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CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO - A CIÊNCIA DO PROCESSO POLÍTICO.

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Introdução à Ciência política
A CIÊNCIA DO PROCESSO POLÍTICO
Alexandre Carneiro de Souza
Política e Ciência Política
Tratamos de realidades intrínsecas e ao mesmo tempo distintas quando mencionamos política e ciência política. 
A primeira corresponde a um conjunto diferenciado de ações quer rudimentares quer especializadas relacionadas à organizações sociais em vista do direito comum. Não se tem idéia precisa das primeiras formas de organização primitiva da vida política. No entanto, poderíamos concordar com Rodee et al (1977) que a organização da família e depois do clã podem ter sido os primeiros ensaios da ordem política. 
Quanto ao estudo coerente e sistemático da política, tem-se aí uma prática antiga e posterior às práticas políticas primitivas. Até onde se tem conhecimento, remonta cerca de 5 a 8 séculos antes de Cristo, tendo como ponto de partida o pensamento filosófico grego sobre o Estado e as relações sociais circunscritas à sua organização (relações políticas). Diversos autores concordam que a construção das idéias políticas no ocidente teve como uma de suas influências principais a civilização grega clássica (Châtelet et al, 2000). [1: A filosofia grega emprestou os fundamentos da razão ocidental. As grandes questões filosóficas pensadas quer em termos teóricos ou práticos, dentre elas a política, foram preliminarmente sistematizadas pelos filósofos gregos.]
Ciência e Ciência Política
O termo ciência deriva da palavra latina scire cujo significado é conhecer. Com o desenvolvimento e a sistematização de saberes humanos acerca do meios físico e social, ciência passou a ser definida como um corpo sistemático de conhecimento sobre uma área bem definida de investigação. Um campo de estudo científico é determinado pela delimitação do objeto de análise de maneira precisa e exclusiva de modo que permita a formulação de características mensuráveis (variáveis). 
A questão que se coloca é: até em que ponto se pode atribuir o estatuto de ciência ao estudo do processo político? 
A política pode ser matéria tanto do pensamento científico como do pensamento não científico. No entanto, a formulação de um pensamento científico sobre política é algo bastante complexo, consideradas, preliminarmente, as seguintes questões: 
 - Todo sistema político possui finalidade, ao passo que a ciência não pode estabelecer finalidade; em decorrência disto, o governo e a política não poderiam basear-se exclusivamente em procedimentos fundados na ciência;
- Nenhuma ciência social, incluindo-se a Ciência Política, pode alcançar o status conquistado pelas disciplinas que formam o conjunto das ciências naturais, sobretudo quando se insiste na certeza como dado de compreensão da matéria em estudo;
- Entre as ciências sociais há variação de grau de cientificidade. Neste contexto, comparadas as demais disciplinas, a Ciência Política situa-se entre as que possuem os menores níveis de potencial científico, devido ao fato da inexistência de acordo sobre os critérios de classificação dos fenômenos políticos; por outro lado pesa bastante os obstáculos à observação e a impossibilidade de quantificar determinadas variáveis do fenômeno.
A política constitui objeto do interesse do conhecimento filosófico e de varias áreas do conhecimento científico tais como a história, a estatística, a teoria política, a sociologia e a psicologia social. Produzir Ciência Política não significa meramente reunir os dados metafísicos ou os dados empíricos oriundos dos citados conhecimentos; essa composição não criaria uma Ciência Política, muito embora as disciplinas mencionadas possam ser reconhecidas como disciplinas auxiliares. Em se tratando da abordagem científica da política, as outras disciplinas apreendem a sociedade e o Estado como produtos finais da história passada. Esse não é o foco da Ciência Política, como podemos ver na seguinte citação:
Todavia, a conduta política está relacionada ao Estado e à sociedade na medida em que estão ainda em processo de transformação. A conduta política tem pela frente um processo no qual cada momento cria uma situação singular e procura extrair desta permanente corrente de forças algo de caráter duradouro (Mannheim 1986:138).
O pensamento de Mannheim vem agregar-se ao amplo assentimento dos estudiosos acerca de um caminho a ser percorrido até que seja possível atestar a existência de uma Ciência Política. No entanto, a construção de saberes nesse campo de conhecimento não parece tão absurda. Mannheim, citando Albert Schäffle, reconhece dois aspectos discerníveis da vida sócio-política:[2: Sociólogo e estadista austríaco.]
... primeiro, uma série de fatos sociais que adquiriram um padrão definido, e ocorrem regularmente; e, em segundo lugar, aqueles fatos que ainda estão em processo de formação, nos quais, em casos individuais, as decisões deverão ser tomadas, dando origem a situações novas e singulares (1986:138). 
A vida política, como as demais dimensões sociais, se incluem nos dois processos acima. Tudo o que ocorre da sociedade ou é fato concretizado ou é fato em formação. No primeiro caso, lidamos com um universo racional que orienta condutas tornadas rotinas. No segundo caso (o do fato em formação) lidamos com situações que não podem ser apreendidas racionalmente. É esta uma dimensão irracional que circunscreve os dados organizados da vida social. Para o sociólogo do conhecimento, é precisamente nesta dimensão irracional, ou seja, além dos negócios rotineiros do Estado, que se situa o campo da Ciência Política. Nesse sentido, para além dos assuntos de rotina do Estado, a política e a ciência que dela trata ocupam-se, sobretudo, daquelas questões do Estado e dos fenômenos a ele relacionados que concentram forças sociais irracionais, tendo tal irracionalidade por fontes principais a competição sem controle e a dominação pela força:
Estas forças irracionais da sociedade formam aquela esfera da vida social que não é organizada nem racionalizada, e em que se tornam necessárias a política e a conduta. As duas principais fontes de irracionalismo na estrutura social (a competição sem controle e a dominação pela força) constituem a esfera da vida social ainda não organizada onde a política se torna necessária (Mannheim, 1986:141).
Para Mannheim, a Ciência Política tem por tarefa o estudo da matriz irracional do Estado. É necessário entender que o irracional aqui evocado não pode ser hermeticamente alijado das organizações políticas existentes, sabendo de antemão que as próprias ordem existentes não estão sustentadas em racionalizações acabadas, mas em formas parciais de racionalização. Assim sendo, o objetivo da análise do irracional na política tanto envolve os processos abertos para os quais não existe regulamentação quanto os comportamentos reproduzidos a partir de um quadro prescrito e parcialmente racionalizado. [3: Mannheim vai asseverar que as mais importantes esferas de nossa vida social se acham agora presas ao irracional (1986:141).]
Ao designar a matriz irracional das relações políticas (Estado) como campo de estudo da Ciência Política, novas dificuldades, além daquelas já mencionadas, terão, ainda que ser enfrentadas. A primeira consiste em não se lidar com entidades objetivas e rígidas, mas com tendências e anseios em constante fluxo. A segunda, a mudança contínua da configuração do campo da inter-relação de forças políticas Em terceiro lugar, o observador não se isenta do irracional, mas dele toma parte, por meio de seus valores e interesses vinculados à sua visão político-partidária (Mannheim, 1986).
Não obstante os desafios para a elaboração do pensamento científico sobre a política, pode-se afirmar que, a despeito da natureza social do fenômeno, é possível desenvolver análise e pesquisa rigorosas nessa área, desde que se tenha por pressuposto que a pretensão de um campo de estudo científico da política não possui uma teoria, mas várias, e nenhuma delas definitiva.
As relações políticas e as demais relações sociais
Essa questãoé de em fundamental importância para a construção teórica do conceito de ciência Política. A preocupação em distinguir a natureza das relações políticas dos demais aspectos das relações sociais remete ao problema de definição do objeto de análise da disciplina. A tentativa de atribuir especificidade ao “político” no contexto da realidade social ampla endereça a discussão para um terreno bastante impreciso, levando-se em conta que toda forma de organização social é subjacentemente orientada por propósitos políticos. Partindo deste pressuposto, o político estaria presente nas diversas manifestações da vida social. Um exemplo disto apresenta-se na distinção entre o sistema político e o sistema econômico. A diferenciação entre essas áreas não é cabalmente possível. Pois se de um lado temos na economia uma dimensão concreta da vida social, distinta daquela que caracteriza a realidade política e nisto reside, em parte, a distinção entre uma e outra; de outro lado, temos o fato de que não seria possível a concretização de um tipo qualquer de organização econômica alheia a um projeto político. A inquirição sobre a natureza da realidade política aponta para pelos menos duas direções mutuamente complementares: a primeira, diz respeito a política como uma vocação em decorrência da natureza social dos seres humanos; a segunda, depreende do fato de que as relações políticas estariam diretamente relacionadas a existência de autoridade ou governo.
Em termos preliminares poder-se-ia dizer que determinado fato possui natureza política quando caracteriza um tipo de organização social pautada em normas jurídicas tendo por finalidade o bem comum.
Nas palavras de Rodee et al a realidade política é a representação de um processo complexo de interatividade social,
... que envolve atitudes dos cidadãos e seus interesses, organização de grupos, práticas eleitorais e grupos de pressão, assim como a formulação, a implementação e a interpretação da lei... qualquer aspecto da sociedade que direta ou indiretamente afete as instituições... (1977:4).
Como bem se pode ver, a concepção de fato político passa inevitavelmente pela definição de poderes relacionados a interesses de grupos socialmente organizados ou relacionados a formalidades jurídicas etc, subjacentes ao processo das relações humanas. A complexidade dos processos de interação social não seria possível sem a definição de critérios de autoridade (Dahl, 1966). 
A formação histórica da Ciência Política
A primeira reflexão sistemática sobre a política, como já foi mencionado, procede do pensamento grego da era clássica. Sendo uma concepção de natureza fundamentalmente filosófica, esta teoria foi construída segundo uma perspectiva bastante ampla, envolvendo o conjunto dos acontecimentos que determinavam as condutas cidadãs. O termo política deriva da palavra grega polis que designava o Estado-cidade. Sendo assim, tudo o que constituía a cidade e o conjunto dos interesses da vida coletiva citadina representavam simultaneamente interesse político. A cidade era o resultado mais excelente das interações políticas entre os indivíduos e o seu aparecimento nada mais seria que um ato político em favor do aperfeiçoamento dos indivíduos e das relações sociais. Essa concepção inicial de política agregava os aspectos macros e micros da política social.[4: ]
Para chegar ao estágio político, a sociedade humana caminha por três fases: o estado caótico, o estado pré-político e o bios politikos. 
O primeiro consiste no estado natural caracterizado pela violência como meio de sobrevivência; o segundo representa a organização familiar caracterizada pela desigualdade entre as pessoas e a imposição de estarem juntas em face das necessidades da vida humana:
O que distinguia a esfera familiar era que nela os homens viviam juntos por serem a isso compelidos por suas necessidades e carências ...No entanto, o poder pré-político com o qual o chefe da família reinava sobre a família e seus escravos, e que era tido como necessário ... (Arendt, 1993:39,41).
O terceiro representava a conquista da liberdade humana mediante a instauração de uma vida política, mediante a qual se extinguiam todas as diferenças; todos eram iguais (Arendt, 1993).
A influência do pensamento grego na moderna concepção da política é indisfarçável. Muito embora se deva considerar distintivamente os contextos da análise, uma vez que as construções filosóficas da escola grega se inspiraram na organização política do Estado-cidade, guardando, portanto, significativas diferenças comparando-se a organização do Estado moderno. Diversos autores que trabalharam comparativamente o Estado moderno e os Estados-cidade gregos assinalaram significativas distinções, entre eles Sabine afirma:
A Cidade-Estado grega foi tão distinta das comunidades políticas onde vive o homem moderno que se torna necessário um esforço para imaginar a vida política e social que então prevalecia . Os filósofos gregos cogitavam de práticas políticas muito diferentes das que predominam no mundo moderno, e diferente era também todo o clima de opinião em que trabalhavam. Os problemas que os preocupavam, embora não sem analogia no presente, jamais foram idênticos aos de hoje. Da mesma forma o aparelho lógico, através do qual era apreciada e criticada a vida política, divergia profundamente do que ora prevalece (1964:17).
A política da razão 
Platão é considerado o pai da filosofia política. Três temas foram centrais em sua reflexão: O Estadista, As Leis e A República. A evolução do pensamento político platônico apresenta dois eixos centrais. O primeiro deu forma a sua primeira teoria política e circunscrevia a gestão pública à competência dos cidadãos que dominavam o conhecimento do bem. Por esta razão, as ações governamentais deveriam sustentar-se na convicção e não na força. Como bem afirma Sabine (1964), a cadeia do pensamento platônico subordinava tudo na política ao ideal do filosofarei, cuja autoridade baseava-se no saber especial que possuía no tocante aquilo quer era bom para o indivíduo e o Estado. 
Essa tese inicial apresentava diversos problemas; antes de tudo prescindia da lei na sua concepção ideal de Estado. Ora, Platão tinha em mente a instauração de um Estado-ético, no qual os cidadãos da polis eram dotados de capacidade racional para convencer e ser convencidos, de modo livre. Prescindia-se da lei, ainda devido ao fato de que ao instaurar a ordem do bem, caberia ao Estado a instituição de um amplo programa educacional. Em tese, o Estado ideal, governado pelos sábios detentores do conhecimento do bem tornava desnecessária a existência de uma regulamentação legal. Em que se apoiava o filósofo para formular tais considerações? Na defesa do prevalecimento do governo da razão pura, com base na assertiva de que o governo é uma realização científica, como bem podemos ver em suas palavras:
Entre as formas de governo, a única preeminentemente autêntica e real é aquela em que os governantes na verdade conhecem a ciência e não apenas parecem conhecê-la, administram eles com lei ou sem ela, queiram ou não os governados ... (Platão, ). 
Um outro problema criado pela tese inicial de Platão acerca do Estado governado pela razão e em relação à lei, excludente, era a frontal oposição entre ela e a idéia geral que os gregos possuíam acerca do equilíbrio entre liberdade e lei e da participação dos cidadãos da polis na efetivação de um autogoverno.
O segundo eixo da evolução do pensamento político de Platão se situa numa sua produção intelectual posterior às idéias publicadas em A República. A defesa do governo filosófico sem leis não correspondia à realidade da política das cidades gregas. Em decorrência, a obra As Leis foi escrita para cobrir uma lacuna deixada pelo raciocínio do autor e, deste modo, formular a sua segunda teoria política acerca do lugar da lei na formação do Estado político. O distanciamento dos homens em relação ao ideal do Estado governado pela razão impõe que a análise do filósofo empreenda asubstituição da razão pela lei, de modo que a solução encontrada residiu na concepção da lei como guardiã da sabedoria humana. 
A teoria posterior pautada no cordel áureo da lei tratava de temas relevantes tais como:
A- O Estado misto – visava a harmonia social pelo equilíbrio das forças políticas mediante a combinação do princípio monárquico da sabedoria com o princípio democrático da liberdade. A discussão girava em torno da preocupação com o desenvolvimento da civilização humana, a ascensão e a queda dos Estados. No curso das ponderações prevalecia uma recomendação quanto ao uso da moderação, contrabalançando poder com sabedoria e liberdade com ordem (Sabine, 1964).
B- Instituições políticas e sociais
 - o comunismo é apresentado como a forma ideal de organização, porém inatingível à natureza humana;
- mulheres, teriam acesso a um plano de educação igual aos dos homens, participariam dos deveres militares e cívicos;
- casamento, a união monogâmica permanente seria a forma legal de casamento;
- propriedade privada, era concedida, poderia ser desigual, mas limitada. Todos os cidadãos teriam direito a propriedade da terra e seria proibida a posse de bem pessoal que excedesse quatro vezes o valor da terra;
- cobrança de juros, ficava proibida em caso de empréstimo;
- divisão do trabalho - a agricultura estaria ao encargo dos escravos, o comércio e a indústria sob cuidados dos estrangeiros, homens livres, mas não cidadãos, todas as funções políticas seriam prerrogativas dos cidadãos.
 C- Educação e religião – a teoria da educação visava a regulamentação dos estabelecimentos educacionais, através de cursos integralmente organizados com graus primário e secundário, universalizando para homens e mulheres uma formação educacional compulsórias, ministrada por professores remunerados; a religião seria regulamentada e supervisionada pelo Estado. As devoções privadas eram proibidas, eram apenas permitidos ritos em templo públicos e oficiados por sacerdotes autorizados; o ateísmo era proibido.
A política da comunidade 
Aristóteles é considerado o pai da ciência política. Em seu tratado sobre A Política, Aristóteles (2003) começa dizendo que a sociedade política é o bem mais elevado que uma associação humana pode pretender. Para o pensador clássico a instauração da sociedade política seria a transformação ou a extensão do estado político herdado pelo indivíduo da natureza, pois o homem é um animal político por natureza, que deve viver em sociedade (2003:14), para uma organização social politicamente orientada em vista do bem coletivo. 
A natureza política herdada pelos indivíduos circunscreve a sua vocação ontológica para a vida social, estruturada a partir da criação de normas que devem ser obedecidas antevendo a convivência de indivíduos. Em decorrência disto, abstrai-se que a inserção do Estado na ordem da natureza, sendo considerado anteposto à família, ao indivíduo, à religião e outras relações sociais. Considerando que os indivíduos são portadores de uma altíssima propensão à sociabilidade, ultrapassando outras formas de vida animal, que vivem reunidas, os que não desenvolveram a capacidade da vida social, não participando do Estado, seriam tratados como seres vis ou superiores, noutros termos, brutos ou divinos; significando que prescindiriam do Estado, por serem inferiores ou superiores a ele.
Em diversos aspectos o pensamento aristotélico sobre a política converge com o de seu mestre Platão; podemos citar como exemplo o fim ético do Estado e a educação compulsória; noutros, estabeleceu-se diferenças abissais, sobretudo no que dizia respeito a participação social na gestão do Estado (Châtelet et al, 2000). 
Se em Platão a gestão de um governo capaz poderia prescindir do povo, uma vez que o governante ideal, mediante o uso da razão, sabia o que era bom para o indivíduo e a sociedade, Aristóteles objeta frontalmente a idéia da ausência da sociedade na gestão do poder político. Pode-se afirmar que o seu pensamento político restaura o importante papel político do cidadão da polis. Suas idéias políticas ganham o formato de uma defesa para a reabilitação da cidade real (uma vez que a política platônica rompera com a realidade empírica da cidade grega, fazia-se pois necessário a concepção de uma filosofia política praticável), mediante a liberdade dos cidadãos como co-gestores de uma sociedade justa. Ao negar o governo dos filósofos, Aristóteles não anulava a excelência da filosofia, porém considerava um erro a concentração do poder político numa parte do corpo social. A cidade possui uma vocação para a cidadania ampla, diretamente associada a realização da justiça e da liberdade de todos. 
Veja-se a força que o filósofo empresta a essa preocupação:
É necessário que todos os cidadãos participem em comum de tudo ou de nada, de algumas coisas e de outras não. Não participar de nada é impossível, indubitavelmente; pois a sociedade política é como uma comunidade. Pelo menos o solo precisa ser comum a todos, a unidade de lugar constituindo a unidade de cidade, e a cidade pertencendo em comum a todos os cidadãos (Aristóteles, 2000:37).
Tópicos relevantes da defesa aristotélica da cidade real:
- A sabedoria coletiva do povo é superior até mesmo à do mais sábio legislador;
- A excelência da lei não residia na escrita, mas no costume;
- O Estado deveria ser uma associação de indivíduos que, vivendo juntos, aspirem o melhor tipo de vida possível;
- A soberania da lei e não a soberania de um indivíduo qualquer
 A política dos Estados emergentes da Europa 
Mais tarde, a compreensão filosófica da política sofre uma significativa mudança a começar do século XVI, quando o saber acadêmico restringiu os estudos da ciência política ao Estado e às leis. Essa mudança de curso não é sem razão. Bastaria olhar para a realidade social européia a partir do século XV com o Renascimento, passando pela Reforma e o advento da Ciência Moderna. As estruturas tradicionais sustentadas pelo poder do altar e pelo poder do trono absolutista, associados, foram abaladas, cedendo lugar às discussões fecundas sobre soberania , segurança e unidade nacional, erigindo os pilares para o aparecimento do Estado moderno. 
Châtelet st al listam as mudanças que abalaram a sociedade européia e redirecionaram o pensamento e as práticas políticas e acabaram por instaurar o Estado (moderno) como soberania: 
a- as realidades históricas e econômicas (extensão e aplicação - prática das descobertas feitas durante a Idade Média; desenvolvimento da civilização urbana, comercial e manufatureira); b- a imagem do mundo (descoberta do novo mundo; revoluções astronômicas de Copérnico e Kepler e física de Galileu), c- a representação da natureza (o universal medieval dos signos é substituído por uma realidade espacial a conquistar e a explorar); d- a cultura (a redescoberta da antigüidade greco-romana pelos humanistas suscita um maior interesse pelo homem enquanto dado natural e pelas especulações ético-políticas); e- o pensamento religioso (a radicalização da contestação do poder e da hierarquia de Roma, esboçada no século XIV por J. Hus, na Boêmia, e Wycliff, na Inglaterra, pelos movimentos que reivindicavam o cristianismo primitivo e se apoiam em especificidades nacionais). Esses abalos e os conflitos que os marcam colocam às práticas e às reflexões políticas problemas que essa vão tentar resolver por meio de invenções que estão na origem da modernidade: entre elas as mais marcantes, a do Estado como soberania (2000:35).
Durante a Idade Média as questões relacionadas ao Estado eram de somenos importância. A política era, antes de tudo, uma questão religiosa. A despeito do interesse social pelas questões políticas, não se havia substancializado uma ciência política como uma análise independente da visão teológica. Prevaleciam os dogmas da igreja; esta, em nome de um poder eterno ao qual dizia representar reivindicava o poder de coroar e depor príncipes e determinar as condutas gerais, dilatando o âmbito dos interessespropriamente religiosos. 
De outro lado, o exercício direto das políticas públicas levado à efeito pelos monarcas desfrutava de amplo consentimento com base na crença inquestionável da ocupação do trono como outorga divina, favorecendo duplamente à gestão absolutista da monarquia e à alienação da sociedade. 
O novo conceito de Estado sob a inspiração da razão humanista inaugura a fase moderna das relações sociais no ocidente. As idéias políticas se afastaram cada vez mais das categorias do pensamento teológico e da tradição cultural do regime feudal e abraçaram os novos conceitos humanista da história social e os avanços das ciências biológicas, astronômicas e físicas. A razão secularizada reinterpretou o papel do Estado, os deveres dos cidadãos e o seu direito a revolta em função da aplicação injusta da lei. Essas alterações no panorama político ocidental e os novos saberes no campo científico ensejaram o surgimento da Ciência Política.
O surgimento da Ciência Política
Dois nomes estão estreitamente ligados ao surgimento da Ciência Política: Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) e Jean Bodin. Maquiavel estabeleceu a ruptura das concepções naturais e religiosas atribuídas às ações políticas, passando a afirmar que a única razão para a vida social como possibilidade real da existência humana é o Estado; este deve sobreviver a tudo e a todos independente dos recursos que use para esta finalidade (2003:66). 
O termo Ciência Política foi mencionado pela primeira vez por um filósofo francês chamado Jean Bodin (1530 – 1596). A construção analítica desse estudioso se sustenta sob duas premissas básicas: a- o poder político é a forma necessária da existência social e b- a potência soberana do Estado é absoluta, indivisível e perpétua. A associação que Bodin faz da existência de um poder público correlato à existência da própria sociedade considera a criação de uma sede da potência soberana, uma força unificada e unificante, como condição histórica para a existência de toda sociedade, o Estado. 
A mais importante obra do autor foram Os Seis Livros da República, inspirado nas guerras civis, publicado em 1576, quatro anos depois do massacre de São Bartolomeu, com o declarado objetivo de fortalecer a posição do rei (Sabine, 1964) e atualizar as idéias de Aristóteles (Châtelet, 2000). O trabalho foi recebido com entusiasmo, contudo o seu valor foi menos acentuado em relação ao ideal de reviver o pensamento aristotélico em relação ao fato de libertar a noção de soberania da teoria do direito divino (Sabine, 1964). A obra estabelecia consonância com o conjunto de pensadores moderados que assentiam na irreversibilidade da divisão do cristianismo e da necessária e sensata tolerância religiosa. Alinhando-se ao pensamento moderado da época, Bodin atribuía ao poder real o papel de sustentáculo da paz e da ordem, elevando o rei como fator de unidade nacional acima das religiões e dos partidos. Para o filósofo, as relações entre o súdito e o soberano estava acima das demais relações; estas deveriam ser pautadas na submissão do súdito, pois só esta o fazia cidadão. Desde que haja uma soberania comum respeitada, não consistiria problema que a comunidade estivesse dividida por diferenças de costumes e religião.
A soberania do Estado foi um conceito sempre presente na obra de Bodin. Este foi considerado o pai da teoria moderna da soberania (Maritain, 1959). O princípio da soberania consiste no mais importante tema de sua filosofia política e significava um direito perpétuo ilimitado por padrões humanos e incondicional de fazer, interpretar e executar a lei, necessário a todo Estado bem organizado (Sabine, 1964). A idéia da soberania sugere a existência de um poder transcendente que caracteriza a posição do Estado em relação ao povo, ou seja o Estado é separado do povo:
Se o povo atribui o seu poder a alguém enquanto ele viva, na qualidade de oficial superior ou tenente, ou então para se libertar somente do exercício desse poder, nesse caso não se trata de um soberano, mas, sim, de um simples oficial superior, ou tenente, ou regente, ou governador, ou guarda, e representante do poder de outrem ... se poder absoluto lhe é atribuído pura e simplesmente, sem qualidade de magistrado, nem de comissário, nem de qualquer outra forma precária, é perfeitamente certo que essa pessoa é e pode dizer-se monarca soberano: porque o povo se desfez e se despojou do seu poder soberano para conceder-lho e nele o investir: para ele transferindo o povo todo o seu poder, a sua autoridade, as suas prerrogativas e soberanias (Bodin apud Maritain, 1959).
É importante que se entenda em que medida dá-se tal separação. O soberano deixa de ser parte do povo e do corpo político desde que o povo, desistindo do poder total, o transferiu a ele que, baseado nesta outorga, governará de cima para baixo e só prestará contas a Deus. A distinção do Estado em relação a todos os demais agrupamentos sociais reside exatamente no fato da posse do poder soberano por parte daquele. Todavia, se para o exercício do poder soberano era mister a eliminação de qualquer que fosse a limitação humana, não poderia fugir da sujeição à lei de Deus e da natureza; ainda, que existiam coisas que o soberano estava legalmente impedido de fazer, tais como a sucessão e alienação da coisa pública; a violação desta e outras leis redundariam no desvanecimento da própria soberania (Sabine, 1964).
A formalização acadêmica da Ciência Política
A despeito do dado político ter sido sempre matéria de observação e reflexão, até o século XIX não era reconhecido como um ramo do conhecimento científico. Diversos autores concordam que a Ciência Política conquistou sua autonomia em relação a outras disciplinas, de cujo programa tomava parte, como a história, a filosofia, o direito e a economia, nas duas primeiras décadas do século XX nos Estados Unidos, vindo a consolidar-se definitivamente, despertando interesse cada vez maior depois da primeira guerra mundial e, sobretudo, de 1945 em diante.[5: Rodee, Anderso, Christol, Greene – Introdução à Ciência Política, 1977, e o Prof. Darcy Azambuja – Introdução à Ciência Política, 1969.]
Definindo preliminarmente poder-se-ia dizer que Ciência Política seria o estudo científico da natureza, dos fundamentos, do exercício, dos objetivos e dos efeitos do poder na sociedade, sendo o Estado a maior representação deste poder, mas não a única.[6: Bertrand Russell chama a atenção para o fato de que a forma de vida social entre os povos primitivos operava com base numa psicologia individual sem necessidade de qualquer coisa que se pudesse chamar de governo, e que os costumes eram obedecidos sem imposição da parte de magistrados e de aparato militar – A autoridade e o indivíduo, 1977. ]
Em vista disto, outro não poderia ser o objeto da Ciência Política senão o fato político, aqui considerado todo ato ou situação relacionado à formação, estrutura e atividade do poder social. 
Os métodos e técnicas de pesquisa em Ciência política correspondem aos mesmos utilizados pelas demais ciências sociais, sendo dentre estes, a observação documental e a observação direta, os mais recorrentes.
Bibliografia
ARENDT, Hannah. A Condição Humana, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1993.
ARISTÓTELES. Política, São Paulo, Martin Claret, 2003.
AZAMBUJA, Darcy. Introdução à Ciência Política, Porto Alegre - RS, Editora Globo, 1969.
BRECHT, Arnold. Teoria Política I, Rio de Janeiro, Zahar, 1965.
CHÂTELET, François et al. História das Idéias Políticas, Rio de Janeiro, Zahar, 2000.
DAHL, Robert A. A Moderna Análise Política, Rio de Janeiro, Lidador, 1966.
MANNHEIM, Karl, Ideologia e Utopia, Rio de Janeiro, Guanabara, 1986.
MARITAIN, Jacques. O Homem e o Estado, Rio de Janeiro, Agir, 1959.
RODEE, Carlton Clymer, et al. Introdução à Ciência Política I, Rio de Janeiro, Agir, 1977. 
RUSSELL, Bertrand. A Autoridade e o Indivíduo, Rio de Janeiro, Zahar, 1977.
SABINE, George H. História das Teorias Políticas, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1964.

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