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DIREITO PENAL – PARTE GERAL 
 
CAPÍTULO 01 - DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: 
 
O conceito de Direito Penal, nos ensinamentos de Cezar Roberto Bitencourt. “Apresenta-
se como um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações 
de natureza penal e suas sanções correspondentes – pena e medidas de segurança”. 
Fernando Capez aduz que “É o segmento do ordenamento jurídico que detém a função 
de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade, 
capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-
los como infrações penais, cominando-lhes, em conseqüência, as respectivas sanções, 
além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessários à sua correta 
e justa aplicação”. 
 
Objetiva a defesa da sociedade, buscando a proteção dos bens jurídicos fundamentais, 
como a vida humana, a integridade corporal do homem, a honra, o patrimônio, a 
segurança da família, a paz pública, em síntese. 
 
Na qualidade de Ciência Jurídica autônoma, o Direito Penal possui princípios, tanto de 
natureza constitucional como infraconstitucional e têm a função de orientar o legislador, 
no intuito de limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de garantias aos 
cidadãos. 
 
Princípios são valores fundamentais que inspiram a criação do sistema jurídico. Na 
clássica definição de Celso Antonio Bandeira de Mello, encontramos: “Princípio é, por 
definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição 
fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo 
de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a 
racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido 
harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes 
partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo” 
 
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL: 
 
2.1 – INTRODUÇÃO: 
 
A Constituição é a base – o alicerce – do Estado e da sociedade. É nela que estão 
insertas as normas básicas de organização estatal e os princípios fundamentais sobre os 
quais se assentam todas as relações entre os indivíduos. Na Constituição do Estado, 
estão estabelecidos os primados sobre os quais tudo o mais existe. É na Carta Magna 
que está dito: república ou monarquia, parlamentarismo ou presidencialismo; propriedade 
privada sobre os meios de produção ou propriedade coletiva, estatizada: capitalismo ou 
socialismo. Desde as questões mais complexas aos mecanismos mais simples da vida, 
do sistema financeiro à relação de emprego, todos encontram, na Carta Constitucional de 
um Estado, suas origens, suas bases, suas raízes, suas diretrizes e regras. 
 
 
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Na Constituição Federal brasileira, estão estabelecidos todos os princípios que regem o 
Direito Civil, o Direito Administrativo, o Comercial, Trabalhista, Tributário, Processual e, 
não podia ser diferente, também o Direito Penal. Nela está determinado que a base da 
sociedade é a família, a qual também se constitui por meio da união estável entre homem 
e mulher. Ali está escrito que nenhum tributo será estabelecido senão para ser cobrado 
no exercício seguinte. E está definido que a saúde é um direito de todos e um dever do 
Estado. Está inscrito, felizmente, que ninguém será privado de sua liberdade ou de seus 
bens sem o devido processo legal. 
 
São os fundamentos, os alicerces, que sustentam a vida da sociedade brasileira, do 
homem. Todas as demais normas do direito devem harmonizar-se com os princípios 
constitucionais, sob pena de se tornarem inválidas. 
 
Todo o Direito Penal, igualmente, é construído com base em princípios inseridos na 
Constituição Federal, os quais norteiam sua construção e a sua vida, devendo, de 
conseqüência, ser respeitados. As normas penais ordinárias que vierem a ser elaboradas 
em dissonância com os princípios constitucionais simplesmente não terão, em substância, 
nenhum valor, ainda que sejam votadas, promulgadas, publicadas etc. 
 
Tudo aquilo que colidir com o preceito constitucional será banido do ordenamento jurídico, 
ainda que formalmente nele tiver ingressado. Por isso, para se estudar o Direito Penal, o 
ponto de partida deve ser o estudo de suas bases, seus alicerces, seus princípios mais 
importantes, os quais, por essa razão, estão escritos na Constituição Federal. São eles: o 
princípio da legalidade, o princípio da extra-atividade da lei penal mais favorável, o 
princípio da individualização da pena, o princípio da responsabilidade pessoal, o princípio 
da limitação das penas, o princípio do respeito ao preso e o princípio da presunção da 
inocência. 
 
2.2 – PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL / ESTRITA LEGALIDADE: 
 
O inciso XXXIX do art. 5º da Constituição Federal estabelece: “Não há crime sem lei 
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, preceito repetido no art. 1º 
do Código Penal: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena, sem prévia 
cominação legal”. 
 
É o mais importante dos princípios do Direito Penal, a base, a viga mestra, o pilar que 
sustenta toda a ordem jurídico-penal. Seu significado é claro e límpido. Só pode alguém 
receber uma resposta penal, uma pena criminal, se o fato que praticou estivesse, 
anteriormente, proibido por uma lei sob a ameaça da pena. O homem só pode sofrer a 
pena criminal – ser privado da sua liberdade, em regra – se tiver realizado um 
comportamento previamente definido como crime, por uma lei em vigor. 
 
Por mais imoral que seja uma conduta humana, a ela só corresponderá uma sanção 
penal se, antes de sua prática, tiver entrado em vigor uma lei considerando-a crime. O 
incesto – prática de atos sexuais entre pai e filha ou mãe e filho, ou entre irmãos, sem 
violência, real ou moral –, apesar de, moralmente, repugnar a todos, não é crime e, por 
isso, não merecerá nenhuma sanção do direito. 
 
 
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Antes de ser um critério jurídico-penal, o nullum crimen, nulla poena sine lege é um 
princípio político pois representa um anteparo da liberdade individual em face da 
expansiva autoridade do Estado. 
 
Significa, pois, o princípio que só a lei pode definir crimes e cominar penas. A edição de 
normas sobre crimes e penas é matéria reservada à lei, daí o nome de Princípio da 
Legalidade ou da Reserva Legal. O Princípio quer dizer: lei, anterior, no sentido estrito e 
certa. Só a lei ordinária, aprovada no Congresso Nacional, com observância de todas as 
regras que regem o processo legislativo, vedada esta atividade ao legislador estadual ou 
distrital e municipal. Igualmente, não se admite a criação de crimes e penas por meio de 
Medida Provisória ou de Lei Delegada. Da mesma forma, o mandamento legal vincula o 
magistrado, não se permitindo analogia em desfavor do réu, ou seja, proibindo a 
adequação típica “por semelhança” entre fatos penais. 
 
Por outro lado, a Lei Penal há de ser certa, exata, precisa, proibida a utilização de 
fórmulas excessivamente genéricas ou de interpretação duvidosa, devendo, pois, o 
legislador, no momento de definir os comportamentos humanos que deseja considerar 
crimes, evitar a utilização de expressões vagas ou ambíguas, a fim de que todos os 
indivíduos possam, com facilidade, compreender a extensão e o alcance das normas de 
proibição. 
 
2.2 – PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: 
 
Pelo dispositivo constitucional inserto no art. 5º, inciso XXXIX, e, também, no art. 1º do 
Código Penal, para que se verifique e seja punido um crime, para que seja aplicada a 
respectiva pena, faz-se necessário que o fato tenha sido cometido depois de a lei ter 
entrado em vigor. Assim, ninguém pode ser punido por um fato ou com uma penaque não 
esteja assim previamente estabelecido em lei. 
 
2.3 – PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA: 
 
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. 
 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada 
em julgado 
 
 
Em Direito, a regra geral é que se aplique a lei vigente á época do fato, é o princípio 
denominado “ tempus regit actum” , ou seja, aplica-se ao crime a lei que estiver vigorando 
quando de seu cometimento. Daí, em tese, a lei não poderia alcançar fatos ocorridos 
anteriormente a sua vigência ou aplicar-se a fatos posteriores a sua revogação. 
 
 
 
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Entretanto nos termos do art. 5º, inciso XL da Constituição Federal e do art. 2º do Código 
Penal, a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 
Cuidadosamente, o legislador constituinte, não satisfeito com impor a anterioridade da lei 
penal, veio, no inciso seguinte, reafirmar que a lei penal não pode retroagir, isto é, não 
pode ser aplicada a fatos acontecidos antes de sua vigência. Não havia necessidade, pois 
o princípio da reserva legal é claro ao dizer que só haverá crime e pena, se houver, 
previamente, uma lei anterior. Mas o objetivo não era o de reafirmar o princípio da 
legalidade, mas o de construir outro pilar sobre o qual se sustenta o Direito Penal, o de 
que a lei penal mais favorável retroagirá ou ultra-agirá. 
 
O Direito é dinâmico como a sociedade. Os interesses sociais estão em constante 
movimento e, à medida que se desenvolve a sociedade, impõem-se mudanças na ordem 
jurídica. Novas conquistas tecnológicas impõem novos tratamentos a questões que 
surgem no dia-a-dia. 
 
Valores substituem-se, formas de ver os fatos sociais alternam-se, de modo que se torna 
sempre necessária a criação de novas leis.A regra geral de aplicação da lei é a 
prevalência da lei do tempo do fato, decorrência do princípio da legalidade (tempus regit 
actum). Aplica-se ao fato a lei vigente ao tempo de sua prática. 
 
Leis sucedem-se, criando novos crimes, modificando o tratamento dado aos crimes já 
existentes, ora com maior severidade, ora abrandando a resposta penal e, até, 
simplesmente, extinguindo espécies de crimes. Nessas hipóteses, incide o princípio, que 
proíbe a retroatividade da lei mais severa: não poderá a lei mais grave ser aplicada aos 
fatos ocorridos antes de sua vigência. Se, contudo, a lei posterior é, de qualquer modo, 
mais benéfica, vai retroagir, para ser aplicada aos fatos acontecidos antes de sua 
vigência. 
 
Não podia ser diferente. A pena é a resposta que a sociedade dá aos indivíduos que 
atacarem, de modo grave, os bens jurídicos mais importantes. Se, em dado momento, a 
sociedade entende que a pena deve ser menor do que era, é porque considera que a 
resposta ao crime praticado deve, igualmente, ser de menor intensidade. Se, a partir de 
uma nova lei, esta pena é mais branda, deve o ser para todos, inclusive para os que 
praticaram o crime antes da lei. 
 
Não teria nenhum sentido punir alguém com uma pena que já não está em vigor. A pena 
é a medida da reprovação do comportamento humano. Se o fato antes punido mais 
severamente passa a ser, depois, punido com menor severidade é porque a sociedade 
entendeu que a punição anterior – mais severa – não era justa. Se a reduziu é porque ela 
não se justificava. E se não era justa antes, porque aplicá-la, depois de considerá-la 
injusta? O inverso, punir alguém, com maior rigor que o previsto no tempo em que ele 
praticou o crime, seria injusto e iria de encontro à dignidade humana. Quando alguém 
pratica um fato definido na lei como crime, conhece a pena a ele correspondente, em 
qualidade e em quantidade. 
 
 
 
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Se esta pena, depois da prática do fato, é aumentada, não pode, em nenhuma hipótese, 
ser aplicada àquele que violou a norma no tempo da lei anterior, sob pena de violar sua 
dignidade. Ele, ao violar a norma, sabia que o máximo que poderia receber era a pena 
então vigente. Se, mesmo assim, violou a norma é porque aceitou, na pior das hipóteses, 
sofrer aquela pena, somente ela, em qualidade e quantidade, e não mais que ela. Aplicar-
lhe pena então inexistente – porque maior ou diferente – é violar o princípio da dignidade 
do homem.É trair o indivíduo e o direito há de ser, sempre, verdadeiro e sincero. 
 
A lei penal que for mais favorável ao acusado da prática do crime sempre será aplicada, 
em qualquer hipótese. Por isso, diz-se que a lei mais benéfica é sempre extraativa: se ela 
é a lei posterior, é e sempre será retroativa; se ela é a lei do tempo do fato, é e será 
sempre ultra-ativa. A lei mais favorável é, pois, extra-ativa. 
 
2.4 – PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: 
 
Dispõe o inciso XLVI do art. 5º da Carta Magna: “A lei regulará a individualização da pena 
e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de 
bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.” 
 
Como se pode observar, o legislador constituinte não definiu o que seja individualização 
da pena, tarefa que cabe à doutrina. Individualizar significa particularizar, adaptar a pena 
ao condenado. A cada indivíduo, uma pena. Para particularizar a pena, a lei haverá, 
evidentemente, de balizar-se em parâmetros que, como não poderia deixar de ser, são o 
homem que violou a norma e o fato por ele praticado, cada qual, com suas 
particularidades, suas peculiaridades, suas características próprias, subjetivas e objetivas, 
que os individualizam. 
 
Para adaptar a pena ao homem, seu destinatário, a lei levará em conta suas 
características e as do fato realizado. A individualização da pena faz-se em três etapas: 
cominação, aplicação e 
execução. 
 
A) Cominação: 
 
No primeiro momento da individualização, a tarefa incumbe ao legislador, que, ao definir 
os vários comportamentos humanos que considera crime – cumprindo, assim, o princípio 
da legalidade –, estabelece, para cada um, uma pena, em qualidade e em quantidade. 
Esta é a chamada fase da cominação das penas. 
 
O legislador se orientará pela importância dos bens jurídicos e pela gravidade do ataque 
contra eles perpetrados, estabelecendo, para cada comportamento considerado 
criminoso, uma qualidade e uma quantidade de pena, que será de maior severidade, 
conforme seja mais importante o bem e mais grave o ataque contra ele efetuado. Assim, 
a morte de um homem por outro, que a desejou, merecerá a mais severa das penas. Já 
ao simples e leve ferimento do corpo humano, causado intencionalmente por outro, 
corresponderá uma pena bem mais branda. 
 
B) Aplicação: 
 
 
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Se o homem, apesar da ameaça, não se intimida e pratica o fato definido como crime, 
poderá receber a pena correspondente. A pena será aplicada – pelo julgador – com 
observância de normas legais que tratam da individualização. 
 
O julgador não é livre para escolher a qualidade nem a quantidade da pena. Se o infrator 
da norma tiver cometido um crime de estupro – constranger mulher à conjunção carnal 
mediante violência ou grave ameaça – o juiz deverá, em primeiro lugar, verificar qual a 
qualidade e quantidade da pena cominada na lei, encontrando-as no art. 213 do Código 
Penal: “reclusão, de 6 a 10 anos”. 
 
Para estabelecer a pena concreta, a ser cumprida, o juiz deverá analisar as 
características do infrator da norma e do fato por ele praticado. A primeira observação, a 
propósito, é de que a pena a ser aplicada não poderá sernem além nem aquém do 
necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. Isto quer dizer que, 
dentro dos limites fixados – mínimo e máximo –, a pena deve ser fixada de modo justo, 
exato. 
 
Para se alcançar esse difícil fim, manda o art. 59 do Código Penal que o juiz considere 
várias circunstâncias, do homem, e do fato por ele praticado, que são: a culpabilidade, os 
antecedentes, a conduta social, a personalidade do infrator da norma penal, os motivos, 
as circunstâncias e conseqüências do fato e o comportamento da vítima. 
 
É evidente que, tratando-se de um homem de passado ilibado, de personalidade pacífica, 
de boa índole, de conduta social respeitável, não haverá necessidade de uma quantidade 
de pena distante do grau mínimo. Se, ao contrário, tratar-se de pessoa que agiu com 
muita culpa, a pena haverá de se distanciar do grau mínimo, aproximando-se do grau 
máximo. 
 
Se, entre aquelas circunstâncias, umas favorecem, outras prejudicam o acusado, cabe ao 
juiz verificar quais preponderam e, entre elas, atentar para as que mais importam para o 
direito. As de natureza pessoal – a primariedade – haverão de ser relevadas, até porque o 
fim e a razão de ser de toda a vida, da humanidade, é o homem, objetivo de todos nós. 
Após a fixação dessa que se chama pena-base, o julgador verificará se ocorrem 
circunstâncias agravantes, que se encontram definidas nos arts. 61 e 62 do Código Penal, 
e circunstâncias atenuantes, dos arts. 65 e 66 e, em conseqüência, agravará ou atenuará 
a pena-base. 
 
Em seguida, observará a existência de causas especiais de aumento ou de diminuição de 
pena, previstas no Código Penal, seja na parte geral, seja na parte especial, aumentando 
ou diminuindo a pena, dentro das quantidades permitidas, chegando, então, à pena 
definitiva. 
 
Fixada a pena definitiva, o juiz estabelecerá o regime de seu cumprimento, se privativa de 
liberdade, como manda o art. 33 do Código Penal, ou a substituirá, conforme determina o 
art. 60, § 2º, e art. 44 do Código Penal. Assim, terá particularizado a pena ao condenado. 
Com a individualização da pena, pode uma pessoa que cometeu um estupro ser 
 
 
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condenada a seis, sete, nove ou a 10 anos de reclusão, conforme sejam as suas 
características e as do fato praticado. 
 
Desse modo, para um mesmo crime, cometido por duas pessoas, as penas aplicadas 
não serão, necessariamente, as mesmas. Se Pedro e Célio, irmãos, com mesmas 
características, pela mesma razão, cometem em conjunto o mesmo crime e são ambos 
condenados, Pedro, de 20 anos, e Célio de 22, não receberão penas iguais, ainda que 
todas as circunstâncias judiciais lhes sejam igualmente favoráveis ou desfavoráveis, por 
uma única razão: Pedro tem, em seu favor, uma circunstância atenuante que não 
favorece Célio: ter menos de 21 anos ao tempo do fato (art. 65, I, CP). Por isso, se, em 
face das circunstâncias judiciais, ambos receberem pena-base igual ao mínimo, a 
atenuante há de fazer a pena ficar aquém do mínimo legal. 
 
Esta é posição que se considera a justa, e que melhor será detalhada mais a frente, onde 
esta segunda fase da individualização da pena, da mais alta importância, será examinada 
de forma mais pormenorizada. 
 
C) Execução: 
 
Aplicada a pena, não sendo mais possível qualquer recurso contra a decisão que a fixou, 
o Estado adquire o título com o qual deverá executar a pena, que será cumprida pelo 
condenado. Também a execução da pena não pode ser igual para todos os condenados, 
que, além de terem cometido crimes distintos, são diferentes entre si, cada qual com sua 
personalidade, sua necessidade de reprovação e prevenção. 
 
O inciso XLVIII do art. 5º da Constituição Federal estabelece: “a pena será cumprida em 
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do 
apenado”. 
 
Individualizar, nesta fase, é proporcionar a cada condenado as oportunidades necessárias 
para que ele possa, durante e após o cumprimento da pena, ser reinserido na sociedade 
de modo a, posteriormente, poder ser aceito por ela e com ela viver em plena harmonia. 
 
O art. 5º da Lei de Execução Penal (7.210/84) determina que o condenado será 
classificado, segundo seus antecedentes e personalidade, para orientação da 
individualização da pena. E o art. 6º manda que a classificação seja feita por uma 
Comissão Técnica, a quem compete elaborar um programa individualizador, que deverá 
ser acompanhado no decorrer do cumprimento da pena. 
 
Os condenados serão submetidos a exame criminológico – técnico-pericial – capaz de 
fornecer aos executores da pena os elementos indispensáveis à individualização da 
execução da pena. 
Na prática, todavia, a situação é diferente. Infelizmente, o Estado brasileiro não cumpriu, a 
contento, suas obrigações estatuídas pelas Leis nos 7.209 e 7.210, edificando 
estabelecimentos penitenciários, dotando o sistema prisional das condições 
indispensáveis à execução das penas privativas de liberdade. 
 
 
 
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2.5 – PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOA / DA PERSONALIZAÇÃO DA 
PENA / INTRANSCEDÊNCIA DA PENA: 
 
Dispõe o inciso XLV do art. 5º da Constituição Federal: “Nenhuma pena passará da 
pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do 
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles 
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.” 
 
O princípio é claro: só o condenado pode sofrer a pena criminal, seja ela privativa de 
liberdade, de multa, de prestação social alternativa, restritiva de direitos, seja qualquer 
outra que vier a ser cominada. 
 
A indenização do prejuízo causado pelo condenado é sanção civil, e por isso pode ser 
estendida aos sucessores e contra eles executada, é óbvio, até o limite do valor do 
patrimônio transferido. 
 
Se o condenado por crime contra o patrimônio vier a morrer logo após a sentença 
condenatória irrecorrível, o prejuízo sofrido pela vítima poderá ser cobrado dos 
sucessores do infrator da norma penal, que estarão obrigados a indenizar o credor, 
observado o limite do patrimônio que tiverem recebido. Se tiver sido transferido valor 
inferior ao da indenização, o credor só poderá executar o valor da importância transmitida. 
Se nada tiver sido transferido, nada poderá ser cobrado. Não podia ser diferente, já que, 
no direito das sucessões, são transmitidos obrigações e direitos, e estes só são 
partilhados após o cumprimento daquelas. 
 
Primeiro, pagam-se as dívidas do autor da herança e, somente após a liquidação de todas 
as suas obrigações, inclusive as tributárias e decorrentes da própria morte, é que se 
apura o saldo a partilhar. Como o dever de indenizar se inclui entre as dívidas do morto, 
só após seu pagamento é que os sucessores receberão a herança. 
 
2.6 – PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DAS PENAS: 
 
Diz o art. 5º, XLVII, da Carta Magna: “Não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de 
guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos 
forçados; d) de banimento; e) cruéis.” 
 
A Constituição Federal proibiu, expressamente, a adoção dessas cinco espécies de 
penas, inserindo tal proibição no rol dos direitos e garantias fundamentais do homem, de 
modo que é impossível sua adoção em nosso direito, conforme manda o art. 60, § 4º, 
inciso IV: “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: ... IV – 
os direitos e garantias individuais.” 
 
Essas penas foram banidas do ordenamento jurídico, porque não se coadunam com o 
estágio atual de desenvolvimento de nossa sociedade, uma vez que ferem a dignidade 
humana e violentam profundamente o princípio da humanidade e do interesse social. 
 
2.7 – PRINCÍPIO DO RESPEITO AO PRESO: 
 
 
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Diz o art. 5º, XLIX, CF: “É asseguradoaos presos o respeito à integridade física e moral” e 
o inciso L: “às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer 
com 
seus filhos durante o período de amamentação”. 
 
O preceito se especifica no art. 38 do Código Penal: “O preso conserva todos os direitos 
não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à 
sua integridade física e moral.” Também a Lei de Execução Penal (LEP) contém 
dispositivo semelhante: “Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e 
moral dos condenados e dos presos provisórios” (art. 40). 
 
O princípio abrange não apenas os condenados, mas também todos aqueles que 
estiverem presos, seja a prisão civil ou penal, processual ou definitiva. 
 
O homem, apesar de condenado ou apenas preso, não deixa de ser humano, e continua 
com todos os seus direitos, com exceção apenas dos incompatíveis com a perda da 
liberdade. De conseqüência, deve ser protegido, enquanto ser humano e cidadão. 
Principalmente, porque é um ser destituído de liberdade, incapaz de, por isso, defender-
se em sua plenitude. O homem encarcerado, algemado, não é capaz de enfrentar a 
maior parte das dificuldades e dos percalços da vida em prisão. 
 
O art. 41 da Lei nº 7.210 enumera direitos do preso: alimentação suficiente e vestuário; 
atribuição de trabalho e sua remuneração; previdência social; constituição de pecúlio; 
proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; 
exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, 
desde que compatíveis com a execução da pena; assistência material, à saúde, jurídica, 
educacional, social e religiosa; proteção contra qualquer espécie de sensacionalismo; 
entrevista pessoal e reservada com o advogado; visita do cônjuge, da companheira, de 
parentes e amigos em dias determinados; chamamento nominal; igualdade de tratamento 
salvo quanto às exigências da individualização da pena; audiência especial com o diretor 
do estabelecimento; representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; 
contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros 
meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. 
 
O art. 88 da LEP contém uma norma da mais alta importância: “O condenado será alojado 
em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. 
São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência 
dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência 
humana; b) área mínima de 6 m2 (seis metros quadrados).” 
 
2.8 – PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: 
 
Está no inciso LVII do art. 5º da Constituição Federal: “Ninguém será considerado culpado 
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” 
 
Esse princípio, também chamado do estado de inocência ou da não culpabilidade, 
aparece pela primeira vez numa Constituição Brasileira, e significa uma das maiores 
 
 
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conquistas do cidadão brasileiro às vésperas do terceiro milênio, como coroamento de 
uma série de vitórias do homem contra o arbítrio. 
 
O preceito projeta-se principalmente no campo do direito processual penal – por, entre 
outras conseqüências, impor o ônus da prova legal da ocorrência do fato e da 
culpabilidade do acusado ao acusador e permitir ao réu o direito ao silêncio, sem que 
possa o julgador interpretá-lo em seu desfavor – mas tem também importante reflexo no 
Direito Penal: nenhuma norma penal poderá estabelecer a responsabilidade com base em 
fatos presumidos, porque ninguém pode ser punido por presunções, mas apenas por 
fatos reais. 
 
3. PRINCÍPIOS LEGAIS DO DIREITO PENAL: 
 
3.1 – PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: 
 
O Direito Penal, por sua vez, encarregou-se de cuidar de alguns deles, quais sejam, os 
fatos humanos e indesejáveis socialmente. Desta forma, desprezam-se os fatos da 
natureza e os desejados pela sociedade. Observa-se a seletividade do Direito Penal, que 
não se preocupa com fatos em que não há a conduta humana voluntária e não causa 
reprova social. 
 
Pelo princípio da intervenção mínima, o Direito Penal deve se abster de intervir em 
condutas irrelevantes e só atuar quando estritamente necessário, mantendo-se 
subsidiário e fragmentário. 
 
A subsidiariedade como característica do princípio da intervenção mínima, norteia a 
intervenção em abstrato do Direito Penal. Para intervir, o Direito Penal deve aguardar a 
ineficácia dos demais ramos do direito, isto é, quando os demais ramos mostrarem-se 
incapazes de aplicar uma sanção à determinada conduta reprovável. É a sua atuação 
ultima ratio. 
 
3.2 – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 
 
O princípio da insignificância, também chamado de princípio da bagatela aduz a idéia de 
que o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos irrelevantes, incapazes de lesar o 
bem jurídico legalmente tutelado. 
 
Funciona como uma CAUSA DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE, afastando a própria 
tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua 
aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na diminuição e substituição da pena 
ou não sua não aplicação. 
 
Para ser utilizado, conforme orientação sedimentada do Supremo Tribunal Federal, faz-se 
necessária a presença de certos requisitos, tais como: (a) a mínima ofensividade da 
conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau 
de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica 
provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor). 
 
 
 
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Além desses requisitos objetivos, é possível extrair que a jurisprudência também utiliza 
como orientação para aplicação do princípio da insignificância alguns requisitos 
subjetivos, como o contexto em que se deu a prática do crime, a importância (patrimonial 
ou sentimental) do objeto material, a condição econômica da vítima, as circunstâncias do 
fato e o resultado produzido, bem como as características pessoas da vítima. 
 
Em resumo, o conceito do princípio da insignificância é o de que a conduta praticada pelo 
agente atinge de forma tão ínfima o valor tutelado pela norma que não se justifica a 
repressão. Juridicamente, isso significa que não houve crime algum. 
 
 STF E O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 
 
A) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E O CRIME AMBIENTAL: A Segunda Turma do 
Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, por maioria de votos, Habeas Corpus 
(HC 112563) e absolveu um pescador de Santa Catarina que havia sido 
condenado por crime contra o meio ambiente (contra a fauna) por pescar durante o 
período de defeso, utilizando-se de rede de pesca fora das especificações do 
Ibama. Ele foi flagrado com 12 camarões. É a primeira vez que a Turma aplica o 
princípio da insignificância (ou bagatela) em crime ambiental. O pescador, que é 
assistido pela Defensoria Pública da União (DPU), havia sido condenado a um ano 
e dois meses de detenção com base no artigo 34, parágrafo único, inciso II, da Lei 
9.605/98 (que dispõe sobre as sanções penais e administrativas impostas em caso 
de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente). (Notícia do dia 21 de agosto 
de 2012) 
 
B) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E O FURTO PRATICADO DENTRO DE 
ESTABELECIMENTO PRISIONAL: A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal 
aplicou o princípio da insignificância a presidiário condenado por furto dentro do 
presídio. Já preso, ele fora pego em flagrante furtando um cartucho de tinta de uma 
das impressoras da penitenciária. O caso chegou ao Supremo em dezembro de 
2010, e foi distribuído ao ministro Ricardo Lewandowski. O detento afirmou que o 
cartucho custa R$ 25,70 e não poderia ser considerado grande perda prejuízo para 
o Estado, proprietáriodo cartucho. (Notícia do dia 18 de setembro de 2012) 
 
C) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E O CRIME DE DESCAMINHO: Para 
configuração do crime de descaminho, é necessária a prévia constituição do 
crédito tributário na esfera administrativa. De acordo com a Súmula Vinculante 24, 
do Supremo, não se tipifica crime material contra a ordem tributária antes do 
lançamento definitivo do tributo. Para Bellizze, diante dessa súmula, a constituição 
definitiva do crédito tributário não pode ser dispensada na configuração do delito de 
descaminho. O ministro ressaltou que há na doutrina posição que considera o não 
pagamento do tributo suficiente para a consumação do crime de descaminho, que 
seria um delito formal. Mas ele discorda. “O direito penal só deve intervir nos casos 
de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes”, afirmou. 
 
 
 
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D) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E A REINCIDÊNCIA: A existência de maus 
antecedentes, reincidência ou ações penais em curso não impede a aplicação do 
princípio da insignificância. O entendimento, consolidado pela jurisprudência do 
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. 
 
E) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E O CRIME DE CONTRABANDO: Princípio da 
bagatela não se aplica a contrabando. Embora a jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal, amparada no artigo 20 da Lei 10.522/2002, seja no sentido de 
possibilitar o enquadramento do crime de descaminho no princípio da 
insignificância, quando o valor dos impostos sonegados for inferior a R$ 10 mil, no 
caso de contrabando tal aplicação não é possível. O objeto material sobre o qual 
recai a conduta é a mercadoria, total ou parcialmente proibida. A conclusão é da 2ª 
Turma do STF ao negar, nessa terça-feira (7/2), um pedido de Habeas Corpus. O 
relator do processo, ministro Gilmar Mendes, explicou que “o objetivo precípuo 
dessa tipificação formal é evitar o fomento de transporte e comercialização de 
produtos proibidos por lei". "Assim, não se trata tão somente de sopesar o caráter 
pecuniário do imposto sonegado, mas sim de possibilitar a tutela, dentre outros 
bens jurídicos, da saúde pública”, completou. Gilmar Mendes reportou-se a voto 
por ele proferido no julgamento do HC 97.541, em que observou que, no 
contrabando, o desvalor da conduta é maior. Portanto, afasta-se o princípio da 
insignificância. Ele disse que há precedente idêntico na 1ª Turma da Suprema 
Corte, de relatoria do ministro Luiz Fux. Ao acompanhar o voto do relator, o 
ministro Celso de Mello observou que, na abordagem da alegação do princípio da 
insignificância, impõe-se avaliação caso a caso. Neste HC, ele entendeu que, além 
da expressão pecuniária, há um valor maior, que é a preservação da saúde 
pública. Com informações da Assessoria de Imprensa do STF. (Notícia do dia 08 
de fevereiro de 2012). 
 
F) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICIÂNCIA E O USO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE 
NO INTEREOR DE UNIDADE MILITAR: "Uso de substância entorpecente. 
Princípio da insignificância. Aplicação no âmbito da Justiça Militar. (...) Princípio da 
dignidade da pessoa humana. Paciente, militar, preso em flagrante dentro da 
unidade militar, quando fumava um cigarro de maconha e tinha consigo outros três. 
Condenação por posse e uso de entorpecentes. Não aplicação do princípio da 
insignificância, em prol da saúde, disciplina e hierarquia militares. A mínima 
ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido 
grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica 
constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicação do princípio 
da insignificância. A Lei 11.343/2006 – nova Lei de Drogas – veda a prisão do 
usuário. Prevê, contra ele, apenas a lavratura de termo circunstanciado. 
Preocupação do Estado em mudar a visão que se tem em relação aos usuários de 
drogas. Punição severa e exemplar deve ser reservada aos traficantes, não 
 
 
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alcançando os usuários. A estes devem ser oferecidas políticas sociais eficientes 
para recuperá-los do vício. O STM não cogitou da aplicação da Lei 11.343/2006. 
Não obstante, cabe a esta Corte fazê-lo, incumbindo-lhe confrontar o princípio da 
especialidade da lei penal militar, óbice à aplicação da nova Lei de Drogas, com o 
princípio da dignidade humana, arrolado na Constituição do Brasil de modo 
destacado, incisivo, vigoroso, como princípio fundamental (...) Exclusão das fileiras 
do Exército: punição suficiente para que restem preservadas a disciplina e 
hierarquia militares, indispensáveis ao regular funcionamento de qualquer 
instituição militar. A aplicação do princípio da insignificância no caso se impõe; a 
uma, porque presentes seus requisitos de natureza objetiva; a duas, em virtude da 
dignidade da pessoa humana. Ordem concedida." (HC 92.961, Rel. Min. Eros 
Grau, julgamento em 11-12-2007, Segunda Turma, DJE de 22-2-2008.) No mesmo 
sentido: HC 90.125, Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 24-6-2008, 
Segunda Turma, DJE de 5-9-2008. Em sentido contrário: HC 105.695, Rel. Min. 
Ellen Gracie, julgamento em 30-11-2010, Segunda Turma, DJE de 22-2-2011; HC 
104.784, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 26-10-2010, Segunda Turma, 
DJE de 22-11-2010; HC 104.838, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 26-
10-2010, Segunda Turma, DJE de 22-11-2010; HC 103.684, Rel. Min. Ayres Britto, 
julgamento em 21-10-2010, Plenário, DJE de 13-4-2011. 
Obs.: o STJ entende que somente o Poder Judiciário é dotado de poderes para efetuar o 
reconhecimento do princípio da insignificância. Nesse sentido, a autoridade policial está 
obrigada a efetuar a prisão em flagrante, cabendo-lhe submeter imediatamente a questão 
à autoridade judiciária competente. 
3.3 – PRINCÍPIO DA ALTERIDADE: 
Esse princípio proíbe a incriminação de atitude meramente interna do agente, que são 
incapazes de ofender bens jurídicos de terceiros. Em outras palavras, ninguém pode ser 
punido por causar mal apenas a si próprio. É nesse princípio que se fundamenta a 
impossibilidade de punição da autolesão, bem como o ato de suicídio. 
3.4 – PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE: 
Estabelece que nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas apenas o que 
atentam contra valores fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e 
da sociedade. 
3.5 - PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIERADE: 
De acordo com esse princípio, a atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando 
os outros ramos do Direito e os demais meios de controle social tiverem se revelado 
impotentes para o controle da ordem pública. Este princípio, ao contrário do postulado da 
fragmentariedade, se projeta no caso concreto, isto é, em sua atuação prática, o Direito 
Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem sido 
empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação com a 
aplicação da lei penal. 
3.6 – PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE: 
Não há razão para aplicação do direito penal senão quando a conduta ofende um bem 
jurídico. Não se pode aplicar o direito penal quando a ofensa é de caráter pecaminoso ou 
imoral. Tenha-se, o caso da prostituição não tutelada pelo direito penal, mas censurada 
 
 
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socialmente. Hoje esse princípio encontra guarida no art. 98, I da Constituição que 
contempla as infrações de menor potencial ofensivo. 
3.7 – PRINCÍPIO DA HUMANIDADE: 
Este princípio contempla o tratamento que deve ser dado ao réu, antes do processo, 
durante o processo ou na fase de execução da pena que se lhe impôs. É calcado em 
vários dispositivos da Constituição Federal, a saber: art. 1º, III, art. 5º III, XLVI e XLVII. 
Antes do processo é amparado pelos dispositivos: art. 5º LXI, LXII, LXIII e LXIV; duranteo 
processo pelo art. 5º, incisos LIII, LIV, LV, LVI e LVII; e na fase da execução pela previsão 
de inexistência de penas degradantes, cruéis, de trabalhos forçados, de banimento e de 
morte, como elencado nos incisos XLVII, XLVIII XLIX e L, todos do art. 5º, sempre da 
Constituição Federal. 
3.8 – PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE: 
Também conhecido por princípio da presunção de inocência, é contemplado no inciso 
LVII, do art. 5º da Constituição Federal, afirmando que ninguém será considerado culpado 
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Disso decorre a impossibilidade 
de a pena vir a ser executada enquanto não tenha transitado em julgado a sentença penal 
condenatória. Somente após tornar-se irrecorrível, com o trânsito em julgado é que 
podem ser aplicadas às medidas decorrentes da condenação, próprias da fase de 
execução. 
3.9 – PRINCÍPIO DO “NE BIS IN IDEM”: 
Afirma que ninguém poderá ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Encerra dois 
aspectos: penal material – ninguém pode sofrer duas penas em face de uma mesma 
infração; processual – ninguém pode ser processado e julgado duas vezes pelo mesmo 
fato. 
4. LISTA DE EXERCÍCIOS – PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL: 
01 - Prova: TRT 15R - 2011 - TRT - 15ª Região - Juiz do Trabalho 
A respeito do atual entendimento conferido pelo Supremo Tribunal Federal ao princípio da 
insignificancia, assinale a alternativa incorreta: 
 
 a) sua aplicação já justificou a extinção da punibilidade; 
 b) trata-se de princípio já aplicado pela Corte quando mínima a ofensividade da conduta, 
inexistente a periculosidade social do ato, reduzido o grau de reprovabilidade do 
comportamento e inexpressiva a lesão provocada; 
 c) trata-se de princípio aplicado a despeito de restar patente a existência da tipicidade 
formal; 
 d) trata-se de princípio já aplicado quando as condições que circundam o delito dão conta 
da sua singeleza, miudeza e não habitualidade; 
 e) sua aplicação jamais justificou a extinção da ação penal. 
 
02 - Prova: FCC - 2012 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista Judiciário - Execução de Mandados 
O princípio, segundo o qual se afirma que o Direito Penal não é o único controle social 
formal dotado de recursos coativos, embora seja o que disponha dos instrumentos mais 
enérgicos, é reconhecido pela doutrina como princípio da 
 
 a) lesividade. 
 b) intervenção mínima. 
 c) fragmentariedade. 
 d) subsidiariedade. 
 
 
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 e) proporcionalidade. 
 
03 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-AL - Auxiliar Judiciário 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Da Aplicação da Lei Penal; Princípios; 
Acerca dos princípios da legalidade e da anterioridade, da lei penal no tempo e no espaço 
e da contagem de prazo, assinale a opção correta. 
 
 a) Conforme previsão do Código Penal, o tempo do crime é o momento da ação ou 
omissão que coincida com o momento do resultado. 
 
 b) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, sendo 
irrelevante o lugar onde ocorreu o resultado. 
 
 c) Se determinada pessoa tiver sido vítima de homicídio no dia 1.º/8/2012, a contagem 
dos prazos penais, nesse caso, terá iniciado em 1.º/8/2012. 
 
 d) Segundo o princípio da legalidade, no ordenamento jurídico brasileiro determinada 
conduta só será considerada crime caso seja publicada lei posterior definindo-a como tal. 
 
 e) Exceto se já decididos por sentença transitada em julgado, a lei posterior que de 
qualquer modo favorecer o agente aplica-se aos fatos anteriores. 
 
04 - Prova: FUMARC - 2012 - TJ-MG - Oficial Judiciário 
O princípio da presunção de inocência até que o réu seja considerado culpado ou até o 
trânsito em julgado de sentença penal condenatória é prevista nos seguintes textos de 
forma expressa: 
 
 a) Constituição da República Federativa e Código de Processo Penal 
 b) Declaração Universal dos Direitos Humanos(Resolução nº 217 – ONU) e Constituição 
da República 
 c) Declaração Universal dos Direitos Humanos(Resolução nº 217 – ONU) e Código de 
Processo Penal 
 d) Constituição da República e Estatuto do Servidor Público 
 
05 - Prova: CESPE - 2011 - TJ-ES - Juiz 
Acerca dos princípios aplicáveis ao direito penal, assinale a opção correta. 
 a) O princípio da adequação social, dirigido ao julgador, e não ao legislador, objetiva 
restringir a abrangência do tipo penal, limitando sua interpretação e dele excluindo as 
condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. 
 b) Dada a necessidade de observância do princípio da legalidade, a tipicidade penal 
resume-se ao mero exercício de adequação do fato concreto à norma abstrata. 
 c) O princípio da lesividade busca evitar a incriminação de condutas desviadas que não 
afetem qualquer bem jurídico, não cuidando de condutas que não excedam o âmbito do 
próprio autor. 
 d) A jurisprudência do STJ é firme no sentido da aplicabilidade do princípio da 
insignificância ao delito de moeda falsa, caso o valor das cédulas falsificadas não 
ultrapasse a quantia correspondente a um salário mínimo. 
 
 
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 e) A aplicação do princípio da insignificância, que deve ser analisado em conexão com os 
postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado, objetiva excluir ou 
afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. 
 
06 - Prova: PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia 
A ideia de que o Direito Penal, deve tutelar os valores considerados imprescindíveis para 
a sociedade, e não todos os bens jurídicos, sintetiza o princípio da 
 a) adequação social 
 b) culpabilidade 
 c) fragmentariedade 
 d) ofensividade. 
 e) proporcionalidade 
 
07 - Prova: PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Princípios; 
A lei estrita, desdobramento do princípio da legalidade, veda o emprego 
 a) analogia 
 b) costumes. 
 c) princípios gerais do direito. 
 d) equidade. 
 e) jurisprudência. 
 
08 – Prova: MPE-GO - 2012 - MPE-GO - Promotor de Justiça 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Princípios; 
Os princípio constitucionais servem de orientação para a produção legislativa ordinária, 
atuando como garantias diretas e imediatas aos cidadãos, funcionando como critério de 
interpretação e integração do texto constitucional. Nesse sentido podemos destacar como 
princípios constitucionais explícitos os seguintes: 
 a) legalidade, anterioridade, taxatividade e humanidade; 
 b) anterioridade, proporcionalidade, individualização da pena e humanidade; 
 c) retroatividade da lei penal benéfica, individualização da pena, humanidade e 
proporcionalidade; 
 d) responsabilidade pessoal, legalidade, anterioridade e individualização da pena 
 
 
09 - Prova: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Agente da Polícia Federal 
O fato de determinada conduta ser considerada crime somente se estiver como tal 
expressamente prevista em lei não impede, em decorrência do princípio da anterioridade, 
que sejam sancionadas condutas praticadas antes da vigência de norma excepcional ou 
temporária que as caracterize como crime. 
 
 Certo Errado 
 
10 - Prova: CESPE - 2012 - PC-CE - Inspetor de Polícia - Civil 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Do Crime; Dos Crimes Contra o Patrimônio.; 
Princípios; 
Acerca de crime e sua tipicidade, julgue o item a seguir 
 
 
 
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Considere que Lúcio, mediante o uso de faca do tipo peixeira, tenha constrangido Maria a 
entregar-lhe o valor de R$ 2,50, sob a justificativa de estar desempregado e necessitar do 
dinheiro para pagar o transporte coletivo. Nesse caso, segundo entendimento do STF 
quanto ao princípio da insignificância, Lúcio, se processado, deverá ser absolvido por 
atipicidade da conduta. 
 Certo Errado 
 
11 - Prova: PC-RJ - 2008 - PC-RJ - Inspetor de Polícia 
Relativamente aos princípios de direito penal, assinalea afirmativa incorreta. 
 a) Não há crime sem lei anterior que o defina. 
 b) Não há pena sem prévia cominação legal. 
 c) Crimes hediondos não estão sujeitos ao princípio da anterioridade da lei penal. 
 d) Ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior deixa de considerar crime. 
 e) A lei posterior que de qualquer modo favorece o agente aplica-se aos casos 
anteriores. 
 
12 – Prova: PC-RJ - 2008 - PC-RJ - Inspetor de Polícia 
Em matéria de princípios constitucionais de Direito Penal, é correto afirmar que: 
 a) a lei penal não retroagirá mesmo que seja para beneficiar o réu. 
 b) a prática de racismo não é considerada crime, salvo se a vítima for detentor de função 
pública. 
 c) os presos têm assegurado o respeito à sua integridade física, mas não à integridade 
moral. 
 d) a Constituição não autoriza a criação de penas de trabalhos forçados. 
 e) as penas privativas de liberdade poderão ser impostas aos sucessores do condenado. 
 
13 - Prova: CESPE - 2008 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Princípios; 
Assinale a opção correta com base nos princípios de direito penal na CF. 
 
 a) O princípio básico que orienta a construção do direito penal é o da intranscendência da 
pena, resumido na fórmula nullum crimen, nulla poena, sine lege. 
 b) Segundo a CF, é proibida a retroação de leis penais, ainda que estas sejam mais 
favoráveis ao acusado. 
 c) Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o 
dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas até os 
sucessores e contra eles executadas, mesmo que ultrapassem o limite do valor do 
patrimônio transferido. 
 d) O princípio da humanidade veda as penas de morte, salvo em caso de guerra 
declarada, bem como as de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e as 
cruéis. 
 
14 - Prova: FCC - 2011 - TCE-PR - Analista de Controle - Jurídica 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Da Aplicação da Lei Penal; Princípios; 
O princípio válido, tratando-se de sucessão de leis penais no tempo, na hipótese de que a 
norma posterior incrimina fato não previsto na anterior, é o da 
 a) Abolitio criminis. 
 b) Ultratividade. 
 
 
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 c) Irretroatividade. 
 d) Retroatividade. 
 e) Lei vigente na época no momento da prática de fato punível: Tempus regit actum. 
 
15 - Prova: FCC - 2011 - TCE-SP - Procurador 
O princípio constitucional da legalidade em matéria penal 
 a) não vigora na fase de execução penal. 
 b) impede que se afaste o caráter criminoso do fato em razão de causa supralegal de 
exclusão da ilicitude. 
 c) não atinge as medidas de segurança. 
 d) obsta que se reconheça a atipicidade de conduta em função de sua adequação social. 
 e) exige a taxatividade da lei incriminadora, admitindo, em certas situações, o emprego 
da analogia. 
 
16 - Prova: INSTITUTO CIDADES - 2011 - DPE-AM - Defensor Público 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Princípios; 
Sobre os princípios da legalidade e da anterioridade (artigo 1º do Código Penal) é correto 
afirmar: 
 a) pelo princípio da legalidade compreende-se que ninguém responderá por um fato que 
a lei penal preveja como crime e, pelo princípio da anterioridade compreende-se que 
alguém somente responderá por crime devidamente previsto em lei que tenha entrado em 
vigor um ano anteriormente à prática da conduta; 
 b) os princípios da legalidade e da anterioridade pressupõem a existência de lei anterior à 
prática de uma determinada conduta para que esta possa ser considerada como crime; 
 c) tais princípios são sinônimos e significam a necessidade da existência de lei para que 
uma conduta seja considerada crime; 
 d) são incompativeis um com o outro, já que pressupõem circunstâncias diversas; 
 e) pelo princípio da anterioridade compreende-se a previsão anterior de determinada 
conduta como criminosa independentemente de defnição por lei em sentido estrito. 
 
17 - Prova: CEPERJ - 2009 - PC-RJ - Delegado de Polícia 
Ensina JORGE DE FIGUEIREDO DIAS que “o princípio do Estado de Direito conduz a 
que a proteção dos direitos, liberdade e garantias seja levada a cabo não apenas através 
do direito penal, mas também perante o direito penal” (DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito 
penal: parte geral. tomo I. Coimbra: Coimbra Editora, 2004, p. 165). Assim, analise as 
proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta 
 
I- O conteúdo essencial do princípio da legalidade se traduz em que não pode haver 
crime, nem pena que não resultem de uma lei prévia, escrita, estrita e certa. 
 
II- O princípio da legalidade estrita não cobre, segundo a sua função e o seu sentido, toda 
a matéria penal, mas apenas a que se traduz em fixar, fundamentar ou agravar a 
responsabilidade do agente. 
 
III- Face ao fundamento, à função e ao sentido do princípio da legalidade, a proibição de 
analogia vale relativamente a todos os tipos penais, inclusive os permissivos. 
 
 
 
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IV- A proibição de retroatividade da lei penal funciona apenas a favor do réu, não contra 
ele. 
 
V- O princípio da aplicação da lei mais favorável vale mesmo relativamente ao que na 
doutrina se chama de “leis intermediárias”; leis, isto é, que entraram em vigor 
posteriormente à prática do fato, mas já não vigoravam ao tempo da apreciação deste. 
 
 a) Apenas uma proposição está errada. 
 b) Estão corretas apenas as proposições I, IV e V 
 c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV 
 d) Todas as proposições estão corretas 
 e) Apenas três da proposições estão corretas 
 
18 - Prova: CEPERJ - 2009 - PC-RJ - Delegado de Polícia 
Costuma-se afirmar que o direito penal das sociedades contemporâneas é regido por 
princípios sobre crimes, penas e medidas de segurança, nos níveis de criminalização 
primária e de criminalização secundária, fundamentais para garantir o indivíduo em face 
do poder penal do Estado. Analise as proposições abaixo: 
 
I- O princípio da insignificância revela uma hipótese de atipicidade material da conduta. 
 
II- O princípio da lesividade (ou ofensividade) proíbe a incriminação de uma atitude 
interna. 
 
III- Por força do princípio da lesividade não se pode conceber a existência de qualquer 
crime sem ofensa ao bem jurídico protegido pela norma penal. 
 
IV- No direito penal democrático só se punem fatos. Ninguém pode ser punido pelo que é, 
mas apenas pelo que faz. 
 
V- O princípio da coculpabilidade reconhece que o Estado também é responsável pelo 
cometimento de determinados delitos, praticados por cidadãos que possuem menor 
âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto, principalmente 
no que se refere às condições sociais e econômicas do agente. 
 
Pode-se afirmar que: 
 a) todas as assertivas estão corretas. 
 b) somente duas das assertivas estão corretas. 
 c) somente duas das assertivas estão erradas 
 d) estão erradas as de número II e III. 
 e) somente a de número I está errada. 
 
19 - Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem Unificado - 1 - Primeira Fase 
(Mai/2009) 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Princípios; 
Acerca do significado dos princípios limitadores do poder punitivo estatal, assinale a 
opção correta. 
 
 
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 a) Segundo o princípio da culpabilidade, o direito penal deve limitar-se a punir as ações 
mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes, ocupando-se somente 
de uma parte dos bens protegidos pela ordem jurídica. 
 b) De acordo com o princípio da fragmentariedade, o poder punitivo estatal não pode 
aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a 
constituição físico-psíquica dos condenados por sentença transitada em julgado. 
 c) Segundo o princípio da ofensividade, no direito penal somente se consideram típicas 
as condutas que tenhamcerta relevância social, pois as consideradas socialmente 
adequadas não podem constituir delitos e, por isso, não se revestem de tipicidade. 
 d) O princípio da intervenção mínima, que estabelece a atuação do direito penal como 
ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a 
criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a 
proteção de determinado bem jurídico. 
 
20 - Prova: CESPE - 2008 - PC-TO - Delegado de Polícia 
Prevê a Constituição Federal que nenhuma pena passará da pessoa do condenado, 
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos 
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor 
do patrimônio transferido. Referido dispositivo constitucional traduz o princípio da 
intranscendência. 
 Certo Errado 
 
GABARITO OFICIAL: 
 
1-E 2-D 3-C 4-B 5-E 6-C 7-A 8-D 9-E 10-E 
11-C 12-D 13-D 14-C 15-E 16-B 17-A 18-A 19-E 20-C 
 
 
 
CAPÍTULO 2 – DA LEI PENAL 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: 
 
A lei penal, que é a positivação da norma penal, é composta de duas partes: o preceito, 
também dito preceito primário e a sanção, também denominada preceito secundário. 
 
A lei penal não é proibitiva, mas descritiva, pois se utiliza da técnica de descrever a 
conduta, associando-a a uma pena. Exemplo: o molde do crime de homicídio, definido no 
art. 121, do código penal: “matar alguém”. 
 
2. ESPÉCIES DE LEI PENAL: 
 
Lei penal incriminadora e não incriminadora. A primeira descreve a figura típica e comina 
a pena. A segunda não descreve crime, nem comina pena. A norma penal não 
incriminadora divide-se em: Permissivas – tornam lícitas determinadas condutas 
tipificadas em leis incriminadoras. Exemplo: estado de necessidade e legítima defesa (art. 
23 do CP). Finais, complementares ou explicativas – esclarecem o conteúdo de outras 
 
 
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normas e delimitam o âmbito de sua aplicação. Ex. os artigos da parte geral do CP, à 
exceção dos que tratam da exclusão de ilicitude. 
 
3. CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL: 
 
A) ESCLUSIVIDADE: porque somente ela pode definir crimes e cominar as sanções 
correspondentes; 
 
B) ANTERIORIDADE: deve está em vigor antes do cometimento do fato típico, salvo 
nos casos da retroatividade da lei mais benéfica para o réu. 
 
C) IMPERATIVIDADE: a violação do preceito primário acarretará a imposição de pena 
ou medida de segurança, tornando o seu comando, portanto, obrigatório. 
 
D) GENERALIDADE: porque está destinada a todos, mesmo aos inimputáveis, que 
estão sujeitos a medidas de segurança 
 
E) IMPESSOALIDADE: recai abstratamente a fatos futuros, para qualquer pessoa que 
venha a praticá-los. Excepcionando essas regras às leis que prevêem anistia e a 
abolitio crimines, as quais alcançam fatos concretos. 
 
4. NORMA PENAL EM BRANCO: 
 
Norma penal em branco, também denominada norma penal imperfeita, cega ou aberta, 
são aquelas em que a sanção é determinada, contudo, o seu preceito primário é 
incompleto, exigindo complementação, seja por outra lei, seja por ato da Administração 
Pública. 
 
A doutrina a divide em duas espécies: 
 
a) Norma penal em branco em sentido lato: quando o complemento tem a mesma 
natureza jurídica. P.ex.: Art. 169, parágrafo único, inciso I do Código Penal, ao 
mencionar a palavra “tesouro”, exige que seja complementado pelo Código Civil, 
pois lá se encontra a definição de tesouro (art. 1.264 do CC). 
 
b) Norma penal em branco em sentido estrito: quando o complemento tem natureza 
jurídica diversa. P.ex.: é o caso dos crimes da Lei 11.343/06, que o conceito de 
entorpecente deve ser encontrado pela portaria da Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (Portaria SVS/MS 344/98) 
 
5. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL: 
 
A interpretação da lei penal é a atividade consistente em identificar o alcance e significado 
da norma penal. A doutrina estabelece várias espécies de interpretação. Vejamos: 
 
a) Interpretação gramatical: Também chamada de literal ou sintática, é aquela 
fundada nas regras gramáticas, levando em consideração o sentido literal das 
palavras. 
 
 
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b) Igualmente chamada teleológica, é aquela que procura descobrir a vontade do 
legislador, assim como a finalidade com a qual a lei foi editada. 
 
c) Interpretação declarativa: É aquela que dá à lei o seu sentido literal, sem extensão 
nem restrição, correspondendo exatamente ao intuito do legislador. 
 
d) Interpretação restritiva: É aquela que, concluindo ter dito mais do que queria o 
legislador, restringe seu sentido. Aos limites da norma. 
 
e) Interpretação extensiva: É aquela que, concluindo ter a lei dito menos que queria o 
legislador, estende seu sentido para que corresponda ao da norma. Duas espécies 
de interpretação extensiva se apresentam: a interpretação extensiva ampliativa e a 
interpretação extensiva analógica. Em regra, o sentido da lei, em matéria penal, 
não pode ser estendido, ampliado, sob pena de se atentar contra o princípio da 
reserva legal. Excepcionalmente, entretanto, admiti-se a interpretação extensiva, 
havendo aqueles doutrinadores que defendem a aplicação do princípio in dúbio pro 
reo sempre a interpretação. 
 
OBS.: DIFERANÇAS ENTRE INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E ANALOGIA: Não se 
pode confundir analogia com interpretação analógica ou extensiva. A analogia é técnica 
de integração, vale dizer, recurso de que se vale o operador do direito diante de uma 
lacuna no ordenamento jurídico. Já a interpretação, seja ela extensiva ou analógica, 
objetiva desvendar o sentido e o alcance da norma, para então definir-lhe, com certeza, a 
sua extensão. A norma existe, sendo o método interpretativo necessário, apenas, para 
precisar-lhe os contornos. 
 
A interpretação analógica é uma operação intelectual consistente em revelar o conteúdo 
da lei, quando esta utiliza expressões genéricas, vinculadas a especificações. Não há 
criação de norma, mas, exclusivamente, a pesquisa de sua extensão. Assim, no homicídio 
qualificado por motivo torpe: “Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro 
motivo torpe”. O legislador, depois de mencionar expressamente uma hipótese de torpeza 
(paga ou promessa de recompensa), utiliza expressão genérica, com o que fica 
abrangido, pela norma, qualquer caso estigmatizado pela torpeza. Por outro lado a 
analogia é basicamente fazer incidir uma lei em uma hipótese por ela não prevista. Nesse 
sentido, em termos conclusivos, devemos saber que a interpretação analógica e extensiva 
é permitida no Direito Penal, diferentemente da analogia que, em regra, não é admitido, 
salvo quando em benefício do réu. 
 
6. LEI PENAL NO TEMPO: 
 
Lei penal no tempo 
 
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
 
 
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Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada 
em julgado 
 
6.1 – INTRODUÇÃO: 
 
Assim como nenhuma forma de manifestação de vida consegue evitar a ação corrosiva e 
implacável do tempo, a lei penal também NASCE, VIVE E MORRE. A lei em sua eficácia, 
não alcança os fatos ocorridos antes ou depois dos dois limites extremos: não retroage 
nem tem ultra-atividade. 
 
Esse é o principio "TEMPUS REGIT ACTUM - O TEMPO REGE O ATO", ou seja, a lei 
aplicável à repressão da prática do crime é a lei vigente ao tempo de sua execução. 
 
Essa é uma garantia do cidadão: além da segurança jurídica, garante-se-lhe que não será 
surpreendido por leis "adhoc", criminalizando condutas, inclusive a "posteriori",que até 
então não eram tipificadas como crime. 
 
O principio da IRRETROATIVIDADE PENAL, talvez um dos mais importantes em matéria 
de aplicação da lei penal, já era defendido pelos integrantes da Escola Clássica. A 
despeito da importância político-constitucional, nem sempre esse princípio recebeu apoio 
incondicional dos grandes pensadores. Contudo, o dinamismo do Direito Penal, que 
procura acompanhar a evolução dos povos, percebeu que, ao menos em tese, as leis 
novas são melhores que as mais antigas e teriam melhores condições para fazer justiça. 
 
Essa natureza dinâmica do Direito determinou a necessidade de conciliar, no âmbito da 
sucessão de leis no tempo, o principio "TEMPUS REGIT ACTUM" com o da "APLICAÇÃO 
DA LEI POSTERIOR", sempre que for mais favorável ao indivíduo. 
 
Diante dessa necessidade, determinou-se que "a lei penal não retroage, SALVO, para 
beneficiar o infrator", que finalmente foi recepcionado pela Constituição Federal do Brasil 
de 1988 (art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu). 
 
A parte geral do Código Penal de 1940 adotou expressamente essa orientação 
prescrevendo no parágrafo único do seu art. 2º: "A lei posterior, que de qualquer modo 
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença 
condenatória transitada em julgado". 
 
6.2 - PRINCIPIOS DA LEI PENAL NO TEMPO 
 
Alguns princípios do chamado direito intertemporal procuram resolver as questões que 
naturalmente surgem com a sucessão das leis penais no tempo. 
 
6.2.1 – IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL: 
 
Existe uma REGRA dominante em termos de conflito de leis penais no tempo. É a da 
IRRETROATIVIDADE da lei penal, sem a qual não haveria segurança nem liberdade na 
 
 
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sociedade, em flagrante desrespeito ao principio da legalidade e da anterioridade da lei, 
consagrado pelo art. 1º do CP - "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena 
sem prévia cominação legal" e no art. 5º, XXXIX da CF - "não há crime sem lei anterior 
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal". 
 
Esse fundamento de proibição, como sustenta Jescheck, é a idéia de SEGURANÇA 
JURIDICA, que se consubstancia num dos princípios reitores do Estado de Direito, 
segundo o qual as normas que regulam as infrações penais não podem modificar-se após 
as suas execuções em prejuízo ao cidadão. 
 
Ademais, o princípio da irretroatividade da lei penal, também tem a finalidade de proteger 
o individuo contra o próprio legislador, impedindo-o de criminalizar novas condutas, já 
praticadas por aquele, que, desconhecendo tal circunstancia, não tem como nem porque 
evitá-la. 
 
Na verdade a irretroatividade penal é corolário do principio da anterioridade da lei penal, 
segundo o qual uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a determinado 
fato concreto caso estivesse em vigor antes da sua prática. Esse principio, conhecido 
como "NULLUM CRIMEN, NULLA POENA SINE PRAEVIA LEGE", que foi cunhado por 
Feuerbach no início do século XIX, encontra-se insculpido no art. 1º do nosso Código 
Penal e acabou recepcionado pela atual Constituição brasileira, como foi anteriormente 
dito. Observação: ESSE PRINCÍPIO LIMITA-SE ÀS NORMAS PENAIS DE CARÁTER 
MATERIAL, ENTRE AS QUAIS SE INCLUEM AQUELAS RELATIVAS ÀS MEDIDAS DE 
SEGURANÇA, QUE INDISCUTIVELMENTE, INTEGRAM A SEARA DO DIRIETO PENAL 
MATERIAL. 
 
6.2.2 – PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE E DA ULTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL 
MAIS BENÉFICA: 
 
No conflito de leis penais no tempo, é indispensável investigar qual a que se apresenta 
mais favorável ao individuo tido como infrator. A lei ANTERIOR, quando for mais 
FAVORÁVEL, terá ULTRATITVIDADE e prevalecerá mesmo ao tempo de vigência da lei 
nova, apesar de já estar revogada. 
 
O inverso também é verdadeiro, isto é, quando a lei POSTERIOR for mais BENÉFICA, 
RETROAGIRÁ para alcançar fatos cometidos antes de sua vigência. Observação: O 
princípio da irretroatividade vige, com efeito, somente em relação à lei mais severa. 
 
É de total admissão, a aplicação retroativa da lei mais benigna, hoje princípio consagrado 
na nossa Constituição Federal (art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para 
beneficiar o réu). Assim, pode-se resumir o conflito do direito intertemporal no seguinte 
principio: o da RETROATIVIDADE DA LEI MAIS BENIGNA. 
 
A lei penal mais benéfica, repetindo, NÃO só é RETROATIVA, mas também ULTRATIVA. 
A eficácia ultrativa da norma mais benéfica deve prevalecer sempre que, havendo 
sucessão de leis penais no tempo, constatar-se que o diploma legal anterior era mais 
benéfico ao agente. 
 
 
 
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Esses dois princípios aos quais mencionamos acima se aplicam às normas de Direito 
Penal material, tais como nas hipóteses de reconhecimento de causas extintivas da 
punibilidade, tipificação de novas condutas, cominação de penas, alteração de regimes de 
cumprimento de penas, ou qualquer norma penal que, de qualquer modo, agrave a 
situação jurídico-penal do indiciado, réu ou condenado, conforme reconheceu o próprio 
STF. 
 
No entanto, quando a lei posterior for mais grave, não retroagirá, sendo a lei anterior que 
adquira ultra-atividade, devendo ser aplicada, mesmo na vigência de outra lei. As 
prováveis hipóteses de choques entre lei nova e anterior são as seguintes: 
 
a) ABOLITIO CRIMINIS: Ocorre "abolitio criminis" quando a lei nova deixa de considerar 
crime, um fato anteriormente tipificado como ilícito penal (crime). A nova lei retira a 
característica de ilicitude penal de uma conduta precedentemente incriminada. A "abolitio 
criminis" configura uma situação de lei penal posterior mais benigna, que deve atingir, 
inclusive, fatos definitivamente julgados, mesmo em fase de execução. A ABOLITIO 
CRIMINIS FAZ DESAPARECER TODOS OS EFEITOS PENAIS, PERMANECENDO OS 
CIVIS. Efeitos práticos da abolitio criminis: a) O inquérito policial ou processo são 
imediatamente trancados e extintos, uma vez que não há mais razão de existir; b) Se já 
houve sentença condenatória, cessam imediatamente sua execução e todos os seus 
efeitos penais, principais e secundários; c) Os efeitos extrapenais (art. 91 e 92 do CP) 
subsistem, pois o que disposto no art. 2º, caput, do CP nos mostra que cessam apenas os 
efeitos penais da condenação; Observação: Na hipótese de "abolitio criminis" não 
subsiste, na verdade, nem a execução da pena, que é um efeito principal, mesmo 
transitada em julgado - se o condenado já tiver cumprido a pena, inclusive, terá sua folha 
de antecedentes inteiramente corrigidas, para de ela afastar a condenação que existiu, 
por fato que não é mais crime. 
 
b) NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA: Ocorre "novatio legis incriminadora", quando se 
considera crime fato anteriormente não incriminado (ao contrário do "abolitio criminis"). A 
NOVATIO LEIS INCRIMINADORA É IRRETROATIVA E NÃO PODE SER APLICADA A 
FATOS PRATICADOS ANTES DA SUA VIGÊNCIA - segundo o velho aforismo: "nullum 
crimen sine praevia lege" e o que é postulado na nossa CF em seu art.5º, XXXIX - e 
também no nosso CP em seu art. 1º. Suponhamos que o autor de um fato que antes não 
era considerado crime, se depare com a tipificação desse fato por nova norma 
estabelecida. 
 
c) NOVATIO LEGIS IN PEJUS: A lei posterior que de qualquer modo agravar a situação 
do sujeito não retroagirá (art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, SALVO para beneficiar o 
réu). Se, por exemplo, houver um conflito entre duas leis, a anterior, mais benigna, e a 
posterior, mais severa, aplica-se-á a mais benigna: a anterior será ULTRA-ATIVA, por sua 
benignidade, e a posterior será IRRETROATIVA, por sua severidade. - A lei posterior ou 
anterior, que seja menos favorável, denomina-se LEX GRAVIOR, e não pode ser aplicada 
aos fatos ocorridos antes de sua vigência. 
 
OBS.: SÚMULA 711 DO STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuadoou ao 
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência. 
 
 
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d) NOVATIO LEGIS IN MELLIUS: Ocorre "novatio legis in mellius" quando lei nova, 
mesmo sem descriminalizar, dê tratamento mais favorável ao sujeito. Mesmo que a 
sentença condenatória se encontre em fase de execução, prevalece a LEX MITIOR que, 
de qualquer modo, favorece o agente - é o que dispõe o art. 2º, parágrafo único do CP: A 
lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, 
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Analisemos agora 
a terminologia LEX MITIOR e sua aplicação, no que tange os conflitos de normas no 
tempo: A LEX MITIOR - seja abolitio criminis, seja qualquer alteração in mellius - retroage 
e aplica-se imediatamente aos processos em andamento, aos fatos delituosos cujos 
processos ainda não foram iniciados, e, inclusive, aos processos com decisão 
condenatória já transitada em julgado. 
 
Obs.: APLICAÇÃO DA NOVATIO LEGIS IN MELLIUS E DA ABOLITIO CRIMINE NO 
PERÍODO DE VACATIO LEGIS: Existem duas posições doutrinárias em relação a essa 
evidente questão, a primeira é que se faz necessário a aplicação da norma, se for 
benéfica ao individuo mesmo em período de vacância, e a outra posição diz justamente o 
contrário. Para a primeira corrente, no momento em que é publicado um novo texto legal, 
este passa a existir no mundo jurídico, representando o novo pensamento do legislador 
sobre o tema de que se ocupa, sendo evidentemente produto de novas valorações 
sociais. Assim, não sendo possível ignorar a existênc;ia do novo diploma legal, bem como 
as transformações que ele representa no ordenamento jurídico-penal, a sua IMEDIATA 
EFICÁCIA É INÉGAVEL, e não pode ser obstaculizada a sua aplicação retroativa quando 
configurar lei penal mais benéfica, MESMO QUE AINDA SE ENCONTRE EM "VACATIO 
LEGIS". A segunda corrente, defendida por Delmanto, Damásio e Frederico Marques que 
a lei nova, em período de VACATIO LEGIS NÃO ESTÁ EM VIGOR, motivo pelo qual as 
relações sociais encontram-se sob regência da lei antiga. Somente quando uma lei deixa 
de vigorar, outra lhe pode ocupar o espaço, produzindo efeitos. ESSA POSIÇÃO SERIA A 
MAIS ACEITA, pois não se compreende que uma norma tenha validade para beneficiar 
réus em geral, mas não possa ser aplicado ao restante da população, o que não ocorreria 
se a primeira posição fosse adotada. 
 
OBS.: AUTORIDADE JUDICIÁRIA COMPETENTE PARA APLICAR A LEI PENAL MAIS 
BENÉFICA: Em síntese, podemos concluir que dependerá do caso concreto. Vejamos: 
 
a) JUIZ DE PRIMEIRO GRAU - processo de conhecimento: é quando o processo 
criminal encontra-se em andamento, até a prolatação da sentença. Com a 
publicação da sentença O JUIZ ESGOTA sua atividade jurisdicional, NÃO 
PODENDO ATUAR NO PROCESSO. 
 
b) FASE RECURSAL - instância superior: encontrando-se o processo em grau de 
recurso, a competência para examinar a hipótese de lei penal mais benéfica, 
anterior ou posterior, é do Tribunal ao qual se destina o recurso, mesmo que os 
autos não tenham subido. 
 
c) FASE EXECUTÓRIA - com o transito em julgado: nesta hipótese, podem-se citar 
duas orientações a respeito. Nessa hipótese, podem-se criar duas orientações. 1. 
CABE AO JUIZ DA EXECUÇÃO PENAL, segundo dispõe a súmula 611 do STF, 
 
 
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quando a lei mais benigna consistir em lei nova o art 13 da LICPP dispõe, e ao art 
66,I, da LEP: que tem os seguintes enunciados: SÚMULA 611, STF: Transitada em 
julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de 
lei mais benigna. 
 
OBS.: COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS: questão tormentosa a ser analisada no conflito 
intertemporal: na busca da lei mais favorável é possível CONJUGAR os aspectos 
favoráveis da lei anterior com os aspectos favoráveis da lei posterior? Vejamos uma 
interessante discussão que chegou a apreciação do STF: 
 
Em recente julgamento, os ministros do STF discutiram acirradamente sobre a viabilidade 
jurídica da chamada combinação de leis em casos de tráfico de drogas. O problema: a 
antiga lei de drogas (Lei 6.638/76) estabelecia para o traficante uma pena de 3 a 15 anos 
de prisão, e não previa qualquer causa de diminuição desta mesma pena. O novo texto 
legal (Lei 11.343/06) fixou uma pena maior para o traficante (5 a 15 anos) mas, por outro 
lado, criou uma causa de diminuição de 1/6 a 2/3 se o réu for primário, tiver bons 
antecedentes e não integrar organização criminosa (art.33, §4º). 
 
Em outras palavras: se a nova lei, por um lado, é prejudicial ao réu, vez que aumenta a 
pena, por outro é benéfica, porque cria minorante antes inexistente. 
 
O centro do debate: a Constituição e o Código Penal apontam que a lei penal não 
retroage, salvo para beneficiar o réu. No caso, parte da nova lei beneficia o réu (criação 
de uma causa de diminuição) e parte o prejudica (aumento da pena). A questão: é 
possível fazer retroagir apenas os dispositivos mais benéficos e impedir a aplicação dos 
mais graves? Eis a discussão no RE 596152/SP no STF. 
 
A discussão não é nova, vez que a suposta combinação de leis já foi debatida quando da 
alteração das regras de livramento condicional (STF, HC 68416) e das modificações do 
art.366 do CPP sobre citação por edital (embora aqui a discussão misture questões 
penais com processuais), dentre outros casos. 
 
No caso da lei de drogas, os ministros Lewandowski, Carmen Lucia, Joaquim Barbosa, 
Luiz Fux e Marco Aurélio decidiram pela unidade legal. Reconheceram que a lei penal 
mais benéfica retroage, mas negaram a possibilidade da retroação em partes ou em tiras, 
com base em doutrina de Hungria Aníbal Bruno, Heleno Cláudio Fragoso, Jair Leonardo 
Lopes, Paulo José da Costa Júnior, Von Lizt, Claus Roxin. Para eles, ou bem se aplica a 
nova lei na integra – com a pena maior e com a causa de diminuição — ou vale a lei 
anterior, também na integra – com a pena menor e sem a causa de diminuição. A 
retroação de apenas parte da lei, e sua mescla com dispositivos do texto anterior, criaria 
uma terceira lei incompatível com a vontade do legislador. 
 
Os ministros Ayres Britto, Cesar Peluso, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello 
entenderam de outra forma. Para eles, será impossível aplicar a pena mais grave da nova 
lei porque evidentemente prejudicial ao réu, mas é perfeitamente adequada a causa de 
diminuição porque tal novidade beneficia o acusado. O juiz — no caso concreto — não 
criaria uma nova lei, “mas se movimentaria dentro dos quadros legais para uma tarefa de 
integração perfeitamente possível” (voto Min. Peluso). Na doutrina, adotam posição 
 
 
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semelhante Cezar Bittencourt, Magalhães Noronha, José Frederico Marques, Francisco 
de Assis Toledo, Damásio de Jesus e Celso Delmanto. 
 
Mas o debate está longe do fim. A controvérsia no STF resultou em empate (5x5). O 
empate beneficia o réu (RISTF, art.146), razão pela qual prevaleceu a segunda posição, 
que admite a combinação de leis, mas o assunto não é pacífico e deve retornar à pauta 
da Corte em breve. 
 
No STJ há decisão que impossibilitou a combinação: STJ – 3ª S. – I 432: “a verificação da 
lex mitior no confronto de leis é feita in concreto, pois a norma aparentemente mais 
benéfica em determinado caso pode não sê-lo em outro. Daí que, conforme a situação, há 
retroatividade da norma nova ou a ultra-atividade da antiga (princípio da extra-atividade). 
Isso posto, o § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, não pode ser combinado ao conteúdo 
do preceito secundário do tipo referente ao tráfico previsto no art. 12 da Lei n. 6.368/1976, 
a gerar terceira norma, não elaborada e jamais prevista pelo legislador. A aplicação dessa 
minorante, inexoravelmente, aplica-se somente em relação à pena prevista no caput do 
art.33 da nova lei. Dessarte, há que se verificar, caso a caso, a situação mais vantajosa 
ao condenado, visto que, conforme apregoam a doutrina nacional, a estrangeira e a 
jurisprudência prevalecente no STF, jamais se admite a combinação dos textos para criar 
uma regra inédita” (EREsp 1.094.499 – 28/4/2010). 
 
OBS.: RETROATIVIDADE DA LEI PROCESSUAL Em regra, as normas processuais são 
publicadas para vigorar de imediato, aplicando-se a todos os atos ainda não praticados e 
atingindo, por conseguinte, alguns fatos ocorridos antes de sua vigência. Entretanto, 
existem normas processuais penais que possuem íntima relação com o direito penal, 
refletindo diretamente na punição ao réu. Em virtude disso, a doutrina busca classificar as 
normas processuais em: a) NORMAS PROCESSUAIS PENAIS MATERIAIS: trata de 
temas ligados ao "status libertatis" do acusado, e devem estar submetidas ao principio da 
retroatividade benéfica; b) NORMAS PROCESSUAIS PENAIS PROPRIAMENTE DITAS: 
por essas serem vinculadas ao procedimento, aplicam-se de imediato e não retroagem, 
mesmo que terminem por prejudicar o acusado; Entende-se no âmbito do direito 
intertemporal, como lei processual aquela que disciplina o processo e o procedimento, 
sem relação direta com o direito de punir do estado. É importante frisar que o principio 
"TEMPUS REGIT ACTUM" aplica-se, sem exceção, tão somente às normas que regem a 
realização dos atos processuais. Como foi citado acima, o principio da irretroatividade da 
lei penal limita-se às normas penais de caráter material. Sustenta-se também, que são 
alcançadas pela irretroatividade aquelas normas conhecidas como híbridas(de caráter 
secundário), ou seja, as leis penais que disciplinam matéria tanto de natureza penal 
quanto de natureza processual penal. 
 
6.3 - LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS: 
 
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua 
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato 
praticado durante sua vigência. 
 
 
 
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As leis excepcionais e temporárias são leis que vigem por período predeterminado, pois 
nascem com a finalidade de regulares circunstâncias transitórias especiais que, em 
situação normal, seriam desnecessárias. Essas leis que são formuladas para durar um 
período. 
 
a) LEI TEMPORÁRIA: é aquela cuja vigência vem previamente fixada pelo legislador, 
portanto são dotadas de auto-revogação. 
 
b) LEI EXCEPCIONAL: é aquele que vige durante situações de emergência, ou seja, 
em um estado anormal. 
 
As leis temporárias e excepcionais, nos termos do art. 3º do CP, TÊM ULTRA-
ATIVIDADE, ou seja, continuam a produzir efeitos aos fatos praticados durante a sua 
época de vigência, ainda que tenham sido revogadas. Frederico Marques, analisando o 
conteúdo e a estrutura dessas leis, afirmava que: "por ter sido elaborada em função de 
acontecimentos anormais, ou em razão de uma eficácia previamente limitada no tempo, 
não se pode esquecer que a própria tipicidade dos fatos cometidos sob seu império inclui 
o fator temporal como pressuposto da ilicitude punível ou da gravação da sanção". O 
objetivo é manter o seu poder intimidativo. 
 
A LEX MITIOR que for promulgada ulteriormente para um crime que a lei temporária pune 
mais severamente, NÃO RETROAGIRÁ porque as situações tipificadas são diversas. 
Lembre-se: As leis excepcionais ou temporárias são leis que não respeitam a regra 
prevista no art. 2º do CP, ou seja, aquele princípio da retroatividade benéfica. Se o 
fizessem seriam inócuas, pois cessado o prazo de sua vigência, todos os criminosos que 
estivessem sendo punidos pela prática de infrações penais nesse período excepcional ou 
temporário teriam benefícios. 
 
6.4 - RETROATIVIDADE E LEIS PENAIS EM BRANCO Bem, a maioria das normas 
penais incriminadoras, ou seja, aquelas que descrevem as condutas típicas, compõe-se 
de normas completas, integrais, possuindo preceitos e sanções; conseqüentemente, 
referidas de normas completas, integrais, possuindo preceitos e sanções. Enfim, referidas 
normas, podem ser aplicadas sem a complementação de outras. 
 
Existem, contudo, algumas normas incompletas, com preceitos genéricos ou 
indeterminados, que precisam da complementação de outras normas, sendo conhecidas, 
por isso mesmo como NORMAS PENAIS EM BRANCO. 
 
Na linguagem figurada de Binding, "a lei penal em branco é um corpo errante em busca 
de sua alma". Características das normas penais em branco: a) São normas de conteúdo 
incompleto; b) São normas de conteúdo vago; c) São normas de conteúdo impreciso - 
denominadas normas imperfeitas; 
 
A falta ou a inexistência dessa dita norma complementadora impede que a descrição da 
conduta proibida, se complete, ficando em aberto a descrição típica; dito de outra forma, a 
norma complementar e uma lei penal em branco, integram o próprio tipo penal, uma vez 
que esta é imperfeita, e, por conseguinte, incompreensível por não se referir a uma 
conduta juridicamente determinada e, faticamente, identificável. 
 
 
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As normas penais em branco, quanto ao seu complemento, dividem-se em: a) Normas 
impropriamente em branco: são aquelas em sentido lato, e que há homogeneidade de 
fontes legislativas, ou seja, são as que possuem o complemento em norma de igual 
hierarquia. Nessa hipótese, a fonte encarregada de elaborar o complemento é a mesma 
fonte da norma penal em branco; b) Normas propriamente em branco: são aquelas em 
sentido estrito, e que há heterogeneidade de fontes legislativas, ou seja, são as que o 
complemento é aplicado por órgão diverso, buscando o complemento em norma de 
inferior hierarquia. Ao entendimento de Guilherme Nucci, somente podem ser 
denominadas normas penais em branco aquelas que são especificas quanto à pena - 
jamais delegando a sua fixação abstrata a outro órgão legiferante que não seja penal - 
bem como indeterminadas quanto ao seu conteúdo, que, entretanto, é encontrado em 
outra norma extrapenal, perfeitamente inteligível. 
 
7. TEMPO DO CRIME: 
 
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que 
outro seja o momento do resultado 
 
A lei em si já sintetiza a teoria adotada pelo Código Penal, que é a da atividade. A 
doutrina também destaca a existência da teoria do resultado e a mista (nas quais se 
considera praticado o crime no momento do resultado ou no momento da ação e do 
resultado, simultaneamente). No entanto, no Brasil, considera-se praticado o crime no 
momento em que o autor do fato praticou a conduta, sendo irrelevante o momento em que 
se deu o resultado. 
 
Exemplo: 
- Vítima atingida por disparo de arma de fogo vem a falecer dois dias após o fato, 
considera-se praticado o crime no momento em que a vítima foi atingida e não no 
momento em que faleceu. 
 
Excepcionalmente, contudo, para efeitos da contagem da prescrição e da decadência, o 
Código Penal não adotou a teoria da atividade. Na prescrição, tal como se extrai do art. 
111 do CP, adotou-se a teoria do resultado, no qual o lapso temporal começa ocorrer a 
partir da consumação. Já na decadência, o lapso temporal começa a contar a partir do 
momento que a vítima toma conhecimento do autor do delito. 
 
8. APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO: 
 
As leis são elaboradas para ser aplicadas no território do Estado que as elaborou. A lei 
brasileira, no Brasil, a japonesa, no Japão. O mundo, todavia, não é um conjunto de 
compartimentos estanques. As pessoas comunicam-se, interagem, independentemente 
das fronteiras nacionais. Os homens relacionam-se apesar das várias nações. Assim 
como se rompem barreiras no sentido de uma sociedade futura sem limitações, sem 
preconceitos, também a outra face da moeda se faz notar: a criminalidade, igualmente, 
não respeita as fronteiras dos países. 
 
 
 
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Cometem-secrimes à distância. Comportamento realizado no Brasil pode produzir efeitos 
no Paraguai, na China e na Noruega, ao mesmo tempo, no mesmo dia. Com um gesto 
realizado em Hong-Kong, um homem pode apropriar-se de dinheiro depositado num 
banco situado em Berna, de propriedade de pessoas residentes em Berlim, Cingapura, 
Brasília e Paris. 
 
Uma única ação realizada num ponto do planeta, num Estado, vai produzir efeito noutro, 
importando na lesão de bens cujos titulares são nacionais de quatro outros Estados 
distintos. 
À medida que mais se desenvolvem as relações entre os vários povos, mais facilmente 
podem ocorrer crimes. 
 
Conflitos de leis de vários Estados podem estabelecer-se e devem ser resolvidos. São 
necessárias regras para dirimir eventuais situações de perplexidade. Onde ocorreu o 
crime? Qual lei aplicar? Como fazer? 
 
8.1 – LUGAR DO CRIME: 
 
A primeira tarefa é definir onde ocorreu o crime. No lugar onde a conduta foi realizada, ou 
onde o resultado aconteceu? Imagine-se a seguinte hipótese, bem simples. Eduardo, da 
cidade de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, efetua um disparo de arma de 
fogo em direção ao outro lado da rua, atingindo a pessoa de Pablo, cidadão uruguaio, que 
se encontra na cidade de Rivera, produzindo-lhe ferimentos que dão causa a sua morte, 
que ali ocorre, imediatamente. 
 
As duas cidades situam-se exatamente na fronteira entre Brasil e Uruguai, separadas por 
alguns poucos metros de uma simples rua. A conduta ocorreu no Brasil, o resultado, no 
Uruguai. Onde ocorreu o crime: lá ou cá? A hipótese, bastante simples, torna-se cada vez 
mais comum e sofisticada, com o uso do computador e das comunicações telefônicas e 
por satélite, pela Internet, especialmente com o tráfico internacional de entorpecentes, e 
outros crimes que envolvem o sistema financeiro internacional. 
 
Três teorias buscam explicar o lugar do crime: a da atividade, que o considera praticado 
no lugar do comportamento, a do resultado, que leva em conta o lugar onde ocorre a 
conseqüência do comportamento, e a mista, ou da ubiqüidade, que considera praticado o 
crime num como noutro lugar, tanto lá, quanto cá. Aqui, diferentemente do raciocínio 
realizado quando se tratou do tempo do crime, é preciso pensar na seguinte hipótese: no 
país A, vigora a teoria da atividade e no país B, a teoria do resultado. 
 
No país B, Cláudio dispara um tiro de revólver contra Antônio que, ferido, é transportado 
para o país A, onde vem a falecer. ‘Houve um homicídio, é óbvio, pois Cláudio queria e 
conseguiu matar Antônio. Onde ocorreu o crime de homicídio? Se no país B, onde 
aconteceu a conduta, vige a teoria do Resultado, o Direito desse país considera que aí 
não aconteceu o crime, pois Antônio não morreu aí. Apenas Cláudio realizou a conduta. 
Se no país A, onde aconteceu o resultado, vale a teoria da atividade, o direito desse país 
considera que aí não aconteceu o crime, pois Cláudio não realizou nenhum 
comportamento aí. O que houve foi o resultado, a morte de Antônio. Apesar de Cláudio ter 
agido com vontade de matar e de Antônio ter morrido em conseqüência do 
 
 
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comportamento daquele, o crime não terá acontecido em nenhum lugar, o que equivale a 
dizer que não houve crime, o que é um absurdo. 
 
Por isso, o Código Penal brasileiro adota a teoria da ubiqüidade, que é a correta, no art. 
6º, assim: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, 
no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.” 
 
No exemplo dado, o crime ocorreu no Brasil e no Uruguai. No outro exemplo, ocorreu nos 
dois lugares, A e B. Esta teoria evita a possibilidade de o crime ficar sem punição. É certo 
que ninguém será punido duas vezes, em dois países distintos, por um único fato, uma 
vez que há um princípio geral de Direito – escrito em alguns ordenamentos, inclusive no 
Código Penal (art. 8º) – que proíbe a dupla punição pelo mesmo fato, vedando o chamado 
bis in idem. 
 
8.2 - PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL INTERNACIONAL: 
 
Definido o lugar do crime, onde ocorreu a conduta e onde aconteceu o resultado, ainda 
assim permanece a possibilidade de conflitos. Pense-se na seguinte situação: o 
Presidente da República do Brasil, em viagem à China, tem sua liberdade pessoal 
agredida, por terroristas internacionais que o seqüestram, exigindo, do governo brasileiro, 
a libertação de certo prisioneiro. 
 
Trata-se, pois, da agressão de um bem jurídico da mais alta importância para o país – a 
liberdade pessoal do Chefe do Estado Brasileiro – realizada fora do território nacional. 
Qual lei será aplicada? Outra hipótese: Sérgio, brasileiro, comete um crime na Alemanha, 
e consegue fugir para o Brasil, antes de ser preso e processado. O governo alemão, 
desejoso de punir o brasileiro que violou sua lei penal, pede ao governo brasileiro que lhe 
entregue Sérgio, para que, em Bonn, seja julgado. O Brasil entregará seu cidadão? Outra 
situação. Quadrilhas internacionais realizam tráfico de drogas, praticando atos em locais 
situados em cinco países diferentes. Qual deles será o competente para julgar tais 
crimes? 
 
Para solucionar esses problemas, existem cinco princípios que cuidam do âmbito de 
eficácia espacial da lei penal de cada Estado. 
 
8.2.1 – PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE: 
 
O princípio da territorialidade, ou princípio territorial exclusivo, afirma que a lei penal do 
Estado aplica-se ao crime ocorrido dentro, e tão-somente dentro, do território do referido 
Estado. A lei penal só tem aplicação no território do Estado que a determinou, pouco 
importando a nacionalidade do infrator da norma e a do indivíduo ofendido. Por este 
princípio, a lei penal de um Estado nunca seria aplicada a um fato ocorrido no território de 
outro Estado. 
 
Se tiver havido um crime, em Brasília, praticado por um espanhol, contra um holandês, a 
lei a ser aplicada é a brasileira, pouco importando que as leis da Espanha ou da Holanda 
sejam mais favoráveis ou mais severas para o infrator da norma penal. Este princípio 
 
 
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exclui, portanto, a aplicação da lei penal de um Estado a um crime ocorrido no 
estrangeiro. 
 
8.2.2 - PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE 
 
Diz o princípio da nacionalidade que a lei penal do Estado será aplicada a seus cidadãos, 
onde quer que eles se encontrem. A razão do princípio é que o cidadão deve obediência à 
lei de seu país, ainda que fora dele se encontre. Se um brasileiro cometesse um crime na 
Hungria, aplicar-se-ia a lei brasileira. Do mesmo modo, se um cubano cometesse um 
crime no Brasil, a lei a ser aplicada seria a de Cuba. 
 
O princípio – apesar de ponderáveis razões em seu favor, especialmente as de ordens 
histórica, sociológica e psicológica – não resolve os problemas verificados. Como aplicar 
ao crime cometido no Brasil a lei da China? Onde seria ela aplicada, lá ou cá? A 
soberania dos Estados nacionais restaria gravemente violada. 
 
Impossível, ainda, a aplicação do princípio, irrestritamente, levando-se em conta a 
diversidade dos vários ordenamentos penais. Aquilo que é definido como crime num 
Estado pode não ser em outro, e vice-versa. Este princípio se desdobra em dois. Chama-
se princípio da nacionalidade ativa aquele segundo o qual se aplica a lei do Estado ao 
delinqüente, onde quer que ele se encontre. Já o princípio da nacionalidade passiva exige 
que, além de ser nacional o sujeito ativo do crime, seja nacional também o titular do bem 
jurídico atacado ou ameaçado de lesão. 
8.2.3 - PRINCÍPIO DA DEFESA OU PRINCÍPIO REAL: 
 
Este preceito leva em conta exclusivamente a nacionalidade do bem jurídico atacado, 
independentemente do local onde aconteceu o ataque, e da nacionalidade da vítima. 
 
Segundo o princípio, a lei penal do Estado seria aplicada ao crime praticado contra o bem 
jurídiconacional, onde quer que fosse o lugar do crime e independentemente da 
nacionalidade do delinqüente. 
 
Por ele, a lei brasileira seria aplicada ao crime cometido contra bem jurídico nacional, ou 
cujo titular fosse nacional, qualquer que fosse o lugar do crime. Se o automóvel de João, 
brasileiro, viesse a ser furtado na Argentina, por um argentino, equatoriano ou canadense, 
a lei brasileira seria aplicada. 
 
8.2.4 - PRINCÍPIO DA JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL: 
 
Pelo princípio da justiça penal, cada Estado poderia punir qualquer crime, seja qual fosse 
a nacionalidade de seus sujeitos ou o lugar de sua prática, bastando que o delinqüente 
ingressasse no território desse Estado. Se Pedro, brasileiro, cometesse um crime no 
Equador, contra um alemão, e fugisse para a Hungria, seria punido segundo a lei 
húngara. Se tivesse entrado na Dinamarca, ali seria julgado, conforme a lei 
dinamarquesa. 
 
Se este princípio pudesse ser adotado em todos os Estados, ficaria diminuída, em grande 
parte, a impunidade, pois a fuga seria inócua. Todavia, no atual estágio da organização 
 
 
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dos Estados, é praticamente impossível a adoção integral desse princípio. As dificuldades 
com a instrução dos processos, com a apuração dos fatos, aliadas à inexistência de um 
Direito Penal único, em todo o planeta, mantêm o princípio ainda no campo da utopia. 
 
8.3 – TERRITORIALIDADE: 
 
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de 
direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 1984) 
 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as 
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo 
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, 
no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 1984) 
 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de 
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se 
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo 
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. 
 
Para a resolução dos conflitos espaciais das leis penais, o Código Penal Brasileiro 
encontrou a fórmula mais utilizada entre todos os povos modernos. Adota o princípio da 
territorialidade como regra, e os demais princípios como exceção. Diz-se, por isso, que 
entre nós vigora a territorialidade temperada. 
 
Esta é a regra: a lei brasileira será aplicada aos crimes que forem cometidos dentro do 
território nacional. Excepcionalmente, poderá ser aplicada a crimes cometidos fora de 
nosso território. A propósito, importa, em primeiro lugar, conceituar, juridicamente, 
território. 
 
8.3.1 – TERRITÓRIO JURÍDICO: 
 
Território jurídico é todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania. O território 
nacional é o espaço terrestre, marítimo e aéreo, sujeito à soberania do Estado, quer seja 
compreendido entre os limites que o separam dos Estados vizinhos, ou do mar livre, quer 
esteja destacado do corpo territorial principal ou não. 
 
8.3.2 – EXTENSÃO DO TERRITÍRIO NACIONAL: 
 
São consideradas extensões do território nacional as embarcações e as aeronaves 
brasileiras públicas, ou a serviço do governo, onde quer que se encontrem. Os aviões da 
Força Aérea Brasileira, ou o de propriedade particular que estiver a serviço do governo 
brasileiro, são considerados extensão do território brasileiro, em qualquer parte do 
planeta, de modo que, ocorrendo um crime no interior de uma dessas aeronaves, mesmo 
que ela se encontre em pouso no aeroporto de qualquer nação do mundo, ou em vôo pelo 
 
 
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espaço aéreo sujeito à soberania de outro país, o crime terá ocorrido no território 
brasileiro, aplicando-se a ele, por isso, a lei brasileira. 
 
Igualmente, são consideradas extensões do território nacional as aeronaves e 
embarcações brasileiras mercantes privadas, quando se encontrarem no espaço aéreo 
correspondente ao alto-mar, local em que nenhuma nação exerce soberania. É a norma 
do art. 5º, § 1º, do Código Penal. 
 
Obviamente, as aeronaves e embarcações estrangeiras públicas, ou a serviço de 
governos estrangeiros, quando em pouso ou ancoradas em território brasileiro, ou mesmo 
no mar territorial e no espaço aéreo nacional, são consideradas território estrangeiro. 
 
E, como não poderia deixar de ser, havendo crime no interior de embarcações ou 
aeronaves estrangeiras privadas, quando no território brasileiro, ou no espaço aéreo ou 
no mar territorial, aplicar-se-á a lei brasileira. 
 
8.4 – EXTRATERRITORIALIDADE: 
 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, 
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
 
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que 
absolvido ou condenado no estrangeiro. 
 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das 
seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a 
extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. . 
 
 
 
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§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 
Excepcionalmente, a lei penal brasileira poderá ser aplicada a fatos ocorridos fora do 
território nacional. Pelas mais diferentes razões, em algumas situações particulares, 
torna-se indispensável que a lei brasileira seja aplicada a fatos ocorridos no estrangeiro. 
Em alguns casos, isso ocorrerá independentemente de qualquer condição. Noutros, a lei 
exige algumas condições para que possa ser aplicada ao fato ocorrido fora do Brasil. 
 
Vejam-se, primeiramente, os casos de crimes que, ocorridos no estrangeiro, ficarão 
sujeitos à lei brasileira, independentemente de qualquer condição. 
 
8.4.1 – EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA: 
 
Dispõe o art. 7º, I, do Código Penal, que ficarão sujeitos à lei brasileira, embora cometidos 
no estrangeiro, os seguintes crimes: a) praticados contra a vida ou a liberdade do 
Presidente da República. Se o Chefe do Estado brasileiro, em viagem ao exterior, vier a 
tornar-se vítima de homicídio (art. 121, CP), tentativa de homicídio (art. 121, c/c 14, II, 
CP), ameaça (art. 147, CP), seqüestro e cárcere privado (art. 148, CP), constrangimento 
ilegal (art. 146, CP), a lei penal brasileira será aplicada. Trata-se da adoção do princípio 
da defesa, pois se leva em conta a nacionalidade do bem jurídicoe, é óbvio, a sua 
importância. 
 
 A vida e a liberdade do Chefe da Nação são bens da mais alta consideração, não em 
razão da pessoa do Presidente, mas da função que exerce: b) os crimes contra o 
patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, das unidades federadas, dos 
municípios, de empresas públicas, sociedades de economia mista, autarquias ou 
fundações instituídas pelo Poder Público. Incluem-se entre tais crimes: roubo (art. 157, 
CP), furto (art. 155, CP), estelionato (art. 171, CP), falsificação de moeda (art. 289, CP), 
falsidades de títulos públicos (art. 293, CP) e outras falsidades. c)os crimes contra a 
administração pública, por quem estiver a seu serviço, como, por exemplo, o peculato (art. 
312, CP) e a concussão (art. 316, CP); d) os crimes de genocídio, quando o agente for 
brasileiro ou domiciliado no Brasil. 
 
Os crimes de genocídio estão definidos pela Lei nº 2.889, de 1º-10-1956, assim: “Quem, 
com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou 
religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física 
ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de 
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas 
destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada 
de crianças do grupo para outro grupo.” 
 
Na hipótese da ocorrência desses crimes, a lei brasileira será aplicada 
independentemente de qualquer condição, inclusive se o infrator da norma tiver sido 
absolvido ou condenado no estrangeiro. Para evitar, nesses casos, o bis in idem, que é a 
 
 
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possibilidade de vir alguém a sofrer punição duas vezes pelo mesmo fato, o art. 8º do 
Código Penal determina que a pena que tiver sido cumprida no estrangeiro vai atenuar 
aquela a ser imposta no Brasil, se for diferente. Se for idêntica, será computada na pena a 
ser aplicada no Brasil. 
 
Exemplo: no Japão, um indivíduo tenta contra a vida do Presidente da República do 
Brasil. Lá é preso, julgado e condenado. Será igualmente julgado aqui no Brasil, onde 
acaba por ser, também, condenado. Tendo cumprido pena no Japão, e ingressado no 
território brasileiro, por ter o governo japonês atendido ao pedido de extradição de nosso 
governo, sua situação será a seguinte: (a) se a pena cumprida no Japão tiver sido de 
reclusão de cinco anos, e aqui tiver sido condenado a oito anos de reclusão, aquele 
tempo será computado nos oito, e ele só cumprirá três anos no Brasil; (b) se lá tiver 
cumprido pena de detenção, e aqui vier a ser condenado a pena de reclusão, terá esta 
pena atenuada, diminuída em alguma quantidade de tempo. 
 
8.4.2 - EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA: 
 
Em outras situações, a aplicação da lei brasileira a crimes ocorridos no estrangeiro 
dependerá do preenchimento de algumas condições. Os crimes estão relacionados no art. 
7º, II, Código Penal, entre eles os que, por tratado ou convenção, o Brasil tiver-se 
obrigado a reprimir. Incide o princípio da justiça universal. Por razões de interesse político 
de todos os Estados, eles celebram tratados de cooperação internacional também no 
campo do Direito Penal, para combater, por exemplo, o tráfico ilícito de entorpecentes. 
 
Outra situação difícil. Um cidadão brasileiro comete um crime no estrangeiro e consegue 
retornar ao Brasil, sem que tenha sido preso. O Estado estrangeiro tem interesse em 
aplicar sua lei penal, posto que o brasileiro a desrespeitou. Sem que ele ali compareça, 
não poderá o Estado estrangeiro aplicar a sua lei, isto é, não poderá ser imposta a pena 
a que terá sido condenado o cidadão brasileiro. 
 
Para resolver situações como essa, o direito internacional criou o instituto da extradição, 
um instrumento jurídico por meio do qual se dá a entrega de uma pessoa, por um Estado, 
a outro, para que, por este, seja ela julgada ou punida. Pois bem, se o governo 
estrangeiro solicita a extradição daquele brasileiro, o governo entregará o cidadão 
nacional? 
 
Não, porque segundo manda a Constituição Federal, art. 5º, LI, o Brasil não extradita 
nacionais. Assim, diz a Carta Magna: “Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o 
naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de 
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da 
lei.” 
 
O brasileiro nato, portanto, não será extraditado em nenhuma hipótese. O naturalizado, 
sim, em duas situações. Se o pedido for pela prática de crime comum, somente poderá 
ser extraditado se o tiver praticado antes da obtenção da nacionalidade brasileira. Se o 
motivo da extradição for tráfico ilícito de entorpecentes, o naturalizado só será extraditado 
se já estiver condenado no estrangeiro, por sentença transitada em julgado. 
 
 
 
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Se o Brasil não extradita seus nacionais, deverá, então, julgá-los aqui, segundo a lei 
brasileira, pois, se não o fizesse, estaria consagrando a impunidade para seus cidadãos 
que delinqüissem fora do Brasil e conseguissem aqui se homiziar. Por isso, a alínea b do 
inciso II do art. 7º do Código Penal inclui, entre os casos de extraterritorialidade 
condicionada, os crimes praticados, no estrangeiro, por brasileiro, incidente, aí, o princípio 
da personalidade ativa. 
 
Outra situação: um crime é cometido no interior de uma aeronave ou embarcação 
brasileira mercante ou de propriedade privada, em território estrangeiro, e, por qualquer 
razão, não é julgado nesse país. Acontece, por exemplo, quando a aeronave já se 
encontrava no espaço aéreo de outro Estado, mas a caminho do Brasil, e seu 
comandante não retorna ao aeroporto estrangeiro, preferindo continuar até seu país. Esse 
crime ocorreu no estrangeiro e lá não será punido. Nesse caso, a lei brasileira também 
pode ser aplicada, por força do disposto no art. 7º, II, c, do Código Penal. Este é o 
princípio da representação. 
 
Para que a lei brasileira seja aplicada nessas hipóteses, é necessário o concurso das 
seguintes condições (art. 7º, § 2º): 1ª entrar o agente no território nacional. É necessário 
que o infrator da norma entre no Brasil, seja espontaneamente, seja por força de 
extradição; 2ª ser o fato punível também no país em que foi praticado. É indispensável 
que o fato praticado seja definido como crime no país estrangeiro e no Brasil. Por 
exemplo, se Maria, brasileira, realiza aborto consentido na França e retorna ao Brasil, não 
poderá ser punida aqui, apesar de o aborto aqui ser proibido; 3ª estar o crime incluído 
entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 4º não ter sido o agente 
absolvido no exterior ou não ter aí cumprido pena. Se ele já tiver sido julgado e absolvido 
ou cumprido a pena, não poderá a lei brasileira ser aplicada; 5º não ter sido o agente 
perdoado no estrangeiro, ou não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais 
favorável. 
 
A lei penal brasileira ainda poderá ser aplicada ao crime praticado fora de nosso território 
por estrangeiro contra brasileiro se – além das condições previstas no § 2º do art. 7º – 
não tiver sido pedida ou tiver sido negada sua extradição e houver requisição do Ministro 
da Justiça (art. 7º, § 3º, CP). 
 
9 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS: 
 
A lei penal existe para ser aplicada a todas as pessoas; vale, portanto, erga omnes, 
alcançando a todos, sem distinção, até porque todos são iguais perante a lei. A esta 
regra torna-se indispensável excepcionar alguns casos. 
 
Algumas pessoas, não por suas qualidades pessoais, mas pela importância das funções 
que exercem, necessitam ficar fora do alcance das leis penais. Essa condição desses 
sujeitos chama-se imunidade, porque ficam imunes à lei penal, que não os alcança. No 
direito brasileiro estão contempladas imunidadesdiplomáticas, parlamentares, e outras, 
como a do advogado, relativamente a alguns crimes. 
 
9.1 – IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS: 
 
 
 
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Como bem ressalvou o caput do art. 5º do Código Penal, a lei brasileira aplicase ao crime 
cometido no território brasileiro, “sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito 
internacional...” 
 
Para procurar preservar o bom nível do relacionamento entre os Estados, evitando 
constrangimentos e represálias, os vários Estados estabeleceram as imunidades 
diplomáticas, instituto segundo o qual os agentes diplomáticos são imunes à lei penal do 
país em que estiverem servindo. MAGALHÃES NORONHA diz que “não se trata 
evidentemente de privilégio à pessoa física do representante estrangeiro, mas de 
acatamento à soberania da nação que ele representa. 
 
Significa que, se o embaixador de uma nação amiga cometer, no Brasil, um fato definido 
como crime, a lei penal brasileira a ele não será aplicada. Em verdade, o fato ocorreu, é 
proibido, mas quem o praticou não será processado, nem julgado no Brasil, mas em seu 
país, segundo sua lei. 
 
As imunidades foram estabelecidas pela Convenção de Viena, de 18-4-61, aprovada no 
Brasil pelo Decreto Legislativo nº 103, de 1964, ratificada em 23-2-65, e alcançam os 
agentes diplomáticos – embaixador, secretários de embaixada, pessoal técnico e 
administrativo das representações, membros de suas famílias, funcionários das 
organizações internacionais, chefes de Estado estrangeiro em visita ao país e os 
membros de suas comitivas. 
 
A garantia se estende aos agentes diplomáticos e funcionários das organizações 
internacionais, quando em serviço, incluindo seus familiares. A essas pessoas é 
assegurada inviolabilidade pessoal, já que não podem ser presas nem submetidas a 
qualquer procedimento sem autorização do seu país. 
 
De acordo com a Convenção de Viena, as sedes diplomáticas não admitem busca e 
apreensão, requisição, embargo ou qualquer outro tipo de medida de execução de 
natureza penal. Conduto, não podemos afirmar que as embaixadas são extensões do 
território. 
 
9.2 – IMUNIDADE PARLAMENTAR: 
 
Uma segunda espécie de imunidade é a de que gozam os parlamentares, deputados 
federais e senadores da república. Para que o membro do Poder Legislativo possa 
desempenhar com plena liberdade sua função de representante do povo, foram instituídas 
imunidades, que são prerrogativas destinadas a assegurar a maior liberdade de atuação 
possível. 
 
Imaginem o deputado que viesse a defender, em público, a revogação da norma penal 
que proíbe a aquisição de maconha, para uso próprio, crime definido no art. 28 da Lei nº 
11.343/2006. 
 
Tal parlamentar poderia, para mostrar a justeza de sua proposição, alardear como 
benéfico para a saúde o uso da referida droga, até porque existem opiniões científicas 
que demonstram certo poder calmante na referida substância. Pois bem, este deputado, 
 
 
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ao fazer a propaganda do uso da maconha, poderia estar realizando um comportamento 
proibido pela norma do art. 287 do Código Penal: “Fazer, publicamente, apologia de fato 
criminoso ou de autor de crime: Pena – detenção de 3(três) a 6(seis) meses, ou multa.” 
 
O parlamentar representa o povo, a sociedade. E mais, relembre-se, o Direito Penal é 
produto da vontade da sociedade. Se uma parcela desta – que elegeu o tal deputado – 
deseja permitir o uso da substância, ou não deseja considerar crime a aquisição da 
maconha para uso próprio, essa sua opinião deve ser, livremente, divulgada no seio da 
sociedade e, para tanto, seu representante precisa estar imune àquela lei que o proíbe de 
defender o fato criminoso. 
 
Noutras situações, o parlamentar, que é, além de elaborador das leis, encarregado da 
fiscalização da ação do Poder Executivo, tem a necessidade de formular críticas severas 
a funcionários públicos ou a outros cidadãos da sociedade. Em certas situações, 
necessita inclusive relatar fatos que atingem a honra do indivíduo, como, por exemplo, 
quando denuncia a prática de atos de improbidade administrativa. Precisa, às vezes, até 
mesmo, ofender a dignidade de um Ministro de Estado. 
 
Para que o parlamentar possa exercer, com plena liberdade, seu mandato, a Constituição 
Federal estabelece as imunidades parlamentares, que são absolutas ou relativas. 
 
A) Imunidades parlamentares absolutas: 
 
Dispõe o art. 53, caput, da Constituição Federal: “Os deputados e senadores são 
invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.” Significa 
que os parlamentares não cometem os chamados delitos de palavra ou de opinião, neles 
incluídos os crimes contra a honra (calúnia, difamação, injúria), de incitação ao crime, 
apologia do crime ou do criminoso, nem aqueles delitos de opinião definidos na Lei de 
Imprensa e na Lei de Segurança Nacional. 
 
É evidente que são imunes às leis penais que definem tais crimes, quando praticarem os 
fatos respectivos durante e em razão do exercício do mandato parlamentar. Se um 
deputado ofender a reputação de sua mulher, por questões meramente pessoais, 
particulares, não estará imune à lei, mas como simples cidadão, a ela estará sujeito. 
Como se vê, a imunidade é para o parlamentar, e apenas para amparar o exercício 
legítimo do mandato. 
 
B) Imunidades parlamentares processuais ou relativas: 
 
O legislador constituinte de 1988 estabeleceu, no mesmo art. 53, as chamadas 
imunidades relativas ou processuais, que alcançam todos os outros crimes. Segundo as 
normas então criadas, o parlamentar, desde a expedição do diploma pela Justiça Eleitoral 
– documento que lhe assegura a posse e o exercício no cargo para o qual foi eleito –, não 
poderia ser preso, salvo em flagrante de crime inafiançável, nem processado 
criminalmente, em nenhuma hipótese, sem prévia licença de sua casa. 
 
Quando a licença não fosse concedida, ou na ausência de decisão a esse respeito, não 
corria a prescrição – a perda, pelo Estado, do direito de punir o infrator da norma penal, 
 
 
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pelo decurso do tempo. Encerrado o mandato, o processo reiniciar-se-ia, como se não 
tivesse decorrido nenhum tempo. 
 
Os parlamentares são imunes à prisão, salvo no caso de flagrante de crime inafiançável. 
Nesse ponto, não houve qualquer modificação em relação ao texto constitucional anterior. 
Considera-se em flagrante delito quem: a) está cometendo o fato definido como crime; b) 
acabou de cometê-lo; c) é perseguido, logo após, em situação que faça presumir ser ele o 
infrator da norma; ou d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou 
papéis que façam presumi-lo autor do fato. 
 
Esta é a definição do art. 302 do Código de Processo Penal. Em qualquer uma dessas 
condições, a pessoa está em flagrante. A fiança criminal é uma caução, uma garantia do 
cumprimento das obrigações processuais do acusado da prática de um fato definido como 
crime. O preso em flagrante, pode obter a sua liberdade, mediante o pagamento da 
fiança, e assim passa a responder ao processo. 
 
O ordenamento jurídico brasileiro considera insuscetíveis de fiança os crimes mais 
graves, quando determina que são inafiançáveis os crimes punidos com reclusão cuja 
pena mínima seja superior a dois anos (art. 323, I, CPP). De conseqüência, os crimes 
cuja pena seja de detenção ou com pena mínima de reclusão de até dois anos podem ser 
afiançados. 
 
O parlamentar não pode ser preso em flagrante, se tiver praticado fato definido como 
crime afiançável. Caso o fato seja definido como crime inafiançável, a prisão em flagrante 
do parlamentar pode ser efetuada, mas, nesse caso, o auto de prisão em flagrante deve 
ser remetido dentro de 24 horas à Câmara ou ao Senado, que, então, pelo voto secreto 
da maioria de seus membros, decidirá sobre a prisão: manterá oua relaxará. 
 
A mudança fundamental diz respeito ao processo. Na ordem anterior, o processo contra 
o parlamentar dependia de licença da casa legislativa. Pela nova regra, o parlamentar 
pode ser processado, independentemente de licença, perante o Supremo Tribunal 
Federal, que, ao receber a denúncia, deverá comunicar à casa respectiva. Se se tratar de 
crime cometido antes da diplomação, o processo terá seu curso normal, e não cabe 
sequer a comunicação pela Corte Suprema. Se, todavia, for instaurada a ação penal por 
crime ocorrido após a diplomação, a comunicação será feita, mas o processo pode ser 
sustado, desde que a requerimento de um partido político representado na Casa do 
parlamentar, aprovado pelo voto da maioria dos membros da Casa. 
 
O pedido de sustação do processo poderá ser feito a qualquer tempo, antes, é óbvio, da 
decisão final do Supremo Tribunal, e deverá ser votado pela casa no prazo de 45 dias de 
seu recebimento pela Mesa Diretora. Por decisão final, deve-se entender o trânsito em 
julgado, daí que, mesmo após a sentença final suscetível de recurso, poderá a Casa 
sustar o andamento do feito. 
 
Concedida a sustação do processo, ficará suspenso o curso da prescrição enquanto durar 
o mandato, reiniciando-se o processo, após, como se não tivesse decorrido tempo algum. 
 
 
 
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Com esse novo tratamento dado à imunidade processual, é de se perguntar se continua 
em vigor a norma do § 2º do art. 55 da Constituição Federal, que exige seja a perda do 
mandato do parlamentar que sofrer condenação criminal transitada em julgado “decidida 
pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria 
absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no 
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”. 
 
Ora, essa norma só tinha sentido no regime anterior, quando a casa legislativa tinha o 
poder de decidir sobre a instauração ou continuidade de processo penal contra 
parlamentar. Era um complemento daquele sistema de imunidades que reservava à casa 
legislativa o direito de condicionar a instauração e prosseguimento da ação penal. 
 
C) Imunidade do advogado 
 
O art. 133 da Constituição Federal estabelece: “O advogado é indispensável à 
administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da 
profissão, nos limites da lei.” 
 
O art. 142 do Código Penal, de 1940, dispõe: “Não constituem injúria ou difamação 
punível: I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu 
procurador.” 
 
Já a Lei nº 8.906/94, no § 2º do art. 7º, assim estatui: “O advogado tem imunidade 
profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer 
manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem 
prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer.” 
 
O Supremo Tribunal Federal concedeu, em 5 de outubro de 1994, liminar na Ação de 
Declaração de Inconstitucionalidade nº 1.127-8, proposta pela Associação dos 
Magistrados Brasileiros, suspendendo a eficácia da expressão “ou desacato”, e, julgando 
o mérito, em 17 de maio de 2006, declarou a inconstitucionalidade da expressão, contida 
no § 2° do art. 7° da Lei n°8.906/94. 
 
A imunidade do advogado, em verdade, não se destina a sua pessoa, mas ao exercício 
de sua função, que, segundo a própria Carta Magna, é indispensável à administração da 
Justiça. Com efeito, o advogado, para postular em juízo o direito de seu constituinte, 
necessita de ampla liberdade de expressão do pensamento, especialmente no relato de 
fatos e na emissão de opiniões sobre as pessoas contra as quais se deduzirá a 
pretensão, sobre testemunhas, sobre funcionários da justiça, enfim, sobre situações e 
sujeitos. 
 
Não pode ficar manietado no momento da comunicação das idéias, diante da 
possibilidade de vir a cometer os delitos de difamação e injúria. Esta imunidade vem 
estatuída no próprio Código Penal, desde as Constituições anteriores. Por exemplo, ao 
elaborar o pedido inicial de uma ação de separação judicial, o advogado poderá 
necessitar, algumas vezes, fazer o relato de fatos ofensivos à reputação do outro 
cônjuge, como violadores do dever do matrimônio, por exemplo a prática de atos 
homossexuais. 
 
 
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Não há dúvida em relação à justeza da imunidade quanto aos crimes de difamação e 
injúria. Por que o advogado não goza da imunidade em relação ao crime de calúnia? E 
por que também não quanto ao crime de desacato, como decidiu, em liminar, o Supremo 
Tribunal Federal? 
 
Caluniar é atribuir, falsamente, a alguém, um fato definido como crime (art. 138, CP). Para 
haver este crime, o caluniador deve saber que o fato que atribui a outro é falso. É óbvio, 
portanto, que não se poderia conferir ao advogado o direito de falsear a verdade. Se, no 
processo instaurado perante o poder judiciário, se busca a verdade, não se pode legitimar 
a conduta do advogado que, para defender o interesse de seu cliente, usa da falsidade. 
 
Já desacatar é ofender, humilhar, ultrajar o funcionário público, em razão de suas 
funções. No exercício de sua função, o advogado necessita de plena liberdade de 
manifestação de seu pensamento e, em algumas situações, diante do delegado arbitrário, 
do promotor perseguidor, do juiz autoritário, precisa levantar sua voz com galhardia, 
criticando atitudes desses funcionários, mostrando-lhes a arbitrariedade, o espírito 
perseguidor, o autoritarismo, por exemplo: “Vossa Excelência, MM. Juiz, está sendo 
autoritário, ignorando o direito do acusado. Respeite o réu, Excelência, não o chame de 
criminoso!” 
 
Ou, para o Promotor, durante os debates no Tribunal do Júri: “O Sr. Promotor de Justiça 
mentiu para os jurados, quando afirmou que o réu estava com a arma na mão. Vossa 
Excelência, Dr. Promotor, deve estudar melhor os autos e agir com seriedade na 
condução da acusação.” 
 
É evidente que tais expressões trazem forte conteúdo ofensivo ao juiz e ao promotor. O 
primeiro foi implicitamente chamado de autoritário, ignorante, desrespeitador. O segundo, 
de mentiroso, de não ser sério, de não estudar o processo. Tais comportamentos do 
advogado configuram ofensa ao funcionário público, em razão de suas funções e, como 
tal, o fato definido como crime de desacato. 
 
É evidente que, sem a imunidade, a atividade do advogado restaria, nessas hipóteses, 
cerceada, e não é esse o desejo da Carta Constitucional. A questão, parece, não é saber 
se a imunidade abrange o desacato ou restringe-se à difamação e injúria, e tampouco se 
não pode ser dirigida ao juiz. O cerne do problema é saber se a ofensa era necessária, 
para o desempenho da atividade do advogado, pouco importando tenha ela sido dirigida a 
funcionário público ou não. 
 
No mandado de segurança contra ato judicial, a pretensão é deduzida contra juiz de 
direito. Como não ofendê-lo, às vezes, se ele é parte no processo? Como não mostrar o 
absurdo, ou o abuso da decisão impugnada? O mesmo se diga do magistrado na exceção 
de suspeição, quando ele pode estar agindo com interesse pessoal no deslinde da causa. 
No processo criminal, o promotor é parte. E no habeas corpus em que o direito de 
liberdade do paciente se deduz contra o ato praticado pelo juiz? 
 
Enfim, a ofensa do advogado pode dirigir-se contra qualquer pessoa, inclusive o juiz e o 
promotor. O que não pode ser admitido é a ofensa desnecessária, gratuita. Para que seja 
 
 
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necessária, é indispensável que seja proferida na discussão da causa, em razão dela, em 
juízo ou fora dele, instaurado ou não o processo judicial ou administrativo. 
 
A imunidade do advogado é, portanto, do profissional, mas destina-se a proteger os 
interesses dos cidadãos na defesa de seus direitos legaise constitucionais. 
 
9 – DISPOSIÇÕES FINAIS ACERCA DA APLICAÇÃO DA PENA: 
 
O Código Penal estabelece nos arts. 9º, 10, 11 e 12 outras disposições pertinentes à 
aplicação da lei penal, relativas à eficácia da sentença penal estrangeira no Brasil, às 
contagens de prazo, frações não computáveis na pena e sobre a chamada legislação 
especial, que devem, nesta oportunidade, ser analisadas. 
 
9.1 - EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA: 
 
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na 
espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II - sujeitá-lo a medida de segurança. 
 
Parágrafo único - A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja 
autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do 
Ministro da Justiça. 
 
Sentença penal, como já se falou, é a decisão final do juiz acerca do fato definido como 
crime atribuído a alguém. A sentença prolatada em país estrangeiro pode produzir efeitos 
aqui no Brasil. 
 
Em algumas hipóteses, não é necessária nenhuma condição, bastando que seja ela, por 
documento autêntico e idôneo, apresentada ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, 
para ter eficácia em nosso país. Isto ocorre, por exemplo, quando certo agente de fato 
definido como crime praticado no estrangeiro que se encontra no território brasileiro, para 
evitar a aplicação da lei penal brasileira, apresenta a sentença estrangeira provando ter 
sido absolvido ou perdoado no estrangeiro (art. 7º, § 2º, d e e, 30) 
 
Em algumas outras situações, para que a sentença penal estrangeira produza efeitos no 
Brasil, deverá ser homologada, pelo juiz brasileiro. Tal exigência diz respeito a dois 
efeitos: (a) obrigar o condenado a reparar o dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
(b) sujeitar o condenado à medida de segurança. Nas duas hipóteses, a sentença 
estrangeira deve ser, previamente, homologada, convalidada pelo órgão competente da 
justiça brasileira, o Superior Tribunal de Justiça, conforme a alteração feita pela Emenda 
Constitucional nº 45/04. 
 
 
 
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Para o primeiro caso, a parte interessada deve requerer a homologação, e para o 
segundo, é indispensável que exista, entre o Brasil e o país onde foi prolatada a sentença, 
tratado de extradição, ou, se inexistente este, é preciso requisição do Ministro da Justiça. 
 
9.2 - CONTAGEM DE PRAZO: 
 
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os 
meses e os anos pelo calendário comum. 
 
As penas estabelecidas no Código Penal são fixadas e devem ser aplicadas por certo 
lapso temporal: por exemplo: cinco anos, seis meses etc. O prazo é o espaço do tempo 
situado entre o início e o final, e a norma do art. 10 do Código Penal estabelece que “o dia 
do começo inclui-se no cômputo do prazo”. Se alguém começar a cumprir uma pena às 
20 horas de certo dia, este dia será computado por inteiro como o primeiro dia do 
cumprimento da pena. 
 
A segunda parte da norma manda que os dias, meses e anos sejam contados segundo o 
calendário comum, o gregoriano. O dia é o período de tempo compreendido entre a meia-
noite e a meia-noite seguinte. O mês é contado de acordo com o número de dias que 
cada um tem, 28 ou 29 (fevereiro), 30 (abril, junho, setembro e novembro), e 31 os 
demais. O ano terá 365 ou 366 dias. 
 
9.3 – FRAÇÕES NÃO COMUPTÁVEIS: 
 
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de 
direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. 
 
Manda o art. 11 do Código Penal que as horas, que são as frações de dia, sejam 
desprezadas nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito, e, na de multa, 
as frações de cruzeiro, hoje real, os centavos. Ninguém será condenado, por exemplo, a 
uma pena de 30 dias e doze horas. 
 
9.4 - LEGISLAÇÃO ESPECIAL: 
 
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei 
especial, se esta não dispuser de modo diverso 
 
Finalmente, o art. 12 manda sejam aplicadas as normas gerais contidas na parte geral do 
Código Penal – as normas penais permissivas e explicativas – aos fatos definidos como 
crime em outras leis, se estas não dispuserem de modo diferente. 
 
10 – LISTA DE EXERCÍCIOS – APLICAÇÃO DA LEI PENAL: 
 
01 - Prova: FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista 
Acerca da aplicação da lei penal, assinale a alternativa correta. 
 a) Na ausência de previsão de crime pela lei penal, é possível recorrer à analogia. 
 
 
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 b) A lei penal posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, salvo aqueles que já tenham sido objeto de sentença condenatória transitada 
em julgado. 
 c) Aplica-se a lei penal estrangeira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou 
embarcações estrangeiras de propriedade privada, ainda que estejam em pouso no 
território nacional ou em porto oumar territorial brasileiro. 
 d) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
 e) A lei penal posterior não se aplica aos fatos anteriores, ainda que em benefício do 
agente. 
 
02 - Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase 
No que diz respeito aos denominados crimes à distância, de acordo com o ordenamento 
jurídico penal vigente, assinale a alternativa CORRETA: 
 
 a) o direito penal brasileiro consagra a teoria da ação; 
 b) o direito penal brasileiro consagra a teoria do resultado; 
 c) o direito penal brasileiro consagra a teoria da ubiqüidade; 
 d) o direito penal brasileiro consagra a teoria vicariante. 
 
 
03 - Prova: ND - 2005 - OAB-DF - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
O Código Penal Brasileiro adotou: 
 a) A teoria do resultado, em relação ao tempo do crime e, a teoria da ubiqüidade, em 
relação ao lugar do crime; 
 b) A teoria da atividade, em relação ao tempo do crime e, a teoria da ubiqüidade, em 
relação ao lugar do crime; 
 c) A teoria da atividade, em relação ao tempo do crime e, a teoria do resultado, em 
relação ao lugar do crime; 
 d) A teoria do resultado, em relação ao tempo do crime, e a teoria da atividade, em 
relação ao lugar do crime. 
 
04 - Prova: ND - 2005 - OAB-DF - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
O abolitio criminis, também chamada de novatio legis, significa que: 
 a) A lei antiga possui ultra-atividade, desde que mais severa; 
 b) A lei nova não retroage, ainda que mais benéfica; 
 c) Constitui fato jurídico extintivo da punibilidade; 
 d) Não extingue a punibilidade. 
 
05 - Prova: FEPESE - 2013 - DPE-SC - Técnico Administrativo 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Da Aplicação da Lei Penal; 
Assinale a alternativa correta de acordo com o Direito Penal. 
 
 a) A lei penal é irretroativa. 
 b) Na contagem de prazo no Direito Penal computa-se o dia de início e exclui-se o dia 
final. 
 c) Não se admite a ultra-atividade da lei no direito penal. 
 
 
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 d) O dia de início é excluído no Direito Penal, devendo-se na contagem do prazo ser 
considerado o dia final. 
 e) As frações de dias, e, na pena de multa, as frações de pecúnia, deverão sempre ser 
consideradas para fins de execução da pena. 
 
06 - Prova: FEPESE - 2013 - DPE-SC - Analista Técnico 
O Código Penal brasileiro adotou qual teoria para definir o local do crime? 
 
 a) Teoria da ação 
 b) Teoria do resultado 
 c) Teoria da ação mista 
 d) Teoria do resultado objetivo 
 e) Teoria mista ou da ubiguidade 
 
07 - Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de PolíciaCessado o estado de guerra, as leis excepcionais editadas para valer durante o referido 
período tornam-se ineficazes, devido à abolitio criminis. 
 Certo Errado 
 
 
08 - Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia 
A teoria da atividade, adotada pelo Código Penal Brasileiro, considera praticado o crime 
no momento em que ocorre o resultado. 
 Certo Errado 
 
09 - Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia 
A lei penal mais severa aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente iniciados 
antes da referida lei, se a continuidade ou a permanência não tiverem cessado até a data 
da entrada em vigor da lex gravior. 
 Certo Errado 
 
10 - Prova: IESES - 2012 - TJ-RO - Titular de Serviços de Notas e de Registros 
É certo afirmar: 
 
I. Crime é um fato típico, antijurídico e culpável. 
 
II. O resultado, de que depende a existência do crime, é imputável tanto a quem deu 
quanto a quem não lhe deu causa. 
 
III. A Lei penal brasileira por ser soberana se sobrepõe aos tratados e convenções 
internacionais, sendo de aplicação absoluta. 
 
IV. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo 
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 
Analisando as proposições, pode-se afirmar: 
 a) Somente as proposições II e IV estão corretas. 
 b) Somente as proposições I e III estão corretas. 
 
 
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 c) Somente as proposições I e IV estão corretas. 
 d) Somente as proposições II e III estão corretas. 
 
11 - Prova: FUJB - 2011 - MPE-RJ - Analista - Processual 
No direito penal, o problema da sucessão das leis no tempo é resolvido segundo a 
garantia constitucional de que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu 
(CRFB, art. 5º, inciso XL). Já no campo processual penal, a norma geral de direito 
intertemporal encontra-se prevista no art. 2º do CPP, disciplinando que a lei processual 
penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a 
vigência da lei anterior. Assim, quanto ao tema “sucessão de leis penais e processuais 
penais”, é correto afirmar que: 
 
 
 
 a) no campo processual penal adota-se, como regra, o princípio tempus regit actum, que 
se imiscui com a ideia de retroatividade da lei processual; 
 b) retroatividade, entendida como a imposição de uma lei a fatos pretéritos ou situações 
consumadas antes do início de sua vigência, tem como corolário o princípio geral do 
efeito imediato, entendido como sua incidência sobre fatos e situações pendentes quando 
a lei entra em vigor; 
 c) retroatividade e aplicação imediata são fenômenos temporais relativos, que 
pressupõem, para sua aferição, um referencial cronológico, sendo certo que a aplicação 
imediata da lei processual leva em conta o momento da imputação inicial; 
 d) a doutrina reconhece a existência das chamadas “normas mistas” ou “normas 
processuais materiais”, sendo que uma corrente ampliativa entende que são aquelas que, 
embora disciplinadas em diplomas processuais penais, disponham sobre o conteúdo da 
pretensão punitiva e sobre as demais normas que tenham por conteúdo matéria que seja 
direito ou garantia constitucional do cidadão; 
 e) no sistema do isolamento dos atos processuais, adotado pelo legislador pátrio no CPP, 
admite-se que cada ato seja regido por uma lei, o que permite que a lei velha regule os 
atos já praticados, ocorridos sob sua vigência, enquanto a lei nova terá aplicação 
imediata, passando a disciplinar os atos futuros. 
 
12 - Prova: CESPE - 2012 - TCE-ES - Auditor de Controle Externo - Direito 
A eficácia da sentença penal condenatória proferida no estrangeiro depende de 
homologação tanto para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a 
outros efeitos civis quanto para o reconhecimento da reincidência. 
 Certo Errado 
 
13 - Prova: VUNESP - 2011 - TJ-SP - Titular de Serviços de Notas e de Registros 
Assinale a alternativa que indica hipótese de não aplicação da lei penal brasileira. 
 
 a) Crime praticado em navio de cruzeiro italiano, navegando em mar territorial brasileiro. 
 b) Crime praticado em navio de guerra brasileiro, navegando no mar territorial 
australiano. 
 c) Crime praticado em lancha de recreio brasileira no mar territorial uruguaio. 
 d) Falsificação de Reais (artigo 289 do Código Penal) praticada na China. 
 
 
 
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14 - Prova: MOVENS - 2009 - PC-PA - Delegado de Polícia 
As leis têm, em regra, efeitos para o futuro. Considerando que as leis penais seguem o 
princípio de que não há crime sem lei anterior que o defna, nem pena sem prévia 
cominação legal, assinale a opção correta. 
 
 a) A exigência de lei criando tipos penais para permitir a aplicação de sanção é garantia 
constitucional. 
 b) É válida a descrição de conduta típica penal por medida provisória. 
 c) Lei penal revogada permite apuração de fato ocorrido na sua vigência, mesmo quando 
a execução completa do fato tenha sido após a revogação. 
 d) Lei penal que possa trazer benefício para o acusado não pode ser aplicada quando já 
julgado o caso. 
 
15 - Prova: MOVENS - 2009 - PC-PA - Delegado de Polícia 
Acerca das disposições constitucionais relativas ao direito penal, assinale a opção 
correta. 
 
 a) A Constituição Federal não assegura a individualização da pena aos condenados por 
delitos hediondos. 
 b) A lei penal não retroagirá, nem mesmo para benefciar o réu. 
 c) As penas serão cumpridas em estabelecimentos prisionais, diferenciados apenas em 
relação ao sexo do apenado. 
 d) A prática do racismo constitui crime inafançável e imprescritível, sujeito à pena de 
reclusão, nos termos da lei. 
 
 
16 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-AC - Técnico Judiciário - Auxiliar 
É inconstitucional lei que preveja a condenação à morte ou à execução de trabalhos 
forçados, dado que a Constituição Federal de 1988 (CF) proíbe, expressamente, essas 
modalidades de pena. 
 
 Certo Errado 
 
17 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-AC - Técnico Judiciário - Auxiliar 
Considere que um dos integrantes de determinada quadrilha especializada em desviar 
dinheiro público tenha contribuído para a prisão de seus comparsas e que, após sua 
prisão, o Congresso Nacional tenha aprovado uma lei que estabelecesse a isenção de 
pena para partícipes em crimes contra a administração pública que contribuíssem para a 
prisão de seus comparsas. Nesse caso, dado o princípio da irretroatividade da lei penal, o 
referido integrante da quadrilha não seria beneficiado pela isenção de pena. 
 
 Certo Errado 
 
18 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-BA - Juiz 
Assinale a opção correta com base no entendimento dos tribunais superiores acerca de 
cominações legais. 
 
 
 
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 a) Aplica-se ao crime continuado a lei penal mais grave caso a sua vigência seja anterior 
à cessação da continuidade. 
 b) Aplica-se ao furto qualificado, em razão do concurso de agentes, a majorante do 
roubo. 
 c) Fixada a pena-base no mínimo legal em face do reconhecimento das circunstâncias 
judiciais favoráveis ao réu, é possível infligir-lhe regime prisional mais gravoso 
considerando-se isoladamente a gravidade genérica do delito. 
 d) A pena do crime de roubo circunstanciado, na terceira fase de aplicação, será 
exasperada em razão do número de causas de aumento. 
 e) Aplica-se a continuidade delitiva aos crimes de estelionato, de receptação e de 
adulteração de sinal identificador de veículo automotor, infrações penais da mesma 
espécie. 
 
19 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-BA - Juiz 
No que se refere à aplicação da lei penal, assinale a opção correta. 
 
 a) Considere que Carlos, condenado definitivamente à pena privativa de liberdade de dez 
anos de reclusão, tenha sido encaminhado à penitenciária, para o cumprimento da pena, 
às 23 h 45 min do dia 13 de agosto de 2010. Nessa situação,deverá ser excluído do 
cômputo do cumprimento da pena o referido dia, uma vez que Carlos ficará preso, nesse 
dia, menos de uma hora. 
 b) A lei penal mais benéfica retroagirá se favorecer o agente, aplicando-se a fatos 
anteriores, respeitados os fatos já decididos por sentença condenatória transitada em 
julgado. 
 c) Considere que Pedrosa, brasileiro de trinta e quatro anos de idade, juntamente com 
mexicanos, tenha tentado sequestrar, na cidade uruguaiana de Rivera, o presidente do 
Brasil, quando este participava de uma convenção internacional, e que, presos ainda no 
Uruguai, todos tenham sido processados e absolvidos no estrangeiro por insuficiência de 
provas. Nessa situação, dado o princípio da justiça universal, Pedrosa não poderá ser 
punido de acordo com a lei brasileira. 
 d) Suponha que João, brasileiro de vinte e dois anos de idade, sequestre Maria, brasileira 
de vinte e quatro anos de idade, nas dependências do aeroporto internacional da cidade 
do Rio de Janeiro – RJ, levando-a, imediatamente, em aeronave alemã, para o Paraguai. 
A esse caso aplica-se a lei penal brasileira, sendo irrelevante eventual processamento 
criminal pela justiça paraguaia. 
 e) De acordo com o princípio da universalidade, a sentença penal estrangeira 
homologada no Brasil obriga o condenado a reparar o dano, sendo facultativo o pedido da 
parte interessada. 
 
20 - Prova: FCC - 2012 - MPE-AL - Promotor de Justiça 
No que se refere à aplicação da lei penal, correto afirmar que 
 a) a lei excepcional ou temporária, quando já decorrido o período de sua duração ou 
cessadas as circunstâncias que a determinaram, não se aplica ao fato praticado durante 
sua vigência. 
 b) o Código Penal adota a teoria do resultado quanto ao tempo do crime. 
 c) o dia do fim inclui-se no cômputo do prazo penal. 
 d) para a determinação do lugar do crime vigora o princípio da ubiquidade. 
 
 
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 e) as regras gerais do Código Penal não se aplicam aos fatos incriminados por lei 
especial, ainda que esta não disponha de modo diverso. 
 
GABARITO OFICIAL: 
 
1-D 2-C 3-B 4-C 5-B 6-E 7-E 8-E 9-C 10-C 
11-E 12-E 13-C 14-A 15-D 16-C 17-E 18-A 19-D 20-D 
 
 
CAPÍTULO 3 - TEORIA DO CRIME – CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
1. CONCEITO DE CRIME: 
 
Levando-se em consideração que o evento criminoso é também objeto de estudo de 
outras ciências extrajurídicas, como por exemplo, a sociologia, criminologia, filosofia, 
psicologia, psiquiatria, dentre outras, temos que ‘crime’ pode ser conceituado nestas 
disciplinas dentro de seus respectivos critérios de conceituação. 
 
Mas, o que nos interessa é a conceituação jurídica de crime. Passamos, portanto, a 
estuda-lo a partir dos seus conceitos material, formal e analítico. 
 
1.1 - CONCEITO MATERIAL 
 
Materialmente falando, crime é a violação de um bem jurídico penalmente protegido, ou 
nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt, crime é a ação ou omissão que contraria os 
valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição coma a ameaça de pena. 
 
Damásio de Jesus nos chama a atenção para a importância do conceito material, 
sustentando que ele “coloca em destaque o seu conteúdo teleológico, a razão 
determinante de constituir uma conduta humana infração penal sujeita a uma sanção”. 
 
O conceito material de crime é que indica ao Legislador as condutas que devem ser 
penalmente repudiadas, pois, nas palavras de João José Leal, o crime é concebido a 
partir do caráter de nocividade, de lesividade, de imoralidade e de periculosidade da 
conduta em relação ao grupo social. Continua o autor lembrando que, o conceito de 
infração se baseia no juízo de desvalor formulado sobre ações humanas consideradas 
profundamente prejudiciais à vida humana e social e que, por isso, são classificados pela 
lei como criminosas. 
 
1.2 - CONCEITO FORMAL 
 
Formalmente falando, crime é a conduta humana proibida por lei com ameaça de pena. 
 
Na conceituação formal de crime, como lembra Leal, não há qualquer preocupação com o 
conteúdo ético-social da conduta incriminada nem, do ponto de vista teleológico, com as 
razões que levaram o legislador a estabelecer a repressão legal para tais ações humanas. 
 
 
 
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1.3 – CONCEITO LEGAL: 
 
O art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal define crime, desta forma: “Considera-se 
crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer 
isoladamente, quer alternativamente ou cumulativamente com a pena de multa; 
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples 
ou de multa, ou ambas, alternativa ou 
cumulativamente.” 
 
Trata-se, como se vê, de um conceito puramente formal, que nada explica, a não ser 
quais penas correspondem ao crime e quais à contravenção penal. 
 
1.4 – CONCEITO ANALÍTICO: 
 
Se nenhum dos conceitos apresentados atende aos interesses do penalista, a solução é 
procurar uma nova forma de conceituar o crime, partindo do ordenamento jurídico vigente, 
analisando todas as normas penais, incriminadoras, permissivas justificantes e 
permissivas exculpantes, bem assim as explicativas, para construir, com base no conjunto 
do ordenamento jurídico-penal e dos fatos que a vida revela, um conceito analítico de 
crime, partindo do geral para o particular, decompondo o crime em suas características 
mais simples. 
 
Conceituar, analiticamente, o crime é extrair de todo e qualquer crime aquilo que for 
comum a todos eles, é descobrir suas características, suas notas essenciais, seus 
elementos estruturais. Essa é a tarefa que se impõe. 
 
A observação de todo e qualquer crime – homicídio, furto, estupro, estelionato, injúria, 
qualquer crime definido em qualquer lei penal – conduz à conclusão de que, em todos 
eles, existe um comportamento do ser humano, uma atitude externa, um fazer ou um não 
fazer: uma ação, em seu sentido amplo, que engloba o fazer algo e o não fazer alguma 
coisa. 
 
Só o homem, segundo a lei brasileira, é capaz de cometer crimes; logo, deve-se fazer 
uma primeira afirmação. Todo crime é uma ação do homem, é uma ação humana. Nem 
toda ação humana é, todavia, considerada crime. Ao contrário, a maior parte das ações 
do homem são comportamentos lícitos e mesmo alguns deles, considerados ilícitos, não 
são, apenas por isso, considerados crimes. Danificar, sem querer, por falta de atenção, o 
veículo alheio é uma ação ilícita, mas não é um crime. 
 
Trata-se de um ilícito de natureza civil, cuja sanção é a obrigação, para o responsável, de 
reparar o dano causado negligentemente. É a regra do art. 927 do Código Civil Brasileiro 
que impera. 
 
Só algumas ações humanas são consideradas crime: aquelas que estiverem previamente 
definidas numa lei como tal, consoante manda o Princípio da Legalidade ou da Reserva 
Legal. Então, já se pode limitar aquela primeira afirmação. O crime é uma ação humana 
assim definida previamente por uma lei penal. A definição de crime contida na lei penal, 
 
 
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por exemplo, “matar alguém” (art. 121, Código Penal), ou “subtrair, para si ou para 
outrem, coisa alheia móvel” (art. 155, Código Penal), recebe da doutrina o nome de tipo. 
Tipo legal de crime. 
Aquela primeira é o chamado tipo de homicídio, a segunda é o tipo de furto. Assim, 
também existem os tipos de roubo, de estelionato, de lesão corporal, de aborto etc. 
 
Tipo, modernamente, dentro da teoria geral do crime, é a descrição do comportamento 
proibido pela norma penal, um modelo de comportamento humano que a lei considera 
crime e que, por isso, proíbe sob a ameaça da pena criminal. Adiante será aprofundado o 
estudo dos tipos, cuidando de sua estrutura, apresentando seus elementos integrantes. 
Nesta quadra, o objetivo é apenas uma visão global do conceito analítico de crime.Pois bem, se foi dito que nem todas as ações humanas são consideradas crimes, mas 
apenas aquelas que estiverem, previamente, definidas em lei como tal, e se esta definição 
recebe o nome de tipo, pode-se dizer que o crime é uma ação que se identifica integral e 
totalmente com um tipo de crime. Correto afirmar com tranqüilidade que o crime é uma 
ação que corresponde fielmente a determinado tipo. 
 
Para existir crime, é necessário que a ação humana seja igual à ação descrita num tipo, 
ou seja, que a ação humana corresponda exatamente a um tipo. Logo, pode-se resumir 
dizendo que o crime é uma ação típica, isto é, adequada, ajustada, a um tipo. 
 
As ações do homem, mormente aquelas que geram uma conseqüência concreta, são, na 
verdade, verdadeiros acontecimentos da vida em sociedade, ou, em outras palavras, são 
fatos sociais. 
 
“João, a tiros de revólver, matou Alberto” é um desses acontecimentos, desses fatos da 
vida, composto de um comportamento humano (disparar tiros de revólver) e de uma 
conseqüência (morte de alguém), assim como este outro: “Paulo comprou um automóvel, 
pagando, em moeda corrente, por ele, um preço.” Desses dois fatos, apenas o primeiro é 
definido como crime pela lei penal. 
 
Por isso, afirma-se que o crime é um fato típico, o que significa dizer que é um fato da 
vida, um acontecimento que se amolda, se ajusta, a um tipo legal de crime. Com esse 
raciocínio, chega-se a uma primeira conclusão: todo crime é um fato típico. Se não houver 
um tipo legal de crime que corresponda ao fato da vida, este não pode ser crime, porque 
não é típico. Logo, a primeira característica do crime é ser ele um fato típico. 
 
Se todo crime é um fato típico, nem todo fato típico é, contudo, um crime. O Direito Penal, 
às vezes, por meio das normas permissivas justificantes, considera justa, em algumas 
circunstâncias, a prática de certos fatos que o mesmo Direito Penal proíbe, e que são 
definidos como crime. 
 
Por exemplo, sabe-se que existe uma norma penal incriminadora proibindo a prática de 
aborto – que é a interrupção da gravidez, com a morte do ser humano em formação. Tal 
fato é típico, pois existem descrições na lei penal a esse respeito, nos arts. 124 (provocar 
aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: pena – detenção, de 1 a 3 
anos), 125 (provocar aborto, sem o consentimento da gestante: pena – reclusão, de 3 a 
 
 
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10 anos) e 126 (provocar aborto com o consentimento da gestante: pena – reclusão, de 1 
a 4 anos) do Código Penal. 
 
Aborto ou abortamento é, assim, um fato definido como crime; realizá-lo é, 
conseqüentemente, realizar um fato típico. Apesar disso, o Direito Penal considera 
justificada a realização de um aborto, por um médico, se não houver outro meio para 
salvar a vida da gestante. Numa situação de perigo para a vida da mãe, o direito permite 
seja sacrificada a vida do feto. Por isso, o médico está autorizado a provocar o aborto em 
uma gestante, com ou sem seu consentimento, desde que seja esta a única maneira de 
salvar-lhe a vida. Tal permissão é concedida pela norma do art. 128, I, do Código Penal: 
“Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da 
gestante.” 
 
Do mesmo modo, se a mulher engravidar de um homem que a constrangeu, com 
violência ou grave ameaça, à conjunção carnal, entre a vida do feto e a liberdade da 
gestante estuprada, o Direito Penal protege esta, deixando a critério dela, ou de quem a 
represente, se ela for incapaz, deixar ou não deixar nascer o fruto da violência sexual. É 
outra modalidade de aborto permitido, inserta no inc. II do mesmo art. 128 do Código 
Penal: “Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da 
gestante, ou, quando incapaz, de seu representante legal.” 
 
Então, se um médico provoca um aborto em Maria – porque a vida desta estava em grave 
perigo, evitável apenas através da antecipada interrupção da gravidez, com morte do feto 
–, terá cometido um fato típico, porém justificado pelo Direito. Seu comportamento, em 
conseqüência, não se volta contra a ordem jurídica, não é por ela proibido; ao contrário, é 
permitido, considerado justo e pode ser realizado. Não é, portanto, um crime, apesar de 
ser um fato típico. 
 
Para ser crime, de conseguinte, o fato típico, ao mesmo tempo, não pode estar autorizado 
por uma norma penal permissiva justificante. Quando o fato é autorizado, justificado, diz-
se que ele, apesar de típico, é lícito, pois não contraria a ordem jurídica. Inversamente, 
para que haja o crime, o fato típico deve ser, a um só tempo, injustificado ou ilícito. Deve 
estar contrariando todo o ordenamento jurídico. 
 
Essa relação de contrariedade ou de antagonismo entre o fato típico e a ordem jurídica é 
o que se chama ilicitude, que é a segunda característica do crime. Então, deu-se outro 
passo: todo crime é um fato típico e ao mesmo tempo ilícito, proibido pelo Direito, 
injustificado, não permitido, proibido pela ordem jurídica. 
 
A pergunta que se faz agora é: todo fato típico e ilícito é crime? O Direito Penal, mesmo 
não justificando certo fato praticado, entende, em algumas hipóteses, que não pode ser 
imposta a pena criminal. Por exemplo, os menores de 18 anos, segundo manda a 
Constituição Federal, não podem ser responsabilizados perante o Direito Penal. Também 
os doentes mentais que sejam incapazes de entender o significado de seu gesto não 
podem ser punidos, porquanto não faz sentido, não é humano, punir quem não sabia o 
que fazia. Aquele que, se soubesse, não faria o que fez. 
 
 
 
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Para que haja o crime, é indispensável não só que o homem que praticou o fato típico e 
ilícito seja capaz de responder por seus atos, mas, ainda, que seu comportamento seja 
merecedor de censura, de reprovação do Direito. É que às vezes a pessoa comete um 
fato típico e ilícito e, mesmo sendo plenamente capaz de entendê-lo, não pode ser 
reprovada. 
 
Por exemplo: um cidadão chega em sua casa e encontra sua mulher e filhos sob a mira 
de armas pesadas, empunhadas por homens que exigem dele, chefe da família, que volte 
ao Banco onde é gerente e de lá lhes traga certa quantia em dinheiro. O pai acede aos 
desejos daqueles, retorna ao banco e de lá retira a importância e a entrega ao chefe do 
grupo, obtendo, em seguida, a paz e a tranqüilidade de seu lar, com o fim do perigo para 
a vida de seus entes queridos. O fato praticado pelo gerente do Banco é típico, pois terá 
se apropriado de importância da qual tinha a posse (art. 168, CP). 
 
É igualmente ilícito, porquanto não incide uma norma penal permissiva justificante, como 
a da legítima defesa ou a do estado de necessidade, que serão estudadas adiante. Esse 
fato típico é, ao mesmo tempo, ilícito, injustificado, proibido pelo Direito. O gerente, maior 
de 18 anos, é plenamente capaz, é um cidadão mentalmente capaz de compreender que 
seu gesto era proibido, mas, mesmo assim, não merecerá reprovação do Direito Penal, 
não será censurado, pois agiu sob coação, de natureza moral, a que não podia resistir. 
 
Ninguém, nem a sociedade, pode exigir dele que, em vez de apropriar-se do dinheiro e 
entregá-lo aos que ameaçavam seus familiares, tivesse ido atrás da polícia, colocando em 
risco a vida de seus entes queridos. Essa exigência o ordenamento jurídico-penal, em 
nome da vontade da sociedade, sua fonte produtora, não faz àquele homem, preferindo 
desculpá-lo, perdoá-lo, isentando-o da pena criminal, porque, nas circunstâncias em que 
ele se encontrava, não se pode censurá-lo pelo que fez. Quando não se pode censurar o 
comportamento daquele que pratica o fato típico e ilícito, quando não se pode reprová-lo, 
o Direito o desculpa. Nesse caso, igualmente, não há crime. 
 
Essa reprovabilidade do fato praticado pelo agente, a censurabilidade do comportamentohumano, é a terceira característica do crime, denominada culpabilidade. O crime, 
portanto, deve ser, sempre, um fato típico, ilícito e reprovável, censurável, culpável. Em 
conclusão, crime é um fato típico, ilícito e culpável. 
 
Com base em todo o ordenamento jurídico-penal, que contém todas as normas penais 
incriminadoras, permissivas justificantes e permissivas exculpantes, além das 
explicativas, fez-se a decomposição de todo e qualquer crime em três notas 
características, elementos ou faces, não importa que expressão se queira utilizar. 
Descobriram-se os três componentes do crime. Estudar o crime, então, é estudar essas 
três características: o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade. 
 
2. SUJEITOS DO CRIME: 
 
2.1 – SUJEITO ATIVO: 
 
A pessoa que pratica o fato típico, que realiza a conduta descrita na lei penal 
incriminadora, é chamada de sujeito ativo do crime. No Direito brasileiro, somente o ser 
 
 
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humano pode ser sujeito ativo do crime. Ultimamente, muito se tem discutido sobre a 
possibilidade de se responsabilizar, criminalmente, também a pessoa jurídica. 
 
Assim, atualmente, inclusive com respaldo em questões de concursos públicos, vem se 
adotando a possibilidade das pessoas jurídicas serem sujeitos ativos de crimes, nos 
termos que os artigos 225 § 3º e 173 § 5º de nossa Constituição Federal, que prevê a 
responsabilização da pessoa jurídica por atos cometidos contra o meio ambiente e a 
ordem financeira e econômica. Contudo, a doutrina exige a adoção da dupla imputação. 
 
De acordo com a "Teoria da dupla imputação" a responsabilidade penal da pessoa 
jurídica, nos crimes ambientais, só ocorre quando há, simultaneamente, a imputação do 
ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou ainda, em seu benefício. Tal 
entendimento é consagrado no STJ. Vejamos a ementa de um julgado: 
 
EMENTA 01 - PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE 
SEGURANÇA. CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. DENÚNCIA. INÉPCIA. SISTEMA 
OU TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO. NULIDADE DA CITAÇÃO. PLEITO 
PREJUDICADO. 
I - Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde 
que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome 
ou em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a responsabilização do 
ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo 
próprio" cf. Resp nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de 13/06/2005 
(Precedentes). 
II - No caso em tela, o delito foi imputado tão-somente à pessoa jurídica, não descrevendo 
a denúncia a participação de pessoa física que teria atuado em seu nome ou proveito, 
inviabilizando, assim, a instauração da persecutio criminis in iudicio (Precedentes). 
III - Com o trancamento da ação penal, em razão da inépcia da denúncia, resta 
prejudicado o pedido referente à nulidade da citação. Recurso provido. (RMS 20601/SP, 
5ª Turma, rel. min. Felix Fisher, j. 29/06/2006, v.u., DJ 14/08/2006,p. 304). 
 
OBS.: ABOSOLVIÇÃO DE PESSOA FÍSICA E CONDENAÇÃO PENA DE PESSOA 
JURÍDICA: Para o STF (1º Turma) é possível a condenação de pessoa jurídica pela 
prática de crime ambiental, ainda que haja absolvição da pessoa física relativamente ao 
mesmo delito. Vejamos a notícia abaixo: 
 
“É possível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que 
haja absolvição da pessoa física relativamente ao mesmo delito. Com base nesse 
entendimento, a 1ª Turma manteve decisão de turma recursal criminal que absolvera 
gerente administrativo financeiro, diante de sua falta de ingerência, da imputação da 
prática do crime de licenciamento de instalação de antena por pessoa jurídica sem 
autorização dos órgãos ambientais. Salientou-se que a conduta atribuída estaria contida 
no tipo penal previsto no art. 60 da Lei 9.605/98 (“Construir, reformar, ampliar, instalar ou 
fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou 
serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais 
competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - 
detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente”). 
Reputou-se que a Constituição respaldaria a cisão da responsabilidade das pessoas física 
 
 
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e jurídica para efeito penal (“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as 
presentes e futuras gerações. ... § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao 
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e 
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”). RE 
628582 AgR/RS rel. Min. Dias Toffoli, 6.9.2011.” 
 
2.2 – SUJEITO PASSIVO: 
 
O sujeito passivo é o titular do bem jurídico visado pela conduta típica. Os doutrinadores 
fazem distinção entre sujeito passivo material e sujeito passivo formal. Aquele é, 
efetivamente, o titular do bem atacado, podendo ser o particular ou mesmo o Estado, que 
pode ser vítima de furto, de estelionato etc. Já sujeito passivo formal seria sempre o 
Estado, que é o titular da ordem proibitiva da conduta típica. 
 
3. OBJETO DO CRIME: 
 
Objeto jurídico do crime é o bem jurídico visado pela conduta típica, o interesse contra o 
qual o comportamento proibido se dirige. No tipo de homicídio, é a vida; no de furto, o 
patrimônio; no de estupro, a liberdade sexual da mulher. Objeto material do crime é a 
pessoa ou a coisa sobre a qual a conduta típica vai incidir. No tipo de homicídio e no de 
estupro, o corpo humano; no furto, a coisa subtraída. 
 
4. DENOMINAÇÃO DO CRIME: 
 
Além de definir os fatos como crime, a lei penal confere-lhes um nome, pelo qual podem 
ser identificados. “Matar alguém”, do caput do art. 121, é denominado na lei de “homicídio 
simples”. O crime definido no art. 155 é denominado “furto”. Os crimes que têm mesmo 
objeto jurídico são agrupados no Código Penal em capítulos, e os mais específicos, em 
seções, recebendo, igualmente, denominações genéricas, tais como: Crimes contra a 
Pessoa, Crimes contra a Vida, Crimes Contra a Honra, Crimes contra o Patrimônio. 
 
5. CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL: 
 
A lei penal brasileira, além de definir como crime certas condutas do homem – 
cominando-lhe penas – define, sob o nome de “contravenção penal”, outros 
comportamentos, cominando-lhes, igualmente, sanções penais. 
 
Contravenção penal é também um fato típico, ilícito e culpável, um fato definido e proibido 
por uma lei sob a ameaça de uma pena, a qual, tanto quanto o crime, deve ser contrária 
ao Direito e reprovável. Pode-se dizer que é outra categoria de crime, chamada de 
contravenção penal. 
 
Os italianos chamam a contravenção de delito anão, o que indica tratar-se de um crime de 
menor gravidade. Outros sinônimos, inclusive, já foram cobrados em prova (p.ex.: crime 
vagabundo, delito liliputiano) 
 
 
 
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A diferença que ressalta primeiro entre crime e contravenção não está em nenhum deles, 
mas em sua conseqüência, como se viu da definição legal da Lei de Introdução ao 
Código Penal: a pena para a contravenção penal consiste em prisão simples e/ou multa, 
ao passo que para o crime a pena é de reclusão, detenção e/ou multa. 
 
A diferença entre a prisão simples e as penas reclusivas e detentivas está não só no 
estabelecimento penal onde devem ser cumpridas, mas também no rigor com que são 
executadas. A prisão simples é aquela cumprida em estabelecimento especial, sem rigor 
penitenciário, ao passo que as penas de reclusão e detenção são, respectivamente, 
cumpridas em estabelecimentos penaisde segurança máxima, média ou mínima. 
 
Recentemente, há propostas de descriminalizar a maioria das contravenções penais e os 
crimes de pequena gravidade objetiva, como uma das medidas de política criminal 
reclamadas, a fim de construir um Direito Penal de intervenção mínima, como se exige 
para a consecução de seus verdadeiros e legítimos objetivos 
 
Algumas diferenças práticas importantes entre crime e contravenção devem ser 
mencionadas. Nesta, não se conhece a tentativa e admite-se o erro de direito; ela não é 
punível se o fato ocorre no estrangeiro, e o tempo máximo de cumprimento de penas não 
pode ultrapassar cinco anos. 
 
 
CAPÍTULO 4 – FATO TÍPICO 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: 
 
A primeira característica do crime é ser um fato típico, descrito, como tal, numa lei penal. 
Um acontecimento da vida que corresponde exatamente a um modelo de fato contido 
numa norma penal incriminadora, a um tipo. 
 
Para que o operador do Direito possa chegar à conclusão de que determinado 
acontecimento da vida é um fato típico, deve debruçar-se sobre ele e, analisando-o, 
decompô-lo em suas faces mais simples, para verificar, com certeza absoluta, se entre o 
fato e o tipo existe relação de adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e absoluta. 
Essa relação é a tipicidade. 
 
Para que determinado fato da vida seja considerado típico, é preciso que todos os seus 
componentes, todos os seus elementos estruturais sejam, igualmente, típicos. Os 
componentes de um fato típico são a conduta humana, a conseqüência dessa conduta se 
ela a produzir (o resultado), a relação de causa e efeito entre aquela e esta (nexo causal) 
e, por fim, a tipicidade. 
 
1.1 – CONDUTA: 
 
A conduta é a realização material da vontade humana. Ela pode ser ter ativa ou omissiva, 
consciente e voluntária, sempre objetivando uma finalidade. 
 
 
 
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O Direito Penal se interessa pelas condutas que poderiam ter sido evitadas, por isso, o 
pensamento, enquanto não manifestar uma conduta pela ação ou omissão não tem 
representação legal para o Direito Penal, ou seja, o fato de pensar que vai matar alguém 
ou pensar que vai furtar tal objeto não se caracteriza crime enquanto ficar apenas no 
pensamento. 
 
O Código Penal brasileiro adotou a teoria finalista de Welzel. Na Teoria Finalista, 
elaborada no final da década de 1920, conclui-se que o tratamento legal não depende 
apenas do que causou o resultado, mas, da forma como foi praticada a ação. Por 
exemplo, matar uma pessoa por dinheiro é diferente de matar uma pessoa numa briga de 
trânsito que é diferente de matar uma pessoa numa colisão automobilística. Em ambos os 
casos, tem-se como resultado a morte, mas, no ponto de vista subjetivo, configura-se 
diferentes ações e cada qual com maior ou menor valoração, portanto, dependendo de 
sua finalidade, a qualificação jurídica do crime se altera (crime doloso, culposo). 
 
1.1.1 - AUSÊNCIA DE CONDUTA: 
 
Só existe conduta quando houver vontade do agente. A experiência da vida mostra 
algumas situações em que o homem, sem vontade, movimenta-se ou abstém-se de 
movimento, dando causa, com uma dessas atitudes, a alguma lesão a um bem jurídico 
penalmente protegido. 
 
Um exemplo: em certo hospital, à meia-noite, a enfermeira Sandra deve ministrar, ao 
paciente Juarez, determinado medicamento, sem o qual o doente, inevitavelmente, 
morrerá. Suponham que, dez minutos antes, Joaquim, desejando a morte de Juarez, após 
entrar no hospital, consegue subjugar a enfermeira, conduzindoa a um quarto, onde a 
amarra com cordas e a amordaça com fitas adesivas de primeira qualidade, mantendo-a 
atada a uma das colunas do prédio, de tal modo que lhe é impossível gritar, grunhir, sair, 
soltar-se, enfim, realizar qualquer movimento com o corpo ou, simplesmente, com a boca. 
 
Aos dez minutos do novo dia, o paciente, sem o medicamento indispensável, morre. A 
enfermeira omitiu-se? Deixou de cumprir seu dever de ministrar o medicamento ao 
paciente? Houve, de sua parte, um comportamento humano, negativo, uma abstenção de 
um movimento final? É evidente que não. Só há conduta quando há vontade. No exemplo, 
a força imprimida contra a enfermeira impedia-lhe de ter vontade de agir. Era-lhe 
fisicamente impossível agir. Mesmo que desejasse – e é certo que ela assim quis –, com 
todas as suas forças, soltar-se das amarras, e dirigir-se ao quarto do paciente, para 
aplicar-lhe o medicamento, não lhe era possível fazê-lo. É claro que ela deixou de cumprir 
um dever. 
 
Aconteceu uma inação, uma omissão, mas essa abstenção do movimento do corpo não 
foi voluntária, não foi impulsionada pela vontade humana; logo, não constituiu uma 
conduta. Ela não teve vontade de omitir-se, não teve vontade de deixar de movimentar-
se. Sem vontade, não há conduta. 
 
Situações como essa são chamadas de “ausência de conduta”. Dá-se a ausência de 
conduta quando ocorre a lesão de um bem jurídico, em conseqüência da atitude do 
homem – positiva ou negativa – sem, contudo, ter havido, da parte dele, vontade. É uma 
 
 
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situação em que ocorre a lesão de um bem jurídico, com a interferência do homem, sem 
que tenha havido, contudo, conduta, por inexistir a vontade. São três os casos possíveis. 
 
A) Coação física irresistível: 
 
Como no exemplo da enfermeira, em algumas situações, incide sobre alguém uma força 
física externa irresistível, a qual, atuando materialmente sobre ele, não pode ser repelida, 
de modo a não lhe deixar qualquer opção de movimento corporal. Trata-se de uma força 
absoluta, a que não se pode resistir. Nesses casos, o homem deixa de movimentar-se, 
deixa de realizar um 
comportamento positivo, de fazer alguma coisa, sem vontade alguma de abster-se, mas 
em virtude da irresistibilidade da força externa que sobre ele atua. Essa força é tão forte, 
que elimina, totalmente, a possibilidade de o homem ter vontade. Nem vontade de omitir-
se. 
 
A força deve ser física e absoluta, deve atuar materialmente, concretamente, sobre o 
corpo do homem e não apenas sobre sua mente, e deve ser de tal intensidade, que seja 
impossível a ele contrapor-se, de modo a, pelo menos, neutralizá-la ou diminuí-la, 
tornando-a resistível. 
 
Só haverá coação física absoluta sobre aquela enfermeira, se as cordas que a ataram 
tiverem sido suficientemente fortes, estiverem devidamente ajustadas, pois, se tiver sido 
amarrada com lacinhos de fita, ou cordas frouxas, a força não seria irresistível. Havendo a 
chamada vis absoluta, não há vontade, não há conduta e, de conseqüência, não há fato 
típico, e por isso o fato não é crime. 
 
B) Movimentos reflexos: 
 
Em movimentos do corpo ditados pelos reflexos naturais, também não se pode falar na 
existência de vontade. Imaginem a situação: João, vendo Joana sentada ao lado da 
parede da sala de aula, e estando por ela apaixonado, resolve abordá-la, dirigindo-se a 
sua frente, onde pretende declarar seu amor. Ao se aproximar da amada, encosta seu 
braço à parede que, por um defeito da fiação elétrica interna, emite um choque elétrico 
que atinge, com grande intensidade, o corpo de João. Este, num movimento reflexo, 
impensado, indesejado, move bruscamente o braço, atingindo o rosto de Joana, bem no 
olho direito, causando-lhe equimoses. 
 
Esse fato revela um movimento corporal de João que, todavia, não constitui conduta, 
posto que não houve, da parte dele, qualquer vontade de movimentar o braço. O que 
houve foi um movimento corporal instintivo, impensado, indesejado, mas determinado 
pela dor sofrida e que gerou um comando cerebral dirigido a João no sentido de que ele 
movesse seu braço, livrando-o do choque elétrico. Não houve vontade e, por isso, não 
houve conduta. Sem conduta, não há fato típico, não há crime. 
 
C) Estados de incosciência: 
 
O primeiro caso revelou a inexistência de vontade, pela açãomaterial externa imprimida 
contra o agente. Ali existe consciência do fato, mas não há vontade. No movimento 
 
 
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reflexo, não há nem consciência acerca do fato e, de conseqüência, não pode haver 
vontade. Nos chamados estados de inconsciência, não existe, simplesmente, a 
consciência. O agente encontra-se absolutamente privado da possibilidade de saber 
qualquer coisa. É como se ele estivesse cego, surdo, mudo e em sono profundo. Logo, 
não pode querer. 
 
Durante o sono, no sonambulismo, na embriaguez letárgica, não se pode afirmar que o 
agente tenha agido, porque, em qualquer dessas hipóteses, não se pode concluir pela 
existência de mínima vontade. Nos casos em que o agente se tenha colocado, 
voluntariamente, num estado de inconsciência, para realizar o fato típico, chamados 
actiones liberae in causa, o direito vai considerar relevante a atitude anterior, realizada 
com consciência. 
 
Ausente, pois, a consciência, ausente a vontade e, de conseqüência, a conduta, ainda 
que dessa situação decorra qualquer lesão a qualquer bem jurídico. Não havendo 
conduta, não há fato típico, e sem este não há o crime. 
 
1.1.2 – FORMAS DE CONDUTA: 
 
Conduta é o comportamento humano voluntário dirigido a um fim (final), positivo ou 
negativo. A expressão conduta é sinônima de ação, em seu sentido amplo, que engloba a 
conduta positiva e a conduta negativa. A conduta positiva é chamada ação, em sentido 
estrito, e a conduta negativa é chamada omissão. 
 
A) Ação: 
 
Ação, em sentido estrito, também chamada comissão, ou conduta comissiva, é a que se 
realiza por meio de um movimento do corpo dirigido a uma finalidade. Existe uma 
vontade, um querer, e a manifestação dessa vontade, sua concretização, por meio de um 
movimento do corpo. São exemplos de ações: disparar um tiro de revólver, empurrar o 
corpo de uma pessoa, cortar com uma faca um objeto, levar o copo ou o garfo à boca. 
 
A grande maioria dos tipos legais de crime descreve condutas – “matar alguém”, “subtrair, 
para si ou para outrem, coisa alheia móvel”, “constranger mulher à conjunção carnal...” – 
que se realizam por ações em sentido estrito, de movimentos corporais, o que não 
impede possam algumas delas realizar-se por meio de comportamento oposto, da 
abstenção de movimentos corporais, a omissão, como se verá a seguir. 
 
B) Omissão: 
 
A omissão, ou conduta omissiva, é a que se manifesta por abstenção do movimento do 
corpo, dirigida a uma finalidade. A omissão não é simplesmente deixar de fazer alguma 
coisa, mas deixar de realizar um comportamento que deveria ser realizado e que o 
omitente poderia ter concretizado – “a omissão é a não-realização de um comportamento 
exigido que o sujeito tinha a possibilidade de concretizar” 
 
B.1) Omissão pura: 
 
 
 
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Omissão pura ou omissão própria, que dá lugar aos chamados crimes omissivos próprios, 
é a abstenção de um comportamento determinado por uma norma penal incriminadora. 
Para existir a omissão própria, é necessário que exista um tipo legal de crime 
descrevendo uma conduta omissiva, como, por exemplo, no art. 269 do Código Penal: 
“Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é 
compulsória.” 
 
Como se vê, o tipo descreve uma omissão, uma inação, a abstenção de um movimento, 
pelo que a norma manda o sujeito realizar um movimento do corpo, uma ação, em sentido 
estrito: deve o médico denunciar à autoridade pública a doença, deve realizar um 
comportamento positivo. 
 
Não realizando o comportamento exigido pela norma incriminadora, quando lhe era 
possível fazê-lo, o sujeito realiza o fato típico omissivo próprio. São exemplos de tipos de 
omissão pura os seguintes, do Código Penal: a) definido, no art. 135, como omissão de 
socorro (Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública); b) 
no art. 244, o abandono material (Deixar, sem justa causa, de prover à subsistência do 
cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de 
ascendente inválido ou valetudinário, não lhes proporcionando os recursos necessários 
ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou 
majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente 
enfermo); c) no art. 246, o abandono intelectual (Deixar, sem justa causa, de prover à 
instrução primária de filho em idade escolar). 
 
Os comportamentos omissivos são bem revelados nas locuções verbais utilizadas na 
descrição das condutas: “deixar de”, “não pedir”, “deixar”, “não lhes proporcionando”, 
“faltando ao pagamento” etc. 
 
Como se verifica, nos referidos tipos não se exige que da omissão resulte algum dano a 
quem quer que seja, bastando, para caracterizar o fato, que o sujeito não realize o 
comportamento exigido e que ele podia realizar. Omissão é não realizar o devido e 
possível. 
 
B.2 – Omissão imprópria: 
 
A omissão imprópria, também chamada comissão por omissão, e que dá lugar aos delitos 
omissivos impróprios ou comissivos por omissão, ou, ainda, comissivos omissivos, é a 
abstenção de um movimento corpóreo final que o sujeito devia e podia realizar para 
impedir a produção de um resultado lesivo de um bem jurídico. 
 
Para a definição desses crimes, não existe uma norma penal incriminadora que mande o 
sujeito agir, como na omissão pura. Ocorre um fato típico de crime omissivo impróprio 
quando, existindo norma penal impondo a determinado sujeito a obrigação de agir para 
impedir a ocorrência de resultados lesivos – conferindo-lhe, portanto, uma obrigação de 
realizar um comportamento positivo de modo a evitar que um bem jurídico seja atingido –, 
 
 
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ele, podendo, não o realiza, em razão do que ocorre o resultado que deveria ter sido 
evitado. 
 
Deixando de realizar a ação exigida e, em conseqüência dessa inação, ocorrendo o 
resultado, o sujeito que devia e podia agir responde pelo evento acontecido, como se o 
tivesse cometido. 
Veja-se o exemplo: João, à beira da piscina de sua casa, vê seu filho menor afogando-se 
e não tenta salvá-lo, podendo fazê-lo. O filho morre afogado. 
 
Do ponto de vista mecânico, meramente causal, não se pode dizer que João matou seu 
filho, uma vez que ele não realizou um comportamento destinado a obter o resultado 
morte. Não realizou uma ação. Não cometeu algo, não agiu. Ocorre que a lei ordena ao 
pai que proteja o filho, impedindo a ocorrência de qualquer mal com o menor. Manda-o 
agir para impedir todos e quaisquer resultados lesivos a seu filho. Ao manter-se inerte, 
diante do perigo representado pelo afogamento, o pai, podendo movimentar-se para evitar 
o mal, viola a norma, e por isso responderá pelo resultado, como se o tivesse produzido. 
É como se ele tivesse cometido o crime de homicídio, por omissão. Daí o nome de 
comissão por omissão. 
 
A omissão imprópria, portanto, não pode ser realizada senão por certas pessoas, aquelas 
que têm o dever de agir para impedir o resultado. O § 2º do art. 13 do Código Penal 
estabelece: “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para 
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, 
proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o 
resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.” 
 
Essas pessoas estão obrigadas a agir para evitar que o resultado ocorra. Se, podendo 
agir, não realizam uma ação, stricto sensu, a fim de impedir a ocorrência do resultado, 
serão consideradas, por força da norma, causadoras dele. É claro que só se pode 
considerá-las causadorasdo resultado do ponto de vista normativo, por força da norma, e 
não do ponto de vista físico, natural, causal, já que o que mata o filho afogado é a 
ingestão de água nos pulmões e a asfixia que se segue etc. 
 
Quem mata o filho que está pendurado num barranco ou num galho de uma árvore e cai 
no despenhadeiro não é o pai que, podendo, não o socorre, mas o traumatismo craniano 
decorrente do choque do corpo com o chão. Fisicamente, é isso, mas, do ponto de vista 
do Direito, da norma jurídica, quem tinha o dever de agir para impedir o resultado lesivo 
será considerado seu causador e por ele responderá. 
 
Assim, o pai, natural ou por adoção, o curador, o tutor, o carcereiro, o diretor do presídio, 
são pessoas que têm, por dispositivo legal, a obrigação de cuidar dos filhos, protegê-los e 
zelar por eles, pelos curatelados, tutelados e presos, respectivamente. Estando qualquer 
desses diante do risco de uma lesão, aqueles, seus garantes, estão obrigados a agir para 
impedir que a lesão ocorra. 
 
Se a pessoa, mesmo não tendo o dever legal de proteção, guarda ou vigilância, assumir, 
contratualmente, a responsabilidade de impedir o resultado, também estará obrigada a 
 
 
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agir. Não é necessária a existência de um contrato, e tampouco escrito, mas que a 
pessoa se coloque numa posição de garantidora, de protetora. 
 
É o caso do guia de turismo, da babá, do enfermeiro, em relação ao turista, à criança e ao 
doente. Entre eles há uma relação de confiança, em que os primeiros se obrigam a 
prestar uma atenção especial. Por isso, na situação em que se pode prever a 
possibilidade de um resultado indesejado, lesivo, de um bem jurídico, o garante deve agir 
para impedir o resultado. Se não o faz, podendo, e o resultado ocorre, por ele irá 
responder, pois que assumiu a responsabilidade de evitá-lo. 
 
A última situação é a da pessoa que, com um seu comportamento precedente, cria o risco 
de que o resultado venha a ocorrer. Por exemplo, João coloca fogo em pastagem de sua 
propriedade, costume da região Centro-oeste do país, e o fogo, em razão dos ventos do 
Planalto Central, ultrapassa os limites de sua propriedade, atingindo um galpão situado no 
terreno de seu vizinho Alfredo, onde estão guardados bens de sua propriedade, máquinas 
agrícolas, alguns animais, e até crianças brincando. 
 
O risco da ocorrência de um resultado lesivo a qualquer dos interesses dos vizinhos de 
João foi criado por seu comportamento voluntário de atear fogo na vegetação de sua 
propriedade. É certo que sua vontade não era de causar prejuízo a seus vizinhos; todavia, 
o fogo ultrapassou os limites de sua propriedade, e foi gerar perigo de lesão para 
interesses de terceiras pessoas. 
 
João tem o dever jurídico de, podendo, agir para impedir a ocorrência de quaisquer lesões 
a quaisquer bens jurídicos de quem quer que seja, pois foi o responsável pela criação da 
situação que os colocou sob o risco de sofrer qualquer lesão. Essas pessoas – as que 
têm o dever legal de proteção, guarda e vigilância, as que de outra forma assumiram a 
responsabilidade de impedir o resultado, e as que, com comportamento antecedente, 
criaram a situação de risco de ocorrer o resultado – são denominadas garantes, e estão 
obrigadas a agir para impedir que o resultado aconteça. 
 
Se, podendo, não agem, vale dizer, omitindo-se, respondem pelo resultado como se 
tivessem dado causa a ele. É essa a norma penal. A única possibilidade de se eximirem 
de responder pelo resultado, de não verem suas condutas tipificadas como comissivas 
por omissão, ou de omissão imprópria, é demonstrarem absoluta impossibilidade de 
agirem. Por exemplo: não pode impedir a morte do filho que se afoga na piscina o pai que 
se encontrava em outra cidade no momento em que a criança se atira na água. 
 
Apesar de ter o dever legal de proteção, guarda e vigilância, o pai encontrava-se 
trabalhando em outro local, e, mesmo tendo o dever de agir para impedir o resultado, não 
lhe era possível fazê-lo, até por não ter conhecimento da necessidade de agir, e, mesmo 
que avisado, não lhe era possível evitar o resultado. 
 
De conseqüência, só responde pelo delito comissivo por omissão aquele que tem o dever, 
legal ou jurídico, de agir para impedir o resultado e, podendo fazê-lo, omite-se. 
 
1.1.3. DOLO: 
 
 
 
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O Direito Penal não poderia considerar crime o simples comportamento humano, a 
conduta, positiva (ação) ou negativa (omissão), independentemente da formação da 
vontade do sujeito. 
Longe se vai, na história, o tempo em que se punia pela simples relação de causa e efeito 
entre o comportamento do homem e o resultado lesivo. Um Direito Penal democrático só 
pode considerar crimes comportamentos humanos voluntários que poderiam ter sido 
evitados. 
 
Importa muito saber qual a atitude interna do homem quando se comporta de modo a 
causar dano a um bem jurídico alheio. Agiu com vontade de matar? Agiu com 
displicência? 
 
O que ocorre na esfera do pensamento humano, no interior da consciência do sujeito, no 
momento em que ele movimenta seu corpo ou abstém-se do movimento que devia 
realizar? A resposta a essa indagação é imprescindível para se determinar a existência de 
um crime. 
 
Não é crime qualquer causação de um resultado lesivo de um bem jurídico. Há mortes 
inevitáveis, como a causada por um raio que cai sobre a cabeça de um homem. Só serão 
considerados crimes resultados que poderiam ter sido evitados. Estabeleceu-se que os 
fatos definidos como crime serão dolosos ou culposos. Os primeiros constituem a regra e 
serão punidos mais rigorosamente, porque constituem comportamentos merecedores de 
maior resposta penal. 
 
 Logo, somente haverá conduta típica dolosa ou conduta típica culposa. Por isso, é 
necessário entender tanto o conceito de dolo quanto o de culpa, em sentido estrito, que 
qualificam as condutas, respectivamente, de dolosas e de culposas. 
 
1.1.3.1 – TEORIAS DO DOLO: 
 
Várias são as teorias que procuram explicar o que seja esta importantíssima categoria do 
Direito Penal, o dolo. Basta estudar as três mais importantes, a teoria da vontade, a da 
representação e a do assentimento ou do consentimento. 
 
A) Teoria da vontade: 
 
A teoria clássica, elaborada por Carrara, dizia que dolo é a intenção mais ou menos 
perfeita de praticar um fato que se conhece contrário à lei. Age com dolo, segundo a 
teoria da vontade, quem tem, como objetivo, a prática de um fato definido como crime. Em 
outras palavras, é dolosa a conduta em que o agente tem vontade de alcançar o 
resultado, de conseguir que ocorra, se materialize a conseqüência de seu 
comportamento. 
 
É doloso o comportamento de quem tem consciência do fato, de seu significado e, ao 
mesmo tempo, a vontade de realizá-lo. Exemplo: João tem consciência de que, se deixar 
cair uma pedra pesada, de aproximadamente 20 quilogramas, sobre a cabeça de Maria, 
sua mulher, que dorme, poderá matá-la. Desejoso de ficar viúvo, já que não consegue 
viver com sua mulher e está apaixonado por Mariana, desfere, contra sua mulher, o golpe 
 
 
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violento com a pesada pedra, acabando por matá-la. Agiu, a toda evidência, com dolo, 
com consciência de que, realizando aquele comportamento, causaria a morte de Maria, e 
com vontadede produzir esse resultado. 
 
Significa dizer que João tinha consciência e vontade de realizar o fato definido como 
crime no art. 121 do Código Penal. Tinha consciência dos fatos e vontade de dar causa 
ao resultado proibido. 
 
Quem assim agir, segundo essa teoria, age dolosamente. É quem consegue representar 
o futuro resultado, quem o prevê e, simultaneamente, deseja alcançá-lo. Dolo é, portanto, 
previsão do resultado e, a um só tempo, vontade de alcançá-lo. Dolo é consciência 
(previsão) e vontade. 
 
B) Teoria da representação:Uma segunda teoria entende o dolo de forma bem distinta. Não é necessário que o 
agente tenha vontade de alcançar o resultado, bastando que o preveja, que o represente. 
Se o agente antevê o resultado e não se detém, realizando uma conduta que dá causa ao 
resultado, mesmo não tendo desejado alcançá-lo, terá agido dolosamente, por tê-lo 
representado, porque o previu. 
 
Quem, dirigindo seu veículo por uma avenida movimentada – avistando à frente alguns 
transeuntes próximos da pista, que aparentam querer atravessá-la, e prevendo a 
possibilidade de uma travessia e possível atropelamento, com seu veículo –, continua, 
apesar da previsão do atropelamento, no percurso, sem se deter, e acaba por atropelar 
alguém, causando-lhe ferimentos, só por ter previsto a possibilidade do resultado, só por 
tê-lo representado, só por isso, já teria agido com dolo. 
 
Para essa teoria não é necessário que o agente tenha vontade de produzir o resultado, 
basta que o tenha previsto. Dolo seria a representação do resultado. 
 
C) Teoria do assentimento ou do consentimento: 
 
Esta teoria, tanto quanto a teoria da vontade, exige que o agente tenha consciência do 
fato, tenha previsão do resultado, mas não exige que ele queira alcançar o resultado, 
bastando que o aceite, que nele consinta, caso ele aconteça. 
 
Em outras palavras, para essa teoria é dolosa a conduta de quem, prevendo o resultado, 
não o deseja, mas dá seu assentimento, se o resultado, eventualmente, acontecer. 
 
Exemplo: João numa caçada, avistando um animal e próximo dele um homem, desejando 
atingir a caça, prevê que, se errar o tiro, poderá atingir o homem a quem não deseja 
matar. Fazendo a previsão, João, apesar disso, pensa: “não quero atingir o homem, mas 
se o atingir, tudo bem, não posso fazer nada”. Em seguida, atira e atinge o homem, em 
vez da caça. Nesse caso, para esta teoria, João agiu com dolo, porque, apesar de não 
querer o resultado, aceitou-o. 
 
1.1.3.2 - DOLO NO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: 
 
 
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Das três teorias, a da representação não pode, em nenhuma hipótese, ser aceita, pois 
não pode ser tido como doloso o simples “prever um resultado”, que não é 
comportamento, mas um puro acontecimento psicológico, não revelando nenhuma 
atitude, nem mesmo interna do sujeito, mas um simples pensamento, uma simples 
constatação, aliás, absolutamente indemonstrável. 
 
Quem apenas prevê o resultado não pode ser tratado igualmente ao que, além de prever, 
deseja alcançá-lo. É certo, portanto, que o dolo não pode ser apenas previsão. 
 
Não se pode esquecer que aqui se trata da construção de um elemento indispensável 
para considerar uma conduta como típica, merecedora de uma pena criminal, aliás, a 
mais severa das sanções jurídicas. 
 
Devem ser consideradas delituosas as condutas realizadas com deliberada vontade de 
realizar a figura típica, alcançando o resultado nela previsto. Aquele que age com a 
intenção de causar um dano a um bem jurídico deve merecer a maior reprovação. Com 
razão, pois, a teoria da vontade. Dolo deve ser consciência do fato e a vontade de 
produzir o resultado. 
 
Por outro lado, dolo não pode ser apenas consciência e vontade, previsão e vontade de 
alcançar o resultado, uma vez que a atitude daquele que, mesmo não desejando o 
resultado, aceita-o, se ele ocorrer, é tão grave que merece quase tanta censura quanto a 
do que quer o resultado. 
 
Quem, após prever um resultado, não se detém e age, com a atitude interna de aceitação 
da lesão, de indiferença em relação ao bem jurídico alheio, deve ser equiparado ao que 
busca realizar a lesão, alcançar o resultado. A atitude interna de não respeitar o bem 
jurídico alheio daquele que não deseja, mas aceita sua lesão, deve merecer, se não 
idêntico, pelo menos muito próximo tratamento, e ser equiparada à do que a deseja, pois 
que, apesar da diferença, significam, praticamente, o mesmo para os bens jurídicos 
colocados sob a proteção do Direito Penal. 
 
Nenhum dos agentes se detém diante da previsão do resultado lesivo. Um porque o 
deseja, o outro porque o aceita. As duas atitudes internas devem ser consideradas, 
igualmente, dolosas. Nenhum deles evita a conduta que o pode gerar, porque não está 
preocupado com a possibilidade da lesão. E as duas condutas provocam a lesão. A 
diferença entre querer e apenas aceitar não é suficiente para impor tratamento diferente 
às duas condutas. 
 
Por isso, o Código Penal brasileiro adotou as duas teorias, a da vontade e a do 
assentimento, no art. 18, I: “Diz-se o crime: I – doloso, quando o agente quis o resultado 
ou assumiu o risco de produzi-lo.” É dolosa a conduta quando o agente “quis o resultado”, 
e é também quando, mesmo sem querê-lo, o agente “assume o risco” de sua produção, o 
que significa “aceita-o, se ele ocorrer”. 
 
Não se deve afirmar que age com dolo o agente que arrisca um comportamento, mas o 
que aceita o risco de sua produção. Aceitar ou assumir o risco não tem o mesmo sentido 
 
 
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do popular “arriscar”, que significa, sim, um comportamento perigoso, arriscado, mas que 
não quer dizer, necessariamente, que o agente aceita o resultado lesivo, se ele vier a 
acontecer. 
 
A) Espécies de dolo: 
 
O dolo direto, ou determinado, é aquele em que o sujeito busca alcançar um resultado 
certo e determinado. Contrariamente, diz-se que o dolo é indireto ou indeterminado, 
quando a vontade do agente não se dirige a um resultado certo, preciso, determinado. 
 
O dolo indireto pode ser alternativo, quando o sujeito quer um ou outro resultado, por 
exemplo, matar ou ferir seu desafeto. Sua vontade dirige-se a qualquer dos resultados, 
não a um deles especificamente. Se acontecer o primeiro, estava na vontade do agente. 
Se acontecer o segundo, do mesmo modo, era resultado almejado. 
 
A outra espécie de dolo indireto é o dolo eventual, em que o agente não deseja o 
resultado previsto, mas o aceita, se ele, eventualmente, acontecer. Ocorre quando o 
agente, mesmo não querendo o resultado, assume, aceita o risco de sua produção. Sua 
vontade não se dirige ao resultado, mas, se este acontecer, será aceito pelo agente. 
 
Com vontade de alcançar o resultado ou apenas aceitando-o, a conduta é dolosa, o fato é 
doloso, igualmente. Assim, no que diz respeito à verificação da correspondência entre o 
fato natural e o tipo legal de crime, nenhuma diferença faz ter sido o dolo direto ou 
indeterminado. Já disse o doutrinador, o dolo eventual e o dolo direto são as faces de 
uma única moeda. 
 
1.1.4 – CULPA: 
 
O Direito Penal deveria preocupar-se apenas com os comportamentos dolosos, que 
efetivamente representam uma atitude interna do homem que deve ser proibida e ter 
como conseqüência a severa sanção penal. Deveria ser assim, não fosse o Direito Penal 
o protetor dos bens jurídicos mais importantes, das lesões mais graves, que devem ser 
punidas, ainda que o fim pretendido por seus causadores seja outro. 
 
Modernamente, vêm ocorrendo cada vez mais lesões graves de bens jurídicos 
importantíssimos, causadas por comportamentos humanos não dolosos. É claro que 
pessoas morrem ou são feridas por causa de condutas humanas em que não se queria, 
nem se aceitava a lesão, mas em muitos casos elas poderiam ser evitadas se o agente 
tivesse tomado um pouco de cuidado. 
 
O número de mortes e danos à integridade corporal ou à saúde das pessoas, causados 
por comportamentos humanos não dolosos tem aumentado consideravelmente. O Direito 
Penal não poderia ignorar a existência desses ataques, razão por que, ao lado da conduta 
dolosa, se passou a punir também o fato chamado “culposo”, praticado com “culpa, em 
sentido estrito”. 
 
6.1.4.1 – CONCEITO E ELEMENTOS DA CULPA: 
 
 
 
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Os doutrinadores ensinam que não existe um conceito perfeito de culpa, em sentido 
estrito, masque, com base no enunciado no art. 18, II, do Código Penal (diz-se o crime 
culposo quando o agente deu causa ao resultado, por imprudência, negligência ou 
imperícia), se poderia dizer que culposa é a conduta voluntária que produz resultado 
ilícito, não desejado, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a 
devida atenção, ser evitado. 
 
A culpa, em sentido estrito, ou negligência, expressão mais técnica e precisa e que evita 
confusões desnecessárias, é a falta de cuidado do agente, numa situação em que ele 
poderia prever a causação de um resultado danoso, que ele não deseja, nem aceita, e às 
vezes nem prevê, mas que, com seu comportamento, produz e que poderia ter sido 
evitado. 
 
Desse conceito extraem-se os elementos que integram a culpa, em sentido estrito: (a) 
conduta voluntária; (b) inobservância do dever de cuidado objetivo; (c) resultado lesivo 
indesejado; (d) previsibilidade objetiva; (e) tipicidade. 
 
A) Conduta voluntária: 
 
Só haverá culpa, stricto sensu, e, de conseqüência, fato culposo, se nele estiverem 
reunidos todos os seus indispensáveis elementos. Ausente um deles, o fato não é culposo 
e, de conseqüência, não haverá crime culposo. 
Só interessam ao Direito Penal as condutas voluntárias. Por isso, para que haja culpa, a 
conduta, positiva ou negativa, deve ser voluntária e dirigida a determinada finalidade. 
 
De notar que, no fato culposo, a conduta não se dirige à produção do resultado, não se 
destina à realização de um tipo legal de crime, pois, se assim fosse, haveria dolo. A 
conduta é, todavia, final e dirige-se geralmente a um fim perfeitamente lícito, permitido 
pelo Direito. 
 
Se não for voluntária, não haverá conduta, mas ausência de conduta e o fato não será 
típico. Logo, não será crime. 
 
B) Inobservância do dever de cuidado objetivo: 
 
Este é um mundo farto de complexidade nas relações humanas. Os indivíduos vivem seu 
dia-a-dia intensamente. A moderna sociedade ocidental exige muito dos indivíduos, em 
todos os setores de sua vida. 
 
O mundo vive uma guerra constante, em que todos desejam alcançar o sucesso, vida 
digna, felicidade, paz, prosperidade, tranqüilidade, prazer, realização pessoal, 
profissional, afetiva, enfim, todos querem ser felizes, e essa tal felicidade está sempre 
num ponto onde – tudo leva a, quase sempre, acreditar – o braço não alcança, a vista não 
divisa, as pernas não conseguem levar o corpo, ou o barco não aporta. Talvez, por isso, 
as pessoas não se contentam com o que têm e estão, sempre, apesar dos perigos e dos 
riscos, e, quase sempre, sem considerar conseqüências indesejáveis, procurando o 
impossível, com comportamentos impensados, perigosos, arriscados. Apesar da 
competição em que todos estão lançados, os homens devem 
 
 
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comportar-se de modo a não causar prejuízo às outras pessoas. O direito posto na 
sociedade determina a todos o dever de agir de modo a respeitarem os bens e os valores 
dos outros indivíduos. 
 
O dever objetivo de cuidado é um dever que não precisa estar escrito, expressamente, 
em uma norma jurídica. Não é necessária norma que imponha ao motorista do veículo a 
desaceleração e a compressão do pedal dos freios, quando, diante da luz verde do 
semáforo, verificar um transeunte imprudente resolver atravessar a faixa, num momento 
para ele proibido. 
 
O sinal verde, se autoriza a travessia, não autoriza, contudo, o atropelamento. Não é 
necessário que um químico seja avisado de uma norma que o mande não acender fogo 
nas imediações de substâncias altamente sujeitas à combustão. Tal proibição decorre do 
bom-senso, que o conhecimento acerca das coisas naturais lhe impõe. 
 
A inobservância desse dever geral constitui comportamento proibido pelo direito, e, se 
dela decorrer a lesão a um bem jurídico, pode constituir o delito culposo. São formas de 
manifestação dessa violação: a imprudência, a negligência e a imperícia. 
 
B.1 – Imprudência: 
 
A imprudência é a prática de um fato perigoso. A cautela impõe a inação, a abstenção de 
um movimento, o cuidado de não realizar uma ação, mas o sujeito, mesmo assim, age 
colocando um processo causal em movimento. É, por exemplo, dirigir um veículo 
automotor em velocidade absolutamente incompatível com determinado local, num 
estacionamento, às portas de uma escola ou numa praça repleta de transeuntes. 
 
A imprudência é, sempre, a realização de um movimento do corpo. É, pois, positiva. 
 
B.2 – Negligência: 
 
A negligência é a ausência de precaução, a omissão, a não-realização de um movimento 
que deveria ter sido colocado em marcha, que a prudência mandava fazer e o agente não 
faz. 
 
É o descuido do pai que, ao chegar em casa, tira sua arma, carregada, e a deixa sobre a 
mesa da sala, local onde daí a pouco estarão seus filhos menores e adolescentes. A 
negligência é, sempre, a omissão, a abstenção de um movimento corporal; é, portanto, 
negativa. 
 
B.3 – Imperícia: 
 
Imperícia é a falta de aptidão ou de destreza para o exercício de determinada arte ou 
profissão, pressupondo, portanto, que o fato seja praticado no exercício das artes ou 
profissões. 
 
Médicos, engenheiros, farmacêuticos, químicos, pedreiros, motoristas, carpinteiros, enfim, 
todos os profissionais estão obrigados a desempenhar-se de acordo com as normas 
 
 
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técnicas de cada uma de suas profissões, a fim de não causarem lesões aos bens 
jurídicos das outras pessoas. 
 
O cirurgião deve, ao fazer as incisões sobre o corpo humano, atentar para as normas 
técnicas procedimentais, de modo a não cometer erros no momento em que faz o bisturi 
incidir sobre os tecidos do corpo humano, e a não fazer incisões mais profundas que o 
indispensável, lesionando partes que não deveriam ser atingidas, ou afetando órgãos 
outros que não os necessários à cirurgia proposta. 
 
C) Resultado naturalístico indesejado: 
 
Para que haja fato culposo, ou negligente, é imprescindível que seja produzido o 
resultado indesejado. Por mais que o sujeito tenha sido negligente, deixando de observar 
o dever de cuidado objetivo, só haverá fato culposo se com seu comportamento tiver 
causado a modificação do mundo externo, atingindo um bem jurídico. Se não houver 
resultado, não haverá crime culposo, podendo até ter havido outra infração penal, mas 
dolosa, e não culposa. 
 
Por exemplo, se João está a dirigir em alta velocidade pelas ruas da cidade, realizando 
manobras altamente perigosas com seu veículo, colocando a vida das pessoas em 
perigo, assustando-as, mas, sem atingir nenhuma delas, sem ferir ou matar quem quer 
que seja, não haverá fato culposo, mas poderá ter acontecido um desses fatos dolosos: a 
contravenção penal do art. 34 da LCP: “dirigir veículos na via pública, ou embarcações em 
águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia”, ou o crime definido assim no art. 
132 do Código Penal: “expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto ou iminente”. 
Qualquer dessas duas infrações terá sido cometida dolosamente. 
 
Não haverá fato culposo, sem resultado. Só haverá delito culposo, quando houver um 
resultado, e este resultado não pode ser desejado, nem aceito, pelo agente, pois, se 
assim for, o fato será doloso. 
 
D) Previsibilidade objetiva: 
 
Nem todas as lesões não dolosas a bens jurídicos podem ser evitadas. Algumas condutas 
humanas são causa de danos a bens importantes em situações em que era 
absolutamente impossível evitá-las, ainda que o homem se conduzisse com a mais 
perfeita e total observância do dever de cuidado objetivo. É que certos eventos são 
absolutamente inevitáveis, e, como tal, situam-se fora do âmbito da proteção do Direito 
Penal. 
 
O Direito somente pode proibir e punir os fatos que puderem ser evitados. Só pode 
considerar proibidas as condutas que derem causa a resultados que puderem ser 
impedidos.E só podem ser evitados os resultados que puderem ser antevistos pelo homem, o 
agente. Se este não tiver a possibilidade de antevê-los, não terá como agir ou abster-se 
para evitar que eles ocorram. 
 
 
 
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Por essa razão, só se pode falar na ocorrência de um fato culposo quando o sujeito tiver a 
possibilidade de prever o resultado lesivo, quando houver previsibilidade. Previsibilidade é 
a possibilidade de o sujeito, nas condições em que se encontra, antever o resultado 
lesivo. Previsível é aquele resultado que pode ser previsto. Para que o direito possa fazer 
incidir punição sobre alguém que não desejava um resultado lesivo, é indispensável que 
tal lesão pudesse ter sido evitada por ele, se tivesse agido com o devido cuidado. 
 
Trata-se de uma previsibilidade objetiva, normal, exigível ao comum dos cidadãos, de 
todos, porque comum, não de uma previsibilidade anormal, presente entre os 
paranormais, os videntes e clarividentes, ou aquela que só uma pessoa extremamente 
prudente pode ter. 
 
Dirigindo seu veículo por uma movimentada avenida da cidade, ao meio-dia de uma 
quarta-feira, não feriado, próximo de uma faixa de travessia de pedestre, estando alguns 
deles à margem da pista, é plenamente previsível, a qualquer motorista, que um dos 
pedestres, apressado, atravesse a avenida antes que o sinal o autorize. 
 
Não é previsível, contudo, que, dirigindo o mesmo veículo, no mesmo dia e lugar, um 
daqueles transeuntes resolva cometer suicídio atirando-se sob o veículo, no exato 
momento em que este, em velocidade moderada, se aproxima do grupo de pedestres. 
 
A previsibilidade objetiva é essencial para a existência do fato culposo, porquanto só em 
sua presença o agente poderia ter evitado o resultado lesivo e, não tendo adotado as 
precauções necessárias, por ter sido negligente, acaba por dar causa ao resultado e por 
isso por ele responderá. Sendo o resultado previsível, o sujeito pode ter duas atitudes: 
prevê ou não prevê o resultado. 
 
1.1.4.2 – ESPÉCIES DE CULPA: 
 
A) Culpa Inconsciente: 
 
Ocorre quando o sujeito não realiza a previsão do resultado. É previsível, mas ele, não 
obstante isso, não o prevê e impulsiona, voluntariamente, a conduta, dando causa ao 
resultado. Com efeito, sua conduta é culposa, mas ele não teve consciência de que o 
resultado ocorreria, porque não realizou a previsão, não representou o resultado que era, 
plenamente, previsível. Por isso, agiu, e o fez sem a consciência de que poderia causar o 
resultado. Foi negligente porque não representou o resultado. Por isso, diz-se ser sua 
culpa inconsciente. 
 
B) Culpa Consciente e Dolo Eventual: 
Às vezes o sujeito realiza a previsão do resultado, mas confia sinceramente que poderá 
evitá-lo ou que ele não ocorrerá, agindo com a convicção plena de que, apesar da 
possibilidade de que o resultado ocorra, não acontecerá nenhum resultado lesivo. 
 
Essa é conduta culposa consciente. De notar que é muito próxima da conduta com dolo 
eventual. Neste, o agente prevê o resultado, não o deseja, mas o aceita, se ele 
eventualmente acontecer. Naquela, ele prevê o resultado, não o deseja e não o aceita, 
em nenhuma hipótese, se ele vier a acontecer. 
 
 
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A diferença entre condutas com culpa consciente e com dolo eventual é muito tênue, 
situando-se exclusivamente no interior da psique humana, na aceitação, ou não, do 
resultado, uma atitude puramente interna. 
 
Exemplo: Everaldo, saindo do estacionamento da Faculdade em seu veículo, tendo 
Arlindo, seu colega, a seu lado, e vendo, à frente, a colega de ambos, Cláudia, prestes a 
atravessar a rua, resolve assustá-la, passando com o carro bem próximo dela. Avistando-
a, fala para Arlindo: “Vou dar um susto na Cláudia, tirando um fininho.” Arlindo, 
preocupado, faz a previsão de um resultado lesivo, e diz: “Cuidado, você pode atropelá-
la!” 
 
Diante de um resultado lesivo previsível, o agente, Everaldo, após realizar a previsão, 
com o auxílio de Arlindo, pode ter três atitudes: a primeira delas é, observando o dever de 
cuidado objetivo, evitar a conduta perigosa para o bem jurídico de Cláudia. Se o fizer, 
ótimo, sem lesão ao bem jurídico, sem fato típico culposo, o fato não interessará para o 
estudioso do Direito Penal. 
 
Se, todavia, não quiser atentar para o que o Direito lhe recomenda e determina, seu 
comportamento, objetivo e subjetivo, poderá ser um desses dois: 1º mesmo prevendo um 
resultado lesivo, resolve prosseguir na conduta perigosa, na certeza de que, com sua 
habilidade, com sua destreza na condução do veículo, irá apenas e tão-somente assustar 
sua colega, convicto de que não haverá qualquer lesão, que ele, sinceramente, acredita 
que não acontecerá e, por isso, não a admite, não a aceita, nela não consente; ou então: 
2º prevendo o atropelamento, a possibilidade de causar lesão à colega, mesmo não 
desejando que isso ocorra, pode ele, todavia, continuar na conduta com o pensamento de 
que, se, eventualmente, vier a atingir Cláudia, ferindo-a ou, mesmo, matando-a, essa 
hipótese será aceita: “se pegar, pegou”, “se matar, matou”, “se ferir, feriu”, “que se dane 
ela”, “não tô nem aí”. 
 
Na primeira hipótese, o agente, mesmo prevendo o resultado, não o quis nem o aceitou, 
não o admitiu. Terá agido com culpa consciente. Trata-se de fato típico culposo, com 
culpa consciente. Na segunda, mesmo não desejando o resultado lesivo, aceitou-o; por 
isso, terá agido com dolo eventual. 
 
D) Tipicidade: 
 
A regra do Direito Penal é punir fatos praticados dolosamente, porque, neles, o sujeito 
queria alcançar o resultado ou, pelo menos, o aceitou. Excepcionalmente, em situações 
muito próprias, o Direito também proíbe e pune a causação de lesões a certos bens 
jurídicos, quando praticadas sem dolo, mas, com culpa, em sentido estrito. Por isso, o fato 
culposo é excepcional, e só será punido quando houver expressa previsão legal. 
 
Tome-se o exemplo: Maria, grávida há seis meses, resolve subir em uma jabuticabeira 
para alcançar frutos que deseja saborear e, tendo chovido e estando a árvore 
escorregadia, cai de uma altura de quatro metros, provocando, com a queda, traumatismo 
abdominal que conduz ao abortamento do feto. 
 
 
 
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Examinando-se a conduta de Maria, verifica-se que ela, voluntariamente, subiu em uma 
árvore, deixando de observar o dever de cuidado objetivo (com imprudência), numa 
situação em que era objetivamente previsível a ocorrência de resultado lesivo não 
desejado (involuntário), infelizmente, deu causa à interrupção da gravidez, com a morte 
do produto da concepção. 
 
Seu comportamento realizou, como visto, todos os elementos até aqui demonstrados da 
culpa, em sentido estrito; todavia, não será punido pelo Código Penal, por faltar o último 
dos requisitos do fato culposo: a tipicidade, a determinação legal da punição do aborto em 
sua modalidade culposa. Não existe, pois o legislador não definiu como crime a prática de 
aborto com culpa, stricto sensu, tendo previsto apenas na forma dolosa. 
 
Não basta que o sujeito tenha causado, sem vontade, um resultado lesivo previsível e 
indesejado, com negligência. Se não estiver prevista na lei sua punição, se não houver o 
tipo culposo, não haverá crime. Os tipos culposos são construídos excepcionalmente, 
com base nos tipos dolosos. Por exemplo, no art. 121, caput, está definido o homicídio 
doloso, assim: “matar alguém”. No § 3º do mesmo artigo está definido o homicídio 
culposo, assim: “se o homicídio é culposo”. 
 
De conseqüência, no primeiro tipo deve-se entender: “matar alguém dolosamente”, e no 
segundo, “matar alguém culposamente” ou, neste tipo, em outras palavras, “matar alguém 
por negligência, imprudência ou imperícia”, o que significa dizer, “causar a morte 
previsível de alguém por negligência”. 
 
Não existem tiposculposos correspondentes a todos os tipos dolosos. Não há previsão 
legal de furto ou estelionato quando praticados culposamente. Tais fatos somente são 
puníveis quando praticados com dolo. Outros, como o roubo e o estupro, só podem ser 
cometidos com dolo. 
 
Já o homicídio e a lesão corporal podem ser cometidos e são punidos em ambas as 
modalidades, com dolo ou com culpa, em sentido estrito. Para saber se determinado fato 
é punido também na forma culposa, é preciso procurar na lei, ao lado da figura dolosa, no 
mesmo artigo, ou em seguida a ele, a previsão de sua punição, para concluir sobre se o 
legislador assim o definiu ou não. 
 
O crime culposo é excepcional, como, aliás, dispõe o parágrafo único do art. 18 do Código 
Penal: “Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente.” 
 
OBS.: COMPENSAÇÃO E CONCORRÊNCIA DE CULPAS: 
 
Diferentemente do Direito Civil, no Direito Penal as culpas não se compensam. A culpa de 
um não compensa a culpa do concorrente, aquele que concorre para o resultado. Se 
João, dirigindo seu veículo com imprudência, vem a atropelar Benedito, que, por sua vez, 
também agira com imprudência quando atravessou a avenida, pode-se concluir que os 
dois agiram culposamente. A culpa de Benedito não compensa a culpa de João, não a 
exclui. 
 
 
 
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O atropelador somente não responderá pelo fato se houver culpa exclusiva do atropelado. 
Apenas quando o resultado decorrer de culpa exclusiva da vítima é que o resultado não 
será atribuído ao agente. Por outro lado, se duas pessoas realizam condutas diferentes 
que concorrem para a produção de certo resultado lesivo, ambos por ele responderão, 
verificando-se que ambos agiram culposamente. Por exemplo: dois veículos colidem 
numa esquina, saindo feridas várias pessoas, que estavam nos veículos ou fora deles. 
Provando-se que os dois motoristas agiram com culpa, os dois serão responsabilizados. 
 
2.2 – RESULTADO: 
 
Duas posições doutrinárias procuram esclarecer o que vem a ser o resultado de um 
crime. A teoria naturalística o considera como um ente concreto, a modificação do mundo 
causada pela conduta, ao passo que a teoria normativa entende que resultado é a lesão 
do bem jurídico protegido pela norma penal. 
 
2.2.1 - TEORIA NATURALÍSTICA: 
 
Segundo essa teoria, o resultado é a modificação do mundo externo produzida pela 
conduta, positiva ou negativa, do agente. É uma entidade natural. No homicídio, o 
resultado é a morte da vítima. No furto, a mudança da posse da coisa subtraída. É uma 
conseqüência física, material, do comportamento do agente. 
 
Por essa teoria, existem crimes que têm resultado e crimes que não têm resultado, como 
na violação de domicílio, definida no art. 150 do Código Penal, assim: “entrar ou 
permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa de quem de 
direito, em casa alheia ou em suas dependências”. 
 
Como se verifica, este tipo descreve pura e simplesmente uma conduta que não produz 
qualquer conseqüência natural. Tal crime se consuma com a simples atitude do agente, 
entrando em casa alheia, ou, depois de ter entrado, nela permanecendo. O 
comportamento humano, é óbvio, já é uma mudança na vida; no mundo, todavia, não se 
pode ignorar que uma coisa é a conseqüência da conduta, outra é a própria conduta. A 
primeira segue-se ao comportamento, e este não se confunde com ela. 
 
2.2.1 – TEORIA NORMATIVA: 
 
A outra corrente diz que o resultado é a lesão ou o perigo de lesão do bem jurídico 
protegido pela norma penal, pouco importando se a conduta deu ou não causa a uma 
modificação do mundo externo a ela. 
 
Sempre, num fato típico, independentemente da modificação do mundo externo, um bem 
jurídico é lesionado ou exposto a perigo. De conseqüência, todos os crimes têm resultado, 
pois em todos eles haverá sempre uma lesão ou um perigo de lesão de um bem jurídico. 
 
Na violação de domicílio, o resultado seria a lesão do direito à inviolabilidade da casa; na 
omissão de socorro, seria o perigo da lesão à saúde ou à integridade corporal da pessoa 
abandonada, extraviada ou ferida etc. Na omissão de notificação de doença, o resultado 
seria o perigo de contaminação, para a saúde de toda a população ou de parte dela. 
 
 
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Nos fatos definidos como crime em que, além de conduta, se exige a produção de um 
resultado, é imprescindível que entre o comportamento humano e o resultado verificado 
exista relação de causa e efeito, a fim de que se possa atribuí-lo ao agente da conduta. A 
conduta deve ser a causa do resultado; este, a sua conseqüência. É de toda obviedade, 
pois, que não se pode atribuir ou imputar a alguém a responsabilidade por algo que não 
produziu. 
 
Quando José desfere um golpe de facão que decepa a cabeça de Alfredo, que morre 
instantaneamente, dúvidas não restam de que a conduta de José foi a causa da morte de 
Alfredo. 
 
Nem sempre, todavia, entre conduta e resultado existe relação de causa e efeito tão 
simples e claramente verificável. Basta pensar algumas hipóteses: 
 
a) Sílvio atira no peito de Armando, que, minutos após ser socorrido, é atingido por outro 
disparo na cabeça, efetuado por Alexandre – que nem conhece Sílvio, nem sabia de sua 
conduta –, falecendo em seguida; 
 
b) Mário dispara contra Celso que, ao sair em direção ao hospital, é atingido por uma viga 
do telhado que desaba, matando-o; 
 
c) Sinval atira contra Marcos, que, após socorrido e levado ao hospital, recebe, ali, da 
enfermeira, uma dose excessiva do medicamento receitado, morrendo por isso; 
 
 d) Luís atinge, com um tiro de revólver, Carlos, que, levado ao hospital, é tratado e 
contrai, dias depois, pneumonia, vindo a morrer algum tempo depois. Nessas situações, 
podem restar dúvidas sobre a quem atribuir o resultado, e até onde responsabilizar o 
agente da conduta. A relação de causalidade é um dos temas mais interessantes do 
Direito Penal e por isso merece atenção toda especial. 
 
2.2.2 – NOÇÕES BÁSICAS: 
 
Causa de uma coisa é aquilo de que esta coisa depende para existir. Ou, então, é aquilo 
que determina a existência de uma coisa. Condição é o que permite a uma causa produzir 
seu efeito, seja como instrumento ou meio, seja afastando obstáculos à produção do 
resultado. 
 
Ocasião é uma circunstância acidental que cria condições que favorecem a produção do 
resultado. Concausa é a confluência ou a concorrência de mais de uma causa na 
produção 
de um mesmo resultado. 
 
Com base nessas noções elementares, os doutrinadores do Direito elaboraram diversas 
teorias com o objetivo de explicar o que é a causa de um resultado, devendo ser 
mencionadas apenas algumas delas. 
 
 
 
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A teoria da causalidade adequada entende que a causa de um resultado é a condição 
mais adequada a sua produção. A teoria da eficiência fala em condição mais eficaz, como 
sendo a causa do resultado. Outra teoria, a da relevância jurídica, diz que tudo o que 
concorre para o resultado, ajustado à figura penal, é a causa do resultado. 
 
Diante de intermináveis polêmicas, falhas e dificuldades na aplicação de soluções mais 
próximas dos interesses da justiça, o Código Penal adotou a teoria da equivalência das 
condições. 
 
2.2.2.1 - TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DAS CONDIÇÕES: 
 
Diz a teoria da equivalência das condições, ou da “conditio sine qua non”, no art. 13 do 
Código Penal: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a 
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado 
não teria ocorrido.” 
 
Segundo essa teoria e a norma do Código Penal que a adotou, causa é toda a condição 
do resultado, e todos os antecedentes causais indispensáveis a sua produção são 
equivalentes, não havendo qualquerdistinção entre causa, concausa, condição ou 
ocasião. 
 
Tomando-se como ponto de partida a conduta do agente e de chegada o resultado, e 
verificando-se a existência de outras causas situadas entre os dois momentos, tem-se, a 
princípio, que todas elas – conduta e outras causas – são antecedentes causais 
equivalentes. 
 
Para se descobrir, então, se a conduta de determinado agente é causa do resultado, 
basta examinar a série causal construível com base nela, excluí-la mentalmente, e 
verificar o que ocorreria. Se o resultado continuar acontecendo, como aconteceu, a 
conclusão é de que tal conduta não é causa do resultado. Se, ao contrário, o resultado 
não ocorrer, como ocorreu, a conclusão é que a conduta é a causa desse resultado. Este 
é o chamado procedimento hipotético de eliminação. 
 
Por exemplo: Geraldo dispara um tiro de revólver contra Miguel, atingindo-lhe o tórax; 
Miguel é socorrido numa ambulância, onde desmaia; instala-se um processo de 
hemorragia; perda de sangue; chega ao hospital, é internado e submetido a uma cirurgia 
para a retirada do projétil que se alojara no pulmão; instala-se um processo infeccioso; 
Miguel morre, dias depois, constando do laudo de exame cadavérico e do atestado de 
óbito a causa mortis: pneumonia bilateral, secundária a ferimento por projétil de arma de 
fogo. 
 
Se retirarmos, mentalmente, da série causal, a conduta de Geraldo, o disparo do revólver, 
a morte de Miguel simplesmente não ocorre, porque, se não estivesse ferido, não teria ido 
ao hospital, nem contraído pneumonia. Conclusão lógica é a de que a conduta de Geraldo 
é causa da morte de Miguel. 
 
A teoria da conditio sine qua non, por sua extrema amplitude, recebe inúmeras críticas, 
inclusive a de que todos deveriam responder pelo homicídio, até o pai do agente, sem o 
 
 
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qual este não existiria, inexistindo, de conseqüência, o crime. É óbvio que, ao operador do 
direito, interessa conhecer a relação de causalidade com base na conduta do agente, não 
regredindo no tempo. 
 
2.2.2.2 - SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE: 
 
Como se observou, a teoria da equivalência das condições equipara todos os 
antecedentes causais, sendo, por isso, bastante amplo o âmbito de sua aplicação. Para 
restringi-lo, o Código Penal estabelece no § 1º do art. 13 uma exceção: “A superveniência 
de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o 
resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.” 
 
Após a conduta do agente, pode ocorrer outra causa que venha a interpor-se no curso do 
processo causal instalado e em andamento, alterando seu rumo e levando à produção do 
resultado por sua própria eficiência. 
 
Tome-se o exemplo: a vítima, após sofrer ferimentos abdominais por golpes de faca, é 
socorrida e colocada dentro de uma ambulância, que, no caminho, vem a ser abalroada 
por um ônibus, abrindo-se a porta traseira, e, com o choque, arremessada para fora do 
veículo a maca e com ela o corpo da vítima, que se choca com o asfalto, vindo ele a 
morrer por traumatismo crânio-encefálico. 
 
A conduta do agente, consistente em golpear a vítima na região abdominal com 
instrumento pérfuro-cortante, inaugurou um processo causal, que teria um curso normal 
até a chegada do ferido no hospital, onde seria tratado, e poderia morrer ou não. Antes 
que se concluísse o processo causal instaurado com a conduta do agente, uma nova 
causa a ele se interpôs, cortando seu fluxo, e levou, por si só, ao resultado morte. 
 
Essa nova causa, que se interpôs, que interrompeu e modificou o processo causal 
iniciado com a conduta do agente, é uma causa superveniente relativamente 
independente que, por si só, produziu o resultado. É relativamente independente, porque 
guarda com a conduta do agente uma relação de dependência relativa. A vítima somente 
sofreu o traumatismo craniano por estar dentro da ambulância, e só ali se encontrava por 
ter sofrido os golpes praticados pelo agente. 
 
Foi capaz de produzir o resultado por si só, porque este não resultou da confluência das 
duas causas. Independentemente do ferimento abdominal, produzido pela conduta, o 
ferimento do crânio produziria a morte, como produziu, de qualquer modo. 
 
Assim, sempre que uma causa superveniente for capaz de, por si só, levar ao resultado, o 
agente da conduta não responderá por ele, apenas pelos fatos anteriores praticados. 
 
Se o agente desejava matar a vítima, mas esta veio a morrer em razão da causa 
superveniente que por si só produziu o resultado, responderá apenas por tentativa de 
homicídio. Se desejava apenas feri-la, por lesão corporal dolosa. Se não queria causar o 
ferimento previsível, mas agira com negligência, responderá por lesão corporal culposa. 
 
 
 
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2.2.2.3 - CONCAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES PREEXISTENTES E 
CONCOMITANTES: 
 
Questão intrincada é saber se o resultado será atribuído ao agente quando concausas 
relativamente independentes preexistentes ou concomitantes interagirem com sua 
conduta, já que o Código Penal silenciou sobre elas. 
 
É o que acontece quando é produzido um ferimento numa vítima portadora de particular 
condição fisiológica (debilidade física, ferimento anterior, diabetes, hemofilia) que vem a 
falecer em razão do concurso das duas condições – a preexistente e a conduta. Ou a 
vítima que, diante da agressão, e por causa dela, emocionada, vem a sofrer uma parada 
cardíaca, falecendo pela insuficiência total do coração. Nesse caso, concorreram para o 
resultado a agressão e a causa concomitante. 
 
A Jurisprudência dos Tribunais é, em sua ampla maioria, no sentido de que, tendo-se o § 
1º do art. 13 referido, exclusivamente, às concausas relativamente independentes 
supervenientes, é porque as preexistentes e concomitantes não têm o poder de romper o 
nexo causal. Dessa forma, se a concausa relativamente independente preexistir à 
conduta do agente, ou for simultânea a ela, responderá ele pelo resultado. 
 
Adotando esse entendimento, também as causas relativamente independentes, 
preexistentes e concomitantes, se tiverem sido capazes de, por si sós, produzir o 
resultado, excluirão sua imputação ao agente, que, igualmente, responderá apenas pelos 
atos praticados. 
 
2.2.2.4 - CONCAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES: 
 
Já as concausas absolutamente independentes – preexistentes, concomitantes e 
supervenientes – têm o poder de excluir a imputação do resultado ao agente da conduta, 
porquanto constituem a única e exclusiva causa do resultado. 
 
2.2.2.5 - TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA: 
 
O problema da imputação do resultado, um dos mais intrincados do Direito Penal, e as 
insuficiências da teoria da conditio sine qua non, fizeram com que os juristas procurassem 
novos rumos, chegando-se à construção da chamada teoria da imputação objetiva, 
desenvolvida principalmente entre os juristas alemães. 
 
A teoria da imputação objetiva, na verdade, não é uma teoria que nega a causalidade 
natural, mas que lhe acrescenta critérios valorativos, dando-lhe uma nova roupagem e 
dimensão. Esses critérios normativos podem ser sintetizados na idéia da criação ou 
aumento de um risco não permitido que se realiza no resultado típico, dentro do âmbito de 
proteção da norma. Sabendo-se que na vida e sociedade há um grande números de 
comportamentos que são, inevitalmente, perigosos, tem-se, entretanto, que muitos deles 
se situam no âmbito de uma permissão da própria sociedade, ao passo que outros são 
proibidos. DAMÁSIO explica: 
 
 
 
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“É possível que o sujeito, realizando uma conduta acobertada pelo risco permitido, venha 
a objetivamente dar causa a um resultado naturalístico danoso que integre a descrição de 
um crime. Exemplo: dirigindo normalmente no trânsito, envolve-se num acidenteautomobilístico com vitima pessoal. Nesse caso, o comportamento deve ser considerado 
atípico. Falta a imputação objetiva da conduta, ainda que o evento jurídico seja relevante. 
(...) 
 
Quem dirige um automóvel, de acordo com as normas legais, oferece a si próprio e a 
terceiros um risco tolerado, permitido. Se, contudo, desobedecendo as regras, faz 
manobra irregular, realizando o que a doutrina denomina ‘infração de dever objetivo de 
cuidado’, como uma ultrapassagem perigosa, emprego de velocidade incompatível nas 
proximidades de uma escola, desrespeito a sinal vermelho de cruzamento, ‘racha’, 
direção em estado de embriaguez etc., produz um risco proibido (desvalor da ação). Esse 
perigo desaprovado conduz, em linha de raciocínio, à tipicidade da conduta, seja na 
hipótese, em tese, de crime doloso ou culposo.” 
 
Segundo a teoria, a apuração da imputação do resultado se faz em dois momentos. Em 
primeiro lugar faz-se a aferição do nexo causal, segundo os mesmos critérios físico-
mecânicos da causalidade natural. Constatado o vínculo causal, deve o intérprete, o juiz, 
aferir se está presente o vínculo normativo. 
 
Perguntará o julgador do caso concreto se o resultado é imputável ao agente da conduta, 
com as seguintes indagações: a) a conduta criou ou aumentou um risco não permitido? b) 
esse risco não permitido se materializou no resultado típico? esta materialização do risco 
permitido no resultado típico aconteceu na esfera do âmbito de proteção da norma? 
 
Se a resposta for negativa para qualquer dessas indagações, o resultado não poderá ser 
imputado ao agente da conduta. O fato será considerado atípico, segundo a teoria, por 
exclusão da imputação objetiva do resultado quando se tratar de risco permitido, quando 
o agente tiver atuado para diminuir o risco proibido, quando não tiver realizado risco 
proibido, ou quando o a concretização do risco proibido não se der dentro do âmbito de 
proteção da norma. 
 
 Penso que, a despeito da engenhosidade da teoria da imputação objetiva e do respeito 
que tenho especialmente pelo professor DAMÁSIO E. DE JESUS, os problemas que ela 
diz que busca solucionar já são, perfeita e adequadamente, solucionados pela incidência 
da normas já comentadas e interpretadas no âmbito da relação de causalidade, ao longo 
da exposição deduzida neste item. 
 
3. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO: 
 
A lei penal, algumas vezes, ao lado de um tipo de crime, regula, como tipo derivado, e 
mais grave, por isso apenado com pena mais severa, a mesma conduta descrita naquele 
tipo, dito básico, descrevendo, todavia, um resultado mais grave. Esses são os chamados 
tipos legais de crimes qualificados pelo resultado.Exemplos desses tipos de crimes 
encontram-se no art. 129 do Código Penal. No caput do artigo está definido o tipo básico, 
fundamental, do crime de lesão corporal dolosa, assim: “Ofender a integridade corporal ou 
a saúde de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano.” 
 
 
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No § 1º, a lei descreve a mesma conduta, de ofender a integridade corporal ou a saúde 
de alguém; todavia, com a causação de um resultado mais grave que o do caput: “Se 
resulta: I – incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias; II – perigo de 
vida; III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV – aceleração de parto: 
Pena – reclusão, de um a cinco anos.” 
 
No § 2º, igualmente são descritos resultados mais graves ainda, produzidos por conduta 
idêntica à do caput. No caput está o tipo básico; nos §§ 1º e 2º, alguns dos vários tipos 
derivados, que são tipos de crimes qualificados pelo resultado. 
 
Se o agente ofende a integridade corporal da vítima e não ocorre nenhum dos resultados 
mais graves previstos nos §§ 1º e 2º, responderá por lesão corporal de natureza leve, 
definida no caput, mas, se de conduta idêntica decorre qualquer daqueles resultados, 
então responderá por eles, denominados respectivamente lesão corporal grave e 
gravíssima, que são crimes qualificados pelo resultado. 
 
Os crimes qualificados pelo resultado podem decorrer de dolo do agente, de negligência 
ou de mero nexo causal. Exemplo: pode ocorrer que determinado agente queira, com um 
golpe de machado, decepar o braço de seu desafeto. Age com dolo de que seu inimigo 
perca o braço, um membro. Quer, por isso, realizar o tipo legal de lesão corporal 
gravíssima, descrito no art. 129, § 2º, III, do Código Penal. 
 
Pode acontecer, entretanto, que o agente, querendo simplesmente ferir outra pessoa, 
empurra-a nas proximidades da guilhotina de uma fábrica de papéis, caindo a vítima no 
exato momento em que a faca desce e lhe decepa o braço. Nesse exemplo, o agente não 
tinha a intenção de que ela viesse a perder o braço, mas sua vontade era de tão-somente 
ofender sua integridade física. Foi negligente, pois era previsível que, naquele lugar, 
próximo de uma máquina perigosa, poderia ocorrer um resultado mais grave do que o 
desejado. Agiu, pois, sem dolo de realizar a forma agravada do crime de lesão corporal, 
mas com negligência. 
 
Finalmente, pode acontecer de o agente nem querer, nem agir com negligência, em 
relação à produção de um resultado mais grave. Fere um seu desafeto, superficialmente, 
no braço. A vítima, todavia, não cuida do ferimento que se infecciona, instalando-se a 
gangrena e a inevitável amputação do membro. Nesse caso, o agente não agiu com dolo, 
e tampouco com culpa, stricto sensu. O resultado mais grave decorreu de mero nexo 
causal. 
 
Se o resultado mais grave decorre de puro nexo causal, o agente não responderá por ele, 
pois falta o dolo ou a negligência. Se agiu dolosamente, ocorreu um crime doloso, em sua 
plenitude. Se o resultado mais grave decorreu de negligência, este é o crime preterdoloso. 
 
3.1 - CRIMES PRETERDOLOSOS: 
 
O crime preterdoloso ou preterintencional é aquele em que o resultado vai além do dolo 
do agente. Sua conduta é dolosa, mas o dolo não abrange o resultado alcançado. Na 
verdade, ele age com a intenção de alcançar um resultado menos grave e, por 
 
 
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imprudência, negligência ou imperícia, dá causa, sem querer, a um resultado mais 
gravoso. 
 
O agente quer ferir a vítima, mas, por descuido, acaba por decepar-lhe o braço. Queria 
apenas empurrá-la, causando-lhe simples lesão, talvez até insignificante, mas, por 
negligência, acaba atirando-a sob a guilhotina, que lhe decepa o membro. A conduta é 
dolosa, mas o resultado é culposo. O agente quer um mínimo, seu comportamento 
negligente leva a um resultado além do desejado, causando lesão mais grave. 
 
O Código Penal brasileiro, lamentavelmente, nenhuma distinção faz entre o crime 
qualificado pelo resultado cometido dolosamente e o crime qualificado pelo resultado, 
cometido preterdolosamente, cominando pena igual nas duas hipóteses. 
 
Assim, a pena para o crime de lesão corporal gravíssima em que resulta perda de 
membro, praticado com dolo, é a mesma quando tal resultado promana de negligência do 
agente. 
 
É a norma do art. 19 do Código Penal: “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, 
só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.” Se o causou sem 
dolo, e sem culpa, stricto sensu, por ele não responderá. 
 
4 - TIPICIDADE E TIPO: 
 
Para que se possa examinar o último elemento do fato típico, a tipicidade, é indispensável 
que se faça, previamente, um breve estudo sobre os tipos. O tipo é o modelo de 
comportamento humano, ao qual se segue, em regra, uma conseqüência, que constitui o 
fato proibido, o que não deve ser 
 
4.1 - FUNÇÕES DOS TIPOS: 
 
O tipo é a descrição concreta da conduta proibida. É o modelo de conduta que a lei 
considera crime, proibida pela norma penal. Tipo de furto: “subtrair, para si ou ara outrem, 
coisa alheia móvel”. Tipo de estupro: “constranger mulher a conjunção carnal, mediante 
violênciaou grave ameaça”. 
 
Na lei penal, encontra-se o tipo, a descrição de um fato que deve ser evitado, porque 
proibido sob a ameaça de pena. O tipo tem duas funções da mais alta importância: a de 
garantia e a indiciária da ilicitude. Todos os cidadãos, tomando conhecimento da 
existência dos tipos, sabem, previamente, que só poderão ser perseguidos penalmente e 
sofrer a pena criminal se 
realizarem um comportamento exatamente ajustado a um tipo. Sua liberdade, portanto, só 
poderá ser atingida na hipótese de que venha a realizar um comportamento exatamente 
correspondente a um tipo. 
 
O cidadão fica, assim, protegido contra o arbítrio estatal, que não poderá exercer sua 
autoridade sobre a liberdade do indivíduo na ausência de uma prévia definição legal do 
crime, que se dá por meio dos tipos. 
 
 
 
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A segunda função dos tipos é indicar que a conduta por ele definida é proibida, ilícita, 
contrária ao ordenamento jurídico. Diz-se, pois, que sua função é indiciária da ilicitude. Os 
tipos são portadores da ilicitude, trazendo-a em seu interior. Dado um fato típico, tem-se 
que ele é, a princípio, ilícito, pois a relação de contrariedade ao direito está em seu 
interior. Contrariedade essa que pode ser afastada, mas que vem contida no interior dos 
tipos. 
 
Os tipos legais de crime deveriam ser construídos, preferencialmente, com elementos 
puramente objetivos, precisos e o mais pormenorizadamente possível. Essa necessidade, 
todavia, nem sempre pode ser alcançada, pois muitas vezes é necessária a construção 
de tipos abertos, que devem ser completados pelo aplicador da lei. Basta pensar nos tipos 
culposos, cuja incidência depende da interpretação e da valoração normativa que o juiz 
fizer acerca da conduta do agente, sobre a verificação do preenchimento de todos os 
requisitos da conduta culposa, com a presença de todos os seus elementos. 
 
Os tipos – enquanto descrições de fatos da vida – utilizam-se das palavras e das frases 
da língua pátria, que expressam os significados, as idéias, as coisas, os valores, as 
ações, as manifestações da vida. O fazer, o não fazer – a conduta – onde, quando, como, 
por quê, de que maneira, com quais características e com quem são alguns dos 
componentes dos vários tipos legais de crime. São seus elementos estruturais, que 
precisam ser analisados. 
 
Os elementos dos tipos são objetivos, relativos à materialidade do fato, subjetivos, 
atinentes ao estado psíquico do sujeito ativo, e normativos, referentes à ilicitude, ao 
injusto ou a alguma norma estabelecida. 
 
4.2 - ELEMENTOS DOS TIPOS: 
 
4.2.1 - ELEMENTOS OBJETIVOS: 
 
Todos os tipos legais de crime descrevem comportamentos humanos e a maior parte 
deles descreve também os resultados dessas condutas, caso em que exigem entre 
aqueles e estes uma relação de causalidade. 
 
Enquanto modelos de fatos da vida, os tipos são retratos vivos ou cenas animadas de 
acontecimentos que têm o homem como protagonista, e, conquanto sejam a base que 
sustenta o princípio da legalidade, seus enunciados compõem-se de signos lingüísticos 
que devem retratar, com precisão, todos os detalhes do fato incriminado, proibido pela 
norma penal. 
 
O elemento principal de todo e qualquer tipo, que constitui seu núcleo, é aquele que 
revela a ação, em sentido amplo, positiva ou negativa, que, como não poderia deixar de 
ser, é representada por um verbo: matar, subtrair, constranger, obter, deixar de, permitir. 
É a ação material do delito. 48 
 
Os elementos objetivos dos tipos são os que se referem à materialidade do fato, do 
acontecimento. São aqueles que se referem à forma em que o fato é executado, ao 
tempo, à ocasião, ao lugar, aos meios empregados, aos sujeitos, ao objeto. 
 
 
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4.2.2 - ELEMENTOS NORMATIVOS: 
 
Outros elementos que integram aquelas cenas típicas exigem, do operador do direito, a 
formulação de um juízo de valoração normativa, no âmbito da própria verificação da 
tipicidade, já no primeiro momento do crime, o fato típico. 
 
Esses componentes, diferentemente dos elementos objetivos, para serem 
compreendidos, devem ser apreciados com a elaboração de raciocínio valorativo que leve 
em conta outras normas jurídicas ou ético-sociais. 
 
É que, para a proteção de certos bens jurídicos importantes, a lei resolveu construir tipos 
que contêm tais elementos. Por exemplo, no art. 151 está protegida a inviolabilidade da 
correspondência, assim: “Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência 
fechada, dirigida a outrem.” 
 
O componente normativo está contido na expressão indevidamente, que significa “sem 
autorização” de quem de direito ou de uma norma jurídica, pelo que só será fato típico se 
o sujeito devassar o conteúdo da correspondência injustamente, contrariando outra 
norma. É que a algumas pessoas é lícito devassar a correspondência fechada dirigida a 
outra pessoa, por exemplo, a secretária, autorizada por seu patrão, e os pais, que podem 
fazê-lo em relação a seus filhos menores. 
 
Discute-se se o marido e a mulher podem violar a correspondência fechada dirigida ao 
outro, havendo posições num e noutro sentido, todos concordando que, na hipótese de 
suspeita sobre a fidelidade, o fato seria lícito. 
 
Ambos, marido e mulher, companheiro e companheira, casados ou unidos estavelmente 
num mesmo lar, devem respeitar a intimidade do outro e, é óbvio, só poderão violar a 
correspondência do outro se devidamente autorizados. Não é só pelo fato de viverem 
juntos e se amarem que não desejam, cada qual, preservar sua intimidade. Cada 
indivíduo, mesmo vivendo em comunhão com outro, tem sua personalidade, e seus 
direitos constitucionais a ela relativos devem ser mantidos, e, conquanto disponíveis, para 
se considerar a renúncia, esta precisa exsurgir no dia-a-dia do casal, expressa ou 
tacitamente. A tipicidade do fato, portanto, só não existirá se houver essa autorização, 
ainda que tácita, do outro, para conhecer o conteúdo das comunicações que lhe são 
dirigidas por meio de correspondência fechada. 
 
Como se viu, elementos como esses exigem uma valoração normativa do intérprete. 
Sempre que se encontrarem expressões semelhantes, como indevidamente, indevida, 
sem as formalidades legais, sem justa causa, sem prévia autorização, fraudulentamente, 
e outras de mesmo ou semelhante sentido, o operador do direito necessitará realizar um 
juízo de valor, de caráter normativo, para verificar a violação de uma regra jurídica de 
proibição. 
 
Também exigem uma valoração normativa, destinada a conceituar certos termos jurídicos 
ou, mesmo, extrajurídicos, expressões como cheque, função pública, documento, 
 
 
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dignidade, saúde, moléstia, pois necessitam ser interpretadas de acordo com normas 
jurídicas, legais ou costumeiras, bem assim outras de natureza técnicocientíficas. 
 
4.2.3 ELEMENTOS SUBJETIVOS: 
 
Finalmente, integram muitas vezes o modelo de fato proibido certos componentes que 
vivem no interior do psiquismo do sujeito, na esfera de seu pensamento, em sua 
motivação, em sua intenção, em seu intuito, em seu ânimo, em sua consciência, na 
cabeça do homem. 
 
Em todos os tipos legais de crimes dolosos, há, pelo menos, um indispensável elemento 
subjetivo: o dolo, a consciência e a vontade. Só poderá existir o fato típico se o agente 
tiver agido com dolo. Sem o dolo, não há o fato típico doloso. Além do dolo, alguns tipos 
trazem outros componentes subjetivos. No tipo do art. 134 do Código Penal, está descrita 
a conduta: “expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria”. O fato 
objetivo descrito consiste na exposição ou no abandono de um recém-nascido. Para que 
a mulher realize tal tipo, é necessário que ela exponha ou abandone seu filho com um fim 
especial, o de ocultar sua desonra. Este fim é um elemento subjetivodo tipo, sem o qual 
ele não se realiza. 
 
Subjetivo porque integra o íntimo do sujeito do crime. Se a mulher tiver abandonado o 
recém-nascido, sem aquela intenção de ocultar sua desonra, não terá realizado este tipo, 
mas outro, o do art. 133 do Código Penal, que não contém aquele elemento subjetivo. De 
notar que a presença do elemento subjetivo, neste caso, torna o fato menos reprovável, 
pois faz corresponder-lhe pena máxima menor. 
 
Vê-se, pois, que alguns elementos subjetivos dizem respeito ao intuito do agente, a sua 
intenção, como no tipo do crime de perigo de contágio de moléstia grave, definido no art. 
131, Código Penal: “praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está 
contaminado, ato capaz de produzir o contágio”, e no do crime de extorsão, do art. 158, 
Código Penal: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito 
de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se 
faça ou deixar de fazer alguma coisa”. Nesses dois exemplos, a presença do elemento 
subjetivo vai importar numa maior reprovação da conduta do agente, pois revela uma 
intenção mais reprovável, mais censurável. 
 
4.3 – CONSUMAÇÃO: 
 
4.3.1 - ITER CRIMINIS E CONSUMAÇÃO: 
 
O art. 14, I, do Código Penal diz que o crime é consumado “quando nele se reúnem todos 
os elementos de sua definição legal”. Para realizar o fato típico, o agente percorre um 
caminho, chamado iter criminis, que é o conjunto das várias etapas de sua realização: a 
cogitação, a preparação, a execução e a consumação. 
 
A cogitação, que ocorre na esfera do pensamento, jamais será punida. A preparação, 
conjunto dos atos meramente preparatórios, como se verá adiante no momento do exame 
 
 
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da tentativa de crimes, também não será por si só punível, salvo se for constituída de 
infrações penais autônomas consumadas. 
 
A execução do fato típico consiste nos atos que se dirigem à realização do procedimento 
típico, quando penetram em seu núcleo, no verbo indicador da ação ou da omissão. 
O fato típico é um trecho da vida, que tem começo e fim, conforme a descrição do tipo. A 
consumação ocorre quando o fato se ajusta por completo, integralmente, ao tipo. No tipo 
de homicídio, com a morte da vítima. No tipo de estupro, com a introdução, ainda que 
incompleta, do pênis na vagina. No tipo de corrupção passiva, definida no art. 317, Código 
Penal, “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que 
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar 
promessa de tal vantagem”, a consumação ocorre no momento em que o funcionário 
público solicita a vantagem, ou quando aceita sua promessa, não quando a recebe, até 
porque nem é necessário que venha a recebê-la. 
 
A determinação do momento da consumação do fato é da mais alta importância para o 
estudo do crime, que deve e será estudada, com detalhes e profundidade, em cada tipo 
em espécie, pois as dificuldades não são poucas. 
 
4.4 - TENTATIVA DE CRIMES: 
 
Não existem os tipos: “Tentar matar alguém”, “tentar constranger mulher à conjunção 
carnal, mediante violência ou grave ameaça”, e tampouco “tentar subtrair, para si ou para 
outrem, coisa alheia móvel”. 
 
Se não existem tais tipos, a tais fatos não poderiam corresponder penas criminais. Para 
obedecer ao princípio da legalidade, a lei concebeu uma fórmula geral, que permite a 
punição da tentativa de realização de crimes, definindo-a e mandando punila. A norma 
que define a tentativa encontra-se no art. 14, II, do Código Penal: “Diz-se o crime: tentado, 
quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do 
agente.” E, mais importante, a regra que manda punir a tentativa está inscrita no 
parágrafo único do mesmo artigo: “Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com 
a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.” 
 
Quem tentar cometer um crime será punido com a pena do crime, se tivesse sido 
consumado, diminuída de 1/3 a 2/3. Assim, para se verificar a tipicidade de um fato, é 
necessário conjugar-se a norma do tipo com a norma do art. 14, II, parágrafo único. 
 
Tentativa de um crime é a execução inacabada, incompleta, do procedimento típico, por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. Para existir tentativa, é necessário que o 
procedimento descrito no tipo seja iniciado, mas não se complete, em razão de alguma 
circunstância que esteja fora do âmbito da vontade do agente. 
 
É preciso que o procedimento típico seja iniciado. O primeiro desafio é distinguir atos de 
preparação de atos de execução do procedimento típico, pois aqueles não são puníveis, 
salvo se constituírem crime autônomo ou contravenção penal. Para configurar a tentativa, 
é indispensável que exista ato de execução. 
 
 
 
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Segundo o critério formal, ato executório é qualquer comportamento do agente que dá 
início à realização do tipo. Veja-se o tipo de homicídio. Mata-se comumente com disparo 
de arma de fogo, golpe de facas, venenos etc. 
 
Só haverá tentativa se o agente agia com dolo de alcançar o resultado. Sem dolo, não se 
fala em tentativa. Assim, não existe, porque é impossível, tentativa de crime culposo. 
 
Como regra geral, a tentativa não é crime autônomo; daí, não existir crime de tentativa, 
mas tentativa de crime. Tanto que a pena para a tentativa é dependente da pena para o 
crime consumado, conforme dispõe o parágrafo único do art. 14 do Código Penal: as 
tentativas de crimes serão punidas com a pena do crime consumado, diminuída de um a 
dois terços, salvo disposição expressa em contrário. Esta é a regra. 
 
Há exceções, entre elas a do tipo legal do art. 352 do Código Penal, que descreve, como 
crime autônomo, com pena idêntica ao consumado, a tentativa de fuga: “evadir-se ou 
tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, 
usando de violência contra a pessoa”. A pena é igual para o crime consumado e para sua 
tentativa. Isto porque a tentativa de fuga é crime consumado. 
 
Igualmente, os tipos descritos nos arts. 17 e 18 da Lei nº 7.170, de 14-12-83, a Lei de 
Segurança Nacional: “Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a 
ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”, e “tentar impedir, com emprego de 
violência ou grave ameaça, o livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos 
Estados”. Nesses casos, tais tentativas constituem crimes autônomos. 
 
4.5 - DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ: 
 
Em certas situações, o agente, após iniciar a execução do procedimento típico, desiste de 
nela prosseguir e, em razão disso, o resultado não ocorre, ou o crime não se consuma. 
João, querendo matar a Pedro, dá-lhe um tiro que o atinge no braço, e, em seguida, 
podendo disparar outras vezes, desiste de continuar atirando e vai embora, deixando a 
vítima apenas ferida. 
 
Noutras situações, após concluir todo o procedimento típico, o agente arrependese e 
adota medidas capazes de impedir que o resultado aconteça. No mesmo caso, após =ferir 
o desafeto, querendo matá-lo, o agente o socorre e o conduz até o hospital, 
providenciando que o mesmo seja curado, o que acontece. 
 
Nesses casos, não há tentativa de crime, porque a não-consumação decorreu da vontade 
do agente e não de circunstâncias a ele alheias. Trata-se da desistência voluntária ou do 
arrependimento eficaz, que descaracterizam a tentativa, respondendo o agente apenas 
pelos atos praticados, se, por si sós, constituírem crime menos grave ou contravenção já 
consumados. 
 
É a norma do art. 15 do Código Penal: “O agente que, voluntariamente, desiste de 
prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza só responde pelos atos já 
praticados.” 
 
 
 
www.gustavobrigido.com.br4.6 - ARREPENDIMENTO POSTERIOR: 
 
O arrependimento posterior é uma causa obrigatória de diminuição de pena, aplicável aos 
crimes cometidos sem violência ou grave ameaça contra a pessoa, quando o agente, 
antes da instauração do processo, pelo recebimento da denúncia ou da queixa, tiver 
reparado o dano causado ou restituído a coisa sobre a qual recaiu a conduta típica. Tal 
norma encontra-se no art. 16 do Código Penal. 
 
4.7 – CRIME IMPOSSÍVEL: 
 
No art. 17 do Código Penal, cuida-se do crime impossível, também chamado de tentativa 
inidônea ou tentativa inadequada, assim: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia 
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o 
crime.” 
 
O Direito Penal não se ocupa dos atos puramente internos, não punindo a simples 
intenção do agente. Em algumas situações, o homem, desejando realizar um tipo legal de 
crime, utiliza-se de meios absolutamente ineficazes, o que impossibilita a consumação do 
crime. Noutras, com meios eficazes, age sobre objeto absolutamente impróprio. Em 
ambas as situações, o crime jamais se consumaria. 
 
O bem jurídico, em qualquer dos casos, não esteve sequer ameaçado. Se não houve 
lesão, nem ameaça, nem era possível que houvesse, o Direito Penal não se interessa 
pela conduta, mesmo que ela estivesse eivada de vontade de causar um mal. 
 
Alguém resolve matar outrem, com uma arma descarregada, ou ministrandolhe açúcar, 
em vez de veneno. Tais meios são absolutamente ineficazes. Mas, e se a pessoa visada, 
no primeiro caso, assustando-se, vem a morrer de ataque cardíaco? Ou, sendo ela 
diabética, vem a morrer em função da ingestão do próprio açúcar? Bom, nestas 
hipóteses, o resultado terá acontecido, pelo que o crime terá se consumado e é óbvio que 
aqueles meios foram eficazes. Não se estaria diante de tentativa, mas de crime 
consumado. 
 
Já Maria, imaginando-se grávida, realiza em seu corpo vários atos visando interromper a 
gravidez imaginária e matar o inexistente feto. Está realizando condutas sobre um objeto 
absolutamente impróprio. O mesmo se dá quando alguém dispara contra um cadáver, 
imaginando que é o corpo do desafeto que dorme. Não se mata quem já morreu. 
Impossível a consumação do homicídio. 
 
A ineficácia do meio deve ser absoluta. Se apenas relativa, há tentativa; portanto, fato 
punível. O mesmo se dá com o objeto, que deve ser absoluta e não relativamente 
impróprio, caso em que haverá a tentativa de crime. Há ineficácia relativa do meio, por 
exemplo, quando alguém tenta matar outro com uma arma defeituosa, daquelas que 
“negam fogo”. Assim como falhou, poderia não ter falhado. A ineficácia não é absoluta, 
total. A possibilidade de consumação do crime existia. 
 
 Igualmente, a impropriedade do objeto há de ser absoluta. Se, apenas relativa, subsiste a 
tentativa punível. Tentar subtrair a carteira no bolso esquerdo da vítima, que a trazia no 
 
 
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bolso direito, é realizar uma conduta sobre um objeto relativamente impróprio, é, pois, 
tentativa de furto. O mesmo quando se tenta subtrair o veículo com trava de segurança. A 
impropriedade é só relativa. 
 
CAÍTULO 5 - CONCURSO DE PESSOAS: 
 
1. CONSIDERAÇÕES: 
 
O art. 29 do Código Penal dispõe: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, 
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.” 
 
A doutrina, autorizada pela lei penal brasileira, distingue duas modalidades de concurso 
de pessoas: autoria e participação. 
 
1.1 – AUTORIA: 
 
Ao longo do tempo, a doutrina preocupou-se com a conceituação de autoria de crime, 
construindo várias teorias. 
 
Uma primeira teoria, denominada subjetivo-causal, dizia que autor do crime seria todo 
aquele que tivesse gerado uma condição para a causação do resultado descrito no tipo. 
Como se vê, é de uma amplitude muito grande, abarcando como autor todo aquele que 
desse a mínima colaboração, ainda que atípica, para o resultado. Por ela a distinção entre 
autor e partícipe ficaria comprometida, e, por essa razão, recebeu muitas críticas. 
 
Uma segunda doutrina, formal-objetiva, apresentava um conceito mais restrito de autor, 
que seria aquele que realiza, total ou parcialmente, uma figura típica. Esta teoria vincula o 
conceito de autor ao tipo legal de crime. Aqueles que realizassem comportamentos fora 
da descrição do tipo seriam meros partícipes, desde que houvesse a norma extensiva 
alcançando-os e mandando puni-los. 
 
A grande falha dessa teoria é deixar, na condição de partícipe, o indivíduo que organiza e 
comanda o procedimento típico, o chefe do bando, o que manda matar, o que contrata os 
executores de certo procedimento. 
 
Por essas e outras razões, construiu-se a teoria objetivo-subjetiva, também chamada de 
Teoria do Domínio do Fato, segundo a qual autor de um crime é quem possui o domínio 
final da ação, podendo decidir sobre a consumação do procedimento típico. 
 
A determinação da autoria está vinculada ao tipo legal de crime, mas depende da 
presença do elemento subjetivo, que é a vontade comandando o rumo do fato, isto é, do 
procedimento típico. 
 
Quem tiver poder de decidir sobre continuar ou interromper o procedimento típico, quem 
puder decidir sobre consumar o crime, quem puder arrepender-se, quem puder desistir, 
quem pode continuar, este é o autor, mesmo que não venha a realizar qualquer parte do 
procedimento típico, bastando tenha, previamente, determinado a outros que o fizessem, 
 
 
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ou planejado a ação, organizado a execução. Ao fazê-lo, começou a realização intelectual 
do procedimento, e, por essa razão, realiza conduta adequada ao tipo. 
 
Com base nesse conceito, podem-se distinguir modalidades distintas de autoria, a saber: 
o autor intelectual, o autor executor, o autor mediato. 
 
1.1.2 - AUTOR INTELECTUAL: 
 
Aquele que, sem executar diretamente qualquer parte do procedimento típico, possuir, no 
entanto, o domínio final da conduta, tendo a possibilidade de decidir sobre a consumação 
ou não do crime, sobre sua interrupção, sobre a modificação, é autor intelectual, porque 
planejou e organizou a realização do procedimento típico. É o chefe da quadrilha, o 
mandante do homicídio, quem contrata o pistoleiro, enfim, aquele que, apesar de não 
realizar um único movimento corporal para realizar a figura típica, possui o domínio dela, 
por meio do poder moral que exerce sobre os que a vão executar. 
 
1.1.3 – AUTOR EXECUTOR: 
 
Aquele que realiza, total ou parcialmente, a conduta descrita no tipo legal de crime é o 
chamado autor executor. É quem executa o comportamento proibido, diretamente, com 
sua atividade material. É quem dispara o revólver, quem subtrai a coisa, quem imprime a 
violência contra o ofendido. Basta a realização de uma parte do procedimento típico. 
 
1.1.4 - AUTOR MEDIATO: 
 
Se o agente, para realizar a conduta típica, abusa de uma terceira pessoa, imprimindo-lhe 
uma força física, para alcançar o resultado típico ou a consumação do delito, estará 
servindo-se de outrem como instrumento para o alcance de seus objetivos. Este é o 
chamado autor mediato. 
 
1.1.5 - CO-AUTORIA: 
 
O co-autor é outro autor. Não há distinção entre autor e co-autor. Se dois homens 
planejam e organizam um assalto a ser executado por outros dois, os quatros são 
coautores, os dois primeiros, co-autores intelectuais e os dois últimos, co-autores 
executores. Entre todos, não há tratamento típico diverso. 
 
1.1.5.1 - CO-AUTORIA EM CRIME CULPOSO: 
 
Plenamente possível é a co-autoria em crime culposo. Duas pessoas, com negligência, 
imprudência ou imperícia, podem realizar, conjuntamente, a mesma conduta, produzindo 
um resultado indesejado por elas. Por exemplo, dois homens resolvem atirar, pela janela 
do 10º andar de um edifício, um objeto qualquer, que, indo ao chão, atinge um transeunte,causando-lhe ferimentos. O comportamento de ambos foi negligente, causando o 
resultado por eles não almejado. 
 
1.1.5.2 – PARTICIPAÇÃO: 
 
 
 
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Com base no conceito de autoria, diz-se que participação é a contribuição – sem 
realização direta de qualquer ato do procedimento típico – para um fato típico que está 
sob o domínio final de outra pessoa. 
 
É a conduta acessória, daquele que não possui domínio final da ação, do que não tem 
qualquer poder de decidir sobre a consumação, interrupção, ou modificação do 
procedimento típico. Apenas quer, conscientemente e com vontade, contribuir para a 
realização de um fato típico dominado por outra pessoa. 
 
Para haver participação, deve haver um fato típico alheio, a colaboração do partícipe, que 
não tem poder de decisão. Aquele que simplesmente auxilia, sem executar, o 
procedimento típico desenvolvido por outra pessoa está participando do fato. 
 
Para haver participação é indispensável que haja vontade, dolo, de colaborar com o fato 
típico. Não se pode pensar em participação negligente em delito doloso. 
 
A norma do art. 29 seja ampla, no sentido de que a concorrência se dá de qualquer modo, 
é importante verificar que a participação no crime pode dar-se das mais diferentes formas. 
Segundo DAMÁSIO E. DE JESUS, a participação pode ser moral ou material. A 
determinação ou o induzimento, a instigação, o ajuste e a promessa de ajuda são 
exemplos de participação moral18. 
 
Importante, a propósito, verificar até que ponto o partícipe tem possibilidade de influir na 
consumação do crime, pois, se houver poder de decisão, em vez de participação, haverá 
co-autoria. É preciso analisar com bastante cuidado o fato concreto e verificar se a 
“determinação” foi simples indução ou instigação, ou uma verdadeira ordem ao executor. 
 
Havendo entre o que determina e o que executa relação de domínio psicológico, de 
autoridade, a situação transmuda-se, de participação para autoria intelectual. Importante 
observar que a simples conivência não significa participação, pois, para que alguém 
possa responder pelo crime, deve ter, no mínimo, a vontade de com ele colaborar, não 
podendo ser responsabilizado por simplesmente não ter impedido fisicamente a execução 
de um fato típico, salvo se houvesse o dever jurídico de agir para impedir o resultado (art. 
13, § 2º, CP). 
 
A colaboração levada a efeito posteriormente ao fato típico não é participação no crime, 
mas pode constituir o delito autônomo de favorecimento real ou pessoal, definidos nos 
arts. 348 e 349 do Código Penal. 
 
1.2.5.2.1 – PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA: 
 
O § 1º do art. 29 estabelece que, se a participação tiver sido de menor importância, a 
pena será reduzida, de um sexto a um terço. Significa que a participação de cada um dos 
concorrentes deverá ser analisada e graduada conforme sua importância para a 
realização da figura típica. Existirão participações de grande e de pequena importância, 
de maior e de menor eficiência causal. 
 
 
 
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Diferentemente da autoria, a participação exige esta graduação objetiva, e ao partícipe de 
menor importância será aplicada pena reduzida, obrigatoriamente, em até um terço da 
pena, podendo, até mesmo, ser fixada abaixo do grau mínimo. Aquele que informa o 
agente sobre a ausência dos donos da casa, para que ele nela entre e subtraia à vontade, 
está participando de um fato típico de furto. 
 
Esta participação, a princípio, é de menor importância, mas, se, em vez da informação, 
ele deixar a porta dos fundos destrancada, tal participação passa a ser um pouco mais 
importante, e, se em vez disso, tiver desligado um sistema de alarme, então, tal 
participação será de importância relevante para a execução do procedimento típico. 
Caberá ao juiz, no caso concreto, analisar o grau de eficiência causal, para concluir pela 
maior ou menor importância da participação. 
 
1.2.5.2.1 - COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DIVERSA: 
 
Às vezes, um dos concorrentes deseja realizar um tipo legal de crime em concurso com 
outro que, não obstante isso, realiza um tipo mais grave. Por exemplo: João deseja 
participar ou ser co-autor de um delito de furto a ser executado por José, que se 
encarrega de entrar na casa alheia e subtrair objetos de propriedade do dono, Paulo. 
João, íntimo de Paulo, informara a seu amigo que todos os moradores estariam viajando 
de férias para outra cidade, onde ficariam 15 dias, e a casa estaria completamente 
desguarnecida. 
 
No dia seguinte à viagem de Paulo, José entra na casa e, enquanto está subtraindo os 
objetos, Paulo retorna e, entrando em luta corporal, vem a ser morto por José. O retorno 
de Paulo era inesperado, e deu-se em virtude do falecimento repentino de sua sogra. 
 
Como se viu, João queria participar de um furto, ao passo que José realizou um tipo de 
roubo seguido de morte, latrocínio, muito mais grave. A solução para problemas como 
este está no § 2º do mesmo art. 29: “Se algum dos concorrentes quis participar de crime 
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na 
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.” 
 
No exemplo dado, João responderá pelo furto, uma vez que, tendo Paulo de férias, era-
lhe absolutamente imprevisível que a vítima retornasse antes de alguns dias. Imprevisível 
seu retorno, imprevisíveis o resultado mais grave, a violência e a morte que caracterizam 
o latrocínio. 
 
Se, no mesmo exemplo, Paulo tivesse ido ao cinema, e José informado a João que a 
casa estaria vazia por algumas horas, tempo suficiente para a subtração, e o dono da 
casa retornasse, tal resultado era previsível, pois não se tratava de uma viagem longa, 
por tempo longo. Neste caso, José responderia pelo tipo de furto, com pena aumentada 
de até metade. 
 
1.2.5.2.3 - CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS: 
 
Circunstâncias são dados objetivos ou subjetivos acessórios que integram os tipos, com a 
exclusiva finalidade de fazer aumentar ou diminuir a pena. As circunstâncias objetivas ou 
 
 
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reais são as que dizem respeito à materialidade do fato – a seu modo de execução, aos 
meios utilizados, tempo, lugar, qualidades do sujeito passivo. As circunstâncias subjetivas 
ou pessoais são as que se referem ao agente do fato, sua motivação, suas relações com 
o sujeito passivo, com seus concorrentes, suas qualidades pessoais. 
 
Excepcionalmente, algumas das mencionadas circunstâncias, em vez de simples 
acessórios dos tipos, integram suas estruturas como elementos essenciais, 
indispensáveis a sua configuração, e que, por isso, são chamadas elementares do tipo. 
Quando duas ou mais pessoas concorrem para a realização de um mesmo procedimento 
típico, importa saber se, quando e quais as circunstâncias que se comunicam entre eles. 
 
Dispõe o art. 30 do Código Penal que as circunstâncias e as condições pessoais não se 
comunicam entre os concorrentes, salvo se elas forem elementares do crime. A primeira 
conclusão é de que – como a norma explica que as circunstâncias subjetivas ou pessoais, 
em regra, não se comunicam – deve-se entender que as circunstâncias de natureza 
objetiva ou real se comunicam aos concorrentes. 
 
É claro que só haverá comunicação de uma circunstância que venha a agravar a pena ou 
qualificar o crime, se o concorrente tiver se comportado, relativamente a ela, com dolo ou, 
pelo menos, culposamente. Se João determina a Alfredo que aplique uma surra em Mário, 
e o executor causa na vítima lesão corporal com emprego de tortura, essa circunstância 
objetiva, que agrava a pena, segundo manda o art. 61, II, c, somente será comunicada a 
João se, em relação a ela, tiver ele agido pelo menos culposamente. 
 
Se ele sabia que Alfredo iria usar de tortura para lesionar e quis, ou aceitou, é óbvio que a 
agravante será comunicada,bem assim se lhe fosse previsível que Alfredo utilizaria o 
referido meio. Do contrário, não se comunica a circunstância real. 
 
A segunda observação é de que, em regra, as circunstâncias subjetivas ou pessoais são 
incomunicáveis. Se Célio comete um homicídio por motivo de relevante valor moral – está 
matando o estuprador de sua filha – com a colaboração de Jorge, que não tem a mesma 
motivação, seja por não saber do motivo de seu concorrente, seja por não estar imbuído 
desse espírito, a este não será comunicada a causa de diminuição de pena prevista no § 
1º do art. 121. 
 
Finalmente, a terceira conclusão: se as circunstâncias são elementares do tipo, sejam 
elas objetivas ou subjetivas, reais ou pessoais, vão-se comunicar entre os concorrentes, 
desde, é óbvio, que entrem na esfera da previsibilidade de cada um. Nos tipos legais dos 
crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, definidos nos 
arts. 312 e seguintes do Código Penal, uma circunstância de natureza subjetiva é 
elementar, essencial, indispensável à configuração de cada um daqueles tipos, peculato, 
concussão, corrupção passiva etc.: ser o agente funcionário público. 
 
Quem, portanto, concorrer com um funcionário público para a realização de qualquer 
desses tipos, mesmo não sendo funcionário público, responderá em concurso – co-autoria 
ou participação – pelo crime que é próprio de funcionário público. É claro que isso apenas 
se o concorrente tiver, pelo menos, previsibilidade quanto a essa circunstância. É preciso 
 
 
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que ele saiba ser seu concorrente um funcionário público, ou que lhe fosse, pelo menos, 
previsível tal circunstância. 
 
Além das circunstâncias pessoais que, em regra, são incomunicáveis, a lei dá idêntico 
tratamento às condições de caráter pessoal. MIRABETE explica que as “condições 
referem-se às relações do agente com a vida exterior, com outros seres e com as coisas 
(menoridade, reincidência etc.), além de indicar um estado (casamento, parentesco etc.)” 
 
Assim, a condição de reincidente do executor do fato não será comunicada a seu 
partícipe ou co-autor, porquanto não integra, enquanto elementar, tipos legais de crimes. 
 
1.2.5.2.4 – PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL: 
 
 Algumas formas de participação, como o ajuste, a determinação, a instigação ou o 
auxílio, não serão puníveis se o crime não chegar a ser, pelo menos, tentado. Não se 
punirá o partícipe que instigou, auxiliou, ajustou, determinou, se seu concorrente nem 
chegou a iniciar a execução do procedimento típico. 
 
Não poderia ser diferente, pois o Direito Penal somente pune os fatos típicos consumados 
– realizados na integridade dos tipos – e a tentativa de sua realização, que tem como 
elemento indispensável o início de execução. O dispositivo ressalva a hipótese de que 
uma das formas de participação mencionadas integre a estrutura de outro tipo. Assim, por 
exemplo, os tipos dos arts. 227, 228 e 248 do Código Penal, cujo núcleo é a ação de 
“induzir”. Nesses casos, não há participação em delito de outrem, mas fato típico 
autônomo. 
 
2. LISTA DE EXERCÍCIOS – CONCURSO DE PESSOAS: 
 
01 - Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 3 - Primeira Fase 
No que diz respeito ao agente que, à distância, participa da idealização do crime, propicia 
os recursos necessários à aquisição dos instrumentos do crime, mas não participa dos 
atos executórios, assinale a alternativa CORRETA: 
 
 a) o agente é considerado co-autor do crime; 
 b) o agente é considerado partícipe do crime, respondendo apenas pelos seus atos; 
 c) a participação do agente é considerada de menor importância; 
 d) o agente não será punido, pois não se pude o ajuste, determinação ou instigação e 
auxílio ao crime. 
 
02 - Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase 
Em tema de concurso de pessoas, assinale a alternativa correta: 
 a) comunicam-se as circunstâncias objetivas ainda que o partícipe delas não tivesse 
conhecimento; 
 b) responde pelo resultado quem, sem o dever de impedi-lo, mas podendo fazê-lo, se 
omitiu, assentindo com sua produção; 
 c) uma vez provada a ausência do vínculo subjetivo entre os agentes e, havendo 
incerteza quanto a quem imputar o resultado lesivo, devem todos ser absolvidos se um 
deles utilizou meio absolutamente impróprio para produzi-lo; 
 
 
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 d) é necessário que o executor material da infração tivesse conhecimento da atuação dos 
demais, que agiram com o propósito de auxiliá-lo a viabilizar o resultado lesivo. 
 
03 - Prova: ND - 2005 - OAB-MT - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
Tício e Caio, com deliberado propósito de atingirem Mévio, postam-se de emboscada, 
cada um ignorando a atitude do outro. 
 
Ambos atiram na vítima que vem a falecer unicamente em razão dos disparos partidos de 
Tício. A hipótese consubstancia-se em: 
 
 a) co-delinqüência; 
 b) concurso formal de agentes; 
 c) participação binária; 
 d) autoria co-lateral. 
 
04 - Prova: ND - 2005 - OAB-DF - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Concurso de Pessoas; 
Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a estes cominadas, na 
medida de sua culpabilidade. Se a participação for de menor importância: 
 a) O agente poderá ser isento de pena; 
 b) A pena poderá ser diminuída de um sexto a um terço; 
 c) A pena poderá ser diminuída de um a dois terços; 
 d) A pena poderá ser diminuída de um sexto até a metade. 
 
05 - Prova: FEPESE - 2013 - DPE-SC - Analista Técnico 
Assinale a alternativa correta, de acordo com o Código Penal brasileiro. 
 
 a) O Código Penal brasileiro adota, no concurso de pessoas, a teoria monista. 
 b) No concurso de pessoas, cada um dos agentes responde por um tipo de infração 
diversa. 
 c) Praticado o crime em concurso de pessoas a pena será aumentada de um a dois 
terços. 
 d) Na teoria dualista, adotada pelo Código Penal brasileiro para casos de concurso de 
pessoas, o autor e o partícipe respondem por infrações penais autônomas. 
 e) Verificada a pluralidade de agentes e de condutas estará configurado o concurso de 
pessoas. 
 
06 - Prova: IESES - 2012 - TJ-RO - Titular de Serviços de Notas e de Registros - 
Provimento por remoção 
Disciplina: Direito Penal | Assuntos: Concurso de Pessoas; Dos Crimes Contra o 
Patrimônio.; 
Analise o que consta dos itens I a III e depois identifique a assertiva correta: 
 
I. Segundo o expressamente previsto pelo Código Penal quanto ao concurso de pessoas, 
estabelece o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa 
em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. 
 
 
 
 
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II. Segundo o expressamente previsto pelo Código Penal, nos crimes cometidos sem 
violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o 
recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será 
reduzida. 
 
III. Segundo o expressamente previsto pelo Código Penal quanto ao furto, a pena 
aumenta-se se o crime é praticado durante o repouso noturno. 
 
Identifique a assertiva correta: 
 a) Está incorreto o que consta do item I e correto o que consta do item II. 
 b) Está incorreto o que consta do item II. 
 c) Está correto o que consta do item I e incorreto o que consta do item III. 
 d) Está correto o que consta do item III. 
 
07 - Prova: IESES - 2012 - TJ-RO - Titular de Serviços de Notas e de Registros - 
Provimento por remoção 
Analise o que consta dos itens I a III e depois identifique a assertiva correta, quanto ao 
que consta do Código Penal: 
 
I. Quem de qualquer modo concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas, na 
medida de sua culpabilidade, sendo que se participação for de menor importância, a pena 
pode ser diminuída em até um sexto. 
 
II.É isento de pena o agente que, por doença mental r era, ao tempo da omissão, 
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. 
 
III. A respeito de causa independente, a superveniência de causa relativamente 
independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado. 
 
Identifique a assertiva correta: 
 a) Está incorreto o que consta do item III e correto o que consta do item II. 
 b) Está correto o que consta de todos os itens. 
 c) Está correto o que consta do item I e incorreto o que consta do item III. 
 d) Está correto o que consta do item II e incorreto o que consta do item I. 
 
08 - Prova: CESPE - 2012 - TCE-ES - Auditor de Controle Externo - Direito 
No que diz respeito ao concurso de pessoas para a realização de crimes dolosos, a teoria 
do domínio do fato considera autor o coautor que realiza uma parte necessária do plano 
global — o que se denomina domínio funcional do fato — que, mesmo não sendo um ato 
típico, integra a resolução delitiva comum. 
 Certo Errado 
 
09 - Prova: MOVENS - 2009 - PC-PA - Delegado de Polícia 
Quanto ao concurso de pessoas, assinale a opção correta. 
 
 a) Se a participação no delito for de menor importância a pena pode ser diminuída de um 
sexto a um terço. 
 
 
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 b) Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, mesmo 
quando elementares do crime. 
 c) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são puníveis em qualquer situação. 
 d) Se restar comprovado que algum dos concorrentes quis participar de crime menos 
grave, será absolvido. 
 
10 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-BA - Juiz 
Com relação a arrependimento posterior, medidas de segurança, causas de exclusão, 
crime e concurso de pessoas, assinale a opção correta. 
 
 a) Suponha que João, Pedro e Tonho, todos de vinte e dois anos de idade e portando 
arma de fogo municiada, decidam praticar um roubo em uma padaria e que, durante o 
assalto, Pedro alveje e mate o caixa do estabelecimento. Nessa situação, somente Pedro 
deve responder pelo resultado morte. 
 b) A natureza jurídica do arrependimento posterior é causa de extinção da punibilidade. 
 c) Constatando-se que João, de vinte e dois anos de idade, ao matar seus genitores e 
cinco irmãos a facadas, não possuía plena capacidade de determinar-se de acordo com 
esse entendimento, em razão de perturbação em sua personalidade, deve ser-lhe 
aplicada medida de segurança. 
 d) Considere que Jonas, policial militar, no exercício de sua função, tenha determinado 
que um indivíduo em fuga parasse e que este tenha sacado uma arma e disparado tiros 
contra Jonas, que, revidando os disparos, tenha alvejado o indivíduo e o tenha matado. 
Nessa situação, Jonas agiu no estrito cumprimento de dever legal. 
 e) Não será punida a conduta de indivíduo maior de idade que, com a intenção de 
subtrair dinheiro de terceiro desconhecido, lhe tome a bolsa e, ao percebê-la vazia, jogue-
a na rua. 
 
11 - Prova: PGR - 2012 - PGR - Procurador 
QUANTO AO CONCURSO DE AGENTES, É CORRETA A AFIRMAÇÃO: 
 
 a) consoante a teoria objetivo-formal autor é aquele que realiza, totalmente, os atos 
descritos na norma incriminadora; 
 b) consoante a teoria objetivo-material autor é aquele que realiza a contribuição 
objetivamente mais importante para o resultado; 
 c) consoante a teoria concebida por Claus Roxin autor é aquele que detém o dominio do 
fato pelo critério exclusivo do dominio da vontade; 
 d) o Código Penal Brasileiro não é compatível com a teoria do dominio do fato. 
 
12 - Prova: FUMARC - 2012 - TJ-MG - Titular de Serviços de Notas e de Registros - 
Critério Remoção 
Para que o partícipe venha a ser punido por uma infração penal, é preciso que, além da 
presença dos requisitos do concurso de pessoas, o autor tenha iniciado a execução do 
delito, nos termos do artigo 31 do Código Penal. Em que momento poderá ter ocorrido a 
contribuição do partícipe para que este seja punido pela mesma infração do autor? 
 a) Após a consumação delitiva. 
 b) Desde a ideação até a consumação. 
 c) Em qualquer momento, até o exaurimento do delito. 
 
 
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 d) Nos crimes permanentes, em qualquer momento da execução, ainda que irrelevante 
tenha sido a conduta. 
 
13 - Prova: CETRO - 2012 - TJ-RJ - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Critério 
Provimento 
Sobre concurso de pessoas, é correto afirmar que 
 
 a) é inadmissível coautoria em crime culposo. 
 b) na autoria colateral, duas ou mais pessoas intervêm na execução de um crime, 
buscando o mesmo resultado, sem ignorar a conduta alheia. 
 c) autoria incerta é igual a autoria desconhecida. 
 d) na participação, o partícipe também pratica o núcleo do tipo penal. 
 e) o autor mediato é aquele que realiza indiretamente o núcleo do tipo, valendo-se de 
pessoa sem culpabilidade ou que age sem dolo ou culpa. 
 
14 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-RO - Analista - Processual 
Em relação ao concurso de pessoas, assinale a opção correta. 
 a) Os requisitos para o concurso de pessoas incluem a pluralidade de agentes e de 
condutas, identidade da infração penal e a existência de prévio acordo entre os agentes. 
 b) No concurso de pessoas, comunicam-se as circunstâncias e as condições de caráter 
pessoal, ainda que não sejam elementares do crime. 
 c) Em sede de concurso de pessoas, o simples ajuste, a instigação ou o auxílio são 
puníveis a título de participação, mesmo que o autor não tenha iniciado a execução do 
delito. 
 d) O servidor público somente será processado por crime funcional próprio se 
desconhecia, quando do crime, a condição de servidor público do comparsa. 
 e) Aquele que se serve de pessoa inimputável ou inconsciente para realizar ação 
delituosa é responsável pelo evento na condição de autor indireto ou mediato. 
 
15 - Prova: FUNCAB - 2012 - PC-RJ - Delegado de Polícia 
Alfredo, querendo matar Epaminondas, sobe até o terraço de um prédio portando um rifle 
de alta precisão, com silencioso e mira telescópica. Sem ser visto, constata a presença de 
Gildenis, outro atirador, em prédio vizinho, armado com uma escopeta, também 
preparado para matar a mesma vítima, tendo Alfredo percebido sua intenção. Quando 
Epaminondas atravessa a rua, ambos começam a atirar, vindo a vítima a morrer em face, 
unicamente, dos disparos efetuados por Gildenis. Analisando o caso concreto, leia as 
assertivas a seguir: 
 
I. Há, no caso, autoria colateral incerta. 
 
II. Alfredo eGildenis devemresponder por homicídio consumado, inobstante o disparo fatal 
ter sido produzido unicamente pela arma de Gildenis. 
 
III. Tanto Alfredo, quanto Gildenis, agiam em concurso de pessoas. 
 
IV. Alfredo é o autor direto e Gildenis o autor mediato. 
 
Agora, assinale a opção que contempla a(s) assertiva(s) verdadeira(s). 
 
 
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 a) Apenas a I. 
 b) Apenas a II. 
 c) Apenas II e III. 
 d) Apenas I e II. 
 e) I, II, III e IV. 
 
16 - Prova: MPE-PR - 2012 - MPE-PR - Promotor de Justiça 
Sobre autoria e participação, assinale a alternativa incorreta: 
 a) Se o terceiro, utilizado como instrumento pelo autor mediato, por defeito de pontaria 
acerta pessoa diversa da pretendida, então as consequências jurídicas da aberratio ictus 
são aplicáveis ao autor mediato; 
 b) A autoria mediata admite, dentre outras, hipóteses de inimputabilidade, de erro de 
proibição inevitável e de inexigibilidade de comportamento diverso do terceiro utilizado 
como instrumento pelo autor mediato para a prática do crime; 
 c) A futilidade, que de forma exclusiva motiva o autor na prática do crime de lesões 
corporais graves, realizado em concurso de agentes, não se comunica aos demais 
coautores ou partícipes; 
 d) A e B, em decisão comum, resolvem praticar lesões corporais contra a vítima C, mas A 
se excede dolosamente,produzindo a morte da vítima: se o resultado de morte da vítima 
era previsível, B também responde pelo homicídio; 
 e) Se o particular oferece e o funcionário público recebe valores em dinheiro, para que 
este último deixe de praticar ato de ofício, não há concurso de agentes, respondendo 
cada qual por crime diverso. 
 
17 - Prova: CESPE - 2004 - AGU - Advogado 
Considere a seguinte situação hipotética. 
 
João, José e Joaquim, policiais civis, saíram em perseguição ao condutor de um veículo 
que não havia atendido ordem de parar em uma blitz, desfechando, cada um, vários tiros 
de revólver em direção ao veículo perseguido, tendo um dos projéteis deflagrados da 
arma de Joaquim atingido o motorista, causando-lhe a morte. 
 
Nessa situação, excluída a possibilidade da existência de alguma excludente de 
antijuridicidade, de acordo com o STJ, todos os policiais responderão pelo crime de 
homicídio: Joaquim, como autor, e João e José em co-autoria. 
Certo Errado 
 
18 - Prova: CESPE - 2012 - PC-AL - Delegado de Polícia 
No concurso de pessoas, o partícipe terá obrigatoriamente reduzida a pena pelo crime em 
relação ao autor, porquanto a participação é considerada como forma de concorrência 
diferente da autoria ou coautoria. 
 Certo Errado 
 
19 - Prova: CESPE - 2012 - DPE-RO - Defensor Público 
A respeito do concurso de pessoas, assinale a opção correta. 
 a) De acordo com a teoria objetivo-material, autor é aquele que pratica a conduta descrita 
no núcleo do tipo; todos os demais que concorrerem para a consumação dessa infração 
 
 
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penal, mas que não pratiquem a conduta expressa pelo verbo que caracteriza o tipo, são 
partícipes. 
 b) Aplica-se aos crimes dolosos e culposos a teoria do domínio do fato, considerada 
objetivo-subjetiva e segundo a qual, senhor do fato é aquele que o realiza de forma final 
em razão de uma decisão volitiva, ou seja, autor é o que detém o poder de direção dos 
objetivos finais da empreitada criminosa. 
 c) Segundo a teoria monista, há tantas infrações penais quantos forem o número de 
autores e partícipes: com efeito, a cada participante corresponde uma conduta própria, 
um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. 
 d) De acordo com a teoria dualista, deve-se distinguir o crime praticado pelo autor 
daquele que tenha sido cometido pelos partícipes, havendo, portanto, uma infração penal 
para os autores, e outra para os partícipes. Por outro lado, segundo a teoria pluralista, 
todo aquele que concorre para o crime incide nas penas ao autor cominadas, na medida 
de sua culpabilidade, ou seja, existe um crime único, atribuído a todos aqueles que para 
ele tenham concorrido. 
 e) Verifica-se, nos parágrafos do art. 29 do CP, que determinam punibilidade diferenciada 
para a participação no crime, aproximação entre a teoria monista e a teoria dualista, o que 
sugere que, no CP, é adotada a teoria monista temperada. 
 
20 - Prova: FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem Unificado 
Zenão e Górgias desejam matar Tales. Ambos sabem que Tales é pessoa bastante 
metódica e tem a seguinte rotina ao chegar no trabalho: pega uma xícara de café na 
copa, deixa-a em cima de sua bancada particular, vai a outra sala buscar o 
jornal e retorna à sua bancada para lê-lo, enquanto degusta a bebida. Aproveitando-se 
de tais dados, Zenão e Górgias resolvem que executarão o crime de homicídio 
através de envenenamento. Para tanto, Zenão, certificando-se que não havia 
ninguém perto da bancada de Tales, coloca na bebida 0,1 ml de poderoso veneno. 
Logo em seguida chega Górgias, que também verifica a ausência de qualquer pessoa e 
adiciona ao café mais 0,1 ml do mesmo veneno poderoso. Posteriormente, Tales 
retorna à sua mesa e senta-se confortavelmente na cadeira para degustar o café 
lendo o jornal, como fazia todos os dias. Cerca de duas horas após a ingestão da 
bebida, Tales vem a falecer. Ocorre que toda a conduta de Zenão e Górgias foi 
filmada pelas câmeras internas presentes na sala da vítima, as quais eram 
desconhecidas de ambos, razão pela qual a autoria restou comprovada. Também restou 
comprovado que Tales somente morreu em decorrência da ação conjunta das duas 
doses de veneno, ou seja, somente 0,1 ml da substância não seria capaz de 
provocar o resultado morte. Com base na situação descrita, é correto afirmar que 
 
 a) caso Zenão e Górgias tivessem agido em concurso de pessoas, deveriam 
responder por homicídio qualificado doloso consumado. 
 
 b) mesmo sem qualquer combinação prévia, Zenão e Górgias deveriam responder 
por homicídio qualificado doloso consumado. 
 
 c) Zenão e Górgias, agindo em autoria colateral, deveriam responder por homicídio 
culposo. 
 
 
 
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 d) Zenão e Górgias, agindo em concurso de pessoas, deveriam responder por 
homicídio culposo. 
 
GABARITO OFICIAL: 
 
1-A 2-C 3-D 4-B 5-A 6-D 7-D 8-C 9-A 10-E 
11-B 12-B 13-E 14-E 15-B 16-D 17-E 18-E 19-E 20-A 
 
CAPÍTULO 6 – CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: 
 
Algumas vezes, a um mesmo fato concreto, natural, da vida, parecem ajustar-se duas 
normas diferentes, dois tipos legais de crime.É óbvio que tal não pode ocorrer, pois para 
um fato haverá sempre uma única norma reguladora, e o conflito é apenas aparente. 
Haverá conflito aparente quando houver um só fato e aparentemente duas normas a ele 
se ajustando. Para resolver tais conflitos, a doutrina elaborou três princípios. 
 
1.1 - PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: 
 
Existem normas penais incriminadoras que guardam, umas com as outras, uma relação 
de gênero para espécie, de especialidade. Uma norma é genérica, as outras são, em 
relação a ela, específicas. 
 
Uma norma é especial em relação a outra, geral, quando contiver, em sua descrição, 
todos os elementos objetivos, normativos, subjetivos, da norma geral e mais alguns, 
objetivos, normativos ou subjetivos, que a tornam especial. Tais são os elementos 
especializantes. 
 
1.2 - PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: 
 
Em outros casos, a relação existente entre duas normas penais incriminadoras não seria 
de gênero para espécie, mas de subsidiariedade. Uma norma seria subsidiária da outra, 
primária, quando descrevesse grau de violação do bem jurídico de menor gravidade que a 
descrita na norma primária, principal. 
 
A subsidiariedade chega a ser, em alguns casos, explícita, como no tipo do art. 132 do 
Código Penal: “Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena – 
detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não constitui crime mais grave.” Essa norma é 
subsidiária em relação a várias outras, pois descreve violação menos grave dos bens 
jurídicos: vida e saúde, que podem ser atacados de formas mais graves – tentativa de 
homicídio e abandono de incapaz (art. 133), por exemplo. 
 
Noutras situações, a subsidiariedade seria implícita, com um tipo constituindo uma 
circunstância de outro, como ocorre com o tipo do art. 147, de ameaça, que é subsidiário 
do tipo do art. 146, de constrangimento ilegal. Diante do aparente conflito, o intérprete 
deve analisar o fato em sua totalidade, para verificar qual dos tipos incidirá. Se a conduta 
 
 
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tiver violado no maior grau o bem jurídico, é evidente que a norma primária é que vai 
ajustar-se ao tipo. Se o tiver ofendido mais levemente, incidirá a norma subsidiária. 
 
1.3 – PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU DA ABSORÇÃO: 
 
A terceira hipótese é a existência de normas que guardam entre si relação de conteúdo a 
continente, de parte a todo, de meio a fim, de fração a inteiro, ou seja, um tipo é parte 
integrante de outro, ou meio para sua realização. Um tipo é fraçãodo outro, que é o 
inteiro. Um tipo está contido no outro. 
 
Se isso acontece, não se irá punir o agente por dois fatos, mas apenas ao fato continente, 
ao fato-fim, ao fato todo. Assim, o tipo de homicídio doloso simples contém a tentativa de 
homicídio, como fase normal ou conduta anterior de sua realização, contendo, ainda, a 
lesão corporal, e o tipo de disparo de arma de fogo, e, além dele, pode conter tipo de 
porte ilegal de arma de fogo. 
 
O tipo de furto em casa habitada contém a violação do domicílio. Por esse princípio, o 
tipo-fim, continente, todo, absorve o tipo-meio, o conteúdo, o tipo-parte. O furto absorve a 
violação do domicílio, o homicídio absorve a tentativa, a lesão corporal e o porte ilegal de 
arma. 
 
O agente responderá por apenas um crime. Se Marcos falsifica a cédula de identidade de 
Geraldo para, exclusivamente, com ela, apresentar-se ao notário público e vender a única 
propriedade da vítima a terceira pessoa, obtendo, com isso, vantagem ilícita, terá 
realizado o tipo do art. 297, Código Penal, “falsificar, no todo ou em parte, documento 
público, ou alterar documento público verdadeiro”, em seguida o do art. 304, Código 
Penal, “fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os 
arts. 297 a 302” e, finalmente, o tipo do art. 171, estelionato, Código Penal: “Obter, para si 
ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em 
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.” 
 
Responderá pelos três crimes? Óbvio que não, pois a falsificação e o uso do documento 
falso foram meios necessários para a realização do tipo-fim, o do estelionato que, por 
isso, absorve os demais. 
 
O Superior Tribunal de Justiça, a propósito, formulou a Súmula 17, assim: “Quando o 
falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.” 
 
1.4 – PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE: 
 
 
Já o princípio da alternatividade consiste na aplicação alternativa de uma ou outra 
conduta, quando o tipo penal prevê mais de uma conduta em seus variados núcleos. 
Estes são considerados como crimes de ação múltipla ou conteúdo variado. 
 
De acordo com alguns doutrinadores, o princípio da alternatividade será aplicado se o 
agente de crimes de ação múltipla for punido por apenas uma das condutas presentes no 
tipo, mesmo que venha a praticar duas ou mais destas condutas. 
 
 
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OBS.: NÃO CONFUNDIR O PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE COM O PRINCÍPIO DA 
ALTERIDADE: O princípio da alternatividade se aplica aos crimes de conteúdo múltiplo 
(plurinuclear), cujos tipos penais contêm várias condutas típicas. Nesses casos, se o 
agente realiza mais de um desses verbos, no mesmo contexto fático, responderá por um 
único crime, posto que tais comportamentos criminosos devem ser compreendidos e 
analisados alternativamente.Já o princípio da alteralidade determina que a ofensa ao bem 
jurídico deve necessariamente, atingir terceira pessoa. Entende-se que, a ofensa a bem 
jurídico próprio não é crime. 
 
 
CAPÍTULO 7 - CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS TIPOS DE CRIMES: 
 
1.1 - CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA: 
 
Quando se toma como critério classificador o resultado, enquanto modificação do mundo 
externo causada pela conduta, segundo a teoria naturalística, verifica-se que os tipos 
serão materiais, formais ou de mera conduta. 
 
Material ou crime de resultado é o crime cujo tipo legal de crime contém a descrição de 
uma conduta e de um resultado, e que somente se consuma com a produção do 
resultado. Homicídio, lesão corporal, aborto, furto, roubo, estelionato são todos crimes 
materiais, pois que os tipos descrevem condutas, resultados e exigem, para sua 
consumação, que o resultado seja produzido. Sem o resultado, remanesce apenas a 
tentativa. 
 
Formal é o crime cujo tipo descreve uma conduta, menciona um resultado, mas não exige 
que este ocorra para sua consumação. São chamados de crimes de consumação 
antecipada ou de resultado cortado. O tipo do art. 158, de extorsão, é o mais perfeito 
exemplo de um crime formal: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, 
e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, 
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa”. 
 
Como se vê, o tipo descreve uma conduta, e menciona a produção de um resultado: a 
obtenção de uma vantagem econômica indevida, mas, para a consumação desse crime, 
não é necessária a produção do resultado, não é necessário que o agente consiga obter a 
vantagem, bastando o constrangimento da vítima. Tal crime se consuma no momento em 
que a vítima faz, tolera que se faça ou deixa de fazer alguma coisa. 
 
De mera conduta ou de mera atividade são os crimes cujos tipos descrevem pura e 
simplesmente um comportamento, uma conduta, sem qualquer menção a qualquer 
conseqüência, qualquer resultado. Consumam-se tais crimes com o simples 
comportamento do sujeito, como na violação do domicílio (art. 150), no crime de 
desobediência (art. 330), no de infração de medida sanitária preventiva (art. 268), e na 
maior parte das contravenções penais. 
 
1.2 - CRIMES SIMPLES, PRIVILEGIADOS E QUALIFICADOS: 
 
 
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Classificam-se os crimes em simples, privilegiados e qualificados, em razão da gravidade 
da lesão causada ao mesmo bem jurídico. 
 
Simples é o tipo básico, fundamental, do qual derivam os outros dois, o qualificado, mais 
grave, e o privilegiado, menos grave. Há, como tipo básico, o do homicídio doloso 
simples, do caput do art. 121, cuja descrição é simplesmente “matar alguém”, sem 
qualquer outra qualificação no sentido de considerar o fato nem mais, nem menos grave. 
 
Derivados dele há três tipos de homicídio doloso privilegiado, que se encontram descritos 
no § 1º do art. 121: a) cometido por motivo de relevante valor social; b) cometido por 
motivo de relevante valor moral; c) cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em 
seguida à injusta provocação da vítima. 
 
Os tipos privilegiados, derivados do tipo simples, contêm elementos especializantes que 
tornam o fato merecedor de menor reprovação, por constituírem fatos menos graves que 
o fato básico. São circunstâncias que tornam o fato menos grave, ainda que o resultado 
não se altere. Dizem respeito a circunstâncias de natureza subjetiva que levam a uma 
menor ou mais branda punição. No caso do homicídio, a pena do tipo básico é diminuída 
de 1/6 até 1/3. 
 
Já os tipos qualificados são, exatamente, o oposto, derivando do tipo básico, 
especializam-se por conterem circunstâncias, objetivas ou subjetivas, que fazem 
aumentar o grau de reprovação do fato. Derivam do homicídio doloso simples vários tipos 
de homicídio qualificado, descritos no § 2º do art. 121, cometidos: a) mediante paga, 
promessa de recompensa, por outro motivo torpe; por motivo fútil; b) com emprego de 
veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa 
resultar perigo comum; à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro 
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; c) para assegurar a 
execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. 
 
Os tipos qualificados exigem maior reprovação, maior reprimenda penal, em razão das 
circunstâncias especializantes que os tornam mais graves, seja pela motivação, seja pela 
forma de execução, seja pela conexão finalística com que age o sujeito. Há, ainda, 
derivados dos tipos simples, básicos, os qualificados pelo resultado, dos quais já se falou 
anteriormente. 
 
1.3 - CRIMES COMUNS, ESPECIAIS, PRÓPRIOS E DE MÃO PRÓPRIA: 
 
Crimes comuns são os definidos no Direito Penal comum, que é o aplicado pela justiça 
comum, e crimes especiais, os descritos na legislação penal especial – os crimes 
militares, oscrimes de responsabilidade, os crimes eleitorais. Diz-se, ainda, comum o 
crime praticado por qualquer pessoa, e próprio o praticado por pessoa que tenha uma 
condição ou qualidade pessoal própria, como o funcionário público. 
 
De mão própria o crime que só pode ser cometido pelo sujeito, pessoalmente, como no 
caso do delito tipificado no art. 342 do Código Penal: “Fazer afirmação falsa, ou negar ou 
 
 
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calar a verdade, como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo 
judicial, policial ou administrativo, ou sem juízo arbitral.” 
 
Tal fato típico só pode ser cometido pela testemunha, ou pelo perito, ou pelo contador, ou 
pelo tradutor, ou pelo intérprete. Estes não podem cometê-lo por meio de interposta 
pessoa; por isso, são chamados crimes de mão própria, porque por outra mão não se 
pode fazer o que se faria. 
 
1.4 - CRIMES DE DANO, DE PERIGO E DE OPINIÃO: 
 
Crime de dano é o que se consuma com a produção de um resultado, que é a 
modificação do mundo externo causada pela conduta, como ocorre no homicídio, na lesão 
corporal, no roubo, no furto, no estelionato. 
 
Crime de perigo é o que se consuma com a existência da probabilidade da ocorrência de 
um resultado naturalístico. É o que ocorre nos delitos tipificados nos arts. 130, de perigo 
de contágio venéreo, 131, 132 etc. 
 
Crime de opinião é o que consiste no abuso da liberdade de expressão do pensamento, 
como a calúnia, a injúria, a difamação, cometidos com o uso da palavra, do gesto, com 
instrumento de comunicação da expressão do pensamento. 
 
1.5 - CRIMES INSTANTÂNEOS, PERMANENTES E INSTANTÂNEOS DE EFEITOS 
PERMANENTES: 
 
Crime Instantâneo é o que se consuma em determinado instante, num único momento, 
não havendo continuidade temporal. Quando alguém profere calúnia contra outrem, 
mediante o uso de uma única frase, atribuindo-lhe a prática de um fato definido como 
crime, tal crime é instantâneo, assim como o é aquele homicídio em que, disparando o tiro 
e alvejando a vítima, esta morre imediatamente. O homicídio foi instantâneo. 
 
O Crime Permanente é aquele cujo resultado continua no tempo, com a prolongação, no 
tempo, de seu momento de consumação. É o que acontece no tipo do seqüestro ou 
cárcere privado, definido no art. 148, “privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro 
ou cárcere privado”. Seu momento consumativo perpetua-se, é permanente. 
 
Crime Instantâneo de Efeitos Permanentes é o que, após consumado, tem suas 
conseqüências perpetuadas. Na verdade, a consumação ocorreu, mas continua 
produzindo suas conseqüências, como o homicídio, o furto, o roubo. 
 
2. LISTA DE EXERCÍCIOS – CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES: 
 
01 - Prova: FCC - 2005 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
Considere o seguinte crime: “Art. 205. Exercer atividade, de que está impedido por 
decisão administrativa.” 
 a) Trata-se de crime de mera conduta. 
 b) Trata-se de crime de forma vinculada. 
 c) Não se trata de crime próprio. 
 
 
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 d) Não é crime comissivo. 
 
02 - Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase 
Sobre o momento consumativo do crime, assinale a alternativa incorreta: 
 a) nos crimes materiais, a consumação ocorre com o evento ou resultado; 
 b) nos crimes culposos, só há consumação com o resultado naturalístico; 
 c) nos crimes formais a consumação ocorre com a própria ação, já que não se exige o 
resultado naturalístico; 
 d) nos crimes omissivos impróprios, a consumação ocorre com a simples omissão do 
agente. 
 
03 - Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase 
É CORRETO que no crime progressivo há: 
 a) pluralidade de condutas delitivas encadeadas por uma seqüência causal e certa 
unidade de contexto, sendo a posterior mais grave que a anterior, com desdobramento do 
elemento subjetivo em momentos distintos; 
 b) um tipo penal, abstratamente considerado, que contém implicitamente outro, o qual 
deve necessariamente ser realizado para se alcançar o resultado; 
 c) o cometimento de duas infrações penais, sendo a primeira menos grave que a 
segunda, a qual, por isso, considera-se pós-fato não punível; 
 d) o cometimento de duas ou mais infrações penais, num mesmo contexto e contra a 
mesma vítima, com unidade de desígnios. 
 
04 - Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase 
Crime vago é aquele que: 
 a) não tem objeto jurídico; 
 b) não tem objeto material; 
 c) tem como sujeito passivo uma coletividade destituída de personalidade jurídica; 
 d) não tem sujeito passivo. 
 
05 - Prova: ND - 2005 - OAB-MT - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
São considerados crimes formais: 
 a) aqueles que, apesar da alusão ao resultado naturalístico, não exigem para fins de 
consumação que ele ocorra; 
 b) aqueles que se consumam com a ocorrência do resultado naturalístico da ação; 
 c) aqueles em que o tipo penal não faz alusão ao resultado naturalístico da ação, 
bastando, para a consumação, a ação ou omissão prevista e punida na norma penal 
incriminadora; 
 d) aqueles em que a fase consumativa se prolonga no tempo. 
 
06 - Prova: PGR - 2012 - PGR - Procurador 
ANALISE OS ITENS ABAIXO E RESPONDA EM SEGUIDA: 
 
I) a distinção entre crimes especiais próprios e crimes especiais impróprios tem relevância 
no exame da atribuição de responsabilidades em hipóteses de concurso de agentes; 
 
II) o crime de gestão temerária de instituição financeira é um crime especial impróprio; 
 
 
 
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III) a nomenciatura da doutrina alemã "crimes de infração de dever" abrange a classe dos 
crimes especiais; 
 
IV) a doutrina e a jurisprudôncia pátrias sustentam a possibilidade de atribuição, ao 
extraneus, de responsabilidade a qualquer titulo, sempre que, em concurso com um 
intraneus, pratique atos subsumiveis em tipos penais especiais. 
 
PODE-SE AFIRMAR QUE: 
 
 a) todos os itens estão corretos. 
 b) somente os itens II e IV estão corretos. 
 c) somente o item II estå incorreto. 
 d) somente os itens I e III estão incorretos. 
 
07 - Prova: CETRO - 2012 - TJ-RJ - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Critério 
Remoção 
O crime de abandono intelectual descrito no artigo 246 do Código Penal, nos termos: 
“Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar”, pode 
ser classificado como crime 
 
 a) material. 
 b) omissivo impróprio. 
 c) instantâneo. 
 d) plurissubjetivo. 
 e) próprio. 
 
08 - Prova: CETRO - 2012 - TJ-RJ - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Critério 
Remoção 
No que concerne ao ato de fazer apologia a crime ou criminoso, descrito na legislação 
penal, nos termos: “Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de 
crime”, é correto afirmar que 
 
 a) a tentativa é teoricamente possível, desde que o meio de fazer apologia não seja o 
oral. 
 b) se trata de contravenção penal. 
 c) se trata de crime conta a incolumidade pública. 
 d) se trata de crime próprio. 
 e) se trata de crime material. 
 
09 - Prova: FCC - 2012 - MPE-AL - Promotor de Justiça 
Por exigir a ocorrência de resultado para a consumação, é de natureza material o crime 
de 
 
 a) condescendência criminosa. 
 b) concussão. 
 c) prevaricação. 
 d) corrupção ativa. 
 e) sonegação de contribuição previdenciária. 
 
 
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10 - Prova: CESPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público 
Há delitos em que a ação encontra-se envolvida por determinado ânimo cuja ausência 
impossibilita sua concepção, ou seja, nesses crimes, não é somente a vontade do autor 
que determina o caráter lesivo do acontecer externo, mas outros extratos específicos, 
inclusive inconscientes. Esses delitos são classificados como delitos 
 a) formais. 
 b) de intenção. 
 c) de tendência. 
 d) putativos. 
 e) materiais. 
 
11 - Prova: MPE-SP- 2012 - MPE-SP - Promotor de Justiça 
Em relação aos crimes, é INCORRETO afirmar: 
 
 a) Nos crimes materiais, o tipo penal descreve a conduta e o resultado naturalístico 
exigido. 
 b) Preterdoloso se diz o crime em que a totalidade do resultado representa um excesso 
de fim (isto é o agente quis um minus e ocorreu um majus), de modo que há uma 
conjugação de dolo (no antecedente) e de culpa (no subsequente). 
 c) Crimes de mera conduta são de consumação antecipada. 
 d) Crime progressivo ocorre quando, da conduta inicial que realiza um tipo de crime, o 
agente passa a ulterior atividade, realizando outro tipo de crime, de que aquele é etapa 
necessária ou elemento constitutivo. 
 e) Nos crimes unissubsistentes, o processo executivo da ação ou a omissão prevista no 
verbo núcleo do tipo consiste num só ato, coincidindo este, temporalmente com a 
consumação. 
 
12 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-AC - Juiz 
A respeito da classificação dos crimes, assinale a opção correta. 
 a) Classifica-se como bipróprio o crime cujo agente é simultaneamente sujeito ativo e 
passivo em relação ao mesmo fato. 
 b) A denunciação caluniosa e a extorsão mediante sequestro são consideradas crimes 
complexos em sentido estrito. 
 c) A conduta de alguém que induza ou instigue outrem a suicidar- se ou preste auxílio 
para que o faça configura crime multitudinário ou de ação múltipla. 
 d) O aborto com consentimento da gestante e a violação de sepultura são exemplos de 
crime vago. 
 e) A injúria e a ameaça verbais são exemplos de crimes não transeuntes. 
 
13 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-AC - Juiz 
Assinale a opção correta no que se refere aos crimes em espécie. 
 a) É atípica, no ordenamento jurídico brasileiro, a conduta daquele que, não sendo 
casado, contraia casamento com pessoa casada, ainda que esteja ciente dessa 
circunstância. 
 b) O comerciante que, tendo recebido, de boa-fé, uma nota falsa de R$ 100,00, resolva, 
após constatar a falsidade da moeda, restituí-la à circulação comete crime de moeda 
falsa, punido com a mesma pena aplicável àquele que tiver falsificado a nota. 
 
 
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 c) No caso de crime de peculato culposo, a reparação do dano, desde que anterior à 
denúncia, extingue a punibilidade. 
 d) O agente que dá causa à instauração de investigação policial contra alguém, 
imputando-lhe crime de que o sabe inocente, comete o crime de comunicação falsa de 
crime. 
 e) O agente que exerce atividade para cujo exercício está impedido por decisão 
administrativa pratica crime contra a organização do trabalho. 
 
14 - Prova: CESPE - 2012 - MPE-PI - Promotor de Justiça 
Considerando as disposições contidas no CP e na doutrina sobre crimes, imputabilidade 
penal e penas, assinale a opção correta. 
 
 a) A pena imposta para crime de homicídio simples será aumentada em um terço se o 
agente não procurar diminuir as consequências do seu ato. 
 b) Considere que João, no intuito de auxiliar José a ceifar a própria vida, o ajude a 
colocar a corda ao redor do pescoço, a subir em um banco e, ao final, chute o banco. 
Nessa situação, João deve responder pelo crime de auxílio ao suicídio, de acordo com o 
que dispõe o CP, desde que José faleça ou, se sobreviver, sofra lesões corporais de 
natureza grave. 
 c) O crime de mão própria, também chamado de atuação pessoal ou de conduta 
infungível, só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa. 
 d) Estará isento de pena o agente que, por embriaguez culposa, seja, ao tempo da ação 
ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se 
de acordo com esse entendimento. 
 e) As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade 
quando a pena aplicada não for superior a quatro anos, o crime não for cometido com 
violência e grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, for o crime 
culposo, bem como a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade 
do condenado, os motivos e as circunstâncias indicarem que a substituição seja suficiente 
e desde que o réu não seja reincidente em crime doloso, sendo, no último caso, absoluto 
o impedimento. 
 
15 - Prova: FCC - 2012 - TRT - 4ª REGIÃO (RS) - Juiz do Trabalho - Prova TIPO 4 
Consumam-se com o resultado os crimes 
 
 a) formais e omissivos próprios. 
 b) omissivos impróprios e materiais. 
 c) formais e omissivos impróprios. 
 d) materiais e omissivos próprios. 
 e) materiais e de mera conduta. 
 
16 - Prova: CESGRANRIO - 2012 - Caixa - Advogado 
Um comerciante, com exploração de mercearia no município Y, é surpreendido pela 
fiscalização dos órgãos de proteção ao consumidor, que lograram autuá-lo pela exposição 
de mercadorias com prazo de validade vencido. Consoante à normativa aplicável ao caso, 
trata-se de tipo vinculado a crime 
 a) próprio 
 b) material 
 
 
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 c) omissivo 
 d) de dano 
 e) de perigo 
 
17 - Prova: CESPE - 2012 - Polícia Federal - Papiloscopista da Polícia Federal 
Em cada um dos próximos itens é apresentada uma situação hipotética, acerca dos 
crimes contra a pessoa, contra o patrimônio, contra a fé pública e contra a administração 
pública, seguida de uma assertiva a ser julgada. 
 
Luiz, proprietário da mercearia Pague Menos, foi preso em flagrante por policiais militares 
logo após passar troco para cliente com cédulas falsas de moeda nacional de R$ 20,00 e 
R$ 10,00. Os policiais ainda apreenderam, no caixa da mercearia, 22 cédulas de R$ 
20,00 e seis cédulas de R$ 10,00 falsas. Nessa situação, as ações praticadas por Luiz — 
guardar e introduzir em circulação moeda falsa — configuram crime único. 
 
 Certo Errado 
 
 
18 - Prova: FCC - 2012 - TRE-PR - Analista Judiciário - Área Administrativa 
Os crimes que encerram dois ou mais tipos em uma única descrição legal denominam-se 
crimes 
 a) de mão própria 
 b) complexos. 
 c) plurissubjetivos. 
 d) qualificados. 
 e) de ação múltipla. 
 
19 - Prova: ND - 2007 - OAB-SC - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase 
Assinale a alternativa correta: 
 a) Entre as várias classificações dos crimes, pode-se classificá-los como: crimes comuns 
e próprios; crimes instantâneos e permanentes; crimes comissivos, omissivos, comissivos 
por comissão e omissivos por omissão; crimes de atividade e de resultado. Crimes 
unissubjetivos e plurissubjetivos. Crime habitual. Crimes unissubsistentes e 
plurissubsistentes. 
 b) Para o cálculo da prescrição é considerado a pena total na qual o cidadão foi 
condenado, mesmo na ocorrência do concurso de crime. 
 c) A diferença entre progressão criminosa e crime progressivo está no elemento 
subjetivo. 
 d) Nos crimes permanentes a prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, é 
contada da data em que o fato se tornou conhecido. 
 
20 - Prova: CESPE - 2008 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase 
Assinale a opção correta acerca da classificação dos crimes. 
 
 a) O crime é qualificado quando, ao tipo básico, ou fundamental, o legislador agrega 
circunstâncias que elevam ou majoram a pena, tal como ocorre com o homicídio. 
 b) O delito de ameaça pode ser classificado como crime material. 
 c) Os crimes de quadrilha e rixa são unissubjetivos. 
 
 
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 d) O delito de infanticídio pode ser classificado como crime comum. 
 
GABARITO OFICIAL: 
 
1-A 2-D 3-B 4-C 5-A 6-C 7-E 8-A 9-E 10-C 
11-C 12-D 13-E 14-C 15-B 16-E 17-C 18-B 19-C 20-A 
 
 
CAPÍTULO 8 - ERRO DE TIPO: 
 
O erro, portanto, é uma falsa apreciação da realidade, próprio do ser humano e, 
conquanto esteja presente na vida de todos, não podia o Direito Penal ignorar sua 
existência, pelo que lhe dá um tratamento especial na teoria do crime. 
 
Muitas vezes, em sua vida, em seu dia-a-dia, o homem realiza certos comportamentos 
que violam a norma jurídica exatamente por ter apreciado a realidadede forma inexata, o 
que lhe vicia a consciência e, de conseqüência, a vontade. Nessas ocasiões, o homem 
age errando. 
 
Certa feita, durante uma caçada, ao final de uma tarde, quando o sol já se punha, 
Joaquim viu, a uns cem metros de distância, próximo de alguns arbustos, um vulto 
movendo-se e teve a certeza de que se tratava de um animal, e, de pronto, disparou sua 
arma de fogo contra o mesmo, acertando-lhe o corpo. Correndo para lá, deparou-se, 
surpreso, com o corpo morto de um homem. 
 
Evidente que Joaquim errou, pois apreciou mal a realidade, captando-a de modo diverso 
do que ela era. Viu um animal, onde havia um homem. De conseqüência, sua vontade 
formou-se com vício, pois acabou realizando algo que não faria, se não tivesse errado. 
Joaquim, sem querer, matou alguém. Seu erro incidiu sobre um dos elementos do tipo 
legal de homicídio: alguém. Queria matar um animal, mas matou um ser humano. Não era 
esse seu desejo, sua vontade. Joaquim não agiu dolosamente. Dolo é consciência do fato 
e a vontade de realizar o tipo legal de crime, ou, pelo menos, aceitar o resultado previsto. 
Ele nem tinha consciência de que, com sua conduta, causaria a morte de um homem – o 
resultado – nem, é lógico, tinha vontade de, com seu comportamento, produzir o resultado 
que causou – a morte de um homem. 
 
Sem consciência e sem vontade, não há dolo, isso já foi explicado. Se é assim, qual é o 
tratamento que o Direito Penal dispensa a situações como essa, em que o sujeito erra 
sobre elemento do tipo legal de crime? Exatamente este: “O erro sobre elemento 
constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, 
se previsto em lei” (art. 20, CP). 
 
O erro de tipo é, portanto, o que incide sobre elemento do tipo legal de crime, podendo 
ser evitável ou inevitável, como se passa a demonstrar. 
 
1.1 - ERRO DE TIPO EVITÁVEL: 
 
 
 
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O erro de tipo é evitável quando, nas circunstâncias em que o sujeito se encontrava, era-
lhe possível evitá-lo, com a adoção das cautelas exigidas do homem comum, 
normalmente prudente. 
 
É só pensar no exemplo do caçador. Estando ele numa área povoada, onde era previsível 
a presença de pessoas transitando, deveria – ao avistar um vulto, a uns 100 metros de 
distância, ao fim da tarde, quando a luz do sol já se ia, dificultando sua visibilidade – 
certificar-se de que o que via era, efetivamente, um animal e não uma pessoa. O dever 
geral de cuidado objetivo impunha-lhe algumas atitudes concretas para alcançar um grau 
de certeza, aproximando-se mais do vulto, firmando melhor sua visão, procurando um 
ângulo onde a luminosidade lhe permitisse verificar detalhes do corpo do vulto, enfim, 
chegar ao máximo grau possível de certeza sobre ser o alvo um animal. 
 
Se o caçador não teve nenhum desses ou de outros cuidados, agiu com negligência e – 
apesar de não ter desejado alcançar aquele resultado, nem tê-lo aceito – poderia tê-lo 
evitado, caso tivesse sido cauteloso. Se é óbvio que não agiu dolosamente, igualmente 
claro é que agiu culposamente. 
 
Por isso, o agente, laborando em erro evitável, responderá pelo tipo culposo, se previsto 
em lei. No caso do caçador, tendo matado a pessoa, sem dolo, mas culposamente, 
responderá pelo homicídio culposo do art. 121, § 3º do Código Penal, porque seu erro 
poderia ter sido evitado. 
 
Em algumas situações, o agente erra sobre um elemento do tipo, por negligência, o erro 
podia ter sido evitado, e, apesar disso, não responderá por infração penal. Na sala de 
aula, a aluna Maria subtrai para si o exemplar do Código Penal de Sílvia, pensando que é 
o de sua propriedade. São livros iguais, mesma capa, sem identificação que os distinga. 
 
A subtração deveu-se a um erro sobre um dos elementos do tipo legal de furto, do art. 
155: ser a coisa alheia. Tal erro poderia ter sido evitado, pois, numa sala de aula, onde 
dezenas de alunos possuem livros idênticos, é provável que, ao fim da aula, na pressa de 
irem todos para o trabalho ou para casa, um leve o livro do outro. Sendo provável, pode 
ser evitado tal erro. Trata-se de um erro de tipo evitável; todavia, Maria não será punida, 
porque não existe a previsão legal de punição do furto praticado culposamente. 
 
1.2 - ERRO DE TIPO INEVITÁVEL: 
 
O erro inevitável é aquele no qual, nas circunstâncias em que se encontrava o agente, 
qualquer pessoa normal também incorreria, mesmo utilizando todos os procedimentos 
recomendados pela cautela, mesmo com toda a atenção exigível ao comum dos homens. 
Na verdade, só há erro inevitável quando ausente a possibilidade de previsão do 
resultado. 
 
O mesmo caçador do exemplo anterior, estando agora, em outro lugar, num clube de 
caça, numa área fechada por cercas eletrificadas, reservada apenas para sócios do clube, 
destinada exclusivamente a ele em determinado período, para o exercício de seu esporte 
preferido. Munido de sua arma, sabe que na área não existe ninguém mais a não ser ele 
e seus companheiros. 
 
 
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Pois bem, estando todos juntos, avistam um vulto a distância, e, após certificar-se o 
caçador de que todos os caçadores presentes estão fora da linha de tiro, dispara e acerta 
uma pessoa que, inadvertidamente, ignorando todos os avisos, todas as normas, e 
conseguindo ludibriar toda a vigilância, conseguira penetrar no clube. Evidente que o 
caçador errou sobre um elemento do tipo legal de homicídio, e, nas circunstâncias 
mencionadas, esse é um erro invencível, inevitável, em que qualquer pessoa incorreria, 
pois que era impossível prever a invasão daquela área do clube pela vítima, não tendo o 
agente agido com negligência. 
 
Esse erro exclui o dolo e, também, a culpa. Não há tipicidade do fato. Não houve 
homicídio, mas uma fatalidade, um acidente, um caso fortuito. Nesse exemplo, não houve 
consciência, não houve vontade, não houve previsibilidade; logo, não houve nem dolo, 
nem culpa. Tal fato é atípico. Em conclusão, o erro de tipo evitável exclui o dolo, o 
inevitável exclui o dolo e a culpa, stricto sensu. 
 
1.3 - ERRO SOBRE A PESSOA: 
 
O erro que incide sobre a pessoa contra a qual se dirige a conduta do agente não lhe 
retira a consciência sobre o fato, tratando-se, pois, de um erro meramente acidental, que, 
por essa razão, não afeta o dolo. Nessa modalidade de erro, o sujeito queria voltar sua 
conduta contra João e, por falsa apreciação da realidade, atinge Antônio. O dolo é o 
mesmo, pois que, no tipo de homicídio, a proibição é de matar alguém, não importa se 
João, Antônio ou outra pessoa. No tipo de lesão corporal, a proibição é ofender a 
integridade corporal de outrem, qualquer que seja ele. 
 
Por isso, a norma do § 3º do art. 20, primeira parte, do Código Penal: “O erro quanto à 
pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste 
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente 
queria praticar o crime.” 
 
Assim, esse erro, além de não excluir a tipicidade do fato, ainda vai fazer com que o 
agente responda pelo fato como se não tivesse errado. Se queria matar Pedro, seu pai, e 
acabou matando Mauro, um estranho, o agente vai responder como se tivesse matado, 
efetivamente, o próprio pai, com a agravante do art. 61, II, e. 
 
1.4 – ERRO NA EXECUÇÃO E RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO: 
 
Muitas vezes, o agente comete um crime laborando em erro sobre a pessoa que desejava 
atingir. Em algumas situações, por falha na execução do procedimento típico, ofende 
pessoa diferente da que pretendia. Outras vezes, obtém, por acidente ou erro na 
execução, um resultado diferente do que desejava. 
 
São três modalidades de erro que, diferentemente do que acontece no erro de tipo – que 
exclui o dolo, permitindo a punição por crime culposo, se tipificado – e no erro de 
proibição – que exclui a culpabilidade,se inevitável, ou a diminui, se evitável –, não 
isentam o agente de pena, porquanto não se trata de erros essenciais, mas puramente 
acidentais. 
 
 
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Nos três casos, o agente culpado será punido, com observância de regras específicas, 
como se vê adiante. 
 
1.4.1 - ERRO SOBRE A PESSOA: 
 
Dispõe o § 3º do art. 20: “O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não 
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, 
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.” 
 
Como se sabe, um tipo é “matar alguém”, outro, “ofender a integridade corporal de 
outrem”, vale dizer, a pessoa humana pode ser sujeito passivo de vários crimes. Se 
alguém quer matar Paulo e mata João, não poderá ser desculpado, porque o crime é 
matar alguém, e não “matar Paulo” e, nesse caso, terá o agente realizado o tipo de 
homicídio doloso, mesmo quando sua vontade era dirigida para a morte de outra pessoa e 
não para a morte da pessoa efetivamente atingida. 
 
Ocorre o chamado erro sobre a pessoa quando o agente, desejando matar certa pessoa, 
erra sobre sua identidade, sua identificação. Tal erro decorre de falsa representação da 
realidade, e não de falha na execução. Exemplo: Cláudio, querendo matar Sálvio, mata 
Sílvio, por estar escuro e não ter observado que Sílvio era muito parecido com a vítima 
que desejava matar, aliás, seu irmão-gêmeo. Não se trata de erro na execução. 
 
Conquanto o dolo, segundo Welzel, abrange o fim pretendido, os meios escolhidos, e os 
efeitos secundários, não podia o Direito deixar de levar em conta a hipótese desse erro. 
 
Manda o § 3º do art. 20 que o agente responda penalmente como se tivesse praticado o 
crime contra a pessoa que desejava atingir, e não contra a que, efetivamente, atingiu. 
Assim, se alguém, querendo matar o próprio pai, mata, todavia, o tio, irmão-gêmeo do pai, 
responderá como se tivesse matado o pai, o que importará na incidência da circunstância 
agravante do art. 61, II, e, do Código Penal. 
 
Todavia, se desejando matar um estranho, vem, pelo erro, atingir e matar o pai, a 
agravante não incidirá. 
 
12.4.2 - ABERRATIO ICTUS: 
 
O erro na execução está assim definido no art. 73 do Código Penal: “Quando, por 
acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa 
que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o 
crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso 
de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 
70 deste Código.” 
 
Esta modalidade de erro não decorre de falsa representação do agente, mas de acidente 
ou ineficiente utilização dos meios de execução do procedimento típico. Por exemplo: Ciro 
está com a arma apontada em direção a Juarez, a quem pretende matar, e no momento 
 
 
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em que dispara a arma, Sebastião atravessa a linha de tiro e recebe o projétil, morrendo 
em conseqüência do ferimento. 
 
O erro na execução do homicídio pretendido contra Juarez decorreu de um acidente, que 
foi a colocação de Sebastião no espaço por onde a bala passava. Haverá erro na 
execução também quando, utilizando uma arma defeituosa, dispara o agente contra a 
vítima pretendida, desviando-se o projétil do alvo e atingindo a pessoa que se encontrava 
próxima. O mesmo ocorre quando o agente erra o alvo, por sua imperícia no manejo de 
arma de fogo. 
 
São duas as espécies de aberratio ictus: aquele com resultado único e o que produz mais 
de um resultado. 
 
12.4.2.1 - ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO ÚNICO: 
 
Com resultado único é o que acontece na seguinte situação: Fábio, desejando matar a 
Celso, dispara contra o mesmo, atingindo e matando Arlindo, que se encontrava nas 
proximidades de seu desafeto, que nada sofreu. Rigorosamente falando, teria havido uma 
tentativa de homicídio, contra Celso – não consumado por circunstâncias alheias à 
vontade do agente –, e um homicídio culposo contra Arlindo, pois que Fábio não tinha 
vontade de matá-lo, mas, negligentemente, causou-se a previsível e evitável morte. 
 
A solução que o direito dá, todavia, não é essa, mas a de considerar a existência de um 
único homicídio doloso. Ou seja, o agente responderá como se tivesse praticado um só 
homicídio doloso contra Celso, e não o homicídio realmente ocorrido contra Arlindo, que, 
aliás, não foi doloso, mas culposo. Essa solução decorre da vontade da lei de que o 
agente responda “como se tivesse praticado o crime” contra quem pretendia praticar. 
Considera a lei o dolo do agente – vontade de matar – e o resultado “morte” alcançado, 
embora esta tenha sido de pessoa diversa, construindo assim uma ficção jurídica. 
 
Esta solução, inegavelmente, é prejudicial ao agente, pois, se se aplicasse a regra do 
concurso material para os fatos realmente ocorridos, receberia ele pena por uma tentativa 
de homicídio (com diminuição máxima no homicídio simples: dois anos) somada com 
outra por homicídio culposo (mínima: um ano), inferior à pena de um só homicídio 
consumado (mínima: seis anos). 
 
Outro exemplo: se, desejando matar a Silas, Arnaldo dispara e acerta Nelson, produzindo-
lhe lesões corporais, haveria na realidade uma tentativa de homicídio contra Silas e um 
crime de lesões corporais culposas, mas a solução que a lei manda adotar é outra: 
responderá Arnaldo puramente por uma tentativa de homicídio, que, nesse caso, 
absorverá as lesões culposas. Como o resultado morte desejado não ocorreu, não seria 
justo que se considerasse consumado o crime, em face de que não ocorreu a morte da 
vítima efetiva. Vale repetir, deve-se considerar como praticado o crime contra a pessoa 
pretendida, não contra a atingida. 
 
12.4.2.2 - ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO DUPLO: 
 
 
 
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Aberratio ictus com resultado duplo ocorre quando, além da pessoa visada, é atingida 
outra pessoa. Juvenal, querendo matar a Paulo, atira e, além de atingi-lo, atinge também 
Mauro. Manda a parte final do art. 73 que, nesse caso, se deve aplicar a regra do art. 70, 
que define o concurso formal de crimes. Podem ocorrer as seguintes situações e 
soluções: 
a) Paulo é morto e Mauro também. 
b) Paulo é morto e Mauro sofre lesões corporais. 
c) Paulo sofre lesões corporais e Mauro é morto. 
d) Paulo sofre lesões corporais e Mauro também. 
 
No primeiro caso (a), em que ocorrem a morte desejada de Paulo e a morte indesejada de 
Mauro, forma-se um concurso formal, entre um homicídio doloso e um culposo, devendo 
Juvenal responder por um homicídio doloso, com pena aumentada de um sexto até 
metade. 
 
No segundo caso (b), em que acontecem a morte pretendida de Paulo e lesões corporais 
involuntárias em Mauro, terá havido concurso formal entre um homicídio consumado e um 
crime de lesões corporais culposas, com o aumento da pena do homicídio doloso, de um 
sexto até metade. 
 
No terceiro caso (c), a solução será considerar o homicídio como se tivesse sido 
consumado contra a vítima pretendida, Paulo, embora este só se tenha ferido, em 
atenção ao preceituado na primeira parte do art. 73, devendo Juvenal receber a pena por 
homicídio consumado, aumentada, todavia, de um sexto até metade, em obediência à 
determinação da parte final do art. 73, que manda aplicar a regra do concurso formal. 
 
No último caso (d), com uma tentativa de homicídio contra Paulo e uma lesão corporal 
culposa contra Mauro, novo concurso formal, devendo Juvenal receber a pena pela 
tentativa de homicídio, aumentada de um sexto até metade. 
 
Apesar de não haver regra expressa, vale a observação do parágrafo único do art. 70, 
segundo a qual a pena não pode exceder a pena pertinente, caso fosse aplicada a 
Aplicação da Pena - 69 regra do concurso material. 
 
Em todos esses casos,é de ver que, no segundo resultado, a morte ou a lesão da pessoa 
que o agente não desejava atingir decorre de sua negligência, configurando, assim, crime 
culposo. Por isso, a solução correta é compreender os dois crimes como formando um 
concurso formal, pois que, mediante uma só ação, lato sensu, realizamse, todavia, dois 
crimes. 
 
É claro que, em qualquer dessas hipóteses, se o agente tiver previsto o outro resultado – 
matar ou ferir Mauro – e, em face desse previsível resultado, tiver se portado com atitude 
interna de aceitá-lo, estarão presentes desígnios autônomos, impondo-se, de 
conseqüência, a aplicação da pena cumulativamente, pela regra do concurso material, 
segundo determina o art. 70, última parte. A aceitação do resultado não desejado constitui 
outro desígnio. 
 
12.4.3 - ABERRATIO DELICTI: 
 
 
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Essa modalidade de erro na execução do procedimento típico, também chamada 
aberratio criminis, encontra-se regulada pelo art. 74 do Código Penal, assim: “Fora dos 
casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém 
resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como 
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 
deste Código.” 
 
No erro anterior, aberratio ictus, o processo de execução se desvia de uma pessoa para 
outra de tal modo que, apesar de possibilitar a ocorrência de um crime, em lugar de outro, 
ambos tinham como objeto a pessoa humana, ainda que num caso sua integridade física, 
e noutro a própria vida. Em vez de homicídio contra Tiago, cometiase lesão corporal 
contra Mateus, ou vice-versa. Enfim, no aberratio ictus é persona in personam. 
 
No aberratio delicti, o desvio na execução alcança o bem jurídico e, em vez de uma lesão 
corporal, realiza o agente um crime de dano. Em vez de atingir uma pessoa, atinge uma 
coisa material ou, ao contrário, em vez de atacar o objeto, o agente fere ou mata uma 
pessoa. 
 
Pode ocorrer que: 
 
a) José, desejando quebrar os vidros de uma casa, atira uma pedra em direção a ela, 
vindo a atingir a pessoa de Miguel, que estava próximo. Quis cometer o crime de dano, e 
realizou uma lesão corporal culposa. Responderá por lesão corporal culposa. Se tivesse 
matado a Miguel, responderia por homicídio culposo. 
 
b) José, desejando matar a Miguel, erra e atinge a vidraça da casa. Não há crime de dano 
em sua modalidade culposa; por isso, não responderá por nenhum crime em relação à 
coisa atingida. Apenas estará, civilmente, obrigado a reparar o dano. Conquanto queria 
matar a Miguel, responderá por tentativa de homicídio. Se sua intenção fosse apenas a de 
ferir a Miguel, responderia apenas por tentativa de lesão corporal. Se o tivesse atingido, 
por lesão corporal consumada. 
 
c) José, querendo danificar a vidraça da casa do vizinho, atira uma pedra contra ela, vindo 
a acertá-la e, também, o rosto de Maria, produzindo-lhe lesões corporais. Nesse caso, há 
um concurso formal de crimes, entre um crime de dano, doloso, e um crime de lesão 
corporal culposa. Aplicar-se-á a pena do crime mais grave, aumentada de um sexto até 
metade. 
 
A regra só poderia ser, mesmo, a adotada pelo Código, posto que, efetivamente, o agente 
não deseja o outro resultado e, é óbvio, age negligentemente com relação ao bem que 
não deseja atingir. Se, todavia, ficar evidenciado que o resultado diverso do pretendido 
decorreu pura e simplesmente de nexo causal, sem qualquer negligência, imprudência ou 
imperícia do agente, ou, ainda, numa situação absolutamente imprevisível – um caso 
fortuito –, não terá havido culpa, em sentido estrito, não respondendo o agente pelo 
resultado diverso do pretendido. 
 
 
 
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Se o agente tiver agido, com relação ao outro resultado com dolo eventual – prevendo e 
aceitando o outro resultado –, dever-se-á aplicar a regra do concurso material de crimes, 
porquanto os crimes terão decorrido de desígnios autônomos (art. 70, caput, parte final). 
 
CAPÍTULO 9 - ILICITUDE 
 
1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS: 
 
A segunda característica do crime é denominada, pela maior parte de nossos 
doutrinadores, de antijuridicidade. A expressão antijuridicidade remete à prévia locução: 
antijurídico. Anti é 
prefixo que significa o contrário, contra, oposto, logo, antijurídico só poderia querer 
significar o fato “contrário ou contra o jurídico”, ou “oposto ao jurídico”. O crime é um fato 
contra o direito e não contra o jurídico; por isso, melhor, por mais apuradas tecnicamente, 
as expressões ilícito e ilicitude. 
 
2 - ILICITUDE FORMAL E ILICITUDE MATERIAL 
A doutrina distingue a ilicitude formal da material, dizendo que seria formalmente ilícita a 
conduta humana que violasse a norma penal, e substancialmente ilícito o comportamento 
humano que ferisse o interesse social tutelado pela própria norma. 
 
Do ponto de vista formal, portanto, a ilicitude seria a simples contradição entre o fato 
realizado pelo agente e a norma penal incriminadora. No entanto, sabe-se, a norma penal 
está contida no tipo. Em matar alguém está contida a ordem: não matar, de sorte que 
contrariar a norma penal incriminadora é adequar-se ao tipo. 
 
De conseqüência, o conceito formal de ilicitude é o mesmo conceito de tipicidade, pois 
contrariar a norma incriminadora é adequar-se ao tipo. Em outras palavras, adequar-se à 
descrição da conduta proibida é contrariar a vontade da norma incriminadora. Ou então: 
ilicitude formal é a tipicidade. 
 
De uma óptica material, a ilicitude é a lesão ou o perigo de lesão do bem jurídico 
protegido pela norma penal. Determinado comportamento será ilícito quando for a causa 
da lesão a um bem jurídico, quando atingi-lo, atacá-lo, ou, pelo menos, colocá-lo em 
situação de perigo. 
 
2. CARÁTER OBJETIVO DA ILICITUDE 
 
A ilicitude é puramente objetiva, independendo das condições pessoais do agente, de sua 
capacidade de responder pelo que fez. Como já se disse, e não é demais repetir, a 
ilicitude é resolvida num juízo de valor acerca da lesividade do bem jurídico. 
 
Houve lesão, houve perigo de lesão ao bem protegido? Se a resposta é positiva, há 
ilicitude. Se negativa, não há ilicitude. Se não há lesão, o fato é permitido, e não interessa 
ao Direito Penal, cuja missão é tutelar os bens jurídicos mais importantes, protegendo-os 
das lesões ou ameaças mais graves de lesões. 
 
 
 
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Não importa seja o agente do fato incapaz de entender seu gesto, ou absolutamente 
incapaz de se autogovernar. Mesmo que seja um menor de 18 anos, seu comportamento, 
se lesivo de um bem jurídico, é e será ilícito, pois que a ilicitude existe por si só, não 
estando vinculada às qualidades ou condições pessoais do sujeito ativo do fato. 
 
De conseqüência, os incapazes do ponto de vista penal podem cometer fatos típicos e 
ilícitos. Sua incapacidade penal implicará outra conseqüência, adiante analisada. 
 
4 – EXCLUSÃO DA ILICITUDE: 
 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I - em estado de necessidade; 
II - em legítima defesa; 
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
 
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá 
pelo excesso doloso ou culposo 
 
Acontecendo um fato, e sendo ele típico, ao operador do direito é indispensável saber se 
o mesmo é ou não ilícito. Se for ilícito, continuará em seu estudo, para verificar se houve, 
efetivamente, um crime. Se, apesar de típico, não tiver causado lesão a um bem jurídico 
protegido pelo Direito Penal, não tiver sido ilícito, proibido pelo ordenamento jurídico, 
estará diante de um fato permitido, não diante de um crime. 
 
Já vimos como descobrir se um fato da vida é, ou não, típico. Agora, o momento é o de 
verificar como se faz parasaber se o fato típico é ou não ilícito. Uma das funções do tipo 
é ser indiciário da ilicitude, dela portador, o que significa dizer que o tipo traz, em seu 
interior, a ilicitude, a proibição. É de toda obviedade. No tipo matar alguém, está inserida a 
proibição de matar. Se alguém mata outrem, tem-se a idéia, a princípio, de que tal 
comportamento é proibido, é ilícito, pois, ao realizar a figura descrita no tipo, infringiu a 
norma proibitiva nele contida, implicitamente. 
 
A conclusão a que se chega é: toda vez que houver um fato típico, deve-se dizer: este 
fato é, a princípio, ilícito, proibido. Conquanto o Direito Penal não seja exclusivamente o 
conjunto de normas penais incriminadoras, mas contém outras normas, as permissivas 
justificantes – as que tornam lícitas condutas definidas como crime –, é preciso, então, 
verificar se o fato típico examinado foi ou não cometido numa situação que se ajuste a 
uma das normas penais permissivas justificantes. 
 
Se o fato tiver sido cometido ao amparo de uma dessas normas permissivas, então a 
ilicitude que vinha com o tipo, com a tipicidade, fica afastada, pela incidência da norma de 
justificação, que realiza a tarefa de afastar, do tipo, a ilicitude que ele portava. O Direito, 
atendendo à vontade da sociedade, em certas e especialíssimas circunstâncias, permite 
ao homem voltar seu comportamento contra bens que, em situações normais, são 
protegidos. Considera justo o ataque aos mesmos, pois, em circunstâncias de 
anormalidade, deixam de estar sob a proteção do Direito; por isso, excepcionalmente, 
podem ser atacados. 
 
 
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Essas normas permissivas justificantes são chamadas de causas de exclusão da ilicitude, 
também conhecidas por causas de justificação, justificativas, excludentes, eximentes, 
descriminantes, ou excludentes de ilicitude, antigamente denominadas excludentes de 
criminalidade. 
 
Se dado fato típico tiver sido praticado numa situação em que também se amolde a uma 
das chamadas causas de exclusão da ilicitude, terá havido um fato típico lícito, justificado. 
 
Um fato típico lícito, ou justificado, é o que se ajusta a um tipo legal de crime, mas que, 
por realizar todos os pressupostos de uma norma penal permissiva justificante, e por 
orientar-se para esse fim, é permitido pelo Direito. 
 
É indispensável que o fato típico preencha todos os requisitos estabelecidos na norma 
penal permissiva justificante, para que seja justificado. O Código Penal contém várias 
normas penais que excluem a ilicitude dos fatos típicos. Na parte geral, há quatro dessas 
causas, e na parte especial estão inseridas outras eximentes. 
 
4.1 – ESTADO DE NECESSIDADE: 
 
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de 
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, 
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-
se. 
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar 
o perigo. 
 
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá 
ser reduzida de um a dois terços. 
 
Para que o agente possa ter seu comportamento justificado pela norma do art. 23, I, do 
Código Penal, deve realizar todos os pressupostos, objetivos e subjetivos, do estado de 
necessidade, que estão definidos no art. 24: “Considera-se em estado de necessidade 
quem pratica o fato, para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem 
podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, 
não era razoável exigir-se. § 1º. Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o 
dever legal de enfrentar o perigo.” Com base nessa norma explicativa, são extraídos os 
requisitos dessa excludente. 
 
4.1.1 – REQUISITOS: 
 
A) Perigo atual: 
 
Perigo é um trecho da realidade, a situação concreta que antecede a lesão, que reúne as 
condições indispensáveis à produção do resultado, perceptíveis pelo sujeito. É o soltar-se 
do cão bravo e sua vinda em direção ao agente ou à terceira pessoa. É o incêndio que 
irrompe na mata, em direção à casa onde as crianças se encontram brincando. É a 
 
 
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verificação, pelo médico, da altíssima probabilidade, a quase certeza da morte da 
gestante, se não for provocado o abortamento. É o balançar da árvore, em situação que 
antecede sua queda sobre diversos objetos. São situações em que o sujeito vê a 
indiscutível probabilidade da ocorrência do resultado. 
 
O perigo deve ser concreto, e não apenas abstrato, uma simples representação psíquica, 
mas uma probabilidade real. Para justificar a prática de um fato típico, é indispensável que 
haja um perigo atual, que ele esteja acontecendo. O perigo deve existir no momento 
imediatamente anterior ao instante em que o agente vai realizar a conduta. Não pode ser 
um perigo passado, tampouco um perigo futuro, ainda que iminente. Perigo passado não 
é mais perigo. O bem jurídico já terá sido lesionado. 
 
Iminente é o que, não sendo atual, está prestes a ocorrer. Para legitimar a ação do sujeito 
em estado de necessidade, ele só pode realizar a conduta quando o perigo se tornar 
atual, não lhe sendo autorizado comportar-se enquanto o perigo é, apenas, iminente. 
 
Contudo, a doutrina majoritária vem permitindo a possibilidade do reconhecimento do 
Estado de Necessidade ainda que o perigo não seja atual, mas iminentes. 
 
B) Qualquer direito, próprio ou de terceiro 
 
Pode agir em estado de necessidade aquele que sacrifica um interesse, para salvar um 
direito próprio ou alheio, de quem quer que seja. Todos os bens jurídicos que estiverem 
em situação de perigo atual podem ser salvos sob o estado de necessidade: a vida, a 
liberdade, o patrimônio, a integridade corporal, a saúde, a família. 
 
Independentemente da vontade do titular do direito, ele poderá ser salvo por qualquer 
pessoa, desde que esteja em perigo atual de lesão. Há estado de necessidade próprio – 
em que o agente atua para salvar um bem próprio – e estado de necessidade de terceiro 
quando a conduta destina-se a salvaguardar o interesse de outra pessoa. 
 
C) Perigo não causado dolosamente pelo sujeito 
O agente só pode invocar o estado de necessidade se a situação de perigo não tiver sido 
causada, dolosamente, por ele. Isso significa que a pessoa que tiver dado causa à 
instalação do perigo concreto não pode sacrificar outro bem, para salvar o bem jurídico 
ameaçado pelo perigo que ele mesmo, dolosamente, causou. 
 
Se Fernando, dolosamente, ateou fogo no cinema, durante a exibição do filme, causando 
enorme pânico entre os presentes, não pode, para livrar-se da multidão que lhe impede a 
saída, dizer que está em estado de necessidade quando se põe a agredir, atropelar, 
causar lesões corporais em terceiras pessoas. É verdade que o faz para salvar sua vida, 
ou saúde, ou integridade corporal, de um perigo atual; todavia, tendo sido o causador, 
com dolo, da situação de perigo, não pode invocar a excludente. 
 
Se o perigo tiver sido causado por Fernando culposamente, por negligência, por um 
descuido ao jogar fora o resto de um cigarro que fumara, sem qualquer intenção de 
causar aquela situação perigosa, aí, sim, se necessitar agredir ou lesionar alguém, na luta 
 
 
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para fugir do fogo, agirá em estado de necessidade, presentes, é evidente, todos os 
demais requisitos. 
 
D) Ausência do dever legal de enfrentar o perigo: 
 
Se o agente tiver, por lei, o dever de enfrentar o perigo, se for uma daquelas pessoas cuja 
atividade é, por sua própria natureza, perigosa, e que, por isso, a lei a obriga a enfrentar 
situações de perigo, não poderá, por essa razão, alegar o estado de necessidade. 
 
Os policiais, civis e militares, têm como atividade normal prender agentesde fatos típicos, 
ou condenados pela prática de crimes, perseguindo-os, indo a busca de provas, enfim, 
realizando diversas tarefas perigosas e, em vários momentos de suas vidas, encontram-
se em situações que podem caracterizar os pressupostos do estado de necessidade: 
perigo atual para bens jurídicos não provocados dolosamente por eles. 
 
O mesmo acontece com o soldado do corpo de bombeiros, cuja atividade principal é 
enfrentar incêndios. A enfermeira, o médico, o sanitarista, que devem entrar em contato 
com pessoas acometidas de doenças contagiosas, epidemias, o funcionário público que 
deve fiscalizar instituições que cuidam da saúde, enfim, há uma categoria grande de 
pessoas que estão, por força de lei, obrigadas a enfrentar situações de perigo. 
 
Tais pessoas não podem alegar estado de necessidade, diante de momentos de perigo. 
Seu dever é o de não causar lesão a nenhum bem jurídico, num estado daqueles, pois 
escolheram uma atividade naturalmente perigosa e estão, ou devem estar, em seu dia-a-
dia, preparadas para enfrentar situações como apresentadas. 
 
Essas pessoas estão obrigadas a enfrentar o perigo apenas quando em serviço. O 
policial, durante suas férias, o enfermeiro, quando está em outro hospital, visitando um 
amigo, são, nessas circunstâncias, simples cidadãos e aí não têm o dever de enfrentar o 
perigo. 
 
Como bem alerta DAMÁSIO E. DE JESUS10, não se pode confundir o dever legal de 
enfrentar o perigo com o dever legal ou jurídico de impedir o resultado. Uma coisa é o 
dever de enfrentar o perigo, de que trata o § 1º do art. 24, a outra é o de impedir o 
resultado, referido no art. 13, § 2º. 
 
O dever de agir para impedir o resultado é tema da tipicidade dos crimes omissivos 
impróprios. O dever de enfrentar o perigo é norma que impede a exclusão da ilicitude por 
estado de necessidade. 
 
Quando a lei diz que determinadas pessoas, diante de situações de perigo para bens 
alheios, têm o dever de agir para impedir a ocorrência de resultados lesivos, quer, 
simplesmente, afirmar uma obrigação para elas, pois que, se não agirem, responderão 
pelo resultado. Têm o dever de realizar um comportamento positivo, para que o resultado 
não ocorra. Omitindo-se, respondem pelo resultado, seu comportamento é típico. 
 
É certo, todavia, que aquelas pessoas – os garantes – só estão obrigadas a agir com 
vistas a impedir a ocorrência do resultado se puderem fazê-lo, conforme a lição: a 
 
 
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omissão é não fazer algo devido e possível. É evidente que o pai tem o dever de agir para 
impedir que o filho se afogue se ele, pai, souber nadar. Se não souber nadar, apesar de 
ter o dever de agir para impedir resultados lesivos para bens de seu filho, não estará 
obrigado a atirar-se no lago, porque não lhe é possível fazê-lo, sem risco pessoal. 
 
Aliás, atirando-se, não só não salvará o filho, como também poderá morrer afogado. Não 
é isso que o Direito quer. Apesar do dever de agir para impedir o resultado, pode alguém 
não estar em condições de fazê-lo. Outra coisa é o dever de enfrentar o perigo. Aqui, fala-
se da impossibilidade de justificar o comportamento do sujeito que, diante de uma 
situação de perigo para um bem jurídico, e tendo, por lei, o dever de enfrentá-lo, não o 
faz, preferindo sacrificar outro bem para salvar o ameaçado. Estes, e somente estes, é 
que não podem invocar o estado de necessidade. 
 
E) Inevitabilidade do sacrifício do outro bem: 
 
Para que haja estado de necessidade, é indispensável que o sacrifício do bem jurídico 
alheio seja a única maneira de salvar o bem em perigo. Se houver outra solução, qualquer 
outra possibilidade, inclusive fugir do perigo, chamar alguém, evitá-lo, de qualquer outra 
forma, sem o sacrifício do bem jurídico, enfim, se existir outra saída, qualquer que seja, 
deve ser trilhada, e, se o agente não o fez, preferindo sacrificar um interesse alheio, aí 
não haverá estado de necessidade. 
 
É o caso do indivíduo perdido na floresta há alguns dias, sem ter-se alimentado como de 
costume, por não haver arroz, feijão, carne, fogão, tempero, frutas etc. Está faminto e, 
então, resolve entrar na casa alheia e de lá subtrair alimentos, sem que os donos, aí 
presentes, percebam. É claro este não é um furto em estado de necessidade, apesar da 
situação de perigo atual – fome – não provocada dolosamente pelo perdido. Porque ele 
poderia ter-se apresentado aos moradores, solicitado a refeição para lhe matar a fome. 
Não era o furto a única saída. A lesão ao patrimônio alheio não era inevitável. Bem 
poderia ele ter evitado a ação típica, pedindo, comprando e prometendo pagar pelo 
alimento com seu trabalho; poderia, de alguma outra forma, evitar a conduta típica. 
 
F) Inexigibilidade do sacrifício do bem em perigo: 
 
O estado de necessidade não é uma autorização para o homem lesar todo e qualquer 
bem jurídico, com o objetivo de salvar outro bem, próprio ou de terceiro. Se o automóvel 
do homem está em perigo, em situação tal que a única maneira de evitar uma colisão com 
um poste é desviar e atingir uma pessoa que transita, não se pode sacrificar a vida 
humana para salvar o veículo. 
 
Os bens em colisão devem guardar, entre si, certa proporcionalidade de valor. O bem a 
ser sacrificado não pode ser muito mais importante que o bem a ser salvo. Não se admite 
sacrificar uma vida humana para salvar a vida de um animal de estimação. Nem salvar 
um bem material, por exemplo, uma jóia, ainda que de astronômico valor monetário, 
sacrificando a vida de um mendigo. 
 
A integridade corporal ou a saúde do Presidente da República não vale mais do que a 
vida de um recém-nascido abandonado, de quem não se sabe quem é o pai e a mãe, daí 
 
 
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por que não está em estado de necessidade aquele que, para preservar o Chefe da 
Nação de uma lesão corporal, acaba por matar um bebê qualquer, sem pai, nem mãe. 
 
Quando se trata de estado de necessidade, nunca se deve perder de vista que a 
finalidade desse instituto é a proteção do bem jurídico. De conseqüência, só se pode 
admiti-lo quando o bem sacrificado seja, no máximo, de valor aproximadamente igual ao 
bem preservado, nunca de valor a ele consideravelmente superior. O Direito Penal jamais 
poderia justificar a lesão de um interesse muitíssimo importante para salvar outro, de 
menor valor, sob pena de deixar de ser o protetor dos bens jurídicos. 
 
É claro que essa relação de proporcionalidade não pode ser colocada em esquemas 
rígidos, de peso ou medida, absolutos ou exatos. Não se trata de pesar ou de medir, em 
quilogramas ou metros. Os bens da vida, especialmente os colocados sob a proteção do 
Direito, nem sempre podem ser mensurados, aquilatados, com precisão milimétrica, ou 
com aparelhos de precisão, que não foram e, certamente, jamais serão inventados. 
 
Por outro lado, aquele que, diante da situação de perigo para o bem, próprio ou alheio, 
que deseja protegê-lo, vendo-se na necessidade de agir, não está em condições de 
medir, pesar, com precisão, e decidir sobre qual dos bens é o mais importante, qual vale 
mais. O que o Direito exige é razoável proporcionalidade entre os bens em conflito, para 
justificar o sacrifício de um deles, mesmo que um pouco mais valorado, executado para a 
salvação do outro, mesmo que um pouco menos valioso. 
 
4.1.2 - CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA ILICITUDE: 
 
Dispõe o § 2º do art. 24 que, “embora seja razoável exigir-se o sacrifício do Direito 
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços”. Cuidou a lei de determinar a 
diminuição da resposta penal ao agente que, numa situação de perigo para um interesse 
juridicamente protegido, para salvá-lo de lesão, acabou por sacrificar um interesse jurídico 
de importância bastante superior. Nas circunstâncias, deveria ter permitido fosse 
sacrificado o bem, próprio ou de terceiro, uma vez que o bemque com aquele colidiu era 
de maior valor. Apesar disso, a lei manda seja ele reprovado com pena menor, tendo em 
vista a presença da situação de perigo para o bem salvo. 
 
4.1.3 - ELEMENTO SUBJETIVO: 
 
Não basta que a conduta do sujeito tenha se realizado sob a égide de todos os elementos 
objetivos, anteriormente descritos. Não é suficiente que tenha havido perigo atual para um 
bem próprio ou alheio, não causado dolosamente pelo sujeito, que não tinha o dever legal 
de enfrentar o perigo. Nem que a lesão seja a única saída para salvar o bem, que era 
mais valioso que o bem sacrificado. 
 
É preciso algo mais, que o agente tenha agido com a consciência de que a situação de 
perigo era concreta e que a única saída era o sacrifício do outro bem, e, mais, com 
vontade de salvar o bem ameaçado. 
 
Só haverá estado de necessidade, que exclui a ilicitude do fato, justificando-o, quando o 
agente tiver se comportado com consciência da realidade fática e com vontade de atuar 
 
 
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conforme o direito, sacrificando um bem com o único fim de salvar outro. Sem essa 
consciência e sem essa vontade, ainda que todos os requisitos objetivos restem 
comprovados, não se pode falar tenha havido fato lícito, por estado de necessidade. 
 
4.2 – LEGÍTIMA DEFESA: 
 
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem 
 
O conceito de legítima defesa há de ser extraído da norma explicativa do art. 25 do 
Código Penal, que estabelece seus requisitos: “Entende-se em legítima defesa quem, 
usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou 
iminente, a direito seu ou de outrem.” 
 
Legítima defesa é a repulsa a uma agressão injusta, atual ou iminente, a qualquer direito, 
próprio ou alheio, por meio do uso moderado dos meios necessários. Seus requisitos são: 
agressão injusta, atual ou iminente, a qualquer direito, e repulsa com a utilização dos 
meios necessários, usados moderadamente, além, é claro, do elemento subjetivo: 
consciência e vontade. 
 
4.2.1 - REQUISITOS: 
 
A) Agressão injusta: 
 
O primeiro requisito da legítima defesa é que ela se dirija contra uma agressão. Agressão 
é um comportamento humano dirigido à lesão de um bem jurídico. É um ataque humano a 
um interesse juridicamente protegido. 
 
Não é toda e qualquer agressão que autoriza a resposta legítima, mas apenas as injustas. 
É que podem ocorrer agressões lícitas, autorizadas pelo Direito, como a praticada pelo 
policial que prende alguém em flagrante-delito ou mediante ordem judicial. Ao fazê-lo, 
estará agredindo a liberdade do que está sendo preso, a qual, por ser uma agressão 
justa, lícita, não pode ser repelida licitamente. Quem assim fizer não estará em legítima 
defesa. 
 
Igualmente lícita é a agressão da pessoa que se defende, em legítima defesa, contra o 
que a agrediu. Este não pode repelir a defesa promovida por quem está em legítima 
defesa, pois nesse caso estará repelindo uma agressão justa. O agressor inicial não pode 
repelir a agressão praticada em legítima defesa. 
 
O comportamento do pai que aplica algumas palmadas no filho menor, corrigindo-o, é 
uma agressão que, igualmente, não é injusta, posto que socialmente aceita e adequada, 
de conseqüência, atípica, sem qualquer ilicitude. 
 
A agressão que possibilita a legítima defesa deve ser injusta, ilícita, não devendo ser 
necessariamente um ilícito penal. Há de ser, isso sim, um comportamento objetivamente 
 
 
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proibido pelo Direito. Assim, constitui agressão injusta a praticada por Ilicitude um doente 
mental, absolutamente incapaz de compreender a ilicitude de seu gesto. 
 
A agressão não necessita ser praticada com violência real, pois não se exige que ela 
constitua uma violência física contra o bem jurídico. Agressões verbais, à honra das 
pessoas, ensejam repulsa legítima, bem assim as praticadas com astúcia contra o 
patrimônio. 
 
B) Agressão atual ou iminente: 
 
A agressão injusta deve ser atual ou iminente. Deve estar acontecendo ou prestes a 
acontecer. Não se podem repelir licitamente agressões já passadas, nem se antecipar 
repelindo as que ainda não aconteceram, nem estão prestes a ocorrer, mas se situam 
ainda no futuro, e, como tal, são apenas expectativas de agressão, meras representações 
espirituais do que não é concreto, de algo inexistente. 
 
Não é legítima a defesa contra agressão passada, porque já não há necessidade de 
proteger o bem jurídico, que já terá sido lesionado. Se o Direito a admitisse, estaria 
legitimando a vingança. 
 
Não o será também se não passar de uma ameaça, ainda que idônea, de agressão. Se 
João afirma que vai matar a Pedro, amanhã pela manhã, não está este autorizado a 
antecipar-se e reagir legitimamente. Só é admitida a reação quando o bem jurídico já está 
sendo agredido ou quando estiver prestes a sofrer a lesão. Quando houver perigo 
concreto de lesão, não quando este perigo é apenas uma suposição, distante ainda no 
tempo, de modo que pode sequer instalar-se. Se há uma ameaça de agressão, o 
agressor terá realizado um fato típico, o do art. 147 do Código Penal, podendo a vítima 
acionar o Estado, que, então, deverá intervir, realizando o Direito, dando proteção ao bem 
jurídico. 
 
A agressão que autoriza a defesa lícita deve ser atual ou iminente. Atual porque já se terá 
iniciado o ataque ao bem jurídico, que já sofre uma violação proibida. Por isso, pode ser 
repelida, seja para que se interrompa, seja para que não se intensifique mais ainda. 
 
Iminente é a lesão que vai acontecer imediatamente. Não pode o Direito exigir do 
agredido que espere a agressão concretizar-se, podendo impedi-la no momento 
antecedente de sua instalação concreta. É a situação de perigo concreto de lesão, em 
que estão reunidas todas as condições indispensáveis à produção do resultado. 
Determinar ao agente que espere a agressão tornar-se atual pode tornar inócua a 
autorização para a defesa. Se o agressor leva a mão à cintura para dela tirar o revólver 
com o qual vai disparar contra alguém, não pode o Direito exigir do defendente esperar 
que a arma esteja na mão do agressor, engatilhada, apontada, para, só então, poder 
repelir a agressão. 
 
C) Qualquer direito, próprio ou de terceiro: 
 
É legítima a repulsa praticada contra agressão injusta, atual ou iminente, a todo e 
qualquer direito. Qualquer direito, do próprio agente ou de outra pessoa – sofrendo ou se 
 
 
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encontrando na iminência de sofrer qualquer ataque –, pode ser defendido. A vida, a 
integridade corporal, a liberdade, o patrimônio, a honra, enfim, todos os direitos, todos os 
bens jurídicos, podendo ser agredidos, devem ser defendidos. 
 
Finalmente, no âmbito ainda dos direitos que podem ser defendidos, importa ressaltar que 
o defendente pode reagir a qualquer agressão, mesmo àquela dirigida a um bem de outra 
pessoa, inclusive da pessoa jurídica. Há assim a legítima defesa própria, quando o bem 
defendido é do sujeito, e a legítima defesa de terceiro, quando o bem agredido tem outra 
pessoa como titular. 
 
D) Uso dos meios necessários: 
 
Só é legítima a repulsa praticada com a utilização dos meios necessários para fazer 
cessar, ou impedir que ocorra, a agressão injusta, atual ou iminente, a qualquer direito, 
próprio ou de terceiro. 
 
A necessidade dos meios é das questões mais interessantes do Direito Penal. O meio 
utilizado deve ser o necessário para impedir a agressão iminente de concretizarse, 
atualizar-se, ou para fazer cessar a agressão atual. Nem mais do que o necessário, nem 
menos, pois aí não haveria defesa eficiente. 
 
Para se dizer que o agente utilizou o meio necessário, é preciso, em primeiro lugar, 
verificar quais eram os que se encontravama sua disposição no momento da agressão. 
Um meio pode ser mais do que suficiente, todavia, pode acontecer de não haver outro, 
naquelas circunstâncias, na medida exata da suficiência, à disposição do agente. 
 
A lição de Nelson Hungria, é clara: “Para medir a adequação ou demasia da defesa, não 
se deve fazer o confronto entre o mal sofrido e o mal causado pela reação, que pode ser 
sensivelmente superior ao primeiro, sem que por isso fique excluída a justificativa. O 
confronto deve ser feito entre os meios defensivos que o agredido tinha a sua disposição 
e os meios empregados. Se estes eram os únicos que in concreto tornavam possível a 
repulsa da violência de outrem,não haverá excesso, por maior que seja o mal sofrido pelo 
agressor.” 
 
Uma arma de fogo pode ser o meio necessário para obstar uma agressão praticada com 
os próprios punhos. Um sujeito franzino, raquítico, que tenha uma arma de fogo à sua 
disposição, agredido a murros por um lutador de artes marciais, deve utilizar o revólver 
como o meio necessário para se defender, ainda que junto dele exista um porrete, ou uma 
barra de ferro. Tais instrumentos, nas mãos do frágil cidadão, podem, a toda evidência, 
ser aquém do necessário para impedir a agressão do exímio lutador. 
 
Se o sujeito tem a seu dispor vários instrumentos, ou pode utilizar-se de vários meios 
contra a agressão, deve, é evidente, escolher aquele que, com eficiência, resulte no 
menor dano ao agressor. 
 
O direito, todavia, não obriga uma apreciação com a exatidão da Matemática, pois que 
não se pode exigir daquele que, agredido injustamente, reage cálculos milimétricos sobre 
a necessidade dos meios. A lição de NELSON HUNGRIA não pode ser esquecida: “A 
 
 
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apreciação deve ser feita objetivamente, mas sempre, de caso em caso, segundo um 
critério de relatividade ou um cálculo aproximativo. Não se trata de pesagem em balança 
de farmácia, mas de uma aferição ajustada às condições de fato do caso vertente. Não se 
pode exigir uma perfeita equação entre o quantum da reação e a intensidade da 
agressão, desde que o necessário meio empregado tinha de acarretar, por si mesmo, 
inevitavelmente, o rompimento da dita equação.” 
 
Por isso, ao apreciar o caso concreto, o julgador deve, após verificar quais eram os meios 
disponíveis, considerar necessário o que tiver sido utilizado, desde que inexistente outro 
menos gravoso para o fim de impedir ou fazer cessar a agressão, não se preocupando 
com a exata proporção entre ataque e defesa. Até porque esta, em face da emoção que 
alcança o homem agredido injustamente, pode ultrapassar, dentro dos limites da 
razoabilidade, aquilo que seria o necessário. 
 
Para os que entendem que o marido traído tem sua honra agredida pela mulher adúltera, 
caberia a indagação: o meio necessário para fazer cessar a agressão é a morte da 
mulher? Matando-a, é claro, a agressão deixa de existir, mas, induvidosamente, a morte 
da adúltera é muito, mas muito mesmo, além do necessário. A infidelidade conjugal é a 
violação de um dos deveres do matrimônio, que, no Brasil, é dissolúvel pelo divórcio. Não 
é um bem que mereça proteção extremada do Direito. Diante da violação de um dos 
deveres conjugais, nasce, para o outro cônjuge, o direito à separação judicial, e é esse o 
meio necessário para fazer cessar a situação de adultério, com as conseqüências civis 
previstas na lei. Por isso, admitindo-se haver, no flagrante de adultério, agressão à honra 
do marido, o meio para fazer cessá-la não pode, jamais, ser a morte da mulher ou do 
amante, e tampouco de ambos. 
 
E) Moderação na utilização dos meios necessários: 
 
Não basta que o agente escolha o meio necessário, é indispensável que o utilize com 
moderação, sem exageros, sem excessos. Muitas vezes, o agente, diante de uma 
agressão atual injusta, utiliza-se do meio necessário, mas não o faz moderadamente. Por 
exemplo, após cessada a agressão, continua com seu comportamento anterior, agredindo 
o ex-agressor, quando já não existe agressão. Dessa forma, não se pode falar esteja ele 
repelindo agressão, pois não se repele o que já não existe. Nesse caso, a ação não é 
mais legítima, não podendo ser excluída a ilicitude da conduta. 
 
Esse é outro requisito que enseja muitas discussões. Aqui, como na escolha dos meios, 
não se pode fazer uma análise rigorosamente matemática, com afirmações do tipo: 
bastava um tiro e o agente deu dois. Ou três golpes e ele chegou a um quarto, 
desnecessário. 
 
A primeira observação é aquela de que o agredido injustamente não está em condições 
de medir, com precisão, a intensidade ou a extensão da defesa que realizará, nem pode 
correr o risco de, por excesso de cuidado, não conseguir evitar ou interromper a 
agressão, sofrendo o ataque injusto. 
 
Em seguida, novamente, o julgador haverá de examinar o caso concreto e ter em mente 
que o objetivo da legítima defesa é impedir que a agressão iminente se concretize ou 
 
 
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interromper a agressão atual. Em ambas as hipóteses, o comportamento do agressor 
deve ser analisado, pois o defendente está autorizado a utilizar-se do meio até o quanto e 
até quando seja imprescindível para alcançar seu objetivo. 
 
Nessa operação, todas as circunstâncias que envolvem o fato são essenciais para a 
conclusão da análise. Local, tempo, condições pessoais, especialmente compleição física, 
de ambos os sujeitos, antecedentes do fato, a natureza do bem agredido, tudo deve ser 
observado para que se consiga verificar certa proporcionalidade entre o ataque e a 
defesa. 
 
Essa proporcionalidade, todavia, não é matemática, mas a reação deve ser relativamente, 
razoavelmente, proporcional ao ataque. Se o agressor, munido de faca, caminha na 
direção do defendente, com nítida intenção de feri-lo, pode este, armado de revólver, 
disparar sua arma uma, duas, quantas vezes forem necessárias para impedir que o outro 
chegue próximo de si, de modo a poder atingi-lo com a faca. Enquanto a agressão não 
estiver evitada, o meio necessário pode continuar sendo utilizado. Não importa quantos 
disparos, quantos golpes sejam desferidos, importa, sim, saber se, enquanto eram 
perpetrados, permanecia a iminência ou a atualidade da agressão. 
 
F) Consciência e vontade de agir conforme o direito: 
 
Em toda e qualquer causa de justificação, seja ela da parte geral, seja da parte especial, 
um dos requisitos indispensáveis é o elemento subjetivo: a consciência e a vontade de 
agir conforme o Direito. 
 
O Direito não justifica o comportamento do sujeito que se aproveita de uma situação 
objetiva de legítima defesa para alcançar um fim proibido, a morte de alguém. Tome-se o 
exemplo: Jorge deseja matar Alfredo, que costuma beber em certo bar, onde, 
normalmente, entra em atrito com freqüentadores, chegando, invariavelmente, às vias de 
fato. Então, Jorge dirige-se ao referido bar, postando-se a certa distância de Alfredo e 
aguardando que ele, como faz costumeiramente, se desentenda com outra pessoa. Não 
muito tempo decorre e começa uma discussão entre Alfredo e Marcos, provocada pelo 
primeiro, a qual evolui para um desforço físico, iniciado por Alfredo que, em dado 
momento, inesperadamente, toma de uma cadeira de madeira, levanta-a e vai, com ela, 
atingir a cabeça de Marcos, instante em que Jorge saca de sua arma e dispara um único 
tiro, que acerta o braço, atravessando-o e atingindo, em seguida, o peito esquerdo de 
Alfredo que, em virtude do único ferimento, vem a morrer. 
 
Observando o fato, pode-se concluir que Alfredo estava prestes a realizar uma agressão 
injusta, contra a pessoa de Marcos, podendo inclusive matá-lo com o golpe no crânio, 
com instrumento contundente. Jorge, vendo-a, usa do meio necessário e o faz 
moderadamente, disparando um único tiro, aliás, atingindo o braço, o que revelaria sua 
intenção de defender a integridadecorporal ou a vida do terceiro. Estaria, assim, a 
princípio, configurada a legítima defesa de terceiro, porquanto realizados todos os 
pressupostos objetivos da excludente. 
 
Todavia, Jorge tinha a intenção deliberada de matar Alfredo, não de defender Marcos, 
tendo-se aproveitado de uma situação objetiva, para vir depois alegar legítima defesa. 
 
 
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Não agiu de acordo com o Direito, pois não agiu com o intuito de defender a vida de 
terceira pessoa, mas com vontade exclusiva de matar. Faltou-lhe a vontade de realizar a 
causa de justificação. Não há legítima defesa nessa hipótese. É claro que a prova dessa 
situação é difícil, mas não é impossível. O que interessa é que, para se configurar a 
excludente de ilicitude, o agente deve agir com consciência e vontade de defender o bem 
jurídico. 
 
Não podia ser diferente. Só é lícita a conduta que realiza o fim do Direito, a proteção do 
bem jurídico. Só é justa a destruição de uma vida quando seu destruidor se tiver 
comportado com consciência de que realizava o fim da norma jurídica e com vontade de 
proteger, repelindo a agressão a outro bem jurídico. Nunca se poderia legitimar um 
comportamento previamente imbuído da vontade clara e indiscutível de destruir um 
interesse juridicamente tutelado. 
 
4.2.2 - QUESTÕES DIVERSAS SOBRE A LEGÍTIMA DEFESA 
 
A) Embriaguez do defendente: 
 
Questão interessante é saber se uma pessoa embriagada pode atuar em legítima defesa. 
Há posições jurisprudenciais divergentes. Umas entendem plenamente possível ao ébrio 
agir sob o pálio do Direito, ao passo que outras, por considerarem que lhe faltaria 
consciência, e também vontade, entendem que não pode realizar qualquer 
comportamento justificado. 
 
A solução não é simples e exige reflexão. Se o defendente está completamente 
embriagado, de sorte que lhe falta a consciência, então pode não ter havido sequer 
conduta, por faltar um requisito indispensável, que é a vontade de movimentar-se ou 
abster-se de um movimento. Logo, o fato será atípico, e não se analisa a ilicitude, pois, se 
atípico, é um indiferente penal. Se há inconsciência, falta conduta, e, sem conduta, não há 
fato típico. 
 
Se, todavia, há consciência, ainda que mínima, e, também, vontade de agir, ou de se 
omitir, não se pode falar que não tenha ele, igualmente, desejado repelir a agressão e 
atuar conforme o Direito. 
 
Concluindo-se que o ébrio realizou um fato típico, é porque tinha consciência e vontade 
de agir, e, da mesma forma, realizaram-se os pressupostos objetivos da excludente, 
poderá ter, igualmente, realizado o subjetivo, isto é, ter agido com consciência e vontade 
de defender-se, a não ser que se tenha aproveitado da situação objetiva para agredir o 
bem jurídico, como no exemplo dado no item anterior. 
 
B) Embriaguez do agressor: 
 
A embriaguez do agressor deve ser analisada com cuidado. É que a agressão deve ser 
idônea, e não pode ser confundida com simples provocação. Geralmente, os muito ébrios 
não têm condições de realizar agressões, mas limitam-se a provocar as pessoas. A 
defesa só é justa quando houver uma agressão e, como tal, idônea, concreta, ainda que 
 
 
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apenas iminente. Nada impede, contudo, venha uma pessoa embriagada a encetar 
agressão injusta, a justificar repulsa legítima. 
 
C) Legítima defesa e estado de necessidade: 
 
Entre a legítima defesa e o estado de necessidade, algumas diferenças devem ser 
ressaltadas. No estado de necessidade, o pressuposto é a colisão de interesses jurídicos, 
de modo que um – qualquer deles – pode ser sacrificado. Trata-se de uma situação de 
perigo atual para o bem jurídico. 
 
Na legítima defesa, deve existir agressão, ataque ao bem jurídico, ainda que iminente, de 
modo que pode ser repelida pelo defendente. Só o bem do agredido será preservado. No 
estado de necessidade, o perigo pode resultar de um comportamento humano, de um 
ataque de um animal, ou de um fenômeno da natureza, uma inundação, por exemplo, e o 
sujeito pode dirigir seu comportamento contra qualquer bem, de qualquer pessoa. 
 
Já na legítima defesa, a agressão deve partir, necessariamente, de um ser humano, e a 
reação do defendente deve ser dirigida exclusivamente contra o agressor, não contra um 
terceiro. 
 
Finalmente, de se lembrar que na legítima defesa a agressão deve ser injusta, ao passo 
que, no estado de necessidade, a situação de perigo pode ser criada licitamente por uma 
pessoa; daí que é plenamente possível a existência de duas pessoas, simultaneamente, 
em estado de necessidade, podendo, cada uma delas, dirigir sua conduta contra a outra, 
como no exemplo clássico dos dois náufragos na tábua de salvação. Vença o mais forte, 
mais hábil, ou mais inteligente, o que sobreviver. 
 
Qualquer deles que matar o outro, para salvar-se, estará em estado de necessidade e 
terá agido conforme o Direito. Diferentemente, é impossível a existência de duas pessoas, 
uma contra a outra, em legítima defesa recíproca, porque só uma das agressões será 
justa. A agressão contra a agressão justa será injusta, não será legítima. 
 
D) Legítima defesa e erro na execução: 
 
Se alguém, diante de uma agressão injusta e atual, a bem próprio ou de terceiro, 
promover sua repulsa com o uso moderado dos meios necessários, mas, ao fazê-lo, 
atingir, todavia, outra pessoa que não a do agressor, terá agido em legítima defesa? 
 
A resposta deve ser afirmativa. O erro na execução não altera seu comportamento, não 
elimina a agressão, nem a necessidade dos meios utilizados em sua repulsa, nem a 
moderação com que foram utilizados. Nos casos de erro na execução, ou de obtenção de 
resultado diferente do visado pelo agente, têm aplicação as regras dos arts. 73 e 74 do 
Código Penal. 
 
Na hipótese, houve apenas e tão-somente um acidente, que não retira a licitude da 
conduta, pois ela foi realizada com a consciência dos fatos e com o fim de realizar a 
vontade do Direito, protegendo o bem jurídico agredido injustamente. 
 
 
 
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E) Ofendículos: 
 
Ofendículos são obstáculos ou engenhos utilizados pelas pessoas com vistas na defesa 
da propriedade e da posse. Assim, os cacos de vidro sobre os muros, as lanças 
pontiagudas nas cercas, sua eletrificação, a presença de cães de guarda, que se 
destinam a reagir, em caso de agressão à propriedade, ferindo o agressor. 
 
Alguns doutrinadores consideram que, ao fazê-lo, o sujeito está no exercício regular do 
direito de proteger sua propriedade, ao passo que outros consideram tratarse o fao de 
verdadeira legítima defesa preordenada. 
 
O correto é dizer que, quando da instalação e da preparação dos mecanismos de defesa, 
o proprietário age no exercício regular do direito de propriedade. Se o mecanismo 
funciona, repelindo uma agressão injusta do que tenta invadir a propriedade, trata-se, à 
evidência, de legítima defesa, desde que os demais requisitos sejam observados. 
 
O mecanismo deve conter reação não além da necessária para repelir a invasão, por 
exemplo, a corrente da cerca eletrificada não pode ser de voltagem excessiva, mas 
apenas dentro do suficiente para imobilizar ou repelir um homem normal. Além disso, 
deve o defendente cercar-se de cuidados para prevenir inocentes, crianças e até amigos 
e parentes, que devem ser alertados para os perigos da defesa preordenada. Os 
excessos e a negligência na construção e no funcionamento dos ofendículos 
descaracterizam a legitimidade da defesa. 
 
4.3 - ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL E EXERCÍCIO REGULAR DE 
DIREITO: 
 
As outras duas causas de exclusão da ilicitude previstas na parte geral do Código Penal 
são o estrito cumprimento de dever legal e o exercício regular de direito (art. 23). São 
situações distintas, apesar de terem a norma jurídica como fonte de sua existência. 
 
4.3.1 - ESTRITO CUMPRIMENTODO DEVER LEGAL: 
 
Sempre que alguém estiver cumprindo, estritamente, um dever imposto pela lei, só 
poderá estar realizando um comportamento lícito, uma vez que a lei não impõe a ninguém 
a realização de uma conduta proibida. Seria um absurdo imaginar que, ao cumprir, 
estritamente, uma obrigação emanada da lei, a pessoa pudesse estar realizando algo 
proibido, algo contra a lei. 
 
O comportamento realizado nos estritos limites do comando legal não pode, em nenhuma 
hipótese, ser lesivo de qualquer bem jurídico. A justificativa alcança os funcionários 
públicos e os agentes – inclusive o particular em exercício de cargo ou função pública, 
ainda que temporariamente – do poder público encarregados de executar um 
mandamento da lei. 
 
São exemplos de ações típicas permitidas por essa causa de justificação a prisão em 
flagrante efetuada pelo policial e a danificação do patrimônio executada pelo oficial de 
 
 
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justiça em cumprimento de um mandado demolitório expedido pela autoridade judiciária 
competente, com a observância das formalidades processuais. 
 
Os requisitos para a presença da excludente são os traçados na norma jurídica que impõe 
ao agente o dever de realizar o comportamento, os quais deverão ser observados 
integralmente, e mais o elemento subjetivo, qual seja, o conhecimento de fato, de que 
está agindo em cumprimento de um dever e, evidentemente, a vontade de fazê-lo. 
Ultrapassados os limites da norma reguladora do mandamento legal, não haverá 
excludente. 
 
Exemplo: o juiz de determinada vara cível, nos autos de uma ação de manutenção de 
posse, determina a demolição de uma cerca de arame edificada pelo turbador da posse, 
numa extensão de 600 metros. Munido do respectivo mandado, o oficial de justiça – 
inimigo pessoal do turbador – dirige-se ao local da turbação e lá promove a demolição de 
800 metros de cerca, cortando os fios do arame e destruindo os postes. 
 
Na hipótese, o funcionário da justiça exorbitou de seu dever que era de, exclusivamente, 
demolir 600 metros de cerca, e nada mais que isso. Não tinha o dever de cortar os fios do 
arame, nem de destruir os postes. Não cumpriu, assim, estritamente seu dever legal; por 
isso, não agiu licitamente. 
 
4.3.2 - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO: 
 
Esta causa de justificação guarda profunda semelhança com a anterior, pois que o 
fundamento é basicamente o mesmo: aquele que estiver exercendo regularmente um 
direito não pode, ao mesmo tempo, estar realizando uma conduta proibida pelo Direito, 
pois, se assim fora, não seria coerente o ordenamento jurídico. 
 
A diferença é que no estrito cumprimento do dever legal trata-se de um deverlegal, e aqui 
de um direito, uma faculdade conferida pela ordem jurídica ao indivíduo. É certo que os 
requisitos para a presença da justificativa serão os estabelecidos nas normas jurídicas 
que criam o respectivo direito e mais o elemento subjetivo, a consciência e a vontade de 
agir conforme o Direito. 
 
Exemplo clássico de fato típico cometido no exercício regular de Direito: a prisão em 
flagrante efetuada pelo particular. Como é sabido, a autoridade policial tem o dever de 
prender quem estiver em flagrante delito, e o particular tem o direito de fazê-lo (Código de 
Processo Penal, art. 301 – Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus 
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito). 
Outro exemplo é a defesa da posse dos bens imóveis, estabelecida no § 1º do art. 1.210 
do Código Civil brasileiro: “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou 
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de 
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse.” 
 
Aquele que possuir um imóvel, independentemente de ser seu proprietário, tem o direito 
de defendê-lo contra invasões, desde que a reação seja imediata, realizada 
imediatamente, e com a prática apenas dos atos indispensáveis à obtenção de sua 
 
 
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manutenção no imóvel ou de sua restituição. Se o invasor ingressa no imóvel, pode dele 
ser expulso. Se constrói, as edificações podem ser destruídas. 
 
A norma do art. 1.210, § 1º, do Código Civil estabelece requisitos para o exercício desse 
direito: resposta imediata e necessidade dos atos de desforço ou de defesa. O agente não 
pode ultrapassar os limites do exercício do direito, sob pena de restar descaracterizada a 
eximente. 
 
Alguns doutrinadores ensinam que os casos de violência esportiva e intervenções 
médicas e cirúrgicas constituem situações em que há, igualmente, exercício regular de 
direito. As lesões praticadas pelo médico ou pelo boxeador, porquanto atividades lícitas, 
admitidas e, inclusive, reguladas pelo ordenamento jurídico, desde que não constituam 
excessos, seriam lícitas porque cometidas no exercício regular de um direito. 
 
Outros autores incluem, entre o exercício regular de direito, as atitudes corretivas dos pais 
para com os filhos, o castigo correcional. Essas situações, bem assim a do soldado que, 
na guerra, mata o inimigo, e a do carrasco que executa o sentenciado, no país que 
consagra a pena capital, não constituem sequer fatos típicos, uma vez que são aceitos e 
adequados socialmente. 
 
Não há tipicidade em tais fatos, excluída que resta pela incidência do Princípio da 
Adequação Social. É claro que, havendo negligência ou imperícia do médico, excesso do 
esportista, que viola as regras do esporte, dolosa ou culposamente, em vez de corretivo, 
tortura por parte do pai, nesses casos, o princípio não incide, eis que as condutas não 
foram adequadas nem são aceitas. 
 
A considerar tais condutas típicas, tornar-se-ia necessária a instauração de inquérito 
policial toda vez que o pai corrigisse o filho, o médico realizasse intervenção cirúrgica, 
houvesse uma luta de boxe, para, ao depois, na melhor das hipóteses, o órgão do 
Ministério Público pedir o arquivamento do inquérito policial. 
 
5 - CONSENTIMENTO DO OFENDIDO: 
 
Apesar de não integrar uma norma penal permissiva justificante, discute-se acerca de o 
consentimento do ofendido poder ou não excluir a ilicitude de certos fatos típicos. Para 
responder à indagação, é preciso ver duas questões básicas. Quanto ao consentimento 
da vítima, há duas espécies de tipos legais de crime: aqueles que contêm, como 
elemento, o dissenso do ofendido e aqueles em que essa divergência não é elementar. 
Segunda: há duas espécies de bens jurídicos: os disponíveis e os indisponíveis. 
 
5.1 - CONSENTIMENTO COMO EXCLUDENTE DA TIPICIDADE: 
 
Nos tipos legais de crime em que o dissenso do ofendido constitui um de seus elementos, 
o consentimento exclui a tipicidade. O tipo legal de estupro, do art. 213, contém, como 
elementar, tácita, a falta do consentimento da ofendida, seu dissenso, de modo que só se 
configura o estupro quando a vítima não consente, opõe-se, rejeita a conjunção carnal. 
 
 
 
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O mesmo se diga no delito da violação de domicílio, do art. 150, em que o dissenso é 
expresso: “contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito”. Só se realiza o delito 
de violação do domicílio quando o agente entra ou permanece na casa contra a vontade, 
tácita ou expressa, do morador. 
 
Se o ofendido consente, não se pode falar que o tipo se realizou, que o fato se ajustou ao 
tipo. Se a mulher consente na conjunção carnal, não há estupro. Se o dono consente no 
ingresso ou na permanência do sujeito em sua casa, não houve violação do domicílio. 
 
Então, nos tipos em que o dissenso for um dos elementos do tipo, diante do 
consentimento, não há tipicidade. Nesses casos, não se aperfeiçoa a primeira 
característica do crime. Não havendo tipicidade, o fato não interessa ao Direito Penal. Diz-
se, portanto, que nos tipos em que o dissenso, o não-consentimento,é elementar, o 
consentimento é excludente da tipicidade. 
 
5.2 - CONSENTIMENTO COMO EXCLUDENTE DA ILICITUDE: 
 
Nos demais tipos, em que o dissenso não é elementar, como no homicídio, no roubo, na 
calúnia, na violação do direito do autor, o consentimento do ofendido poderá excluir a 
ilicitude se presentes duas condições indispensáveis: (a) a disponibilidade do bem 
jurídico; (b) a capacidade de consentir do ofendido. 
 
Se o bem é disponível, se estiver contido na esfera de disponibilidade de seu titular, este 
poderá renunciar à tutela jurídica. Se não, trata-se de um bem de interesse geral da 
sociedade e do próprio Estado, do qual não pode seu titular livremente dispor, alienar, 
dar, renunciar. Assim é, por exemplo, com a vida. 
 
Dessa forma, ainda que o doente esteja em estado terminal, atravessando sofrimento 
indizível e vivendo dores insuportáveis, não pode, todavia, dispor de sua vida, pelo que, 
aquele que matá-lo, atendendo a sua súplica e por ele autorizado, cometerá fato típico de 
homicídio não justificado. A eutanásia é um fato ilícito. 
 
Tratando-se de um homicídio cometido por motivo de relevante valor moral, seu agente 
terá sua pena diminuída, como manda o § 1º do art. 121. 
 
Já a honra é um bem disponível, de modo que o ofendido pode, simplesmente, ignorar a 
ofensa contra ele dirigida, deixando de promover a ação penal. Não terá havido crime, em 
face do consentimento tácito do ofendido, que torna a conduta lícita. Só vale o 
consentimento dado por quem tenha capacidade de consentir, no Direito Penal brasileiro 
aquele que tiver mais de 14 anos de idade. 
 
6. EXCESSO NAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE: 
 
As causas de exclusão da ilicitude, como se viu, estão definidas em normas penais 
permissivas que fixam seus requisitos, estabelecendo limites objetivos, dentro Ilicitude 
dos quais a conduta do agente deve realizar-se. 
 
 
 
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Na legítima defesa, a reação deve ser com o meio necessário, o qual deve ser usado com 
moderação. No estado de necessidade, o bem sacrificado deve guardar certa e razoável 
proporção com o bem salvo. 
 
O exercício de direito deve ser regular, dentro dos limites estabelecidos pela norma 
autorizadora, e o dever legal deve ser cumprido estritamente, sem excessos. Por isso, 
prevendo a possibilidade concreta de o agente ultrapassar os limites das justificativas, o 
parágrafo único do art. 23 do Código Penal expressamente esclarece: “o agente, em 
qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo”. 
 
A lei, pois, prevendo as várias hipóteses de ultrapassagem dos limites por ela fixados 
para considerar lícita a conduta típica, determina que, nessas hipóteses, a causa de 
justificação descaracteriza-se, devendo o agente ser punido conforme tenha excedido 
dolosa ou culposamente. 
 
6.1 - EXCESSO DOLOSO: 
 
O excesso será doloso quando o sujeito, com plena consciência dos limites da eximente, 
conhecendo até que ponto ou em que medida podia atuar, ultrapassa aqueles limites com 
vontade. 
 
Assim ocorre com o agredido injustamente que, podendo repelir a agressão com um 
ferimento no agressor, tendo disso total consciência, resolve, deliberadamente, matá-lo. 
Nesse caso, usa de meio além do necessário, o que descaracteriza a legítima defesa, 
respondendo por homicídio doloso. 
 
O mesmo se diga do indivíduo que, perdido há dias numa região desabitada, encontra 
uma casa fechada, invade-a e, após subtrair alimento e saciar a fome, continua, 
consciente e voluntariamente, subtraindo outros alimentos. Terá excedido os limites do 
estado de necessidade, já que a continuidade da subtração já não se destina a salvar sua 
vida de perigo, então já inexistente. 
 
O policial ou o particular que efetua a prisão em flagrante não pode ir além do 
indispensável a suprimir a liberdade de movimentos do preso, não podendo espancá-lo, 
torturá-lo, nem humilhá-lo ou mantê-lo em situação que não se harmonize com sua 
condição humana. Agindo assim, intencionalmente, estará ultrapassando, dolosamente, 
os limites da justificativa, que resta, por isso, descaracterizada. 
 
Excedendo, dolosamente, os limites da justificativa, esta não se aperfeiçoa, mantida a 
ilicitude do fato. 
 
6.3 - EXCESSO CULPOSO: 
 
É culposo o excesso que deriva da inobservância do dever de cuidado objetivo e que será 
punível se o resultado decorrente da conduta estiver definido na lei como fato culposo. 
 
O sujeito, diante de uma agressão injusta, por descuido, escolhe um meio além do 
necessário, ou utiliza o meio necessário imoderadamente, sem ter a intenção de 
 
 
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ultrapassar os limites da eximente. É o caso do sujeito que avalia indevidamente a 
gravidade da agressão sofrida, ou não atenta para o poder da reação que vai 
empreender, não medindo suas forças, ou o potencial lesivo do meio utilizado. Em vez de 
disparar uma vez, o que seria suficiente, dispara duas ou três, não com a vontade 
deliberada de vingar-se, nem por ódio do agressor, mas porque, desatento, descuidado, 
não verificou a desnecessidade do segundo disparo. 
 
Ultrapassando o limite da justificativa por negligência, e disso resultando a lesão de um 
bem jurídico, o sujeito que se encontrava inicialmente em legítima defesa responderá pelo 
tipo culposo, se previsto em lei. 
 
6.4 - EXCESSO DE LEGÍTIMA DEFESA INTENSIVO E EXTENSIVO: 
 
É na legítima defesa que o excesso adquire grande importância. Diz-se que o excesso é 
intensivo quando o agente utiliza um meio com potencial lesivo além do necessário ou 
utiliza o meio necessário com desproporcionalidade em relação à agressão. 
 
Será extensivo o excesso quando a repulsa continua após cessada a agressão, quando a 
defesa prolonga-se além da atualidade da agressão. No excesso intensivo, diante dos 
pressupostos da legítima defesa, o sujeito ultrapassa seus limites e, por isso, responderá. 
Tendo havido excesso intensivo, incidirá a atenuante da pena prevista no art. 65, III, c, 
última parte, do Código Penal. 
 
No excesso extensivo, o sujeito, inicialmente em legítima defesa, reage licitamente, e, 
quando já não há agressão, quando já não há a presença do pressuposto fático 
indispensável, agride o outro. Esse comportamento é autonomamente ilícito. É outro fato. 
 
Se o agente, repelindo a agressão injusta praticada contra si com arma de fogo, dispara 
um tiro de revólver, caindo o agressor ferido e perdendo, na queda, a arma, já não pode o 
defendente continuar atirando. Até o primeiro tiro, seu comportamento é lícito, pois usou 
do meio necessário, moderadamente. Se continuar disparando e matar o outro, terá 
cometido homicídio doloso. Já não havia agressão, e por isso nem se pode falar em 
excesso de legítima defesa, pois esta se tinha exaurido no momento do primeiro disparo. 
 
6.5 - EXCESSO ACIDENTAL: 
 
Se o excesso não for doloso, nem culposo, será acidental e, como tal, não será punível, 
mantida a justificativa, em sua plenitude. Nunca é demais lembrar que só são puníveis 
condutas realizadas dolosa ou culposamente. 
 
Um sujeito diante de uma agressão injusta, com arma de fogo, tem, próximo de si, uma 
arma automática. Incontinenti, toma-a, aponta-a em direção ao agressor e preme uma 
única vez a tecla do gatilho, sendo, entretanto, lançados contra a vítima 15 projéteis que a 
atingem, matando-a. 
 
Houve, à evidência, excesso, pois o meio necessário foi usado sem moderação. O sujeito, 
entretanto, não agiu com vontade de exceder-se, e tampouco foi negligente, até porque 
premiu a tecla do gatilho uma única vez. Não se pode falar em imperícia, pois não se 
 
 
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tratava de um policial, ou atirador, mas de um homem comum. Esse excesso não derivou 
nem de dolo, nem de culpa. Foi um acidente. Era inevitável. Não é punível, e o sujeito 
agiu em legítima defesa. 
 
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