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170 RAUL SEIXAS E A CONTRACULTURA: UMA VIAGEM PELAS IDÉIAS DE LUIZ DE LIMA BOSCATTO E VITOR CEI Bruno Nielsen Venancio Orientador: Prof. Dr. Gabriel Giannattasio RESUMO Os escritos a seguir tem como proposito estabelecer uma relação entre Raul Seixas e a CONTRACULTURA, para isso parte-se de um reflexão sobre o paralelo feito por Luiz de Lima Boscato cria entre Raul e os movimentos de rebelião sociais juvenis, colocando-o como um arauto destes, traçando pontos convergentes entre os ideais da Lei de Thelema e suas ações. Estabelecendo também um pensamento e um paralelo da relação que Vitor Cei estabelece, entre as mudanças das eras Astrais e a sua influencia no pensamentos daqueles que questionariam as ordens estaticas estabelecidas pelo discurso tecnocrático da sociedade, este que abrange toda uma gama, sendo representado principalmente pelos ditos tecnicos especialistas, que aprovam e comprovam tudo o que é conveniente a esse discurso da Tecnocracia, para isso ele compara o novo e o velho Aeon. Caracterizando o perfil da formação praticamente autoditada que vem desde sua infância passando por uma adolescencia desajustada e os pensamentos de um adulto que através de suas letras procurava transmitir a mensagem do faça o que tu queres a de ser tudo da lei, principio da Lei de Thelema que o acompanhou até o fim da vida. Palavras chave: Raul Seixas. Tecnocracia. Lei de Thelema. Novo Aeon. Contracultura 171 I – Introdução O artigo a seguir foi fustigado por toda uma infância, regada a esse Rock’n Roll raulseixista. Melodias que conquistam com sua pluralidade de ritmos, que passeiam pelo baião, pelo samba, blues e tango, músicas estas que revelam cada qual à sua maneira, essa metamorfose ambulante. Pluralidade esta que só pode se perceber anos depois quando, ao entrar em contato com a obra toda de Raul, tirando as músicas que ainda hoje se fazem inéditas aos ouvidos dos mais fanáticos pela obra deste, como ele mesmo se definiu ator, que representava tão bem, ao ponto de enganar o resto do mundo, com suas composições e interpretações musicais. Raulzito, conforme o livro RAUL SEIXAS: E O SONHO DA SOCIEDADE ALTERNATIVA de Luciane Alves1, teve sua curiosidade despertada para o tema do ocultismo levando-a a estudar a relação entre Crowley e Raulzito. Raul nasceu no ano de 1945, dia 28 de junho, filho de dona Maria Eugenia e do engenheiro Raul Varela Seixas e cujo avô também se chamava Raul2. Raulzito foi criado nos moldes de uma família de classe média baiana, e desde pequeno já questiona sobre aspectos variados da vida como vemos a seguir: “Desde os sete anos Raul já questionava sobre coisas como o fim do mundo, a volta de seu espírito em outros corpos, o julgamento final. Seu pai gostava de ler para ele livros sobre assuntos metafísicos. O que mais lhe marcou foi o livro Dos Por Quês.”(Alves 1993, p.25) Nota-se, nessa fala de Luciane Alves, a curiosidade de Raulzito pelo obscurantismo, pelo oculto, pelo indecifrável, que foi reforçada ainda mais por seu pai que lia para aquela criança extremamente curiosa, livros que versavam sobre ocultismo e metafísica, e isto se instaurou pelo resto de sua vida, visto que ele foi em busca de sociedades místicas e filosofias, segundo creem alguns, de Nietzsche 1 Historiadora graduada em 1992 pela Pontíficia Universidade Católica da cidade de São Paulo cuja monografia versava sobre a Caça as Bruxas e o Tribunal da Inquisição na Idade Média. 2 É daí que Raul Seixas explica seu apelido de Raulzito. Segundo ele, seu avô era Raulzão, seu pai Raul e ele Raulzito. 172 e Schopenhauer, entre outros, para tentar uma melhor compressão do mundo em que vivia. O contato com o rock por parte de Raul Seixas se da, pois este é vizinho da embaixada americana, tendo contato desde muito jovem com a Rock´n Roll estadunidense e logo se torna fã de diversos ícones dessa música. Existe também a dificuldade que Raul tinha em se encaixar na sociedade também com relação à instituição educadora, já que este detestava escola preferia ficar trancado em seu quarto com suas poesias. Isto é notório também pelo fato de que aprendeu inglês com o Rock’n Roll de Elvis que era o seu ídolo maior, de quem Raulzito montou o primeiro Fã Club do Brasil, e o teve como seu mestre não só musicalmente falando, mas no que ele chamava de Atitude do Rock, que por si só já era transgressora, o que por si só é característica básica dessa grande recusa que pela qual se caracterizou segundo teóricos, a contracultura, e isso terá como veremos a frente influências inclusive, de diversos pensamentos de cunho místicos, espiritualistas que mostram diferentes aos olhos de diferentes autores como Vitor Cei e Luiz de Lima Boscatto. Isto demonstra um claro embate entre Raul e esta geração antecessora, o que segundo Roszak, em seu livro A CONTRCULTURA, de 1972, é típico de uma postura contracultural, ou seja, questionar a ordem instituída, que no caso da música era a bossa nova, em detrimento a uma atitude comportamental e as ideias típicas do Rock’n Roll estadunidense que Raulzito tanto gostava. Para isso se faz necessário um recorte para que a História possa versar com mais clareza sobre toda a grandiosidade do tema, que no caso deste trabalho trata-se da relação, que este propõe, entre Raul Seixas e a contracultura, conforme vemos abaixo: (...) Todo passado pode ser estudado pela história, no entanto, a história não e capaz de dar conta de tudo o que passou. Devido a uma necessidade intrínseca ao método historiográfico, deve-se delimitar o que vai se estudar, em qual 173 temporalidade e onde está localizado este objeto. Para tal tarefa faz-se necessário à opção por recortes que trazem algumas precauções à tona e encobrem outras, as quais são consideradas de menor importância. Desse modo, a decisão do recorte cabe unicamente ao historiador. Entende-se, portanto, que ao executar suas escolhas, o historiador age de maneira parcial. Ele executa um trabalho limitado, arbitrário e inacabado. Diante da totalidade pressuposta, mas, inapreensível do passado, o historiador comete seu primeiro ato de arbitrariedade: cria seu objeto. (Giannattasio/Bordonal 2011 p.6) Conclui-se então que este texto, ao estabelecer seu objeto, assume que toma uma postura arbitraria com relação ao próprio objeto, visto que esse recorte parte de suas próprias ideias e considerações e que este não tem em si a mínima intenção de estabelecer verdades ou inverdades. O que se procura é a partir da analise de dois textos bases que são: VIVENDO A SOCIEDADE ALTERNATIVA: Raul Seixas no panorama da contracultura jovem de Luiz de Lima Boscato, 3e esta fala sobre os movimentos de oposição juvenil, focando a obra de Raul Seixas no que tange a formação de uma Sociedade Alternativa, na qual se refutava as verdades absolutas impostas por este sistema capitalista como deixou claro o autor logo no resumo de sua obra. ENOVO AEON: RAUL SEIXAS NO TORVELINHO DE SEU TEMPO de Vitor Cei Santos4, em que fala sobre a influência do Novo Aeon preconizado por Aleister Crowley, sua relação com a postura contracultural, que traça também um paralelo entre Novo e o Velho Aeon e modernidade e pós-modernidade, a fim de demonstrar como essas ideias estabeleceram influência no pensamento, na postura e na música de Raul Seixas. 3 Poeta e doutor em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e o texto em questão trata-se de uma tese de doutorado que foi produzida entre 2003 e 2006, ano em que foi defendida no programa depós-graduação em História Social do CFLCH da USP, 4 Dissertação de mestrado do programa de pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Espirito Santo, Centro de Ciência Humanas e Naturais. 174 Com isso procurando analisar que o entendimento dessa relação, que em muitos casos pode se dizer como anacrônica, já que o próprio Raul nunca se denominou contracultural. Mas que, no entanto, pode ser estabelecida, pois como já foi dito acima, o próprio recorte feito para o trabalho historiográfico já é repleto de contradições, pois este parte da concepção muito particular, já que se estuda um determinado fato em detrimento de uma série de outros. Portanto não se trabalha com a pessoa Raul, nem o ente, ator, compositor ou produtor musical, mas sim se reflete a despeito do que tanto Vitor Cei quanto Luiz de Lima Boscato, procuraram estabelecer dessa desconexa relação entre Raul Seixas e Contracultura, demonstrando também, que há várias formas de interpretações, e algumas delas serão apresentadas ao longo destes escritos. CAPITULO II – O Raul Seixas Contracultural de Luiz de Lima Boscatto. O au to r t ra ta de um Rau lz i to , que mesmo nos momentos em que busca uma amp l iação no sen t ido esp i r i tua l como nar ra também Luc iane A lves , p rocu rando novas ó t i cas esp i r i tua l is tas , que v i sassem á ampl iação das ide ias do ind iv íduo , bas icamente de le com e le mesmo, j á que subs tanc ia lmente a Le i de The lema t ra ta d isso , de ind iv íduos buscando exerce r sua von tade pe ran te o todo e não o inverso . E de l ine ia também Rau l como a lguém to ta lmente po l í t i co enga jado , em a lgum t ipo de m i l i tânc ia e que es te a r reba tava segu ido res , a f im de t rans fo rmar toda uma soc iedade em a lgo “bom” se ass im se pode co locar , pa ra todos , como que se a mudança que é p ropos ta pe lo au to r se ja de um todo e não do ind iv iduo : “A abo rdagem do Ocu l t i smo em Rau l Se ixas se d i f e renc ia dos eso te r i smos conse rvado res que p regam o con fo rm ismo po l í t i co , econôm ico , soc ia l es tabe lec ido , em nome de um Ni rvana 175 i so lac ion is ta , ou da espe ra de p rov idenc ias v indas de deus ou do A lém. ( . . . ) ” (Bosca to , p .28 . 2006) . No ta -se que há uma ten ta t i va por pa r te do au to r de enca ixa r Rau l Se ixas em um s is tema de lu tas e m i l i t ânc ia , que tenho sé r ias duv idas se e le rea lmen te pa r t i lhou dessas ide ias , já que se r ia mu i to ma is uma âns ia de se conhece r in te r io rmente , pa ra á pa r t i r de en tão se compreende r e se mod i f i ca r , pa ra uma t rans fo rmação in te rna do ind iv iduo , se rea l i zasse e com e la uma sér ie de mudanças na rea l idade , po rém essa aná l i se é t ra ta r essa re lação com o t ranscendenta l como uma mera pon te , para uma mudança soc ia l de ca rá te r co le t i vo : “A re fo rmu lação dos va lo res esp i r i tua is sob uma ó t i ca l i be r tá r ia po r par te de Rau l Se ixas e de sua ge ração é um fenômeno que se desenvo lve pa ra le lamente às p reocupações eco lóg icas , e a lu ta pe la c r iação de uma soc iedade comun i tá r ia e não op resso ra do se r humano , que se con t rapusesse à r i g idez impos ta pe las ins t i tu ições po l í t i cas e re l i g iosas convenc iona is . Há também uma re fo rmu lação da noção de famí l ia : os jovens buscavam a lgo que os iden t i f i casse enquanto g rupo d i f e renc iado , enquanto uma amp la fam í l ia que se iden t i f i casse em sua d i f e rença como uma soc iedade a l te rna t i va em re lação ao modo de v ida da ge ração de seus pa is . ” (Bosca to p .31 , 2006 ) Bosca to co loca Rau l numa pos ição de gu ia , quase que um gu ru , mas um gu ru po l i t i zado , já que enxe rga como pos i t i vo esse lado m ís t ico esp i r i tua l de Rau l , v is to que es te se reve la ques t ionado r da rea l i dade po l í t i ca soc ia l , pos to que o au to r se re fe r i a ou t ras p ra t i cas re l i g iosas t ra tando -as como con fo rm is tas , j á que e las ex igem dos ind iv íduos uma concen t ração in te r io r , o 176 que segundo o au to r é uma mane i ra de con iven te de conv ive r , sem se p reocupa r , com a rea l idade ao seu en to rno . Vemos que pelo conteúdo de suas músicas, não apenas esta, mas ela é exemplo claro, Todo Mundo Explica, na qual Raul diz: “Antes de ler o livro que o guru lhe deu você tem que escrever o seu”, os princípios pregados por Raulzito são de autoconhecimento, para conhecer a si mesmo e as suas vontades, que ninguém tem um plano pronto que vai melhor se encaixar na sua vida seja ele um livro, ou mesmo um messias. O que se entende é que Raul buscava toda uma gama de seitas, rituais e magias, a fim de conhecer melhor a si mesmo, e a partir daí entender suas próprias vontades, para poder se relacionar com as diversas realidades que existiam ao seu redor. No entanto Boscato faz uma aproximação de tudo o que é desprezado pela cultura “convencional”, se assim podemos dizer, mostrando a aproximação com tudo o que era temido e descriminado pela “sociedade” como um traço contracultural marcante em Raul Seixas, já que este partilhou das mais diferentes seitas, filosofias, religiões, políticas e lutas. Como ele mesmo diz na canção As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor: “Seguindo a tendência contracultural de valorização de tudo o que fosse considerado maldito pelos setores mais conservadores da sociedade, tal movimento teve como base a chamada Lei de Thelema do mago inglês Aleister Crowley (1875 – 1947), o qual foi chamado, pelos seus inimigos, de o “pior homem do mundo”. (...) Crowley foi considerado, pelo seu embate contra os dogmas da ortodoxia cristã e pela sua ênfase no “Poder da Vontade”, o “Nietzsche do Ocultismo”. (Boscato, p.74, 2006) Vê-se então que Boscato procura estabelecer uma relação de toda a espiritualidade e a metafísica, de toda a busca de Raul que desde muito jovem procurava respostas, associando-a a uma luta de cunho anarquista. Colocando-o 177 como já foi dito anteriormente como um arauto revolucionário, que buscava transformar os outros indivíduos ao invés de si, para se modificar rumo a uma revolução anarquista, que se baseava em princípios místicos, filosófico, político e religioso para a transmutação social, o que parece ir contra os princípios bradados por Raul ao longo de sua vida, já que este pregava que cada um deveria compreender a si mesmo, e para que se sentisse a necessidade, transformar toda a realidade ao seu redor, já que esta é uma construção deveria ser uma construção muito particular de cada individuo. I I I - A Contracul tura um paradoxo entre novo e ve lho Aeon. A p r inc ip io em seu t raba lho V i to r Ce i busca es tabe lece r a de f in ição do conce i to de Aeon , como: E ra , Tempo, Ge ração e E te rn idade , com isso e le busca da r um con to rno eso té r ico , as t ro lóg ico pa ra exp l i ca r uma mudança que ao longo de seu tex to f o i pensada po r grupos como os H ipp ies , como sendo a lgo co le t i vo , o que d i ve rge do pensamento de Rau l , que en tende essa t rans fo rmação como a lgo ind iv idua l , que acon tece r ia den t ro de cada se r humano , o que é n í t ido ao longo da aná l ise deCe i . Con fo rme as pa lavras do p róp r io au to r c i tando também a de f in i ção e t imo lóg ica do te rmo, que vem do nome da f i lha A iôn do deus g rego Crônos . I sso most ra a i n f luênc ia tan to do ocu l t i smo an t igo , no caso da in te rp re tação de as t ró logos dos as t ros e suas in f luênc ias , também uma in te r fe rênc ia da p róp r ia cu l tu ra no caso o id ioma, que tem toda uma s imbo log ia . Pa ra os ob je t i vos dessa aná l ise dos esc r i tos de Ce i cabe -nos de f in i r o Aeon , de Os í r is como os p r inc íp ios do deus que a nomeia , pau tado na ide ia de que os ma les do p resen te , se rão recompensados no fu tu ro , ass im como quando t raba lha -se a v ida in te i ra , em t roca de dez ou qu inze anos recebendo um bene f íc io p rev idenc iá r io , que não paga nem os med icamentos , pa l i a t i vos das doenças f ís icas e ps íqu icas o r iundas de uma v ida de labo r . 178 Dout r ina essa , segundo o au to r , mu i to seme lhan te à i deo log ia burguesa , de acumula r para um fu tu ro me lho r , não havendo nada que pudesse se por con t ra r iamente a i sso , se ja f o rça da na tu reza , se ja , do p lano apenas das ide ias , passando a té mesmo pe lo campo do t ranscendente , essa dou t r ina se b l inda sob uma gama de mantos , es tes c r iados po r d iscu rsos que vão desde a in f luênc ia do cap i ta l especu la t i vo , à man ipu lação do dese jo , que tem como supo r te todo um co rpo técn ico espec ia l i zado . Segu indo a aná l ise do tex to pe rcebe -se que ao longo do Sécu lo XX, pa r te da soc iedade pe rcebeu as in f luênc ias , segundo o au to r , do Aeon do Hórus , e isso de ce r ta f o rma levou a lguns ind iv íduos , que passaram a pensa r de d i f eren tes modos, a lguns com ide ias ma is co le t i vo como h ipp ies . E ou t ros ind iv íduos como Rau l Se ixas com vár ias i n f luênc ias d i f e ren tes , como já f o i d i to e con t inuaremos vendo ao longo do tex to , se negando a assum i r qua lque r ve rdade abso lu ta soc ia lmente , po l i t i camen te , f i loso f i camente impos ta , o que ev idenc ia uma ação con t racu l tu ra l . Já que fo i em me io ao sécu lo passado , o momen to em que se sen t i ram de mane i ra ma is ab rup ta os ho r ro res p rovocados pe la sup remac ia da razão e da lóg ica c ien t i f i ca , e en tão uma pa rce la da soc iedade , em ge ra l os j ovens , sen t iu a necess idade em me io ao devas tado r e fe i to tan to f í s i co , quan to ps i co lóg ico de busca r ou t ros pon tos de v is ta , ou t ras exp l icações da rea l i dade , den t re e les Rau l Se ixas , po is , não se iden t i f i cavam com es ta rea l i dade tão b ru ta l e impos i t i va . I sso ressoou po r todo oc iden te chegando inc lus i ve ao B ras i l , en tende -se essas ten ta t i vas de mudança , de opos ição a todo um d iscurso que ab range vá r ios n íve is na soc iedade , 179 con t ro lando o que se pensa , o que se faz, ou como se faz, como CONTRACULTURA. E isso é con f l i tan te na ob ra de Rau l j á que e le se u t i l i za de um apa ra to da tecnoc rac ia , as g ravadoras , grandes engrenagens que fazem g i ra r os moto res da Indús t r ia Cu l tu ra l , essa é a f o rma que e le Rau l a t ravés de sua a t i tude con t racu l tu ra l , u t i l i zando-se de seu Rock ’n Ro l l bem par t i cu la r e he te rogêneo já que t i nha toques de uma sé r ie de ou t ros r i tmos reg iona is b ras i le i ro como o ba ião , b radava con t ra a soc iedade “no rmat isan te ” em pro l de uma soc iedade a l te rna t i va , pe lo que se en tende , e como e le mesmo d isse em shows e en t rev i s tas , es ta , es tá den t ro de cada um dos ind iv íduos . Como podemos pe rcebe r na mús ica Você, na qua l o au to r p ropõe uma re f lexão de ações e pensamento , co locada aba ixo : Você alguma vez se perguntou por que Faz sempre aquelas mesmas coisas sem gostar? Mas você faz, sem saber por que, você faz! E a vida é curta, por que deixar que o mundo Lhe acorrente os pés? Fingir que é normal estar insatisfeito será direito, o que você faz com você? Por que você faz isso por quê? Detesta o patrão no emprego Sem ver que o patrão sempre esteve em você E dorme com a esposa por quem já não sente amor será que é medo? Por quê? Você faz isso com você? Por que você não para um pouco de fingir E rasga esse uniforme que você não quer... Mas você não quer, prefere dormir e não ver Por que você faz isso por quê? Detesta o patrão no emprego Sem ver que o patrão sempre esteve em você. E dorme com a esposa por quem já não sente amor será que é medo? Por quê? Você faz isso com você? Por que cara? 180 Mas você não quer prefere dormir e não ver Por que você faz isso por quê? Será que é medo? Por quê? Você faz isso com você? Você faz isso com você? Nessa letra Raul, questiona uma série comportamentos e atitudes, a partir de sua relação com a sociedade e suas amarras, ele faz isso partindo de uma reflexão interna sobre as suas atitudes e pensamentos cotidianos, e a postura que se adquiri perante as imposições sociais. Ao longo dela Raul, propõe uma reflexão interna dos indivíduos, para com isso repensarem suas ações diárias, mecanizadas, que segue o fluxo desse grande discurso do “futuro progressista”, seguindo os padrões, esses como já chamados anteriormente “heróis dos dias úteis” (Seixas at. al., 1971) passam a vida com suas esposas, seus empregos sem ao menos se perguntarem por que fazem isso e mais ainda, se estão satisfeitos com suas ações ao longo desse burocrático cotidiano. É esta reflexão por parte dos indivíduos, que pode fazê-lo repudiar esse discurso burocrático e tecnocrático como no caso de Raul Seixas, em que ele percebeu que através deste autoconhecimento, desse entendimento interno é que se poderia alterar a realidade que se mostrava tão objetivamente dura ao seu redor, já que este não se encaixava em normas e padrões. Nota-se então que, de certa forma, para driblar todos estes sistemas de discursos impositivos, que propunham o controle mais intenso da vida das pessoas, através desta tecnocracia que se coloca como o centro do universo, Raul Seixas, influenciado por uma mudança de eras astrais, que teve seu mais famoso interprete em Aleister Crowley, cujas ideias, Raul interpretou, propondo a cada indivíduo que se questionasse para maior compreensão de si mesmo, e com isso, compreender e até modificar toda a realidade ao seu entorno com o poder da sua vontade contaminando o todo, as massas e não o contrario, essa seria a postura contracultural de Raul traçada por Cei. 181 IV - Considerações Finais Após analisar as duas obras tanto a de Luiz de Lima Boscato, quanto a de Vitor Cei o que se pode perceber é que Boscato procura ao longo de seus escritos uma relação entre Raul Seixas e CONTRACULTURA, que está extremamente vinculada com a Lei de Thelema, ou também conhecida como Lei da Vontade. Ele apresenta, ao longo de sua dissertação, um Raulzito que influenciado pelas ideias de Aleister Crowley, e que a partir desses pensamentos, segundo Boscato, procuraria se transformar, e transformar outros indivíduos para então modificar toda a realidade e o mundo ao seu redor. Traçando um perfil,de um Raul Seixas guia, arauto de toda uma geração de jovens, como se este a todo o momento estivesse preocupado em passar uma mensagem revolucionaria de cunho anarquista, como se uma ação totalmente objetiva pudesse transformar a sociedade, que contraditoriamente trazia consigo um grau de objetividade extremo e imposto a todos os indivíduos. Boscato trata de uma transformação de fora para dentro, posto assim, entende-se queesta mudança pudesse ser efetuada de fora para dentro, como se a Lei da Vontade fosse imposta do TODO para as PARTES e não o contrario, como se a mudança dos indivíduos partisse da transformação de toda a realidade objetivada ao seu redor. Partindo de um outro ponto de vista, Vitor Cei procura explicar essa influência da contracultura no imaginário de Raul como uma influência da mudanças de eras astrais, então ele procura descrever, pela mitologia egípcia, primeiramente, a influência da era de Ísis, sendo o período no qual estabelecia-se nas sociedades uma relação matriarcal e de respeito com todo o planeta e os diversos seres neles existentes. Enquanto que em 260 a.C. entra-se no Aeon de Osíris, e a sociedade consecutivamente passa a ter relações patriarcais, na qual o respeito pelo mundo ao 182 seu redor deixa de existir, as mulheres são relegadas ao simples papel de esposa, e toda relação de respeito entre pessoas e meio na qual elas vivem ganha um contorno comercial. As relações deixam de ser pautadas no respeito e harmonia e tomam uma face exploratória, que não enxerga limites além da sua ganância, um exemplo claro disso é,segundo Cei,a vinda dos Europeus para o que eles mesmo chamaram de Novo Mundo, ou América, onde começou-se a subjugar pessoas, no caso os nativos, que ganharam a alcunha de índios. Deu-se início também ao tráfico de pessoas, na maioria das vezes com o uso da violência, no caso dos africanos, que sob a desculpa de serem desalmados, eram tidos apenas como mão de obra escrava, e começou-se a devastação de pessoas e da natureza, além de ter início também, segundo o autor, o período chamado de modernidade. Essa modernidade do Aeon de Osíris visa o lucro, a exploração e a devastação, para esta não há barreiras nem limites, ela parte do principio que tudo tem um preço, e que este deve ser aceito caso contrario, o uso da força se faz necessário como é obvio se pegarmos, como exemplo A CONQUISTA DA AMÉRICA. Este Aeon e seus preceitos encontram seu apogeu durante o século vinte, no qual tudo ganha um caráter massificado, onde o sentido violento mercadológico toma sua forma mais presente, e é durante a Segunda Guerra Mundial, que os horrores, desse sistema de pensamento se faz presente, e mais contundente através do advento da Bomba Atômica. A partir de então, jovens como Raul, sentindo a aproximação do Aeon Hórus, o filho de Osíris coroado, surge como esperança e influência de uma nova forma de se entender a sociedade, de se relacionar com o mundo ao seu redor, resgatando todas as culturas, que haviam sido desprezadas pela era moderna de Osíris. 183 Valorizando tudo aquilo que era tido como maldito pelos modernos seguidores da Era de Osíris, como a magia preconizada por Crowley, uma relação mais harmônica com a natureza, e acima de tudo Cei via na figura de Raul um questionador, que de certa maneira através de sua música influenciava um número grande de pessoas. Percebe-se então que o ponto convergente entre os textos de Luiz de Lima Boscato e Vitor Cei, é a influência de Aleister Crowley no pensamento contracultural de Raul, no entanto cada um a sua maneira, já que Boscato trata mais da relação entre Raul e a Lei da Vontade e a forma como ele poderia transformar as pessoas e a realidade através dela. Enquanto Cei trabalha mais com a influência das mudanças de Eras Astrais influenciando as pessoas dentre elas Raul e como ele, sentindo isso e interpretando as ideias de Crowley,buscava uma mudança das pessoas e da sociedade. No entanto, essas são apenas duas formas existentes de se estabelecer essa relação entre Raul Seixas e CONTRACULTURA, que pode ser entendida também, através de um conhecimento interior para uma transformação da realidade ao seu redor, que como vemos na música Carpinteiro do Universo, do álbum A Panela do Diabo de 1989, seu ultimo álbum, este que foi produzido em parceria com Marcelo Nova, na qual Raulzito trata desse egoísmo, que é tão egoísta a ponto de querer ajudar, e que no final se descobre carpinteiro de si. Entende-se então que Raul percebeu que não importava o quão era grande a sua vontade de ser o Carpinteiro do Universo inteiro, mas que no final essa mudança é particular, essa transformação é interior, para a partir de então modificar o mundo ao seu redor. No entanto essa interpretação não exclui nenhuma das expostas anteriormente apenas tem como propósito indicar outras perspectivas, além das que foram aqui colocadas de se estabelecer esse paralelo entre essa forma de pensamento nada convencional que representa a CONTRACULTURA no imaginário de Raul Seixas. 184 BIBLIOGRAFIA E FONTES [1] SANTOS, Vitor Cei. Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo. Espírito Santos, 2009. [2] BOSCATO, Luiz de Lima. Vivendo a Sociedade Alternativa: Raul Seixas no Panorama da Contracultura Jovem. São Paulo, 2006. [3] ALVES, Luciane. Raul Seixas: O Sonho da Sociedade Alternativa. Ed. Martin Claret. São Paulo 1993. [4] ROSZAK, Theodore. A CONTRACULTURA: Reflexões sobre a sociedade tecnocrática e a oposição juvenil, Ed. Vozes ltda. Petrópolis, 1972. [5] ADORNO, Theodore W.; Horkheimer. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, Ed. 1985. [6] GIANNATTASIO, Gabriel; BORDONAL, Guilherme Cantieri: Uma pós- modernidade trágica: a historiografia para além da verdade e da mentira, 2011. [7] GIANNATTASIO, Gabriel. Próxima parade: O HARAS HUMANO, Atrito Art Editorial. Londrina, 2004.
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