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Apostila de Psicologia Parte 1

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www.educapsico.com.br 
 
 
 
 
PREFEITURA DE OSASCO – SP 
EDITAL Nº 001/2014 
 
Parte I 
 
 
Junho/2014 
 – Reprodução Proibida – 
 
 www.educapsico.com.br 
 
2 
 
Organizadores/Elaboradores: Rafael Trevizoli Neves e Tauane Paula Gehm. 
 
Elaboradores de outros materiais Educa Psico utilizados nesta apostila: Ana Carolina 
Naves Magalhães; Ana Lívia Babadopulos; Domitila Shizue Kawakami Gonzaga; Fabiana 
Rego Freitas; Fernanda Augustini Pezzato; Luciana Esgalha Carnier; Patrícia Ribeiro Martins; 
Rodrigo Pucci; Telma Luiza de Azevedo. 
 
Revisão e formatação: Flávia Aparecida Ferretti de Lima. 
 
Texto de apresentação do material: 
 
As apostilas específicas da Educa Psico abordam os conteúdos de Psicologia 
publicados no edital para o qual o material foi elaborado. 
 
A elaboração tem como base os conteúdos das apostilas (temáticas e específicas) 
da Educa Psico. Esses conteúdos são revisados por especialistas de cada área buscando a 
máxima adequação ao que é exigido no edital. Além disso, esses especialistas elaboram 
textos inéditos, caso haja necessidade pelas exigências do edital. 
 
A proposta deste material é auxiliá-lo na organização dos seus estudos, 
possibilitando que você se dedique aos principais conteúdos de psicologia que foram 
sugeridos no edital. Importante que você busque também outras fontes de estudo para que 
possa potencializar seu desempenho na prova. 
 
 
 Bons estudos! 
 
Equipe Educa Psico. 
 
 
 www.educapsico.com.br 
 
3 
 
Sumário 
 
Unidade I – História da Psicologia e Principais Vertentes Teóricas....................................4 
 
1.1. Primeiras Palavras...........................................................................................................4 
 
1.2. Psicologia como ciência: bases epistemológicas.........................................................4 
 
1.3. Pioneiros da Psicologia Científica................................................................................19 
 
1.4. Estruturação da psicologia no século XX: escolas psicológicas...............................25 
 
1.5. Deficiência física e intelectual: desafios para a atuação do psicólogo.....................51 
 
1.6. Referências.....................................................................................................................67 
 
 
Unidade II – Avaliação Psicológica, Psicopatologia e Teorias e Técnicas 
Psicoterápicas......................................................................................................................69 
 
2.1. Primeiras palavras.........................................................................................................69 
 
2.2. Métodos e técnicas de avaliação psicológica..............................................................69 
 
2.3. Modos de funcionamento normal e patológico do psiquismo humano.....................96 
 
2.4. Teorias e técnicas psicoterápicas..............................................................................118 
 
2.5. Referências...................................................................................................................165 
 
 
 
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4 
 
UNIDADE I – HISTÓRIA DA PSICOLOGIA E PRINCIPAIS VERTENTES TEÓRICAS1 
 
1.1. Primeiras Palavras 
O tema desta unidade é a história da Psicologia como ciência, suas principais vertentes 
teóricas e alguns dos desafios enfrentados pelo psicólogo na atuação junto à pessoa com 
deficiência. Essas temáticas correspondem aos seguintes tópicos presentes no edital do 
concurso: Psicologia como ciência – bases epistemológicas; Pioneiros da psicologia científica; 
Estruturação da psicologia no século XX – escolas psicológicas; Deficiência física e intelectual 
– desafios para a atuação do psicólogo. Boa leitura! 
 
1.2. Psicologia como ciência: bases epistemológicas2 
A subjetividade humana e a explicação dos comportamentos não poderiam ficar de 
fora dos interesses da ciência, mas foi apenas a partir da segunda metade do século XIX que 
começaram a surgir os primeiros projetos de Psicologia como ciência independente. A criação 
de uma nova ciência autônoma em relação a outras áreas do saber é algo complexo, pois é 
necessária a existência de um objeto próprio e de métodos adequados para o estudo deste 
objeto. Para a Psicologia, esta tarefa foi algo ainda mais complicado, uma vez que toda a 
filosofia da Antiguidade incluía noções de conceitos relacionados ao domínio da ciência 
psicológica, como os de “espírito” ou “alma”. Posteriormente, na Idade Moderna, fisiologistas, 
anatomistas, médicos e filósofos procuraram explicar o comportamento humano voluntário e 
involuntário; além disso, começaram a se constituir, naquele momento, as ciências da 
sociedade, como a História, a Economia Política, a Antropologia, a Sociologia e a Linguística. 
Essas ciências também se propunham a estudar o comportamento humano, particularmente 
os mais importantes para a comunidade e suas condições históricas e culturais. Assim, os 
temas que poderiam ser estudados pela Psicologia encontravam-se dispersos em diversas 
ciências biológicas e sociais. O que restaria para a Psicologia como ciência independente? 
(FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Auguste Comte (1798-1857), filósofo francês do século XIX, defendia que nada cabia 
à Psicologia no seu sistema de ciências. Para ele, o que impedia a existência de uma ciência 
psicológica era seu objeto, a mente, que, não se tratando de algo observável, não se 
enquadraria no seu molde de ciência positivista. Entretanto, o próprio Comte admite, em dado 
momento, a possibilidade de uma ciência psicológica, desde que dependente de outras 
 
1 Unidade organizada por Tauane Paula Gehm. 
2 Fonte: Apostila História da Psicologia. Elaborado por Fernanda Augustini Pezzato e Telma Luiza de Azevedo. 
Adaptado por Tauane Paula Gehm. 
 
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5 
 
ciências, como a Biologia e a Sociologia. Esta relação estreita com outras ciências é bem 
presente até hoje na Psicologia, que ainda tenta firmar-se como ciência, reivindicando um 
lugar à parte enquanto ciência e profissão (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). Para que isto 
ocorra é preciso respeitar as diferentes abordagens, mas considerar a Psicologia de maneira 
integrada. E, para tanto, é fundamental tentar compreender as origens e as implicações da 
existência desta disciplina. 
 
“Não resta dúvida que a emergência histórica de cada uma das 
ciências humanas se deu por ocasião de um problema, de uma 
exigência, de um obstáculo de ordem teórica e prática; certamente 
foram necessárias as novas normas que a sociedade industrial impôs 
aos indivíduos para que, lentamente, durante o século XIX, a 
psicologia se constituísse como ciência; não há dúvida também que 
foram necessárias as ameaças que desde a Revolução pesaram 
sobre os equilíbrios sociais, e sobre aquele particularmente que havia 
instaurado a burguesia, para que aparecesse uma reflexão de tipo 
sociológica.” (FOUCAULT, 2002, p. 476) 
 
 
1.2.1 O Objeto de Estudo da Ciência Psicológica 
Para que existisse um interesse em conhecer cientificamente “o psicológico” eram 
necessárias a existência e a consciência da individualidade e subjetividade humana. Apesar 
de parecer-nos óbvio e “natural” a consciência e a existência de nossa subjetividade 
privatizada nos dias atuais, não foi sempre assim. Antropólogos e historiadores mostraram 
em suas pesquisas que essas formasde pensarmos e nos sentirmos não são universais. 
Nossa experiência privada com emoções, sentimentos e tomadas de decisões só se 
desenvolveu, se aprofundou e de difundiu em uma sociedade com determinadas 
características que permitiram: 1) uma experiência muito clara da subjetividade privatizada e, 
2) a experiência da crise desta subjetividade (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Mas, que características sociais foram essas? 
 
1.2.2 Condições Socioculturais para o Surgimento da Psicologia como Ciência 
1.2.2.1 A Experiência da Subjetividade Privatizada 
Ao longo do século XIX, o sentimento de identidade individual se fortalece. A transição 
de hierarquia feudal para a sociedade de classes burguesa favorece a adoção de uma nova 
 
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6 
 
perspectiva na qual o tradicionalismo perde terreno para a nova ordem social emergente, 
agora urbana. O nome/sobrenome deixa de ser garantia de existência de patrimônio 
transmitido passando a ter cunho de posse do pequeno comerciante e das novas famílias. Ao 
longo de 1900, a circulação do correio contribuiu para a propagação e acúmulo de símbolos 
do eu e sinais de posses individuais. Neste período, até os animais de estimação ganham 
nomes (CORBIN, 1991). 
 Aos poucos, contemplar a própria imagem deixa de ser um privilégio. O olhar para si 
permite a organização de uma nova identidade cultural. E, o que antes, entre os camponeses, 
era apenas percebido através do olhar do outro, com a difusão dos espelhos de corpo inteiro 
permite o afloramento da estética do belo (CORBIN, 1991). 
 Outro fator importante para a afloração deste sentimento de identidade individual é a 
difusão social do retrato como um esforço da personalidade para afirmar-se e tomar 
consciência de si mesma. “Adquirir e afixar sua própria imagem desarma a angústia; é 
demonstrar sua existência, registrar sua lembrança”. O burguês através do retrato, ao 
contrário da aristocracia que queria firmar sua “linhagem” vê no retrato sua tomada de posição, 
inauguração de seu êxito pessoal, uma vez que é familiarizado com o papel de pioneiro e 
herói. “O retrato com o seu poder inovador de reproduzir o desejo da imagem de si é 
convertido ao mesmo tempo em mercadoria e em instrumento de poder” (CORBIN, 1991, p. 
425). 
 A democratização do retrato se dará pela fotografia, que se tornará uma arte de 
alcance pelo homem do povo. A representação e posse de sua própria imagem democratizam 
o desejo do atestado social. A percepção da estética do belo, o gestual, a encenação e a 
utilização das mãos dão outras perspectivas à existência deste homem. A foto também renova 
a nostalgia, a partir dela se tem a possibilidade de rememorar parentes ausentes, 
antepassados desconhecidos ou momentos antigos. Consolida-se um processo de mudança 
de referência da memória familiar, uma vez que a posse de um símbolo que remete a um 
antepassado possibilita a valorização da percepção visual em detrimento da relação orgânica 
(CORBIN, 1991). 
A busca do reconhecimento social, de registrar a sua própria existência faz com que 
pessoas cometam até atrocidades em busca de um reconhecimento, uma notoriedade 
heroica. O movimento de individualização da multidão crescente que habita as cidades, junto 
ao neokantianismo3 que inspira os dirigentes e aos avanços tecnológicos, como a descoberta 
 
3 Retomada aos princípios de Immanuel Kant, considerado o último grande filósofo dos princípios da era moderna. 
Da escola iluminista, sua obra mais conhecida é a Crítica da razão pura, de 1781, porém, no caso da citação, 
refere-se à influência kantiana a partir de sua filosofia moral. 
 
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7 
 
por Pasteur da existência do micróbio no campo da biológica, são empregados ao campo 
social com a necessidade de controle social (CORBIN, 1991). 
Durante muito tempo, quando se queria verificar os antecedentes de uma pessoa, sua 
idoneidade, se fazia uso de um certificado de boa conduta obtido, num primeiro momento, 
através do relato de outras pessoas. Esta prática, o boato, incita o desvendamento da vida 
privada, porém, como ela é dependente da ética e da fidedignidade de quem relata, a busca 
pelas singularidades individuais se tornou necessária. Como provar sua identidade? 
(CORBIN, 1991). 
Como até meados de 1880 a identidade é baseada apenas na memória visual, a 
facilidade de usurpar é muito grande. A administração do Estado continua à mercê de 
descrições imprecisas, mostrando assim sua ineficácia. No final do século, com o avanço 
tecnológico e a utilização da fotografia, tal impasse foi superado (CORBIN, 1991). 
Com o surgimento e a divulgação das marcas individuais, como as impressões digitais 
(descobertas pelos chineses e utilizadas em grande escala pela polícia europeia no início do 
século XX), somados a outros dados descritivos, como nome, sobrenome, data e local de 
nascimento, filiação, descrição e foto do indivíduo criou-se a carta de identidade 
antropométrica, que era uma documentação de porte obrigatório para criminosos, 
comerciantes e industriais estrangeiros, nômades e itinerantes. Essa nova ameaça de 
violação sobre o segredo da vida privada gerou polêmicas e grandes discordâncias entre os 
diversos grupos da sociedade. O desenvolvimento ético (noção de liberdade, individualidade, 
subjetividade, privacidade etc.) e a aceitação da necessidade de autonomia entre os 
indivíduos foram delineando e limitando as relações entre os, agora, indivíduos. Não se pode 
perder de vista que a noção de indivíduo, individualidade, privacidade etc., foram 
desenvolvidas durante a nova ordem social capitalista proveniente após a revolução 
burguesa. O desejo de decifrar a personalidade que se oculta e de intrometer-se na intimidade 
dos outros é responsável pela ascensão no voyeurismo do fim do século XIX (CORBIN, 1991). 
O século XIX, erudito, irá romper com o primado da alma. O ideal de alma-guia e do 
princípio vital da alma é abandonado. Há uma tentativa de unificar os campos da Medicina e 
da Fisiologia. O foco, agora, se dá no campo fisiológico e moral, ao vínculo entre vida 
orgânica, vida social e atividade mental. A gênese do quarto individual cheio de símbolos 
transforma-se no templo da vida privada, prova a autonomia. A intimidade, no campo, começa 
a se delimitar por meio de cortinas, partições e biombos que sinalizavam a privacidade. Em 
torno de 1900, com a difusão dos sanitários e, num segundo momento, os banheiros, os 
corpos nus estão livres de maiores intromissões (CORBIN, 1991). 
 
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No século XX, esta visão de homem privilegia os anseios do corpo. O acentuamento 
do narcisismo é marcado por esta busca do prazer físico (CORBIN, 1991). 
A vida privada também sofre progressos com as novas formas de higienização. A nova 
classe ascendente quer se diferenciar do proletariado, e os novos métodos de purificação 
sinalizam e contribuem para a nova condição de desejo sexual e repulsão. Porém, os cuidados 
com o olhar para si, principalmente a masturbação, criaram uma preocupação e a 
normatização desta nova prática. A relação entre água e esterilidade era muito difundida, 
todavia o progresso vai se firmando numa relação vertical, da grande burguesia às classes 
inferiores, embora se trate ainda de uma higiene fragmentada – se tratando de apenas 
algumas partes do corpo, como rosto, mãos etc. (CORBIN, 1991). 
A população rural, acostumada a banhos nos rios, fica à margem desta cultura, porém, 
apenas até meados da Primeira Guerra Mundial. Somente com a massificação das duchas e 
chuveiros, por volta do iníciodo século XX, é que a revolução higiênica ocorre realmente 
(CORBIN, 1991). 
Dentre as normas do público versus privado, tem-se a distinção do dentro e fora: o uso 
de camisolas cabia apenas ao aposento, e ninguém senão o amante poderia ver uma mulher 
com tal traje. O uso de cabelos soltos também só poderia ocorrer privadamente. No caso dos 
homens, havia também restrições em relação à vestimenta (CORBIN, 1991). 
Nas condutas privadas, a sofisticação das lingeries valoriza a nudez, a mulher já tem 
possibilidade de se vestir sozinha, causando mais nuances em suas manobras amorosas 
(CORBIN, 1991). 
Dentre os espaços privados surge também o toalete, que prepara a aparição da cena 
pública: perfumes, pinturas, cores, sedosidades, rendas que fazem parte do universo 
feminino, em oposição às vestimentas sóbrias dos homens, reservando a este o status de 
laboral. O homem do século XIX apenas se orgulhava de seus pêlos, haja vista a quantidade 
de modelos de bigode que eram difundidos nesta época (CORBIN, 1991). 
Enquanto tais costumes são difundidos pouco a pouco, da cidade para o campo, tem-
se na mesma época a gênese da difusão das gravuras de moda. A grande existência de 
costureiras, de vendas por correspondência e outras formas mercantis aceleram esta difusão. 
A visão sobre os jovens começa um processo de modificação que desemboca na concepção 
moderna de adolescência (CORBIN, 1991). 
No ambiente de trabalho, era costume distinguir a ocupação do operário devido à 
vestimenta. A partir de 1860, o operário, nos feriados, utiliza os mesmos trajes da burguesia 
como forma de se mesclar a multidão, fazendo com que o repouso dominical se revista de um 
novo significado: mostrar-se sensível à moral da limpeza! (CORBIN, 1991). 
 
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Estas normas: do bem vestir, da higienização, da vestimenta remeter ao status 
socioeconômico, bem como do capitalismo emergente conduzem às práticas públicas e 
apontam para um novo hábito: o das compras (CORBIN, 1991). 
Em contrapartida, o pudor e a vergonha fazem com que seja instaurada a quebra do 
ritmo dos impulsos, como se fosse, assim, possível estancar as emoções a partir deste 
pensamento. Nesta tentativa de descorporificação tem-se a alusão a moças com faces de 
anjo, grandemente influenciada pelos pensamentos neoplatônicos. Marcando também esta 
época, tem-se a exaltação da virgindade e a ascensão do lirismo da castidade (CORBIN, 
1991). 
A partir de 1850, com influência católica, a antologia angelical relativa à época 
romântica se propaga durante este “século em que se afirma o primado da palavra masculina, 
é através da retórica do corpo, da elevação do olhar e do fervor do gesto que se opera o 
discurso feminino” (CORBIN, 1991, p. 451). 
 O pudor dos conventos abrange os lares: realizar o toalete na presença de outras 
pessoas, despir-se antes de deitar, práticas sexuais no quarto familiar tornaram-se práticas 
vergonhosas. Há a proliferação de quartos e leitos individuais, a instauração de internatos 
masculinos. A masturbação é vista de modo negativo. É nesta época que se passa a acreditar 
que os bebês nasciam dentro de couves e, gradativamente, a idade para o casamento vai 
aumentando (CORBIN, 1991). 
Por outro lado, em uma época em que se dá a elevação do indivíduo, em que se 
propicia a individualidade, tais medidas de contenção às práticas “solitárias” e às descobertas 
de novas possibilidades de prazer e satisfação seriam pouco eficazes e seriam o contrapeso 
a tamanhas medidas reguladoras e moralistas (CORBIN, 1991). 
Durante este período de regulamentação da vida, instaurou-se a divisão do dia em três 
partes de oito horas, na qual uma deveria ser dedicada ao sono, outra às atividades de estudo 
e de trabalho, e a terceira às práticas de lazer, à prática de esportes. O uso de diários era 
estimulado como forma de disciplinar a interiorização, porém esta busca retrospectiva do eu 
faz com que o diário, além de comportar angústias e arrependimentos, vislumbre aspirações 
e exercita o imaginário na construção de si mesmo (CORBIN, 1991). 
A literatura da época exarcebava a intimidade, propiciando a banalização das práticas 
introspectivas. As possibilidades do imaginário após 1830 foram ampliadas. Os idealismos 
sensoriais perdem terreno aos idealismos fabulosos em que se dá livre curso à imaginação, 
 
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10 
 
remetendo a cenários exóticos, a aventuras em terras longínquas, despontando o que 
Flaubert4 chama de tentação da vida sonhada e não vivida (CORBIN, 1991). 
Nas primeiras décadas do século XIX, o estado onírico se torna objeto de estudo de 
filósofos: o estado noturno da alma. Várias vertentes de pensamento se formaram, uns 
filósofos acreditavam que a alma também dormia, outros que ela velava o sono, bem como 
tinha também aqueles que acreditavam que ela repousava. Para os românticos, o sono 
equivale à alma, a um estado de ressurreição. Durante muito tempo a explicação da influência 
do mundo físico sobre o mundo moral explicava cientificamente os mecanismos oníricos. 
Estudiosos franceses, durante 1845 a 1860, acreditavam que os sonhos se tratavam de 
mecanismos de “regressão e dissolução de formas superiores de psiquismo, ficando relegado 
à loucura, à patologia, com foco no sonambulismo, hipnotismo e outros estados imprecisos 
nos limiares de sono” (CORBIN, 1991). 
Em 1855, com a publicação de Moreau de Tours, intitulada Sobre a identidade do 
estado de sonho e a loucura, inaugura-se uma ciência do sonho, que regerá os estudos do 
sonho até a introdução da Psicanálise. Segundo Jean Bousquet, somente a partir de 1780 os 
homens começaram a sonhar com coisas estranhas, bizarras e incompreensíveis, que 
constituem a trama do onirismo contemporâneo. A atividade noturna acompanha os anseios 
e conflitos diurnos, desta forma, não é raro o relato de sonhos com grande teor sexual em um 
momento em que germina a Psicanálise (CORBIN, 1991). 
O conteúdo dos sonhos, segundo Bousquet, até o final do antigo Regime – Idade 
Média – consistia em imagem do éden, com referência a paraíso e inferno. Progressivamente, 
as imagens de éden dão lugar também a imagens de jardins e paisagens, as imagens infernais 
dão lugar aos subterrâneos das cidades, assim como os sonhos de angústia que apontam 
aos delírios estudados pela Psiquiatria (CORBIN, 1991). 
Os atos involuntários dos sonhos e os episódios de desdobramento da personalidade 
se convergem em meados de 1850. A estes são somados os episódios bizarros dos estudos 
contemporâneos sobre sonho. Este percurso é objeto de estudo da hipótese antifreudiana da 
historicidade do sonho (CORBIN, 1991). 
O final do século XIX, num cenário de aumento do número de pessoas agnósticas e 
de pensadores livres, é marcado por novos eventos da vida espiritual, ilustrando a moda 
espiritualista emergente. Novos hábitos são incorporados à nova família burguesa, que agora 
 
4 Gustave Flaubert foi um importante autor realista francês, escreveu, em reação ao Romantismo do século XIX, 
Madame Bovary, livro que contesta os valores da burguesia. Flaubert criticava os valores burgueses e se dizia um 
estudioso da estupidez humana. 
 
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vela seus mortos e começa um processo de dimorfismo sexual, marcado pela conceituação 
da adolescência, juventude (CORBIN, 1991). 
O século XIX é a soma de dois períodos diferentes. Num deles, a sensibilidade barroca 
promove a exaltação da dor, grande apelo às iconografias e à literatura com forte influência 
neolamartiniana5, que exalta o sofrimento limítrofe ao sadismo(um grande exemplo é a 
massificação, neste período, da imagem de Jesus Cristo apontando o dedo para o seu tórax 
exposto); e o outro, por volta de 1850, em que há a distensão. Os temas da iconografia 
processualmente se transformam em formas de culto mais plástico, sinalizando uma nova 
fonte de emoção individual, o culto doméstico. A prece e o culto ensinado de mãe para os 
filhos aproximam ambos (CORBIN, 1991). 
No início de 1860, começa a se delinear uma nova religião com a Reforma 
Protestante6, com dogmas estreitos e moralizantes, vinculada ao capitalismo, que pregava a 
disciplina cotidiana em detrimento aos impulsos (CORBIN, 1991) 
As condutas de ternura se difundem e são aprofundadas, origina-se uma forma de 
interação entre homem e animal marcada pela dependência afetiva (CORBIN, 1991). 
Essas experiências construíram a noção de subjetividade privada, tal como a 
conhecemos hoje, e também as formas de pensamento da sociedade mercantil em fase de 
desenvolvimento nos séculos XVIII e XIX: a ideologia Liberal Iluminista e o Romantismo. De 
acordo com a ideologia Liberal, que embasou a Revolução Francesa, os homens são iguais 
em capacidades e devem ser iguais em direitos; sendo todos livres. Mas, para que esta 
liberdade exista e não se torne um caos, é preciso que todos sejam solidários uns com os 
outros. O Romantismo reconhece a diferença entre os homens e defende a liberdade de ser 
diferente, sendo necessário buscar uma união entre as diferenças por meio de intensos 
sentimentos (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 A importância da compreensão dos ideais iluministas e românticos se dá na busca de 
reduzir os inconvenientes da liberdade defendida por eles, que criaram condições para a 
instalação e aceitação de um sistema de docilização e domesticação dos indivíduos. Este 
sistema envolvia a elaboração e a aplicação de técnicas científicas de controle social e 
individual, chamado de Regime Disciplinar (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 O Regime Disciplinar impôs padrões fortes à conduta, à imaginação, aos sentimentos, 
aos desejos e às emoções individuais, o que contribuiu para reações de dissimular e 
 
5 Influenciada pela poesia de Alphonse de Lamartine, autor e expoente romântico francês. 
6 Reforma Protestante refere-se ao nome da revolução existente na França da época, em cada país o nome e a 
nova ordem religiosa foi peculiar, com outras e específicas denominações. Tais revoluções marcavam o fim da 
supremacia católica que, dentre outras coisas, condenava como pecado o acúmulo de dinheiro. 
 
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12 
 
esconder-se, além de sentimentos de mal-estar e de suspeitas dos homens em relação a si 
mesmos (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 
1.2.2.2 A Crise da Subjetividade Privatizada 
As condições sociais propiciaram a experiência da subjetividade privatizada e os ideais 
iluministas e românticos a afirmaram como algo inquestionável. Entretanto, o Regime 
Disciplinar levou os homens do século XIX a descobrirem que a liberdade e as diferenças são, 
em grande medida, ilusões. Os interesses particulares desencadearam conflitos, levando 
também ao questionamento da crença na possibilidade da fraternidade (FIGUEIREDO; de 
SANTI, 2000). 
Interesses antagônicos levaram os operários a se organizarem em sindicatos para 
reivindicarem seus direitos e, para combater estes movimentos, pôr ordem na vida social e 
defender os interesses dos produtores de uma nação contra as outras, cresceram o Estado, 
a burocracia, as grandes indústrias e o consumo de massa. Os homens passaram a 
perceberem-se menos únicos e menos diferentes dos demais, constatando que não eram tão 
livres e singulares quanto imaginavam (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Assim, surgem necessidades individuais de autoconhecimento (do porquê agimos de 
determinada maneira), ao mesmo tempo em que surge para o Estado a necessidade de 
recorrer a práticas de previsão e controle do comportamento: de como lidar com sujeitos 
individuais, educá-los de forma eficaz, treiná-los e selecioná-los para o trabalho. Ao Estado 
interessa também saber como é possível padronizar os indivíduos segundo uma disciplina, 
colocando-os a serviço da ordem social (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Assim, o Estado, com seu Regime Disciplinar, exigiu a produção de conhecimentos 
psicológicos com a finalidade de tornar mais eficazes suas formas de controle e os homens e 
suas subjetividades submetidas a estes controles e influenciadas pelos ideais liberais e 
românticos sentiram-se atraídos pelos estudos psicológicos (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Estão, então, dadas as condições para que, ao final do século XIX, fossem elaborados 
projetos de Psicologia como ciência independente e para o surgimento e a tentativa de 
definição do papel do psicólogo como profissional nas áreas da saúde, educação e trabalho 
(FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 
1.2.3. A influência de diferentes saberes sobre a construção da Psicologia 
Tendo entendido as condições socioculturais para o surgimento da Psicologia, 
podemos avançar mais um passo na compreensão da construção da psicologia como ciência 
independente, estudando suas influências filosóficas. Ou seja, o que nos interessa agora é 
 
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13 
 
saber o que se passava entre os cientistas e filósofos do século XIX que influenciaram seu 
aparecimento (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Isto porque foram os diferentes paradigmas que estes cientistas e filósofos 
desenvolveram que constituíram a Psicologia tal como é, com suas diferentes abordagens. 
Ao longo da história da Psicologia, desenvolveram-se diferentes escolas de pensamento, 
sendo cada qual um protesto efetivo contra o que a precedia. Na Psicologia contemporânea, 
identifica-se a influência das escolas antigas, embora nenhuma versão de escola de 
pensamento possa ser considerada uma versão completa do fato científico. Não se pode 
perder de vista que tais escolas de pensamento são estágios temporários, porém, 
indispensáveis ao desenvolvimento da psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Muitas ideias científicas tiveram que se desenvolver dentro da ciência antes que a 
Psicologia pudesse existir, como a proposição de que a explicação de um evento deve ser 
procurada dentro do mesmo sistema em que o evento ocorreu, que a observação é 
imprescindível para o alcance do saber científico e que o homem é uma parte da natureza e 
não o centro dela (MARX; HILLIX, 1976). 
 
1.2.3.1. Influências Filosóficas sobre a Psicologia 
O século XVII na Europa foi marcado pelo “fascínio pela máquina”, as pessoas 
estavam deslumbradas pela máquina, que era considerada como auxiliar à ciência. O relógio 
era considerado a mãe das máquinas. A filosofia que alimentaria a Psicologia mais adiante 
era do mecanicismo, a imagem do universo como uma grande máquina: “todos os processos 
naturais são mecanicamente determinados e poderiam ser explicados pelas leis da física” – 
filosofia natural (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998 p. 34). Galileu e Newton eram os grandes 
expoentes filosóficos, e o pensamento da época condizia com a ideia de que o universo em 
sua perfeição era causa e efeito de Deus e sua grande máquina, e, a partir do conhecimento 
das leis do universo, era possível prever como ele iria se comportar futuramente (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
 Teóricos como o físico inglês Robert Boyle, o astrônomo alemão Johannes Kepler e o 
filósofo francês René Descartes compartilhavam este mesmo pensamento e consideravam o 
universo como um grande relógio: organizado, previsível, observável e mensurável. De acordo 
com eles, a harmonia e a ordem do universo poderiam ser explicadasem termos de 
regularidades, assim como os relógios (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Quando visto como um relógio, o universo funciona sem nenhuma interferência 
exterior. A metáfora do relógio sobressai à ideia de determinismo. O reducionismo consistia 
no método de análise que foi propagado nesta nova ciência; o funcionamento da máquina 
 
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14 
 
poderia ser compreendido por meio da análise e redução dos seus componentes básicos, 
assim como também era possível estudar fenômenos físicos a partir dos átomos ou moléculas 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Assim, entre os séculos XVII e XIX, o funcionamento do relógio abriu caminho para o 
pensamento do ser humano como uma máquina. “As pessoas tornaram-se máquinas, o 
mundo moderno foi dominado pela perspectiva científica e todos os aspectos da vida 
passaram a ficar sujeitos a leis mecânicas” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998 p. 36). 
 René Descartes (1596-1650), em sua tentativa de resolver o problema da dualidade 
mente-corpo, trouxe grande progresso à Psicologia. Desde a época de Platão, a grande 
maioria dos pensadores assumiu a posição dualista: a mente e o corpo tinham naturezas 
diferentes. Segundo Descartes, a mente e o corpo interagiam no organismo humano 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Uma mudança relacionada a essa dualidade foi a nova condição existente proposta 
por Descartes, que enfocou a condição dual física/psicologia, o que passou a considerar não 
mais o estudo das almas, mas sim o estudo da mente e suas operações. Como resultado, os 
métodos de pesquisa abandonaram a posição metafísica e adotaram a observação objetiva 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Por considerar o corpo como um sistema mecânico, uma máquina, Descartes teorizou 
o conceito da undulatio reflexa, que se trata de um movimento não supervisionado nem 
determinado pela vontade de se mover. Graças a esta proposição, muitos o consideram como 
o teórico da teoria da ação-reflexa (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Descartes sugeriu que a mente dá origem a duas espécies de ideias: as ideias 
derivadas e as ideias inatas. As ideias derivadas são fruto das experiências sensoriais e as 
inatas independeriam da experiência sensorial, embora tais ideias pudessem ser 
manifestadas a partir de experiências apropriadas. Descartes identificou: o eu, Deus, os 
axiomas geométricos, a perfeição e o infinito, como exemplos de ideias inatas (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
 A conceituação de ideia inata culmina na teoria nativista da percepção e na escola da 
psicologia da Gestalt. Assim como também promoveu discordâncias entre empiristas e 
associacionistas, como Helmholtz e Wundt (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 As grandes contribuições cartesianas são: o conceito mecânico do corpo, a concepção 
de ação reflexa, a teoria da interação mente-corpo, a localização das funções mentais no 
cérebro e a doutrina das ideias inatas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
As ideias de Descartes foram fundamentais para o desenvolvimento da ciência 
moderna. O pensamento positivista do século XIX que toma conta de toda a ideologia 
 
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15 
 
científica foi proveniente do filósofo francês Auguste Comte, que empreendia um 
levantamento sistemático de todo o conhecimento produzido. Segundo o positivismo, o 
fenômeno deve ser baseado exclusivamente na objetividade dos fatos observáveis e 
indiscutíveis, sendo que o que é especulativo, o que não se mensura e passa a ser inferencial 
ou metafísico é rejeitado como ilusório (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Os ideais materialistas no campo da Filosofia acreditavam que todas as coisas podiam 
ser descritas em termos físicos e compreendidas à luz das propriedades físicas da matéria. E 
os empiristas estavam voltados para o modelo como a mente adquire conhecimento. Todo 
conhecimento era, desta forma, derivado da experiência sensorial (SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998). 
Neste período, a ideia inatista do conceito de mente afirmada por Descartes passa à 
concepção empirista de mente. Segundo o modelo empirista, a mente se desenvolve por meio 
do acúmulo progressivo de experiências sensoriais (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Os principais empiristas britânicos são: George Berkeley, John Locke, David Hume, 
David Hartley, James Mill e John Stuart Mill. 
A partir das ideias dos empiristas e associacionistas britânicos, o conhecimento passa 
a ser adquirido por intermédio da experiência (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
John Locke (1632-1704) estudou a aprendizagem ou como a mente adquire 
conhecimento. Ele nega o inatismo e, por conseguinte, a proposição cartesiana. Segundo 
Locke, o ser humano ao nascer não possui nenhuma forma de conhecimento. A ideia de Deus 
seria nos ensinada por adultos durante a infância, e o fato da impossibilidade de podermos 
nos lembrar da época em que tivemos consciência desta aprendizagem faria com que 
acreditássemos possuir alguma ideia a priori. O conhecimento era adquirido por meio da 
experiência, e todo conhecimento tem base empírica (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Outros nomes, como George Berkeley (1685-1753), sustentavam que todo 
conhecimento era uma função da pessoa que percebe ou passa pela experiência. Posição 
esta que foi mais tarde chamada de mentalismo, para denotar a ênfase em fenômenos 
puramente mentais. De acordo com a sua tese: sendo que tudo o que experienciamos é 
percebido, não podemos dar certeza à natureza física dos objetivos. Contamos apenas com 
a percepção que temos deles. Berkeley utilizou a teoria da associação para explicar o nosso 
conhecimento dos objetos do mundo real; esse conhecimento é uma composição de ideias 
simples unidas por associação, as ideias complexas são construídas associadas a ideias 
simples. Berkeley foi quem explicou pela primeira vez um fenômeno psicológico: o da 
percepção da profundidade, por termos de associação de percepções (SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998). 
 
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16 
 
David Hume (1711-1776) avançou no desenvolvimento da teoria associacionista a 
partir das ideias de Berkeley e Locke. Para Hume, a mente só é observável por meio da 
percepção e se trata de um fluxo de ideias, lembranças e sensações. Hume criou uma 
distinção entre impressões e ideias: as impressões seriam os elementos básicos da vida 
mental com a terminologia parecida com a utilizada hoje em dia; e as ideias são as 
experiências mentais que temos na ausência de objetos estimulantes, o equivalente a ideias 
hoje em dia seria a imagem (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Hume propôs as leis da associação: semelhança ou similaridade e contiguidade no 
tempo e no espaço. Quanto mais semelhantes e contíguas forem as ideias, mais depressa 
elas se associam (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
David Hartley (1705-1757) explicou processos psicológicos em termos mecânicos e 
tentou também explicar os processos fisiológicos a partir do referencial mecanicista. Hartley 
foi o primeiro a aplicar a doutrina da associação para explicar todos os tipos de atividade 
mental. Sua teoria das vibrações7 foi um desenvolvimento das ideias newtonianas, que 
afirmavam que os impulsos do mundo físico têm natureza vibratória. Hartley empregou esta 
formulação para explicar as operações do cérebro e do sistema nervoso (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
James Mill (1773-1836) propôs que a mente era uma entidade passiva que sofre a 
ação de estímulos externos; desta forma, a pessoa responde a esses estímulos de modo 
automático e é incapaz de agir com espontaneidade. Para Mill, a mente não tem função 
criativa porque a associação é um processo passivo8 (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
John Stuart Mill (1806-1873), por outro lado, acreditava que a mente tinha um papel 
ativo na associaçãode ideias, diferentemente das ideias atomicistas e mecanicistas do seu 
pai, James Mill, e denominou sua abordagem associacionista de química mental9 (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
 
1.2.3.2. Influências Fisiológicas e o Nascimento da Psicologia 
Era o ano de 1795. O astrônomo inglês Nevil Maskelyne advertiu seu assistente ao 
perceber que o tempo que uma estrela demorava para percorrer determinado percurso era 
 
7 Os nervos, sólidos – em negação à ideia de ocos, que Descartes postulava – transmitem impulsos de uma parte 
a outra do corpo. Tais vibrações provocam vibrações de menor intensidade no cérebro, que “[...] Hartley 
considerava os equivalentes fisiológicos das ideias” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 51). 
8 Ou seja, sensações ocorridas juntas numa certa ordem se reproduzem mecanicamente como ideias, e essas 
ideias acontecem na mesma ordem de suas sensações correspondentes. 
9 Sob influência dos pesquisadores da área de química que, naquela época, estavam demonstrando o conceito de 
síntese. Segundo a química mental de Mill, “[...] as ideias complexas surgem de combinações de ideias simples e 
possuem características não encontradas nesses elementos” (SCHULTZ; SCHULTZ,1998, p. 54). 
 
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17 
 
um intervalo maior do que o anotado por seu assistente. As advertências não geraram 
resultado e as diferenças continuaram a ocorrer. Com o passar do tempo, a distância entre as 
anotações aumentaram e, no final de alguns meses, a diferença entre as duas anotações era 
de oito décimos de segundo (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Vinte anos se passaram e, desta vez, um astrônomo alemão chamado Friedrick 
Wilhelm Bessel, muito interessado em erros de medida, suspeitou que tais erros de medidas 
fossem resultado de diferenças individuais, “[...] fatores pessoais que não se tem controle” 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 56). 
Ele testou sua hipótese e ela estava correta: então, haveria desacordos entre até 
mesmo os astrônomos mais experientes. Tal descoberta trouxe duas conclusões inexoráveis: 
a primeira é a de que deveria se levar em conta a natureza do observador humano, porque 
suas características pessoais influenciariam os relatos observados; e a segunda, referindo-se 
ao papel do observador, que também deveria ser relevante (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Assim, os cientistas passaram a investigar os mecanismos fisiológicos que nos 
possibilitam receber informações perceptuais e sensoriais do mundo que nos cerca 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
A pesquisa fisiológica que orientou o desenvolvimento da Psicologia como ciência foi 
proveniente do final do século XIX, derivada principalmente da produção acadêmica de 
Johannes Muller e sua teoria das energias específicas dos nervos10, e, mais precisamente, 
pela suada descoberta de áreas específicas do cérebro e o desenvolvimento de métodos de 
pesquisa. Porém, é instrutivo considerar os antecedentes (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Duas abordagens experimentais para o estudo do cérebro surgiram em meados do 
século XIX: o método clínico, desenvolvido em 1861, por Paul Broca, cirurgião de um hospício 
em Paris, que descobriu o centro da fala, mais tarde denominada área de Broca. E o uso de 
estímulos elétricos, introduzido em 1870, por Gustav Fritsch e Eduard Hitzig, que consistia em 
explorar o córtex cerebral com correntes elétricas fracas. Tais pesquisadores descobriram que 
a estimulação de determinadas áreas causava respostas motoras (SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998). 
Como já foi dito, havia até então duas teorias referentes ao modo de transmissão da 
atividade nervosa no corpo: a teoria dos tubos nervosos, de Descartes, e a teoria das 
vibrações de Hartley (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
10 Que nesta teoria propõe que a excitação de um nervo sempre produz uma sensação característica, uma vez 
que cada nervo sensorial possui energia específica. 
 
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18 
 
No final do século XVIII, Luigi Galvani, um pesquisador italiano, propôs que a natureza 
dos impulsos nervosos fosse elétrica, ideia que foi desenvolvida por Giovani Aldini, seu 
sobrinho. As pesquisas se desenvolveram com tanta rapidez que, no final do século XIX, a 
natureza elétrica dos impulsos nervosos já era aceita como fato (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Nesta época já existiam técnicas para investigar o corpo. Essas técnicas começam a 
ser utilizadas para explicar os processos psicológicos superiores. A Psicologia Experimental 
estava pronta para começar. 
Quatro cientistas são os responsáveis pelas primeiras aplicações do método 
experimental ao objeto de estudo da Psicologia: Hermann von Helmholtz, Ernst Weber, 
Gustav Theodor Fechner e Wilhelm Wundt, que concordavam que as únicas forças ativas no 
organismo eram as forças físico-químicas. Foi dessa maneira que o cerne do estudo da 
fisiologia se desenvolveu no século XIX: o materialismo, o empirismo, a experimentação e a 
medição (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Helmholtz (1821-1894) contribuiu para a Psicologia com suas pesquisas e descobertas 
acerca da velocidade do impulso nervoso (experimento referente à estimulação do nervo 
motor e ao músculo correspondente da perna de uma rã), e sobre a visão e a audição 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Ernest Weber (1795-1878) possuía grande interesse e contribuições provenientes da 
fisiologia dos órgãos sensoriais. Weber estudou novos campos sensoriais como sensações 
cutâneas e musculares, suas grandes pesquisas tratavam do limiar de dois pontos de 
discriminação da pele e a diferença apenas perceptível detectada pelos músculos (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
Gustav Theodor Fechner (1801-1887) demonstrou que a quantidade das sensações 
está ligada ao quanto se é estimulado. Assim, o autor propôs duas opções de se medir as 
sensações, sendo que uma delas é medindo se há ou não o estímulo e a outra é medir a 
intensidade do estímulo a partir do qual o sujeito relata a primeira sensação, denominado de 
limiar absoluto da sensibilidade (o ponto referente à intensidade do estímulo, abaixo do qual 
nenhuma sensação é relatada e acima do qual uma pessoa tem uma sensação) (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
As contribuições empiristas na história da Psicologia se deram a partir da ênfase 
empirista nos processos sensoriais, da análise da experiência consciente em seus elementos, 
da síntese de elementos para formar experiências mentais mais complexas por meio do 
processo da associação e da concentração nos processos conscientes. Os cientistas 
alemães, no mesmo período, estavam descrevendo como os sentidos funcionam. Na 
Alemanha, a Fisiologia Experimental estava firmemente estabelecida, já que a Alemanha, ao 
 
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19 
 
contrário da França e da Inglaterra, acolheu a Biologia, que se utilizava da descrição e da 
categorização no estudo de objetos. O espírito positivista possibilitou que houvesse uma 
convergência destas duas linhas de pensamento; só faltava alguém que fundasse esta nova 
ciência emergente (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Wilhelm Wundt foi o fundador da Psicologia como disciplina acadêmica formal. Wundt, 
a primeira pessoa que foi considerada psicólogo, e ainda criou o primeiro laboratório, editou 
a primeira revista e deu início à Psicologia Experimental como ciência (SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998). 
Por que Wundt e não Fechner? 
Segundo Boring (1950, p. 194 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 72),: 
 
“Quando todas as ideias centrais já nasceram, algum promotor se 
apossa delas e as organiza, acrescentando tudo o mais que lhe 
pareça essencial, publica-as e divulga-as, insiste nelas e, emresumo, 
funda uma escola”. 
 
1.3. Pioneiros da Psicologia Científica11 
1.3.1 Wundt 
O cientista alemão, Wilhelm Wundt (1832-1920) é considerado o pioneiro na 
formulação de um projeto de Psicologia Científica e criador dos primeiros institutos de 
pesquisa e formação profissional. Ele considerava que a Psicologia estava localizada no limiar 
entre as ciências da natureza e da cultura, sendo assim, sua obra compreende desde a 
Psicologia Experimental até a social (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
O ato de criar o primeiro laboratório de Psicologia necessitava que houvesse elevado 
grau de conhecimento em Fisiologia e em filosofias contemporâneas, além da capacidade de 
relacionar essas disciplinas de maneira eficaz. Para realizar seu objetivo de estabelecer uma 
nova ciência, Wundt se posicionou em rejeição ao passado não científico e eliminou a relação 
intelectual entre a nova Psicologia Científica e a velha filosofia mental (SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998). 
Ao postular que o objeto de estudo da Psicologia consistia na experiência consciente 
e ainda que a Psicologia era uma ciência baseada na experiência, Wundt pôde evitar 
 
11 Fonte: Apostila História da Psicologia. Elaborado por Fernanda Augustini Pezzato e Telma Luiza de Azevedo. 
Texto adaptado por Domitila Shizue Kawakami Gonzaga e Tauane Paula Gehm. 
 
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discussões a respeito da natureza da alma imortal e seu relacionamento com o corpo mortal. 
Para Wundt, a Psicologia não tratava desse assunto (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Assim, o objeto de estudo dessa nova Psicologia é a experiência imediata dos sujeitos; 
esta experiência é o que o sujeito vive antes mesmo de se pensar sobre ela, antes de poder 
falar sobre e para ela e tampouco de conhecê-la (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 Mas Wundt não apenas se propunha a descrever a experiência humana, queria ir além. 
Para tanto, ele: 
 1) utilizava o método experimental para pesquisar os processos elementares da vida 
mental, especialmente físicos e fisiológicos. Fazia pesquisas em laboratórios analisando 
elementos da experiência imediata e as formas mais simples de combinação destes 
elementos (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
2) analisava fenômenos culturais, como linguagem, mitos e religião. Segundo Wundt, 
esses fenômenos se manifestariam por meio de processos mentais superiores, como o 
pensamento e a imaginação, e assim poderiam ser estudados. Para estudá-los, não se 
utilizava do método experimental, mas de métodos comparativos da Antropologia e da 
Filologia (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 O objetivo das pesquisas para o autor era investigar como se originavam as coisas, 
uma vez que para ele a experiência imediata ultrapassava as coisas desorganizadas e 
também as combinações mecânicas dos elementos. De forma que a experiência imediata 
poderia ser considerada uma síntese criativa, na qual a subjetividade do processo poderia ser 
reconhecida como vontade e capacidade de criação (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 Wundt considerava que existiam dois tipos de causalidade, a física e a psíquica. Esta 
última, a vida mental, seria independente dos princípios que explicam o comportamento dos 
corpos físicos e fisiológicos. Ele não conseguia entender como no homem essas duas 
causalidades se ligavam e, por isso, acabou criando duas psicologias: a Fisiológica 
Experimental, na qual a causalidade psíquica é reconhecida, mas não é enfocada em 
profundidade, e a Psicologia Social ou “dos povos”, na qual a preocupação era a de estudar 
os processos criativos, nos quais a causalidade psíquica aparece com mais força 
(FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 A grande dificuldade de Wundt residiu no momento de juntar os dois enfoques 
(fisiológico e cultural), de compreender o homem como uma unidade psicofísica. Em 
decorrência disso, seus discípulos, em sua maioria, desistiram de dar continuidade às suas 
pesquisas e procuraram por soluções menos complicadas, apesar de menos ricas 
(FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 
 
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21 
 
1.3.2 Titchener 
Titchener (1867-1927) foi um dos mais famosos alunos de Wundt e um dos principais 
responsáveis pela divulgação de sua obra nos EUA. Titchener tentou colocar a Psicologia no 
campo apenas das ciências naturais, redefinindo o objeto de estudo (FIGUEIREDO; de 
SANTI, 2000). 
Para tanto, Titchener alterou o sistema de Wundt, propondo sua própria abordagem, à 
qual deu o nome de estruturalismo e afirmou que era um continuador dos trabalhos de Wundt. 
Contudo, os dois sistemas eram diferentes: descartou a ênfase wundtiana na apercepção e 
se concentrou nos elementos que compõem a estrutura da consciência, analisar a consciência 
em partes separadas e, assim, determinar sua estrutura (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Objeto de estudo: a experiência dependente de um sujeito, que é concebido como 
um organismo, como um sistema nervoso, ou seja, a experiência consciente. Assim, Titchener 
dizia ir além da experiência imediata do sujeito, buscando elucidá-la por meio de justificativas 
fisiológicas. Ele não negava a existência da mente, mas a destituía de autonomia, uma vez 
que dependia sempre e se explicava apenas em termos do sistema nervoso (FIGUEIREDO; 
de SANTI, 2000). 
Titchener descreve as experiências em termos psicológicos, mas as explica com 
termos emprestados das ciências naturais. Por um lado, a Psicologia perde sua 
independência como ciência (depende da fisiologia), mas, por outro, diminuem os problemas 
com a unidade psicofísica. Titchener defendia o chamado paralelismo psicofísico, em que os 
atos mentais ocorreriam lado a lado com os processos psicofisiológicos. Por andarem lado a 
lado, seria possível fazer uma ciência psicológica, utilizando-se apenas de métodos das 
ciências naturais: observação e experimentação (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
As três finalidades da Psicologia, segundo Titchener são: 1) reduzir os processos 
conscientes aos seus componentes mais simples ou básicos; 2) determinar as leis mediante 
as quais esses elementos se associam; 3) conectar esses elementos às suas condições 
fisiológicas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Os métodos utilizados por Titchener foram, portanto, de auto-observação ou 
introspecção. Sujeitos experimentais eram treinados para observar detalhadamente e 
descrever objetivamente suas experiências subjetivas em situações controladas de 
laboratório (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Ao comparar esses dois autores podemos observar que Wundt procura ser fiel à 
concepção de Psicologia como ciência intermediária, mas acabou encontrando grandes 
problemas metodológicos. Entretanto, a riqueza de sua teoria é inspiradora para os 
pesquisadores do futuro. Já Titchener, pelo contrário, ao subordinar a Psicologia às ciências 
 
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22 
 
naturais, simplificou as questões metodológicas. Mas, por outro lado, tal simplificação reduziu 
o alcance e o interesse de suas propostas (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
 
1.3.3 Dewey, Angel e Carr: A Psicologia Funcional 
A Psicologia Funcional de J. Dewey (1859-1952), J. Angel (1869-1949) e H. A. Carr 
(1873-1954) surgiu nos EUA e também se situava no campo das ciências naturais, mas se 
opunha à proposta titcheriana (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
O objeto de estudo desses autores eram os processos, as operações e os atos 
psíquicos, e, por considerarem a Psicologia como pertencentes à área das ciências biológicas, 
acreditavam que essas condições eram formas de interação adaptativa (FIGUEIREDO; de 
SANTI, 2000). 
A Psicologia Funcionalista foi baseada nos princípiosda biologia evolutiva, segundo a 
qual os seres vivos sobrevivem se têm suas características comportamentais adequadas à 
adaptação no ambiente. Dentre essas características comportamentais estariam também os 
fenômenos psíquicos, que seriam instrumentos de adaptação e se expressariam nos 
comportamentos adaptados (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
Os métodos de pesquisa utilizados por eles eram diversos; não excluíam a auto-
observação, apesar de não aprovarem a introspecção experimental titcheriana, por considerá-
la muito artificial. Consideravam também a introspecção pouco confiável, uma vez que é 
impossível conferir se uma auto-observação foi bem feita, tornando difícil alcançar um acordo 
fidedigno. Como alternativa, os funcionalistas que consideravam que os processos e as 
operações mentais se expressavam em comportamentos, propuseram o estudo indireto da 
mente a partir dos comportamentos observáveis (FIGUEIREDO; de SANTI, 2000). 
A teoria da evolução fez surgir a possibilidade de uma relação entre o desenvolvimento 
psicológico entre os homens e os animais inferiores. Antes de Darwin publicar sua teoria, não 
havia motivo para que os cientistas se interessassem pelos processos psicológicos dos 
animais, já que estes eram considerados “[...] desprovidos de mente, autômatos sem alma” 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 138). 
Se o homem tinha evoluído a partir de animais primitivos, existiriam então 
semelhanças no funcionamento psicológico dos homens e dos animais. O estudo do 
comportamento animal podia agora ser considerado vital para uma compreensão do 
comportamento humano. Outro fator relevante era a diferença individual, a evolução não 
poderia ocorrer se toda geração fosse idêntica à dos seus pais, portanto, a variação era um 
importante pilar da teoria evolutiva (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
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23 
 
 A precoce e vigorosa oposição ao estruturalismo fez com que o funcionalismo se 
tornasse parte da principal corrente da Psicologia americana. Como resultado, a pesquisa 
sobre o comportamento animal, que não fazia parte da abordagem estruturalista, tornou-se 
elemento fundamental da Psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 A Psicologia Funcionalista também comporta estudos de bebês, crianças e pessoas 
com necessidades especiais. E a agregação de métodos como a pesquisa fisiológica, os 
testes psicológicos, os questionários e as descrições objetivas do comportamento eram fontes 
de informação para a Psicologia Funcionalista em oposição ao estruturalismo, que repudiava 
tais métodos (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 As diferenças individuais foram muito estudadas por Francis Galton, que aplicou 
efetivamente o princípio da evolução à Psicologia com seu trabalho sobre os problemas da 
herança psicológica e das diferenças individuais na capacidade humana (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
 
1.3.3.1 A Herança do Funcionalismo: A Psicologia Aplicada Americana 
A Psicologia Americana sofreu influência principalmente das ideias de Darwin e Galton, 
em comparação com o trabalho de Wundt. Apesar de Wundt ter treinado boa parte da primeira 
geração de psicólogos dos Estados Unidos segundo seus referenciais teóricos, poucos 
elementos da teoria psicológica wundtiana foram utilizados por tais psicólogos (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
A cultura americana, por possuir uma orientação pragmática, tinha interesse em uma 
Psicologia utilitária. Os psicólogos aplicados conduziram sua Psicologia para as escolas, 
fábricas, agências de publicidade, tribunais, clínicas de orientação infantil e centros de saúde 
mental, e a tornaram funcional em termos de objeto de estudo e utilização prática. Passados 
cerca de mais de 20 anos do início da Psicologia na Europa, os psicólogos americanos 
assumiram a liderança incontestável do campo. A psicologia era matéria obrigatória na 
graduação e tinha um número crescente de alunos entre os cursos universitários (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
A Psicologia fez estreia nos Estados Unidos, em 1893, na Feira Mundial de Chicago, 
na qual psicólogos organizaram exibições de aparelhos de pesquisa e um laboratório de 
testes em que, mediante o pagamento de uma taxa, os visitantes podiam ter suas capacidades 
medidas. Em 1904, uma exibição mais ampla foi realizada na Exposição de Compras da 
Louisiana, este evento contou com a presença de psicólogos renomados, como E. B. 
Titchener, Cornell, Lloyd Morgan, Pierre Janet, G. Stanley Hall, e um novo Ph.D. chamado 
John B. Watson (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
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24 
 
Os Estados Unidos propiciaram que a Psicologia se firmasse enquanto disciplina 
acadêmica e se popularizasse na vida cotidiana das pessoas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
A Psicologia Aplicada americana teve cinco expoentes, sendo eles os que seguem. 
Granville Stanley Hall recebeu o primeiro grau de doutor em Psicologia da América, 
além de ser o primeiro aluno do primeiro ano do primeiro laboratório de Psicologia. Fundou a 
primeira revista americana de Psicologia. Conhecido por psicólogo genético, por causa de 
seus estudos sobre o desenvolvimento humano e animal, e pelos seus estudos relacionados 
à adaptação. Tem seu mérito ao modificar a natureza da psicologia americana ao aplicá-la à 
criança e à sala de aula (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
James McKeen Cattell aplicava a Psicologia à medição de aptidões mentais. Estudou 
os processos psicológicos em termos de sua utilidade para o organismo. Cattel influenciou a 
Psicologia principalmente com seu trabalho aplicado sobre as diferenças individuais e com o 
desenvolvimento e uso de testes psicológicos para medir essas diferenças (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
Lightner Witmer, em 1896, substituiu Cattell na Universidade da Pensilvânia, foi ele 
quem abriu a primeira clínica de psicologia e fundou o que ele denominou de Psicologia 
Clínica. Foi um dos primeiros da abordagem funcionalista que acreditava que era dever da 
nova ciência ajudar as pessoas a resolverem seus problemas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
É importante ressaltar que a Psicologia Clínica praticada por Witmer não era a mesma 
Psicologia Clínica conhecida por nós hoje em dia. O seu trabalho estava voltado para a 
avaliação e o tratamento de problemas comportamentais e de aprendizagem de crianças em 
idade escolar (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Walter Dill Scott aplicou esta nova ciência junto à publicidade e aos negócios. Dedicou-
se aos estudos referentes ao mercado e ao ambiente de trabalho, bem como motivação e 
administração de pessoal. Scott descrevia como influenciar as pessoas, inclusive 
consumidores, públicos de palestras e trabalhadores (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Hugo Munsterberg, considerado o fundador da Psicologia Aplicada, foi professor da 
Universidade de Harvard, presidente da Associação Psicológica Americana e da Associação 
Filosófica Americana. Era um dos psicólogos mais populares de sua época, escreveu vários 
artigos em revistas populares e outros tantos livros. Munsterberg era requisitado como 
consultor por empresas e líderes governamentais, tendo entre suas amizades ricos, famosos, 
chefes de estados e intelectuais. E como particularidade também foi acusado de ser espião. 
Perto de sua morte foi alvo de escárnio e caricaturas em jornais. Quando morreu não houve 
elogios fúnebres para o homem que um dia fora considerado um gigante da Psicologia 
americana. Munsterberg foi muito influente na promoção de várias especialidades da 
 
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Psicologia Aplicada, influenciando a Psicologia Forense, a Psicologia Clínica e a Psicologia 
Organizacional (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
O desenvolvimento em direção ao funcionalismoera menos revolucionário que 
evolutivo, em decorrência disso, a passagem do estruturalismo ao funcionalismo não foi tão 
perceptível à época em que ocorreu (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
1.4. Estruturação da psicologia no século XX: escolas psicológicas 
1.4.1. Escola comportamental 
1.4.1.1. Precedentes do Comportamentalismo de Watson 
Edward Lee Thorndike é um dos mais importantes pesquisadores no desenvolvimento 
da Psicologia animal, elaborou uma teoria objetiva e mecanicista da aprendizagem baseada 
no comportamento manifesto. Tinha como convicção que a Psicologia teria que estudar o 
comportamento e não elementos mentais ou experiências conscientes de qualquer espécie, 
fomentando a tendência a uma maior objetividade provinda dos funcionalistas. Thorndike 
interpretou a aprendizagem em termos de relações entre o estímulo e a resposta, e negou o 
subjetivismo, apesar de fazer referência em alguns estudos à consciência e aos processos 
mentais (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Thorndike desenvolveu a lei do efeito em 1898, na qual 
 
“[...] todo ato que, numa dada situação, produz satisfação fica associada 
com a sua situação, de maneira que, quando a situação se repete, o ato 
tem maior probabilidade de se repetir do que antes. Inversamente, todo 
ato que, numa dada situação produz desconforto, se torna dissociado 
dessa situação, de maneira que, quando a situação repete, o ato tem 
menos probabilidade de se repetir do que antes” (THORNDIKE, 1905 
apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 222). 
 
Outra lei formulada por ele foi a lei do exercício ou lei do uso e desuso, a qual 
estabelece que apenas a repetição de uma resposta em uma situação pode fortalecer essa 
resposta (THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Também criou uma abordagem experimental em associação e deu o nome de 
conexionismo. Suas teorias tiveram amplo uso na educação, sua obra anunciou a ascensão 
da teoria da aprendizagem e foi um marco no associacionismo. A objetividade com que 
conduziu seus experimentos foi uma relevante contribuição ao comportamentalismo 
(THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
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Thorndike projetou a caixa-problema, na qual o animal posto sob privação de comida 
na caixa deveria aprender a operar um trinco para escapar e, do lado de fora, lhe era oferecido 
alimento. Na primeira tentativa, o comportamento de abrir a caixa ocorria ao acaso e, 
subsequentemente, os comportamentos aleatórios apareciam com menor frequência, até se 
extinguirem. Depois disso, o animal se comportava em conformidade com o aprendido tão 
logo era colocado na caixa. Suas técnicas consistiam em registrar o número de 
comportamentos que não levavam o animal a sair da caixa e percebia que esses 
comportamentos diminuíam de frequência. Outra técnica consistia em registrar o tempo, a 
latência de tempo entre o animal ser posto na caixa e a resolução do problema para sua saída 
diminuíam com o passar das tentativas (THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998). 
Ivan Petrovitch Pavlov trabalhou em três principais temas de pesquisa: o primeira diz 
respeito à função dos nervos cardíacos e o segundo era relacionado às glândulas digestivas 
primárias. Sua pesquisa sobre digestão lhe deu reconhecimento mundial em 1904, com o 
Prêmio Nobel. Sua terceira área de pesquisa é a que fez com que Pavlov ocupasse lugar de 
destaque na história da Psicologia, que consistia no estudo dos centros nervosos superiores 
do cérebro. Nas pesquisas referentes a este tópico realizou a técnica do condicionamento, 
sua maior realização científica (THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
A teoria sobre reflexos condicionados12 surgiu ao acaso, quando Pavlov estava 
fazendo experimentos sobre as glândulas digestivas dos cães. Este experimento verificava a 
função da saliva, que era secretada involuntariamente sempre que se colocava comida na 
boca do cão. Pavlov observou que, em alguns casos, a saliva era secretada sem que fosse 
colocada comida na boca do animal. Os cães salivavam antes de ser oferecida a comida, ao 
ver o alimentador ou até mesmo ao ouvir os passos do tratador. Esses reflexos psíquicos, 
como nomeou Pavlov, eram eliciados no animal por estímulos que não o original (alimento). 
Segundo Pavlov, tal fenômeno acontecia porque outros estímulos eram associados ao ato de 
alimentar-se. Com o tempo, a salivação passou de uma resposta reflexa natural do sistema 
digestivo, a qual foi nomeada de reflexo não condicionado, para uma resposta que deve ser 
aprendida devido a uma associação entre a visão da comida e sua ingestão, ou, segundo 
Pavlov, reflexo condicionado (THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
12 Nos Estados Unidos, em 1904, Edwin Burket Twitmyer apresentou em sua dissertação de doutorado um 
comportamento semelhante aos reflexos condicionados ao estudar o reflexo patelar. Foi um caso de descoberta 
simultânea. 
 
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Pavlov descobriu que qualquer estímulo poderia ser associado à ingestão de alimento, 
desde que não produzissem raiva ou medo: sinetas, luzes, campainha, entre outros 
(THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Um experimento típico de condicionamento consistia em apresentar um estímulo 
condicionado (luz) e imediatamente apresentando o alimento, o estímulo não condicionado. 
Após algumas apresentações, o cão salivava ao ser apresentada a luz. A consequência 
alimento é necessária para que a aprendizagem ocorra. O animal estaria então condicionado 
a responder ao estímulo condicionado; a luz torna-se um estímulo condicionado ao ser 
associada à comida (THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Pavlov também desenvolveu experimentos referentes à extinção de resposta, 
generalização, recuperação espontânea, discriminação e condicionamento (THORNDIKE, 
1905 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
1.4.1.2. Hans, o Cavalo Inteligente: 
História do cavalo mais famoso no campo da psicologia 
Hans, o cavalo prodígio, era muito famoso por volta de 1900, na Europa e nos Estados 
Unidos. Era certamente o quadrúpede mais inteligente que viveu. Na época, compuseram 
canções, escreveram peças teatrais sobre ele, além de livros e revistas. Era utilizado para 
vender produtos, enfim uma verdadeira celebridade (THORNDIKE, 1905 apud SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998,). 
O cavalo somava, subtraía, usava frações e decimais, lia, soletrava, fornecia as horas, 
diferenciava as cores, identificava objetos e dava fenomenais demonstrações de memória. 
Ele respondia às questões virando a cabeça em direção ao objeto ou dando batidas com a 
pata numa determinada quantidade de vezes. 
Hans também pensava sozinho quando lhe perguntavam algo complexo, como, por 
exemplo, a quantidade de vértices de um círculo, ele balançava a cabeça de um lado para o 
outro dizendo que não havia nenhum (FERNALD, 1984 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 
218) 
Seu dono era Wilhelm von Osten, um professor aposentado de matemática de Berlim, 
que passara vários anos ensinando Hans o que considerava o fundamento da inteligência 
humana. O senhor Wilhelm tinha finalidades científicas, queria provar que Darwin estava certo 
ao sugerir que os humanos e os animais têm processos e capacidades mentais semelhantes. 
E acreditava que os animais parecem menos inteligentes do que são devido à educação 
insuficiente (FERNALD, 1984 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
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Von Oslen não tirava proveito financeiro de Hans; nunca foram cobrados ingressos 
para as demonstrações que ocorriam no jardim de seu prédio e nuncase beneficiou da 
publicidade resultante (FERNALD, 1984 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Um comitê formado por um gerente de circo, um veterinário, treinadores de cavalos, 
um aristocrata, o diretor do zoológico de Berlim e o psicólogo Carl Stumpf, da Universidade 
de Berlim, foi criado para investigar o fenômeno e a ocorrência de fraudes. Em 1904, depois 
de uma extensa investigação, o comitê chegou à conclusão de que Hans não recebia sinais 
intencionais do proprietário, não havia fraudes nem enganos. Porém, Stumpf não ficou 
completamente satisfeito; ele estava interessado em saber como o cavalo respondia 
corretamente a um variado número de questões e nomeou um de seus alunos de pós-
graduação, Oskar Pfungst, que “[...] abordou a tarefa com o meticuloso cuidado de psicólogo 
experimental” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 217). 
Pfungst verificou, primeiramente, se Hans respondia corretamente sem a presença de 
seu dono. Pfungst formou dois grupos, um composto por pessoas que sabiam as respostas 
às perguntas feitas ao cavalo, e o outro de pessoas que não sabiam. Como resultado, Pfungst 
descobriu que Hans só sabia responder corretamente quando a pessoa que perguntava sabia 
a resposta. Hans recebia de algum modo informações das pessoas que lhe perguntavam, 
mesmo quando estas não eram conhecidas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Após uma série de experimentos, Pfungst concluiu que Hans fora condicionado 
inintencionalmente a começar a bater a pata sempre que percebesse o mínimo movimento 
descendente da cabeça de Von Oslen. Quando o número correto de batidas era alcançado, 
Von Oslen levantava ligeiramente a cabeça e, desta forma, o cavalo parava. Pfungst 
demonstrou que até as pessoas que nunca haviam se aproximado de um cavalo faziam os 
mesmos movimentos de cabeça ligeiramente perceptíveis quando falavam com o cavalo 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Assim, Hans não tinha um vasto conhecimento. Ele apenas aprendeu a começar a 
bater a pata ou a inclinar a cabeça na direção do objeto, sempre que quem lhe fizesse a 
pergunta movesse a cabeça em determinado sentido, e também foi condicionado a parar de 
bater em resposta assim que a pessoa emitisse outro tipo de movimento (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
Durante o treinamento, Von Oslen oferecia cenoura ou barras de açúcar todas as 
vezes em que o cavalo respondia corretamente; com o passar do treinamento, Van Oslen não 
precisava reforçar o comportamento do animal toda vez que o cavalo respondia corretamente 
e promovia a recompensa tanto parcial como intermitentemente (o que foi explicitado 
posteriormente por Skinner) (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
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Esse caso ilustrou o valor que pode ter a abordagem experimental para se estudar o 
comportamento animal e tornou os psicólogos descrentes quanto às afirmações de altos 
níveis de inteligência em animais; em contrapartida, ilustrou o entendimento de que os animais 
são capazes de aprender e podem ser condicionados a mudar seu comportamento 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
O relatório de Hans foi revisto por Watson e os resultados ali tratados influenciaram a 
promoção de uma Psicologia que tivesse como objeto o comportamento e não a consciência. 
Menos de 40 anos depois de sua fundação com Wundt, esta nova ciência, a Psicologia, já 
tinha sofrido drásticas revisões (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Os psicólogos não tinham um consenso em relação à introspecção que permeia as 
discussões da existência de elementos da mente e ainda sobre a necessidade de a Psicologia 
permanecer uma ciência pura (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 
1.4.1.3. O Comportamentalismo de Watson 
Em 1913, John B. Watson protagoniza um movimento de ruptura com as duas 
correntes vigentes no período: a funcionalista e a estruturalista. A esse novo movimento 
nomeou comportamentalismo (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Objeto de estudo: como Watson desejava uma Psicologia objetiva, delimitou como 
objeto os comportamentos observáveis, passíveis de descrição objetiva em termos de 
estímulo e resposta, sendo um ramo experimental puramente objetivo das ciências naturais. 
Tinha como interesse a aplicação em seres humanos de procedimentos e princípios 
experimentais da Psicologia animal. A Psicologia deveria prever e controlar o comportamento 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Para ser uma ciência objetiva, cabia à Psicologia não aceitar as concepções e 
terminologias mentalistas e, assim, tratar dos conceitos comportamentais de estímulo e 
resposta. Palavras como alma, mente e consciência13, herança da filosofia mentalista não 
tinham sentido para esta nova ciência (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Porém, as ideias que favoreceram o surgimento do comportamentalismo vinham 
sendo desenvolvidas na Psicologia e na Biologia há vários anos, uma vez que já vimos que 
fundar não é o mesmo que originar. Grande parte das novidades é novas combinações de 
antigos elementos, e o grau de novidade é uma questão de interpretação (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998). 
 
13 Segundo Watson, a consciência “[...] nunca foi sentida, nunca foi tocada, cheirada, provada ou movida. É uma 
simples suposição tão improvável quanto o velho conceito de mente” (WATSON; McDOUGALL, 1929, p. 14 apud 
SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 210). 
 
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Três grandes tendências influenciaram a obra watsoniana: a tradição filosófica do 
objetivismo e do mecanicismo; a Psicologia animal; a Psicologia Funcional, com maior 
impacto e influência das duas últimas tendências (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
A busca por maior objetividade é proveniente desde as ideias de Descartes, com suas 
tentativas de explicar o funcionamento do corpo humano por meio do mecanicismo, e no 
iluminismo de Auguste Comte, fundador do positivismo14 (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
Segundo Watson (1929 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 212), “O 
comportamentalismo é uma consequência direta de estudos sobre o comportamento animal 
feitos no decorrer da primeira década do século XX”. 
O método proposto por Watson era composto: 1- pela observação, com ou sem o uso 
de instrumentos; 2 – pelos métodos de teste; 3 – pelos métodos do relato verbal; 4 – pelo 
método do reflexo condicionado. A base necessária para todos os métodos é a observação. 
Para Watson, os testes mediam as respostas emitidas pelo sujeito mediante determinado 
estímulo, e não mensuravam nem a inteligência nem a personalidade, como determinadas 
teorias propunham (SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 Como Watson era contrário à introspecção por esta não ser passível de mensuração, 
declarou que as reações verbais, por serem objetivamente observáveis, são de extrema 
importância, assim como os demais comportamentos motores. “Dizer é fazer, isto é 
comportar-se” (WATSON, 1930 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998, p. 247). Porém, Watson, 
admitindo a inexatidão do relato verbal, propôs seu uso em ocasiões verificáveis, como, por 
exemplo, quando houvesse mudança de tons (WATSON, 1914 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 
1998, p. 247). 
 Seguindo a tradição atomicista e mecanicista dos empiristas britânicos, Watson 
acreditava que todos os comportamentos poderiam ser decompostos em unidades de 
estímulo-resposta (E–R). E era necessário que o comportamentalismo diferenciasse as 
respostas inatas das respostas aprendidas, e descobrisse leis gerais de aprendizagem para 
estas últimas (WATSON, 1914 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). 
 A partir de 1925, Watson recusou o conceito de instinto, que definia como respostas 
socialmente condicionadas. Num segundo momento, refutou a existência de capacidades, 
temperamentos ou talentos herdados de qualquer espécie. Sua posição tendia a um

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