei trabalhista, isto se refere a questões políticas e a nacionalidade. Portanto, tem esta conotação, por isso, que o nascido em território ficto do Brasil é brasileiro nato, em razão da alínea ‘a’ do direito do solo, nasceu no território brasileiro, como por exemplo: em um edifício de uma embaixada brasileira no exterior, em um acampamento militar brasileiro no Haiti, entre outros casos de território ficto, esta é a regra geral, nasceu no território brasileiro, mesmo sendo filho de estrangeiro é brasileiro nato, lembrando sempre da exceção já vista. 2ª) alínea ‘b’, do inciso I, do art. 12 da CF: prevê que será nato o filho de pai brasileiro ou de mãe brasileira nascido no exterior, sendo que o pai ou a mãe, aquele que for brasileiro, lá estava a serviço do Brasil, entenda-se serviço oficial, não serviço particular, serviço oficial em nome do Brasil, o que significa em nome de qualquer um dos entes da federação, portanto temos aí um duplo critério de atribuição da nacionalidade. O primeiro critério é o do direito do sangue, porque o dispositivo refere a filho de brasileiro, e não há necessidade de que pai e mãe sejam brasileiros, basta um, aquele que estiver no exterior a serviço do Brasil, então o primeiro critério é o critério do sangue e o segundo critério é o serviço público oficial do Brasil. Essa é uma tradição no âmbito internacional. Afinal presume-se que se não fosse o serviço oficial, teria o filho nascido no próprio território brasileiro e lá estava, não por uma questão privada, mas, oficialmente representando um dos entes da federação do Brasil, então aí está mais uma hipótese de concessão da nacionalidade brasileira na condição de nato. 3ª) alínea ‘c’, no seu texto originário: logo com a promulgação da Constituição 1988 já previa duas hipóteses de atribuição da nacionalidade na condição de nato, até que vem a revisão constitucional de 1994 e supre uma delas, que é o registro de filho de brasileiro no exterior, e vem a emenda 54/2007 que restabelece aquela modalidade que havia sido suprimida pela revisão de 1994. Então, vejamos quais são essas duas hipóteses da alínea ‘c’, segundo a redação atual desta alínea ‘c’ nos termos da emenda 54/2007: Primeira observação da alínea ‘c’ faz referência a filhos de brasileiros nascidos no exterior, primeiro detalhe: esta alínea ‘c’ se refere à situação de filho de pai brasileiro, ou mais uma vez não 11 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB disse e eu disse ou mãe brasileira que tenha nascido no exterior, mas que seus pais não estavam a serviço oficial do Brasil, estavam por qualquer outro motivo, serviço particular, estudo, etc., mas isto não está escrito na alínea ‘c’, mas nem precisaria, porque se os pais estivessem no exterior a serviço oficial do Brasil, seria hipótese da alínea ‘b’, portanto a alínea ‘c’ ao dizer “filho de brasileiro nascido no exterior” só pode referir-se a brasileiros que estavam no exterior, mas não a serviço oficial do Brasil.Qual a situação então desse filho de brasileiro que nasce no exterior, sem que os pais estivessem a serviço oficial do Brasil? Primeira hipótese: Os pais logo após o nascimento no exterior poderão registrar o filho, na repartição competente no exterior, na repartição consular e este filho será em caráter permanente e definitivo, nato. Vejam só, isso é que havia sido suprimido pela revisão constitucional de 1994, o que gerou muita confusão em todos esses anos, até 2007 admitiu- se um registro provisório no exterior, porque não havia previsão constitucional e aí voltar ao Brasil ele teria que confirmar esta opção, senão ele haveria uma suspensão da nacionalidade. Tudo isso foi resolvido pela emenda 54/2007 ao reinserir da Constituição essa hipótese que acabo de mencionar. E a própria emenda 54 resolveu as situações passadas pendentes, porque a própria emenda 54 previu que os nascidos entre 07/06/1994 que foi a data da revisão constitucional de 1994 e data da promulgação da emenda 54, poderiam procurar a repartição competente no exterior para proceder o registro, ou, então, em um cartório se estiverem no Brasil. Portanto, a emenda 54 resolveu inclusive as situações passadas, então, essa é a primeira hipótese da alínea ‘c’. Nasceu filho do brasileiro no exterior, os pais não estavam a serviço oficial do Brasil, os pais podem registrar o filho na repartição consular e o filho será brasileiro nato, definitivamente. Existe uma segunda hipótese prevista nesta alínea ‘c’, afinal pode ser que o filho de brasileiro nascido no exterior, não tenha sido registrado pelos pais na repartição brasileira competente na repartição consular. Mesmo assim, o filho de brasileiro poderá adquirir a nacionalidade brasileira na condição de nato, desde que preencha os seguintes requisitos: Venha para o Brasil para aqui residir; E opte pela nacionalidade brasileira. Essa opção só poderá ser feita, segundo o próprio Supremo Tribunal Federal, ao atingir a maioridade civil e ela é feita judicialmente perante a justiça federal. Uma síntese da alínea ‘c’, duas hipóteses de concessão da nacionalidade brasileira na condição de nato, e o critério para as duas é o direito do sangue: 1º. Filho de brasileiro nasceu no exterior os pais não estavam a serviço do país, os pais podem registrá-lo na repartição competente no exterior, será brasileiro nato de forma permanente. 2º. Filho de brasileiro nascido no exterior, os pais não estavam a serviço do Brasil e não fazem o registro na repartição brasileira competente, mesmo assim este filho de brasileiro poderá adquirir a nacionalidade na condição de nato desde que preencha os requisitos, venha residir no Brasil a qualquer tempo, e ao atingir a maioridade opte pela nacionalidade brasileira, será brasileiro nato. Este caso desta opção pela nacionalidade brasileira feita pelo filho de brasileiro nascido no exterior é o que denomina pela doutrina pela nacionalidade potestativa. Então, estes são os critérios da constituição para nacionalidade brasileira na condição, nato. Como dito no início não só os natos são brasileiros, os naturalizados também, é a nacionalidade secundária; como nato nacionalidade primária. 12 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB NATURALIZAÇÃO O inc. II, do art. 12 trata da naturalização. Trata da situação dos naturalizados, este inciso II do art. 12 tem duas alíneas: A alínea ‘a’ que trataria da regra geral da naturalização, por isso a doutrina chama de naturalização ordinária, que seria o usual, a alínea ‘a’ preferiu transferir essa tarefa, diz o dispositivo da lei que serão naturalizados os que na forma da lei adquiram a nacionalidade brasileira. Portanto, a naturalização ordinária não consta expressamente do texto constitucional, a constituição remeteu à lei, a tarefa de sua disciplina e a lei que trata da matéria é a lei 6.815/80, é o chamado Estatuto do Estrangeiro. Esta lei prevê os requisitos da naturalização ordinária. São os seguintes: O pedido deve ser formulado, pelo estrangeiro, a partir da maioridade civil; Ele deve ter visto permanente no passaporte; Previsão de um prazo mínimo de residência no Brasil a regra geral é a de 04 anos ininterruptos, sendo que este prazo poderá ser reduzido de acordo com as hipóteses previstas nesta lei para 03 anos, para 02 anos e até para um ano como, por exemplo, se o estrangeiro casou-se com brasileira ou se ele teve um filho no Brasil, o prazo para a naturalização ordinária nessas situações cai para 01 ano de residência no Brasil, mas a regra é de 04 anos; A inexistência de condenação penal por crime doloso, cuja pena abstratamente prevista, seja superior a 01 ano; Bom procedimento dos atos da vida civil; Deve comprovar que exerce uma profissão no Brasil ou que tenha uma determinada renda ou bens de acordo com as exigências legais. Deve o estrangeiro demonstrar conhecimento da Língua Portuguesa, falada e escrita. Comprovação de boa saúde, requisito esse que a lei dispensa para os estrangeiros que residam no Brasil há mais de 02 anos. Então, esses são todos os requisitos legais para a sua naturalização ordinária que é a naturalização comum. Vejam que constam da legislação infraconstitucional e não da constituição. Como que se promove esse pedido de naturalização? O pedido de naturalização é feito perante a Polícia Federal, que instaura um procedimento para verificação dos procedimentos desses requisitos mencionados a pouco, depois a polícia federal remete o caso ao Departamento de Estrangeiro, ao Ministério da Justiça, depois de checado pelo Ministério Justiça, poderá conceder a naturalização por meio de portaria de naturalização, que é publicada no Diário Oficial da União e depois disso é remetida ao juiz federal do local do domicílio do interessado, não havendo juiz federal, é enviado ao juiz de direito, em audiência designada, o interessado é chamado para assinar um termo de compromisso. Assim ocorre a naturalização. Interessante lembrar que a alínea ‘a’ do inciso II, do art. 12, a mesma que refere à disciplina da naturalização faz uma observação em relação a estrangeiros originários de países de língua portuguesa, que poderão adquirir a naturalização de modo facilitado, bastando preencher dois requisitos: a) prazo de residência no Brasil de 01 ano; b) idoneidade moral. 13 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB Outra observação que merece ser feita, a doutrina entende que é possível admitir outras hipóteses de naturalização previstas por lei, porque esta alínea ‘a’ remete a disciplina da naturalização, existem outras duas formas de obter a naturalização que em sistemas constitucionais anteriores constavam da própria constituição e a Constituição Federal de 1988 não previu, mas não proibiu e remeteu a disciplina da naturalização. Faço referência às chamadas “radicação precoce” e a decorrente de curso superior, são típicos de naturalização, previstos no Estatuto do Estrangeiro e que a doutrina entende que deve ser admitidos, porque a constituição, no art. 12, inciso II, remeteu a lei a disciplina da naturalização e o art. 22 reforça a competência legislativa da União para legislar sobre naturalização. Daí a legitimidade dessas modalidades de naturalização que estão no Estatuto do Estrangeiro de naturalização. A radicação precoce é a respeito do estrangeiro que venha a morar definitivamente no Brasil antes dos 05 anos de idade, e, portanto, ao atingir a maioridade ele poderá pedir a naturalização brasileira. Também o caso do estrangeiro que tenha vindo para o Brasil antes da maioridade e faça curso superior, poderá, após a formatura, requerera naturalização brasileira. E a alínea ‘b’, do inciso II, do art. 12 da CF, prevê mais uma modalidade de naturalização. Esse dispositivo estabelece que os estrangeiros de qualquer naturalidade residentes na República Federativa Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal poderão obter a nacionalidade brasileira, desde que peçam a naturalização. É o que se denomina de naturalização extraordinária, a ideia é facilitar a obtenção da naturalização daquele estrangeiro, que já vive por um longo tempo no país, há pelo menos 15 anos ininterruptos, então se ele quiser a naturalização brasileira, ele não precisa preencher todos aqueles requisitos da naturalização ordinária, basta que ele comprove a residência no Brasil por 15 anos ininterruptos e a inexistência de condenação penal, essa é a naturalização extraordinária. É sempre bom lembrar que de acordo com o Supremo Tribunal Federal, a atribuição da naturalização extraordinária tem um caráter puramente declaratório e os efeitos retroagem à data da solicitação. Esta é a posição do STF, afinal como destaca José Afonso da Silva é um direito subjetivo do indivíduo, se o indivíduo preenche esses requisitos constitucionais, ele passar a ter esse direito subjetivo e o ato estatal de concessão dessa naturalização é meramente declaratório e com alcance retroativo. “QUASE NATURALIDADE” O art. 12 ainda prevê no parágrafo 1º uma figura que Celso de Melo chegou a chamar de “quase naturalidade”, prevê que os portugueses que residem no Brasil em caráter permanente, portanto, estrangeiro português, terão os mesmos direitos dos brasileiros. Entendam-se naturalizados, desde que haja a reciprocidade de tratamento em Portugal aos brasileiros lá residentes. Aí está uma tradição no Brasil em homenagem à história desses dois países, a nossa pátria mãe, essa previsão em relação aos portugueses que dá status em que o ministro Celso de Melo chama de quase nacionalidade. DISTINÇÕES ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS O parágrafo 2º, do art. 12, prevê que as distinções entre os brasileiros natos e naturalizados só poderão ser estabelecidas pela própria constituição. A lei deverá ater-se ao que dispõe a constituição. Somente a constituição diferencia natos de naturalizados, só a constituição diferencia 14 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB direitos de natos e naturalizados, jamais o ordenamento infraconstitucional. E quais são essas diferenças de tratamento entre natos e naturalizados? A principal delas e mais conhecida, que cai muito em provas é a que está no § 3º, do art. 12, é a que relaciona os cargos privativos de natos. São eles: Presidente da República Vice-Presidente da República Presidente da Câmara dos Deputados, cuidado! O naturalizado pode ser deputado, só não pode ser Presidente da Câmara dos Deputados. Presidente do Senado, mesma coisa já apareceu muito em prova, e senador pode ser naturalizado só não pode ser presidente do Senado; Ministro do Supremo Tribunal Federal, todos os ministros do Supremo Tribunal Federal; Carreira Diplomática; Oficiais das forças armadas; Ministro de Estado da Defesa. Quais as outras distinções entre os cargos de brasileiros natos e naturalizados? Diz o art. 89, inciso VII que trata do Conselho da República que é um órgão consultivo do Presidente da República, entre seus integrantes constam seis cidadãos, desde que sejam brasileiros natos. Extradição dos natos: o art. 5º, inciso LI, trata da extradição. Os natos jamais poderão ser extraditados e os naturalizados, regra geral, não poderão ser extraditados. Exceções: só poderão ser extraditados se cometeram crime comum, antes da naturalização, ou se envolverem a qualquer tempo antes ou depois da naturalização com tráfico de drogas e atividades do gênero. Outra diferença de tratamento entre natos e naturalizados: o art. 222 da Constituição prevê que os natos podem ser, a qualquer momento, proprietário dos meios de comunicação, empresa jornalística, empresas de radiodifusão sonora de sons e imagens, e os naturalizados, só poderão ser proprietários dessas empresas após 10 anos da naturalização, a mesma regra vale para aqueles que nos meios de comunicação exercerem atividades de responsabilidade editorial, seleção e direção de programação. Estas são as diferenças distinções constitucionais entre natos e naturalizados existem mais uma quanto à perda da nacionalidade como veremos neste momento. PERDA DA NACIONALIDADE A Constituição prevê duas hipóteses de perda da nacionalidade, § 4º do art. 12 da Constituição. 1ª) O naturalizado pode perder a nacionalidade, se tiver a naturalização cancelada por sentença judicial, em razão de atividade nociva ao interesse nacional. Neste caso, cabe ao Ministério Público Federal a propositura da ação de cancelamento de naturalização, se visualizar algum comportamento nocivo ao interesse nacional, não há tipificação ao que seria isso, cabendo, portanto, a interpretação judicial, a definição de atividade nociva ao interesse nacional. 15 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB Lembrando que, perdendo a naturalização, perdem-se também os direitos políticos nos termos do art. 15 da Constituição. 2ª) Refere-se aos natos e naturalizados: é a opção por outra nacionalidade, evidentemente que perdendo a nacionalidade brasileira, mesmo não havendo previsão expressa no art. 15 da Constituição, perdem-se também os direitos políticos, porque a nacionalidade é pressuposto dos direitos políticos, mas há uma ressalva na constituição em relação à perda da nacionalidade por opção por outra nacionalidade. A Constituição diz o seguinte: Aquisição de outra nacionalidade só não provocará a perda da brasileira, se a perda da aquisição de outra nacionalidade decorrer de concessão pela lei estrangeira, e não por um ato voluntário do brasileiro. É o que diz a alínea ‘a’, do inciso II, do § 4º do art. 12. Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira, neste caso não é pedido de nacionalização, é uma opção voluntária pela nacionalidade de outro país, é a lei estrangeira que concede esse benefício brasileiro, é o caso, por exemplo, de filhos e netos dos italianos nascidos fora da Itália, isto decorre de previsão na legislação italiana, é um benefício concedido pela lei estrangeira. Mas o brasileiro, nessas condições, vai até ao consulado pedir, na realidade ele está indo apenas pegar o presente que recebeu! Não é aquele ato voluntário de naturalização que faz um indivíduo sem que esse benefício esteja previsto na lei estrangeira. E a segunda hipótese é que não há perda da nacionalidade brasileira, com a aquisição de outra nacionalidade é de acordo com a alínea ‘b’, do inciso II, do § 4º, do art. 12, a imposição de naturalização pela norma estrangeira ao brasileiro, que reside no exterior como condição de permanência naquele país ou mesmo para o exercício dos direitos civis, como é algo que não dependeu da vontade do brasileiro, a Constituição não quis gerar esse transtorno aos brasileiros residentes no exterior, e, previu, portanto, essa exceção. 16 DIREITO CONSTITUCIONAL PROF. PAULO ADIB CASSEB PERGUNTAS: 1) Os direitos individuais se aplicam aos estrangeiros que não residem no Brasil? 2) Aplicam-se às pessoas jurídicas? 3) Referidos direitos têm aplicação imediata? 4) O rol desses direitos é taxativo? 5) Esses direitos podem estar previstos em tratados? 6) Como compatibilizar o tribunalpenal Internacional com a proibição de extradição de brasileiros? 7) Quais os aspectos do direito à vida? 8) Qual a diferença entre intimidade e vida privada? 9) Explique a inviolabilidade de domicílio. 10) É possível a quebra de sigilo telefônico? 11) Quais os aspectos constitucionais do direito de propriedade? Explique os limites desse direito. 12) Qual a diferença entre igualdade formal e material? 13) O que é a teoria da ação afirmativa? 14) Quais os aspectos constitucionais do direito à liberdade? 15) O que é o direito à segurança? 16) O que é nacionalidade? 17) Qual o critério adotado pela CF para definir a nacionalidade? 18) Quais as duas modalidades de nacionalidade? 19) Quais as hipóteses de atribuição de nacionalidade na condição de brasileiro nato e as polêmicas que existem sobre o assunto? 20) Filho de estrangeiro nascido no Brasil é brasileiro nato? 21) O que é território? 22) O que é o direito do sangue? 23) Filho de brasileiro nascido no exterior é brasileiro nato? 24) Qual a diferença entre nacionalidade primária e secundária? 25) Quais os requisitos para a naturalização ordinária? 26) Como se promove esse pedido de naturalização? 27) O que é naturalização extraordinária? 28) O que é quase nacionalidade? 29) Qual a diferença de tratamento entre os brasileiros natos e os naturalizados? 30) Quais as hipóteses de perda da nacionalidade?
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