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Material de Apoio Disciplina: Direito Civil III - Obrigações Curso: Direito - 4° Período ___________________________________________________________________________________ BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método ***Artigos para a avaliação do 1º Bimestre: 233 a 285 do CC. CONCEITOS INICIAIS Conceito de obrigação: relação jurídica transitória, existente entre um credor e um devedor e cujo objeto imediato é uma obrigação, sendo que no caso de inadimplemento o credor poderá satisfazer-se com o patrimônio do devedor. Elementos constitutivos: a) Subjetivos: credor (ativo): pessoa física ou jurídica devedor (passivo): em caso de descumprimento da obrigação, poderá responder com seu patrimônio. Atualmente, a posição de credor e devedor é recíproca (obrigações sinalagmáticas = ambos têm direito e dever). b) Objetivo: prestação, conteúdo da obrigação, coisa, tarefa ou abstenção (bem jurídico tutelado) c) Vínculo jurídico entre credor e devedor É o elo que sujeita o devedor ao cumprimento da obrigação Débito não é sinônimo de responsabilidade. Débito: significa um dever legal de cumprimento. Responsabilidade: surge quando o dever não é cumprido, ou seja, na ocasião do inadimplemento. Fontes obrigacionais: a) Lei: fonte primária de todas as obrigações. Pode determinar condutas ou punir condutas praticadas. Estado deve intervir na ocasião de descumprimento. 2 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método b) Contratos: negócio jurídico bilateral ou plurilateral com objetivo de criação, modificação ou extinção de direitos e/ou deveres com conteúdo patrimonial. O Estado somente intervirá se demonstrado motivo justificável, pois a regra é a autonomia da vontade das partes. c) Atos ilícitos (art. 186) e abuso de direito (art. 187): quando praticados podem gerar dever de indenizar. d) Atos unilaterais: promessa de recompensa (art. 854 e seguintes), gestão de negócios (atuação de uma pessoa em nome de outra – art. 861 e seguintes), pagamento indevido (Art. 876, CC e seguintes). e) Títulos de crédito: cheque, nota promissória, letra de câmbio, duplicatas. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO À PRESENÇA DE ELEMENTOS OBRIGACIONAIS A classificação quanto aos elementos obrigacionais considera a presença de pessoas e a quantidade de prestações na relação obrigacional. Simples: 1 credor + 1 devedor + 1 prestação Compostas: a) Múltiplos objetos = cumulativas ou conjuntivas / alternativas ou disjuntivas b) Múltiplos sujeitos = divisíveis, indivisíveis e solidárias (ativa, passiva e mista) OBRIGAÇÕES COMPOSTAS OBJETIVAS - cumulativa ou conjuntiva Obrigação pela qual o sujeito passivo (devedor) deve cumprir todas as prestações previstas, sob pena de inadimplemento total ou parcial. A inexecução de somente uma das prestações já caracteriza o descumprimento da obrigação. É geralmente identificada pela conjunção e. Não tem tratamento expresso pelo Código Civil. 3 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método Ex.: contrato de locação de imóvel urbano, pelo qual locador e locatário assumem obrigação cumulativa. a) O locador se obriga a entregar o imóvel e garantir seu uso pacífico e responder pelos vícios da coisa. b) O locatário se obriga a pagar o aluguel e pagar os encargos do imóvel e usar o imóvel conforme sua destinação. Percebe-se uma série de prestações com conteúdos diversos (dar, fazer, não fazer), de forma cumulada, sendo que o descumprimento de qualquer delas pode gerar o inadimplemento obrigacional. - alternativa ou disjuntiva Nesse caso, o Código Civil traz tratamento expresso (arts. 252 a 256). Tem-se mais de uma prestação obrigando o devedor. É geralmente identificada pela conjunção ou. Nessa modalidade de obrigação, o devedor poderá cumprir uma ou outra prestação, sendo que o cumprimento de uma delas o exonera totalmente. Ex.: contrato estimatório (venda em consignação), pelo qual o consignante (credor) transfere ao consignatário (devedor) bens móveis para que este promova a venda ou, ao término do prazo estipulado, devolva os bens ao credor. a) O devedor vende os bens e entrega o valor previamente estabelecido ou b) O devedor devolve os bens ao final do prazo estipulado. Qualquer das prestações, ao ser cumprida, desonera integralmente o devedor. A escolha pelo cumprimento de uma ou outra prestação cabe, em regra, ao devedor. Podem as partes estipular que a escolha caiba a ambas, sendo que em caso de ausência de acordo o caso será resolvido por decisão judicial. Podem as partes estipular que terceiro faça a escolha, sendo que se este não quiser ou não puder fazê-lo, caberá ao juiz a determinação se não houver acordo entre as partes. Não é autorizado ao devedor entregar parte de uma prestação e parte da outra, salvo de aceito pelo credor. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CONTEÚDO MEIO, RESULTADO E GARANTIA Essa divisão não consta do Código Civil, mas tem reconhecimento doutrinário e jurisprudencial. 4 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método 1. Obrigação de meio ou de diligência: aquela em que o devedor só está obrigado a agir com a diligência esperada para o alcance do resultado, mesmo que este não seja alcançado. Aqueles que assumem obrigação de meio só responderão pelo não alcance do resultado esperado se agirem com culpa genérica (responsabilidade subjetiva). Ex.: profissionais liberais em geral (advogado, médico, dentista, etc.) 2. Obrigação de resultado ou de fim: a prestação só é cumprida com a obtenção de um resultado específico, em geral prometido pelo devedor previamente ou decorrente da natureza da obrigação. Aqueles que assumem obrigação de resultado responderão de forma objetiva, mesmo sem a presença de culpa ou de forma subjetiva por culpa presumida. Ex.: transportador (incolumidade), médico cirurgião plástico estético, dentista estético. 3. Obrigação de garantia: o objetivo é uma garantia pessoal, oferecida por meio de contrato, que o devedor assume quanto ao pagamento de dívida de outra pessoa perante o credor. Nesse caso o garante responderá com seu patrimônio pela dívida não paga pelo devedor ao credor. Ex.: contrato de fiança. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À LIQUIDEZ LÍQUIDA OU ILÍQUIDA 1. Líquida: aquela que é certa quanto à existência e determinada quanto ao objeto e valor, encontrando-se especificadas, de forma expressa, a quantidade, qualidade e a natureza do objeto devido. O inadimplemento de obrigação positiva e líquida no vencimento constitui o devedor em mora automaticamente (mora ex re). Sendo líquida a obrigação, caberá ao credor ação de execução por quantia certa. 2. Ilíquida:aquela incerta quanto à existência e indeterminada quanto ao conteúdo e valor. Sendo ilíquida a obrigação, a cobrança só poderá ser feita após sua transformação em líquida (liquidação), através de processo de conhecimento e posterior liquidação de sentença. Ex: juiz condena o devedor ao pagamento de lucros cessantes, mas não estabeleceu um valor específico; Ex: foi determinado que o ex-marido permaneceria com o veículo adquirido na constância do casamento, mas que deveria restituir em contrapartida 50% do valor do bem à ex-esposa. Ela, como credora, entrará com um pedido de liquidação de sentença para pedir uma avaliação 5 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método judicial do veículo a fim de apurar o real valor do bem e permitir que possa executar o valor exato correspondente aos seus 50%. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE ELEMENTO ACIDENTAL CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO Elementos acidentais de um negócio jurídico são aqueles que não são essenciais ao ato mas encontram-se no plano da eficácia obrigacional. 1. Obrigação pura: não está sujeita a condição, termo ou encargo. 2. Obrigação condicional: aquela que contém cláusula que subordina seu efeito a um evento futuro e incerto (condição). Ex.: doação feita a nascituro (art. 542 – CC) 3. Obrigação a termo: aquela que contém cláusula que subordina seu efeito a um evento futuro e certo (termo). Ex.: doação a termo pela qual o donatário permanece um período com a coisa. 4. Obrigação modal ou com encargo: aquela onerada por um encargo, um ônus à pessoa contemplada pela relação jurídica. Ex.: doação com encargo (art. 540 – CC) CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DEPENDÊNCIA PRINCIPAL OU ACESSÓRIA 1. Principal: aquela que independe de qualquer outra obrigação para ter existência, validade ou eficácia. 2. Acessória: aquela que tem sua existência, validade ou eficácia subordinada a outra relação obrigacional. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO LOCAL DE CUMPRIMENTO QUESÍVEL OU PORTÁVEL 1. Quesível (quérable): tem seu cumprimento no domicílio do devedor, sendo a regra geral, admitindo previsão em contrário. 6 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método 2. Portável (portable): é aquela em que seu cumprimento deverá ocorrer no domicílio do credor ou de terceiro, devendo haver previsão expressa no instrumento obrigacional. Se houver indicação de dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MOMENTO DO CUMPRIMENTO INSTANTÂNEA, DIFERIDA E CONTINUADA 1. Instantânea com cumprimento imediato: cumprida imediatamente após sua constituição. Ex: compra à vista. 2. Execução diferida: aquela cujo cumprimento deverá ocorrer, de uma só vez, em momento futuro. Ex: compra à vista, mas para pagar em um prazo de 10 dias. 3. Execução continuada: aquela cujo cumprimento se dá por subvenções periódicas. Ex: compra de uma cozinha planejada, em que se cumpre em várias etapas distintas (escolhe os detalhes, paga à vista ou parcelada, loja entrega as peças, profissionais instalam, etc). Ex: compra de um veículo de maneira financiada em 60 vezes. OBRIGAÇÃO NATURAL Conceito: o credor não pode exigir a prestação do devedor, persistindo um débito sem responsabilidade. Ocorrendo o pagamento por devedor capaz este é válido e irretratável, não cabendo ação de repetição de indébito ou ação de regresso (pagamento por terceiro). Moralmente falando a dívida ainda existe, no entanto ela não pode ser cobrada judicialmente. Ex.: dívida prescrita (art. 882), dívida de jogo ou aposta não legalizada (art. 814 e 815), mútuo feito a menor sem autorização do responsável (art. 588). OBRIGAÇÕES HÍBRIDAS Têm características de direito pessoal (porque as partes convencionam) e de direito real (porque quando se trata de transferência de posse e propriedade algumas regras devem obrigatoriamente ser obedecidas, porque a lei determina ou porque acompanham o bem). 7 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método São as chamadas obrigações híbridas (uma mistura de direito pessoal com direito real) podem ser incluídas as com ônus reais e as com eficácia real. É também denominada de obrigação ambulatorial. As normas de direito de vizinhança, a de condomínio, o IPTU, a conservação de tapumes divisórios, os ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo direitos reais sobre coisas alheias, oponíveis erga omnes (contra todos). Já as de eficácia real transmitem-se e são oponíveis a terceiros que adquirem o direito sobre determinado bem, é o caso do art. 1.197 CC. Importante destacar que algumas coisas não exigem maiores formalidades no momento de sua aquisição ou transmissão. Ex: roupas, eletrodomésticos, prestações de serviço no geral. No entanto, quando se trata de discussão acerca de transferência de posse e propriedade (direito real) observa-se que nossa legislação exige uma formalidade maior. Ex: compra de imóvel em que a transferência só se opera mediante o registro na matrícula do bem. OBRIGAÇÃO POSITIVA DE DAR Conceito: aquela em que o sujeito passivo compromete-se a entregar alguma coisa, certa ou incerta. Na maioria das ocasiões há intenção de transmissão da propriedade de uma coisa, móvel ou imóvel Divide-se em: dar coisa certa (obrigação específica) e dar coisa incerta (obrigação genérica) DA OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA O devedor se obriga a dar uma coisa individualizada, móvel ou imóvel, cujas características foram acordadas pelas partes, geralmente com a utilização de um instrumento contratual. O credor, nessas situações, não é obrigado a receber coisa diversa daquela acordada, mesmo de maior valor (art. 313 – CC). 8 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método A obrigação de dar coisa certa abrange acessórios (frutos, produtos, benfeitorias, pertenças), salvo se o contrário for expresso no título constitutivo da obrigação ou das circunstâncias do caso (art. 233, CC). Situação 1 - Perda da coisa: A perda da coisa antes da tradição (entrega) ou pendente de condição suspensiva, sem culpa do devedor, leva à resolução (extinção) da obrigação e do contrato para ambas as partes sem perdas e danos (“acordo de cavalheiros”). No entanto, caso haja culpa do devedor (culpa ou dolo), este responderá pelo valor da obrigação e pelas eventuais perdas e danos. Perdas e danos: abrange o dano emergente (o prejuízo efetivo mediante comprovação documental) e o lucro cessante (o que se deixou de ganhar). Os danos morais só integram as perdas e danos se restar demonstrada a má-fé. Situação 2 - Deterioração da coisa: Se a coisa se deteriorar, sem culpa do devedor, o credor poderá:a) Resolver a obrigação, sem direito a perdas e danos b) Ficar com a coisa, abatendo do preço o valor correspondente à deterioração (“aceita com os defeitos e pede desconto”). Se a coisa de deteriorar, com culpa do devedor, o credor poderá: a) Exigir o valor da obrigação + perdas e danos b) Aceitar a coisa deteriorada + perdas e danos Até a tradição (entrega) a coisa pertence ao devedor, com seus melhoramentos e acréscimos, e pela coisa o devedor continua responsável. Os frutos já colhidos pertencem ao devedor e os pendentes ao credor. Ex: venda de um imóvel que se encontra alugado. Os valores pagos pelo inquilino até a data da venda pertencem ao vendedor, os aluguéis que vencerem a partir de então pertencerão ao comprador. 9 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA Conceito: o objeto da obrigação é indeterminado mas determinável em gênero e quantidade, faltando determinar sua qualidade (art. 243, CC). Na ausência da indicação de qualquer desses elementos (gênero ou quantidade), a indeterminação será absoluta e a avença não gerará obrigação. Ex.: entregar “sacas de soja” (falta quantidade) – entregar “dez sacas” (falta gênero). Correto seria: entregar “dez sacas de soja” (determinação quanto ao gênero e quantidade), faltando apenas determinar a qualidade da soja (coisa incerta). A característica principal dessa modalidade de obrigação está no fato de que o conteúdo da prestação, indicado de forma genérica no início da relação, vir a ser determinado por um ato de escolha, no momento do pagamento. O estado de indeterminação é transitório, sob pena de faltar objeto à obrigação, cessando com a escolha. Em regra, a escolha é do devedor (salvo estipulação contratual – credor ou terceiro), que deve dar ciência ao credor sobre a mesma, sendo exigido um padrão médio de qualidade. A partir da escolha e da cientificação do credor, a coisa torna-se certa e a obrigação se rege pelas normas de “dar coisa certa”. A escolha ou determinação da coisa (ato unilateral) é denominada de concentração, quando a obrigação se concentra em um objeto determinado. Para que a concentração gere seus efeitos é preciso a cientificação do credor por ato apto para tal fim: entrega, depósito em pagamento, constituição em mora (ele precisa ser avisado de maneira formal). Se a escolha couber ao credor (porque as partes assim pactuaram), este será intimado para esse fim sob pena da perda do direito, que passa ao devedor. Quanto à responsabilidade pela perda ou deterioração, esta cabe exclusivamente ao devedor até o momento da escolha, mesmo por força maior ou caso fortuito. A partir da escolha, a responsabilidade passa ao credor. 10 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método OBRIGAÇÃO POSITIVA DE FAZER Conceito: atos ou serviços a serem executados pelo devedor ao credor ou a quem este indique. Abrange o serviço humano em geral, material ou imaterial, a realização de obras e artefatos, ou a prestação de fatos que tenham utilidade ao credor: a) Trabalho físico ou intelectual (serviços), determinado pelo tempo, gênero ou qualidade; b) Trabalho determinado pelo produto (resultado); c) Fato determinado pela vantagem que traz ao credor. ESPÉCIES Infungível ou personalíssima: se convenciona ou se subentende (natureza da obrigação) que a prestação deve ser cumprida pessoalmente pelo devedor (atributos pessoais), não se admitindo sua substituição por outra pessoa, preposto ou representante. Fungível: quando não se exige expressamente ou a natureza da obrigação não exija execução pelo devedor conforme suas qualidades pessoais ou dos usos e costumes do local. Aqui o mais importante é a obrigação, independente de quem a cumpra. INADIMPLEMENTO As consequências do descumprimento da obrigação de fazer diferenciam-se conforme sua espécie e a presença ou não de culpa do devedor. Regra geral: execução específica (obrigação de fazer contratada). Exceção: perdas e danos (quando não for possível o cumprimento da obrigação). Obrigações infungíveis: Considerando que apenas o devedor específico poderá cumprir o contrato nesse caso, a tutela específica só será possível em duas possibilidades: 1) quando o credor ainda quiser (muitas vezes a confiança não mais existe) ou; 2) quando o contrato ainda permitir. Ex: festa cancelada uma semana antes, ocasião em que ainda dá tempo de entrar com a ação judicial). No entanto, se não houver possibilidade de tutela específica e a ação tiver que ser convertida em perdas e danos será analisada a existência ou não de culpa do devedor: 11 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método havendo culpa do devedor, este deverá arcar com a obrigação de indenização por perdas e danos. sem culpa do devedor (obrigação de tornou impossível por motivo justificável), a obrigação se resolve (extingue) sem qualquer responsabilidade. Ex: atleta que se apresentaria em determinada competição patrocinada e que sofre lesão em treinamento regular não será obrigado a indenizar, mas apenas a devolver eventuais quantias recebidas. Caso o mesmo atleta, sofra lesão por atuação culposa (negligência, imprudência ou imperícia), será obrigado a devolver os valores recebidos mais a indenizar por perdas e danos. Obrigações fungíveis: nessas situações, não importa quem executa a prestação, mas sim a própria prestação, podendo o credor solicitar que a execução seja realizada por terceiro, em caso de urgência, à custa do devedor além de receber indenização por perdas e danos. Por certo é que se trata de uma atitude possível, mas arriscada, vez que se o credor não souber como solicitar essa prestação junto ao terceiro poderá ficar no prejuízo (paga duas vezes pelo mesmo serviço e não consegue ser reembolsado). OBRIGAÇÃO NEGATIVA DE NÃO FAZER Conceito: obrigação de não fazer ou negativa é aquela que impõe ao devedor um dever de abstenção, ou seja, o de não praticar ato que poderia livremente fazer se não se houvesse obrigado. Ex.: o comprador ou proprietário de um imóvel que se obriga perante vizinho a não construir edificação acima de certa altura. Empresário que, ao vender seu estabelecimento, se obriga a não atuar em determinada região no mesmo ramo de negócio. Empregado ou sócio que se compromete a não divulgar segredos industriais ou comerciais da empresa. Nesses casos, se o devedor fizer aquilo que se comprometeu a não fazer será considerado inadimplente, sendo que o credor poderá exigir o desfazimento do que foi realizado. O interesse do credor está justamente na abstenção do devedor. A aplicação do instituto é ampla mas limitada pelos princípios da função social e da boa- fé objetivo, não sendo permitido que se exija sacrifício excessivo da liberdade do devedor. Ex.: prazo indefinido ou perpétuo, não sair de casa, não trabalhar naquele local ou região, não namorar, etc.).12 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método INADIMPLEMENTO Se o devedor realiza o ato, não cumprindo o dever de abstenção, poderá o credor exigir o desfazimento, retornando à situação ao status quo ante. O desfazimento será levado a efeito à custa do devedor inadimplente, somando-se perdas e danos. A mora se dá no momento em que o devedor atua de forma contrária ao dever de abstenção. A exigência, mediante negativa do devedor, será feita em juízo e, em caso de negativa do devedor, poderá o credor providenciar o desfazimento, também à custa do devedor, somando-se, em ambos os casos, a indenização por perdas e danos. Poderá o credor optar apenas pela indenização de eventuais perdas e danos decorrentes do inadimplemento, sem requerer o desfazimento. Também se resolverá em perdas e danos o inadimplemento quando não for possível desfazer o ato. Ex.: divulgação de segredo industrial ou comercial. Em caso de urgência, poderá o credor promover o desfazimento antes da ordem judicial, resguardado o direito de ressarcimento dos valores dispendidos. Em caso de impossibilidade da abstenção por fato alheio à vontade do devedor, a obrigação se extingue sem ônus para a parte. Ex.: determinação administrativa para construir um muro que era objeto de obrigação de não fazer. OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS As obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela multiplicidade de sujeitos, sendo que a divisibilidade ou não da obrigação só tem relevância nessas condições. Há um desdobramento de pessoas no polo ativo ou passivo da obrigação, ou em ambos, passando a existir tantas obrigações distintas quantas as pessoas dos devedores ou credores. 13 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método DIVISÍVEL Sendo divisível a obrigação, cada credor só pode exigir sua quota e cada devedor só responde pela parte pela qual se obrigou. Ex. 1: se duas pessoas (devedores) devem a um credor um determinado valor, esse é rateado de forma igual entre os devedores e cada um deverá entregar a sua quota ao credor. É a melhor opção para o devedor, pois ele só se responsabiliza pelo seu débito. Ex. 2: se uma pessoa (devedor) deve a vários credores um determinado valor, esse valor é rateado e o devedor deverá pagar cada quota ao respectivo credor. A divisibilidade ou não da obrigação encontra sua possibilidade na divisibilidade ou não da prestação e na do objeto (coisa) propriamente, que pode determinar ou não essa condição. O objeto não pode perder sua funcionalidade. Consequências jurídicas da divisibilidade a) Cada um dos credores só tem direito de exigir uma fração do crédito. b) Cada um dos devedores só tem de pagar a própria quota do débito. c) Se o devedor solver (pagar) integralmente a dívida a um dos credores, não se desobriga com relação aos demais, pois pagou de forma errada. d) O credor que recusar o recebimento de sua quota, pretendendo a solução integral, pode ser constituído em mora (pois sua recusa em receber é indevida – ele só poderia receber sua parte e não reivindicar o todo). e) A insolvência (ausência de condições financeiras) de um dos co-devedores não aumenta a quota dos demais. INDIVISÍVEL A indivisibilidade da prestação e consequentemente da obrigação decorre, em geral, da natureza da coisa objeto da prestação. Se a obrigação é indivisível (art. 258), o Código Civil estabelece regime jurídico diversos quanto à pluralidade de devedores e de credores. Pluralidade de devedores No caso de múltiplos devedores e prestação indivisível, o CC apresenta duas soluções: 14 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método a) O credor pode exigir o cumprimento de apenas um dos devedores, respondendo este pelo pagamento da prestação integral (apenas porque o objeto não comporta divisão). Se ele pagar sozinho terá direito de ingressar posteriormente contra os outros dois pedindo ressarcimento (ação de regresso), mas não poderá exigir nada além do que efetivamente pagou, descontada sua quota-parte. b) O credor pode exigir de todos os devedores o cumprimento da prestação integral (situação mais justa, porque de fato todos devem sua quota parte). Pluralidade de credores Cada credor poderá pleitear o cumprimento da obrigação por inteiro, da mesma forma que cada devedor responde pelo todo. Em regra, o pagamento deve ser feito a todos, de forma conjunta, mas não há impedimento para que o pagamento seja feito a um dos credores de forma individual, desde que haja autorização expressa dos demais credores ou, na ausência dessa, que o credor que recebe dê caução, garantindo a ratificação dos demais credores. Não havendo autorização ou garantia, o devedor deverá constituir os credores que se recusam a receber em mora e promover o depósito judicial da coisa. Quanto ao credor que recebeu a prestação por inteiro, este fica obrigado repassar em espécie ou em dinheiro a parte que cabia aos demais credores. Se houver remissão da dívida (perdão) ou pagamento indireto a um dos credores, essa não atinge o direito dos demais credores que poderão exigir seu crédito descontando o valor da quota-parte perdoada. Como se trata de obrigação indivisível, os demais credores deverão restituir o valor decorrente da remissão como desconto do valor total. Perda da indivisibilidade A indivisibilidade, como visto, é decorrente da natureza da prestação, sendo que só cessará a partir do momento em que a prestação for substituída por outra divisível ou convertida em perdas e danos. 15 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método Ex: troca de um carro por dinheiro; Ex: conversão em perdas e danos em que o juiz condena o devedor ao pagamento do valor equivalente ao valor Se a culpa for de apenas um dos devedores ou de alguns deles, estes responderão pelas perdas e danos, eximindo a responsabilidade daqueles que não contribuíram para o caso, que continuam obrigados pela prestação conforme suas quotas-parte. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS Conceito: é aquela na qual se tem presentes a multiplicidade de credores e/ou devedores, tendo cada credor direito à totalidade da prestação, como se fosse credor único, ou estando cada devedor obrigado pela dívida toda, como se fosse devedor único. Ex: Se Carlos e Vilmar danificarem o caminhão de Antônio, causando-lhe estragos no valor de 12.000 reais, como a obrigação em que incorrem é solidária (art. 942 – CC), Antônio poderá exigir de um só deles, se quiser, o pagamento dos 12.000 reais. Por outro lado, se Vilmar pagar o total da indenização, Carlos fica plenamente liberado perante o credor comum. Assim, se algum dos devedores for ou se tornar insolvente, quem sofre oprejuízo de tal fato não é o credor, mas o outro devedor, que pode ser chamado a solver a dívida por inteiro. Na solidariedade não se tem uma única obrigação, mas tantas obrigações quantos forem os titulares. Cada devedor passará a responder não só pela sua quota como também pelas dos demais; e, se um devedor vier a cumprir por inteiro a prestação, poderá recobrar dos outros as respectivas partes. Pode, entretanto o credor dividir a obrigação cobrando uma quota somente, sem que com isso perca a dívida quanto ao restante o caráter de solidariedade que lhe é próprio. Características: a) Pluralidade de sujeitos ativos e/ou passivos b) Multiplicidade de vínculos, sendo independente cada um que une o credor aos co- devedores e vice-versa c) Unidade da prestação, sendo que cada devedor responde pelo débito todo e cada credor pode exigir a prestação inteira d) Co-responsabilidade dos interessados, sendo que o pagamento feito por um dos devedores extingue a obrigação dos demais, cabendo a ação de regresso 16 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método Obrigação solidária ≠ obrigação indivisível 1. Semelhança: em ambos os casos o credor pode exigir de um dos devedores o pagamento integral do débito. 2. Diferenças: o devedor solidário pode ser compelido ao pagamento integral por ser de fato devedor do todo. Nas obrigações indivisíveis o co-devedor deve apenas a sua quota mas pode ser compelido a pagar tudo só porque o objeto é indivisível. a obrigação indivisível perde a indivisibilidade quando se resolver em perdas e danos, enquanto na solidariedade, isso não ocorre, permanecendo a “indivisibilidade” com relação aos devedores. Isso porque a solidariedade decorre de lei ou da vontade das partes e não depende da indivisibilidade ou não do objeto. a solidariedade é subjetiva enquanto a indivisibilidade é objetiva. Princípios comuns à solidariedade A solidariedade não se presume, decorrendo de lei ou da vontade das partes (contrato/testamento), de forma expressa e é exceção à regra de que cada devedor responde pela sua parte da obrigação. ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA Uma das principais características da obrigação solidária é a multiplicidade de credores ou de devedores. Desse modo, pode ela ser solidariedade ativa, ou de credores, solidariedade passiva, ou de devedores. solidariedade ativa - há multiplicidade de credores, com direito a uma quota da prestação. Todavia, em razão da solidariedade, cada qual pode reclamá-la por inteiro do devedor comum. Este, no entanto, pagará somente a um deles. O credor que receber o pagamento entregará aos demais as quotas de cada um. Enquanto não houver cobrança judicial, o devedor pode pagar a qualquer um dos credores. Existindo ação de cobrança, o devedor só se exonera da obrigação pagando ao que propôs a demanda (princípio da prevenção). 17 BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civilI. Vol. II. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Paulo Roberto. Direito civil brasileiro. Vol. II. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civill. Vol. 2. São Paulo: Método solidariedade passiva - havendo vários devedores solidários, o credor pode cobrar a dívida inteira de qualquer deles, de alguns ou de todos, conjuntamente. Qualquer devedor pode ser compelido pelo credor a pagar toda a dívida, embora, na sua relação com os demais, responda apenas pela sua quota-parte. Renúncia da solidariedade A solidariedade é benefício instituído em favor do credor, reforçando a possibilidade de recebimento da prestação. Dessa forma, o credor pode renunciar ao benefício, seja este decorrente de lei ou de manifestação de vontade. Absoluta: efetivada em favor de todos os co-obrigados (solidariedade desaparece e cada devedor passa a ser responsável apenas pelo sua quota parte). Relativa: efetivada em favor de um ou de alguns dos devedores solidários. Divide-se em duas partes com efeitos diversos: 1. O devedor favorecido passa a responder apenas pela sua quota da prestação; 2. Os demais devedores mantém a solidariedade. A renúncia pode ser expressa ou tácita, mas deve ser clara, pois não se presume (havendo dúvida persiste a solidariedade).
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