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Direito Penal Dr Geralcilio J. P Costa Filho 1 Introdução O fato social é sempre o ponto de partida na formação da noção do Direito fato social contrário à norma ilícito jurídico ILÍCITO PENAL O Estado estabelece normas jurídicas com a finalidade de combater esses ilícitos Conjunto de normas jurídicas DIREITO PENAL = Estudo - Do crime - Da pena - Do delinqüente 2 Conceito de Direito Penal Von Liszt define o Direito Penal como “o conjunto das prescrições emanadas do Estado, que ligam ao crime – como fato – à pena, como conseqüência” Crítica: o direito penal, hoje, não se preocupa somente com a pena. Tanto que existem as medidas de seguranças (inimputáveis) Damásio E. de Jesus dá uma definição mais completa de Direito Penal, afirmando que ele consiste em: “Um conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, à pena como conseqüência e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado" 3 Caracteres do Direito Penal O Direito Penal, por regular as relações do indivíduo com a sociedade, pertence ao Direito Público. Isso porque em um dos lados da relação jurídica nascida com a prática do crime temos a figura do Estado, que exercerá o direito de punir e do outro lado teremos o indivíduo, detentor do direito à liberdade. prática do crime faz nascer relação entre SUJEITO que tem o Direito à Liberdade (princípio da legalidade) ESTADO que tem o Direito de Punir (“jus puniendi”) Verifica-se que mesmo nas hipóteses em que a ação se movimenta por iniciativa do particular (AÇÃO PRIVADA), o direito de punir continua a pertencer exclusivamente ao Estado 4 Caracteres do Direito Penal O Direito Penal é ciência cultural, normativa, valorativa e finalista CULTURAL porque pertence à classe das ciências do "dever-ser" e não à do "ser". Ele diz como as coisas, em verdade, deveriam ser. NORMATIVA, porque tem a finalidade de estudar a norma, ou seja, a regra de conduta. VALORATIVA porque o Direito coloca uma hierarquia entre as normas, não lhes dando o mesmo valor. FINALISTA porque tem como fim a defesa da sociedade, através da proteção de bens jurídicos fundamentais. É ainda, sancionador porque através da cominação da sanção (previsão de penas), protege outra norma jurídica de natureza extra-penal. E é também é dogmático porque expõe o seu direito através de normas jurídicas, exigindo o seu cumprimento sem reservas. 5 Direito Penal subjetivo e Direito Penal objetivo O Direito Penal tem na sanção seu meio de ação SUBJETIVO OBJETIVO É o direito de punir do Estado (“jus puniendi”). Esse direito tem limites no Direito Penal Objetivo (= conjunto de normas), não sendo ilimitado. É o próprio ordenamento jurídico-penal, correspondendo, portanto, à sua definição. É, justamente, o conjunto de normas colocadas pelo Estado para regular as relações humanas. 6 Direito Penal comum e Direito Penal especial O critério para diferenciação entre o Direito Penal COMUM e ESPECIAL reside no órgão encarregado de aplicar o direito objetivo COMUM ESPECIAL Aplica-se a todos os cidadãos. Se a aplicação do direito ao caso concreto não demandar jurisdições próprias, sua qualificação será de norma penal comum. Tem seu campo de incidência restrito a uma classe de cidadãos conforme qualidades particulares. Se a norma objetiva somente se aplicar por meio de órgãos especiais constitucionalmente previstos, a norma terá caráter especial. JUSTIÇA Comum [Federal e Estadual] Especial [Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça Militar] 7 Direito Penal material e Direito Penal formal MATERIAL (substantivo) FORMAL (adjetivo) É representado pela Lei Penal, que define as condutas típicas e estabelece as sanções. É o Direito Processual Penal que determina as regras de aplicação do Direito Penal substantivo. crítica: O Direito Processual Penal não é complemento do Direito Penal material e sim, um Direito autônomo que não pode ser considerado “adjetivo” do Direito Penal 8 Princípios fundamentais do Direito Penal 9 Introdução BRASIL Estado Democrático de Direito DIREITO PENAL Princípios Constitucionais Definição de condutas delituosas Justa interpretação e aplicação da lei 10 Princípio da legalidade Princípio da reserva legal artigo 5° , XXXIX, da CF artigo 1° do CP "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal." LEI CRIME PENA Portanto: a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito não podem instituir delitos ou penas 11 Princípio da legalidade Entendimento Jurisprudencial: “PENAL E PROCESSUAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PENA-BASE ACIMA DO PREVISTO LEGALMENTE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. FIXAÇÃO DA PENA-BASE ACIMA DO PATAMAR ESTABELECIDO NO ART. 8º DA LEI 8.072/90 E DE PENA PECUNIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO STF. ORDEM CONCEDIDA. A aplicação da pena-base fora do patamar estabelecido pela referida norma e a imposição de pena pecuniária aos condenados pela prática do delito de associação para o tráfico de entorpecentes configura constrangimento ilegal, pois viola o princípio da legalidade.” 12 Princípio da anterioridade da lei artigo 5° , XXXIX, da CF artigo 1° do CP "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal." 10/04/04 JOÃO PRATICOU CONDUTA A 20/09/05 ENTROU EM VIGOR A LEI X QUE INCRIMINA A CONDUTA A JOÃO NÃO PODE SER PUNIDO PELA CONDUTA A QUE PRATICOU 13 Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa artigo 5° , XL, da CF artigo 2° do CP “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu." 10/04/04 JOÃO PRATICOU CONDUTA A CUJA PENA ERA DE 6 A 20 ANOS 20/09/05 ENTROU EM VIGOR A LEI X QUE DETERMINA QUE A CONDUTA A TERÁ PENA DE 15 A 30 ANOS , A LEI X NÃO RETROAGE JOÃO NÃO PODE SER PUNIDO COM PENA DE 15 A 30 ANOS 30/01/06 JULGAMENTO DE JOÃO 14 Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa 10/04/04 JOÃO PRATICOU CONDUTA B CUJA PENA ERA DE 8 A 12 ANOS 20/09/05 ENTROU EM VIGOR A LEI Y QUE DETERMINA QUE A CONDUTA B TERÁ PENA DE 4 A 6 ANOS , A LEI Y RETROAGE JOÃO SERÁ PUNIDO COM PENA DE 4 A 6 ANOS 30/01/06 JULGAMENTO DE JOÃO Diferente se: 15 Princípio da insignificância Tal princípio está ligado aos chamados crimes de bagatela (ou delito de lesão mínima) Segundo ele, o Direito Penal só deve intervir nos casos de lesão de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de perturbações jurídicas mais leves. Neste sentido, as seguintes decisões: “Princípio da insignificância - Aplicabilidade - Descaminho - Aquisição de objetos no exterior em pequena quantidade e de valores reduzidos, sem a devida documentação - Adequação social da conduta.” (RT-753/706) “Furto - Agente que subtrai uma cédula de um real - Aplicação do princípio da insignificância - Absolvição decretada.” (RT-738/652) REQUISITOS DESVALOR conduta dano culpabilidade 16 Princípio da presunção do estado de inocência artigo 5° , LVII, da CF "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória." PROCESSO TRÂNSITO EM JULGADO DE SENTEÇA CONDENATÓRIA NÃO CABE MAIS NENHUM RECURSO = RÉU CULPADO EXECUÇÃO DA PENA Neste sentido: "Rol dos culpados - Lançamento do nome do réu - Impossibilidade antes do trânsito em julgado da sentença condenatória - Consagração do princípio constitucional da presunção da inocência."(RESE 134.320-3/4 - 4° C., j.20.6.94) 17 Princípio do "ne bis in idem" Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Duplo significado: PENAL MATERIAL: ninguém pode sofrer duas penas em face de um mesmo crime PROCESSUAL: ninguém pode ser processado e julgado duas vezes pela mesma conduta. A MATA B USO DE EXPLOSIVO = qualificadora (art. 121,2º, III)= agravante (art. 61, II, d) O USO DO EXPLOSIVO NÃO PODERÁ SER LEVADO EM CONTA PARA QUALIFICAR E AGRAVAR A PENA NO MESMO CRIME. EXEMPLO: 18 Princípio do “in dúbio pro reo” O acusado da prática de uma infração penal em seu julgamento final, havendo dúvida deverá ser absolvido. Corolário do campo das provas, tal princípio deve ser aplicado toda vez que houver dúvida, a interpretação deve ser feita de maneira mais favorável ao réu. HAVENDO DÚVIDA EM RELAÇÃO A QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA DO CASO A DECISÃO TEM QUE SER NO SENTIDO DE FAVORECER O RÉU 19 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana “A República Federativa do Brasil, ... , constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana;” (art. 1º, III da CF) Este princípio é fundamento da República e do Estado Democrático de Direito assim, o homem, antes de ser considerado como cidadão, vale como pessoa. Defender a dignidade do ser humano significa protegê-lo de ações arbitrárias e indevidas por parte do Estado ou de todos aqueles que detém poder sobre outrem. A intervenção jurídico-penal jamais deve servir-se de instrumento vexatório ou repugnante, mesmo que seja contra o pior dos delinqüentes, devendo a razão estar acima de tudo para tratar a criminalidade. 20 Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) (Pacto de San José da Costa Rica) Preâmbulo Os Estados Americanos signatários da presente Convenção, reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos humanos essenciais; reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana (...); reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos. 21 Fontes do Direito Penal 22 Introdução FONTES lugar de onde provém a norma de Direito DIREITO PENAL FONTES DE PRODUÇÃO (MATERIAL) FONTES DE CONHECIMENTO (FORMAL) 23 FONTES DE PRODUÇÃO FONTE MATERIAL = órgão encarregado da elaboração da norma penal ESTADO O Brasil é composto de alguns entes federativos: União Estados-membros Municípios Distrito Federal compete à União legislar sobre Direito Penal (artigo 22, I da CF) Quem é o órgão competente para a produção das leis penais? 24 FONTES DE CONHECIMENTO FONTES FORMAIS fonte formal imediata fonte formal mediatas LEI costumes e princípios gerais do direito Como o direito penal se revela? 25 Fonte Formal IMEDIATA A única fonte imediata de conhecimento é a lei Através dela, o Direito se revela imediatamente, de forma direta. NORMA LEI Mandamento de um comportamento normal, retirado do senso comum da coletividade refere-se ao conteúdo pode estar em um ou mais dispositivos legais ato em que se expressa a função legislativa do Estado texto simples veículo de norma A lei é o texto como expressão formal. Compõe o dispositivo. A norma é o significado jurídico desta, é a expressão do dever ser jurídico. O texto é o veículo, enquanto a norma é o dever ser veiculado. 26 Classificação das normas penais As normas penais classificam-se em: 1. normas penais incriminadoras 2. normas penais não incriminadoras: permissivas explicativas (ou finais ou complementares) 27 Normas Penais Incriminadoras descreve uma conduta ilícita (contrária ao direito, ao ordenamento jurídico), impondo uma sanção ao agente. norma penal incriminadora preceito primário preceito secundário definição do comportamento humano ilícito exposição da sanção que se associa à conduta EXEMPLO: o legislador não diz expressamente que "matar é crime". Ele descreve a conduta "matar alguém", estabelecendo determinada sanção. Assim, o princípio imperativo que deve ser obedecido (não matar ninguém) não está de maneira expressa na norma penal. Somente quando uma conduta se amolda a uma norma penal incriminadora é que o Estado adquire o direito concreto de punir. = + 28 Normas Penais Não Incriminadoras PERMISSIVAS: determinam a licitude ou a não punibilidade de certas condutas, embora estas sejam típicas em face das normas incriminadoras. Exemplos: arts. 20 a 27, 28, parágrafo segundo e art. 128 do CP. A MÉDICA PRATICA ABORTO COM CONSENTIMENTO B GESTANTE art. 126 norma penal incriminadora art. 128, II norma penal permissiva TORNA A CONDUTA LÍCITA gravidez resultante de estupro 29 Normas Penais Não Incriminadoras EXPLICATIVAS: Também chamadas finais ou complementares Esclarecem o conteúdo das outras, ou delimitam o âmbito de sua aplicação Exemplos: artigos 4°, 5°, 7°, 10 a 12, 33, 327 do CP. Peculato - Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. NORMA EXPLICATIVA 30 Normas Penais em Branco Necessitam de complementação (de outro diploma) para que se possa compreender o âmbito de aplicação de seu preceito primário. EM SENTIDO GENÉRICO: são aquelas cujo complemento está contido em norma procedente de outra instância legislativa, como, por exemplo, uma portaria ou decreto. EM SENTIDO ESTRITO: são aquelas em que o complemento da norma é determinado pela mesma fonte formal da norma incriminadora, ou seja, a lei é complementada por outra lei. 31 Normas Penais em Branco EXEMPLOS: GENÉRICA: Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. O rol de doenças está no Código Sanitário Estadual. ESTRITA: ????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????? Sebastián Soler: “No entanto, a lei penal em branco não pode ser entendida como uma carta branca outorgada a determinado poder para que assuma funções repressivas, e, sim, deve ser entendido como o reconhecimento de uma faculdade meramente regulamentar.” 32 Fonte Formal MEDIATA Princípios gerais do direito o artigo 4° da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro permite que, nas hipóteses em que a lei for omissa, o juiz poderá utilizar-se dos princípios gerais de direito, para solucionar a questão. No entanto, somente pode suprir as normas penais não incriminadoras. Não pode criar crimes nem cominar penas. 33 INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 34 Introdução Interpretar é retirar o significado e a extensão de uma norma em relação à realidade. É buscar o verdadeiro significado e alcance da lei afim de aplicá-la aos casos concretos da vida real. Por mais clara que seja a letra da lei penal, ela não prescinde de interpretação tendente a explicar-lhe o significado, o justo pensamento, a sua real vontade. O que se busca com a interpretação? A vontade da lei ou do legislador? Há duas correntes: A primeira afirma que o intérprete deve perseguir a vontade do legislador. (Escola Exegética). 2. Já a segunda sustenta a busca da vontade da lei. NOSSO ENTENDIMENTO: A lei independe de seu passado, importando apenas o que está contido em seus preceitos. 35 ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO QUANTO AO SUJEITO QUANTO AO MODO QUANTO AO RESULTADO autêntica gramatical declarativa doutrinária lógica restritiva jurisprudencial extensiva 36 Quanto ao sujeito autêntica doutrinária jurisprudencial = legislativa emana do legislador Feita pelos estudiosos do Direito em livros, artigos, teses... Doutrina = conjunto de estudos jurídicos de qualquer natureza = judicialcontextual Feita no próprio texto da lei (art. 150 e §4º do CP – “casa”) Feita pelos Tribunais, mediante a reiteração de seus julgamentos não contextual Feita por outra lei de edição posterior 37 Quanto ao modo gramatical lógica = literal ou sintática = teleológica O intérprete deve recorrer ao que dizem as palavras No entanto, a simples análise gramatical, muitas vezes, não é suficiente, porque pode levar a conclusão aberrante Consiste na indagação da vontade e da finalidade da lei A interpretação teleológica se vale dos seguintes elementos: "ratio legis“ (razão da lei) sistemático histórico Direito Comparado extra penal (político-social) extrajurídico Ocorrendo contradição entre as conclusões da interpretação literal e lógica, deverá prevalecer a segunda, uma vez que atende às exigências do bem comum e aos fins da lei. 38 Quanto ao resultado declarativa restritiva extensiva Dá à lei seu sentido literal – sem extensão, nem restrição. Corresponde EXTAMENTE ao intuito do legislador. A linguagem da lei diz mais do que o pretendido pela sua vontade. Mostra-se necessária a restrição do alcance das palavras da lei até o seu real significado. O texto legal diz menos do que queria dizer. Mostra-se necessária a ampliação do alcance das palavras da lei para que a letra corresponda à vontade do texto 39 Princípio "in dubio pro reo" em matéria de interpretação da lei penal O que fazer quando persiste a dúvida quanto à vontade da norma? CAMINHOS Admitir que a dúvida deva ser resolvida contra o agente ("in dubio pro societate") Admitir que seja resolvida contra o agente ou contra a sociedade, segundo o livre convencimento do intérprete Resolver a questão da forma mais favorável ao agente NOSSO ENTENDIMENTO: no caso de irredutível dúvida entre o espírito e a letra da lei, é força acolher, em matéria penal, irrestritamente, o princípio "in dubio pro reo". 40 Interpretação Progressiva = adaptativa ou evolutiva Faz-se adaptando a lei às necessidades e concepções do presente. Afinal, não pode o juiz ficar alheio às transformações sociais, científicas e jurídicas. A lei deve acompanhar as mudanças do ambiente, assim como sua evolução. Ela não pode parar no tempo. Entretanto, não podemos, a todo momento, alterá-la, devendo haver as devidas adequações. Os limites dessa interpretação, perfeitamente legítima, restam determinados pela interpretação extensiva. EXEMPLOS da psiquiatria "doença mental" "coisa móvel" DEVEM SEGUIR OS AVANÇOS da indústria 41 Interpretação analógica A interpretação analógica é permitida toda vez que após uma seqüência casuística segue-se uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriormente elencados. EXEMPLO: Art. 121, §2º, IV, do CP Se o homicídio é cometido: “à traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.” Assim, o outro recurso deve ser semelhante à traição, emboscada ou dissimulação (caráter insidioso). Trata-se de uma hipótese de interpretação analógica, em que a própria lei determina que se estenda seu conteúdo. seqüência casuística fórmula genérica 42 Analogia ANALOGIA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA Aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um caso semelhante Na interpretação, o legislador deixa claro que a lei deseja que a norma abranja casos semelhantes aos já descritos fundamento da analogia natureza jurídica da analogia requisitos da analogia “ubi eadem legis ratio, ibi eadem legis dispositio” = onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo direito forma de auto-integração da lei não é fonte mediata do Direito Penal 1. fato analisado não regulado pelo legislador. 2. legislador, no entanto, tenha regulado situação semelhante. 3. semelhança entre a situação regulada e a não prevista. 43 Espécies de Analogia “in bonam partem” “in malam partem” = em benefício da parte no caso de leis penais não incriminadoras é perfeitamente permitido o uso da analogia a favor da parte = em malefício da parte não pode ser usada para criar crimes ou penas, os quais o legislador não tenha determinado (princípio da reserva legal) Art. 128 do CP - Não se pune o aborto praticado por médico: II - se a gravidez resulta de estupro (...) EXEMPLOS: Também não se pune o médico se a gravidez resulta de atentado violento ao pudor = ANALOGIA in bonam partem Art. 269 do CP - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória Se um fisioterapeuta deixar de denunciar nesse caso, ele não pode ser punido = ANALOGIA in malam partem 44 QUESTÕES para REFLEXÃO 1). É possível a aplicação da analogia às normas incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu? Explique e fundamente. 2). Posso afirmar que usar ANALOGIA para dar sentença em um caso criminal é a mesma coisa que fazer uma INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA? Por que? Explique e justifique sua resposta. 45 APLICAÇÃO DA LEI PENAL EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO 46 Introdução a LEI PENAL nasce, vive e morre sanção promulgação publicação revogação é o ato pelo qual o Presidente da República aprova e confirma uma lei. Com ela, a lei está completa. Ela transforma um “projeto de lei” em “lei” ato pelo qual se atesta a existência da lei e se determina a todos que a observem. Sua finalidade é conferir-lhe autenticidade ato pelo qual a lei se torna conhecida de todos, tornando-se, assim, seu cumprimento obrigatório expressão genérica que traz a idéia de cessação da existência de regra obrigatória 47 sanção promulgação publicação revogação ab-rogação a lei se extingue totalmente derrogação autoridade da lei cessa em parte expressa a lei, expressamente, determina a cessação da vigência da norma anterior tácita o novo texto é incompatível com o anterior ou regula inteiramente a matéria precedente Em regra, o fato, para ser punido, deve ser cometido entre o momento em que a lei nasce – tornando-se obrigatória – até o momento em que ela morre – é revogada "tempus regit actum" 48 Tempo do crime Em que momento podemos dizer que a infração foi praticada? TRÊS TEORIAS teoria da atividade: momento em que o agente executa a conduta criminosa – ação ou omissão – independentemente do momento do resultado teoria do resultado: momento da produção do resultado, independentemente do momento da ação ou da omissão. teoria da ubiqüidade: tanto o momento da ação ou da omissão quanto o momento do resultado. Art. 4°: "Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado" = teoria da atividade 49 Regra de aplicação da Lei Penal no Tempo ENTRADA EM VIGOR REVOGAÇÃO EFICÁCIA DA LEI FATO FATO FATO NÃO RETROAGE NÃO ULTRA-AGE a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu CONCLUSÃO salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL da CF e art. 2º p. único do CP) EXCEÇÃO "tempus regit actum“ a lei penal NÃO retroage e NÃO ultra-age REGRA 50 Conflitos de lei penal no tempo 2) a lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos, permitidos = (novatio legis incriminadora) 3) a lei nova modifica o regime anterior, agravando a situação do sujeito = (novatio legis in pejus) a lei nova suprime normas incriminadoras anteriormente existentes = (abolitio criminis) 4) a lei nova modifica o regime anterior, beneficiando o sujeito = (novatio legis in mellius) 2005 – LEI “A” = conduta “X” deixa de ser crime “P” não será punido = abolitio criminis 2004 – LEI “B” = conduta “Y” passa a ser crime 2002 - “M” pratica conduta “Y” “M” não será punido = novatio legis incriminadora 2003 – LEI “C” = conduta “W” pena de 10 a 15 anos 2000 - “J” pratica conduta “W” com pena de 4 a 6 anos “J” será punido com pena de 4 a 6 anos = novatio legis in pejus 2002 – LEI “D” = conduta “Z” pena de multa 2001 - “K” pratica conduta “Z” com pena de 7 a 9 anos “K” será punido com pena demulta = novatio legis in mellius 2004 - “P” pratica conduta “X” 51 Abolitio Criminis lei posterior que deixa de considerar um fato como crime (art. 2º, caput do CP) Fundamento: A ab-rogação de lei penal incriminadora supõe que o Estado já não mais considera aquele fato contrário aos interesses da sociedade. Natureza jurídica: Constitui fato jurídico extintivo da punibilidade (art. 107, III do CP). O Estado, portanto, perde a possibilidade de punir o agente. Exclusão de todos os efeitos jurídico-penais: 1) Se a persecução criminal ainda não foi movimentada, o processo não poderá sequer ser iniciado. 2) Se o processo estiver em andamento, deverá ser trancado mediante decretação da extinção da punibilidade. 3) Se já existe sentença condenatória com trânsito em julgado, a pretensão executória não pode ser efetivada. 4) Se o condenado está cumprindo pena, deve ser decretada a extinção da punibilidade, devendo o sujeito ser solto. 5) Cessam todos os efeitos da condenação. 52 Novatio Legis in Pejus A sanção imposta hoje ao crime é mais grave em qualidade que a da lei precedente. A sanção imposta hoje, embora da mesma qualidade, é mais severa quanto à maneira de execução. A quantidade da pena em abstrato é aumentada. A quantidade da pena em abstrato é mantida, mas a maneira de sua fixação é mais rígida que a determinada pela lei anterior. Inclusão de qualificadoras antes inexistentes. Lei nova suprime benefícios determinados pela lei anterior, referente à suspensão ou interrupção da execução da pena. Lei nova exclui causas de extinção da punibilidade. Lei nova exclui escusas absolutórias anteriormente existentes. Lei nova exclui causas de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade. ATENÇÃO! todas as vezes que a lei nova prejudica o sujeito, ela não poderá retroagir 53 Novatio Legis in Mellius Lei nova inclui circunstâncias que beneficiam o sujeito. Lei nova cria causas extintivas da punibilidade não reconhecidas pela lei anterior. Lei nova permite a obtenção de benefícios não permitidos ou facilita sua obtenção. Lei nova acresce causas de exclusão da ilicitude, da culpabilidade, ou escusas absolutórias, antes inexistentes. Lei nova exclui a concessão de extradição. Lei nova que comina penas menos rigorosa (em qualidade, quantidade ou modo de execução). ATENÇÃO! O princípio da retroatividade da lei mais benéfica é incondicional, podendo aplicar-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado (art. 2º, p. único do CP) 54 Lei Intermediária 2003 Lei “A” pena de 3 a 6 anos 2004 Lei “B” pena de 1 a 4 anos 2005 Lei “C” pena de 9 a 12 anos FATO LEI MAIS BENÉFICA RETROAGE PARA BENEFICIAR O RÉU APLICANDO-SE A FATOS PASSADOS ULTRA-AGE APLICANDO-SE A FATOS OCORRIDOS DURANTE A SUA VIGÊNCIA REGRA: VIGÊNCIA E APLICAÇÃO DA LEI “C” 55 Leis Penais Temporárias e Excepcionais Leis promulgadas em casos excepcionais (calamidade pública, guerras, revoluções, epidemias...) com vigência restrita à duração do caso EXCEPCIONAIS Leis com vigência previamente estipulada pelo legislador – com dia determinado para início e fim de sua aplicação TEMPORÁRIAS “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.“ (art. 3º do CP) 56 Fundamento: Esse dispositivo visa impedir que, tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanções por expedientes astuciosos no sentido de retardamento dos processos penais. EXEMPLO: Lei EXCEPCIONAL ou TEMPORÁRIA FATO ULTRA-AGE APLICANDO-SE A FATOS OCORRIDOS DURANTE A SUA VIGÊNCIA JULGAMENTO Essa LEI (ainda que mais BENÉFICA) não retroagirá para alcançar fatos ocorridos anteriormente a sua vigência. Nenhuma outra LEI (ainda que mais BENÉFICA) retroagirá para alcançar fatos ocorridos durante a vigência de leis excepcionais ou temporárias. 57 Contagem de prazo O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. (art. 10 do CP) O dia é o lapso temporal entre meia-noite e meia-noite. O mês é contado de determinado dia à véspera do mesmo dia do mês seguinte, terminando às 24 horas, pouco importando quantos são os dias de cada mês. O ano é contado de certo dia às 24 horas da véspera do dia de idêntico número do mesmo mês do ano seguinte, não importando seja bissexto qualquer deles. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia. (art. 11 do CP) EXEMPLO: A condenado a 3 anos e 20 dias 06 Janeiro 2000 25 Janeiro 2003 A terá cumprido a pena 58 APLICAÇÃO DA LEI PENAL EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO 59 Lugar do Crime Art. 6°: "Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão , no todo ou em parte , bem como onde se produziu ou devia produzir-se o resultado." = teoria da ubiqüidade EFEITO INTERMÉDIO CRIME CONSUMADO CRIME TENTADO LUGAR DO CRIME ONDE ACONTECERAM TODOS OS ATOS EXECUTÓRIOS ONDE ACONTECEU ALGUM DOS ATOS EXECUTÓRIOS ONDE ACONTECEU O IMPEDIMENTO PARA O RESULTADO ONDE ACONTECEU O RESULTADO 60 Eficácia da Lei Penal no Espaço Princípio da territorialidade A lei penal somente tem aplicação no território do Estado que a criou. Princípio da nacionalidade A lei penal do Estado é aplicável a seus cidadãos, não importando onde eles se encontrem. O que importa é a nacionalidade do sujeito. Princípio da defesa Tal princípio leva em conta a nacionalidade do bem jurídico lesado pelo crime, sem se importar com o local de sua prática ou com a nacionalidade do agente. Princípio da justiça penal universal Determina o poder de cada Estado punir qualquer crime, pouco importando a nacionalidade do delinqüente e da vítima, ou onde ele foi praticado. Princípio da representação a lei penal de determinado Estado também é aplicada aos delitos cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando realizados no estrangeiro e aí não venham a ser julgados Princípios Existem cinco princípios, previstos no Código, para tentar solucionar os conflitos penais no espaço 61 Princípios adotados pelo CP princípio da territorialidade ART. 5º CP REGRA princípio da proteção Art. 7°,I, e § 3° do CP EXCEÇÕES princípio da justiça universal Art. 7°,II, “a” do CP princípio da nacionalidade ativa Art. 7°,II, “b” do CP princípio da representação Art. 7°,II, “c” do CP 62 Territorialidade Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. território nacional conceito jurídico: o território abrange todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania O solo ocupado pela corporação política com limites reconhecidos Regiões separadas do solo principal Rios, lagos e mares interiores Golfos, baías e portos A faixa de mar exterior, que corre ao longo da costa e constitui o "mar territorial“ (= 12 milhas) Todo espaço aéreo correspondente Embarcações e aeronaves, em determinadas situações 63 Embarcações e Aeronaves EMBARCAÇÕES AERONAVES SÃO TERRITÓRIO BRASILEIRO Em qualquer lugar que estiverem PÚBLICAS ou a serviço do GOVERNO BRASILEIRO EMBARCAÇÕES AERONAVES SÃO TERRITÓRIO BRASILEIRO Apenas em território nacional MERCANTES ou de PROPRIEDADE PRIVADA Art. 5º, §1º CP EMBARCAÇÕES SÃO TERRITÓRIO BRASILEIRO Quando estiverem em território nacional de PROPRIEDADE PRIVADA AERONAVES Art. 5º, §2º CP 64 Extraterritorialidade Ficam sujeitos à lei brasileira – INDEPENDENTEMENTE DE QUALQUER CONDIÇÃO – embora cometidos no estrangeiro: INCONDICIONADA – ART. 7º, I Os crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; Os crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; Os crimes contraa administração pública, por quem está a seu serviço; O crime de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 65 Extraterritorialidade Ficam sujeitos à lei brasileira embora cometidos no estrangeiro: CONDICIONADA – ART. 7º, II crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; crimes praticados por brasileiro no estrangeiro; delitos praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados; 66 Desde que cumpridas as seguintes CONDIÇÕES: (TODAS) Entrar o agente do delito, em território nacional – pouco importando se o ingresso é ou não voluntário, se sua presença é longa ou rápida, se veio a passeio ou a negócio, legal ou clandestinamente. Ser o fato punível, também, no país em que foi ele cometido – pouco importando se o ingresso é ou não voluntário, se sua presença é longa ou rápida, se veio a passeio ou a negócio, legal ou clandestinamente. Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira admite a extradição – A Lei de Estrangeiro (Lei n°xxxxxxx) impede a extradição em alguns casos. Não ter sido absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena - se o agente foi absolvido ou cumpriu a pena no estrangeiro, ocorre uma causa de extinção da punibilidade. Se, por sua vez, a sanção foi cumprida parcialmente, novo processo pode ser instaurado no Brasil (art. 8º CP) Não ter sido o sujeito perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 67 Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, §3°) Aplica-se a lei brasileira desde que cumpridas as seguintes CONDIÇÕES: que não tenha sido pedido ou tenha sido negada a extradição que haja requisição do Ministro da Justiça Cumulativamente com TODAS as CONDIÇÕES anteriores: Entrar o agente do delito, em nosso território. Ser o fato punível, também, no país em que foi ele cometido; Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira admite a extradição; Não ter sido absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; Não ter sido o sujeito perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 68 Pena cumprida no Estrangeiro A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (Art. 8º CP) PENAS DIVERSAS PENAS IDÊNTICAS ATENUA FUNDAMENTO: proibição do "bis in idem" COMPUTA EXEMPLOS: “A” recebeu pena de multa no estrangeiro e uma pena de reclusão, no Brasil. A pena de multa que foi paga no estrangeiro atenua, obrigatoriamente, a pena privativa de liberdade imposta no Brasil. “A” recebeu pena de detenção de 2 anos no estrangeiro e uma pena de detenção de 5 anos, no Brasil. A pena de detenção que foi cumprida no estrangeiro é computada, (5 – 2 = 3) obrigatoriamente, na pena de reclusão imposta no Brasil (=DETRAÇÃO). 69 Teoria Geral do Crime 70 INTRODUÇÃO CRIME INFRAÇÃO PENAL CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO PENAL = Espécie de INFRAÇÃO PENAL de pequeno potencial ofensivo (Decreto-Lei 3688/41) 71 CONCEITO DE CRIME Materialmente tem-se o crime sob o ângulo ontológico. Procura-se explicar porque o legislador colocou determinada conduta como infração, sujeitando-a a uma sanção penal. Para Manzini, no sentido material: “o delito é a ação ou omissão, imputável a uma pessoa, lesiva ou perigosa a interesse penalmente protegido, constituída de determinados elementos e eventualmente integrada por certas condições, ou acompanhada de determinadas circunstâncias previstas em lei.” Formalmente conceitua-se o crime sob o aspecto da técnica jurídica, do ponto de vista da lei. CRIME = FATO TÍPICO ILÍCITO CRIME FATO TÍPICO ILÍCITO = + + OU + culpável 72 Requisitos, elementos e circunstâncias do crime Faltando um dos requisitos NÃO há crime. São REQUISITOS GENÉRICOS porque estão presentes em todos os crimes. CIRCUNSTÂNCIAS ELEMENTOS VERBO (que descreve a conduta) OBJETO MATERIAL (bem protegido) SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO São peças que, se retiradas, fazem desaparecer o crime (= atipicidade absoluta) ou o transformam em outro crime (= atipicidade relativa). dados que aumentam ou diminuem as conseqüências jurídica Mexem, portanto, na pena do delito. 73 O CRIME na Teoria Geral do Direito FATO NÃO JURÍDICO JURÍDICO acontecimento SEM capacidade de produzir EFEITOS JURÍDICOS acontecimento COM capacidade de produzir EFEITOS JURÍDICOS NATURAL AÇÃO HUMANA NATURAL AÇÃO HUMANA com efeito jurídico VOLUNTÁRIO com efeito jurídico INVOLUNTÁRIO FENÔMENOS DA NATUREZA FENÔMENOS DA NATUREZA ATO JURÍDICO ATO ILÍCITO CRIME 74 Sujeito ativo do crime CONCEITO Sujeito ativo do delito é aquele que pratica o fato descrito na norma penal incriminadora. Somente o homem pode delinqüir, não podendo ser sujeitos ativos de crimes animais ou coisas. TERMINOLOGIA Para o Código Penal = “agente” No inquérito = “indiciado” Durante o processo = “acusado”, “denunciado” ou “réu” Aquele que sofreu sentença condenatória = “sentenciado” ou “condenado” Na execução da pena privativa de liberdade: “preso”, “recluso” ou “detento” Sob o ponto de vista biopsíquico = “criminoso” ou “delinqüente” 75 Sujeito ativo do crime PRÁTICA DA CONDUTA PUNÍVEL ESTADO SUJEITO ATIVO direito concreto de punir obrigação de impor a sanção penal agindo de acordo com os moldes determinados em lei direito à liberdade presunção de inocência obrigação de não obstacularizar a imposição da pena 76 Sujeito ativo do crime Capacidade Penal Capacidade penal é o conjunto de condições necessárias para que alguém possa tornar-se titular de direitos ou obrigações no campo do Direito Penal. CAPACIDADE PENAL IMPUTABILIDADE Refere-se a momento anterior ao crime Verifica-se no momento da prática do delito (tempo da ação/omissão) Incapacidade Penal Ocorre nos casos em que não há a qualidade de pessoa humana viva e quando a lei não se aplica a determinada classe de pessoas. 77 Sujeito ativo do crime Capacidade Penal das PESSOAS JURÍDICAS Duas posições a respeito: pessoa jurídica = ser real com vontade própria = pode delinqüir tendência criminológica especial (= possuidora de poderosos meios e recursos) personalidade jurídica = ficção legal pessoa jurídica não pode cometer crimes = não possui vontade própria sua vontade = vontade de seus membros diretores e representantes (= penalmente responsáveis pelos crimes cometidos em nome da pessoa jurídica) Teoria da REALIDADE Teoria da FICÇÃO Arts. 173, §5º e 225, §3º da CF legislação infraconstitucional estabelecesse punições para as pessoas jurídicas Crimes: contra economia popular contra a ordem econômica e financeira contra o meio ambiente A Lei de Proteção Ambiental (lei n.9605/98) – arts. 3º e 21 a 24 = responsabilidade penal da pessoa jurídica 78 Sujeito ativo do crime Capacidade especial do sujeito ativo PODE SER PRATICADO POR QUALQUER PESSOA EXEMPLOS: homicídio furto lesão corporal CRIME PRÓPRIO EXIGE DETERMINADA POSIÇÃO JURÍDICA OU DE FATO DO AGENTE EXEMPLOS: peculato auto-aborto concussão CAPACIDADE ESPECIAL DO SUJEITO ATIVO CRIME COMUM 79 Sujeito passivo do crime CONCEITO Sujeito passivo do delito é o titular do interesse protegido. Assim, deve-se, a priori, perguntar qual o interesse tutelado pela lei penal incriminadora, para depois chegarmos ao seu titular. ESPÉCIES FORMALMENTE Estado = titular da regra proibitiva desrespeitada sujeito passivo constante (genérico, formal, geral) MATERIALMENTE Sujeito = aquele que teve seu bem jurídico lesionado passivo eventual (particular, acidental ou material) Todo homem (criatura viva) pode ser sujeito passivo (incapaz, recém-nascido, menor de idade, demente, ...) Também, a pessoa jurídica pode ser sujeito passivo, desde que o tipo não exija a qualidade de pessoa física. 80 Objeto do crimePode haver crime sem objeto material (por exemplo: falso testemunho ou ato obsceno), mas nunca haverá crime sem objeto jurídico. OBJETO contra o qual se dirige a conduta humana criminosa objeto jurídico bem ou interesse que a norma penal tutela EXEMPLOS: vida integridade física honra patrimônio objeto material coisa ou pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa EXEMPLOS: homem vivo – no homicídio coisa – no furto documento – na falsificação 81
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