Buscar

hermenêutica aula 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CONTÉUDO Nº 02
Conceitos e a efetividade da vontade do legislador, da aplicação do direito e da clareza do texto.
A Interpretação Segundo a Vontade do Legislador
INTRODUÇÃO
 O presente estudo se propõe a desvendar vantagens e pontos defeituosos na interpretação segundo a vontade do legislador.
 Para tanto, no primeiro tópico, a título de até especificar o que é interpretação, são feitas considerações sobre aspectos propedêuticos da atividade interpretativa, tudo com fincas a derrubar alguns mitos sobre os fins e o âmbito da interpretação.
 No segundo tópico, com maior propriedade, é que se avança no estudo da interpretação segundo a vontade do legislador, tomando-se sempre a cautela de confrontar esta corrente com posições divergentes, tarefa com o latente escopo de enriquecer o debate. 
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A ATIVIDADE INTERPRETATIVA
1.1-	O que é interpretar?
 Fixar um conceito para a Interpretação é um desafio. Muitos dos atuais manuais que se propõe a estudar a Hermenêutica se confundem nesta elaboração, trazendo à tona muitas vezes tão somente alguns reflexos ou aspectos incidentais do tema, sem resvalar no cerne da questão.
 Procurando fugir da ameaça de caracterizações obtusas, importante ter como destaque os estudos de Ricardo Guastini, segundo o qual o vocábulo interpretação como, em geral, os vocábulos da mesma raiz, pode denotar bem uma atividade- a atividade interpretativa- como também o produto desta atividade.
 
Para o Direito, a atividade interpretativa é de suma importância. 
A Interpretação simboliza clarificar o conteúdo e o campo de aplicação de uma norma. 
O termo norma, produto da interpretação, também merece considerações minudentes.
 Por um largo tempo, imperou a confusão entre texto normativo, produto da autoridade normativa, e norma. Confundiam-se os conceitos, concebendo-os como semelhantes. Isto não pode perdurar. A norma não é o objeto da interpretação. O objeto de uma atividade interpretativa é o texto legislativo. A norma, em verdade, é fruto do texto, a fixação dos sentidos extraídos através do labor interpretativo. Logo, é fundamental concluir que a norma é resultado da atividade interpretativa, ou seja, a interpretação é um ato de decodificação de sentidos.
 1.2-	Só textos obscuros ou todos os textos devem ser interpretados?
Por um bom tempo perdurou também o dogma de que só os textos obscuros, com aparente dificuldade semântica, deveriam ser objeto de interpretação. Consectário deste pensamento é a afirmativa de que só os casos difíceis demandam atividade interpretativa.
 Quebra-se esta concepção se tivermos em mente que, na realidade, clareza e obscuridade não são qualidades intrínsecas de um texto, mas sim caracteres advindos do próprio trabalho interpretativo.
 Ademais, aquilo que pode parecer claro em um contexto, pode ser obscuro em outro. Algo que se reputa fácil para um intérprete pode configurar-se como um caso dificílimo para outro. Para Guastini , um significado óbvio e qualquer significado é resultado de uma variável dependente da interpretação.
 Daí vigorar com força uma concepção mais ampla de interpretação, na qual a interpretação se emprega em qualquer caso, independente da existência ou não de aparentes dúvidas e controvérsias. 
 
1.3-	Interpretação difere de aplicação
 Mais um dogma comum nos estudos de Interpretação atine à ideia de que interpretar é igual a aplicar. Este conceito não é escorreito, de forma que também deve ser superado.
 A primeira grande diferença é a respeito de quem pode exercer tais atividades. A interpretação pode ser feita por qualquer pessoa, ou seja, há um universo ilimitado de figuras que podem interpretar. Já a aplicação é restrita. Só podem aplicar sujeitos autorizados para tal atividade, isto é, juízes e servidores administrativos.
 	A segunda grande diferença diz respeito ao objeto perseguido por estas atividades. O objeto da interpretação é o texto legal, ao passo que o objeto da aplicação é a norma, ou seja, o sentido do texto normativo, resultado, conforme já explicitado antes, extraído da interpretação.
1.4-	Os Jogos Interpretativos
 Os manuais jurídicos que tem se proposto ao estudo da Hermenêutica geralmente incorreram no grave equívoco da simplificação. Acabam fazendo um recorte muito específico de Interpretação e lança isto tal qual fosse tudo a respeito da matéria. 
Transformam casos particulares em regras gerais, sem muito rigor metodológico nesta escolha. Teimam em considerar que a interpretação feita pelos Tribunais em dados casos concretos e as parcas técnicas utilizadas nestes casos abarcam toda a temática de Interpretação. Ledo engano.
 Conforme já exposto acima, a atividade interpretativa está ligada à extração de sentido de certos textos normativos. Os Tribunais quando decidem contendas interpretam, mas não só os Tribunais são capazes deste trabalho. Qualquer utente de linguagem é capaz de interpretar. Há um quadro de interpretações possíveis muito mais amplo que a moldura dos Tribunais.
 Neste sentido é que se defende a existência de uma verdadeira “Teoria dos Jogos Interpretativos”, abarcando um número muito maior de atores no desenvolvimento da tarefa de interpretar. 
 
Não só o juiz interpreta. Um advogado, quando argumenta e tenta dar novel conotação a textos normativos também interpreta. O labor de um advogado procurando o convencimento do magistrado e a edição de uma decisão judicial que seja favorável a seu cliente não pode deixar de ser concebida como interpretação.
 
O doutrinador também interpreta. Quando expõe em obras jurídicas seu entender sobre dado assunto, fruto de seus estudos detidos sobre teorias e casos jurídicos, está informando sentido a dado texto. 
 
A ideia de que a teia de possibilidades interpretativas é muito mais extensa do que se vislumbra em geral tem como consectário óbvio a noção da impossibilidade de uma interpretação única, ou seja, a vedação de que se defenda a existência de uma mais verdadeira e totalmente perfeita maneira de interpretar. Não há uma interpretação só, existem várias possibilidades, muitas até nem ainda reveladas. É impossível imaginar uma uniformidade semântica, dada a multiplicidade dos contextos para a tarefa interpretativa.
 
Por fim, cabe salientar que as teorias interpretativas devem estar muito antenadas para as relações de poder vigentes e os contextos jurídicos em voga. Muitas vezes, o ideal está divorciado do real, e a boa interpretação não se aliena desta realidade.
1.5- Interpretação e linguagem
 Há quem diga que os problemas jurídicos são problemas linguísticos. Isto não deixa de ser correto. 
 De fato, há uma ligação muito intensa entre Interpretação e Semiologia. 
Há um campo muito extenso a ser investigado nesta conexão. 
 Bons teóricos da atividade interpretativa já descobriram que quanto pior a redação de um texto normativo, mais espaço se dá ao intérprete, o que, invariavelmente, leva ao cometimento de arbitrariedades. 
Se o texto normativo é confuso, repleto de imprecisões, carregado de ambiguidades e vaguezas e não tem as definições legislativas necessárias, o espaço para excessos do intérprete se agiganta. Tal vício certamente deteriora as relações sociais e traz uma indesejável sensação de defasagem de legitimidade na ciência jurídica. É muito comum em Estados autoritários o excesso dos intérpretes, despidos de mais amor às definições legislativas e a textos normativos claros. A obscuridade permite qualquer manobra, dá azo a qualquer violência. Estados autoritários confundem legalidade e legitimidade, levam descrédito ao Direito e se valem de muitos conceitos jurídicos indeterminados para perpetrarem opressões. 
 Há ainda a necessidade de se detectar aquilo que pode ser considerado como “ruído” de linguagem, ou seja, quando o emissor tem uma intenção e o receptor tem outra compreensão, havendo, portanto, diferença entre a mensagem passada e a recebida. Esta mazela exige muita dedicação aos primados da Linguística, uma vez que o Direito, por si só, não é capaz derevelar o porquê disto ocorrer, nem as posturas preventivas para evitar este mal.
 Um bom texto normativo diminui as incertezas e minora as possibilidades de injustiça. Se o interprete está diante de um texto com consistentes definições, bem redigido, com os fins bem visíveis, fica forte na mentalidade do intérprete o senso de compromisso, de fidelidade ao texto, até porque sendo fiel a um bom texto normativo o próprio interprete vai se sentir beneficiado com os resultados de sua interpretação e a aplicabilidade favorável inerente a este texto.
 
2. A INTERPRETAÇÃO SEGUNDO A VONTADE DO LEGISLADOR
2.1- O dogma da completude do ordenamento
A ideia de uma atividade interpretativa focada basicamente na vontade do legislador pressupõe um ordenamento jurídico completo, isento de lacunas, despido de antinomias. 
O dogma da completude assinala o ideal de um ordenamento que tenha prontas respostas para todas as controvérsias, o que exigiria do legislador a capacidade de antever soluções para todos os conflitos.
 O dogma da completude nasceu na tradição românica medieval.
 Norberto Bobbio dá uma noção exata das pretensões de completude do ordenamento:
“A completa e fina técnica hermenêutica que se desenvolve entre os juristas comentadores do Direito Romano, e depois entre os tratadistas, é especialmente uma técnica para a ilustração e o desenvolvimento interno do Direito romano, com base no pressuposto de que ele constitui um sistema potencialmente completo, uma espécie de mina inesgotável da sabedoria jurídica, que o intérprete deve limitar-se a escavar para encontrar o veio escondido”.
 Seguindo os comentários do sábio pensador italiano , destaca-se que, nos tempos modernos, o dogma da completude do ordenamento resultou de uma concepção que faz da produção jurídica um monopólio estatal. Admitir que o ordenamento jurídico não era completo significaria permitir a invasão de um “Direito concorrente”. 
 O dogma da completude traz consigo a consagração de grandes codificações, a busca de uma solução única para cada caso. É neste contexto, por exemplo, que surgiu o Código Napoleônico, de 1804.
 Tomou-se o tempo todo aqui a cautela de considerar a completude do ordenamento como um dogma. Se considerarmos a completude como um dogma, limita-se o potencial zetético (A Teoria zetética do Direito pode ser entendida pela oposição à Teoria dogmática do Direito, onde determinados conceitos e fatos são simplesmente aceitos como dogmas. Em oposição, a zetética coloca o questionamento como posição fundamental, o que significa que qualquer paradigma pode ser investigado e indagado). 
Qualquer premissa tida como certa pela dogmática pode ser reavaliada, alterada e até desconstituída pelo ponto de vista zetético de investigação jurídica. Um dogma é uma necessidade de firmar pontos de decisão dentro de um ordenamento e restringir a pesquisa acerca da certeza e verdade de certas premissas. Assim sendo, a completude do ordenamento não deve nunca sair da condição de ser tão somente um dogma. Fora deste panorama, a tese da completude pode sofrer severos ataques.
 Um bom exemplo de contundente crítica ao dogma da completude veio da Escola do Direito Livre, expressa em Ehrlich e Jerusalem. Não obstante alguns exageros desta corrente jusfilosófica, é importante considerar as seguintes ponderações:
 •	Abolição da crença de que o Direito é um monopólio do Estado. O Direito é um fenômeno social, não só estatal;
 
•	Revolta contra a idéia de que o Direito estatal é completo. O Direito Consuetudinário, por exemplo, informa a existência de um Direito de origem não legislativa;
 
•	Há lacunas e é preciso confiar no poder criativo do juiz;
 
•	Os grandes Códigos são de sociedades semi-feudais, não acompanhando as transformações sociais advindas com a Revolução Industrial;
 
•	Há um grave desajuste entre o Direito constituído e a realidade social.
 
A menção da Escola do Direito Livre como contraponto ao dogma da completude do Direito é meramente exemplificativa, não abarcando todos os tipos de críticas que este dogma pode receber. Primordial neste breve estudo foi destacar assertivas e vicissitudes do dogma da completude, desmascarando uma das bandeiras da teoria da interpretação segundo a vontade do legislador, tema central de nossos estudos.
 2.2- A interpretação segundo a vontade do legislador- aspectos positivos e críticas
 A interpretação segundo a vontade do legislador, também reputada como “intencionalista” ou “originalista”, expressa que o texto legal seria, em verdade, um veículo de vontades.
 Assim sendo, o que efetivamente colima o intérprete segundo esta concepção é aquilatar a verdadeira vontade do legislador, seus reais intentos. 
 A interpretação segundo a vontade do legislador não se limita só ao texto legal, uma vez que se chega a admitir que, em algumas vezes, o texto não é capaz de traduzir todas as vontades do legislador. Logo, torna-se imperioso, estudar o instante histórico da edição do texto normativo, confrontar os debates parlamentares, apurar as discussões que se travaram à época, observar o processo legislativo, enfim, aclarar o contexto do instante no qual dado texto normativo passou a existir, os motivos que levaram o legislador a editar tal texto e os fins que o legislador perseguia com esta produção.
 Essa teoria dá a noção de uma confiança absoluta no legislador e uma crença firme de que o legislador é racional, sendo, portanto, capaz de perceber e resolver todas as necessidades sociais.
 A interpretação segundo a vontade do legislador tem suas virtudes, mas também possui severos defeitos.
 O primeiro problema a ser atacado é que a interpretação intencionalista talvez não leve em conta que o legislador não é uma só pessoa. Geralmente, os textos normativos são produzidos por Congressos, órgãos colegiados, com vontades plúrimas, agregando vários segmentos sociais e tendências políticas. Daí a seguinte indagação: como descobrir e depurar uma só vontade do legislador se o legislador não é um só e paradoxais vontades habitam as casas legislativas?
 
Há também quem invoque a vontade do legislador pode estar defasada e inadequada para tempos futuros. Nas discussões sobre o constitucionalismo norte-americano, é paradigmática a frase que é atribuída a Thomas Jefferson, no sentido de que “os mortos não podem ditar o mundo dos vivos”. Tempos novos podem suscitar problemas novos e clamar soluções novas (a redundância é necessária para dar robustez à idéia) . Com isto, a interpretação segundo a vontade do legislador pode, muitas vezes, passar a imagem de excessivo conservadorismo de seus defensores.
 Não bastasse isto, há ainda a seguinte pergunta: como compatibilizar a vontade do Poder Constituinte e a vontade popular?. O que deve valer mais: a vontade do autor do texto normativo ou a vontade da maioria em cada momento? 
Procurar para este dilema respostas absolutas, definitivas, únicas, não é a escolha mais escorreita. Retome-se pensamento já exposto no primeiro capítulo, ou seja, a interpretação única, inabalável, é uma quimera (monstro mitológico com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. Combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos). 
 Expor dificuldades e fragilidades de uma interpretação meramente intencionalista, aparentemente imbatível, auxilia no trabalho de construção de um conhecimento mais amplo sobre a atividade interpretativa. 
 
 2.3- A interpretação segundo a vontade do legislador na análise de vários pensadores do Direito
Elencar tudo o que foi produzido acerca da interpretação segundo a vontade do legislador é uma tarefa inóspita. O mais producente, ao invés da formação de um elenco de considerações “numerus clausus” sobre o tema, é considerar tão somente certos quadrantes do debate.
  Savigny rejeitava a interpretação segundo a vontade do legislador. Ícone da Escola Histórica do Direito, Savigny preconizou que o juiz deve atender não ao que o legislador busca atingir, mas só o que ao que na realidade preceituou. 
 
Maisradical que Savigny, a teoria objetivista de interpretação teve como baluartes Binding, Wach e Kohler. Fincados no historicismo e no racionalismo dominante no século XIX, acreditavam em uma razoabilidade intrínseca ao Direito, inerente ao fenômeno jurídico. 
Assim sendo, a atividade interpretativa deveria se voltar para a revelação da razão oculta da lei, a recondução a princípios superiores ou conceitos gerais. Os objetivistas dizem que não se deve buscar a vontade empírica do legislador, mas sim a vontade racional, a razão contida na lei. Para eles, a lei, uma vez promulgada, pode ter uma significação diferente da pensada por seu autor. Daí é que nasce a frase “a lei é mais importante que seu autor”. 
 Radbruch, identificado com o neokantismo sudocidental alemão e com a teoria dos valores, também se postou contrário à ideia de uma interpretação segundo a vontade do legislador. Para ele, interpretar não é recapitular algo já efetivamente pensado antes pelo legislador. Na verdade, Radbruch estava fortemente ligado aos objetivistas e a busca de um sentido imanente da lei. 
 
Um contraponto aos objetivistas e apoio firme à teoria da interpretação segundo a vontade do legislador pode ser extraído da obra de Bierling. Aliado ao movimento que ficou conhecido como “teoria Psicológica do Direito”, Bierling defendeu que as leis jurídicas são expressões da vontade do legislador, de maneira que a tarefa da interpretação é justamente descobrir a vontade real do legislador. Como mecanismo preponderante para esta empreitada indica Bierling o conhecimento da história da formação da lei e do sentido e o fim da lei para os afetados por ela .
 
Já para Heck, fundador da Jurisprudência de interesses, a interpretação deve ir além da vontade do legislador, apurando os interesses causais que foram decisivos para a edição de dado texto normativo. Heck reclamou uma investigação histórica dos interesses preponderantes na formação de um texto legislativo. 
 
Mais uma voz contrária à interpretação segundo a vontade do legislador desponta em Husserl. 
Ligado à teoria fenomenológica do Direito, com inclinações nitidamente hegelianas, Husserl disse que a interpretação da lei é um processo contínuo, no qual as ideias expressas na lei são repensadas e desenvolvidas. O ponto de partida é a lei, mas não há um resultado conclusivo, definitivo. O resultado do trabalho interpretativo varia em cada instante histórico. Desta forma, de maneira alguma a última palavra em questões de interpretação pode pertencer à vontade do legislador. 
 Kelsen, a quem pode talvez pode ser conferido o feito de ter sido quem efetuou a mais grandiosa tentativa de fundamentação do Direito como ciência, era defensor da tese de que não há uma única interpretação correta. Há, na realidade, uma moldura, um quadro, no qual são possíveis várias significações possíveis, cabendo a quem decide aplicar a norma cabível. Kelsen tinha a pretensão de impedir que se abuse da ciência do Direito, utilizando-a como campo de opiniões pessoais e tendências ideológicas. Para Kelsen, a ciência do Direito, para manter sua pureza, só pode indicar os significados possíveis de uma norma concreta, cabendo a quem decide fazer interpretações e escolhas que lhe pareçam mais pertinentes e justas. O intérprete, quando, partindo de sua concepção pessoal, repleta de valores, faz uma escolha entre muitas possíveis, não o faz em nome da ciência do Direito, mas sim como exercício da atividade de política jurídica. 
 A interpretação segundo a vontade do legislador talvez não seja o melhor método interpretativo já criado. Entretanto, também não é o pior. 
Os Jogos Interpretativos e uma visão eclética da atividade interpretativa recomendam o não abandono completo de uma perspectiva, que, não obstante padecer de certos vícios, pode revelar-se muito eficiente em determinadas conjunturas. A interpretação intencionalista não pode ser completamente relegada a segundo plano.
					
CONCLUSÃO
 A Teoria da Interpretação carece de maiores estudos. Aceitar como pronta e acabada a atividade interpretativa constitui comodismo inaceitável. Estudos e mais estudos devem sugerir novas possibilidades nesta seara.
 A interpretação segundo a vontade do legislador tem a virtude de resgatar um apego a analises históricas do Direito, missão fundamental na busca de um conhecimento jurídico mais profundo, menos pontual, mais interdisciplinar. 
 Por outro giro, a interpretação segundo a vontade do legislador tem suas carências e limitações. 
Arranca do conceito de que o ordenamento jurídico é completo e pensa em um legislador onipresente em todos os eventos sociais, sem dar conta da impossibilidade fática desta pretensão. Pior que esta conclusão é saber que, ao longo da História, muitos regimes autoritários, de supressão das liberdades civis, utilizaram-se desta ideologia para sustentar arbitrariedades, oprimir o povo e mitigar a possibilidade emancipatória criadora de outras instâncias do Direito.
 Também falha este recorte interpretativo quando ignora que não há só um legislador, mas sim vários legisladores, reunidos em colegiados, com vontades muitas vezes díspares. Desta maneira, o encontro de uma vontade única de um único legislador configura equívoco grandioso. Ressalte-se ainda que a interpretação segundo a vontade do legislador pode receber a pecha de conservadora, uma vez que não consegue acompanhar a mutabilidade social e o surgimento de novos valores com o evoluir do tempo.
 Todas estas mazelas são graves, mas não inquinam de total invalidade os estudos da interpretação segundo a vontade do legislador. 
A sapiência de mesclar muitos critérios interpretativos e não ficar preso a uma só corrente dá ao jurista um universo argumentativo mais rico e menos suscetível aos desgastes inerentes aos ataques de retóricas adversas.
 
 
Hermenêutica enquanto ferramenta para aplicação do profissional de direito.
Da linguagem à comunicação
Desde que os seres humanos habitam o planeta, é necessária uma constante comunicação entre eles. 
Com o tempo a linguagem se aprimora tornando assim mais fácil esta interação entre os indivíduos. Hoje em dia não é diferente, e a comunicação, bem como a linguagem, são essenciais nas relações interpessoais, especialmente em certos campos profissionais, como é o caso daqueles que se dedicam às áreas do Direito. 
Para estes, uma boa oratória, capacidade de percepção e ainda a facilidade para a interpretação são de suma importância. Por esta razão criou-se a hermenêutica, ciência que estuda a interpretação das leis.
Segundo Ratner e Gleason (apud Wayne Weiten, 1993, p.226), “a linguagem consiste em símbolos que contém significados, mais regras para combinar aqueles símbolos, que podem ser usados para gerar uma infinita variedade de mensagens”. Esta, que é primeiramente simbólica, onde os sons são falados e as palavras escritas para representações, para depois vir a ser semântica, quando não existe relação implícita entre aparência dos objetos representados e suas palavras, e finalmente passa a ser estruturada, onde realmente acontece o entendimento, é aprimorada pelas crianças quando começam a receber aulas treinando a linguagem escrita, desenvolvendo então a consciência metalinguística. Para Steven Pinker, citado por Weiten (2002, p.230), o talento especial que os seres humanos têm para a linguagem é produto da seleção natural.
Existe ainda a ideia de que a língua, ou o idioma, determina a natureza do pensamento das pessoas, fazendo-as verem o mundo de maneiras diferentes (WHORF, B.L. e BLOOM, A.H. apud Weiten, 2002, p.236).
O processo comunicativo é uma necessidade essencial à natureza humana. Gestos, atos e palavras povoam permanentemente a existência. Por meio da comunicação, as pessoas imprimem sua marca, sua raiz, e estabelecem o seu lugar no mundo. Através da comunicação ainda projeta-se a personalidade e o caráter de cada indivíduo, pois esta está presente todo o tempo, mesmo através do silêncio. Ela é o um instrumento de exploração do mundo sendotambém, ao mesmo tempo, o instrumento com o qual o mundo explora as pessoas. É através desta que formam-se, gradualmente, as opiniões, conceitos e juízos que nortearão as vidas, sem os quais seria impossível a convivência. E não basta falar bem, utilizando corretamente as regras gramaticais, há necessidade de muito mais. É preciso mobilizar recursos internos e externos para facilitar a arte do diálogo, que não é um simples despejar de palavras, é ir ao encontro, é abster-se de julgamentos precipitados, dando chances para a troca democrática de idéias, propiciando um clima de confiança e bem estar, utilizando a empatia na busca do processo de sinergia.
Sabe-se então que a coesão da linguagem de diferentes indivíduos nos leva à comunicação, que não é nada mais que a transmissão de sentimentos e ideias. A palavra comunicação é de extrema vitalidade no mundo atual, onde é visada tanto nas relações humanas como no comportamento individual. “A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro.”[1]
“[...] A vida e o comportamento humano são regidos pela informação, pela persuasão, pela palavra, som, cores, formas, gestos, expressão facial, símbolos. [...] Hoje o código verbal está em crise, predominando a imagem e a comunicação gestual.” (MARTINS, D. & ZILBERKNOP, L., 1979, p.28).
Por isso destaca-se a importância da facilidade de atuação do profissional do ramo do Direito perante a comunicação. Além de ter um abrangente conhecimento da linguagem jurídica, uma boa oratória e expressões firmes, a pessoa que trabalha no ramo das ciências jurídicas tem a necessidade de saber interpretar, pois o Direito é regido pelas normas, e, segundo Ronaldo Poletti, “toda norma merece interpretação.” (1996, p.276).
2. Diferenciação entre a Interpretação e a Hermenêutica
O direito é tido por alguns como uma arte, onde os juristas são os artistas que a interpretam.
“[...] Interpretar é determinar o sentido e o alcance das expressões do direito [...].” (Carlos Maximiliano apud MONTORO, 2000, p.230). 
A interpretação é sempre necessária, pois textos em geral são muito subjetivos, podendo haver simples combinações de palavras com diferentes significados. Cabe ao intérprete determinar o alcance do sentido que será dado.
Toda a leitura de texto é feita dentro de um contexto que desenvolve pressupostos e exigências. A própria interpretação tem com missão superar uma distância, um afastamento cultural, para assim incorporar um sentido à compreensão presente que se pode ter deste.
A interpretação pode ser: a) autêntica feita pelo próprio autor à lei, tendo pouco valor, pois outros intérpretes o farão por si; b) doutrinária fornecida pelos doutrinadores mais preparados em suas obras; c) judicial, suma importância levando em consideração que a sentença dos juízes afeta as partes envolvidas; administrativa, que é realizada pelos órgãos administrativos; e teleológica, cujo objetivo é considerar a finalidade para qual a norma foi criada.
Quanto ao método a interpretação pode ser: a) gramatical, onde se considera o significado das palavras da lei e sua função gramatical; b) lógico-sistemática, onde se leva em conta o sistema em que se insere o texto e é necessária a comparação com outros métodos; c) histórica, cujo objetivo é investigar os antecedentes da norma, motivos, discussões, emendas, aprovação e promulgação; e sociológica, quando se adapta o sentido da lei às realidades e necessidades sociais.
E finalmente, quanto ao seu resultado, a interpretação pode ser: a) declarativa, quando declara o pensamento expresso na lei; b) extensiva, quando o intérprete conclui que o alcance da norma é mais amplo do que indicam seus termos; e restritiva, onde o intérprete restringe o sentido da lei.
É usual o emprego dos termos de interpretação e hermenêutica como sinônimos, o que é um erro grave, pois estes se distinguem. Hermenêutica vem do grego hermeneuein, e é, na realidade, a teoria científica da interpretação, ou seja, o estudo e a sistematização desta. “O problema hermenêutico encontra-se, assim, situado ao lado da psicologia: compreender é, para um ser finito, transportar-se para outra vida” (Paul Ricoeur, 1978, p.194).
3. Relação da Hermenêutica com o Direito
Direito é o ramo das ciências sociais aplicadas que tem como objeto de estudo o conjunto de todas as normas coercitivas que regulamentam as relações sociais, ou seja, são normas que disciplinam as relações entre os indivíduos, desses para com o Estado e do Estado para com seus cidadãos, por meio de normas que permitam solucionar os conflitos.
O senso ético e o espírito de justiça são fundamentais aos interessados em alguma carreira que deriva do curdo de Direito, que além de estudo e dedicação, precisam ter sensibilidade e talento para trabalhar com a legislação e, principalmente, com as pessoas. 
Boa memória, autoconfiança, capacidade de análise, de síntese, equilíbrio emocional, organização e responsabilidade também devem ser qualidades do profissional de Direito.
E a hermenêutica nada mais é que a compreensão do conteúdo de uma lei que entra em vigor. Se não houvessem regras específicas para tal interpretação, e é disso que trata a hermenêutica jurídica, cada qual poderia, quer juízes, quer advogados, entender a lei da maneira que melhor lhe conviesse. Logo, a Hermenêutica traz para o mundo jurídico uma maior segurança no que diz respeito à aplicação da lei, e, ao mesmo tempo, assegura ao legislador uma antevisão de como será aplicado o texto legal, antes mesmo que entre em vigor.
A hermenêutica vem então a influenciar diretamente na formação do profissional de direito, pois se este é incapaz de interpretar de modo estudado e sistematizado as leis, acabará por prejudicar-se também em sua argumentação, vindo a produzir discursos vazios e incapazes de persuasão. Um bom hermeneuta então será bem sucedido diante até de abusos que leis mal redigidas acabam por propiciar.
Ligada então à Teoria da Argumentação, a hermenêutica vem a ser uma ferramenta indispensável para a transmissão de ideias e comunicação de algo. 
Para alcançar-se a eficiência é necessário este trabalho preliminar de descobrir e fixar o sentido verdadeiro da lei de acordo com o seu contexto. Carlos Maximiliano defende a ideia de que não basta conhecer as regras aplicáveis para determinar o sentido e o alcance dos textos. Parece necessário reuni-las e, num todo harmônico, oferecê-las ao estudo em um encadeamento lógico (1978, p.5).
“A hermenêutica incumbe ao intérprete àquela difícil tarefa. Procede à análise e também à reconstrução. [...] Examina o texto em si, seu sentido, o significado de cada vocábulo, [...] comparando-o então com outros dispositivos da mesma lei, e com os de leis diversas, do país ou de fora. Inquire qual o fim da inclusão da regra no texto, e examina este tendo em vista o objetivo da lei toda e do Direito em geral. Determina por este processo o alcance da norma jurídica, e, assim, realiza, de modo completo, a obra moderna do hermeneuta”. (Carlos Maximiliano, 1978, p.10)
Sem este processo, são postos em dúvida pelo autor os resultados práticos do profissional.
4. Considerações finais
De acordo com as profissões exercidas por pessoas que se formam em Ciências Jurídicas, é extremamente necessária uma linguagem clara, de simples compreensão, exposição de ideias bem definidas e facilidade para comunicar-se, seja por meio escrito, gestual, ou oratório. 
Sendo assim, tem-se a necessidade de um estudo sobre o contexto das leis e dos fatos em questão, promovendo uma melhor interpretação, cuja função é auxiliar o jurista em suas exposições de ideias e argumentações posteriores. Para tal, seria importante maior ênfase dos cursos de direito no país na teoria científica da interpretação. 
Além de ser implantada como disciplina nas faculdades, a hermenêutica poderia, em acréscimo, ser explorada em palestras, seminários e conferências, onde as discussões provenientes de interpretações contrastantes e diferentes formas de sistematizaçõesimplicariam em uma maior qualidade dos futuros juristas, bem como daqueles que já estão em exercício.
“[...] compreender não é mais, então, um modo de conhecimento, mas um modo de ser, o modo desse ser que existe compreendendo.” (Paul Ricoeur, 1978, p.138)
 
Topologia do Argumento
CONCEITO DE TOPOLOGIA GERAL
O objeto de estudo são os espaços topológicos, que são espaços onde se pode tratar das noções de convergência e continuidade. Uma métrica abstrai em espaços métricos a noção de distância que -- dentre outras coisas -- nos permite dizer quando uma sequência de pontos se aproxima de algum lugar, quando uma função é contínua ou quando há saltos. Para esses conceitos, no entanto, a métrica não é de fato necessária. Para saber se uma sequência converge ou não para um determinado ponto, não estamos de fato interessados no valor numérico da distância entre os pontos da sequência e o ponto limite. Precisamos apenas de uma noção do que vem a ser arbitrariamente próximo. A topologia geral estuda esse tipo de estrutura. O nome da estrutura é topologia, e os conjuntos munidos de uma topologia são os espaços topológicos. Assim como os espaços métricos são conjuntos dotados de uma noção de distância -- uma métrica --, os espaços topológicos são dotados de uma noção de proximidade -- uma topologia! 
CONCEITO DE TOPOLOGIA DO ARGUMENTO
Tratado ou estudo sobre a colocação ou disposição, na frase, de certas categorias de palavras, BUSCANDO UM ARGUMENTO VÁLIDO SOB A ÓTICA CIENTIFICA (SILOGISMO - raciocínio dedutivo estruturado formalmente a partir de duas proposições (premissas), das quais se obtém por inferência uma terceira (conclusão) p.ex.: "todos os homens são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos são mortais".
Ferramenta indispensável aos operadores do Direito, quando da aplicação das Técnicas Jurídicas (CONSTRUÇÃO DO ARGUMENTO JURIDICO).
.

Continue navegando