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ESCLARECENDO DÚVIDAS SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE: O DIREITO NATURAL E O DIREITO POSITIVO; O DIREITO OBJETIVO, O DIREITO HISTÓRICO E O DIREITO SUB- JETIVO: O assunto está tratado nas páginas 13 a 17 do caderno didático, mas acredito que de forma muito resumida, daí a necessidade de, para maior facilidade do aprendi- zado, estender as considerações feitas. 1. Direito Natural e Direito Positivo: Sobre o Direito Natural, situamos um trecho da tragédia Antígona, de Sófocles, nas páginas 8 e 9, como forma de demonstrar que em uma sociedade existem valores que são anteriores a qualquer organização social. Esta ideia sintetiza bem a da existência de um Direito Natural, isto é, “princípios que, atribuídos a Deus, à Razão ou havidos como decorrentes da „natureza das coisas‟, independem de convenção ou legislação, e que seriam determinantes, informativos ou condicionantes das leis positivas”1 Como vemos no caderno didático, a origem do Direito Natural é muito antiga, remontando, para a maior parte dos autores, aos filósofos gregos estoi- cistas com os quais nasce o movimento, que, mais tarde será enfocado por vá- rios outros filósofos, em diversas épocas da humanidade até os nossos dias. Deste modo, tem-se que o Direito Natural é o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior e suprema. Se toda a natureza está regida por esta espécie de leis eternas, univer- sais e imutáveis, por que não os seres humanos? Este o questionamento que fundamenta a ideia. Com o passar do tempo o Direito Natural, que também passou a ser chamado JUSNATURALISMO, passou a ter opositores numa nova corrente de ideias: o Positivismo. Esta oposição se acentuou a partir do século XIX, quando a importância do Direito Natural passa a ser secundária, pois, para os positivistas, todo conhecimento deve ser baseado nos fatos e na realidade concreta do ho- mem. Surge o termo Direito Positivo, no sentido de que só vale o direito que está escrito, que foi positivado pelo Estado, através de seu órgão competente, hoje o Poder Legislativo. Filósofos contemporâneos, no entanto, redirecionaram estes conceitos para que o Direito Natural fosse encarado como uma bússola, que conduziria o Direito Positivo ao objetivo final, o bem comum, o ideal de justiça. Assim, hoje o Direito Natural deixa de ser antagônico ao Direito Positi- vo, como queriam os positivistas, passando agora, e este é o entendimento atu- al, a ser norteador do Direito Positivo. A “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, proclamada e adotada pela Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948, confirma este entendimento e comprova a existência do Di- 1 HERMES LIMA in “Introdução à Ciência do Direito”. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976. reito Natural em nossos dias, influindo sobre o Direito Positivo dos diferentes povos. 2. Direito Positivo: Ainda sobre o Direito Positivo, vale a pena transcrever as seguintes ob- servações de ORLANDO DE ALMEIDA SECCO2: “Direito Positivo são normas de conduta, legisladas ou provenientes do costume, que estando em vigor ou tendo vigorado em certa época, disciplinam ou disciplinaram o interrelacionarnento, a convivência do homem. O conceito de "Direito Positivo" que damos, bastante amplo como pode ser constatado, abrange não só o direito em vigor (direito vigente [ou direito obje- tivo]) como o já fora de vigor (direito histórico), o direito escrito (direito codifi- cado e legislado) como também o direito não escrito (direito costumeiro ou consuetudinário). (...) Alguns autores preferem considerar o "Direito Positivo" apenas o direito vigente e o direito legislado, excluindo o direito histórico e o costumeiro. Partem certamente da confusão usual entre positividade e vigência. Convenhamos que o direito histórico, embora não mais estando em vigor, reconhecidamente terá vigorado em algum período, daí concluir-se ter sido ele efi- caz no passado. Nessa eficácia é que está a positividade. Embora cessada a vigência, a positividade permanece. A lei que não mais vigora, não mais produz qualquer efeito. Todavia, permanece como um marco his- tórico dentro da conjuntura jurídica do País. Tanto isso é verdade, que o direito histórico muita vez é utilizado para fins de interpretar-se uma lei nova. Vai-se buscar na lei já revogada o provável sentido da lei posterior. Se a positividade não permanecesse, tal método comparativo seria uma inutilidade. Por outro lado, embora em nosso País o direito seja o legislado temos que admitir que há povos cujo direito se apresenta sob a forma costumeira ou consue- tudinária. Para tais povos o "Direito Positivo" é não-escrito. Pelas razões acima expostas, o nosso conceito de "Direito Positivo" é am- plo. abrangendo, além do direito vigente e legislado, o direito histórico e costumei- ro”. (grifos meus) Em vista do exposto, podemos resumir as principais diferenças entre Direito Natural e Direito Positivo, da seguinte forma: Direito Natural Direito Positivo Atemporal Temporal (Existe em determinada época) Informal. Não tem forma de elaboração de- terminada, nem é escrito. Formal (Depende de formalidades para sua existência, tais como: aprovação por um Poder e forma escrita - Códigos, leis etc.) Universal. Independe de local. Dimensão espacial (Vigência em local definido, variando de sociedade para sociedade) Emerge espontaneamente da natureza e é identificado pela sociedade Criado pelo homem. Não Escrito. Escrito. Imutável. Mutável (Altera-se mediante a vontade do ho- mem) 2 ORLANDO DE ALMEIDA SECCO: “Introdução ao Estudo do Direito”. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 22. 3. Direito Subjetivo e Direito Objetivo: Como foi visto, o conceito de Direito Positivo é bastante amplo pois abrange não só o direito em vigor (direito vigente também denominado di- reito objetivo) como o já fora de vigor (direito histórico), o direito escrito (di- reito codificado e legislado) como o direito não-escrito (direito costumeiro ou consuetudinário). Do exposto, podemos concluir que o Direito Objetivo, que é o direito vigente, é parte do Direito Positivo. Acrescente-se a isto o fato de que o Direito Subjetivo e o Direito Objetivo são indissociáveis, visto que aquele só existe com base neste. Os romanos de- nominavam-nos, respectivamente, facultas agendi (faculdade de ação) e nor- ma agendi (norma de ação). Portanto, o DIREITO SUBJETIVO significa a possibilidade, a faculdade de alguém exercitar um direito contido em norma do ordenamento jurídico vi- gente, ou seja, do DIREITO OBJETIVO. Não devemos, portanto, confundir Direito Objetivo e Direito Positi- vo. As observações de MAX & ÉDIS3, transcritas a seguir, devem ser sufici- entes para dirimir quaisquer dúvidas que ainda existam sobre o tema: “O direito objetivo designa o Direito enquanto regra de ação (norma agen- di), isto é, o conjunto de regras vigentes num determinado momento, para reger as relações humanas, e que são impostas, coativamente, à obediência de todos. As- sim, quando eu me reporto ao Código Penal, ao Código Civil, à Lei do Inquilinato, ao Estatuto da Cidade etc., bem como a qualquer uma de suas regras, estou me referindo ao direito objetivo. O direito subjetivo encerra o poder de ação derivado da norma (facultas agendi), isto é, a faculdade ou prerrogativa de o indivíduo invocar a lei na defesa de seu interesse. Assim, ao direito subjetivo de uma pessoacorresponde sempre o dever de outra, que, se não o cumprir, poderá ser compelida a observá-lo atra- vés de medidas judiciais. Melhor explicitando: a Constituição Federal garante o direito de proprie- dade, ao dispor no art. 5.°, XXII, que "é garantido o direito de propriedade". Essa regra é um preceito de direito objetivo. Agora, se alguém violar a minha proprie- dade, poderei acionar o Poder Judiciário para que a irregularidade seja sanada. Essa faculdade que tenho de movimentar a máquina judiciária para o reconheci- mento de um direito que a lei me garante é que constitui o direito subjetivo. Disso resulta que o direito objetivo é o conjunto de leis dirigidas a todos, ao pas- so que o direito subjetivo é a faculdade que tem cada um de invocar essas leis a seu favor sempre que houver violação de um direito por elas res- guardado”. (grifos meus) Esperando que o tema tenha ficado suficientemente compreensível, desejo a todos um BOM ESTUDO! Prof. Afranio. 3 MAX & ÉDIS: “Manual de Direito Público e Privado”. São Paulo: RT, 2002, pp. 28-29.
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