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Amendoim é apreendido R. Caetano

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AMENDOIM É APREENDIDO
Rodrigo Caetano
(da equipe do Correio)
(Contaminação: Vigilância Sanitária do DF começa a tirar dos supermercados e docerias os derivados do grão que tenham aflatoxina. A substância encontrada em excesso pode causar hepatite e câncer de fígado)
	“Quatro paçocas por R$ 1,00”, grita o menino que vende o produto feito de amendoim no sinal da Rodoviária. Agora, o garoto terá de mudar de ramo ou vender jujubas e chicletes. Isso porque a Vigilância Sanitária do Distrito Federal proibiu a venda de qualquer produto derivado de amendoim. Ontem diretor e técnicos do órgão realizaram uma fiscalização nas duas principais revendedoras de doces do DF: Diziolim e Campineira. Eles encontraram caixas de paçocas, pé-de-moleque e amendoim torrado que haviam sido condenados por uma portaria do Diário Oficial da última segunda-feira. “Os produtos foram apreendidos e serão incinerados”, comenta Laércio Inácio Cardozo, diretor da Vigilância Sanitária do DF. “Em, no máximo, dois dias pretendemos retirar 80% desses produtos de circulação”, completa.
	Para isso, Cardozo espera ter a colaboração dos donos de supermercados e docerias, além dos distribuidores. Ele admite que será quase impossível retirar do mercado 100% dos derivados de amendoim, já que não há como intervir em todos os ambulantes e barezinhos de Brasília e do entorno. Mas o diretor da Vigilância avisa que a equipe do órgão estará atenta e fiscalizando todo o DF. O estabelecimento que for notificado e incidir no erro pagará uma multa que varia de R$ 2 mil a R$ 20 mil. “As fábricas e revendedoras serão notificadas. Haverá um processo administrativo para que os produtos se encaixem nos padrões de qualidade estabelecidos”, diz Cardozo. Segundo ele, o processo demorará de dois a três meses.
	A irregularidade encontrada nos derivados de amendoim é grave. Os produtos tem alta concentração de aflatoxina – perigosa toxina produzida por fungos que pode causar hepatite e câncer no fígado. O nível permitido pelo Ministério da Saúde é de 30 microgramos por quilogramo do produto. E, segundo a Vigilância, há paçocas com mais de 100 microgramos por quilogramo, isto é, três vezes acima do normal. Para piorar, a maioria dos consumidores desses produtos é a criança. E se ela consumir, diariamente, paçoca contaminada com esse nível de toxinas terá muitas chances de desenvolver um câncer no futuro.
MARCAS JÁ FORAM NOTIFICADAS
(Produtos contaminados: paçoca de amendoim - marcas Covizzi, Mary, Dumonita, Delícia e Valêncio; pé-de-moleque - marca Covizzi; milho para pipoca - marca Yoki; amendoim torrado e salgado - marca Mary; doce de amendoim - marcas GT Netinho, Amendoquita e Verinha; amendoim descascado tipo 1 - marca Zaeli; amendoim sem pele torrado e salgado - marca Mary; amendoim cru - marca Kayabi)
	Segundo a Vigilância Sanitária, o Distrito Federal é um dos maiores consumidores de amendoim do país. “Mais de 20 toneladas do produto são repassados por mês ao DF”, informa Berenice Klein, gerente de fiscalização da Vigilância. O problema é antigo! Desde 1986, a Vigilância, pelo menos duas vezes ao ano (principalmente em junho e janeiro), realiza fiscalização e estudos sobre a qualidade desses produtos.
	Segundo a Vigilância, algumas marcas já foram notificadas. São os casos, por exemplo, do doce de amendoim da Covizzi, o amendoim torrado e salgado da Mary e as paçocas da GT Netinho. Por isso, desta vez o órgão resolveu radicalizar e proibir a compra e a venda (veja item produtos contaminados acima). “Só vamos liberar a comercialização assim que as empresas mostrarem laudos, análises e testes que comprovem a qualidade do produto com níveis de micotoxinas permitidos pelo Ministério da Saúde”, observa Laércio Inácio Cardozo, diretor da Vigilância Sanitária do DF.
	O gerente industrial da Covizzi, Luis Augusto Branco, afirma que os produtos de amendoim da empresa estão em ótimas condições de consumo. Ele admite que, no ano passado, a empresa foi notificada por ter dois lotes de doces com excesso de toxina. “Recolhemos os lotes e substituímos no mesmo mês. Desde lá estamos regulares”, comenta Branco. O gerente diz que vai esperar um documento oficial da Vigilância para poder se manifestar, mas garante: “tenho todos os laudos de qualidade dos nossos produtos”. Um dos sócios da empresa paranaense Delícia alega que pode haver irregularidades nos produtos fabricados antes dele assumir a marca, há três meses. “Vamos checar quais são os lotes e melhorar a qualidade dos produtos”.
	Irregularidades
	Até 1995, as análises do laboratório mostravam que apenas 20% dos produtos tinham dosagens excessivas de aflatoxinas. No ano passado, uma tonelada de doces de amendoim impróprio foi apreendida no DF. Análises do Laboratório de Micotoxinas da Secretaria de Saúde, feitas em novembro de 2000, revelaram que há amostras de doces com mais de 1000 microgramos de aflatoxina por quilogramo do produto. Na época, os doces de amendoim condenados foram Covizzi, GT Netinho, Amendoquita, Mary, Zaeli, Dumonita, Delícia, Kayabi, Verinha e Valêncio.
	Quem mais reclama são os distribuidores. O dono da Doceria Dociana de Brazlândia, Eduardo Amaral, diz que, até agora, eles não foram oficialmente notificados. Mas já calcula os prejuízos que as proibições da venda vão lhe causar. “São pelo menos R$ 800,00 por mês que invisto na compra de pé-de-moleque, amendoim torrado, confeitado e japonês”, comenta Amaral. Enquanto não recebe nenhuma comunicação, o distribuidor tentará vender as mercadorias encalhadas. “As autoridades deveriam ter nos avisado antes de comprarmos grandes quantidades”, critica.
	A contaminação do grão pode ocorrer no campo, caso não seja mantido em condições ideais de temperatura e umidade, ou mesmo quando o transporte e armazenamento forem incorretos. A maior parte do amendoim utilizado para fazer os doces é produzida em São Paulo e no Paraná e depois distribuída para todo o país. Por isso, a Secretaria de Saúde está encaminhando para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) um documento com laudos e análises dessas marcas de amendoim pedindo providências rápidas.
(Texto transcrito do Correio Brasiliense, Saúde, 04.01.2001, p. 11)

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