Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lombalgia e Lombociatalgia Dor lombar é a causa mais frequente de limitação das atividades da vida diária dos adultos jovens. É a segunda maior causa de consultas médicas e de ausência no trabalho. Em alguma fase da vida, cerca de 70 a 80% das pessoas terão dor lombar. Fatores de Lombalgia e Dificuldades em Identificar a Causa Específica: Grande número de partes anatômicas da coluna lombar podem causar dor: disco intervertebral, facetas articulares, placa terminal e ligamentos; Dificuldade para determinar o local exato de origem da dor, decorrente da complexa inervação da região; Dificuldade na interpretação dos fenômenos dolorosos; Dores referidas e irradiadas decorrentes de outras patologias; Relacionar os episódios de lombalgia com os problemas trabalhistas e emocionais. Etiologia: Inespecíficas: mais comuns (80% das lombalgias) – não é possível definir a etiologia desse tipo; Especificas: responsáveis por 20% dos casos; Incluem: hérnias discais, espondilolistese, instabilidade segmentar, estenose de canal, tumor e espondilodiscite, entre outras. Classificação: Agudas: início súbito e duração inferior a seis semanas; Crônicas: perduram mais de 12 semanas; Evolução: Persistentes; Episódicas; Recorrentes. Fatores de Risco: Idade superior a 55 anos; Tabagismo; Obesidade; Hábito de dirigir durante tempo prolongado; Trabalho braçal; Jornada de trabalho na posição de pé ou sentado; Estresse emocional. Fisiopatologia: Disco intervertebral: uma das principais fontes de lombalgia; Alterações no volume do disco, na forma e no seu conteúdo – devido a sobrecarga, alterações genéticas de jovens adultos e pelo processo degenerativo do envelhecimento; Núcleo pulposo torna-se menos hidratado além da diminuição do número de células e a perda de proteoglicanos; Camadas mais internas do ânulo fibroso e do núcleo pulposo, gradualmente, tornam-se indistinguíveis e formam um material fibrocartilaginoso indiferenciado; Diminuição dos vasos periféricos e dos canais da placa terminal – prejudicando a nutrição do disco; Desequilíbrio da hidratação e, com a pressão, a transferência de carga fica desigual danos no disco intervertebral; Desenvolvimento de fissuras e rachaduras ao longo das camadas, estabelecendo canais de comunicação entre a periferia do ânulo fibroso e o núcleo pulposo; O tecido discal pode herniar por esses canais; Local mais comum da ruptura do ânulo fibroso (por onde ocorre a hérnia): na inserção com o corpo vertebral com o movimento de flexão e rotação do tronco; Essas alterações discais alteram o alinhamento da coluna e a resistência à carga; Quando há contato mecânico entre o material do disco herniado com estruturas nervosas, inicia-se a dor irradiada; Liberação dos mediadores inflamatórios estimulados pelo núcleo pulposo exacerba os sintomas; Fases do processo degenerativo: Disfunção, instabilidade e estabilização; Faceta articular e ligamentos hipertrofiam na tentativa de restabilizar a articulação, contribuindo para outras doenças (estenoses de canal e escolioses degenerativas, por exemplo); Dependendo da intensidade das alterações degenerativas, pode ocorrer comprometimento do saco dural e das raízes; Histórico: Lombalgia mecânica ou traumática geralmente tem início agudo, desencadeado por um movimento especifico; Dependendo da intensidade, pode ocasionar desde distensões musculares ligamentares até hérnias discais traumáticas; Tumor e infecções normalmente têm início insidioso da dor; Investigar período do dia em que a dor é mais intensa: Nas hérnias de disco e nas lombalgias inflamatórias, a dor normalmente é mais intensa na manhã; Nas lombalgias por alterações degenerativas, a dor piora no final da tarde (geralmente relacionada com a atividade); Tumores, em geral, apresentam piora no período noturno; Tipo da dor e seus padrões são importantes para o diagnóstico diferencial (descartar doenças renais, cardíacas e abdominais); Sinais de alerta: idade superior a 50 anos ou inferior a 20 anos, dor com piora noturna, febre, emagrecimento inexplicável, trauma recente, uso prolongado de corticoides, uso de drogas, imunodeficiências, HIV, dor constante e progressiva, alterações neurológicas progressivas. Exames Físicos: Paciente apenas com roupas íntimas; Inspeção: observar atitudes antálgicas, escoliose e alterações da lordose fisiopatológica; Palpação: procurar pontos dolorosos, espasmos musculares ou atrofias (muitas vezes são sinais inespecíficos, mas podem ocorrer por compressão de uma raiz motora ou doenças neurológicas); Testes dinâmicos de flexão e extensão: Patologias discais: geralmente ocorre piora da dor na flexão da lombar – devido a um aumento da pressão discal; Em alterações das articulações interapofisárias e na espondilolistese, a dor se agravará na extensão da coluna; Marcha: observar a presença de claudicação e, em seguida, pede-se para o paciente deambular, apoiando-se apenas nos calcanhares ou na ponta dos pés – com isso, testa-se a força muscular das raízes de L5 e S1, respectivamente. Exame Neurológico: Pesquisa do nível sensorial: L1: abaixo do ligamento inguinal, na porção ântero-lateral da coxa; L2: na face anterior e média da coxa; L3: faixa oblíqua anterior acima do joelho; L4: faixa entre a face póstero-lateral da coxa, a anterior do joelho e a medial da perna; L5: face ântero-lateral da perna, no dorso do pé e no hálux; S1: no maléolo lateral, na face lateral do pé e no calcanhar; Exame motor: dividido em grupos musculares; Flexores do quadril e iliopsoas: testados com o paciente sentado, solicitando para que ele eleve a coxa da maca – raízes L1 e L2; Extensão do joelho: paciente sentado, elevando a perna contra a resistência do examinador – raiz L3; Músculo tibial anterior (inervado pelo nervo fibular profundo): resistência à flexão dorsal do pé – L4; Extensão ativa do hálux: L5 Flexão plantar: S1; As raízes devem ser testadas graduando a força muscular contra a resistência de zero a 5; Reflexo patelar: L4 (em relação aos reflexos para o plexo lombossacral); Reflexo aquileu: S1; Ausência ou diminuição dos reflexos geralmente está relacionada a compressões radiculares; Aumento dos reflexos (hiperreflexia), principalmente se eles foram simétricos e bilaterais, pode indicar compressões cervicais ou torácicas. Testes Específicos: Manobra de Valsalva: o aumento da pressão intratecal ao tentar movimentar o intestino ou ao tossir/espirrar, na presença de irritação dural, exacerba o quadro doloroso; Elevação da Perna Estendida: a manobra é considerada positiva quando o paciente refere dor na extensão entre 30 e 70o; acima dessa angulação, a dor pode ser causada pela retração dor isquiotibiais; Manobra de Bragard: essa manobra é uma sensibilização do sinal de elevação da perna, provocando uma dorsiflexão do pé; quando positivo, há um aumento do quadro álgico; Outros testes, como os de Gillet, de Patrick (Fabere) ou de Gaenslen, para avaliar a articulação sacroilíaca, e as manobras que provocam dor na articulação coxofemoral são importantes para o diagnóstico diferencial das lombalgias. Exames de Imagem: Radiografia: Dispensável nas lombalgias mecânicas agudas; Na persistência dos sintomas além de duas, é indicada na posição de frente e perfil; Se houver suspeita de processo infeccioso, neoplásico e inflamatório, deve ser solicitada na 1a consulta; Em pacientes com espondilolistese, podem ser solicitadas radiografias dinâmicas, radiografia de perfil em hiperflexão ou hiperextensão; TC: Principal vantagem: definição dos contornos ósseos; Pode ser solicitada nas lombalgias agudas, com evolução atípica, ou se houver evolução insatisfatória sem determinação da causa após 4 semanas de tratamento clínico; Boa indicação para avaliação de lesões do pars articularis; RM: Demonstra estruturas não-ósseas (disco intervertebral, medula espinhal e raízes nervosas, ligamentos e estruturas paravertebrais); Exame de escolha para visibilizar hérnias discais e processosdegenerativos discais precocemente; Importante para avaliar o comprometimento de processos neoplásicos e infecciosos; Cintilografia Óssea: Não é um exame de rotina; Pode ser solicitada em casos de suspeita de espondilólise e lesões tumorais, devido a sua alta sensibilidade; Mielografia: Método invasivo com injeção de contraste, com indicações restritas, como avaliação de instabilidades e compressões durante o exame dinâmico; Discografia: Provoca dor no disco intervertebral, para avaliação da dor discogênica; Indicação: restrita aos casos com dois ou mais discos com alteração de sinal na RM e quando se deseja saber qual o disco responsável pelo quadro de dor; Exames Laboratoriais: Devem ser solicitados nas lombalgias de evolução atípica e na suspeita de processos infecciosos ou reumáticos. Tratamento: Deve ser individualizado dependendo da etiologia e do tempo de evolução; Repouso absoluto é contraindicado, porém o repouso relativo é indicado (variando de 2 a 4 dias nos casos leves, com orientação de posicionamento para melhorar o conforto do paciente); Quando o paciente apresentar compressão radicular, esse período pode se estender até 10 dias; Orientar retorno gradual às atividades; Medicações: Anestésicos comuns, antiinflamatórios não-hormonais (AINH), relaxantes musculares, antidepressivos tricíclicos e corticoesteroides; Tratamento deve ser iniciado de forma gradativa, iniciando-se com drogas menos potentes; Analgésicos (ex.: paracetamol): drogas seguras e eficazes, devendo ser usados em lombalgias leves; AINH: possuem boa eficácia, utilizados na dor aguda e na dor crônica agudizada, porém deve-se evitar usá-los cronicamente (podem provocar complicações gastrintestinais, cardiovasculares e, em alguns casos, renais); Relaxantes musculares: eficácia nas crises de contraturas musculares; Corticoesteroides: indicados nos casos de lombociatalgias com infiltração ou inflamação das raízes nervosas; Antidepressivos: nos casos de dor neuropática. Hérnia de Disco Lombar: Manifestação comum das doenças do disco intervertebral; Formação: associação da ruptura do ânulo fibroso com a pressão no disco intervertebral, ocorrendo extravasamento do núcleo pulposo através desse disco; Classificação: Localização: central (delimitada pela borda lateral da cauda equina), centro-lateral (entre a cauda equina e a borda medial do pedículo), foraminal (entre as bordas do pedículo) e extraforminal (além da borda lateral do pedículo); Morfologia: protrusão (abaulamento do disco sem ruptura ligamentar), extrusão (quando ocorre ruptura ligamentar, mas o fragmento permanece em contato com o disco intervertebral) e sequestrada (quando o fragmento perde o contado com o disco intervertebral); Queixa principal: dor; Dor axial: muitas vezes está presente; Dor radicular: queixa mais típica, na maioria dos casos, acompanhando o dermátomo correspondente ao nível comprometido; Em geral, a dor aumento ao levantar, ao inclinar o tronco e ao tossir. Deitar com os joelhos e o quadril inclinados alivia; Exame neurológico: geralmente há déficit sensorial ou motor; Testes específicos, como sinal de Laségue e extensão do quadril (nas compressões nos níveis lombares superiores) com o paciente na posição em pronação, reproduzem ou aumentam o quadro doloroso; Diagnóstico diferencial: deve ser feito com outras alterações compressivas (tumor, abscesso, estenose foraminal, compressões periféricas e neuropatia diabética); Tratamento: Conservador: Repouso relativo (períodos prolongados de inatividade podem aumentar a incapacidade e manter ou aumentar o quadro doloroso); Objetivo: restaurar a força muscular, flexibilidade e o retorno funcional; Fisioterapia deve incluir estabilização do tronco, fortalecimento e alongamento de musculatura paraespinhal, glútea e dos isquiotibiais, e exercícios abdominais; Medicações antiinflamatórias, analgésicos e relaxantes musculares; Cirúrgico: Geralmente indicada na falha do tratamento conservador; Indicação absoluta: quando há déficit neurológico progressivo e síndrome da cauda equina; Pré-requisito: estreita correlação entre os sinais e os sintomas com os exames de imagem; Técnica mais comum: discectomias aberta.
Compartilhar