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Sucessão 2 – FATO QUE DETERMINA A SUCESSÃO A morte de uma pessoa é o fator determinante para a transmissão da herança aos herdeiros legítimos e testamentários. Art. 1.784, CC - Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. A regra geral é de que o lugar da abertura da sucessão é no último domicílio do falecido. Art. 1.785, CC - A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. 2.1 MOMENTO DA ABERTURA DA SUCESSÃO. A COMORIÊNCIA Por conta da transmissão imediata do acervo hereditário, o exato momento da morte é fundamental. Por isso a lei fixa preceitos para a determinação do momento da morte, bem como sua prova. A Lei dos Registros Públicos (Lei 6.015/73), regula o assento do óbito, a partir do art. 77. Os fatos constantes do assento presumem-se verdadeiros, entretanto, a presunção não é absoluta, permitindo-se a retificação. O momento da morte é ponto importante. Deve ser fixado sempre que possível, no assento do óbito. A partir desse momento é que passa a existir herança e esta se transfere aos herdeiros. Art. 8º, CC - Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Para evitar os entraves das presunções de pré-morte, portanto, o Código presume a comoriência, isto é, o falecimento conjunto. 2.2 – TRANSMISSÃO E A ACEITAÇÃO DA HERANÇA. LEI QUE REGULA A SUCESÃO E A LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER Em nosso direito, com a morte abre-se a sucessão e o patrimônio transmite-se imediatamente aos herdeiros legítimos ou testamentários. É a aplicação do princípio da saisine, de origem germânica e aplicado pelo Direito francês, no art. 724 do Código de Napoleão. Saisir = agarrar, prender, apoderar-se Entretanto, ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade. O herdeiro pode deixar de aceitar, renunciar à herança. No sistema brasileiro, a aceitação tem efeito retrooperante, ou seja, retroage à data da abertura da sucessão. A aceitação da herança tem o efeito de confirmar a atribuição de bens anteriormente feita. Porém, a aquisição não ocorre com a aceitação, porque os direitos hereditários nascem antes, com a morte do autor da herança. Aceitação é uma confirmação do direito do herdeiro, necessária e essencial, pois ninguém pode ser herdeiro contra a vontade. Art. 1.804, CC - Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão. Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança. Art. 1.805, CC - A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro. § 1o Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória. § 2o Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros. Quando ocorrer renúncia da herança, ela deve ser o mais rápida possível, pois dessa forma é como se o herdeiro nunca tivesse assumido essa condição. Segundo Washington de Barros Monteiro, a aceitação “é o ato jurídico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara que deseja ser herdeiro e recolher a herança. Na grande maioria dos casos, ocorre a aceitação tácita ou presumida, que exige alguns cuidados, pois em certos casos alguns atos não são considerados como aceitação. Exemplo: quem recebe uma jóia valiosa, guarda-a com cuidados e a usa ostensivamente, está aceitando a herança, sem dúvida. Se repudiá-la posteriormente, estará fazendo um ato de transmissão inter-vivos, pois recebeu a coisa causa mortis e a transmitiu posteriormente por negócio entre vivos. A Renúncia é equiparada à cessão gratuita pura e simples da herança, aos demais herdeiros. Art. 1.805, § 2º, CC - § 2o Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros. No entanto, a aceitação tácita deriva de qualquer ato positivo em favor do herdeiro que entra na posse e propriedade da herança. Assim, se o herdeiro constitui advogado e se faz representar como tal no inventário, está aceitando a herança, porém, simples requerimento de abertura de inventário não induz aceitação. Rara será a aceitação expressa. Art. 1.807, CC - O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita. Pode acontecer que o primeiro herdeiro chamado não tenha tido tempo de aceitar a herança, falecendo antes da declaração. Nesse caso, o direito transfere-se aos herdeiros desse herdeiro primitivo falecido. O parágrafo único do art. 1.809 do corrente Código inova no sentido de possibilitar aos chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que aceitem a segunda herança, aceitar ou renunciar à primeira. Art. 1.809, CC - Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada. Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira. A aceitação da herança possui natureza de ato unilateral. Não pode ser subordinada a termos ou condição, nem pode aceitar parte. A herança é uma universalidade Art. 1.808, CC - Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo. § 1o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. § 2o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. Por regra, a aceitação da herança é irrevogável, assim uma vez herdeiro, sempre herdeiro. Art. 1.812, CC - São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança. NOTA – Não se confunde irrevogabilidade com as nulidades. Se a aceitação não requer formalidade especial, tal não ocorre com a renúncia da herança. A renúncia deverá constar expressamente de escritura pública, ou termo judicial. Só se admite renúncia expressa. Art. 1.806, CC - A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial. A renúncia da herança, a exemplo da aceitação, é declaração unilateral de vontade, só que necessita de vontade expressa e escrita. A forma prescrita em lei é a escritura pública ou o termo judicial. NOTA – A renúncia em favor de determinada pessoa é ato de cessão da herança ou doação; não é renúncia. O herdeiro que aceita a herança e depois dela renuncia opera uma transmissão intervivos. A renúncia também admite o mandato, com poderes especiais, por meio de procuração pública. NOTA – A incapacidade absoluta torna nula a renúncia, a relativa anulável. IMPORTANTE – Não existe sucessão de herdeiro renunciante, à exceção se for o único legítimo de sua classe. Art. 1.811, CC - Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça. IMPORTANTE – Quem renuncia deixa de ser herdeiro ex tunc, isto, é, desde a abertura da sucessão. Exemplo: Se um filho renuncia, toda a herança será repartida entre os demais filhos, seus irmãos. Os filhos do irmão renunciante não podem representá-lo, então, na herança do avô, o que fariam caso seu pai tivesse pré-morto. IMPORTANTE - Na renúncia do herdeiro testamentário, verifica-se a vontade do testador. Se deixou substituto, este será chamado a aceitar. Na falta, os legados vão para a legítima, acrescendo ao monte. Art. 1.810, CC - Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subseqüente. 2.3 – DIREITO DE DELIBERAR SOBRE A HERANÇA Caso o herdeiro seja chamado em primeiro lugar na vocação e na inércia de tomar uma iniciativa, podem os próximos na ordem requerer que o primeiro delibere sobre a herança. Art. 1.807, CC - O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita. Qualquer interessado pode provocar a deliberação, inclusive os credores do herdeiro e do de cujus. NOTA – Não havendo interpelação, não haverá prazo para o herdeiro efetivar a aceitação. 2.4 – ACEITAÇÃO DA HERANÇA SOB BENEFÍCIO DE INVENTÁRIO A fixação da responsabilidade pelo pagamento das dívidas do de cujus sempre foi de alta relevância. Assim, a idéia da separação de patrimônios foi a que permitiu ao herdeiro não responder por dívidas que não fossem suas próprias. Segundo Itabaiana de Oliveira, benefício de inventário é um privilégio concedido pela lei ao herdeiro e que consiste em admiti-lo à herança do de cujus, sem obrigá-lo aos encargos além das forças da mesma herança. Art. 1.792, CC - O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados. 2.5 – CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS (VENDA E ALIENAÇÃO DA HERANÇA OU DE BENS DA HERANÇA) Uma vez aberta a sucessão, pelo princípio da saisine, o herdeiro torna-se titular dos direitos hereditários, ou seja, da universalidade de bens ou de uma fração ideal. Como proprietário do patrimônio, pode aliená-lo como bem entender, desde que obedeça a algumas regras trazidas pelo Código Civil de 2002. Tal como a cessão de crédito, a cessão de direitos hereditários tem evidente cunho contratual. Como a herança é considerada bem imóvel (art. 80, II, CC), o negócio jurídico requer escritura pública. Pode ser um negócio gratuito ou oneroso, se gratuito assemelha-se a doação, se oneroso a compra e venda. Art. 1.793, CC - O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. § 1o Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente. § 2o É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente. § 3o Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade. O objeto de discussão da cessão da herança é a universalidade que foi transmitida ao herdeiro, mesmo porque não poderia o herdeiro individualizar bens dentro dessa universalidade. O cessionário da herança adquire por ato entre vivos, tanto é verdade que a princípio a escritura de cessão de direitos hereditários não pode ser objeto de matrícula no registro imobiliário, por lhe faltar a especificidade objetiva (que bem?). IMPORTANTE – A cessão antes do inventário é negócio aleatório e não responde o herdeiro pela evicção. Na prática, caso o cessionário não receba o bem, tudo se resolve em perdas e danos. IMPORTANTE – A qualidade de herdeiro não se transfere por cessão. IMPORTANTE – Só existe cessão antes da partilha. IMPORTANTE – A cessão não pode prejudicar os credores do espólio, podendo o cedente ser acionado, ainda que o cessionário assuma a dívida, pois a figura do devedor não pode ser substituída sem a anuência do credor (AÇÃO PAULIANA). O direito de preferência pode ser exercido pelos demais herdeiros quando da cessão de herança. Art. 1.794, CC - O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto. Art. 1.795, CC - O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias. Essa ciência aos demais co-herdeiros da alienação que se propõe pode ocorrer dentro ou fora do inventário. A cessão como negócio jurídico que é, fica sujeita aos vícios de nulidade e de anulação dos negócios jurídicos em geral. Antes da morte, qualquer cessão de herança é nula ou inexistente, por falta de objeto. Nossa Lei proíbe contratar sobre herança de pessoa viva. Pacta Corvina – Pacto Sucessório Art. 426, CC - Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Glossário O Glossário deve ser feito levando-se em conta o Direito das Sucessões: Sucessão Herança Legítima Testamentária Comoriência Transmissão Aceitação Renúncia Expressa Tácita Legitimação Suceder Deliberar Cessão Alienação Hereditário Inter-vivos Causa-mortis Universalidade Ativo Passivo Singular Legado Legatário Testamento Sucessor Partilha Condômino Inventariante Tutela Curatela Personalíssimo
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