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Livro Ciencia Politica e teoria do estado

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Prévia do material em texto

Elisângela Menezes 
Margarida Maria Souto Fantoni
Ciência Política e 
Teoria do Estado
Elisângela Menezes 
Margarida Maria Souto Fantoni
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
Belo Horizonte
novembro de 2015
COPYRIGHT © 2015
GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO
Todos os direitos reservados ao:
Grupo Ănima Educação
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização 
por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios 
empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.
Edição
Grupo Ănima Educação
Vice Presidência
Arthur Sperandeo de Macedo
Coordenação de Produção
Gislene Garcia Nora de Oliveira
Ilustração e Capa
Alexandre de Souza Paz Monsserrate
Leonardo Antonio Aguiar
Equipe EaD
Conheça 
a Autora
Margarida Fantoni é Mestre em Administração/
Gestão da Inovação pelas Faculdades 
Integradas de Pedro Leopoldo, pós-graduada 
em Gestão Estratégica da Informação pela 
UFMG – Universidade Federal de Minas 
Gerais, pós-graduada em Administração 
Financeira pela FJP – Fundação João 
Pinheiro e graduada em Ciências Econômicas 
pela UFMG. Atuou profissionalmente 
junto à SEPLAG – Secretaria de Estado de 
Planejamento e Gestão, ao SEBRAE – Serviço 
de Apoio à Micro e Pequena Empresa e à 
FIEMG – Federação das Indústrias do Estado 
de Minas Gerais. É instrutora de cursos de 
Gestão da Informação e do Conhecimento 
da FJP, FEAD e da SEPLAG. Ministrou as 
disciplinas de Teoria Econômica e Economia 
Monetária na UNA. 
Conheça 
a Autora
ELISÂNGELA DIAS MENEZES: Jornalista, 
Advogada e perita judicial especializada em 
Propriedade Intelectual. Mestre em Direito 
Privado pela PUC Minas e Doutoranda em 
Ciências Jurídico-Civis pela Universidade 
de Lisboa. Professora da graduação e pós-
graduação dos centros universitários Uni-BH 
e UNA. Membro da Comissão de Propriedade 
Intelectual da OAB-MG e autora do livro “Curso 
de Direito Autoral” da Editora Del Rey. 
Caro Aluno,
Nesta disciplina, você vai receber uma formação política básica para 
que a sua atuação profissional se dê de forma segura e responsável, 
despertando a sua postura cidadã frente aos problemas diários da 
sociedade organizada e do Estado Democrático de Direito. Com o 
ensino de noções de Política e Teoria do Estado, você irá desenvolver 
uma consciência em torno da responsabilidade ética e legal que envolve 
o exercício profissional, capacitando-se para lidar de maneira séria 
e responsável com os diversos desafios decorrentes da atuação em 
sociedade e do exercício da profissão. 
Assim, ao final desta empreitada, esperamos que você tenha adquirido 
habilidades e competências necessárias às relações políticas, sociais 
e cidadãs decorrentes do convívio em sociedade. Para tanto, serão 
apresentados a você o conceito e as origens históricas da Ciência 
Política, incluindo as contribuições do pensamento político grego, bem 
como do pensamento político moderno. Também serão discutidos 
importantes conceitos relacionados com o Estado, sua origem, evolução 
histórica, elementos constitutivos, funções e configurações, passando 
pelas intrigantes correntes do Liberalismo, do Socialismo e da Social-
Democracia.
A questão da democracia será apresentada a você de forma especial, 
dada a importância e contemporaneidade da sua discussão, sendo 
acompanhada de uma análise dos sistemas de representação, formas 
e sistemas de governo. Outro aspecto de fundamental relevância para a 
sua formação é retratado na discussão dos aparelhos de estado e das 
forças políticas, envolvendo a questão dos direitos políticos, sociais, 
civis e humanos, bem como a cidadania. Um último aspecto retratado 
diz respeito às relações internacionais do Estado, tópico essencial em 
virtude dos seus impactos sobre a soberania interna e externa. Portanto, 
mãos à obra, pois temos muito trabalho!
Apresentação 
da disciplina
UNIDADE 1 003
Fundamentos da Ciência Política 004
Conceito e origem histórica 006
A contribuição grega: Platão e Aristóteles 013
Pensamento político moderno 020
Revisão 028
 
 
 
UNIDADE 2 029
Teoria geral do Estado 030
Conceito de Estado e Nação 033
Origem, formação e evolução histórica do Estado 035
Elementos constitutivos do Estado: povo, território e soberania 043
Estado, direito e política: noções de cidadadnia 048
Finalidade e funções do Estado: teoria da autolimitação 050
Revisão 056
 
UNIDADE 3 059
O Estado Moderno 060
O Estado Liberal 062
O Estado Socialista 068
O Estado do Bem-Estar Social 072
O Estado de Direito 077
Revisão 085
 
 
 
UNIDADE 4 087
Estado e Governo 088
Estado moderno e domocracia 090
Sufrágio: conceitos 097
Representação política 102
Formas de governo 105
Sistemas de Governo 110
Revisão 117
UNIDADE 5 119
Aparelhos do Estado e força política 120 
Repressivos 123 
Ideológicos 124
Forças políticas: sociedade civil, grupos de pressão, 
opinião pública e imprensa 126
O direito de resistência 136 
Revisão 141
UNIDADE 6 144
Poder Político 145 
Direitos Civis 149 
Direitos sociais 156 
Direitos políticos 163 
Revisão 172 
 
 
 
 
UNIDADE 7 174
Perspectivas do Estado 175 
Direitos Humanos 177 
Formação histórica da sociedade 182
Sociedade civil e sociedade política 191
CIdadania 194
A participação das minorias (afrodescendentes e índios) 199
Revisão 208
UNIDADE 8 210
O Estado e as relações internacionais 211
Soberania interna e externa 214 
Soberania, integração e comunitarismo 223
Revisão 234
REFERÊNCIAS 236
Fundamentos da 
Ciência Política 
• Conceito e 
origem histórica
• A contribuição 
grega: Platão e 
Aristóteles
• Pensamento 
político moderno
• Revisão
Introdução
Se você já ouviu falar em Ciência Política, certamente já se deparou 
com uma série de dificuldades em torno da definição precisa desse 
intrigante tema, que representa um grande desafio para os autores. 
De fato, são muitas as ambiguidades que permeiam o tema, dada 
a sua complexidade e a sua amplitude de significados retratados, 
algumas vezes conflitantes. Considere, além disso, o natural 
dinamismo que permeia o tecido social, objeto central da Ciência 
Política, o que introduz um elemento de mudança distinguindo-a 
inteiramente das ciências naturais, de caráter uniforme, imutável e 
previsível. Acrescente a difícil meta de neutralidade do cientista em 
relação ao fenômeno social e a discussão torna-se particularmente 
estimulante.
Tendo como pano de fundo os panoramas histórico, sociológico, 
filosófico e, mais comumente, o jurídico, a Ciência Política vem 
ganhando maior espaço dentro e fora do universo jurídico. Apesar 
das dificuldades e até mesmo de resistências localizadas no próprio 
meio acadêmico, caminha para além das fronteiras delimitadoras 
do Direito Constitucional, onde esteve confinada até pouco tempo.
Nos tópicos seguintes, você fará uma agradável viagem pela 
trajetória da Ciência Política. Para explicitar o seu conceito, incluindo 
as suas diversas abordagens e peculiaridades, vamos retroagir 
no tempo até os grandes pensadores clássicos da humanidade e 
o seu papel na democracia grega, palco das grandes assembleias 
públicas.
O ponto de partida será uma discussão sobre a Filosofia Política, de 
onde se origina a Ciência Política. Passando pelos sábios sofistas e 
Sócrates, vamos encontrar Platão, representante maior da corrente 
idealista de pensamento, com sua Teoria das Formas. Depois 
vamos apresentá-lo a Aristóteles, aluno e discípulo de Platão, que 
trouxe à tona a corrente realista de pensamento em contraponto à 
corrente idealista do mestre, dando uma contribuição inestimável 
para a ciência e para a teoria política.
Por fim, vamos falar sobre Maquiavel, precursor da Ciência Política 
e pai da Política Moderna. Você vai se surpreender com as ideias 
do pensador, que se guiava por um forte senso de realismo político, 
explicitando verdades até entãoinconfessáveis, o que lhe valeu um 
alto custo em termos da sua reputação. 
Ao fim dessa jornada, você terá revisitado importantes elementos 
relacionados com a responsabilidade ética e legal, fundamentais 
para o exercício pleno da cidadania, condição básica para o 
enfrentamento das questões cotidianas da sociedade organizada. 
Dotado de formação política básica, você também estará mais apto 
para o exercício das suas funções profissionais, de modo a atuar de 
forma segura e responsável.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
006
A Ciência Política tem suas raízes na Filosofia Política, remontando 
aos clássicos (séculos VI a IV a.C.), de onde emergem conceitos 
fundamentais como justiça, liberdade, poder e soberania, dentre 
outros tão caros para a sociedade contemporânea.
O cerne da questão é o conceito de igualdade ou isonomia que, na 
cultura grega, significava total igualdade de direitos dos indivíduos, 
desde que integrantes de uma mesma casta, num contexto de 
polarização entre homens livres e escravos. Isso significava que os 
homens livres podiam se expressar com total liberdade e contrapor 
as opiniões alheias em seu próprio meio, independentemente de 
sua posição social, por se tratarem de indivíduos iguais. O mesmo 
ocorria em relação aos escravos, no seu respectivo meio. 
Esse conceito de igualdade contribuiu para o ideal de autonomia 
das cidades-estados gregas ou pólis, onde se propagavam novos 
formatos de governança, trazendo a noção de autogoverno em 
contraposição aos regimes convencionais. Nesse contexto, não 
se admitia um indivíduo dar ordens a outros considerados iguais 
a ele (fosse homem livre ou escravo), sendo necessário a ele 
apresentar argumentos para obtenção de apoio e aprovação, numa 
caracterização plena da democracia grega.
Este era o palco em que se realizavam as grandes assembleias 
democráticas de Atenas, onde se resolviam todos os problemas 
pertinentes à coletividade. Lá, importantes oradores debatiam 
elaboradas estruturas de pensamento, cujo foco migrou da natureza 
para o homem, trazendo em seu âmago as questões da ética e da 
política, muitas vezes geradoras de fortes embates e conflitos.
Os conflitos derivavam da própria complexidade das questões 
debatidas e seus reflexos sobre o bem-estar da coletividade. 
Conceito e 
origem histórica
O cerne da questão 
é o conceito de 
igualdade ou 
isonomia que, 
na cultura grega, 
significava total 
igualdade de direitos 
dos indivíduos.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
007
Também eram gerados pela desconfiança em torno da performance 
de oradores sofistas, sábios muitas vezes levados às assembleias 
para defender, com desenvolvidas argumentações, questões de 
interesse específico de determinados indivíduos ou grupos de 
indivíduos, independentemente da noção de justiça ou dos impactos 
que a ausência desta pudesse resultar.
Os sofistas, que tiveram em Sócrates (469-399 a.C.) seu mais temível 
adversário, nem sempre estiveram associados a uma imagem 
depreciativa. Sua origem está nos grandes sábios que se dedicavam 
a estudar racionalmente a natureza e, no auge da democracia 
ateniense, representaram, a princípio, um importante veículo de 
contestação dos valores tradicionais da aristocracia grega. Eram 
especialistas na arte da argumentação e, com o passar do tempo, 
foram tomados por um subjetivismo radical, em que passou a 
predominar a ideia de que tudo é relativo. Na visão extremista de 
Protágoras, expoente sofista, reside no homem a medida de todas as 
coisas. Assim, a definição do bom e do justo ficaria subordinada à 
própria retórica, sendo o discurso cuidadosamente produzido para 
gerar os efeitos esperados.
É criação dos sofistas o método educacional difundido em Atenas, 
denominado Paideia. Os jovens eram versados na disciplina da retórica, 
além da gramática, da aritmética e da lógica. Observa-se que, na pólis, 
a estrutura de poder deslocava-se da carreira militar e dos jogos para a 
cidadania e a política, e o regime democrático ateniense exigia proficiência 
na arte da retórica. Estavam lançadas as bases da demagogia, em seu pior 
sentido de condução das massas. 
Em contraposição aos sofistas, Sócrates defendia o método educacional 
denominado Maiêutica. Este buscava trazer à tona ideias e verdades 
preexistentes na alma, a partir de um processo de rememoração conduzido 
pelo mestre junto aos seus discípulos.
Os sofistas eram 
especialistas 
na arte da 
argumentação
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
008
É de Sócrates a célebre frase tudo o que sei consiste em saber 
que nada sei, expressão de verdadeira humildade e sabedoria 
que confrontava diretamente a arrogância da aristocracia grega, 
gerando forte oposição as suas ideias. Observa-se que Sócrates 
acabou sendo condenado à morte, sob o pretexto de desrespeito às 
leis da cidade, aos deuses e de corrupção da juventude ateniense. 
Entretanto, defendeu até o fim as suas ideias e não se eximiu de 
culpa, aceitando o veredicto imposto.
Também ao contrário dos sofistas, que acreditavam que as coisas 
são como nos aparecem, Platão (428-347 a.C.), o mais importante 
discípulo de Sócrates, defendia que não se sabe aquilo que se 
acreditava saber, dado que as coisas mudam permanentemente, 
sendo essa uma característica essencial de tudo o que existe. 
A busca do conhecimento, assim, levaria à contraposição entre o 
que é e o que parece ser, ao que se impõe o afastamento dos homens 
das simples aparências, ou senso comum, rumo à pluralidade de 
realidades que os cercam. O plano ideal seria retratado pelo que 
deveria ser. 
Mais tarde, Aristóteles, discípulo de Platão, iria contrapor o 
pensamento idealista do seu mestre, adotando o realismo como 
método do conhecimento. Afirmando que “o homem é por 
natureza um animal social”, abordava questões relacionadas com 
a constituição do Estado, a divisão de poderes e as formas de 
governo, vindo a influenciar diretamente o pensamento político 
moderno, oferecendo explicações racionais para os problemas 
latentes. 
Aristóteles é também considerado o “pai da ciência”, posto que é o 
criador da Lógica Formal, que preconiza a observação de premissas 
racionais para a obtenção de um determinado raciocínio ou juízo, 
ou seja, a metodologia científica.
Os conceitos filosóficos forjados pelos clássicos levaram à 
Platão defendia 
que não se 
sabe aquilo que 
se acreditava 
saber.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
009
estruturação de diversas teorias contemporâneas nos campos 
político, psicológico, sociológico e até mesmo espiritual, 
constituindo a base do moderno conceito de Ciência Política. 
Bittar (2013) afirma que a filosofia traduz uma atitude radical 
perante à vida e ao mundo, induzindo transformações motivadas 
pela desalienação dos indivíduos, que têm suas experiências 
cotidianas confrontadas por novos e diferentes sentidos.
Observe a interessante análise feita pelo autor:
Em última análise, a filosofia nos impede de banalizar 
a vida, o mundo, a existência, as coisas, na medida 
em que o seu exercício favorece um movimento de 
resistência racional diante de uma tendência congênita 
à da sabedoria e à busca pelo conhecimento, à simples 
aceitação das coisas como elas são, enquanto dados 
brutos que independem da reinvenção e do processo 
criativo do conhecimento. (BITTAR, 2013, p. 29).
A atuação política aborda os meios e as formas com que se decidem 
as questões que afetam a coletividade em sua eterna busca pelo 
bem comum, que é um pressuposto da própria condição humana. 
Assim, conforme Bittar (2013), “a filosofia tem um compromisso 
natural com a política [...]”.
A esta altura, você deve estar se perguntando: mas o que é de fato 
a Ciência Política? Uma interessante conceituação, oferecida por 
Bonavides (2000), é apresentada na sequência.
A Ciência Política, em sentido lato, tem por objeto o 
estudo dos acontecimentos,das instituições e das 
ideias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) 
como em sentido prático (arte), referido ao passado, 
ao presente e às possibilidades futuras. (BONAVIDES, 
2000, p. 12).
A filosofia 
traduz uma 
atitude radical 
perante à vida 
e ao mundo.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
010
O autor aponta que a pluralidade de abordagens da Ciência Política 
é retratada por três grandes enfoques: o sociológico, o jurídico e o 
filosófico. O enfoque sociológico tem seu maior expoente em Max 
Weber, tendo como objetos primordiais de estudo:
• as relações de poder envolvendo o Estado e a Sociedade;
• as pressões sociais;
• a atuação dos partidos políticos; 
• a influência dos grupos econômicos;
• a obediência ao poder;
• a legitimidade do Estado;
• o regime político e suas implicações no tecido social.
O enfoque filosófico, que remonta aos antigos clássicos, como 
Platão e Aristóteles, privilegia o estudo de questões tipicamente 
relacionadas com:
• a origem do Estado;
• a essência do Estado;
• a justificação do Estado;
• as finalidades do Estado e das instituições.
Já o enfoque jurídico, mais convencional e de caráter reducionista, 
dá à Ciência Política uma dimensão restrita a um corpo de 
normas, no âmbito da Teoria Geral do Estado. Em sua expressão 
mais contundente, é exaltado o aspecto estritamente formal do 
Estado na sua relação com a sociedade, desprovida de maiores 
considerações de cunho moral e ético. Não por acaso, é uma visão 
duramente criticada pelas correntes sociológica e filosófica, que 
veem nela os ingredientes ideais para a promoção de doutrinas 
fascistas e totalitárias.
A Ciência Política é 
retratada por três 
grandes enfoques: 
o sociológico, 
o jurídico e o 
filosófico.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
011
O autor aponta que a academia se volta, na atualidade, para uma 
abordagem tridimensional, caracterizada pela consideração dos 
três enfoques, quais sejam: o sociológico, o filosófico e o jurídico, 
conferindo maior status à Ciência Política através de uma visão 
mais abrangente e holística.
Bobbio (2000), por sua vez, oferece uma importante abordagem 
sobre as complexas relações entre a Filosofia Política e a Ciência 
Política, esta última compreendida como “o estudo dos fenômenos 
políticos conduzidos com a metodologia das ciências empíricas 
e utilizando todas as técnicas de pesquisa próprias da ciência do 
comportamento”. (BOBBIO, 2000, p. 67).
O problema é que as relações entre os conceitos de Ciência Política 
e Filosofia Política são afetadas pelo significado atribuído a esta 
última, que pode retratar diferentes enfoques.
O primeiro enfoque trata a Filosofia Política a partir da construção 
de um modelo ideal de Estado fortemente fundado em aspectos 
éticos e de características preditivas e utópicas, tal como retratado 
pelos clássicos. Daí se depreende uma oposição clara em relação 
à Ciência Política, que tem uma função de caráter mais explicativo, 
em torno da política tal como ela é, sendo que toda consideração 
em torno do que ela deveria ser é tratada como futurologia.
Um segundo enfoque da Filosofia Política aborda a fundamentação 
do poder e sua legitimação, em que se analisa o fenômeno real do 
poder. Aqui, ainda que com convergências, residem traços de 
maior proximidade com a Ciência Política, na medida em que 
essa abordagem também é objeto de estudo do cientista político. 
Principalmente no que tange à análise dos critérios de legitimação à 
luz do regime político vigente e da sua época de referência.
O terceiro enfoque ou significado de Filosofia Política retrata a 
categoria da política, ou conceito geral de política. Neste caso, o autor 
aponta ser difícil separar as linhas delimitadoras entre o filósofo 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
012
e o cientista político. Isso porque, assim como não é possível ao 
filósofo abordar a política sem considerar os aspectos factuais da 
questão, também não se admite que o cientista político possa evitar 
o debate em torno do seu conceito. 
Um quarto e último enfoque situa a Filosofia Política no campo 
da “metaciência”, centrado na linguagem política. Retratando a 
análise do discurso crítico em si, bem como de seus pressupostos 
metodológicos, constitui uma investigação de segunda instância 
em relação à questão política. A Ciência Política, por sua vez, 
apresenta um discurso objetivo em torno do comportamento 
político, constituindo uma investigação de primeira instância, 
observados os rigorosos critérios de investigação científica.
O autor aponta que, dependendo do enfoque adotado 
(particularmente no tocante aos três primeiros), emerge a resposta 
do analista à questão política, dado que todos os aspectos 
abordados estão no seu âmago e podem ser conectados. Isso quer 
dizer que: dependendo da visão que se tenha em torno da natureza 
da política e suas implicações morais, dá-se uma resposta em torno 
da validade ou não da obediência política; ou dependendo da visão 
que se tenha em torno da natureza do Estado e suas finalidades, 
configura-se uma resposta em torno de quais seriam as melhores 
instituições políticas; e daí por diante.
Observa-se que os critérios científicos de investigação requeridos 
pela Ciência Política são de difícil assimilação pela Filosofia Política. 
Esta apresenta contornos nitidamente valorativos, via de regra sem 
possibilidade de verificação empírica.
Cabe ao cientista político a árdua tarefa de observação de três aspectos 
fundamentais vinculados à ciência como tal: a) o princípio de verificação 
como critério de validação; b) a explicação como objetivo; e c) a não-
valoração como pressuposto ético (BOBBIO, 2000).
A Ciência Política, 
apresenta um 
discurso objetivo 
em torno do 
comportamento 
político.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
013
A contribuição grega: 
Platão e Aristóteles
Platão
Platão (428-347 a.C.), cujo nome verdadeiro era Arístocles foi, 
seguramente, um dos mais importantes e polêmicos pensadores da 
história da humanidade, tendo abordado temas que incluem a ética, 
a política, a metafísica e a teoria do conhecimento, sempre revestidos 
de forte conteúdo moral. 
Cidadão ateniense, oriundo de família rica e proeminente, parte 
dele a tradição do idealismo filosófico em que se observa o 
predomínio absoluto do plano das ideias, sob a égide da virtude e da 
contemplação.
A obra do filósofo é fortemente influenciada pelas ideias de Sócrates 
(470-399 a.C.), tendo dado sequência à tratativa de vários dos 
questionamentos do antigo mestre, num estilo bem dramático e 
inconclusivo (ou aporético), próprio deste último. Argumenta-se que, 
possivelmente, Sócrates não tinha a intenção de oferecer respostas 
conclusivas, e sim provocar questionamentos, estimulando a busca 
incessante do autoconhecimento. 
Em 387 a.C., Platão fundou a Academia, considerada a primeira 
universidade da Europa (que incrivelmente perdurou por mais de 
novecentos anos), local onde o filósofo costumava se reunir com 
um pequeno grupo de pessoas para debater ideias e ministrar 
aulas particulares acerca de temas relacionados com a astronomia, 
biologia, ciências políticas e filosofia. Aristóteles era seu aluno mais 
proeminente.
Sócrates não tinha 
a intenção de 
oferecer respostas 
conclusivas.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
014
FIGURA 1 – Platão e Aristóteles
Fonte: SANZIO, Raffaello. Escuela de Atenas. 1509-1510.
Seus mais de 30 diálogos constituem uma verdadeira obra prima 
da filosofia (algumas obras têm sua autoria contestada), sendo que 
os primeiros têm Sócrates como protagonista. Por isso mesmo são 
denominados diálogos socráticos.
Platão acreditava na preexistência da alma, que passaria por um 
processo de esquecimento, quando confinada a um novo corpo 
a cada nascimento, mas guardando reminiscências de vidas 
anteriores. Para despertar tais lembranças,seria necessário 
transcendê-la a um universo maior, sendo tal transcendência um 
desejo profundo e intrínseco a todos os seres, objeto do amor 
nostálgico de Platão. 
Um estágio mais elevado de conhecimento seria obtido mediante 
a contraposição entre o que é e o que parece ser, posto que 
tudo que existe está em constante mudança. O homem, neste 
sentido, enfrenta uma dualidade, convivendo com uma realidade 
inteligível, referenciada na vida concreta e imutável, e uma realidade 
sensível, relacionada com os sentidos e percepções que estão em 
permanente evolução. 
O homem enfrenta 
uma dualidade, 
convivendo com 
uma realidade 
inteligível, e uma 
realidade sensível.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
015
Regidos apenas pelo que parece ser, os homens se comportariam 
de maneira injusta. Mas não é simples determinar como as coisas 
são de fato, razão pela qual o melhor caminho seria a reflexão da 
realidade em torno do que ela deveria ser no plano ideal, sendo esta 
a verdadeira referência para o comportamento bom e justo. Daí 
decorre a Teoria das Ideias, ou Teoria das Formas, que constitui o 
ápice da filosofia de Platão. 
No tocante à sua obra política, destaca-se A República, centrada 
basicamente na questão da justiça, em que se questiona a essência 
do Estado que, na acepção do filósofo, deveria ser representado por 
três classes fundadas na meritocracia: comerciantes, militares e 
filósofos. Estes responsáveis pela arte de governar. 
Deve-se destacar que, somente após a morte de Sócrates, em 399 
a.C., Platão passou a se dedicar à sua própria filosofia, evoluindo 
para um estilo próprio, menos dramático.
Os principais trabalhos de Platão, que incluem 35 diálogos e 13 
cartas, são apresentados por Olga Pombo, da Universidade de 
Lisboa, classificados em quatro grandes períodos, discriminados no 
Quadro I.
QUADRO 1 – A Obra de Platão
Laques 
Cármide 
Eutífron 
Hípias Menor 
Apologia de Sócrates
Críton 
Ion 
Protágoras 
Lísis 
Geórgias 
Mênon 
Eutidemo 
Crítias
Teeteto
Diálogos da 
Juventude 
(Diálogos 
Socráticos) 
Diálogos 
contra os 
Sofistas
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
016
Fedro 
Banquete 
Fédon 
República 
Parmênides
Sofista
Político
Filebo
Timeu
Leis (inacabado)
Diálogos da 
Maturidade
Diálogos
(Revisão 
crítica)
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em: FONTES, Carlos. 
Análise de Obras de Platão. Disponível em: <http://afilosofia.
no.sapo.pt/PLATAO.htm>. Acesso em: 19 maio 2015.
Aristóteles
Nascido em Estagira, colônia grega da Macedônia, Aristóteles (384-
322 a.C.) ingressou na Academia de Platão aos 17 anos, tendo sido 
enviado a Atenas por seu pai, um proeminente médico da corte do rei 
macedônio. Lá permaneceu por duas décadas, primeiramente como 
aluno e posteriormente como professor. Acabou tornando-se um dos 
mais importantes filósofos da era clássica, rivalizando com o seu 
mestre. 
Após a morte de Platão, voltou para a Macedônia, onde foi tutor 
de Alexandre Magno, então com a idade de 13 anos. Retornando 
a Atenas, fundou o Liceu, uma escola caracterizada como 
peripatética, dado que as aulas eram ministradas em movimento. 
Conflitos com a aristocracia ateniense, potencializados após a 
morte de Alexandre Magno, o Grande, o afastariam novamente de 
Atenas em 323 a.C., vindo a morrer um ano depois, em Cálcis. 
Segundo apontam Garvey e Stangroom (2009), seus escritos se 
enquadram em duas categorias: os esotéricos, de caráter mais 
técnico e internos à escola, tidos presumidamente como suas notas 
de aula; e os exotéricos, de grande beleza e eloquência, destinados 
ao consumo público, dos quais não se tem mais registro. Os textos 
disponíveis na atualidade são os esotéricos, sendo os mesmos 
apontados como de difícil interpretação e não raro inconsistentes, 
mas ainda assim não menos importantes. 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
017
Aristóteles “inventou” a ciência, alçando a filosofia à categoria de 
“ciência das causas supremas”. Escrevendo sobre temas diversos, 
como ética, moral, política, teologia, física, metafísica, cosmologia, 
matemática, psicologia, dentre tantos outros. Também fundou e 
estruturou disciplinas inteiras.
Adotou o realismo como método do conhecimento - em puro 
contraste com o idealismo platônico em sua Teoria das Formas -, 
subdividindo-o em duas categorias: o conhecimento empírico e o 
conhecimento intelectivo. 
Aristóteles explicitou quatro características explicativas das coisas, 
conhecidas como as “quatro causas”: 
a. a causa material: do que ela é feita? 
b. a causa formal: que tipo de coisa ela é? 
c. a causa eficiente: o que a faz ser, o que é ou o que iniciou as 
mudanças que a fizeram ser o que é? 
d. a causa final: e para que ela serve? 
Percebe-se uma grande preocupação com a identificação dos 
objetivos e dos fins de todas as coisas, sem o que não se conhece 
nada verdadeiramente. No tocante aos seres vivos, as quatro 
questões estariam ligadas às atividades da alma que, na visão do 
filósofo, é um elemento vinculado ao corpo com funções distintivas, 
atribuindo-lhe movimento e perspectiva.
A virtude, segundo Aristóteles, diz respeito ao grau de desenvolvimento 
das potencialidades distintivas do ser, que no caso do Homem, traduz-se 
na compatibilização entre a ação e a razão, ou seja, na escolha do meio, 
ou na capacidade de sentir e agir corretamente face a uma circunstância 
peculiar. (Stangroom e Garvey, 2009).
Teoria das Formas 
está subdividida 
em conhecimento 
empírico e o 
conhecimento 
intelectivo. 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
018
Nunes (1999), por sua vez, destaca que a contribuição fundamental 
de Aristóteles reside nos seguintes aspectos: a) sistematização do 
conhecimento; b) estruturação da lógica formal; c) explicitação da 
causalidade; d) divisão das Ciências. Observa-se que as ciências 
foram classificadas em três grupos: teoréticas (física, matemática, 
metafísica e teologia); práticas (ética e política) e poética (estética 
e técnica).
Também foi decisiva a influência de Aristóteles no campo político, 
destacando-se que, a partir do século XVII,
[...] sua obra torna-se uma alternativa analítica para 
explicar as novas realidades criadas pelo surgimento 
do Estado Moderno e do absolutismo político, pela 
busca do papel do indivíduo na sociedade, pela 
ampliação do mundo, pela crise da unidade político-
religiosa europeia, etc. (ALMEIDA FILHO e SOUSA, 
2013, p. 37).
Aristóteles afirmava que “o homem é por natureza um animal 
social”, sendo que a sua felicidade (entendida como um movimento 
ou uma atividade, e não como um resultado) está condicionada não 
apenas pela sua maneira de agir, mas também com a sua existência 
coletiva, em sociedade. Ou seja, a felicidade individual caminha ao 
lado da felicidade política. 
Considera-se a política sob duas abordagens: a ética, cujo objetivo 
é o alcance da felicidade; e a política propriamente dita, em que são 
confrontadas questões relacionadas com a forma de governo, as 
instituições e as leis para a promoção do bem estar. 
Neste contexto, a pólis é encarada como uma comunidade que se 
constitui para promover o bem estar, devendo ser regida pela melhor 
Constituição que se possa oferecer dentre um leque de alternativas 
observáveis, em consonância com o perfil e as características de 
cada povo, numa visão bastante pragmática. Cai por terra, assim, o 
mito platônico do Estado ideal, posto que este seria inatingível, na 
visão de Aristóteles. 
 Pólis é 
encarada 
como uma 
comunidade 
que se constitui 
para promover 
o bem estar.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
019
Estabelecida a melhor Constituição, os próximos passos dizem 
respeito à configuração das melhores leis, que precisam ser 
compatíveis com a Constituição estabelecida, bem como a divisão 
de poderes. Neste último ponto, não há convergência entre a 
proposição de Aristóteles e a moderna concepçãodo Estado, 
dividido nas funções executiva, legislativa e judiciária. O filósofo 
enfatizava três funções públicas relacionadas com a deliberação 
sobre assuntos públicos, a tratativa das funções públicas e o 
poder judiciário, cuja distribuição entre os cidadãos assume papel 
relevante.
Aristóteles apontava como corretas as três formas de governo: 
monarquia, aristocracia e democracia, sendo cada uma delas mais 
ou menos adequada em função do perfil e das características da 
sociedade, e do contexto histórico. 
Suas assertivas levaram à inferência de que a democracia poderia 
ser o estágio final de desenvolvimento das formas de governo, 
em face do amadurecimento das percepções e das próprias 
experiências conflituosas entre os homens. No entanto, considerava 
que, eventualmente, todas as formas de governo podem ser 
corrompidas em seus pressupostos, respectivamente, pela tirania, 
pela oligarquia ou pela demagogia.
Conforme transcrevem Almeida Filho e Sousa (2013), uma 
importante questão abordada por Aristóteles a esse respeito é 
‘perguntar se é mais conveniente ser governado pelos melhores 
homens ou pelas melhores leis’. A inclinação do filósofo é pela 
última alternativa, de natureza democrática, posto que as leis, ao 
contrário dos homens, não estariam sujeitas às influências das 
paixões.
A seguir é apresentada uma classificação da vasta obra de 
Aristóteles, com base na edição formulada por Andrônico de Rodes, 
em 50 a.C.:
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
020
QUADRO 2 – A Obra de Aristóteles
Fonte: ARISTÓTELES: A vida e as obras. In: Site “Mundo dos filósofos”. 
Escritos Lógicos
Escritos sobre a Física 
Escritos Metafísicos
Escritos Morais e Políticos
Escritos Retóricos e Poéticos
Escritos sobre a lógica, como instrumento da ciência 
Escritos sobre cosmologia, antropologia e metafísica, 
vinculados à filosofia teorética 
Metafísica Geral e Teologia (14 livros)
Ética a Nicômaco (dez livros); Ética a Eudemo (inacabada); 
A Grande Ética; A Política (incompleta)
Retórica (três livros); Poética (dois livros);
Pensamento político 
moderno
Certamente você conhece a célebre assertiva de que “os fins 
justificam os meios”, endereçada, equivocadamente, ao florentino 
Nicolau Maquiavel (1469-1527), importante expressão do 
pensamento político moderno. 
Acusado de patrono do absolutismo, defensor da crueldade e da 
tirania, a imagem de Maquiavel está irremediavelmente ligada 
à frieza e ao calculismo. Entretanto, esta é uma visão simplista 
do pensamento do florentino, decorrente de uma análise pouco 
profunda e preconceituosa de sua obra. 
Maquiavel era um jovem diplomata da Segunda Chancelaria da 
República de Florença, tendo sido nomeado em 1498. No seu ofício, 
teve a oportunidade de conviver, durante 14 anos, com as maiores 
figuras políticas de sua época, a partir do que pôde testemunhar e 
analisar tanto os pontos fortes quanto os fracos da atuação dos 
governantes.
Em 1512 foi afastado do seu cargo e preso, quando a família 
Médici assumiu o poder de Florença, dissolvendo a república até 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
021
então instalada. Em 1513 Maquiavel escreveu a sua obra prima, 
denominada O Príncipe (que só seria publicada pela primeira vez 
em 1532), versando sobre as suas ideias em torno do que seria o 
perfil de um governante ideal.
FIGURA 2 – Livro “O Príncipe”
Fonte: [Capa do livro “O Príncipe”]. 
Disponível em: <http://oriundi.net/imgs/
livro8515.jpg>. Acesso em: 10 abr. 2015.
O Príncipe trata essencialmente da “arte da liderança” e a medida 
da sua importância é compatível com o enorme assombro por ela 
gerado até os nossos dias, dada a ousadia das ideias apresentadas, 
de caráter profundamente amoral. 
Em síntese, Maquiavel afirmava que é dever dos governantes manter 
o poder a qualquer custo, sobretudo aqueles que o subtraíram à 
força. Para tanto, deveriam se valer das estratégias que se fizessem 
necessárias, desconsiderando todo e qualquer aspecto de natureza 
moral que eventualmente pudessem afastá-los desse objetivo. 
E afirmava: “[...] é necessário, portanto, que o príncipe que deseja 
manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou 
não, em cada caso, conforme necessário”. (MAQUIAVEL, 2006, p. 
97).
Essa postura é compatível com a visão de Maquiavel de que os 
homens não são confiáveis: “De fato, pode-se dizer dos homens, 
O Príncipe versando 
sobre as suas ideias 
em torno do que 
seria o perfil de um 
governante ideal.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
022
de modo geral, que são ingratos, volúveis, simulados; procuram se 
esquivar dos perigos e são gananciosos [...]”. (MAQUIAVEL, 2006, p. 
102). Assim, apenas a força do Estado, como organização social, 
poderia conter os impulsos antissociais dos indivíduos.
E mais: o mesmo povo que, num dado momento, estaria ao lado do 
seu governante, poderia se rebelar contra este, caso seus interesses 
fossem afetados. Caberia ao governante, portanto, antecipar-se a 
essa circunstância inevitável, usando pulso forte. 
Malgrado o mal-estar que tais afirmações possam provocar, O 
Príncipe deve ser analisado à luz do contexto histórico em que foi 
escrito. Barros (2013) enfatiza que Maquiavel viveu no auge do 
antropocentrismo renascentista, caracterizado pelo despertar da 
dignidade do homem, a quem caberia a construção do seu próprio 
destino, com a exaltação da sua força e capacidade de superação 
de desafios. 
Em sua época eram revividos os ideais pagãos, inspirados na 
antiguidade clássica, que enalteciam as glórias do mundo terreno 
e a defesa da pátria. Contraposto à moral cristã, que pregava a 
passividade diante das vicissitudes da vida, devendo o homem 
voltar-se para a salvação da sua própria alma.
As transformações eclodiam em todos os campos, especialmente 
nas artes e na ciência. Esta última vindo a substituir os mistérios 
da fé como mecanismo explicativo dos fenômenos naturais, em 
contraposição à visão medieval de fatalismo e do acaso. No campo 
político, as grandes mudanças vinham na esteira do Estado-Nação, 
ou Estado Moderno, no formato das monarquias absolutistas, em 
substituição ao feudalismo decadente. 
O autor também destaca o cenário de grande fragmentação 
da região hoje compreendida pela Itália, onde viveu Maquiavel, 
constituída por vários territórios rivais, cuja soberania era sempre 
ameaçada por povos invasores. Maquiavel sonhava com a 
O Príncipe possui o 
cenário de grande 
fragmentação 
da região hoje 
compreendida pela 
Itália.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
023
unificação da península em um único Estado (o que só viria a 
acontecer séculos após a sua morte). Para tanto, entendia que os 
governantes precisariam usar a força para obtê-la, ainda que isso 
representasse ferir os seus próprios compatriotas.
Esses eram os elementos que se combinavam para a formação 
da teoria política de Maquiavel, dotada de profundo senso de 
utilitarismo, realismo e empirismo. Como cientista político, 
adotou o método indutivo (partindo da observação e do contexto 
histórico para a estruturação da teoria), conferindo à política um 
concretismo que o diferencia inteiramente dos seus precursores 
clássicos e medievais. Com os primeiros, a gestão da pólis se fazia 
por intermédio de argumentos normativos, voltados para o que a 
política deveria ser; com os últimos, prevaleciam os argumentos 
cristãos, sendo o governante associado a um ser infinitamente bom 
e justo, que deveria praticar o bem até mesmo acima dos interesses 
do Estado. 
Maquiavel, numa alusão à antiguidade clássica, acreditava que “o 
poder é de quem possui a virtù necessária para aproveitar a ocasião 
oferecida pela fortuna e exercer o comando do Estado” (Barros, 
2013, p. 64). A fortuna significava a sorte, o acaso, o imprevisível, e 
era representada pela deusa de mesmo nome, a qual presenteava 
os homens de virtù (homens bravos, de valor)com a glória, honra 
e poder. A virtù é compreendida como a argúcia e a perspicácia do 
governante para fazer o que é necessário diante das circunstâncias, 
constituindo o cerne da teoria do poder de Maquiavel.
Isto posto, Maquiavel acreditava que a política exige determinadas 
posturas do governante que nem sempre se coadunam com os 
preceitos éticos e morais, sendo plenamente justificáveis à luz dos 
benefícios a serem auferidos no futuro, não cabendo a ele quaisquer 
repreensões.
Maquiavel acreditava 
que a política exige 
determinadas 
posturas do 
governante.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
024
Esta é a origem da noção de “Razão de Estado”, invocado até os dias atuais 
em face de situações de emergência.
Observa-se que a expressão “maquiavelismo” pode ser analisada 
sob dois ângulos: um pejorativo, vinculado a uma interpretação 
vulgar do pensador, utilizado para designar os comportamentos 
caracterizados pelo calculismo e pela frieza, seja no campo político 
ou pessoal; e outro vinculado à sua teoria política, focada na tratativa 
das questões relacionadas com a gestão da pólis. 
E é exatamente no tocante à teoria política, que se observa uma 
grande ambiguidade presente na obra de Maquiavel, como se verá 
a seguir.
Além de O Príncipe, Maquiavel escreveu os “Discursos sobre a 
Primeira Década de Tito Lívio”, iniciados em 1513 e finalizados em 
1517. Considerada como a sua obra mais sofisticada, consiste na 
apresentação de uma série de argumentos em defesa do regime 
republicano de governo, a partir da análise dos seus fundamentos 
na Roma antiga, cuja experiência Maquiavel considerava 
absolutamente exitosa, embora cercada dos inevitáveis (e 
proveitosos) conflitos. 
Como se poderia explicar, então, essa preferência pela República, 
mediante o caráter tirânico das suas recomendações endereçadas 
aos príncipes? Segundo aponta Moreira (2006), tal dicotomia 
poderia ser resultante, em parte, de uma postura de dissimulação, 
em face da fragilidade social e política de Maquiavel após a queda 
da República e a perda do seu importante cargo público. Uma 
questão de sobrevivência, portanto.
Ademais, observa-se que Maquiavel não acreditava que a crueldade 
fosse um fim em si mesma, e sim um meio necessário para o 
alcance dos resultados pretendidos. Tanto é que, ao discutir a 
crueldade e a clemência, aponta que [...] “os príncipes devem preferir 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
025
ser considerados clementes, e não cruéis. É necessário, contudo, 
evitar o mau emprego dessa clemência” [...] (MAQUIAVEL, 2006, p. 
101).
Acerca da preferência do príncipe entre ser amado ou temido, 
discorre: [...] “a resposta é que seria desejável ser ao mesmo tempo 
amado e temido, mas que, como tal combinação é difícil, é muito 
mais seguro ser temido, se for preciso optar”. (MAQUIAVEL, 2006, 
p. 102). 
Assim, entre um governante bondoso, mas ineficiente no controle 
das massas, e um governante cruel, porém mantenedor da ordem, 
este último seria sempre preferível, pois nele reside a melhor aposta 
de convivência harmônica entre os homens, ainda que sob a égide 
do medo. 
O autor, numa alusão a Weber, aponta que as ideias de Maquiavel 
se situam no nível da “ética da responsabilidade”, e não na “ética da 
consciência”, na medida em que fundamentam-se nos resultados, 
independentemente dos aspectos morais envolvidos.
A grande aspiração de Maquiavel, conforme se depreende dos 
Discursos, parece ser a de um Estado verdadeiramente republicano, 
o que sugere serem as suas incursões pela práxis da tirania uma 
prescrição de ordem temporal, transitória, própria a períodos de 
crise, sendo voltada, em última instância, para a geração do bem 
estar da coletividade. 
A tirania vinculada à consecução de objetivos de interesse 
individual, ou de poucos, configuraria uma situação inaceitável. E 
não era o foco das argumentações de Maquiavel, imbuído que era 
de profunda noção de patriotismo. 
A contribuição de Maquiavel para a ciência política, a despeito 
das ambiguidades apresentadas, é incontestável. Sua maior 
lição, nas palavras de MOREIRA (2006, p. 26) é que “a ação 
A tirania vinculada 
à consecução 
de objetivos de 
interesse individual, 
ou de poucos, 
configuraria 
uma situação 
inaceitável.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
026
política, para ser eficaz e responsável, exige informação correta, 
diagnóstico oportuno, avaliação adequada dos resultados 
previsíveis, capacidade de decisão e sobretudo, sabedoria”. Tarefa 
extremamente árdua e desafiadora para qualquer governante.
Leia atentamente alguns trechos selecionados de artigos sobre a 
ocupação do Complexo do Alemão, no RJ, e avalie a pertinência da 
situação apresentada à luz do argumento da “razão de Estado”. 
Você acredita que os meios empregados no processo de ocupação foram 
compatíveis com os princípios democráticos? Que abordagem você 
recomendaria como alternativa aos métodos empregados?
“Violência no Rio
A ocupação do Complexo do Alemão. E as análises sobre a guerra ao 
tráfico no Rio
por Celso Marcondes — publicado 28/11/2010 11h37 
A ocupação do Morro do Alemão começou às 7h50 deste domingo 
28. Televisão e rádio com transmissão ao vivo nos dão conta que a 
maioria da população carioca apoia a ação e que a esmagadora maioria 
dos moradores do Alemão não tem nada a ver com os traficantes. O 
comandante da PM aparece na tela e o repórter informa que ele orienta 
seus homens - são mais de 2 mil entre militares, civis e das Forças 
Armadas - a “revistar casa a casa” para encontrar os marginais. Calcula-
se em 30 mil o número de residências a passar por este procedimento. 
Apenas tiroteios esparsos aconteceram até as 11h10 horas desta manhã, 
não houve até então uma grande resistência, para surpresa de todos. 
Direto do local da ação, a internet é a arma de moradores acuados e 
amedrontados para expressar suas opiniões. Se você quiser conhecê-los, 
acesse pelo Twittter@vozdacomunidade. “O confronto será inevitável a 
qualquer momento, informa à CBN o ex-capitão do BOPE, Paulo Storani. 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
027
E informa que os moradores “têm que compreender” que será inevitável a 
entrada dos militares em suas casas”. 
Fonte: MARCONDES, Celso. A ocupação do Complexo do Alemão. E as análises 
sobre a guerra ao tráfico no Rio. 28 nov. 2010. In: Revista Carta Capital. Disponível 
em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-ocupacao-do-complexo-do-
alemao-e-as-analises-sobre-a-guerra-ao-trafico-no-rio>. Acesso em: 16 maio 2015.
“Notícias STF
Suspensa tramitação de processos na Justiça Militar contra civil 
acusado de desacato na ocupação do Complexo do Alemão - Quinta-
feira, 30 de abril de 2015
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu liminar 
no Habeas Corpus (HC) 127194 para suspender a tramitação de ação 
no Superior Tribunal Militar contra dois civis acusados de desacato, 
resistência e desobediência a militares que participavam da ocupação do 
Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ), em 2011. O ministro aplicou 
entendimento da Segunda Turma do STF de que, em tempo de paz, 
a Justiça Militar não tem competência para processar e julgar civis por 
delitos, ainda que praticados contra militar, mas ocorridos em ambiente 
estranho às Forças Armadas. [...]
Segundo os autos, os réus são acusados de terem desobedecido à ordem 
de reduzir a velocidade, parar o veículo e se submeterem ao procedimento 
de revista, em ação de segurança realizada por militares do Exército 
que participavam da chamada Força de Pacificação. Para o Ministério 
Público Militar, os civis teriam supostamente ofendido a tropa e resistido 
à prisão, o que motivou a denúncia com base no Código Penal Militar e 
sua condenação a seis meses de prisão. A Defensoria Púbica da União, 
autora do pedido de habeas corpus, sustenta que a Justiça Militar seria 
incompetentepara processar e julgar a ação penal, pois os atos criminosos 
dos quais os réus são acusados teriam supostamente ocorrido durante 
atuação do Exército em ação de segurança pública na qual substituía 
os órgãos constitucionalmente destinados à prestação desse serviço. 
Segundo a Defensoria, não sendo a função exercida típica das Forças 
Armadas, também não seria possível abrir processo na justiça militar. [...]
Fonte: SUSPENSA tramitação de processos na Justiça Militar contra civil acusado 
de desacato do Complexo do Alemão. 30 abr. 2015. Disponível em: <http://www.
stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=290581>. Acesso em: 16 
maio 2015.
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
028
Revisão
Nesta unidade, você pôde compreender os principais fundamentos 
da Ciência Política, que tem por objeto o estudo dos acontecimentos, 
instituições e ideias políticas. Os principais pontos que você deve 
fixar são apresentados abaixo.
• A Ciência Política tem sua origem na Filosofia Política, 
vinculada aos grandes pensadores clássicos da 
humanidade, podendo ser retratada por três grandes 
enfoques: o sociológico, o filosófico e o jurídico, sendo este 
último o mais comumente tratado, no âmbito da Teoria 
Geral do Estado. 
• Há uma intrincada correlação entre a Ciência Política e a 
Filosofia Política, coexistindo elementos convergentes e 
divergentes entre os campos de conhecimento, os quais 
deverão ser levados em consideração, quer pelo cientista 
político, quer pelo filósofo.
• O cientista político deve observar rigorosos métodos 
vinculados à investigação científica, relacionados com 
o princípio de verificação como critério de validação; 
a explicação como objetivo; e a não-valoração como 
pressuposto ético.
• Como contribuição decisiva dos clássicos, destacam-se 
o idealismo de Platão e o realismo de Aristóteles, sendo 
este último considerado o “Pai da Ciência”, o criador da 
Lógica Formal. Suas ideias relacionadas com as formas 
de governo, as instituições e as leis foram decisivas para a 
estruturação da política moderna. 
• Maquiavel foi o mais importante pensador da idade 
moderna, sendo o precursor da Ciência Política. Seu maior 
legado é a visão de pragmatismo político, vinculada ao 
não menos importante aprendizado de que a força só 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
unidade 1
029
se justifica em caráter de exceção, de modo a garantir a 
estabilidade futura.
Para saber mais sobre o pensamento de Maquiavel, Platão e Aristóteles, 
vale a pena assistir aos vídeos abaixo indicados:
O Príncipe
O PRÍNCIPE (NICOLAU MAQUIAVEL). Postado por Grandes Livros. 
(50 min. 40 seg.): son. color. Ing. Leg. Disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=LUDOnaqz iLo&list=PLHV6lufvso3BvYHD1Nzrystb 
dvJpxkaSB&index=11>. Acesso em: 14 maio 2015.
Platão
PLATÃO. Postado por univesptv. (8 min. 49 seg.): son. color. Port. Disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=bK09eEvzpCY&index=5&list 
=PLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB>. Acesso em: 14 maio 2015.
Aristóteles
ARISTÓTELES. Postado por univesptv. (6 min. 46 seg.): son. color. 
Port. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8uru60xR 
54w&index=6&list=PLHV6lufvso3BvY HD1NzrystbdvJpxkaSB>. Acesso 
em: 14 maio 2015.
www.youtube.com/watch%3Fv%3DLUDOnaqziLo%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB%26index%3D11
www.youtube.com/watch%3Fv%3DLUDOnaqziLo%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB%26index%3D11
www.youtube.com/watch%3Fv%3DLUDOnaqziLo%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB%26index%3D11
https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DbK09eEvzpCY%26index%3D5%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB
https://www.youtube.com/watch%3Fv%3DbK09eEvzpCY%26index%3D5%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB
https://www.youtube.com/watch%3Fv%3D8uru60xR54w%26index%3D6%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB
https://www.youtube.com/watch%3Fv%3D8uru60xR54w%26index%3D6%26list%3DPLHV6lufvso3BvYHD1NzrystbdvJpxkaSB
Teoria Geral 
do Estado 
• Conceito de 
estado e nação
• Origem, formação 
e evolução 
histórica do estado
• A evolução 
histórica do Estado
• Elementos 
constitutivos 
do estado: povo, 
território e 
soberania
• Estado, direito e 
política: noções de 
cidadania
• Finalidade 
e funções do 
estado: teoria da 
autolimitação
Introdução
Se você achou desafiador o conceito de Ciência Política, discutido 
na Unidade 1, não vai ficar menos perplexo ao conhecer o conceito 
de Estado, igualmente instigante. Isso em função das diversas 
correntes doutrinárias existentes, envolvendo diferentes pontos de 
vista.
Fica desde já uma ressalva: o conceito de Estado, seja ele de qualquer 
orientação doutrinária, é distinto do conceito de Nação, que por sua 
vez, também não se confunde com o conceito de povo. 
Você vai compreender, ainda, como ocorreu a evolução das 
várias formas de organização do Estado, cada qual associada 
ao respectivo momento histórico, gerando inúmeras correntes 
explicativas, muitas vezes antagônicas. Isso acontece desde os 
primórdios da humanidade.
Serão discriminados os elementos constitutivos do Estado e a sua 
designação como pessoa jurídica, já amplamente amparada pelo 
direito público, embora, a princípio, essa caracterização possa lhe 
causar estranheza.
Detenha-se, por fim, da análise das principais teorias apresentadas 
de justificação do Estado, do que derivam as suas finalidades. Você 
verá que os meios utilizados para o alcance dessas finalidades 
são alvo de grandes controvérsias, face a sua característica 
essencialmente política, envolvendo escolhas nem sempre 
apropriadas. 
Essas são questões essenciais para o seu entendimento, 
direcionadas ao exercício da sua cidadania, permitindo-lhe construir 
uma base mínima de argumentos para se integrar ao debate político 
da atualidade.
unidade 2
033
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
Conceito de 
Estado e Nação
O Estado, produto da idade moderna e contemporânea, pode 
ser analisado segundo três abordagens distintas: uma filosófica, 
outra jurídica e uma sociológica. Dependendo da abordagem 
adotada, chega-se a um conceito específico. Observe alguns deles, 
apontados por Bonavides (2000).
• Abordagem filosófica, dada por Hegel: O Estado é ‘a realidade da 
ideia moral’. 
• Abordagem jurídica, trazida por Kant: o Estado é ‘a reunião de 
uma multidão de homens vivendo sob as leis do direito’. 
• Abordagem sociológica, defendida por autores como 
Oppenheimer e Duguit: o Estado é, respectivamente, uma 
‘instituição social que um grupo vitorioso impôs a um grupo 
vencido’ [...], ou então, um ‘grupo humano fixado em determinado 
território
Veja agora as duas vertentes que Dalari (1998) considera para o 
conceito de Estado. A primeira delas considera o Estado como uma 
entidade de natureza concreta, vinculada a uma noção de força, 
de cunho nitidamente político, ainda que, em alguma medida, seja 
regulado pelo Direito. Aqui são exaltadas as noções de Estado como 
unidade de dominação, ou nas palavras do autor, como instância de 
institucionalização do poder.
A segunda vertente é de natureza jurídica, relacionada com a noção 
de ordem e não de força. Nesse caso, mesmo reconhecendo o 
poder político do Estado, a sua natureza jurídica é apontada como o 
aspecto mais importante a ser considerado.
O Estado pode ser 
analisado segundo 
três abordagens 
distintas: uma 
filosófica, outra 
jurídica e uma 
sociológica.
unidade 2
034
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
A partir daí, o autor apresenta o seu conceito de Estado (o qual enfatiza 
o viés político), como uma [...] “ordem jurídica soberana que tem por fim 
o bem comum de um povo situado em determinado território” (DALARI, 
1998, pg. 44). A noção de poder do Estado está implícita no princípio da 
soberania que, por sua vez, está submetida à ordem jurídica.
Maluf (2009) reproduz outras interessantes conceituações, 
todas de tradição democrática: ‘O Estado é uma parte especial 
dahumanidade considerada como unidade organizada’ (John W. 
Burgess); ‘O Estado é uma sociedade de homens unidos para o 
fim de promover o seu interesse e segurança mútua, por meio da 
conjugação de todas as suas forças’ (Thomaz M. Cooley); ‘O Estado 
é um agrupamento humano, estabelecido em determinado território 
e submetido a um poder soberano que lhe dá unidade orgânica’ 
(Clóvis Bevilaqua).
O autor alerta que o conceito de Nação distingue-se do conceito de 
Estado. O primeiro diz respeito a uma noção comunidade que, existindo 
naturalmente em função de sentimentos e características compartilhadas 
pelos indivíduos, forma-se independentemente da vontade dos mesmos. 
Já o último vincula-se à noção de sociedade, que se forma por um ato de 
vontade, mediante um vínculo jurídico, independentemente da existência 
ou não de afinidades entre os indivíduos.
Observe que o conceito de Nação, surgido em fins do século XVIII, era 
apenas uma criação artificial, tendo sido largamente utilizado pela 
burguesia como símbolo de união nacional contra o absolutismo. Logo foi 
incorporado ao “imaginário coletivo”, inspirando as multidões. 
Na corrida imperialista do século XIX, o conceito foi utilizado com grande 
maestria pelos grandes Estados como instrumento de dominação externa, 
‘O Estado é uma 
parte especial 
da humanidade 
considerada 
como unidade 
organizada’
unidade 2
035
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
valendo-se exatamente do caráter emocional despertado por ele. E já no 
século XX, foi a bandeira empunhada pelos movimentos nacionalistas que 
redundaram nas duas guerras mundiais.
Na verdade, o conceito de Nação nunca teve significação jurídica, 
porém tem grande importância sociológica, o que justifica os 
esforços empreendidos para caracterizá-lo.
À luz de tais considerações, uma Nação é entendida como:
[...] uma comunidade de base histórico-cultural, 
pertencendo a ela, em regra, os que nascem num 
certo ambiente cultural feito de tradições e costumes, 
geralmente expresso numa língua comum, tendo um 
conceito idêntico de vida e dinamizado pelas mesmas 
aspirações de futuro e os mesmos ideais coletivos. 
(DALARI, 1998, p. 37).
Para finalizar, pode-se dizer que Nação, entidade de direito natural e 
histórico, é “a substância humana do Estado” (MALUF, 2009, p. 16), 
sendo anterior a ele.
Origem, formação e 
evolução histórica 
do Estado
A origem e formação do Estado
Discutir a origem do Estado significa analisar, simultaneamente, o 
contexto e a motivação do seu surgimento. A expressão, utilizada 
para designar uma situação permanente de convivência ligada 
à sociedade política, surgiu pela primeira vez com Maquiavel 
(pensador florentino apresentado na Unidade 1), tendo sido 
Conceito de 
Nação nunca 
teve significação 
jurídica.
unidade 2
036
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
posteriormente difundida para outros territórios, consolidando-se a 
partir do século XVI.
Segundo Dalari (1998), são admitidas três hipóteses fundamentais 
acerca do aparecimento do Estado. 
1. O Estado teria existido desde sempre, já que desde os primórdios 
a humanidade vive segundo uma organização social, dotada de 
poder e autoridade sobre os indivíduos.
2. A sociedade humana teria existido algum tempo sem a 
configuração do Estado, vindo a se constituir posteriormente, 
de forma pontual, em razão das próprias necessidades ou 
conveniências dos indivíduos.
3. O Estado, entendido como um conceito concreto, temporal, 
passaria a ter existido somente a partir da presença de 
determinadas condições objetivas, vinculado à ideia e à prática 
da soberania.
a) origem familial ou patriarcal, com a ampliação gradativa de cada 
grupo familiar, dando origem aos Estados; 
b) origem em atos de força, de violência ou de conquista, com a 
submissão dos grupos mais fracos aos grupos mais fortes; 
c) origem em causas econômicas ou patrimoniais, eventualmente 
atribuída a Platão (filósofo ateniense apresentado na Unidade 1), 
em função da própria conveniência da divisão social do trabalho. 
A defesa mais contundente da origem econômica do Estado é 
atribuída a Karl Marx e Friedrich Engels, tendo este afirmado que 
o Estado ‘é antes um produto da sociedade, quando ela chega a 
um determinado grau de desenvolvimento’, consagrando a visão 
do Estado como instrumento da burguesia para a exploração do 
proletariado em seus próprios interesses.
Isto posto, a explicação para a formação do Estado é amparada 
por duas correntes teóricas. A primeira delas aponta a formação 
natural ou espontânea do Estado, ainda que sob causas variadas. A 
segunda corrente teórica defende a formação contratual do Estado, 
a partir de um ato voluntário dos homens. 
A primeira corrente, também chamada de não-contratualista, 
destaca quatro grupos de origens:
 A formação do 
Estado é amparada 
por duas correntes 
teóricas.
unidade 2
037
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
d) origem no desenvolvimento interno da sociedade, tratado como 
um aspecto natural do processo de amadurecimento das sociedades, 
independentemente de fatores externos. 
Há ainda os Estados formados por derivação, ou seja, a partir de 
outros Estados preexistentes, o que constitui um questionamento 
de natureza mais prática.
Essa derivação pode ocorrer de duas formas: pela via da união, situação 
em que Estados originais desaparecem e se reagrupam num novo 
Estado, adotando-se uma Constituição única, preferivelmente no formato 
de federações, de modo a preservar as autonomias e as características 
socioculturais. Ou pela via do fracionamento, quando parte de um 
determinado território desmembra-se, dando origem a um novo Estado 
independente, com ordenação jurídica própria.
Mas também podem ocorrer circunstâncias atípicas para a 
derivação de novos Estados, tais como as guerras, quando novas 
configurações territoriais são impostas pelos vencedores como 
instrumento de dominação e controle sobre os vencidos.
Uma classificação diferente, mas compatível com esta última, 
é destacada por Maluf (2009), que identifica três modos de 
nascimento dos Estados: o modo originário, o modo secundário e 
o modo derivado.
O modo originário diz respeito a um agrupamento humano de 
características mais ou menos homogêneas que, firmando-se em 
um território, estabelece um governo, com um ordenamento jurídico 
e político, tal como ocorrido com Atenas e Roma.
Os modos secundários desdobram-se em união e divisão. A união 
pode ser de quatro tipos: 
a. confederação, referente à união convencional de países 
Os Estados 
formados por 
derivação.
unidade 2
038
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
independentes motivados por interesses comuns, a 
exemplo da extinta URSS; 
b. federação, traduzindo uma união nacional de províncias, 
como no caso do Brasil; 
c. união pessoal, relativa ao governo de dois ou mais países 
por um único governante, por meio de acordos, sendo de 
caráter transitório; 
d. união real, sendo esta de caráter permanente, processada 
entre dois ou mais países, como no exemplo da Grã-
Bretanha.
Já a divisão pode ser nacional quando uma determinada região ou 
província obtém a sua independência, formando uma nova unidade 
política. Ou sucessoral’, típica das monarquias medievais, quando 
ocorria a divisão da propriedade do monarca entre seus parentes e 
sucessores.
Os modos derivados, por sua vez, desdobram-se em colonização, a 
exemplo das antigas colônias inglesas, espanholas e portuguesas; 
sucessão dos direitos de soberania, típica da idade média, mediante 
a outorga de direitos; e ato de governo, decorrente da vontade de 
um conquistador, a exemplo de Napoleão I.
É importante ter em mente que um Estado somente se efetiva quando 
atinge o equilíbrio e a harmonia internos, com a manutenção do 
ordenamento jurídico, sendo também fundamental o reconhecimento 
por parte dos demais Estados constituídos, visando a normalização das 
relações internacionais. Sua extinção, porsua vez, está condicionada à 
ausência de qualquer dos seus elementos morfológicos, quais sejam, a 
população, o território e o governo.
A extinção do 
Estado está 
condicionada 
à ausência de 
qualquer dos 
seus elementos 
morfológicos,.
unidade 2
039
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
A evolução histórica do Estado
A evolução histórica do Estado revela uma sucessão de formatos, 
viabilizando o exercício (meramente didático) de sua tipificação 
que, em última instância, é um processo em andamento, dado que 
novas configurações ainda poderão surgir no futuro.
Dalari (1998), numa alusão a Jellinek, aponta que [...] “todo fato 
histórico, todo fenômeno social oferece, além de sua semelhança 
com outros, um elemento individual que os diferencia dos demais, 
por mais análogos que sejam”. (DALARI, 1998, pg. 25). Daí surge 
a possibilidade de tipificação, mediante a utilização de métodos 
científicos. 
O estudo inicia-se pela análise dos Estados em particular, com a 
identificação das suas peculiaridades histórico-políticas e jurídicas, 
embora seja difícil o necessário isolamento das influências externas. 
O autor destaca que a tipologia pode ser estruturada segundo uma 
representação do ideal, implicando na busca pelo melhor tipo, o 
que pode levar à utopia. Ou pode se valer do empirismo, mediante a 
observação de casos individuais que, apresentando características 
comuns, geram uma imagem universal, ainda que sujeita a alguma 
subjetividade, o que é inerente à interpretação do analista.
Adotando-se uma perspectiva cronológica, Dalari (1998) apresenta 
as seguintes fases do desenvolvimento do Estado:
Estado Antigo: também chamado de Estado Oriental ou Teocrático, 
remonta às antigas civilizações orientais, onde não havia uma 
delimitação muito clara entre os papéis da família, da religião, do 
Estado e da organização econômica. As características mais 
marcantes desse tipo de Estado é a unicidade, ou seja, a ausência 
de divisão de territórios e de funções, bem como a religiosidade, 
que constitui um traço dominante, sendo estreita a relação entre 
Estado e divindade.
O autor destaca que 
a tipologia pode ser 
estruturada segundo 
uma representação 
do ideal.
unidade 2
040
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
Estado Grego: a despeito da civilização helênica ter sido composta 
por vários territórios fracionados, é possível pensar em um Estado 
Grego a partir da identificação de características semelhantes entre 
os seus Estados constituintes. Representado pela pólis, ou cidade-
Estado, era marcado pela autonomia e pela democracia, ainda que 
uma pequena elite pudesse influenciar as decisões de interesse 
público.
FIGURA 3 – Cidades Estados
Fonte: [A Grécia – Cidades-Estados (Pólis)]. Disponível em: <http://image.
slidesharecdn.com/histriaa1-140213161637-phpapp02/95/histria-a-modelo-
ateniense-8-638.jpg?cb=1392329963>. Acesso em: 14 abr. 2015.
Estado Romano: mesmo passando por muitas configurações ao 
longo dos séculos, manteve-se fiel à noção de cidade-Estado desde 
a sua fundação, em 754 a.C., até 565 da era cristã, quando deu lugar 
ao Estado Medieval. Tinha como característica mais marcante 
a base familiar de organização social, sendo que o povo, embora 
em nível restrito, participava das decisões de interesse coletivo, a 
exemplo do Estado Grego. 
Estado Medieval: caracterizado pela instabilidade e 
heterogeneidade, teve como elemento comum o cristianismo e 
o feudalismo. Este último fortemente centrado na posse da terra 
unidade 2
041
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
e marcado por grandes conflitos entre senhores feudais. Por um 
lado, e os servos, de outro, sujeitos a contratos de vassalagem (de 
natureza pessoal), ou de benefício (mediante o estabelecimento de 
um direito real), sendo este podendo implicar ou não em isenção 
de tributos. Tais relações processavam-se de forma autônoma em 
relação ao poder do Estado.
FIGURA 4 – O Estado Medieval
Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2015.
Clero
Nobreza
Camponeses 
e servos
As invasões constantes dos bárbaros e a fragilidade dos Estados 
constituídos (caracterizados pela ordem precária e indefinição 
das fronteiras políticas) também constituíram um traço comum, 
levando a um clamor em torno da unidade de governo, com a 
constituição de Impérios apoiados pela própria Igreja, esta última já 
constituída como poder unitário e detentora de enorme poder sobre 
os monarcas. 
Contudo, as cisões e disputas de poder verificadas entre os 
Impérios constituídos e a Igreja iriam trazer um novo elemento de 
instabilidade a um cenário socioeconômico já bastante conturbado, 
constituindo as bases para a constituição do Estado Moderno.
Estado Moderno: a aspiração de unidade advinda do Estado 
Medieval deu força à constituição do Estado Moderno, que se 
apresentava como soberano e supremo em relação a um dado 
espaço territorial. Em geral, considera-se a existência de dois 
elementos materiais que caracterizam o Estado, quais sejam, o 
unidade 2
042
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
território e o povo, além de um formal, relacionado com o governo, 
que também é retratado como poder, soberania ou autoridade. Há 
autores que identificam um quarto elemento, relativo à finalidade 
do Estado, que regula a vida social.
FIGURA 5 – O Estado Moderno
Fonte:[O Estado Moderno]. Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_4Q-W0JA-
rV4/TGU8GmWcRmI/AAAAAAAAAWg/rRgGYM6e_9o/s400/estado>. Acesso em: 
14 abr. 2015. 
Maluf (2009) destaca a classificação desenvolvida por Queiroz 
Lima, relacionada com os traços característicos das organizações 
estatais em cada estágio da civilização, a qual fornece uma visão 
mais abrangente e detalhada da evolução histórica do Estado. 
São eles: o Estado Oriental (ou Antigo); o Estado Grego; o Estado 
Romano; o Estado Feudal; o Estado Medieval; o Estado Moderno; o 
Estado Liberal; e o Estado Social.
A distinção feita entre Estado Feudal e Estado Medieval está 
relacionada com a evolução temporal da organização estatal na 
idade média, que no início era marcada por grande descentralização 
do poder e instabilidade. Posteriormente revertida para uma 
acentuada centralização patrocinada pela Igreja, cujo poder se 
sobrepunha ao dos próprios soberanos.
A distinção feita 
entre Estado Feudal 
e Estado Medieval 
está relacionada 
com a evolução 
temporal .
unidade 2
043
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
As três últimas caracterizações de Estado apresentadas por Maluf (2009) 
estão associadas à idade moderna, cabendo aqui destacar o Estado 
Liberal, originário da revolução francesa, fortemente baseado na noção de 
soberania nacional; e o Estado Social, que traduz uma reação ao próprio 
Liberalismo.
Elementos constitutivos 
do Estado: Povo, 
Território e Soberania 
Os elementos constitutivos do Estado são de duas ordens: uma 
formal, representada pelo poder do Estado, tendo no conceito de 
soberania a sua mais alta expressão; e outra material, representada 
pelo povo (entidade que por vezes é confundida com os conceitos 
de população e nação) e pelo território. 
A seguir, você vai conhecer alguns dos principais aspectos 
relacionados a cada um desses elementos. 
Soberania
Vamos começar com uma abordagem sobre o conceito de 
soberania, tida como o poder supremo do Estado sobre todos os 
outros de natureza privada, sendo um dos principais atributos do 
Estado Moderno. 
Dalari (1998) esclarece que a soberania é um poder absoluto, 
porque ‘não é limitada nem em poder, nem pelo cargo, nem por certo 
tempo’, e também um poder perpétuo, porque não há um tempo 
delimitado de duração, razão pela qual só pode existir em Estados 
aristocráticos ou populares, situação em que se pode garantir a sua 
continuidade.
A soberania é um 
poder absoluto.
unidade 2
044
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
O autor aponta que a soberania é também um poder inalienável e 
indivisível, apresentando os seguintesargumentos:
[...] ela é inalienável por ser o exercício da vontade 
geral, não podendo esta se alienar e nem mesmo ser 
representada por quem quer que seja. E é indivisível 
porque a vontade só é geral se houver a participação 
do todo. (DALARI, 1998, p. 31).
Há, entretanto, limites à atuação do poder soberano, que não pode 
exagerar nas suas demandas à sociedade, devendo as exigências, 
quando cabíveis, serem distribuídas de forma igualitária e justa. 
O conceito de soberania está sempre ligado à noção de poder, 
podendo ser explicitado segundo três enfoques: um de cunho 
nitidamente político, vinculado ao poder coercitivo, sem 
preocupação com a legitimidade. Outro de cunho eminentemente 
jurídico, que aborda o poder decisório sobre o conjunto de normas 
e direitos. E um terceiro, de natureza culturalista, que trata a 
soberania de maneira plural, como um fenômeno social, jurídico e 
político.
Segundo Miguel Reale, a soberania consiste no [...] “poder que tem uma 
Nação de organizar-se livremente e de fazer valer dentro de seu território 
a universalidade de suas decisões para a realização do bem comum”. 
(REALE, 2000, p. 140).
O conceito de soberania encontra-se devidamente disciplinado no 
plano jurídico, o que constitui importante instrumento de coerção 
de eventuais arbitrariedades do poder público. 
É importante destacar, por fim, no tocante à justificação da 
soberania, a existência de duas teorias, sendo uma denominada 
teocrática (desenvolvida no período medieval), fundada no princípio 
cristão de que todo poder vem de Deus, que o concede ao soberano. 
E outra de natureza democrática, que vê a soberania como um 
atributo do povo, cuja titularidade é atribuída ao Estado, na medida 
O conceito de 
soberania encontra-
se devidamente 
disciplinado no plano 
jurídico.
unidade 2
045
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
em que o povo não tem personalidade jurídica para exercê-la.
Território 
A noção de território ganhou particular relevância ainda no Estado 
Medieval, em razão do aumento dos conflitos entre senhores 
feudais e servos pela posse e utilização da terra, vindo a se tornar 
elemento de importância central no Estado Moderno.
Observa-se que a afirmação da soberania dá-se no âmbito de um território 
delimitado, assegurando a eficácia do poder e a manutenção da ordem. 
Entretanto, não há consenso em torno da classificação do território como 
um elemento constituinte do Estado, sendo para alguns autores uma 
simples expressão do espaço de manifestação da soberania. 
No tocante à análise do relacionamento do Estado com o território, 
existem duas posições. Uma delas reconhece tal relação como 
uma expressão do domínio do Estado (dominium), sendo este 
o proprietário do território, o que caracteriza uma figura jurídica 
especial, o chamado “direito real de natureza pública”. 
Outra posição não reconhece a relação de dominação do Estado, 
argumentando a existência de um direito indireto sobre o território. 
Ou seja, na verdade, o Estado detém o poder sobre as pessoas 
(imperium) e, por meio destas, manifesta-se o poder sobre os 
respectivos territórios. Assim, a relação do Estado com o território 
ocorre por via indireta. Por essa razão, ‘as invasões de territórios 
constituem ofensa à personalidade jurídica do Estado, e não 
violação de direito real’. Dalari (1998).
No que se refere aos tipos de territórios, Bonavides (2000) apresenta 
uma classificação que abrange quatro modalidades:
Estado detém o 
poder sobre as 
pessoas (imperium).
unidade 2
046
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
a) território-patrimônio, típico do Estado Medieval, onde o poder do 
Estado sobre o território é igual ao de qualquer proprietário de 
imóvel; 
b) território-objeto, vinculado à noção de dominium; 
c) território-espaço, que enfatiza ser o território uma extensão 
espacial da soberania do Estado, vinculada à noção de imperium; 
d) território-competência, que trata o território no contexto da ordem 
jurídica do Estado.
No tocante às fronteiras territoriais, classificadas como: naturais, 
em função da geografia; artificiais, quando fixadas por meio de 
tratados; ou ainda, esboçadas, quando não se tem uma delimitação 
precisa dos territórios, situação difícil de ocorrer na prática, 
considerando os avanços tecnológicos da atualidade.
FIGURA 6 – Territórios
Fonte: [Territorios]. Disponível em:<http://3.
bp.blogspot.com/_qS95ul_9cIM/SPVxQOl3vjI/
AAAAAAAAABI/czVy hnUurY/s1600-h/territorio.jpg>. 
Acesso em: 14 abr. 2015.
Um último aspecto a ser retratado diz respeito à delimitação dos 
territórios no tocante ao mar e ao espaço aéreo, alvo de constantes 
conflitos em razão dos interesses econômicos envolvidos, sendo 
fortes os embates entre os Estados.
Na atualidade, o mar territorial foi fixado oficialmente em 200 milhas 
(equivalentes a 370,4 km) mediante tratados ou atos unilaterais dos 
unidade 2
047
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
Estados; e no espaço aéreo, considera-se a coluna de ar existente 
sobre o respectivo território, critério que oferece pouca eficácia.
Povo 
O povo representa, naturalmente, um componente fundamental 
do Estado, sem o qual este não poderia existir. Embora seja uma 
entidade abstrata, sua concepção tem conotação jurídica.
FIGURA 7 – O povo
Fonte: AMARAL, Tarsila do. Operários. 1933. 150cm x 205cm. Palácio Boa 
Vista. Imagem disponível em: <http://www.revistaafro.com.br/wp-content/
uploads/2013/11/Povo-brasileiro.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2015.
Distingue-se dos conceitos usuais de nação, já abordado 
anteriormente, e de população, que envolve um aspecto numérico, 
demográfico, incluindo os estrangeiros, que podem ser integrados 
pela via da naturalização, o que lhes permite usufruir dos direitos 
políticos próprios dos nativos. 
A noção jurídica de povo consolidou-se com o início do Estado 
Moderno, momento em que se firmava a designação de cidadãos 
para os seus integrantes.
Dalari (1998) aponta que o conceito de povo pode ser entendido 
segundo dois aspectos: um subjetivo, que trata o povo como um 
elemento componente do Estado, numa relação de coordenação, 
O povo representa, 
um componente 
fundamental do 
Estado, sem o qual 
este não poderia 
existir.
unidade 2
048
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
ou seja, de detentor de direitos; e um objetivo, onde o povo é 
entendido como um objeto da atuação do Estado, numa relação de 
subordinação, estando sujeito a deveres.
E adverte que, do vínculo jurídico entre o Estado e o povo, decorrem 
três atitudes possíveis: a) atitudes negativas, impondo limites à ação 
do Estado; b) atitudes positivas, quando o Estado atua em defesa 
dos próprios indivíduos; e c) atitudes de reconhecimento do Estado a 
indivíduos que atuam no seu interesse. 
O autor apresenta uma interessante conceituação: 
Deve-se compreender como povo o conjunto dos 
indivíduos que, através de um momento jurídico, se 
unem para constituir o Estado, estabelecendo com 
este um vínculo jurídico de caráter permanente, 
participando da formação da vontade do Estado e do 
exercício do poder soberano. (DALARI, 1998, p. 39).
Estado, direito e política: 
noções de cidadania
Objeto de grande controvérsia é a concepção do Estado como 
pessoa jurídica, sendo esta atribuída à corrente contratualista de 
pensamento, tendo como premissa a ideia de povo como entidade 
dotada de interesses e vontade próprios, distintos dos interesses e 
vontade individuais. 
O disciplinamento jurídico da matéria, trazendo à luz a discussão em 
torno dos direitos e deveres vinculados aos interesses coletivos, foi 
efetivado a partir do século XIX. Hoje, o conceito de personalidade 
jurídica do Estado encontra-se bem fundamentado no âmbito do 
direito público.
o conceito de 
personalidade 
jurídica do Estado 
encontra-se bem 
fundamentado no 
âmbito do direito 
público.
unidade 2
049
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA DO ESTADO
É oportuno destacar, outrossim, que algumas correntes doutrinárias

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