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Trabalho de G2 - Jornal do Brasil

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Jornal do Brasil e as 
Manifestações Populares de 1968
Priscilla Binato
Se 1968 ficou para a história como o ano que não terminou, não só para o Brasil, mas para todo o mundo. Um ano não pode ser representado por um país, não pode ser representado por somente uma centena de fatos. E, nesse caso, foram centenas de eventos ao redor do mundo que marcaram o ano de 1968. Este foi o Ano Internacional dos Direitos Humanos; foi o ano da primeira batalha em Saigon, durante a Guerra do Vietnam (assim como foi ano de muitas das batalhas dessa Guerra, muitas delas decisivas para a própria); foi o ano do assassinado do líder negro Martin Luther King, que tinha 39 anos na época; ano do lançamento do ritmo Tropicália, que assumiu as pistas de dança do final dos anos de 1960; Robert Kennedy, senador pelo estado de Nova Iorque, foi morto em um atentado, assim como seu irmão John Kennedy, ex-presidente dos Estados Unidos, cinco anos antes. Também foi o ano em que se realizou a Passeata dos Cem Mil, uma manifestação popular contra a Ditadura Militar que tomou as ruas da Cinelândia no Rio de Janeiro.[0: RECCO, Claudio. 1968: O Ano Que Não Acabou. Disponível em: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=1090. Acessado em: 22/11/2013 16:32]
Em um resumo bastante diminuído, foi um ano de mudanças nacionais e internacionais. Foi um ano de revoltas populares e estudantis no mundo inteiro, assim como foi quase toda a década de 1960. Enquanto a década de 1950 foi marcada por um moralismo físico e ideológico do “American Way Of Life” - aquela ideia de haver uma vida correta e uma imagem correta a se seguir e estas que representariam para todo o mundo o American Way -, os anos 60 foram marcados por uma juventude que não conseguia mais se empolgar pela mesma coisa que seus pais. Nessa década houve o surgimento do movimento feminista, assim como os movimentos civis em favor dos negros e dos homossexuais. Até dentro da Igreja houve uma certa revolução, com o ocorrido do Concílio Vaticano II, guiado pelo Papa João XXIII. Há o início do movimento Hippie, que terá seu auge nos anos 70, com sua palavra de ordem sendo contra a Guerra do Vietnam e contra a Guerra Fria, e também o movimento racionalista (ou movimento de contracultura), marcado pelo festival de Woodstock. As manifestações em Paris, Washigton e Praga gritavam cada vez mais: “É proibido proibir!”.[1: CAMPOS, Flávio de. Década de 60 é Marcada pela Efervecência. Disponível em: http://vestibular.uol.com.br/ultnot/resumos/ult2769u46.jhtm. Acessado em: 22/11/2013 16:32]
Entretanto, em um recorte, podemos dizer, depois da análise à seguir, que o ano de 2013 poderá, no futuro, ser tão importante para a história política brasileira do que o ano de 1968. Este, que faz parte de um dos períodos mais críticos da história brasileira: os 21 anos de Ditadura Militar (1964-1985), foi um ano coberto de manifestações e tentativas da quebra do poder militar no país e, em resposta a isso, foi um ano de duras ações do governo passadas pelo general Costa e Silva como, por exemplo, o Ato Institucional Nº5 (AI-5) que fez com que a censura começasse a ser legal e cada vez mais controlada pelo governo.
O Brasil de 1968 e o Jornal do Brasil
	Assim como aconteceu em todo o mundo, no Brasil ocorria um efervescente crescimento de manifestações populares e revoltas estudantis à medida que a insatisfação com a Ditadura Militar se concretizava. A Ditadura Militar já durava quatro anos desde que o Golpe de 1964 fechara os partidos políticos e associações civis de oposição, quaisquer que fossem. O Jornal do Brasil, criado em 1891, sempre “teve papel crucial na definição dos rumos da imprensa brasileira, sobretudo a partir de 1956, quando começou a passar por uma revolucionária reforma gráfica e editorial”. Ele foi criado em um período de conflito ideológico no Brasil, onde o jornal apoiava os ideias monarquistas dentro de um país recém-republicano. Apesar de ter sido um jornal que se mostrou revolucionário em vários momentos (o maior deles tendo sido a já citada reforma gráfica que deu a imagem do jornal ao lado), essa visão ligeiramente conservadora se repete em outras épocas, com ênfase dentro da ditadura militar, quando o JB, na maioria dos momentos, foi favorável a mesma. Eles estavam de acordo com o golpe em 1964 e só houve um período de tempo em que estiveram relativamente contra o governo, que foi durante o mandato do general Costa e Silva e o período da aplicação do AI-5. Tal apoio à ditadura, entretanto, não era uma exclusividade do Jornal do Brasil, sendo algo que afetava a grande maioria das grandes editorias de periódicos.[2: ARAUJO, Maria Paula de Nascimento. Revoltas 1968... E Quarenta Anos Depois. Disponível em: http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/fol/pt3701467.htm Acessado em: 22/11/2013 16:32][3: Hemereoteca Digital Brasileira. Jornal do Brasil. Disponível em: http://goo.gl/MYvJVf. Acessado em: 22/11/2013 16:32][4: Idem.][5: Idem.][6: Carta Maior. As manchetes do golpe militar de 1964. Disponível em: http://goo.gl/Q34Bqs. Acessado em: 24/11/2013 14:28]
	Havia um consenso geral dentro dos jornais, em 1964, de que o governo de João Goulart era uma ameça com a propagação do mito do comunismo dentro da figura do presidente. Mesmo tendo defendido a posse de Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros, em 1961, esse apoio não durou muito tempo principalmente porque a imprensa já não demonstrava confiança na sua capacidade de governar o país. Apesar de alguns jornais defenderem a tomada militar antes mesmo de João Goulart assumir, o Jornal do Brasil defendia que ele deveria, sim, tomar a presidência e se colocou favorável a decisão “de uma solução de compromisso sob um regime parlamentarista”. Entretanto, essa posição se alterou durante o governo de Jango, principalmente pela imprensa considerar as posições dele radicais. Houve uma forte reação popular contra o governo com uma escalada de greves e uma queda do crescimento econômico que vinha acompanhada de um aumento brutal na inflação do país. Foram poucos os jornais que ficaram ao lado de João Goulart enquanto ele era cada vez mais minado pelos seus apoios políticos e atacados pela oposição e o Jornal do Brasil não foi um deses. Inclusive, durante o último ano de governo de Jango, enquanto este tentava tomar algumas medidas procurando apoio - como o Comício das Reformas, em 1964 - o editorial do JB de 29 de março de 1964 “conclamava o Exército a manter a legalidade e o estado de direito e colocava o presidente da República na ilegalidade”. Quando Goulart foi derrubado pelo golpe, então, o JB exaltou a medida dando seu completo apoio ao novo regime, como se pode ver nos trechos abaixo.[7: ABREU, alzira alves de. CPDOC: A imprensa e o seu papel na queda de João Goulart.	Disponível em: http://goo.gl/kaQdzE. Acessado em: 24/11/2013 14:38][8: Idem.][9: Idem.][10: ABREU, alzira alves de. CPDOC: A imprensa e o seu papel na queda de João Goulart.	Disponível em: http://goo.gl/kaQdzE. Acessado em: 24/11/2013 14:38]
“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida, desordem social e corrupção generalizada”.
(Jornal do Brasil, edição de 01 de abril de 1964.)[11: Carta Maior. As manchetes do golpe militar de 1964. Disponível em: http://goo.gl/Q34Bqs. Acessado em: 24/11/2013 14:28]
“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela não moveu o País, com o apoio de todas as classes representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de responsabilidades”.
(Editorial do Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 31 de Março de 1973)[12: Idem.]
	
	Entretanto, esse apoio não durou mais do que o período de Castelo Branco no governo.Com a entrada do general Costa e Silva e sua mão de ferro no lugar de mais alto poder do país, acaba o período moderado da ditadura militar. Na realidade, essa mudança de foco do Jornal do Brasil ocorre somente depois do ano de 1968, com todas as mudanças políticas e restrições que já vinham ocorrendo nesse período. Há momentos em que o JB, durante esse período, trás algumas ressalvas e questionamentos sobre o regime. “Por exemplo, depois da passeata dos 100 mil em protesto contra os militares, em junho de 1968, o Jornal do Brasil questiona alguns pontos do regime”. [13: ORTEGA, joão. USP: Grande impensa apoiou o golpe militar e a ditadura até 1968, revela pesquisa da FFLCH.	Disponível em: http://goo.gl/sOCpQL. Acessado em 24/11/2013 15h19][14: Idem.]
Foi no momento da implantação do AI-5, ao final de 1968, que a posição do jornal muda definitivamente. Com a implantação da censura a qualquer tipo de manifestação contra o governo como algo verdadeiramente institucionalizado, a postura da grande maioria dos jornais muda e isso não é exceção para o Jornal do Brasil. O professor Eduado Zayat Chammas comenta sobre isso em seu estudo “A ditadura militar e a grande imprensa: os editoriais do Jornal do Brasil e do Correio da Manhã entre 1964 e 1968” onde ele esclarece um dos motivos para tal mudança de linha editorial: “Os dois veículos dialogavam com a classes média e a burguesia, que foram mais afetadas depois do AI-5”. Foi nesse momento que o Jornal do Brasil entra, inclusive, como um destaque dentre as coberturas jornalísticas do período com a sua principal capa histórica: a de 14 de dezembro de 1968 (apresentada ao lado). [15: Idem.]
A capa representa bem o que foi o período seguinte dentro do jornalismo brasileiro: os jornalistas tendo que colocar as notícias que o governo não queria ver publicadas pelas entrelinhas ou pela falta delas. Muitas vezes, nesse período, por conta da censura, matérias inteiras tinham que ser retiradas das páginas do jornais nos últimos momentos, logo antes deles serem rodados. De maneira a tentar mostrar ao público que eles estavam sendo censurados, os jornais, então, colocavam coisas frívolas no espaço daquela matéria, coisas que não tinham nenhuma conexão com qualquer coisa na primeira página ou que nem deveriam estar na primeira página de um jornal como, por exemplo, receitas de bolo. Uma dessas substituições de matérias mais marcantes, apesar de ser somente um pequeno quadradinho, foi na capa supracitada do Jornal do Brasil, onde a previsão do tempo de um dia ensolarado foi colocada assim:
“Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável.
O país está sendo varrido por fortes ventos.
Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras.”[16: MANO, lucyanne. CPDOCJB: 1968 - É decretado o Ato Institucional nº5	Disponibilizado em: http://goo.gl/QiFVew. Acessado em 24/11/2013 15h42]
Jornal do Brasil
	O marco da aplicação do AI-5, entretanto, foi somente o final de um ano bastante conflituoso e que marcou a história da Ditadura Militar no brasil e a história do próprio jornalismo brasileiro. Um jornalismo que, antes, tinha o costume de ser extremamente parcial dentro de editoriais e até notícias e partidarista - mesmo que não fosse financiado por nenhum partido.
As Manifestações de 1968 nas manchetes
	O mundo todo estava efervescente em processos populares e manifestações no ano de 1968. Desde os movimentos feministas e black power até movimentos de liberação das colônias a África, o mundo inteiro parecia estar querendo respirar fora dos padrõs antigos de vida. O Brasil não se coloca, então, em um patamar diferente, enquanto o ano de 1968 é marcado, do começo ao fim, por manifestações populares. Esses movimentos tinham alguns aspectos em comum com os que aconteciam na Europa, em especial na França, mas também tinham algumas diferenças marcantes. O movimento estudantil que regia as manifestações era, essencialmente, de luta contra a ditadura e era essa luta, apesar de várias diferenças ideológicas, que aproximava as revoltas no Brasil de tantas outras no mundo inteiro. “Um sentido radical de liberdade, o culto à ação, o desprezo pelas formas tradicionais de fazer política”.[17: Humboldt. Revoltas de 1968... e quarenta anos depoisDisponível em: http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/fol/pt3701467.htm. Acessado em 24/11/2013 17h08.][18: Idem.]
	O momento de maior tensão dentro do movimento estudantil ocorre depois do assassinato do estudantes Edson Luís no restaurante estudantil Calabouço, Centro do Rio de Janeiro. “O Restaurante Calabouço era um refeitório popular, subsidiado pelo governo e destinado a estudantes do interior, vestibulandos e universitários. Desde o incêndio do prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE) em abril de 1964, tinha se tornado o foco principal de agitação e resistência ao regime militar. De lá partiam as passeatas estudantis que tanto incitavam a vida da cidade e provocavam os generais”. Ela ocorre durante um encontro do grupo para planejar um protesto contra o abandono do local e a má qualidade da comida lá servida. O fato estampou a capa do Jornal do Brasil no dia seguinte, já anunciando a continuação dos fatos: uma greve nacional. A Assembléia Legislativa decretou um luto de três dias pela morte do estudante, todos os teatros da Guanabara interromperam seus espetáculos em sinal de protesto no momento que receberam a notícia da morte do estudante. A decisão, ao invés de irritar os espectadores, foi apaludida de pé pelos mesmos. “No Princesa Isabel, onde estava em cartaz a peça Roda Viva, os atores do elenco, ao tomarem conhecimento do incidente, fizeram um minuto de silêncio. Em seguida, suspenderam a apresentação e todos os presentes, convidados por um grupo de artistas liderados pelo paulista Plínio Marcos, seguiram para o funeral do estudante”.[19: CPDOCJB: 28 de março de 1968 - Morte no Calabouço	Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=7807. Acessado em 24/11/2013 17h16][20: CPDOCJB: 28 de março de 1968 - Morte no Calabouço	Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=7807. Acessado em 24/11/2013 17h16][21: Idem.]
	Essa movimentação dos artistas não era nada incomum, eles já tendo participado de diversas manifestações antes e, inclusive, terem decretado uma greve contra a censura de 72 horas, em 13 de fevereiro de 1968. Profissionais de todos os tipos envolvidos com carreiras artísticas ou teatrais - “profissionais do teatro e do cinema, escritores, arquitetos e artistas plásticos” - se encontraram, munidos de faixas e cartazes, nas escadarias do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Essa revolta teve origem nas várias censuras que o teatro vinha recebendo recentemente, as quais se incluem a proibição da exibição das peças “Um Bonde Chamado Desejo” e “Senhora da Boca do Lixo”. A primeira já havia sido apresentada no Brasil antes centenas de vezes, como afirmaram os artistas, e a segunda já havia sido encenada por 300 dias no Teatro Nacional de Lisboa. “O que levou os artistas às ruas tem raízes bem profundas, na manifestação policialesca de um grupo que procura sufocar a cultura como forma de expressão da oposição, no plano intelectual, ao que vem ocorrendo no país”, diziam as lideranças do movimento.[22: CPDOCJB: 1968: Teatro nas ruas contra a censura.	Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=7042. Acessado em 24/11/2013 17h29][23: Idem.][24: CPDOCJB: 1968: Teatro nas ruas contra a censura.	Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=7042. Acessado em 24/11/2013 17h29]
	A morte do estudante Edson Luís marcou o início da radicalização política e de confrontos violentos entre a polícia e os estudantes. Um exemplo de tal radicalização vem a ser a, como é chamada, “sexta-feira sangrenta”. Esse foi um novo protesto dos estudantes que terminou basicamente como uma batalha da polícia versus os manifestantes. popular terminando numa insurreição de civis X policiais. Ao final, 23 pessoas forambaleadas, 4 mortas – inclusive um soldado da PM atingido por um tijolo – e 35 soldados feridos um policial foi morto, cerca de 80 pessoas ficaram feridas e mais de mil prisões foram efetuadas. O Caderno B do Jornal do Brasil, lançado em 1960, fez uma série de fotografias do evento que acontecera praticamente na porta do escritório do jornal, na Avenida Rio Branco. A matéria foi nomeada “A Nova Guerra do Rio” e era uma página dupla que estampava a frente do Caderno B. Ela só saiu, entretanto, na versão expressa do jornal, com duas grandes bolas pretas cobrindo algumas partes das fotografias. Elas, em sua maioria, somente representavam os manifestantes e não os policias, como havia na capa do jornal, que tinha como manchete “Luta domina Rio e estudantes vão continuar”. Outro destaque dessa matéria foram as legendas colocadas nas fotografias:[25: CPDOCJB: 1968: A sexta-feira sangrenta.	Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=3384. Acessada em 24/11/2013 17h37][26: Idem.]
“A fúria: o passante espancado chama-se João Rui Carvalho Soares. É funcionário da justiça do Estado, 41 anos. Foi na Rua México, junto à Rua Santa Luzia.
O delírio: vencedor numa das batalhas contra a PM, na avenida Rio Branco, o rapaz partiu para a depredação.
O tributo a pagar: Jani Barros Lopes, 20 anos, estudante da faculdade de Filosofia da UEG, foi baleada perto do Edifício Avenida Central.
A ajuda: Ferida no primeiro tiroteio, perto da Embaixada americana, Márcia Juekiewi, estudante de Estatística foi socorrida por populares.
A carga: cada vez que os cavalarianos passaram pela Rio Branco, receberam verdadeira chuva de pedras, tinteiros, cinzeiros e sacos de água. O soldado caiu, em pleno desespero.
O aplauso: nas escaramuças, populares juntavam-se aos pelotões de frente, contra a Polícia. Do alto dos edifícios vinham as palmas solidárias.”
(Jornal do Brasil, edição de 22 de junho de 1968)
	O Caderno B é considerado de extrema importância dentro da caracterízação do JB como um jornal importante dentro da história do jornalismo brasileiro. Desde sua criação ele foi considerado um diferencial dentro do jornal, por, desde então, ter se constituído como um caderno cultural de alta qualidade. Isso só ficou mais enfático à medida que o caderno foi crescendo dentro do jornal e ganhando colunas assinadas por figuras ilustes “como escritores e intelectuais que atuavam na esfera artística e em outras esferas da atividade humana de modo a contribuir para a construção dos sentidos em relação aos acontecimentos sobre o cinema, o teatro e os espetáculos musicais em tom de crítica, de debate e sem deixar de estabelecer relação com a política e a economia do país”. Esse tipo de perfil ficou ainda mais acentuado na década de 1960, quando o caderno passou a não somente informar como a ter o intuito de formar opiniões, principalmente no período da censura instalada no AI-5.[27: FERREIRA, Vilma Moreira. A contribuição do Caderno B do Jornal do Brasil durante o período de repressão política do regime militar.	Disponível em: http://goo.gl/Q8p4cZ. Acessado em 24/11/2013 17h58][28: FERREIRA, Vilma Moreira. A contribuição do Caderno B do Jornal do Brasil durante o período de repressão política do regime militar.	Disponível em: http://goo.gl/Q8p4cZ. Acessado em 24/11/2013 17h58]
	
	A Marcha dos Cem Mil, como ficou conhecida a manifestação ocorrida no dia 26 de junho de 1968, foi o retorno daqueles estudantes que haviam sido enfrentados duramente pela polícia menos de uma semana antes. Entretanto, dessa vez, o apoio popular tinha vindo em peso, com o Jornal do Brasil, no dia seguinte, anunciando 60 mil pessoas somente. Além disso, a passeata só vinha retratada na capa por uma fotografia, não tendo espaço para texto. A legenda dizia: “Após vários discursos na escadaria da Assembléia, os manifestantes seguiram pela Rio Branco e foram até a Igreja da Candelária”. Porém, dentro do jornal, na página 18 (da versão digitalizada), é feita basicamente uma retrospectiva geral de todo o andamento da passeata. Na página seguinte (representada ao lado) há diversas fotografias e uma reportagem que se estende falando sobre a manifestação, ainda, e sobre o principal líder do movimento: Vladimir Palmeira, presidente da UME (União Metropolitana de Estudantes) que depois foi preso e conseguiu exilar-se no exterior. 
O momento seguinte à Marcha dos Cem Mil era de um ligeiro otimismo, comparado com o momento seguinte à outra manifestação, da sexta-feira sangrenta. Fora uma vitória para o movimento estudantil conseguir todas aquelas pessoas em tão pouco tempo para se manifestarem de acordo com os seus ideais, fora uma vitória do movimento ter conseguido uma marcha tão pacífica como foi. “Em contraposição aos violentos conflitos da semana anterior, a passeata foi pacífica e não encontrou repressão policial em seu caminho. Até hoje ela se constitui como um dos marcos mais importantes da “geração 68” no Brasil, assim chamada pelo compartilhamento de alguns eventos marcantes e definidores de uma dada época. Mas esta manifestação foi o ponto máximo da mobilização estudantil. A partir daí o movimento estudantil entrou em refluxo. No Rio de Janeiro as manifestações estudantis passaram a ser reprimidas a bala”.[29: Humboldt. Revoltas de 1968... e quarenta anos depoisDisponível em: http://www.goethe.de/wis/bib/prj/hmb/the/fol/pt3701467.htm. Acessado em 24/11/2013 17h08.]

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