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Aula 2: O que se entende por Cultura? 
É certo que a Cultura é uma preocupação contemporânea, muito presente nos tempos atuais. 
Além disso, é uma forma de entender os diversos caminhos que conduziram os grupos 
humanos a suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. 
Significados para cultura ao longo da história 
Vinda do verbo latino colere (cultivar, criar, tomar conta e cuidar), Cultura teve como 
significado: 
1) o cuidado humano com a Natureza, neste caso, a agricultura; 
2) o cuidado dos homens com os deuses, entenda-se: culto; 
3) o cuidado com a alma e com o corpo das crianças, ou seja, puericultura (puer, do latim, que 
significa menino). 
A cultura era a educação do espírito das crianças para tornarem-se membros excelentes e 
virtuosos da sociedade pelo refinamento e aperfeiçoamento das qualidades naturais, como o 
caráter, a índole e o temperamento sem excessos. 
Desta forma, Cultura seria o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido 
amplo. 
No século XVIII, passa-se a entender por cultura os resultados da formação ou educação dos 
seres humanos. 
Resultados esses observados em obras realizadas, feitos, ações e instituições, tais como as 
artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se, a Cultura, portanto, 
sinônimo de civilização. 
Os pensadores, dessa época, entendiam que o resultado dessa formação-educação se 
manifesta muito claramente na vida social e política ou na vida civil (do latim, cives, cidadão; 
civitas, a cidade-Estado). 
Vida Civil: Inicia-se o processo de separação e posterior oposição entre Cultura e Natureza. 
Os pensadores do século XVIII viam uma diferença essencial entre os seres humanos e a 
Natureza: enquanto homens e mulheres são dotados de liberdade e razão, agindo por escolha, 
de acordo com valores e fins, a Natureza é da ordem da necessidade causal, do determinismo 
absoluto. 
Enquanto a Natureza é repetição, a Cultura é transformação racional: relação, portanto, dos 
humanos com o tempo e no seu tempo. 
No século XIX, observa-se uma atenção dirigida a formas sistemáticas de se estudar as 
culturas humanas, de se discutir sobre elas. Esses estudos se intensificaram na medida em 
que se aceleravam os contatos, nem sempre pacíficos, entre povos e nações. 
As reflexões em torno da cultura se voltaram tanto para compreensão das sociedades 
modernas e industriais quanto das que iam desaparecendo ou perdendo suas características 
originais em virtude daqueles contatos. 
É bom frisar que toda essa preocupação NÃO produziu uma definição clara e unânime do que 
seria cultura e isso mostra a dificuldade de conceituá-la. Hoje, pode-se elencar algumas 
concepções de cultura, para evidenciar sua complexidade. 
São basicamente duas concepções de cultura! 
1. A primeira concepção nos remete a todos os aspectos de uma realidade social. Embora 
ela seja mais genérica, é mais usual quando se fala de povos e de realidades sociais bem 
diferentes das nossas, com os quais partilhamos de poucas características em comum. 
Comum: Pode ser na organização da sociedade, na forma de produzir o necessário para 
sobrevivência ou nas maneiras de ver o mundo. 
2. Na segunda concepção básica de cultura, observa-se também a referência à totalidade 
de características de uma realidade social, já que não se pode falar em conhecimento, 
ideias, crenças sem pensar na sociedade à qual se referem. Essa concepção diz respeito 
a uma esfera, a um domínio, da vida social. Básica: O que acontece é que há uma ênfase 
especial no conhecimento e dimensões associadas. Por exemplo: quando falamos em 
cultura francesa poderemos estar nos referindo à língua francesa, ou à literatura 
francesa, ou ao pensamento filosófico francês, etc. 
Definição mais completa de cultura 
Uma definição mais completa de cultura está formulada no Dicionário Filosófico Abreviado, 
de M. Rosental e P. Iudin que define cultura como sendo um nível de desenvolvimento 
alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, 
na moral, etc., e as instituições correspondentes. Entre os índices mais importantes do 
nível cultural, em determinada etapa histórica, segundo esses autores, é preciso notar o grau 
de utilização dos aperfeiçoamentos técnicos e dos desenvolvimentos científicos na produção 
social, o nível cultural e técnico dos produtores dos bens materiais, assim como o grau de 
difusão da instrução, da literatura e das artes em geral entre a população. 
O que se entende por Identidade Cultural? 
Segundo os especialistas em Estudos Culturais, as identidades culturais dizem respeito 
àqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso “pertencimento” a culturas 
étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. 
Na construção da identidade nacional brasileira, se observa, que em diferentes épocas e sob 
diferentes aspectos, a questão da identidade nacional esteve vinculada, com frequência, à 
problemática da cultura popular. 
 Cultura Popular: Renato Ortiz informa que no século XIX, Sílvio Romero, precursor dos 
estudos sobre o caráter brasileiro e um dos fundadores da tradição dos estudos 
folclóricos, procurou encontrar na cultura popular os elementos que em princípio 
constituiriam o homem brasileiro. Também o movimento modernista, no começo do 
século XX, que busca uma identidade brasileira, se prolonga em Mário de Andrade em 
seus estudos sobre folclore, e na sua tentativa de criar um Departamento de Cultura, 
que entre outros aspectos se volta para a cultura popular. Nos anos 30, Gilberto Freire 
retoma as mesmas preocupações dos intelectuais do final do século XIX, e, não 
obstante o abandono dos argumentos racistas, o sociólogo caracterizará o brasileiro 
como homem sincrético, produto do cruzamento de três culturas distintas: a branca, a 
negra e a índia. No entanto, o conceito de povo permanece muito próximo àquele do 
século XIX, uma vez que o brasileiro seria constituído por este elemento popular 
oriundo da miscigenação cultural. 
 
ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e identidade nacional. São Paulo: Ed. Brasiliense, 
1994. 
Vários são os exemplos, não só no Brasil, que associam a identidade nacional à cultura popular, 
por isso, pode-se dizer que a relação entre nacional e popular se manifesta no interior de um 
quadro mais amplo, isto é, o Estado. 
 Estado: Vale ressaltar que no Brasil do século XIX, as obras de Sílvio Romero, Nina 
Rodrigues e Euclides da Cunha se inserem numa tradição de pensamento dessa época, 
que procura insistentemente definir o fundamento do ser nacional como base do Estado 
Brasileiro. 
Se for verdade que esta relação integra o quadro mais abrangente do Estado, é necessário 
saber que tipo de relação é esta. Para tanto, é necessário que se tenha a compreensão da 
noção de memória, pois para responder a essa questão, é preciso lançar mão da ideia de 
memória, e de aproximar a problemática da cultura popular do Estado. 
Um exemplo de memória coletiva popular é a prática do candomblé, que ao definir um espaço 
social sagrado, o terreiro, possibilita a encarnação da memória coletiva africana em 
determinados enclaves da sociedade brasileira. Assim, a origem é recorrentemente 
relembrada e se atualiza através do ritual religioso. A memória coletiva popular deve se 
transformar em vivência, pois somente dessa forma fica assegurada a sua permanência 
através das representações. 
Enquanto a memória coletiva popular é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a 
uma história que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no seu cotidiano. 
O exemplo de memória coletiva (o candomblé) mostra a necessidade de a tradição se 
manifestar enquanto vivência de um grupo social restrito, a memória nacional se mostra em 
outro plano, visto que está vinculada à história e, assimsendo, pertence à esfera da ideologia. 
Um mito é encarnado por um grupo restrito; já a ideologia se estende à sociedade inteira. A 
memória nacional, dessa forma, não é propriedade particularizada de nenhum grupo social, 
pois ela se define como um universal que se impõe a todos os grupos. Ela não possui uma 
existência concreta, mas virtual, daí não poder se manifestar como vivência. 
 Vivência: Então, identidade nacional é uma entidade abstrata e como tal não pode ser 
apreendida em sua essência, pois não se situando na concretude do presente, revela-se 
como virtualidade, ou seja, como um projeto que se processa, ou se opera vinculado às 
formas sociais que lhe dão sustentação. É, portanto, através de uma relação política 
que se constitui uma identidade. 
O que significa Etnocentrismo? 
O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como "certo" ou 
"errado", "feio" ou "bonito", "normal" ou "anormal" os comportamentos e as formas de ver o 
mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. 
Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo. Os 
estereótipos são uma maneira de biologizar as características de um grupo. 
 Estereótipo: O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao 
definir a priori quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se 
aproxima também do preconceito. Em nossa sociedade, existem práticas que sofrem um 
profundo preconceito por parte dos setores hegemônicos, ou seja, por parte 
daqueles/as que se aproximam do que é considerado "correto" segundo quem detém o 
poder. Assim, são utilizados vários meios para condenar as práticas homossexuais e 
homoafetivas, por exemplo, considerando-as contrárias à dita "normal e natural" 
heterossexualidade. Seguindo essa mesma lógica, os cultos afro-brasileiros seriam 
contrários ao "normal e natural" cristianismo europeu. O preconceito relativo às 
práticas religiosas afro-brasileiras está profundamente arraigado na sociedade 
brasileira por estarem associadas a negros e negras, grupo historicamente 
estigmatizado e excluído. 
O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao definir a priori 
quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se aproxima também do 
preconceito. 
 Preconceito: Várias coletividades sofrem um profundo preconceito no interior de nossa 
sociedade. Questões de gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual direcionam 
práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o 
estereótipo e o preconceito estão no campo das ideias, a discriminação está no campo 
da ação, ou seja, é uma atitude. É a atitude de discriminar, de negar oportunidades, de 
negar acesso, de negar humanidade. Nesta perspectiva, a omissão e a invisibilidade 
também se constituem em discriminação. 
Dinamismo Cultural 
O caráter dinâmico da cultura é extremamente relevante, pois muitas vezes a cultura é 
associada à ideia de "tradição", quando na verdade foi pensada como algo imutável, que 
tenderia a se reproduzir sem perder suas características. 
 Características: Sobre isso, pode-se dizer que a cultura é dinâmica, que muda e se 
transforma e que essas mudanças se aceleraram com a globalização, o que em grande 
medida significa a "ocidentalização" de boa parte do mundo. 
A dinâmica cultural está diretamente relacionada à diversidade cultural existente em nossa 
sociedade. Esta se confunde muitas vezes com a desigualdade social – que deve ser combatida 
– e com um universo de preconceitos – que devem ser superados. 
 Superados: Há todo um aparato legal e jurídico que promete a igualdade social e a 
penalização de práticas discriminatórias. Mas a própria sociedade deve passar por um 
processo de transformação que implica incorporar a diversidade. 
Relativismo Cultural 
Seria pertinente salientar que o mais correto politicamente é se pensar na possibilidade de 
um verdadeiro relativismo cultural cujo princípio afirma que todos os sistemas culturais são 
intrinsecamente iguais em valor, e que os aspectos característicos de cada um têm de ser 
avaliados e explicados dentro do contexto do sistema em que aparecem, por um lado; por 
outro, entender e interiorizar o diferente como um sujeito igual em direitos e oportunidades. 
Síntese da Aula 
Nesta aula: 
• problematizou-se o conceito de Cultura; 
• analisamos questões relacionadas à Identidade Cultural enquanto um conceito em “transito”; 
• foi demonstrado o significado de etnocentrismo e seus efeitos na cultura; 
• chegou-se à conclusão que devemos entender a cultura como diversa, apontando a 
importância do relativismo cultural. 
Aula 3: O Popular, o Erudito e o papel do Intelectual 
Erudito: O vocábulo erudito vem do latim erudítus, aquele “que obteve instrução, conhecedor, 
sábio”. 
Popular: A palavra popular, também tem origem no latim populare, significa “de ou do próprio 
povo”. 
Os conceitos popular e o erudito são tomados como opostos. Tradicionalmente, esses termos 
são carregados de ideologias. 
Ao citar essas palavras em determinados contextos, já se revela a natureza do discurso. 
Trata-se de dois pólos extremos de um pensamento dicotomizado, maniqueísta e tendencioso. 
Entretanto, a expressão cultura popular e erudita/elite é criticada por certos estudiosos, 
como Roger Chartier e Peter Burke, dada a sua extensão e impressão homogeneizante que 
passa. 
Chartier, defende a ideia de que os sujeitos se apropriam e representam as práticas culturais 
de formas diversas. Já Burke, cunhou o termo “biculturalidade”, para expressar o quanto 
membros das elites conheciam e participavam da cultura popular, ao mesmo tempo em que 
preservam sua cultura. 
 Roger Chartier, opõe-se a toda tentativa de estabelecer um nexo entre nível social e 
nível cultural (popular ou erudito), com base em categorias sociológicas. Para ele, o que 
define erudito e popular são as práticas. Quanto à cultura popular, torna-se assim 
impossível identificá-la a partir de textos (artefatos culturais) consumidos por ela. Na 
verdade, filiando-se ao princípio de circularidade, Chartier mostra que a oposição entre 
popular e erudito não tem mais sentido, em razão dos empréstimos e intercâmbios. O 
que interessa é o estudo das práticas, porque elas permitem a apropriação diferente 
dos materiais culturais. 
O autor mostra que há imbricações entre a cultura popular e a erudita e diferentes 
maneiras de apropriação dos objetos, não sendo, por vezes, possível estabelecer 
claramente a fronteira entre popular e erudito, encontrando formas originais de 
cultura do povo como queria alguns historiadores. 
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. São Paulo, n° 11, 
1991. 
O popular e o erudito no modernismo brasileiro 
Na visão dos modernistas, somente a arte que integrasse a cultura erudita e a popular poderia 
representar o Brasil. 
O que os modernistas pretendiam era reformular a visão de cultura até então vigente, 
integrando as duas culturas, para unificá-las em uma só: a cultura brasileira. 
Essa visão de cultura popular modificou-se nos anos 60 do século XX, durante o regime 
militar, por aqueles que organizaram o movimento de contestação de caráter social e cultural 
chamado Contracultura. 
 A Contracultura, no Brasil, entendia cultura popular como sendo as representações do 
povo que deveriam ser usadas de forma a modificar, ou seja, a politizar este mesmo 
povo. Assim, eles faziam a distinção entre cultura erudita e popular. A primeira seria 
aquela que existiria como “instrumento de dominação”, “alienada e alienante”, visto que, 
segundo eles, não humanizava. Já a segunda seria a cultura que levaria o homem a 
assumir sua posição de sujeito da própria criação cultural e de operário consciente do 
processohistórico em que se acha inserido. 
Assim, um movimento de cultura popular deveria ser fundamentalmente revolucionário e fazer 
arte com o povo, e não para o povo. 
Entretanto, sabe-se hoje, que entre o popular e o erudito não há um abismo, mas uma 
passagem gradual. 
O Intelectual 
Para tratarmos do intelectual vamos considerar três definições clássicas do termo: 
1. Intelectual orgânico: Pensado pelo cientista político italiano Antônio Gramsci. Na ideia 
de Gramsci, intelectual não requer uma formação acadêmica específica, mas uma ação 
social, um sujeito mediador de poder, que trabalha por meio do senso crítico. 
2. Intelectual engajado: Teorizado por Sartre. Este autor considera o intelectual o 
escritor de atualidades, aquele que opina e intervém em todos os acontecimentos 
relevantes, à medida que vão se sucedendo uns aos outros, num estado de vigília 
permanente. 
3. Intelectual universal: Pensado pelo filósofo francês Michel Foucault. Para ele o 
intelectual é aquele cuja função passa por denunciar a produção da verdade – que se 
faz pelo eixo poder-saber – e examiná-la enquanto resultado de um “jogo de forças”. 
O Intelectual Orgânico 
Para Gramsci certo tipo de agente é capaz de fazer a ligação entre a “superestrutura” e a 
“infraestrutura”, independente de sua escolaridade específica, mas relacionada diretamente 
com o “lugar” que ocupa nas relações materiais/sociais de uma determinada produção social. 
Como alguém sustentado por uma base material econômica e por uma ideologia emanada desta 
base que procura mantê-la, e aqueles que estão fora do poder, mas produzindo para este 
poder e afetados por sua ideologia. 
A mediação se daria por meio da organização e formação de um senso crítico, junto a esse 
grupo, construído com a contribuição dos intelectuais. 
O Intelectual Engajado 
O intelectual é uma figura que intervém criticamente na esfera pública, transgredindo a 
ordem e criticando o existente, inclusive, a forma e o conteúdo da própria atividade das 
artes, ciências, técnicas, filosofia e direito. 
Um “personagem” engajado que é contra todas as formas de exploração e dominação vigentes; 
é a favor da emancipação ou da autonomia em todas as esferas da vida econômica, social, 
política e cultural, o que o diferencia do ideólogo que fala a favor da ordem vigente, 
justificando-a e legitimando-a. 
O Intelectual Universal 
O intelectual apresentado por Michel Foucault pode ser qualquer um, já que segundo ele a 
estrutura de poder deve funcionar em uma sociedade por meio de um sistema disciplinar 
disperso, que funciona anonimamente, através de um controle incessante que se faz valer de 
práticas discursivas para aplicar-se sobre os sujeitos; sujeitos estes que aparecem 
sujeitando-se, como efeito de operações de poder. 
Tal poder disciplinar está intrinsecamente ligado às ciências humanas, enquanto sistemas de 
conhecimento sobre seres humanos, dentre os quais a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise 
assumem posição privilegiada. 
Enquanto mediador simbólico, os intelectuais são os agentes que constroem, por exemplo, a 
identidade nacional; são os artífices desta identidade e da memória nacionais, desempenhando 
a tarefa de mediadores simbólicos. 
Todos se dedicam a interpretar o país cuja identidade será o resultado do jogo das relações 
apreendidas por cada autor, podendo ser chamados de mediadores simbólicos. 
 Na verdade, esses intelectuais são agentes históricos que operam uma transformação 
simbólica da realidade sintetizando-a como única e compreensível – o processo de 
construção da identidade nacional se fundamenta sempre numa interpretação. 
A construção da identidade nacional necessita desses mediadores, pois são eles que descolam 
as manifestações culturais de sua esfera particular e as articulam a uma totalidade que as 
transcendem. 
Embora as concepções do intelectual engajado de Sartre e do intelectual orgânico de Gramsci 
estejam presentes até hoje, sobretudo entre os pensadores ditos de “esquerda”, a urgência 
hoje, passa por uma reformulação desta moral do engajamento, desta “vontade de servir” (ou 
dever). 
Talvez hoje seja indispensável reavaliar a relação indivíduo/sociedade e consequentemente a 
relação entre intelectual e grupo social. 
Para se entender melhor o papel dos intelectuais hoje, seria preciso definir novos tipos de 
relações que unem o indivíduo aos grupos. 
Síntese da Aula 
Nesta aula, você: 
• entendeu que o popular e o erudito são termos ideológicos e de complexa conceitualização; 
• compreendeu que na prática há um diálogo, entre o conceito de popular e erudito, que 
dinamiza da cultura; 
• conheceu a concepção do popular e do erudito no Modernismo, na Contracultura e na 
contemporaneidade; 
• identificou o que é um intelectual por meio de algumas definições clássicas; 
• compreendeu o papel do intelectual na sociedade e suas relações com o poder; 
• entendeu a figura do intelectual hoje. 
Aula 4: Cultura nas Sociedades de Classes 
Ideologia 
A ideologia, tanto em sua concepção marxista clássica (século XIX) como também nas 
reflexões dos frankfurtianos (Escola de Frankfurt, primeira metade do século XX), consiste 
na separação entre pensamento e ação, cultura e materialidade, sujeito e objeto. 
Ideologia Marxista 
Base da ideologia: “... a separação da base produtiva material (o trabalho físico) da produção 
do conhecimento (atividade mental), como se estas partes fossem autônomas e dotadas de 
conteúdos independentes.” 
Karl Marx afirmava que esta separação serve ao poder como forma de legitimação de uma 
determinada dominação. 
A classe que detém os meios de produção (a riqueza) possui também os meios de produção do 
pensamento e, assim, essa classe justifica sua dominação por meio da imposição de suas ideias 
como dominantes. 
Ideologia segundo os pensadores da Escola de Frankfurt 
Base da ideologia: “... na medida em que a cultura é transformada num bem de consumo, 
podendo ser adquirida por meio da troca livre no comércio de mercadorias, a falsidade 
daquela união é demonstrada por tomar a cultura unificada aos interesses da realidade 
vigente.” 
A Escola de Frankfurt é o nome dado a um grupo de filósofos e de cientistas sociais de 
tendências marxistas que surge na Alemanha, ao final da década de 1920 e início dos anos de 
1930. 
 Escola de Frankfurt: O grupo de pensadores de Frankfurt não constituíram uma escola 
no sentido tradicional do termo. 
Representavam, na verdade, mais uma postura de análise crítica e uma perspectiva 
aberta para todos os problemas da cultura do século XX. Deve-se à Escola de 
Frankfurt a criação de conceitos como indústria, indústria cultural e cultura de massa. 
O objetivo do grupo era romper os grilhões de todos os sistemas fechados de pensamento e 
combater tradições que haviam bloqueado o desenvolvimento do projeto crítico. 
Em suas análises, esses teóricos fazem referência à separação, largamente difundida na 
Alemanha, entre cultura e civilização. 
 Civilização: Com a finalidade de conservar os indivíduos submetidos e submissos ao 
sistema, fez-se necessário mudar os próprios padrões de produção de pensamento. 
Ocorre o que podemos chamar de uma “caricatura da reconciliação” entre os âmbitos 
separados da civilização e da cultura. 
A organização e a produção da cultura passam a ser cooptadas pelo aparato de 
produção de mercadorias, o que possibilitou o estabelecimento de novas formas de 
“distribuição” e “consumo” dos “bens culturais”. 
O conceito marxista de ideologia sofre transformações importantes no século XX, 
provocadas pelo pensamento dos teóricos da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e 
Marcuse), na Alemanha dos anos de 1930. 
A indústria cultural de massas e a sociedade de consumo 
Adorno e Horkheimer elaboraram o termo indústria cultural, com a finalidadede solucionar 
uma confusão a respeito da diferença entre cultura de massas e cultura popular. 
O conceito indústria cultural esclarece que não se trata de uma cultura produzida pela massa, 
mas uma cultura do capitalismo voltada para o consumo em massa. 
 Cultura do capitalismo: Promover uma falsa aproximação entre a reprodução do mundo 
material e espiritual foi o grande feito da indústria cultural. Este processo foi 
realizado por meio da mercantilização da cultura, pela união destas duas esferas 
distintas promovida pelo capital. 
Ao ser transformado em bem de consumo que adapta os indivíduos à realidade existente e 
subjuga-o ao poder do sistema, a cultura resultará na indústria cultural. 
A potencialidade da cultura como esfera da formação do indivíduo, a qual pressupunha a 
autonomia do sujeito e de sua relação crítica e contestadora com a totalidade é transformada 
pela indústria cultural em esfera de alienação e adaptação acrítica do indivíduo à realidade. 
A indústria da cultura no Brasil 
A indústria cultural adquire seu pleno desenvolvimento no Brasil e se consolida em 
decorrência da articulação de dois fatores que atuam de forma interdependente: um de 
natureza política e outro de natureza econômica. 
 Econômica: O fator econômico é representado pelo ingresso do País na etapa 
monopolista do capitalismo; o político, pela instauração do regime militar em 1964 e a 
consequente implementação de um projeto de desenvolvimento burocrático-autoritário 
fundamentado na Ideologia da Segurança Nacional (ISN). 
O processo de implantação das indústrias de bens simbólicos, no entanto, começa antes, nos 
anos 60, embora só se consolide na década de 70. 
 Década de 70: Do ponto de vista econômico, os anos 60 e 70 representam o período de 
ingresso da economia nacional na etapa monopolista do capitalismo. Como ocorre em um 
momento em que a economia mundial capitalista está plenamente constituída, pode-se 
dizer que a inclusão do Brasil no sistema é tardia, retardatária. Do ponto de vista 
político, significa a fase mais dura de atuação do Estado autoritário sob comando 
militar que visava implementar um projeto de nação que vinha sendo articulado por 
segmentos autoritários da sociedade desde muito antes da chegada ao poder em 64. 
Mesmo que nas décadas anteriores aos anos 1960 possam ser encontrados empreendimentos 
empresariais no setor da cultura e da comunicação (jornais, emissoras de rádio, editoras, 
gravadoras etc.), assim como um insipiente mercado para esses bens, não se pode dizer que 
tivessem as características próprias daquele tipo de atividade que Adorno e Horkheimer, em 
1947, denominaram de indústria cultural. 
Na década de 40, segundo o antropólogo Renato Ortiz, as empresas culturais existentes 
procuravam expandir suas bases materiais, mas encontravam grandes obstáculos que se 
interpunham ao desenvolvimento do capitalismo brasileiro, o que colocava limites concretos 
para o crescimento de uma cultura popular de massa. 
 Década de 40: O antropólogo Renato Ortiz (1991), numa das obras mais importantes 
sobre o processo de implantação das indústrias culturais do Brasil, lembra que na 
década de 40 já se pode passar a considerar seriamente a presença de atividades 
vinculadas a uma cultura popular de massa. Diz que, recuando-se às décadas anteriores, 
encontram-se jornais, revistas ilustradas e histórias em quadrinhos produzidos por 
organizações de caráter empresarial. 
Dessa forma, é possível dizer que os anos 40 e 50 marcam o momento de incipiência de uma 
sociedade de consumo de massa no Brasil, porque a sociedade ainda não estava estruturada 
de forma a atribuir significado e amplitude social aos meios culturais que possuía. Já as 
décadas de 60 e 70 se definem pela consolidação do mercado de bens culturais. 
Síntese da Aula 
Nesta aula, você aprendeu: 
• alguns conceitos de Ideologia e suas diferenças; 
• o significado de Indústria Cultural; 
• a relação entre Ideologia, Indústria Cultural e sociedade de consumo; 
• sobre a Indústria Cultural no Brasil. 
Aula 5: Formação Étnica do Povo Brasileiro 
Para se falar da formação étnica de um povo, é necessário que comecemos por diferenciar o 
conceito de “etnia” do conceito de “raça”. 
O conceito de raça é uma construção social forjada nas tensas relações entre brancos, negros 
e indígenas. Não tinha relação com o conceito biológico de raça cunhado no século XIX e que 
hoje está superado. 
 Conceito Biológico: Em relação à raça, a área biológica comprovou que as diferenças 
genéticas entre os seres humanos são mínimas, por isso não se admite mais que a 
humanidade é constituída por raças. 
Tem uma conotação política e é utilizado com frequência nas relações sociais brasileiras, para 
informar como determinadas características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre 
outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos 
sujeitos no interior da sociedade brasileira. 
Quanto à etnia, o termo marca as relações tensas por causa das diferenças na cor da pele e 
nos traços fisionômicos que caracterizam a raiz cultural plantada na ancestralidade dos mais 
diversos grupos, que difere em visão de mundo, valores e princípios de origem indígena, 
europeia ou asiática. 
O termo étnico é fundamental para demarcar que indivíduo pode ter a mesma cor da pele que 
o outro, o mesmo tipo de cabelo e traços culturais e sociais que os distingue, caracterizando 
assim etnias diferentes. 
Miscigenação e sincretismo 
A heterogeneidade presente na formação (étnica, cultural, social) da população brasileira 
gerou discussões historicamente marcadas pela diversidade de enfoques desde os primeiros 
trabalhos, a partir do século XIX. 
Esta visão da formação do povo brasileiro começa com a explicação biologizante da mescla de 
três raças: a branca, a indígena e a africana. 
Foi a chegada de imigrantes europeus que instigou a busca por uma visão biológica, 
salientando nossa capacidade singular de absorção do "outro". 
A fábula de três raças surgiu ainda no Brasil Império, entre os pesquisadores naturalistas e 
ganhou a adesão de cronistas e escritores, em meio às teorias da época que relacionavam os 
saberes biológicos com os sociais. 
Os autores que formularam as impressões do que viam se consolidar por aqui inclinavam-se 
por caminhos divergentes, mantendo, porém, uma matriz comum: a constatação da mestiçagem 
racial. Esta foi vista ou como uma elaboração biocultural inusitada e sublime ou como algo 
perigoso e lamentável. 
 Divergentes: Para alguns intelectuais brasileiros do século XIX a mestiçagem seria, 
então, um entrave aos anseios progressistas da nação que pretendia desempenhar seu 
papel no mundo civilizado. 
Ela é, no primeiro momento, a marca racial para se tornar, então, a marca cultural do 
Brasil. 
O Mito da Democracia Racial 
A sociedade brasileira se identifica com o traço multietnico e cultural que lhe é constitutivo, 
mas vive este de forma tensa. 
Na prática, o Brasil branco e europeizado, mais tarde branco e americanizado, não soube 
como fazer com a diversidade cultural que a nossa formação configurou; não a integrou de 
fato, quando muito de direito. 
O conceito de “nação” pode ser utilizado como um dispositivo discursivo que apazigua 
elementos diversos em uma aparente unidade. 
Dessa forma, os vários grupos étnicos, classes sociais e gêneros que constituem a sociedade 
são representados como pertencentes à mesma identidade nacional, suprimindo as múltiplas 
identidades culturais que perpassam os membros de uma nação. 
A Construção da Identidade Cultural 
Se o imaginário nacional instaura uma suposta igualdade entre esses membros, isso não se 
confirma no espaço real, onde as desigualdades entre as classes sociais não permitem que 
todos usufruam dos mesmos recursos; assim, esse conceitoé construído ao longo do tempo de 
acordo com as representações, nessa cultura nacional, de sua nacionalidade. 
Uma nação constitui-se não apenas de uma organização política, mas, principalmente, de um 
sistema de significação cultural. 
 Significação Cultural: “As pessoas não são apenas cidadãos (ãs) legais de uma nação; 
elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional." 
Neste sistema, os discursos que narram a nação serão ambivalentes ideologicamente por 
serem o produto de um processo histórico contínuo. 
A identidade cultural, como sabemos, é algo que se constroi ao longo do tempo e se manifesta 
de muitas maneiras. 
Não há nação sem identidade nacional, porém, tais identidades são construídas 
permanentemente e nunca completadas, e nesta construção estão envolvidos intelectuais, 
artistas, povo e Estado. 
Discursos Fundadores 
No Brasil, foram várias as tentativas de se pensar uma identidade cultural para a nação 
brasileira. Entre essas tentativas, destacamos alguns momentos: 
1. Século XVI – 1ª metade do século XIX: Na fase colonial, a descoberta da terra e o 
movimento nativista (século XVI à Independência – 1ª metade do século XIX). 
2. 1822 – 1880: No Romantismo, a independência política e a formação de uma imagem 
positiva do Brasil e do brasileiro (1822-1880). Neste momento, a figura do índio como 
ícone da identidade nacional ganha destaque. 
3. Virada do século XIX para XX: As ciências sociais e a imagem pessimista do brasileiro 
(virada do século XIX para XX). Neste momento, cabe destacar os discursos de Silvio 
Romero e Euclides da Cunha. 
Silvio Romero (1851-1914) e a identidade brasileira 
Para Silvio Romero, o passado colonial foi um problema central. Os fundamentos essenciais da 
nacionalidade remontariam aos tempos coloniais, mas ali também estaria a origem do atraso 
brasileiro. Em última estância, a tradição colonial era um fardo, pois de lá provinham as “raças 
inferiores” e a pesada herança escravocrata. 
Euclydes da Cunha (1866 – 1909) e o Brasil de Canudos 
Autor de Os Sertões, de 1902, obra em que apresenta a realidade social do interior do país, 
em grande parte desconhecida pela consciência intelectual brasileira, republicana, racista e 
positivista. 
Ao relatar a guerra de Canudos no sertão da Bahia em 1897, apresenta o sertanejo como 
homem antes de tudo forte no contexto de um meio ambiente natural e político-social 
gravemente hostil, quando esta era uma surpreendente novidade para uma intelectualidade 
que a época justificava o atraso cultural do país pelos maus costumes coloniais da mestiçagem. 
Os intérpretes do Brasil do Século XX 
 Gilberto Freyre (1900 – 1987): Em 1933, Gilberto Freyre publica Casa Grande & 
senzala, obra de referência no que tange à nossa identidade cultural, onde examina as 
relações de convivência e influência que sobredeterminaram as relações de dominação 
dos senhores de engenho sobre os negros. 
 Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982): Autor do livro Raízes do Brasil, de 1936, 
investigou de forma definitiva os diferentes tipos de colonização espanhola e 
portuguesa nos países da América do Sul, Central e Caribe. 
 Caio Prado Júnior (1907 – 1990): Através de sua obra Formação do Brasil 
Contemporâneo, de 1942, de orientação marxista, denuncia a dependência econômica, 
política e cultural da colônia brasileira em face de sua metrópole portuguesa. 
Gilberto Freyre 
A teoria do lusotropicalismo formulada pelo sociólogo, durante a primeira metade do século 
XX, supõe a existência de uma civilização original que se ergueu sobre os alicerces 
decorrentes da expansão portuguesa por zonas tropicais do mundo e do modo particular dos 
portugueses de se relacionar com as populações indígenas. 
Através desta interação, que contempla a mútua influência em várias dimensões da vida 
cotidiana, nomeadamente no estilo de se vestir, na culinária, no comportamento social, nos 
ritos religiosos, assim como, na expressão idiomática de dois ou, no caso do Brasil, de três 
elementos, que se criaram sociedades híbridas na sua composição etnocultural. 
Síntese da Aula 
Nesta aula, você: 
• reconheceu que a heterogeneidade presente na formação (étnica, cultural, social) da 
população brasileira gerou discussões sobre a identidade nacional, historicamente marcada 
pela diversidade de enfoques desde os primeiros trabalhos voltados para o tema, a partir do 
século XIX; 
• compreendeu o conceito de “nação” como um dispositivo discursivo que apazigua elementos 
diversos em uma aparente unidade, sendo fundamental para uma percepção mais ampla; 
• conheceu as várias tentativas de se pensar uma identidade cultural para a nação brasileira; 
• identificou os principais intérpretes do Brasil no século XX. 
Aula 6: A dialética Literatura e História 
A Literatura como um Fato Cultural 
A literatura pode ser entendida como um sistema de obras ligadas por denominadores comuns 
que fazem dela aspecto orgânico da civilização, isto é, fazem dela parte constitutiva da 
civilização. 
Assim, a literatura é vista como um fato de cultura, algo, portanto, que não surge pronto e 
acabado, mas que se configura ao longo de um processo cumulativo de articulação com a 
sociedade. 
A reflexão sobre a “forma” (literária) deve ser entendida como uma dupla articulação – social 
e artística – que implica a percepção de que ela funcionaria como princípio mediador, capaz de 
organizar em profundidade os dados da ficção e do real, sendo parte dos dois planos. 
Forma literária e função histórica 
A forma, como noção que abrange a esfera literária e a própria vida real, assinala que há uma 
articulação entre estética e fator social que se faz mediante um fundamento prático 
histórico. 
A conjunção entre literatura e sociedade – enquanto “estruturas” complementares – se dá na 
medida em que a concepção de forma é definida para além da esfera literária: a própria 
realidade histórica é, com efeito, ela mesma “formada”. 
A questão do local e do universal no processo de formação cultural brasileiro: 
Ao pensarmos a dialética de local e universal, que está pressuposta no movimento crítico da 
“Malandragem”, podemos ressaltar um aspecto fundamental para a realidade do pensamento 
intelectual brasileiro: colhendo um problema histórico-social em sua cor local, opera-se a 
apreciação da cena internacional e a interpretação da sociedade contemporânea. 
Trata-se de um primeiro estrato universalizador, em que fermentam arquétipos válidos para a 
imaginação de um amplo ciclo de cultura. 
Local X Universal 
A “dialética da malandragem” ou “da ordem e da desordem” 
Seria o universal no particular, fazendo com que esses dois mundos se toquem continuamente. 
E é nesse segundo estrato brasileiro que nos deparamos com a dialética da ordem e da 
desordem, como “modos de existência”. 
São “brasilidades”: a casa e a rua, a comida quente, a religião, o malandro, o carnaval e o 
futebol – uma combinação dinâmica e especial de possibilidades universias. 
Síntese da Aula: 
Nesta aula, você: 
• identificou de que modo ocorre a dialética Literatura e História; 
• compreendeu a importância dessa relação na formação cultural brasileira; 
• refletiu sobre os “modos de existir” brasileiros. 
Aula 7: Identidade Cultural 
“A identidade [só] se torna uma questão [...] quando algo que se supõe como fixo (...) é 
deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza.” 
O argumento dos debates que giram em torno da questão Identidade Contemporânea diz que 
as “velhas identidades”, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, 
fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno: é a chamada “crise de 
identidade”, vista como parte de um processo mais amplo de mudança que está deslocando as 
estruturas e processos centrais das sociedadesmodernas e abalando os quadros de 
referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. 
Identidade Cultural e o Sujeito Contemporâneo 
As “velhas identidades” que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, 
fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, visto até aqui como um 
sujeito unificado. 
A chamada “crise” é parte de um processo mais amplo de mudança que está deslocando as 
estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de 
referência, que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. 
Crise de Identidade 
Um tipo diferente de mudança está transformando as estruturas das sociedades modernas 
desde os meados do século XX. Tal mudança é responsável pela fragmentação das paisagens 
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no passado, nos 
tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. 
Essas transformações atingem nossas identidades pessoais pondo em xeque a ideia que temos 
de nós mesmos como sujeitos integrados. Esta perda de um “sentido de si estável” é chamada 
de “deslocamento” ou “descentração” do sujeito. 
Tal deslocamento/descentração do indivíduo tanto de seu lugar no mundo social e cultural 
quanto de si mesmo, constitui uma “crise de identidade” para esse indivíduo. 
Breve Histórico das Concepções de Identidade do Sujeito 
1. Sujeito do Iluminismo: O sujeito do iluminismo (século XVIII) que emerge com a 
consolidação da modernidade, baseava-se na concepção de uma pessoa humana: um 
indivíduo centrado, unificado, dotado da capacidade da razão, de consciência e de ação, 
cujo centro consistia num núcleo interior, que emergia quando este sujeito nascia e com 
ele se desenvolvia até a sua morte. Este sujeito permanecia o mesmo, era contínuo ou 
“idêntico” durante toda a sua existência. 
2. Sujeito Sociológico: O sujeito sociológico emerge a medida que cresce a complexidade 
do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era 
autônomo e autossuficiente. Sua identidade era formada na “interação” entre o eu e a 
sociedade. 
3. Sujeito Pós-moderno: O sujeito centrado, unificado, do início e do auge da 
modernidade, está se fragmentando nesses tempos ditos tardios, compostos de várias 
identidades; algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. As identidades, que 
compunham as paisagens sociais e que asseguravam a estabilidade de nossa 
subjetividade com as necessidades objetivas da cultura, estão entrando em colapso, 
por conta de mudanças estruturais e institucionais. 
Identidade como Processo: as Identidades Híbridas 
O processo de identificação por meio do qual nos projetamos em nossas identidades culturais 
tomou-se provisório e problemático. 
A identidade tornou-se uma “celebração móvel”, negociada, formada e transformada 
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados nos sistemas culturais 
que nos rodeiam. 
Síntese da Aula: 
Nesta aula, você: 
• entendeu a problemática da Identidade Cultural hoje; 
• compreendeu Identidade Cultural como um processo histórico; 
• aprendeu o que são “identidades híbridas”. 
Aula 8: A sociedade global 
O cientista social Otavo Ianni, em sua obra A sociedade Global afirmou que o mundo ampliou-
se além da capacidade interpretativa dos conceitos já conhecidos, que partem sobretudo das 
ciências sociais. 
Nessa afirmação, o autor faz referência a noções de sociedade global que experimentamos 
hoje. O indivíduo e a sociedade já não se situam apenas no âmbito da nação e de sua história. 
As biografias já não expressam nem a autonomia ou identidade do indivíduo, nem podem ser 
explicadas, de modo satisfatório, no âmbito do grupo, classe ou sociedade nacional. 
A Sociedade Global 
A cultura está além das formas conhecidas, como expressão e condição de grupos, classes, 
etnias, minorias, sociedades; está impregnada de padrões e valores, ideias e imaginários, 
provenientes de grupos, classes, etnias, minorias e sociedades situados “além”. 
As relações, os processos e as estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e 
integração, ultrapassam fronteiras. 
O que é a Globalização? 
A globalização se refere àqueles processos que atuam em escala global, que atravessam 
fronteiras nacionais, integrando e conectando comunicações e organizações em novas 
combinações de espaço-tempo. 
A globalização está deslocando as identidades culturais nacionais, pois atravessa fronteiras 
nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações, em novas combinações de 
espaço-tempo, tornando o mundo mais interconectado. 
Duas tendências contraditórias estão presentes na globalização: a tendência à autonomia 
nacional e a tendência ao mundial. 
O Global, O Local 
A era da globalização impõe transformações universalizantes que reconfiguram a tradição, 
seu abandono ou desincorporação. O local encontra-se de tal forma conectado ao global que 
influencia e é influenciado por este. 
A tradição vivenciada no locus do cotidiano, no espaço específico, é colocada em questão pela 
experiência vivenciada do indivíduo no tempo e espaço global. Por outro lado, o local também 
problematiza o global. 
Poucas pessoas, em qualquer lugar do mundo, podem continuar sem consciência do fato de que 
suas atividades locais são influenciadas e, às vezes, até determinadas, por acontecimentos ou 
organismos distantes. 
O reverso da medalha é menos evidente. Hoje em dia, as ações cotidianas de um indivíduo 
produzem consequências globais. 
A decisão de comprar uma determinada peça de roupa, por exemplo, ou um tipo específico de 
alimento, tem múltiplas implicações globais. 
Há uma interdependência cada vez maior entre o espaço global e o local. 
O global tem influência sobre as vidas individuais nos espaços locais; mas também as decisões 
dos indivíduos em seu cotidiano podem influenciar sobre os resultados globais. Esta 
interinfluência incide sobre as coletividades e grupos de todos os tipos, incluindo o Estado. 
Todos tem que levar em consideração essa realidade, o que pressupõe repensar os papeis, sua 
reorganização e reformulação. 
A experiência global da modernidade está interligada – e influencia, sendo por ela 
influenciada – à penetração das instituições modernas nos acontecimentos da vida cotidiana. 
Não apenas a comunidade local, mas as características íntimas da vida pessoal e do eu 
tornam-se interligadas a relações de indefinida extensão no tempo e no espaço. Estamos 
todos presos às experiências do cotidiano, cujos resultados, em um sentido genérico, são tão 
abertos quanto aqueles que afetam a humanidade como um todo. 
As experiências do cotidiano refletem o papel da tradição – em constante mutação – e, como 
também ocorre no plano global, devem ser consideradas no contexto do deslocamento e da 
reapropriação de especialidades, sob o impacto da invasão dos sistemas abstratos. A 
tecnologia, no significado geral da “técnica”, desempenha aqui o papel principal. 
As experiências do cotidiano na modernidade globalizada vinculam-se às questões 
fundamentais relativas à identidade, à percepção do “eu” e do “outro”; e, por outro lado, 
envolvem múltiplas mudanças e adaptações na vida cotidiana. Em tais circunstâncias, os 
indivíduos “sentem-se no ar” e, inseguros, se apegam à tradição. Os indivíduos resistem 
localmente à globalização e, simultaneamente, não podem desconsiderá-la. 
A Dialética das Identidades 
A globalização caminha junto ao reforço das identidades locais. Trata-se de um processo 
desigual e que tem sua “geometria de poder”. 
A globalização retém alguns aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades 
culturais estão sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo. 
Com o declínio das identidades nacionais, identidadeshíbridas entram em cena. 
No debate sobre o novo interesse pelo local e a nova articulação entre o global e o local, há, 
portanto, uma verdadeira dialética das identidades: entre novas identidades globais e novas 
identidades locais. 
Segundo Stuart Hall, a globalização tem um efeito contestador e deslocador das identidades 
centradas e fechadas de uma cultura nacional. 
Esse efeito verdadeiramente pluralizante alterna as identidades fixas, tornando-as menos 
fixas, mais plurais, políticas e diversas. 
Tal movimento pode produzir dois efeitos: o primeiro efeito de “Tradição”, quando as nações 
tentam “recuperar sua pureza anterior e recobrir as unidades e certezas que são sentidas 
como tendo sido perdidas”. O outro efeito desse processo nas nações é denominado de 
“Tradução” quando as nações “aceitam que as identidades estão sujeitas ao plano da história , 
da política, da representação e da diferença”. 
Assim as nações estariam gravitando entre manter (a tradição) e transformar (a tradução), o 
que afeta diretamente as novas (ou velhas) formas de identidade cultural. 
É nesse movimento/deslocamento que emerge a concepção de culturas híbridas (entre a 
tradição e a tradução) como um dos diversos tipos de identidades destes tempos de 
modernidade tardia. 
Síntese da Aula 
Nesta aula, você: 
• compreendeu o conceito de sociedade global e suas implicações; 
• identificou a dialética entre sociedade global e as identidades nacional, regional e local. 
Aula 8: A sociedade global 
O cientista social Otavo Ianni, em sua obra A sociedade Global afirmou que o mundo ampliou-
se além da capacidade interpretativa dos conceitos já conhecidos, que partem sobretudo das 
ciências sociais. 
Nessa afirmação, o autor faz referência a noções de sociedade global que experimentamos 
hoje. O indivíduo e a sociedade já não se situam apenas no âmbito da nação e de sua história. 
As biografias já não expressam nem a autonomia ou identidade do indivíduo, nem podem ser 
explicadas, de modo satisfatório, no âmbito do grupo, classe ou sociedade nacional. 
A Sociedade Global 
A cultura está além das formas conhecidas, como expressão e condição de grupos, classes, 
etnias, minorias, sociedades; está impregnada de padrões e valores, ideias e imaginários, 
provenientes de grupos, classes, etnias, minorias e sociedades situados “além”. 
As relações, os processos e as estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e 
integração, ultrapassam fronteiras. 
O que é a Globalização? 
A globalização se refere àqueles processos que atuam em escala global, que atravessam 
fronteiras nacionais, integrando e conectando comunicações e organizações em novas 
combinações de espaço-tempo. 
A globalização está deslocando as identidades culturais nacionais, pois atravessa fronteiras 
nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações, em novas combinações de 
espaço-tempo, tornando o mundo mais interconectado. 
Duas tendências contraditórias estão presentes na globalização: a tendência à autonomia 
nacional e a tendência ao mundial. 
O Global, O Local 
A era da globalização impõe transformações universalizantes que reconfiguram a tradição, 
seu abandono ou desincorporação. O local encontra-se de tal forma conectado ao global que 
influencia e é influenciado por este. 
A tradição vivenciada no locus do cotidiano, no espaço específico, é colocada em questão pela 
experiência vivenciada do indivíduo no tempo e espaço global. Por outro lado, o local também 
problematiza o global. 
Poucas pessoas, em qualquer lugar do mundo, podem continuar sem consciência do fato de que 
suas atividades locais são influenciadas e, às vezes, até determinadas, por acontecimentos ou 
organismos distantes. 
O reverso da medalha é menos evidente. Hoje em dia, as ações cotidianas de um indivíduo 
produzem consequências globais. 
A decisão de comprar uma determinada peça de roupa, por exemplo, ou um tipo específico de 
alimento, tem múltiplas implicações globais. 
Há uma interdependência cada vez maior entre o espaço global e o local. 
O global tem influência sobre as vidas individuais nos espaços locais; mas também as decisões 
dos indivíduos em seu cotidiano podem influenciar sobre os resultados globais. Esta 
interinfluência incide sobre as coletividades e grupos de todos os tipos, incluindo o Estado. 
Todos tem que levar em consideração essa realidade, o que pressupõe repensar os papeis, sua 
reorganização e reformulação. 
A experiência global da modernidade está interligada – e influencia, sendo por ela 
influenciada – à penetração das instituições modernas nos acontecimentos da vida cotidiana. 
Não apenas a comunidade local, mas as características íntimas da vida pessoal e do eu 
tornam-se interligadas a relações de indefinida extensão no tempo e no espaço. Estamos 
todos presos às experiências do cotidiano, cujos resultados, em um sentido genérico, são tão 
abertos quanto aqueles que afetam a humanidade como um todo. 
As experiências do cotidiano refletem o papel da tradição – em constante mutação – e, como 
também ocorre no plano global, devem ser consideradas no contexto do deslocamento e da 
reapropriação de especialidades, sob o impacto da invasão dos sistemas abstratos. A 
tecnologia, no significado geral da “técnica”, desempenha aqui o papel principal. 
As experiências do cotidiano na modernidade globalizada vinculam-se às questões 
fundamentais relativas à identidade, à percepção do “eu” e do “outro”; e, por outro lado, 
envolvem múltiplas mudanças e adaptações na vida cotidiana. Em tais circunstâncias, os 
indivíduos “sentem-se no ar” e, inseguros, se apegam à tradição. Os indivíduos resistem 
localmente à globalização e, simultaneamente, não podem desconsiderá-la. 
A Dialética das Identidades 
A globalização caminha junto ao reforço das identidades locais. Trata-se de um processo 
desigual e que tem sua “geometria de poder”. 
A globalização retém alguns aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades 
culturais estão sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo. 
Com o declínio das identidades nacionais, identidades híbridas entram em cena. 
No debate sobre o novo interesse pelo local e a nova articulação entre o global e o local, há, 
portanto, uma verdadeira dialética das identidades: entre novas identidades globais e novas 
identidades locais. 
Segundo Stuart Hall, a globalização tem um efeito contestador e deslocador das identidades 
centradas e fechadas de uma cultura nacional. 
Esse efeito verdadeiramente pluralizante alterna as identidades fixas, tornando-as menos 
fixas, mais plurais, políticas e diversas. 
Tal movimento pode produzir dois efeitos: o primeiro efeito de “Tradição”, quando as nações 
tentam “recuperar sua pureza anterior e recobrir as unidades e certezas que são sentidas 
como tendo sido perdidas”. O outro efeito desse processo nas nações é denominado de 
“Tradução” quando as nações “aceitam que as identidades estão sujeitas ao plano da história , 
da política, da representação e da diferença”. 
Assim as nações estariam gravitando entre manter (a tradição) e transformar (a tradução), o 
que afeta diretamente as novas (ou velhas) formas de identidade cultural. 
É nesse movimento/deslocamento que emerge a concepção de culturas híbridas (entre a 
tradição e a tradução) como um dos diversos tipos de identidades destes tempos de 
modernidade tardia. 
Síntese da Aula 
Nesta aula, você: 
• compreendeu o conceito de sociedade global e suas implicações; 
• identificou a dialética entre sociedade global e as identidades nacional, regional e local. 
Aula 10: A globalização e os desafios para a Cultura Brasileira: Integração ou 
Resistência? 
Mundialização e Cultura 
O cientista social Renato Ortiz reforça que a economia vem afetando as práticas 
socioculturais coletivas e individuais.Segundo o autor, a fragmentação da sociedade, em 
função da natureza das práticas político-econômicas, acabou reduzindo o grande sujeito 
coletivo (a sociedade enquanto um todo) a uma imensa quantidade de universos fechados. 
Para Ortiz, o que passaria a existir, agora, seria uma sociedade dividida em segmentos, em 
estratos sociais que contêm apenas um único elemento de universalidade que os unia – e que 
mesmo assim, era de natureza bastante fluída, em função das realidades socioeconômicas de 
seus respectivos Estados: o seu poder de consumo. 
Cabe ressaltar aqui uma característica peculiar do pensamento de Renato Ortiz, isto é, que a 
realidade segmentada, cuja orientação se daria a partir de uma relação de consumo material 
de bens, não se dá sem afetar a dimensão psicológica da sociedade. 
O grande princípio orientador das ações humanas, na atualidade, é o consumo simbólico dos 
bens, através do significado de suas imagens, que fomentaria um todo cultural inteiramente 
novo, e que não substituiria as culturas locais e as identidades tradicionais, como em um passe 
de mágica. 
O consumo simbólico de bens formaria uma cultura-mundo, cujos ícones, independente do 
idioma falado ou do segmento em que se encontraria um agente social qualquer, seria 
reconhecido em todas as partes do globo, a partir de discursos visuais. 
Em outras palavras, uma cultura-mundo se daria a partir do emprego da tecnologia, que 
aproxima cada vez mais as culturas do globo, sintetizando e cristalizando-as algumas vezes, 
sob a forma de bens materiais. 
A síntese de uma cultura não se daria no intuito de reduzi-la a uma quase descaracterização 
de seus significados, mas sim de diminuir sua complexidade para melhor apreendê-la e 
reproduzi-la em escala global. 
A Globalização e os Desafios para a Cultura Brasileira 
A indústria cultural no Brasil 
As indústrias culturais adquirem seu pleno desenvolvimento no Brasil, e se consolidam, em 
decorrência da articulação de dois fatores que atuam de forma interdependente: um de 
natureza política e outro de natureza econômica. 
O fator econômico é representado pelo ingresso do País na etapa monopolista do capitalismo. 
 O processo de implantação das indústrias de bens simbólicos, no entanto, começa 
antes, nos anos 60, embora só se consolide na década de 70. Do ponto de vista 
econômico, os anos 60 e 70 representam o período de ingresso da economia nacional na 
etapa monopolista do capitalismo. Como ocorre em um momento em que a economia 
mundial capitalista está plenamente constituída, pode-se dizer que a inclusão do Brasil, 
no sistema, é retardatária. Do ponto de vista político, significa a fase mais dura de 
atuação do Estado autoritário sob comando militar que visava implementar um projeto 
de nação que vinha sendo articulado por segmentos autoritários da sociedade desde 
muito antes da chegada ao poder em 64. 
O fator político é representado pela instauração do regime militar em 1964 e a consequente 
implementação de um projeto de desenvolvimento burocrático-autoritário fundamentado na 
Ideologia da Segurança Nacional – ISN. 
 Inicia-se no período do governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (1956-
1960) e se aprofunda nos governos militares pós-1964. Do ponto de vista político, 
significa a fase mais dura de atuação do Estado autoritário sob comando militar que 
visava implementar um projeto de nação que vinha sendo articulado por segmentos 
autoritários da sociedade desde muito antes da chegada ao poder em 64. 
A Mundialização da Cultura 
O que é Globalização? 
Entende-se por globalização a progressiva e inconclusa integração econômica assimétrica e 
desigual de mercados, com a exclusão daqueles que, não dispondo de importância estratégica 
no novo cenário em construção, não devem se tornar empecilhos ao modelo de sociedade 
econômica mundial idealizada pelo capital internacional. 
O que é Mundialização da Cultura? 
Para compreender o conceito de mundialização da cultura é necessário compreender dois 
pressupostos: 
1) embora indispensável, a correlação entre economia e cultura no plano global não acontece 
de forma imediata (O que significa “que a história da cultura das sociedades capitalistas não 
se confunde com as estruturas permanentes do capitalismo”.). 
2) é um equívoco imaginar que a pretendida integração precise rechaçar a convivência das 
diferenças culturais (Em outras palavras, “uma cultura mundializada não implica o 
aniquilamento das outras manifestações culturais, ela coabita e se alimenta delas”.). 
O avanço tecnológico e a expansão do sistema informacional se encarregariam de veicular em 
esfera global os elementos constitutivos da cultura mundializada, oferecendo padrões de 
referência para a formação de identidades sociais. 
Assim, não haveria um choque de culturas entre o comum e o diverso, mas uma tendência de 
aproximação entre as lógicas que os conformam, em que o local, para garantir sua 
sobrevivência, precisa adequar-se ao mundial. 
Em síntese, estaria em desenvolvimento um processo de integração progressiva de aspectos 
de diferentes culturas regionais a uma cultura comum, reconhecida entre si, porém sem a 
negação dos seus traços distintivos próprios. 
A mundialização da cultura não prescinde das culturas locais para as quais devolve padrões 
culturais próprios, modelados pela lógica do consumo. 
Sendo, portanto, necessária a implementação de estratégias que promovam igualmente a 
aproximação entre hábitos, valores e preferências de consumo em esfera planetária, 
garantido assim a criação de um mercado consumidor global para produtos que pouco diferem 
entre si. 
Em outras palavras, revelou-se necessária a produção de uma cultura de consumo 
tendencialmente homogênea em âmbito mundial, que reduzisse substancialmente as 
diferenças subjetivas de comportamento dos consumidores e que, anteriormente, eram mais 
influenciados pelas características identitárias das culturas locais/regionais. 
O Brasileiro como Cidadão Global e os Outros 
O que é cidadania? 
A cidadania é notoriamente um termo associado à vida em sociedade. Sua origem está ligada 
ao desenvolvimento das polis gregas, entre os séculos VIII e VII a.C. 
A partir de então, tornou-se referência aos estudos que enfocam a política e as próprias 
condições de seu exercício, tanto nas sociedades antigas quanto nas modernas. 
Por outro lado, as mudanças nas estruturas socioeconômicas, incidiram, igualmente, na 
evolução do conceito e da prática da cidadania, moldando-os de acordo com as necessidades 
de cada época. 
Hoje, uma variedade de atitudes caracteriza a prática da cidadania. Assim, entendemos que 
um cidadão deve atuar em benefício da sociedade, bem como esta última deve garantir-lhe os 
direitos básicos à vida, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, trabalho, entre 
outros. Como consequência, cidadania passa a significar o relacionamento entre uma sociedade 
política e seus membros. 
“A cidadania é o direito a ter direitos, pois a igualdade em dignidade e direitos dos seres 
humanos não é um dado. É algo construído na convivência coletiva que requer o acesso ao 
espaço público. É esse acesso ao espaço público que permite a construção de um mundo comum 
através de um processo de asserção dos direitos humanos.” 
 Hannah Arendt 
Deve-se considerar que a cidadania como acesso ao espaço público, é a luta pela participação e 
construção do próprio espaço de modo a reivindicar a efetivação dos direitos humanos em seu 
aspecto sociopolítico e cultural. 
Por outro lado, a cultura do povo brasileiro é uma cultura de país colonizado, reflexo de 
muitos anos de exploração, o que se perpetua até hoje. A formação histórica brasileira é 
reprodutora de relações sociais autoritárias e conservadoras.Devido a essa herança cultural 
de submissão, torna-se difícil resgatar valores historicamente negados, que são a base para a 
construção de uma cidadania. 
O acesso ao espaço público se dá pela politização do sujeito, no sentido de modificar esse 
pensamento que está arraigado nos costumes do povo brasileiro. Isso passa pela formação de 
uma cultura política, em que os sujeitos passem realmente a ocupar o espaço público como 
espaço de reivindicações e melhoria das condições de vida. É por isso que se torna impossível 
estabelecer um conceito pronto e acabado do que seja a cidadania. As pessoas precisam 
aprender sempre para saber exigir e participar do meio em que vivem. Isso porque tanto os 
indivíduos quanto os direitos estão sempre em processo de mudança, e essa dinamização traz 
sempre elementos novos a serem agregados ao homem-cidadão. Desse modo, a cidadania 
significa pertencer a uma comunidade e ter a responsabilidade de construir uma identidade 
cultural dia após dia. 
“Cidadãos do mundo” 
O cidadão do mundo é o cidadão público, em um mundo que se transformou em Global, e que 
virtualmente é um espaço pequeno onde todos estão em qualquer lugar. Este cidadão, dotado 
de informação e conhecimentos, é entendido como um sujeito capaz de interferir no mundo, e 
participa, cotidianamente, deste mundo. 
Há, portanto, a necessidade de se incluir algumas dimensões essenciais na construção da nova 
cidadania contemporânea, qual seja, a cidadania democrática, a cidadania social, a cidadania 
intercultural, a cidadania entre gêneros, a cidadania empresarial e ambiental. 
 Cidadão público: Esta cidadania deve emergir do sujeito comum, pois é no viver 
cotidiano na família, na escola, na empresa, na paróquia, na associação, no sindicato etc., 
que as relações humanas se tornam significativas e se constrói a consciência coletiva. 
Além disso, uma parceria mundial entre os setores público e privado – governos, 
fundações, empresas e cidadãos –, potencializando valores/saberes e poderes, é 
importante para que se promovam uma cidadania reflexiva e crítica local-global. 
Democracia e Contemporaneidade 
Um sistema político pode ser considerado democrático se seus principais tomadores de 
decisões coletivas são selecionados através de eleições periódicas, honestas e imparciais; se 
os candidatos de diferentes correntes de pensamento concorrem livremente pelos votos; e se 
virtualmente toda a população adulta têm direito de voto. 
De modo geral, esta concepção minimalista da democracia representa e representou um 
importante avanço diante dos regimes autoritários que predominaram durante muito tempo 
em muitas sociedades. 
Na atualidade, porém, esta concepção mínima de regime político parece ser muito limitada 
para encarar os grandes desafios políticos, econômicos e sociais presentes no mundo 
contemporâneo. 
Talvez a abordagem mais pertinente para avançar neste debate seja considerar a chamada 
democracia de cidadania. 
Síntese da Aula 
Nesta aula, você: 
• identificou o conceito de globalização e mundialização; 
• compreendeu o que é cidadania; 
• reconheceu o que é um cidadão global; 
• avaliou o Brasil e a cultura brasileira no contexto da globalização.

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