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DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE Art. 130 a 136 É gênero do qual são espécies os crimes de perigo. Nos crimes de perigo o dolo, ao invés de visar lesar uma vítima em particular, busca criar uma situação de perigo. O agente não aceita, nem mesmo eventualmente, o resultado lesivo diverso da criação do perigo, mesmo que tal resultado possa ser previsível para o homem médio. Isto porque sempre será crime subsidiário ao crime de dano propriamente dito. O perigo pode ser concreto ou abstrato, individual ou coletivo, atual, iminente ou futuro. Periclitação da vida e da saúde no Direito Penal brasileiro No Código Penal Brasileiro, os crimes de perigo estão descritos nos arts. 130 a 136, englobando o perigo de contágio venéreo, o perigo de contágio de moléstia grave, o perigo para a vida ou saúde de outrem, o abandono de incapaz, o abandono de recém-nascido, a omissão de socorros e maus tratos. Art. 130 - Perigo de contágio venéreo O tipo penal define a conduta de agente que coloca alguém em perigo (expõe) de contágio de doença venérea, seja pela prática de atos libidinosos diversos, seja pelo ato sexual. O crime será concretizado independentemente da vítima consentir em se expor ao perigo. Contudo, é ação penal de iniciativa privada, dependendo de representação da vítima. A consumação ocorre com a realização de ato apto a contaminar, não sendo necessário que a contaminação de fato ocorra. Evidentemente, se a vítima já estiver contaminada, estamos diante de um crime impossível, já que o perigo pressupõe que a vítima não sofreria perigo se não fosse pela ação do agente. A transmissão de doença venéra por meio não-sexual está tipificada no art. 131 do Código Penal Brasileiro, o chamado crime de perido de contágio de moléstia grave. Este crime admite a tentativa. Art. 131 - Perigo de contágio de moléstia grave Consiste em praticar ato capaz de produzir contágio de moléstia grave de que está contminado o agente. Trata-se de crime formal, na medida em que é um crime de consumação antecipada. Será sempre doloso, pois o legislador introduziu a expressão "com o fim de" no texto legal. Sendo eventual o dolo, estaremos diante de crime de lesão corporal. Assim como no crime anterior, o fato da vítima concordar com ser exposta à moléstia não exclui o crime, e será crime impossível se a vítima é imune ou portadora da moléstia que o agente pretendia contagiar Admite tentativa. Art. 132 Perigo para a vida ou saúde de outrem Tipo penal utilizado mormente para punir empregadores que colocam a saúde de seus trabalhadores em risco, frequentemente visando cortar custos. Consuma-se com a criação do perigo para o sujeito passivo, que é sempre uma pessoa determinada ou determinável. Como nos demais casos em que a legislação protege bem indisponível, a concordância da vítima é irrelevante. Art. 133 - Abandono de incapaz É um crime próprio na medida em que somente pode ser cometido por aquele que tem obrigação de zelar pela integridade e segurança do incapaz. Consuma-se quando o incapaz que estava sob a responsabilidade do agente encontra-se em situação de perigo concreto. O consentimento do incapaz é irrelevante. Admite tentativa. Será qualificado, mesmo que na modalidade preterdolosa, se do perigo resultar lesão corporal ou houver resultado morte. A pena será aumentada se o crime for cometido em lugar ermo, se era o agente ascendente ou descendente, irmão, tutor ou curador da vítima e se a vítima contava com mais de 60 anos de idade na época da consumação do crime. Para Nelson Hungria a incapacidade pode ser absoluta (em razão de suas condições) ou acidental (resultante das circunstâncias), dando como exemplo um alpinista inexperiente abandonado na montanha. Art. 134 - Exposição ou abandono de recém-nascido Doutrinariamente recém-nascido é quem nasceu há aproximadamente um mês e ainda não se tenha tornado público. Este crime difere-se do anterior (abandono de incapaz) pelos sujeitos ativo e passivo, pela motivação (neste é honoris causa) e, fundamentalmente, pelo ampliação do núcleo do tipo “expor ou abandonar” (no outro é só abandonar). Sujeito ativo só pode ser a mãe, visto que é para ocultar desonra própria Não se pode esquecer que o conceito de honra hoje é bem diferente de antigamente. Admite-se até mesmo desonra de prostituta. Portanto, é possível até mesmo a prostituta ser sujeito ativo do crime. Quando ocorre com menor de idade a conduta é crime, só que é tratada pelo ECA. O sujeito passivo é o recém-nascido, observado o conceito doutrinário já mencionado. Expor a perigo implica em tirar a pessoa de um lugar teoricamente tranquilo e levá-la para outro onde ficará sujeita a risco. Já o abondono pressupõe apenas a recusa em fazer alguma coisa pela vítima. O enfermeiro, por exemplo, que abandona, deliberadamente, seu paciente, não lhe prestando os cuidados devidos, estará comente o crime. Se forem gêmeos os recém-nascidos, para configurar o crime tem que ser os dois, pois se for só um estará cometendo o art. 133, já que se assim proceder não estará ocultando desonra. No caso de abandono de gêmeos poderá o agente responder em concurso de crimes. Formal ou material, segundo as circunstâncias. Trata-se de dolo de perigo de dano, representado pela vontade e consciência de abandonar o recém-nascido, expondo-o a perigo. Temos também o elemento subjetivo especial, que é o especial fim de agir: ocultar desonra própria. Se a causa do abando do recém-nascido for outra que não a ocultação de desonra própria o crime poderá ser o do art. 133 e nunca o do art. 134. O crime se consuma com o efetivo abandono (desde que haja o risco para o recém-nascido) . Mesmo que a mãe reassuma a criança, logo em seguida, o crime já terá ocorrido. Admite-se a tentativa. Um recém-nascido, após ser abandonado pela mãe, pode ser soccorido imediatamente, sem que tenha ocorrido o real perigo e exposição. Nas formas qualificadas há crime preterdoloso. Art. 135 - Omissão de socorro O sujeito passivo pode ser criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida ou ferida, desamparada ou qualquer pessoa, em grave e iminente perigo. Este crime se difere do abandono de incapaz e do recém-nascido pois destes é o próporio sujeito ativo que abandona a vítima, enquanto que neste crime o sujeito ativo já encontra a vítima e não lhe presta socorro ou assistência. Se o agente foi quem criou a situação de perigo ele se torna garantidor e, portanto, responderá pelos resultados lesivos que porventura venham a ocorrer. Se não for possível prstar assistência oudar o socorro, pelo elevado risco pessoal, não ocorrerá o crime. Se a prestação de socorro expuser a risco terceira pessoa, a omissão não exluirá a tipicidade, mas deixará de constituir-se fato antijurídico, pois caracterizará o estado de necessidade. Se a pessoa não puder prestar o socorro ela tem a obrigação de acionar a autoridade competente. O elemento subjetivo é o dolo, representado pela vontade de omitir com a consciência do perigo. O dolo pode ser eventual, por exemplo, quando o agente, com sua conduta omissiva, assume o risco de manter o estado de perigo preexistente. É necessário que o dolo abranja somente a situação de perigo. O dolo de dano exclui o dolo de perigo e altera a natureza do crime. Assim, se o agente quiser a morte da vítima, por exemplo, responderá pelo homicídio. Admite co-autoria: se duas pessoas deixarem de prestar socorro a uma pessoa gravemente ferida, podendo fazê-lo, sem risco pessoal, praticarão, individualmente, o crime autônomo de omissão de socorro. Agora, se as duas pessoas, de comum acordo, deixarem de prestar socorro, nas mesmas circunstâncias, serão co-autoras no crime. Participação: é perfeitamente possível que um terceiro, que não está obrigado ao comando da norma, instigue o garante, por exemplo, a não impedir o resultado. Consuma-seo crime onde e quando o sujeito deveria agir e não o fez. Como crime omissivo próprio (puro) não admite a tentativa. Trata-se de crime unissubsistente, que não admite fracionamento. Se o agente passou do tempo de agir, comete o crime, se ainda tem tempo de agir, não o comete. Art. 136 - Maus-tratos Efetivamente, prevê o art. 136, do Código Penal: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina”. Trata-se de crime próprio, que só pode ser praticado por quem reúne as condições descritas no CP. O sujeito passivo tem que estar condicionado à uma relação de subordinação. O direito de corrigir não é propibido, contudo deve-se proteger contra o excesso. É suficiente a probabilidade do dano, sendo desnecessária a ocorrência de qualquer resultado material. No entanto, trata-se de crime de perigo concreto, Cuja ocorrência (de perigo) deve ser comprovada, sendo inadmissível mera presunção. Se o fato for possível de fracionamento, ou seja, se existir a possibilidade do iter criminis, será perfeitamente possível a tentativa. Não é possível a modalidade culposa. Existem as figuras qualificadas e majoradas.
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