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Islã Religião e Civilização. Uma abordagem Antropológica


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16/03/2015 Islã: Religião e Civilização. Uma abordagem Antropológica. ­ Artigos Acadêmicos ­ Giseli­Cicarelli
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Islã: Religião e Civilização. Umaabordagem Antropológica.
By Giseli­Cicarelli | Studymode.com
Islã: Religião e Civilização. Uma abordagem Antropológica.
IN: PINTO, Paulo Gabriel Hilu da Rocha. Islã: Religião e Civilização. Uma abordagem
Antropológica. Aparecida, São Paulo: Editora Santuário ,2010.
Após o onze de setembro, a visão do ocidente em relação aos muçulmanos, tornou­se
ainda mais distorcida. A generalização e a estigmatização, criaram um mito o qual
caracteriza todo praticante do islã, um terrorista em potencial.
Este trabalho tem por objetivo, desmistificar a ideia simplista cultivada no ocidente a
respeito do universo muçulmano. Busca­se aqui explorar, mesmo que de maneira
sucinta, a complexidade e a heterogeneidade da cultura islâmica.
Para o autor Paulo Gabriel, ao julgar o islã com essas construções ideológicas, o
ocidente ignora seu passado de autoritarismo e intolerância. A exemplo da inquisição
católica, o nazismo e as ditaduras latino­americanas.
Em relação a democracia, o autor defende que no interior das sociedades
muçulmanas também existe o debate de idéias. O islã busca conviver
harmoniosamente com outras organizações religiosas aceitando a presença de fiéis
de outras denominações. 
Segundo Gabriel, a construção de processos democráticos tem se tornado uma
questão presente na agenda de diversas sociedades islâmicas, como é o caso, por
exemplo, da Turquia e da Indonésia. Países como o Egito e o Irã realizamdiscussões
continuamente em favor da democracia, mobilizando a sociedade civil a entrar na luta
contra os processos autoritários presentes nesses países, desse modo não se pode
entender o islã baseando­se somente nos exemplos das sociedades antidemocráticas
onde a religião muçulmana seja maioria, muito pelo contrário, deve­se procurar
entender, como o próprio autor observa a pluralidade no modo de vivenciar as
tradições desta religião. 
Como já foi observado existe uma variedade de questões sobre as sociedades
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muçulmanas que vão muito além daquelas construídas pelo imaginário ocidental e
uma delas diz respeito às divisões sectárias que conforme o autor não está limitado
somente entre as identidades xiitas e sunitas. 
Devido à variedade de grupos sociais e tradições culturais, o mundo muçulmano
acaba incorporando práticas e elementos de outras religiões ou de outras tradições,
tanto locais quanto de outras sociedades, enriquecendo esta religião. 
Muitas vezes essa mistura de conteúdos além de dar novas formas, de fazer
nascerem outras identidades, levou a acusações de denúncias de “apostasia”,
“desvio” e “heresia” do verdadeiro sentido do islã, por parte dos grupos tradicionalistas
que não concordaram com essas incorporações. Um exemplo desse fato é o sufismo,
a forma mística do islã, que conecta os diversos entendimentos e práticas na doutrina
muçulmana. NaArábia Saudita, por exemplo, o sufismo é proibido, pois segundo a
corrente religiosa dominante no país, as doutrinas sufis constituem uma forma de
“inovação condenável” e superstição não islâmica. Já no Egito ocorrem duas
situações: ao mesmo tempo em que essa doutrina é reconhecida oficialmente pelo
Estado, com realização de cerimonias que atraem milhões de peregrinos, constituindo
grandes manifestações de devoção popular, ela também é condenada por parte da
população egípcia que a acusa como um desvio do verdadeiro islã.
A utilização do véu também é carregada de diversas significações que mais uma vez
pode variar dependendo do contexto social. Na Arábia Saudita, por exemplo, o seu
uso é obrigatório para todas as mulheres. Na Turquia e países como a Síria e a
Tunísia o uso do mesmo é desencorajado pelo Estado e desse modo torna­se um
item não obrigatório, consequentemente, as mulheres desses países imprimem no uso
do véu significados que vão desde uma forma de afirmação da identidade muçulmana
nos espaços públicos, como também uma confirmação de sua autonomia moral frente
aos apelos do feminismo promovidos pelas sociedades ocidentais, que enxerga no
uso desta indumentária uma forma de repressão aos direitos das mulheres.
A questão que surge é: como podemos compreender o islã como um fenômeno social,
já que se apresenta em diversas sociedades sempre com uma leituraprópria.
Algumas perspectivas de estudo das sociedades muçulmanas visualiza o islã como
uma categoria vazia, que só adquire algum significado dentro dos limites de cada
cultura. Para o autor essa visão é até válida, porém, não suficiente para compreender
uma religião universal como esta, ele afirma que é mais importante compreender os
processos de construção, apropriação e prática dos modelos normativos do islã que
se pretende ser universais, ou seja, buscar a compreensão dos processos de
construção dos denominadores comuns para as diversas formas de islã. A
peregrinação a Meca, por exemplo, reforça as diferenças regionais ao mesmo tempo
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em que demonstra uma igualdade básica do islã, pois possibilitam a troca de diálogo
com as outras áreas do mundo muçulmano.
Mesmo que esteja em constante processo de atualização, o islã, assim como outras
religiões, visa a formação de uma ortodoxia que regule as práticas dos adeptos. Por
isso o mesmo é constituído dos seguintes elementos: a crença na figura do profeta
Muhammad como o principal profeta (“homem perfeito” a quem foi revelado a
mensagem divina), a crença no livro sagrado do Alcorão, os “cinco pilares” do islã
(profissão de fé, as cinco orações diárias, a doação do dizimo para a comunidade, o
jejum durante o Ramadã e a peregrinação a Meca) as coleções de tradições sobre a
vida do profeta (Hadith) e a Sharia (leiislâmica). 
As duas correntes mais importantes do islã; Sunismo e Xiismo se formaram a partir de
dois campos de opinião: aqueles que consideravam os membros da família do falecido
profeta Muhammad, os xiitas; e aqueles que enfatizavam a igualdade entre os fiéis,
que afirmava que qualquer muçulmano poderia suceder o profeta desde que se
mostrasse capaz para isso, os sunitas.
Após várias sucessões ao califado, houve uma batalha decisiva para a divisão sectária
entre o xiismo e sunismo. Esta batalha foi a Karbala, na qual o “xiismo se constituiu
uma linguagem religiosa de oposição à centralização do poder na corte imperial.”.
O limite entre as duas correntes se dá através da produção de diferentes doutrinas e
rituais e sua organização em normas próprias.
Entretanto, nem toda diferenciação de correntes do islã, levou a criação de
comunidades sectárias. O aparecimento e consolidação da vertente mística do islã
conhecida como sufismo se deram ao mesmo tempo em que a separação entre
sunismo e o xiismo. Porém, o sufismo não produziu uma nova fronteira sectária, mas
sim constituiu uma corrente doutrinal e ritual que se desenvolveu tanto no sunismo
quanto no xiismo.
Pode­se dizer que o sufismo está vinculado a certa tradição esotérica. Para os sufis, a
própria revelação do corão é a prova da dimensão mística do islã, o que permitiu o
surgimento do misticismo como umadas ciências religiosas reconhecidas e ensinadas
nas madrassas (espécie de escola do islamismo).
Os principais impérios do mundo muçulmano foram: Otomano (século XIII, com auge
no século XVI), Persa e o Mongol. O objetivo ao apresentar esta informação é paraque possamos ter uma ideia das diferentes formas de Islã que criaram raízes e se
mantiveram nestas regiões em função destes impérios. O império Persa (sob a
Dinastia Safávida) promoveu o xiismo; o Império Otomano promoveu a expansão de
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algumas confrarias Sufis; e o Império Mongol promoveu uma variedade de formas de
Islã por sua característica de ser uma confederação de pequenos reinos vassalos
liderados por marajás.
Vale ressaltar que tais impérios eram baseados no uso bélico da pólvora e na
capacidade de mobilizar exércitos. Nesse sentido, não se diferenciavam em nada dos
impérios europeus.
Porém, após a revolução industrial os europeus avançaram na reformulação de suas
instituições econômicas e políticas, maximizaram o poderio militar e dessa forma
inverteram a relação de forças com mundo muçulmano. O primeiro momento em que
foi possível sentir esta mudança, foi a invasão de Napoleão ao Egito, em 1798. Esta
foi uma conquista muito significativa em função da importância do Egito para a cultura
islâmica, sendo visto, pelo mundo islâmico como um “trauma civilizacional”.
Como consequência destetrauma, houve um processo inverso: se antes os europeus
eram vistos como bárbaros atrasados intelectualmente e tecnologicamente, a partir
deste momento houve uma busca por igualar­se ao poderio europeu (no caso francês)
refletido em um “ambicioso plano de industrialização e modernização da vida
econômica e social do Egito”. Inicia­se um ciclo de reformas em 1807 (no império
Otomano) estendendo­se até 1876, reformas que englobaram o aparato militar,
incluíram processos de industrialização e buscaram promover “um senso de cidadania
e identidade otomana abolindo as desigualdades politicas entre muçulmanos e não
muçulmanos (em 1856)”. 
Tais tentativas não foram suficientes para conter o avanço das potências no processo
de expansão imperialista. Exemplos que ilustram essa constatação: a dominação
inglesa na índia, a expansão holandesa em Java e Sumatra e a invasão do império
russo aos khanados da Ásia Central entre outros. Além da presença territorial, os
europeus intervinham na dinâmica política, econômica e social dos impérios Otomano
e Persas. Um exemplo foi a proteção dada pelos impérios europeus as minorias
religiosas e que, em alguns casos, concediam a sua nacionalidade, conferindo
extraterriotiralidade jurídica, o que significava dizer em outras palavras impunidade por
qualquer delito cometido. Esta manipulação levou o império Otomano “à ruptura dos
laços sociaisque conectavam essas comunidades à maioria muçulmana”. Como
consequências houve episódios de violência no final do século XIX e inicio do século
XX. 
Foram também no século XIX que o Islã sofreu significativas reformulações. Este
processo incluiu o desenvolvimento de novas tecnologias de transporte permitindo um
maior numero de pessoas em peregrinações. Daí surge a expressão; comunitas, que
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significa “uma comunidade igualitária baseada em uma solidariedade difusa que
transcende as diferenças entre os membros”. Isto foi resultado das peregrinações que
reuniam fieis de diferentes origens sociais e culturais, reunidos por rituais e devoções
compartilhadas. 
A velocidade com que as idéias passaram a circular fez com que novas instituições
fossem criadas, introduzindo uma nova pedagogia referente a um novo sistema de
pensamento.Comparando com o período anterior, foi um avanço significativo, pois
antes a elite detinha o domínio sobre a cultura e as escrituras religiosas.
Um movimento que surge neste período é o Wahhabismo, que se da a partir da
pregação de Muhammad Ibn.Este movimento encontrou fortes resistências das elites
religiosas, o que ocasionou na expulsão de `Abd al­Wahhab. Exilado, fez um aliança
com o chefe tribal Muhammad Ibn Sa`ud. Esta aliança proporcionou uma expansão
das suas idéias e da sua influência. 
Houve outros processos de reforma, como oSalafiyya e os movimentos intelectuais
islâmicos: Jamal al­Din al Afghani e Muhammad `Absu e Rashid Rida.
Através de tratados as relações coloniais se mantiveram e deram às potências
coloniais poder sobre o exército, economia e educação. Nesse contexto a questão do
Estado e de modelo “nativos” de soberania ganhou uma enorme relevância,
direcionando a reflexão dos intelectuais muçulmanos para a elaboração do ideário do
“islã político”.
O islã político não estava no uso da religião como fator de mobilização social e, sim
com o intuito de propor uma teoria política construída a partir de categorias islâmicas,
embora boa parte das revoltas anticoloniais do século XIX tenha sido feitas em nome
do islã, o foco é o de Estado Islâmico. Este conceito teve sucesso no século XX sendo
adotado como ideologia central pelo grupo dos Irmãos Muçulmanos.
A situação de dependência colonial do Egito em relação à Inglaterra motivou Hassan
al­Banna a criar o grupo que pregava o retorno à pureza do Islã, sacrifício extremo
pela causa, assistencialismo islâmico, tomada do poder político por meios
revolucionários, refundação do califado unificado no mundo muçulmano, sob a
autoridade exclusiva do Corão e abolição de todas as instituições implantadas no
mundo islâmico pelo Ocidente, com a consequente extinção dos estados árabes tais
como existem, além da eliminação de Israel.
Pormeio de um discurso inovador do papel do islã na sociedade, os Irmãos
Muçulmanos rapidamente, atraíram jovens profissionais dotados de uma educação
moderna, sendo eles a maioria de classes médias e os funcionários da burguesia
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egípcia, a qual simbolizava a maior parte dos seus fiéis que se associavam ao grupo
por terem visto suas ambições sociais frustradas ou não atendidas pela ordem política
vigente no Egito.
Os Irmãos Muçulmanos consideravam o ulama, responsáveis pelo declínio da
civilização islâmica por terem se aliado a governos corruptos e tiver se tornado porta­
vozes dos poderosos.
Ao fim da 2ª Guerra, a Irmandade era uma força política expressiva no Egito e teve
papel fundamental na luta contra a antiga ordem colonial dos britânicos e franceses.
Seu objetivo era libertar a pátria islâmica do controle dos estrangeiros e infiéis (kafir) e
estabelecer um estado islâmico unificado.
Até os anos 40 os Irmãos Muçulmanos egípcios viam como principal adversário a
política parlamentar liderada pelo partido Wafd, que, apesar de seu nacionalismo
secular, era impotente para mudar situação colonial do Egito. Então, os Irmãos
Muçulmanos decidem fazer uma aliança com a monarquia egípcia em troca de uma
islamização das instituições, ou seja, a Irmandade pensou estar preparada para lançar
um golpe de estado contra a monarquia egípcia. Mas, essa aliança foi um enganoe o
governo, por sua vez, desencadeou uma perseguição à Irmandade, assassinando Al
Banna.
Mesmo fragilizada a irmandade continuou articulando­se nos bastidores da política até
a articulação que levou Abdel Nasser ao poder.Entretanto, Nasser via na irmanda
uma ameaça às intenções de reformas que planejava. Então iniciou uma
perserguição, com a prisão, tortura e assassinato dos seus líderes. Os Irmãos
Muçulmanos sofreram uma onda de radicalização e violência que culminou com o
surgimento do pensamento de Sayd Al­ Qutb, pensamento político literalista e
revivalista fundamenta­se na ideia de que oshomens devem ser governados pelas leis
extraídas do Corão (a Sharia), que provêm de Deus e não por suas próprias leis. Sua
obra foi traduzida para o farsi (persa) pelo próprio Aiatolá Khomeini e suas ideias,
desde a revolução islâmica de 1979, têm sido colocadas em prática no Irã. A
autoridade política, segundo essa concepção integrista, deve ser exercida por
conselhos de doutores na Sharia.
Durante os anos 70 os regimes autoritários dominavam por volta da metade dos
Estados de maioria mulçumana. Regimes autoritários baseados em temas
nacionalistas e socialistas árabes, que buscavam sua legitimidade através de seus
conceitos defendidos, acabaram destruindo ou neutralizando qualquer forma de
oposição. Trazendo a conseqüência do descontentamento de comunidadesislâmicas.
Ao Israel derrotar a Síria e Egito na guerra dos Seis Dias acelera a crise de regimes
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autoritários em Estados Árabes. Graças a vitoria de Israel na guerra foi possível ver a
decadência econômica e do padrão de vida nas sociedades árabes ampliando a
oposição contra a mesma, pois mostrava que os governos autoritários nacionalistas
não garantiam a soberania de seu povo.
Com isso o descontentamento da população ganhou força e aumentou de tamanho.
Para conter esta ameaça o governo autoritário em poder retirou os canais de
comunicação de expressão legitima da população e se tornou cada vez mais violenta
e radical até o final da década de 80.
O palco principal da crise, o Egito, acaba por ser também o mais afetado pela crise.
Com a morte de seu presidente foi tolerado e incentivado o ativismo islâmico com o
objetivo de diminuir o poder de atuação ou os resquícios do antigo presidente Nasser,
tendo esses ativismos sido aderido por jovens desiludidos e a fim de evitar o futuro
declínio. Com isso se tornava mais intenso as tensões que acabaram por surgir a
“Revolta do Pão”. Muitas comunidades islâmicas entraram na luta armada a fim de
derrubar o regime do atual Presidente Sadat.
A repressão do estado foi muito violenta devido à falta de controle da sua população
Porém esta violência acabou por gerar ainda mais violência por parte dos revoltados.
Tudo isto ocorria aomesmo tempo em que Regimes Autoritários vinham sendo
questionados pelas suas populações.
A esperança retornou com a revolução Islâmica de uma reversão de poder
intensificando seus esforços, fazendo com que países árabes enxergassem na época
uma oportunidade de desfazer os limites políticos e culturais da militância islâmica
transnacional. O século XIX teria sido marcado por um amplo movimento de reforma
religiosa que se estende aos tempos atuais. Contudo, parece ser a militância,
globalização e pluralização do Islã nos séculos XX e XXI o fragmento que mais chama
atenção na obra do autor.
O movimento islâmico sofreu transformações tecnológicas, sociais e culturais que se
traduziram em modificações profundas na dinâmica do tecido religioso do Islã, criando
uma base social mais ampla. Alguns movimentos reformistas identificados pela
reforma xiita e o movimento wahhabista só se configuraram como correntes religiosas
de importância suprarregional surgindo cada vez mais movimentos orientados para
preocupações éticas e práticas dos indivíduos, reiniciando a moralidade baseada no
alcorão. Ulemas e shaykhs recuperam sua importância como produtora de
significados culturais.
A interferência de novas tecnologias na difusão dos preceitos islâmicos e a ideia de
sociedade islâmica deixou de ser conectada à conquista do Estado para ser vista
como um resultado gradualmentealcançado pela reforma moral dos indivíduos. O
discurso moral sobre a sociedade passou a deslocar o discurso centrado no Estado do
16/03/2015 Islã: Religião e Civilização. Uma abordagem Antropológica. ­ Artigos Acadêmicos ­ Giseli­Cicarelli
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Islã político.
Segundo Tarcísio Vanderlinde :
“A individualização religiosa ganha força no mundo muçulmano no início do século
XXI. Esta individualização pode ser percebida no reverso da Jihad global
caracterizada pelos atentados espetáculos, quando Bin Laden, Zawahiri e Sulayman
Abu Ghaith comentam o atentado de 11 de setembro de 2001 em uma caverna do
Afeganistão. O cenário faz referência à Sura da Caverna, do Alcorão. Nessa sura
encontra­se a história de Domentes de Éfeso, que diante da perseguição dos pagãos,
se retiraram para uma caverna de onde saíram para anunciar o poder de Deus e urgir
os habitantes da cidade a seguirem as regras divinas . A jihad globalizada movida a
violência espetáculo pode ser considerada como mais uma das diversas configurações
do Islã contemporâneo.”
Tarcísio também afirma em sua resenha que não bastando a busca por espaço com
as outras interpretações e práticas do Islã, a linguagem do jihad também está sujeita
aos processos de fragmentação, individualização e constante ressignificação simbólica
que marcam a dinâmica religiosa e cultural do mundo muçulmano no início do século
XXI.
“Ritual, etnicidade e identidade religiosa nas comunidades muçulmanas no Brasil”
Rev. USP  no.67 São Paulo nov. 2005Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto 
Conforme informado no texto a comunidade Mulçumana se faz presente no Brasil,
principalmente, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, onde existem
as maiores concentrações. Segundo o Autor:
“Os muçulmanos no Brasil apresentam múltiplas formas de identidade e religiosidade
que os conectam tanto com codificações transnacionais do Islã, quanto com as
configurações locais do campo religioso em que se inserem.”
No Rio de Janeiro a maior parte do fluxo migratório dos mulçumanos se encontra em
áreas comerciais. O centro religioso mulçumano no Rio de Janeiro se encontra na
Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, seus participantes não são por
maioria de origem árabe, mas sim formado por uma comunidade de caráter
multicultural, multiétnico de seus descendentes, africanos e brasileiros convertidos.
Essa mistura é promovida de diversas formas como em palestras, cursos sobre
temáticas que envolvam o Islã, atividades beneficentes e encontros ecumênicos que
mostram o objetivo missionário da comunidade , se preocupando em produzir textos
explicativos sobre o Islã de forma que houvesse uma socialização . Por conter
diversas etnicidades faz com que haja uma interação entre a linguagem e cultura
árabe e brasileira, formando novas identidades mulçumanas. O autor concluir dizendo
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que as identidades muçulmanas na SBMRJsão construídas através de mecanismos
disciplinares argumentativos cujo objetivo é criar um Islã objetificado e universal cujos
pressupostos culturais e sociais não sejam perceptíveis. A integração da comunidade
na sociedade mais ampla se dá através da releitura de valores sociais difusos em
termos de conceitos religiosos islâmicos.
Em Curitiba é possível ver um grande divisão sectária entre xiitas e sunitas, porém
mesmo com esta diferenciação houve uma superação para tentar criar um Islã
objetificado , já que existe um objetivo em comum do qual é retirado do alcorão
conscientemente . Nesta cidade houve uma preocupação na criação entre um elo de
famílias para então ser criada através desta força uma mesquita. Com isso
conseguiram unificar e fortalecer os rituais em comum deixando de lado a diferença de
pressupostos culturais e discursos doutrinais. Pinto conclui que as identidades
muçulmanas da comunidade de Curitiba são construídas sobreum denominador
comum de doutrinas e rituais parcialmente objetificados, mas englobados por
pressupostos conceituais e práticos identificados com o universo cultural árabe. Isso
faz com que os rituais comuns tenham mais importância que os discursos doutrinais
na produção da solidariedade coletiva na comunidade. Por outro lado, tais
mecanismos de produção identitaria levam a uma "etnificação" da comunidade
muçulmana, levando a umdesinteresse e mesmo resistência à incorporação de novos
membros através da conversão. A relação da comunidade de Curitiba com a
sociedade brasileira segue uma dinâmica de "enclave étnico­religioso", parecida com a
das comunidades judaica ou armênia no Brasil, por exemplo, o que não impede que a
integração com o universo cultural e social local seja bastante profunda em outros
domínios da vida dos membros da comunidade (trabalho, amizades, etc.).
A cidade de São Paulo por possuir uma grande concentração de mulçumanos
também abriga um importante centro religioso, a Mesquita Brasil, sendo um símbolo
da presença mulçumana na cidade e ligada a SBM .Por isso no texto se mostra claro
que a divisão das atividades na Mesquita Brasil entre “comunitárias” e “religiosas” não
deve ocultar o fato de que ambas visam à produção e reprodução da identidade
muçulmana dos participantes. Porém, atividades que aconteceriam em lugares
distintos nas sociedades do Oriente Médio são reunidas no espaço da Sociedade
Beneficente Muçulmana, mostrando como as identidades muçulmanas no Brasil se
definem tanto por valores religiosos quanto por hábitos culturais e formas de sociabili​­
dade associados às culturas das sociedades do Oriente Médio. A mesquita Brasil
possui como objetivo criar um projeto comum entre os mulçumanos do Brasil , assim
como representar o Islã como uma religião que favorece acultura feminina e não
reprimi­la .
Mesmo assim o islamismo é minoria no Brasil , país de vasta cultura cristã , conseguiu
preservar as tradições e culturas religiosas a ponto de tentar mostrar aos demais
cidadãos a verdadeira face do Islamismo e não o que é dito pelo senso comum.
Mostrando que o islã é universal .O texto conclui que os muçulmanos no Brasil
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apresentam múltiplas formas de identidade e religiosidade que os conectam tanto com
codificações transnacionais do Islã, quanto com as configurações locais do campo
religioso em que se inserem.
“Etnicidade e Nacionalismo Religioso Entre os Curdos da Síria”
Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto 
Neste artigo o autor Paulo Pinto trata dos agentes religiosos na codificação cultural
servindo de base para a limitação da identidade dos curdos e seus nacionalismo
religioso, usando o sufismo como um papel principal para uma certa atuação nos
campos de produção e negociação das identidades religiosas , étnicas e nacionais dos
Curdos na Síria.
Paulo Pinto analisa o papel do sufismo – corrente místico­comtemplativa do Islã em
que os praticantes procurariam uma relação direta com Deus através da música e da
dança – na constituição das identidades étnicas e nacionalistas entre os curdos da
Síria. 
Segundo Paulo o sufismo teve um papel importante na constituição e afirmação das
identidades étnica e nacional entre oscurdos, não chegando a ser novidade o aumento
de importância da religião como elemento de definição das fronteiras da identidade
curda na Síria. Os efeitos políticos da crescente importância de elementos religiosos
como marcadores culturais da etnicidade curda podem ser vistos nos discursos
conciliatórios ao islã de muitos partidos nacionalistas curdos de inspiração secular. No
entanto, existe uma tensão entre o universalismo religioso do islã e a reivindicação de
particularismo cultural e político que sustenta as identidades étnicas e nacionais dos
curdos. O violento confronto entre grupos islâmicos curdos
O autor explora as tensões entre o universalismo do Islã e o particularismo identitário
nacionalista dos curdos sírios, apontando para as estratégias discursivas e práticas de
"etnificação" do sufismo como um "Islã curdo".
Finalizando, é necessário termos noção que, apesar das divergências entre os
nacionalismos religiosos e seculares entre os curdos da Síria, eles não formam
comunidades com objetivos exclusivos. Na verdade, existem várias arenas sociais e
políticas nas quais eles estão articulados nos discursos e práticas dos agentes.
Conforme o autor:
“O foco local do nacionalismo religioso assegura sua presença como uma força
significativa no universo político sírio, pois seus promotores se constituem como
lideranças políticas na negociação dos limites daautonomia e distinção da comunidade
curda dentro do Estado e da sociedade síria. Desse modo, as formas religiosas e
seculares do nacionalismo curdo são mais que simples projetos políticos em
competição por recursos e poder, pois elas criam arenas discursivas e práticas para a
afirmação pública das várias instâncias de significado e ação que procuram delimitar
fronteiras no universo plural das identidades curdas na sociedade síria.”
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“Discursos e contradiscursos: o olhar da mídia sobre o Islã no Brasil.”
Silvia Montenegro
O texto analisa a relação entre mídia e Islã no Brasil, mostrando principalmente a
produção jornalística de estereótipos que consagram uma política específica de
interpretação dos muçulmanos e sua fé, com isso coloca importância da mídia no que
quis respeito entre o dialogo de discursos e contradiscursos e entres as formas de
apresentação dos mulçumanos pela mídia. Apresentando o discurso da mídia sobre o
Islã enquanto um processo reversível, com consequências e efeitos na construção
identitária dos muçulmanos. Mostrando o diálogo entre a produção de estigmas e a
construção de adstrições positivas de identidade.
O autor nos permite a análise da relação entre produção de estereótipos
estigmatizantes e elaboração de atributos identitários positivos entre as
representações jornalísticas e as imagens da identidade islâmica, exaltadaspelos
próprios muçulmanos. A criação estereótipos pelas políticas de Estado ou pela mídia
acaba formando parte do senso comum, se ancorando no imaginário social e nas
"cosmologias" populares. A análise da lógica subjacente a esses processos constitui
parte central do estudo da política de construção de identidades sociais.Nesse
sentido, é possível indagar acerca dos pressupostos subjacentes às representações
jornalísticas e nativas no que diz respeito ao islamismo no Brasil. Nos textos
jornalísticos, o islamismo aparece como algo estranho para a cultura nacional, como fé
difícil de ser seguida no Brasil ou, em última instância, fala­se de um Islã "tropical".
Com efeito, esse adjetivo "tropical" aparece admitindo que, uma vez no Brasil, o Islã,
de certa forma, acaba influenciado pela cultura nacional ou por alguma forma
específica de se viver a religiosidade. Basicamente, o que torna estranho o Islã é sua
suposta "excessiva rigidez". Nesse sentido, a visão jornalística veicula a idéia ou a
pergunta acerca de como funcionaria o islamismo no marco do "pluralismo religioso
brasileiro" onde a tolerância e o alto trânsito religioso são motivos culturais
socialmente reconhecidos (Negrão 1997; Sanchis 1997). 
Por outro lado, o adjetivo "tropical" gera uma reação negativa entre os muçulmanos, já
que para eles aparece como equivalente a outras adjetivações, tais como "Islãnegro"
ou "Islã árabe". O Islã não parece admitir adjetivações vinculadas a culturas nacionais
ou a identidades étnicas, e tal perspectiva pode ser compreendidano marco da noção
muçulmana de minoria, que somente admite se basear em critérios religiosos (Kettani
1986). 
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As sociedades mulçumanas no Brasil não toleram com o que era veiculado na mídia ,
alguns aspectos foram ofensivos a eles como ao dizer que o islã oprime as mulheres
ou sobre a violência , terroristas ou extremistas . Podendo dizer que se não passa de
um pre conceito formado pelo senso comum e fazendo com que os países ponham
suas opinião baseados em seus próprios pontos de vista cultural e não no ponto de
vista cultural islâmico.
Então a observação do contra discurso que os muçulmanos constroem em relação à
idéia de que essas comunidades constituiriam uma forma de religiosidade vinculada à
imigração árabe segue idêntica linha de argumentação. Como o autor explica:
“ Ainda que possa parecer paradoxal, a ênfase exacerbada na negação das
adjetivações do islamismo acaba sendo uma via para "localizá­lo" e combater a idéia
de que o Islã é estranho ao Brasil. Negar a possibilidade de um Islã árabe, negro ou
tropical é uma forma de indicar que o islamismo pode ser professado por pessoas das
mais variadas origens, a ponto de todo território poder se transformar em Dar al Islam
(terra do Islã). A "miradaexterna" da mídia supõe a atribuição de adscrições que ao
serem contestadas não são exorcizadas, mas sim interiorizadas no discurso identitário
do grupo. No caso dos muçulmanos, esse diálogo também lhes permite argumentar
acerca da tensão entre o caráter fortemente universal do islamismo e suas expressões
locais.”
Em conclusão merece atenção quando se discute os novos espaços do Islã no Brasil.
No caso específico das comunidades muçulmanas no Brasil, seria válido afiançar que
as fronteiras identitárias não delimitam apenas arenas de pertencimento étnico, mas
também distintas formas de imaginação religiosa que permitem aos muçulmanos
comunicarem suas diferenças culturais dentro do universo semântico do Islã. A
integração cultural defendida no caso do islamismo parece carecer de sustentação
pela valorização da língua árabe entre brasileiros convertidos ao islamismo. A
conclusão do autor é que os brasileiros que se convertem ao Islã buscam um sistema
religioso que lhes dê uma inserção nas diferentes esferas locais, nacionais e
transnacionais de produção de sentido no mundo contemporâneo.
A visão do autor contribui para uma discussão pertinente para quem quiser começar a
navegar no fascinante e inesperado universo islâmico, bem como ao iniciado que
busca neste tipo de leitura um aperfeiçoamento para estudos identificados com
temáticas religiosas e culturais.