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EM BUSCA DO CONCEITO DO DIREITO Considerações iniciais Muitas são as teorias sobre as relações entre o Direito e a Moral. Aliás, de uma forma geral, nem mesmo os juristas romanos fizeram, com clareza, a distinção entre Direito e Moral. Teoria do Mínimo Ético Trata-se da teoria exposta e apresentada por JEREMIAS BENTHAM, desenvolvida por outros juristas (em especial GEORG JELLINEK). A Teoria do mínimo ético consiste em afirmar que o DIREITO REPRESENTA APENAS O MÍNIMO DE MORAL DECLARADO OBRIGATÓRIO PARA QUE A SOCIEDADE POSSA SOBREVIVER. Nesse sentido, como nem todos podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não seja reduzida ao nada. A moral, sustentam os adeptos a essa corrente, é cumprida de maneira espontânea, mas como as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz social. Com efeito, o Direito não é algo diferente da Moral, mas uma parte dela, armada de garantias específicas. Cumprimento das Regras Sociais Em nosso ordenamento há regras que são cumpridas de maneira espontânea. Outras regras existem, entretanto, que somente são cumpridas porque há determinados mecanismos que “coagem” os destinatários das normas ao seu cumprimento. Para MIGUEL REALE, a moral encerra um conjunto de regras cumpridas e observadas de maneira espontânea, porquanto o ato moral implica a adesão do espírito ao conteúdo da regra. Não é possível conceber o ato moral forçado. A moral é incompatível com a violência, com a força, ou seja, com a coação, mesmo quando a força se manifesta juridicamente organizada. Assim, aquele que paga mensalmente a prestação alimentícia por força do imperativo da sentença só praticará um ato moral no dia em que se convencer de que não está cumprindo uma obrigação, mas praticando um ato que o enriquece espiritualmente. Direito e Coação Para MIGUEL REALE, a MORAL é incoercível, enquanto que somente o Direito é coercível. O que distingue o Direito da Moral, portanto, é a sua coercibilidade, isto é, a possibilidade de existir mecanismos que forcem a obrigatoriedade de sua observância e cumprimento. Em suma, é perfeitamente aplicável o uso da força para o cumprimento do direito, não se podendo dizer o mesmo relativamente à moral. Para IHERING, o direito se reduz a: norma + coação. Para MIGUEL REALE, entretanto, há uma incompatibilidade do Direito com a Força, o que deu lugar a um aparecimento de uma teoria que põe o problema em termas mais rigorosos: é a Teoria da Coercibilidade, segundo a qual o Direito é a ordenação coercível da conduta humana. Ou seja, para os adeptos da teoria da coação (Ihering), a força está sempre presente no mundo jurídico, pois é inseparável dele. Para os adeptos da teoria da coercibilidade, a coação no direito não é efetiva, mas potencial, representando como que uma segunda linha de garantia da execução da norma, quando se revelam insuficientes os motivos que levam ao seu cumprimento. Direito e Heteronomia KANT foi o primeiro a observar que a Moral é “autônoma” e o Direito heterônomo. No Direito há um caráter de “alheiedade” do indivíduo com relação à regra. Dizemos, então, que o Direito é heterônomo, visto ser posto por terceiros (Estado) aquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir. Para Miguel Reale, o Direito é a ordenação heterônoma e coercível da conduta humana. Bilateralidade Atributiva Corresponde à “imperatividade atributiva” (PETRAZINSKI) e ocorre quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo. Trata-se, pois, de uma proporção intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente, algo. Confronto com as normas de Trato Social Há, na sociedade, outra categoria de regras que são seguidas por força de costume, de hábitos consagrados, ou, como impropriamente se diz, em virtude de “convenção social”. São as normas de trato social. Tais normas ocupam uma situação intermediária entre a Moral e o Direito. Em suma, ninguém pode ser coagido a ser cortês, pois é inconcebível a cortesia forçada. As normas “convencionais” compartilham da espontaneidade e da incoercibilidade próprias da Moral. As regras costumeiras são bilaterais, mas não são bilaterais atributivas, razão pela qual ninguém pode exigir que o saúdem respeitosamente. As notas distintivas das normas: MORAL = Incoercível; autonomia; Bilateral; não-atributividade DIREITO = Coercível, heteronomia; Bilateral; atributividade COSTUME = Incoercível; heteronomia; bilateral; não-atributividade. Notas sobre a Tridimensionalidade O estudo das diferenças e correlações entre a Moral e o Direito nos permitem, desde já, oferecer um esboço da noção do Direito. Em princípio, todas as regras sociais ordenam a conduta, sejam elas as morais, as costumeiras e, bem assim o Direito. Mas é somente o Direito que ordena a conduta humana de maneira bilateral e atributiva, isto é, estabelecendo relações de exigibilidade segundo uma proporção objetiva. Frise-se, a propósito, que essa ordenação não é apenas para a satisfação dos indivíduos entre si, mas, muito mais que isto, objetiva-se o BEM COMUM, enquanto verdadeira busca de harmonia do bem de cada um com o bem alheio. Em suma, “o bem comum não é a soma dos bens individuais, nem a média do bem de todos; o bem comum, a rigor é a ordenação daquilo que cada homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, uma composição harmônica do bem de cada um com o bem de todos”. Estrutura Tridimensional do Direito Para o professor MIGUEL REALE, os diferentes significados fundamentais do Direito estão relacionados, necessariamente, a três aspectos básicos: - um aspecto normativo (o Direito como ordenamento e sua respectiva Ciência); - um aspecto fático (o Direito como fato, ou em sua efetividade social e histórica), e - um aspecto axiológico (o Direito como valor de Justiça) Esses elementos/aspectos estão absolutamente interligados. Definições: O Direito é a realização ordenada e garantida do bem comum numa estrutura tridimensional bilateral atributiva, ou, de uma forma analítica: Direito é a ordenação heterônoma, coercível e bilateral atributiva das relações de convivência, segundo uma integração normativa de fatos segundo valores.
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