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Nota de Aula Filosofia 2

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NOTAS DE AULA 
 
 
Sabei escutar, e podeis ter a certeza de que 
o silêncio produz, muitas vezes, o mesmo 
efeito que a ciência. Napoleão Bonaparte 
O silêncio é um amigo que nunca trai. Confúcio 
A palavra é prata, o silêncio é ouro. Provérbio chinês 
Quando um burro fala, os outros abaixam as orelhas. Proverbio 
Português 
 
SUMÁRIO 
 
14/11/2011 
FILOSOFIA II 
Prof. José Newton Tomazzoni Tavares 
01/08/2011 ............................................................................... 1 
CRISE DO DIREITO ................................................................................. 1 
02/08/2011 ............................................................................... 1 
A ÉTICA COMO FILOSOFIA MORAL (433045) ..................................... 1 
A Ética é indiretamente normativa ....................................................... 1 
ÉTICA E MODERNIDADE – A falência do sentido (433046) ............... 2 
Fatores que levaram a uma nova interrogação no campo da 
ética: ..................................................................................................... 2 
1. Falência do sentido e vazio ético ....................................................... 2 
2. A morte das ideologias (utopias) ........................................................ 2 
3. O individualismo ................................................................................. 2 
4. As novas tecnologias .......................................................................... 2 
Como Pensar uma nova ética? ............................................................ 2 
08/08/2011 ............................................................................... 3 
O HOMEM COMO CONSTRUÇÃO (433048) .......................................... 3 
*Que ações efetivam meu ser? ............................................................ 4 
*Que decisões me efetivam verdadeiramente? ................................... 4 
*Qual a razão de minhas preferências? ............................................... 4 
*Como justifico o que faço? .................................................................. 4 
09/08/2011 ............................................................................... 5 
FENOMENOLOGIA DO ETHOS (433049) .............................................. 5 
Que é ética? ......................................................................................... 5 
RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL .................................................. 5 
O que significa dizer: “Essa pessoa não tem moral”? ......................... 5 
16/08/2011 ............................................................................... 6 
ESTRUTURA DO ATO MORAL (438402) ............................................... 6 
Estrutura do ato moral .......................................................................... 6 
a) Motivo do ato moral ............................................................................ 6 
b) Consciência do fim visado: ................................................................. 6 
c) Consciência dos meios para realizar o fim escolhido......................... 7 
d) Resultados obtidos ............................................................................. 7 
22/08/2011 ............................................................................... 8 
CONDIÇÕES DA RESPONSABILILIDADE MORAL ............................. 8 
A ignorância e a responsabilidade moral. ........................................... 8 
A coação externa e a responsabilidade moral .................................... 8 
A coação interna e a responsabilidade moral. .................................... 9 
23/08/2011 ............................................................................... 9 
Ética para meu filho - Fernando Savater ............................................. 9 
Capítulo 4 - Dê a si mesmo uma vida boa ........................................ 10 
Capítulo 5 - Vamos, acorde! .............................................................. 12 
Textos para Resumo ............................................................................ 15 
1. Positivismo jurídico ........................................................................ 15 
Introdução ............................................................................................. 15 
Antecedentes Históricos ....................................................................... 15 
Protagonistas Centrais ......................................................................... 17 
2. A perspectiva pós-positivista do direito ......................................... 20 
06/09/2011 ............................................................................. 22 
Repensando o Judiciário..................................................................... 22 
Texto A ............................................................................................... 22 
Texto B ............................................................................................... 22 
Estudo Dirigido ..................................................................................... 22 
Texto B ............................................................................................... 22 
Texto B ............................................................................................... 22 
12/09/2011 ............................................................................. 23 
Slide - Ética e Direito Alternativo ........................................................ 23 
Moral, ética e Direito ............................................................................ 23 
Direito e Moral .................................................................................... 23 
Ética e Direito ..................................................................................... 23 
Ética e Direito Alternativo.................................................................... 24 
Que é Direito Alternativo?.................................................................. 24 
Bases filosóficas do Direito Alternativo brasileiro ............................. 24 
Teses centrais da tradição juspositivista e do DA. .......................... 24 
Tradição juspositivista ....................................................................... 24 
Direito Alternativo............................................................................... 24 
13/09/2011 ............................................................................. 25 
SUMÁRIO - Notas de Aulas – FILOSOFIA II 
 
 
ii 
Justiça, legalidade e bom senso .........................................................25 
19/09/2011 ............................................................................. 25 
Filme: Justiça para Todos (Justice For All) – parte 1 .......................25 
20/09/2011 ............................................................................. 25 
Filme: Justiça para Todos (Justice For All) – parte 2 .......................25 
26/09/2011 ............................................................................. 25 
Prova individual – 10 pontos ...............................................................25 
27/09/2011 ............................................................................. 26 
CONCEPÇÃO CLÁSSICA DE PENSAMENTO ....................................26 
03/10/2011 ............................................................................. 27 
ÉTICA EUDEMONISTA (ARISTÓTELES) .............................................27 
04/10/2011 ............................................................................. 28 
ÉTICA HEDONISTA ...............................................................................28 
1 Prazeres Naturais e Necessários ....................................................282. Prazeres Naturais, Mas Não Necessários .....................................28 
3. Prazeres não naturais e nem necessários .....................................28 
10/10/2011 ............................................................................. 28 
11/10/2011 ............................................................................. 28 
Recesso Dias das Crianças .................................................................28 
17/10/2011 ............................................................................. 29 
ÉTICA CRISTÃ .......................................................................................29 
Diferenças introduzidas na concepção antiga ...................................29 
1. Conduta Moral ou Ética ..................................................................29 
2. Conduta Imoral ou Antiética ...........................................................29 
3. Conduta Indiferente à Moral ...........................................................29 
18/10/2011 ............................................................................. 29 
Prova individual - 10 pontos ................................................................29 
24/10/2011 ............................................................................. 30 
CONCEPÇÃO MODERNA DE PENSAMENTO ....................................31 
ÉTICA NA MODERNIDADE ...................................................................31 
25/10/2011 ............................................................................. 32 
ÉTICA DE IMANNUEL KANT ................................................................32 
31/10/2011 ............................................................................. 33 
KANT: O PRINCÍPIO DA ACÇÃO MORAL ...........................................33 
1 O princípio do desinteresse .............................................................33 
2 O princípio da imparcialidade ..........................................................33 
3 O princípio do dever ........................................................................33 
4 Os deveres morais e as convenções sociais ..................................33 
5 O princípio da universalidade ..........................................................34 
6 O princípio da autonomia ................................................................34 
7 O princípio do respeito pela pessoa ................................................34 
QUESTIONÁRIO ....................................................................................35 
01/11/2011 ............................................................................. 36 
07/11/2011 ............................................................................. 36 
Prova Individual – 25 pontos .............................................................. 36 
08/11/2011 ............................................................................. 37 
ÉTICA PÓS-MORALISTA ..................................................................... 38 
O QUE É PÓS-MODERNO .................................................................... 38 
14/11/2011 ............................................................................. 40 
Prova Supletiva..................................................................................... 40 
15/11/2011 ............................................................................. 40 
Feriado da República ........................................................................... 40 
21/11/2011 ............................................................................. 40 
??? ......................................................................................................... 40 
21/11/2011 ............................................................................. 40 
Proba Global ......................................................................................... 40 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
1 
01/08/2011 
 
CRISE DO DIREITO 
 
Século V a.c. 
 
Hoje 
Lei Externa 
Direito 
 
Ética 
Política/Moral 
� Direito 
 �
 
� Ética 
Lei Interna 
O Direito serve para organizar a sociedade (sociedade harmônica). 
E, para funcionar a norma deve ser internalizado pelo indivíduo. 
Quando isso não acontece, ocorre a quebra e existe a penalidade 
(Direito Penal). 
No mundo contemporâneo, a moral perdeu a importância, está 
esgaçada. 
O sujeito só pode agir moralmente. 
Não existe ação ética � ação é moral � ações humanas 
Não existe reflexão moral � reflexão é ética, mas com o devido 
embasamento, conhecimento. 
Para fazer ética na perspectiva da moralidade é preciso: 
- Radical (ir na raiz do problema) 
- Racionalidade (Método) 
- Ver o todo (o problema na totalidade e não em partes) 
Exemplo: O aborto é uma questão moral. A reflexão sobre o aborto 
é ética, não pode ser feita por meio de palpites e sim através do 
embasamento, conhecimento. 
A moral é normativa (pode ou não pode). 
Cada sociedade cria suas próprias leis morais, jeito de viver. 
Exemplo: Na Arábia, o homem se casa com quantas mulheres, ele 
puder sustentar. 
NÃO há mais internalização das normas. O que norteia a ação 
atualmente é o DESEJO. A lei não consegue dominar o DESEJO 
(EU SOLITÁRIO DESEJANTE). 
ÉTICA (princípio) = FILOSOFIA MORAL, que é a reflexão do 
comportamento moral. 
MORAL (virtude) está ligada a ação. A ética é uma reflexão filosófi-
ca/científica sobre essa ação. 
 
 
02/08/2011 
A ÉTICA COMO FILOSOFIA MORAL (433045) 
A ética é entendida como parte da filosofia que se dedica à reflexão 
sobre a moral. Como parte da filosofia, a Ética é um tipo de saber 
que se tenta construir racionalmente, utilizando para tanto o rigor 
conceptual e os métodos de análise e explicação próprios da filoso-
fia. 
 
Como reflexão sobre as questões morais, a Ética pretende desdo-
brar conceitos e argumentos que permitem compreender a dimen-
são moral da pessoa humana nessa sua condição de dimensão 
moral, ou seja, sem reduzi-la a seus componentes psicológicos, 
sociológicos, econômicos ou de qualquer outro tipo. 
 
Uma vez desdobrados os conceitos e argumentos pertinentes, 
pode-se dizer que a Ética, a Filosofia Moral, terá conseguido expli-
car o fenômeno moral, dar conta racionalmente da dimensão moral 
humana, de modo que teremos aumentado o nosso conhecimento 
sobre nós mesmo e alcançado um maior grau de liberdade. 
 
Em suma, filosofamos para encontrar sentido para o que somos e 
fazemos e buscamos sentido para atender aos nossos anseios de 
liberdade, pois consideramos a falta de sentido um tipo de escravi-
dão. 
 
A Ética é indiretamente normativa 
(Remonta a reflexão sobre as diferentes morais e as diferentes 
maneiras de justificar racionalmente a vida moral) 
Desde suas origens entre os filósofos da antiga Grécia, a Ética é um 
tipo de saber normativo, isto é, um saber que pretende orientar as 
ações dos seres humanos (por meio dessas reflexões, a ética pode 
fazer com que as ações morais possam ser transformadas, indicar 
qual concepção moral é mais razoável). 
 
A moral também é um saber que oferece orientação para a ação, 
mas enquanto ela propõe ações concretas em casos concretos, a 
ética remonta à reflexão sobre as diferentes morais e as diferentes 
maneiras de justificar racionalmente a vida moral, de modo que sua 
maneira de orientar a ação é indireta. 
 
No máximo a ética pode indicar qual concepção moral é mais razo-
ável para que, a partir dela, possamos orientar nossos comporta-
mentos. 
Portanto, a ética não tem motivos para ter uma incidência imediata 
na vida cotidiana, pois seu objetivo último é esclarecer reflexivamen-
te o campo moral. 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
2 
ÉTICA E MODERNIDADE – A falência do sentido(433046) 
Ética e Direito nascem juntas e ao longo do tempo se separaram. O 
Direito serve para organizar uma sociedade, como estamos vivendo 
em uma sociedade desorganizada, o Direito está em crise. 
Fatores que levaram a uma nova interrogação no campo da 
ética: 
• *A falência do sentido 
• A morte das ideologias 
• O triunfo do individualismo 
• O aparecimento de novas tecnologias 
 
1. Falência do sentido e vazio ético 
Vivemos em um momento em que as referências tradicionais desa-
pareceram. Não sabemos mais exatamente quais podem ser os 
fundamentos de uma teoria ética. 
É num vazio absoluto que a ética contemporânea se cria, nesse 
lugar onde se apagaram as bases habituais, ontológicas, metafísi-
cas, religiosas da ética. Os próprios fundamentos da ética e da 
moral desapareceram. 
Estamos mergulhados no Niilismo (vazio - desvalorização e a 
morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “por-
quê”). Todas as referências ou normas da obrigação se dissipam, os 
valores superiores se depreciam. É nele que se origina a crise atual 
da ética. 
“Agora estremecemos no desnudamento de um niilismo, no qual o 
maior dos poderes se acopla com o maior vazio” (Hans Jonas) 
 
2. A morte das ideologias (utopias) 
Nossa época é marcada pela morte das ideologias e das grandes 
narrações totalizantes, morte na qual se enraíza a ética do futuro. 
A morte das grandes narrativas é só uma dimensão (fundamental) 
desse niilismo global, niilismo definido como etapa espiritual onde 
os fins faltam, onde os valores superiores se depreciam, onde não 
há mais resposta à questão: por quê? 
Com a descrença quanto aos grandes sistemas, nasce a dúvida 
axiológica, prelúdio de toda nova formação. 
Quais são as grandes sínteses que se desvanecem? 
a) Doutrinas do séc. XVIII relativas à emancipação do cidadão, o 
pensamento das luzes, que via na história uma teleologia racional. 
b) A teoria Hegeliana concernente à formação do Espírito no mun-
do. 
c) O marxismo e seu reino dos fins encarado como sociedade sem 
classes. 
Quando desmorona a concepção de uma história em progresso, 
quando ninguém dá o menor crédito ao tema da libertação do gêne-
ro humano, quando funcionam a desilusão ou a dúvida quanto a 
todo um projeto global de sociedade, então é preciso inventar novas 
normas éticas. 
 
3. O individualismo 
Quando se dissolvem as ideologias, então nascem as formas con-
temporâneas do individualismo, propícias ao aparecimento de novas 
regras de condutas. 
O individualismo contemporâneo não designa mais um triunfo da 
individualidade em face das regras constrangedoras, mas a realiza-
ção de indivíduos estranhos às disciplinas, às regras, às uniformiza-
ções. 
O que encontramos neste individualismo atual? As delícias do 
narcisismo, bem mais que o acesso a uma autonomia; a explosão 
hedonista (Teoria segundo a qual o comportamento humano seria 
motivado pela busca do prazer e de evitar o desprazer), mais que a 
conquista da liberdade. Promoção dos valores hedonistas, permissi-
vos, psicologistas, culto da descontração. 
Encerrados os ideais messiânicos (acreditar em deuses/messias), 
desvanecida a fé nas ideologias. Eis chegado o momento do indiví-
duo narcísico. Surge a questão: o que é que, nas nossas socieda-
des democráticas avançadas, pode se tornar fator de universaliza-
ção? 
 
4. As novas tecnologias 
Para apreender os desafios éticos atuais é preciso também levar em 
conta a realidade de um ambiente técnico, cheio de ameaças e 
perigos diversos. 
As novas tecnologias engendram um crescimento brutal dos pode-
res do homem, tornando sujeito, mas também objeto de suas técni-
cas. 
É o nosso “ser-herdado” (Paul Ricoeur) que se acha em questão. 
Se o “soco vital da identidade pessoal” é atingido pelas novas técni-
cas, então uma nova reflexão axiológica (estudo dos valores) se 
impõe. 
Tudo se converte em ameaça e exige uma formulação ética inédita: 
tanto as tecnologias biológicas quanto a energia nuclear e as técni-
cas que se referem à comunicação. 
Pela primeira vez na história da humanidade as ações do homem 
parecem irreversíveis. (Hans Jonas) 
 
Como Pensar uma nova ética? 
Niilismo, morte das ideologias, emergência de individualismo priva-
do e novas tecnologias conduzem a uma transformação da consci-
ência moral comum e dos princípios normativos da sociedade. 
Assim surgem questões decisivas: num universo onde não podemos 
mais nos referir às teleologias nem às harmonias outrora pressu-
postas, onde um Deus universal ou um fundamento divino poderiam 
fornecer a armadura da ética, como constituir e organizar conceitos 
ou princípios axiológicos novos, como criar uma nova ética? 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
3 
08/08/2011 
O HOMEM COMO CONSTRUÇÃO (433048) 
A moral sempre houve no mundo. 
A ética começa no século V.a.c. Os primeiros a pensar sobre o ser 
humano (SÓCRATES, PLATÃO, ARISTÓTELES). 
Não nascemos seres humanos e sim animais homens (hominídios) 
e nada garante que ele possa se transformar em ser humano. Por 
isso, o sentimento da angústia. 
 
O HOMEM NÃO NASCE PRONTO ELE ESTÁ 
SEMPRE EM CONSTRUÇÃO 
 
FELICIDADE 
 
 
O homem é ser de decisões inevitáveis 
Orientação de fundo: FELICIDADE 
 
Todos os dias, o homem toma decisões em busca da orientação de 
fundo. O que tornamos é resultado das nossas próprias decisões e 
de ninguém mais. São essas decisões que vão construindo o ho-
mem. 
Conexão natural universal = natureza 
Liberdade é uma possibilidade de ação. O homem é livre para tomar 
apenas as decisões de ir para um lado ou outro. 
A maioria das pessoas se perde porque não sabe qual caminho a 
seguir. Os animais nascem prontos, não precisam procurar o cami-
nho. 
O pensamento ético surge no ocidente ligado à experiência de que 
é o homem mesmo o responsável por seu próprio ser, já que ele 
não o recebe a não ser como possibilidade. 
A experiência da “contingência radical” é, assim, a experiência 
fundante de sua vida: nada garante, de antemão, a efetivação de 
suas possibilidades: nem seus instintos, nem as instituições que ele 
cria para regular suas relações. 
O homem se experimenta a si mesmo não como um simples ente 
que esta aí, mas como um ente que é “entregue a si mesmo”, que 
dispõe de si mesmo, que investe a si mesmo em todas as decisões 
tomadas, que antes de mais nada, decide sobre seu próprio ser, 
age a partir de finalidades que ele mesmo estabelece. 
O Ser Humano se experimenta não simplesmente como algo que é, 
mas como algo que “tem que ser”, como devir (vir a ser; passar a 
ser; tornar-se) e tarefa e enquanto tal permanentemente inacabado. 
 
 
O homem é, deste modo, o ser de decisões inevitáveis: toda sua 
vida é uma sequencia de decisões, em que ele se põe diante de 
alternativas diversas em relação a suas ações, através do que, em 
última análise, ele toma posição a respeito da orientação de fundo 
de seu existir. 
Essa é a diferença originária do homem em relação a tudo mais 
com que ele se depara em sua vida: ele não se encontra simples-
mente preso à conexão natural universal e, por conseguinte não 
está já plenamente determinado em sua essência, mas é posto no 
“aberto”, o que significa que sua vida é, fundamentalmente, tarefa, 
construção de si mesmo. 
Sua tarefa primeira e inevitável é dar a si mesmo uma configuração 
específica de si mesmo e, portanto, abrir para si o espaço das 
diferentes possibilidades de sua própria realização. 
Ser dado a si mesmo como tarefa é o que constitui o sentido fun-
damental da liberdade, que é tão central em seu ser que não é dado 
ao homem usar ou não usar desta possibilidade, pois mesmo a 
renúncia à configuração de seu ser já é uma decisão. 
Enquanto ser de liberdade, o homem é o ser da decisão e, conse-
qüentemente, do riscoe da história com espaço de sua possível 
efetivação: em cada decisão ele toma posição sobre a configuração 
de sua essência e se constitui ou não como pessoa. 
O homem se experimenta enquanto tal chamado a assumir-se 
explicitamente como liberdade pessoal e fazer-se livre para sua 
própria liberdade pessoal. 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
4 
 
Livre-arbítreo (liberdade para decidir os rumos na vida) Cada decisão tomada configura-se a essência do ser humano/pessoa 
ou não que seremos! 
Nossas decisões determinam que tipo de ser humano seremos, ou se seremos! Não importa o que fizeram de mim, importa 
o que eu vou fazer com isso que fizeram de mim! 
 
 
 
 
 
Dizer que o homem é o ser que não tem, de antemão, seu próprio 
ser garantido e que ele tem que buscá-lo em suas próprias ações 
implica dizer que uma primeira e inevitável pergunta é: 
*Que ações efetivam meu ser? 
 
*Que decisões me efetivam verdadeiramente? 
 
*Qual a razão de minhas preferências? 
 
*Como justifico o que faço? 
Ética significa ter condição racional de escolher o seu caminho. 
Responder as quatro perguntas anteriores: REFLEXÃO CRÍTICA 
SOBRE O QUE EU FAÇO DA MINHA VIDA. 
Com a questão da justificação das decisões, ou seja, como pergun-
ta a respeito da decisão justa, da ação que se pode assumir res-
ponsavelmente, surgiu no ocidente a ÉTICA. 
A ética emerge, então, como uma decorrência da própria experiên-
cia da finitude e da liberdade: porque o homem se põe no aberto, 
surge uma exigência fundamental, a saber, a exigência de uma 
acareação crítica de suas decisões nas diferentes situações históri-
cas em que se encontra inserido. 
Do seio da própria historicidade da vida humana emerge a 
reflexão crítica com a pretensão de se perguntar pela justifica-
ção daquilo que o homem faz de sua vida. 
A ética inaugura uma forma nova desta vida: aquela em que o 
homem, argumentando, procura dar razões a seu esforço de busca 
de uma configuração de seu próprio ser. 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
5 
09/08/2011 
FENOMENOLOGIA DO ETHOS (433049) 
Que é ética? 
A filologia (estudo de uma língua em todos os seus aspectos e dos 
escritos que a documentam) da palavra ética nos serve de orienta-
ção para seu sentido originário. 
Ética vem do grego ethos. Essa palavra se escreve de duas formas: 
com eta, (a letra e em tamanho pequeno) e como epsilon (a letra E 
em tamanho grande). 
Ética: Grego. Duas grafias: ethos/Ethos 
 
ethos: morada, abrigo permanente- animais/homens 
No âmbito da natureza, o ser humano delimita uma porção dela e aí 
constrói uma morada. 
A morada o enraíza na realidade, dá-lhe segurança e permite a ele 
sentir-se bem no mundo. 
Ela não é dada ao homem, mas tem que ser construída pela ativi-
dade humana. Obra da cultura. Ela deve ser cuidada, melhorada. 
O ethos não é algo acabado, mas algo aberto a ser sempre feito, 
refeito e cuidado. 
ethos se traduz por ética. É uma realidade da ORDEM DOS FINS: 
viver bem, morar bem. 
Ética tem a ver com fins fundamentais (como morar bem), com 
valores imprescindíveis (como defender a vida), com princípios 
fundadores de ação (dar de comer a quem tem fome etc...) 
 
ÉTICA = ethos = Morada humana 
Transformar Natura em Cultura (segurança) 
FAMÍLIA = serve para absorver a agressividade da humanidade 
(mundo)! 
Para sair da influência negativa da Família: Conhecimento e Terapia 
BBB da mentira! Gera insegurança. 
Para Platão o centro do ethos é o bem, pois somente ele permite 
que alcancemos nosso FIM (Felicidade), que consiste em sentirmo-
nos bem em casa. E nos sentimos bem em casa (temos um ethos, 
realizamos o fim almejado) quando criamos mediações adequadas, 
como hábitos, certas normas e maneiras constantes de agir. 
Para Aristóteles, o centro do ethos (moradia) é a auto-realização 
do cidadão em sua dimensão pessoal e social. Esse FIM (Felicida-
de), a autonomia, realiza-se por intermédio de mediações, tais como 
hábitos, virtudes e estatutos jurídicos. 
 
Ethos ���� moral ���� hábitos/costumes ���� media-
ções – meios para alcançar os fins 
FIM = Felicidade, para isso é necessário Mediações (hábi-
tos/costumes: Ethos) para alcançar esse fim (ser feliz)! 
Ethos (mediações – valores fundamentais): Significa os costumes, 
o conjunto de valores e de hábitos consagrados pela tradição cultu-
ral de um povo. 
Ethos: como o conjunto dos meios ordenados ao FIM (bem/auto 
realização) se traduz por moral. 
Latim: Mos/mores = significa os costumes e valores de uma deter-
minada cultura. Como são muitos próprios de cada cultura, tais 
valores e hábitos fundam várias morais. 
MORAL = Ethos = hábitos/costumes – mediação/meios para alcan-
çar o fim/meta (Felicidade). 
Funções da família: absorver a agressão do mundo. Aonde descar-
regamos nossas frustações! 
 
RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL 
Ética e Moral articulam-se intrinsecamente. Os hábitos e os costu-
mes (Ethos) visam a fazer a moradia humana e o meio social sus-
tentáveis, autônomos e habitáveis (ethos) para todos. 
Que significa dizer: “Essa pessoa não tem ética”? Significa dizer: 
“Essa pessoa não possui princípios, age oportunisticamente, conso-
ante as vantagens que possa auferir; dela não se poderá esperar 
nenhum comportamento coerente e previsível, porque não possui 
uma opção fundamental de vida”. 
Exemplo: Não tem ética um jornalista que trai seus princípios para 
fazer, por dinheiro, a campanha de um político notoriamente corrup-
to. A alegação de que faz um trabalho profissional não justifica a 
traição ética do jornalista ou de qualquer outro profissional. 
 
O que significa dizer: “Essa pessoa não tem moral”? 
Significa: “Essa pessoa não possui virtudes, mente, engana clientes, 
rouba dinheiro público, explora trabalhadores, faz violência em 
casa...” Essa pessoa pode até ter ética (princípios e valores funda-
mentais), mas age em contradição com seus princípios. 
Pode ocorrer que a pessoa não possua nem ética nem moral: age 
aleatoriamente, consoante seus interesses mais imediatos. Não tem 
princípios e atua segundo as vantagens individuais. 
Exemplo: Modelo ou atriz que se deixa fotografar nua em troca de 
muito dinheiro. A alegação de que se trata de “nu artístico” ou de 
que é “um trabalho profissional” não desculpa a falta de ética (prin-
cípios, atitudes fundamentais) e a falta de moral (atos contrários aos 
princípios). 
Outras artistas igualmente famosas, mas com ética e moral, jamais 
venderiam sua imagem por dinheiro algum, exatamente para não 
contradizer sua ética e moral. 
ANTIÉTICA é que não tem princípio. IMORAL é quem não tem 
virtude. (ambas são construídas). 
QUESTÃO: Quem define o que seja ético e moral para a morada 
humana? Que instância apontará os critérios de bondade ou de 
maldade, sejam da moradia humana (ethos) sejam dos costumes e 
valores (moral) que organiza essa moradia? 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
6 
 
16/08/2011 
ESTRUTURA DO ATO MORAL (438402) 
 
A moral ocorre em dois planos: o normativo e o fatual. De um lado, 
nela encontramos normas e princípios que tendem a regulamentar a 
conduta dos homens e, de outro lado, um conjunto de atos humanos 
regulamentados por eles, cumprindo assim a sua exigência de 
realização. 
Um ato moral é sempre um ato sujeito à sanção dos demais; isto é, 
passível de aprovação ou de desaprovação, de acordo com as 
normas comumente aceitas. Nem todos os atos humanos podem 
receber semelhante qualificação. 
1ª) Pegar uma pedra em terreno baldio e levar para casa! É uma ato 
humano, mas não é um ato moral! 
2ª) Retirar uma pedra do caminho, pensando em proteger futuros 
transeuntes. É um ato humano e um 
ato moral. Porque é ato humano 
relacionado a outro ser humano/ato 
humano. 
 
Moral = atos humanosAto moral é toda ação humana que VISA A SOCIABILIDADE. É 
aquela ação com perspectiva para outro ser humano. Esse ato pode 
ser considerada: 
- Bom 
- Mau 
Um ato sobre COAÇÃO não é um ato moral. 
 
Estrutura do ato moral 
a) Motivo do ato moral 
Moça solista se candidata a cargo político. 
Por motivo, entende-se aquilo que impulsiona a agir ou a procurar 
alcançar determinado fim. 
Um mesmo ato pode realizar-se por motivos diferentes e o mesmo 
motivo pode impulsionar a realizar atos diferentes com finalidades 
diferentes. 
O sujeito pode reconhecer o motivo da sua ação e ser uma ação 
consciente. Mas nem sempre apresenta esta característica. A pes-
soa impulsionada a agir por fortes paixões, por impulsos irresistíveis 
não é consciente dos motivos de seu comportamento. Esta motiva-
ção inconsciente não permite qualificar o ato que ela estimula como 
propriamente moral. 
Os motivos inconscientes do comportamento humano devem ser 
considerados, mas não para determinar o caráter moral de um ato, 
e sim para compreender que, exatamente porque este ato obedece 
a motivos inconscientes, irracionais, escapa à esfera moral e não 
pode ser objeto de aprovação ou desaprovação. 
O motivo não é suficiente para atribuir a tal ato um significado moral, 
porque o agente nem sempre pode reconhecê-lo claramente. 
Cidadão joga o filho contra o carro – é preso – sob surto psicótico 
(inconsciente) – sem culpa (sem dolo) nem legal, nem moral. No 
direito, ele deve receber uma sanção penal proporcional ao dano 
que ele causou a comunidade/sociabilidade/harmonia social (ato 
culposo). 
Quando o crime é indefensável o advogado antiético alega insani-
dade mental para seu cliente. Quando o certo era buscar um pe-
na/sanção proporcional a ação – pena justa e não a liberdade a 
qualquer preço. 
Todos tem direito a defesa, mas sem mentiras/manipulação! Deve-
se buscar minimizar a pena por quebra da harmonia social. 
 
b) Consciência do fim visado: 
Motorista bebe e mata um pedestre, ele assumiu o risco. Crime 
doloso. 
Toda ação especificamente humana exige certa consciência de um 
fim, ou antecipação ideal do resultado que se pretende alcançar. 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
7 
O fim proposto pela consciência implica também a decisão de al-
cançá-lo. O ato moral não somente se antecipa idealmente, como 
fim, um resultado, mas há também, além disso, a decisão de alcan-
çar realmente o resultado que tal fim prefigura ou antecipa. 
O ato moral implica a consciência de um fim e a decisão de realizá-
lo. Mas esta decisão pressupõe a escolha entre vários fins possí-
veis que se excluem reciprocamente (estudar x vadiar – casar x 
solteirice). 
A pluralidade de fins exige a consciência da natureza de cada um 
deles e, ao mesmo tempo, a consciência de que um é preferível aos 
demais. (a geração atual perdeu a hierarquia valorativa – para eles 
tudo tem o mesmo valor. Chico Buarque (MPB) = Latino (funk) 
A pluralidade dos fins no ato moral exige: 
a) a escolha de um fim entre outros, e 
b) decisão de realizar o fim. 
O ato moral não se completa com a decisão tomada; é necessário 
chegar ao resultado efetivo. Se decido concretizar determinado fim 
e não dou os passos necessários para isso, o fim não se realiza e, 
portanto, o ato moral não se produz. 
 
c) Consciência dos meios para realizar o fim escolhido 
O ato moral x regra contra (para ter consequência tem que quebrar 
a regra) 
O ato moral responde à necessidade social de regulamentar a 
relação entre os membros da sociedade. 
O ato moral consuma-se no resultado. Como fato real, deve ser 
relacionado com a norma que implica e que faz parte do código 
moral da comunidade respectiva. 
O ato moral responde à necessidade social de regulamentar as 
relações entre os membros de uma comunidade, o que significa que 
deve levar em consideração as conseqüências objetivas do resulta-
do obtido, o modo como este resultado afeta aos demais. 
O ato moral supõe um sujeito real dotado de consciência moral, isto 
é, da capacidade de interiorizar as normas ou regras de ação esta-
belecidas pela comunidade e de atuar de acordo com elas. 
A consciência moral é, por um lado, consciência do fim desejado, 
dos meios adequados para realizá-lo e do resultado possível; mas 
é, ao mesmo tempo, decisão de realizar o fim escolhido, pois a sua 
execução se apresenta como uma exigência ou um dever. 
 
d) Resultados obtidos 
O Direito busca a Justiça (equilíbrio). A pena e aplicada pela quebra 
da harmonia/coesão da comunidade. 
O ato moral apresenta um aspecto SUBJETIVO (motivos, consci-
ência do fim, consciência dos meios e decisão pessoal), mas, mos-
tra também um lado OBJETIVO que transcende a consciência 
(emprego de determinados meios, resultados objetivos, conseqüên-
cias). 
Por isso a natureza moral do ato não pode ser reduzida exclusiva-
mente ao seu lado subjetivo. Também não se pode fixar o centro de 
gravidade do ato num só dos seus elementos, com exclusão dos 
outros. Seu significado moral não pode ser encontrado somente nos 
motivos que impulsionaram a agir. 
Às vezes, o centro de gravidade do ato moral se desloca para a 
intenção com que se realiza ou o fim desejado, independentemente 
dos resultados obtidos e das conseqüências que nosso ato acarreta 
para os demais. 
Esta concepção subjetivista ou intencionalista do ato moral negli-
gencia os seus resultados e as suas conseqüências. A intenção ou 
o fim envolve uma exigência de realização: não é admissível que se 
fale de intenções ou fins bons em si mesmos, independentemente 
da sua realização porque a prova das boas intenções se deve pro-
curar nos resultados. 
O agente moral deve responder não só por aquilo que projeta ou 
propõe realizar, mas também pelos meios empregados e pelos 
resultados obtidos. Nem todos os meios são moralmente bons para 
obter um resultado. 
Em suma: o ato moral é uma totalidade ou unidade indissolúvel de 
diversos aspectos ou elementos: motivo, fim, meios, resultados, 
conseqüências objetivas. 
O subjetivo e o objetivo estão aqui como as duas faces de uma 
mesma moeda. O ato moral não pode ser reduzido a um dos seus 
elementos, mas está em todos eles, na sua unidade e nas suas 
mútuas relações. 
Embora a intenção preceda geneticamente o resultado, a qualifica-
ção moral da intenção não pode prescindir da consideração do 
resultado. Por sua vez, os meios não podem ser considerados sem 
os fins, e tampouco os resultados e as conseqüências objetivas do 
ato moral podem ser isoladas da intenção, porque circunstâncias 
externas imprevistas podem conduzir a resultados que o agente não 
pode reconhecer como seus. 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
8 
22/08/2011 
CONDIÇÕES DA RESPONSABILILIDADE MORAL 
Quais são as condições necessárias e suficientes para poder 
imputar a alguém uma responsabilidade moral por determinado 
ato? 
1980 – perda dos valores/referências/parâmetros. 
Ser honesto virou qualidade/ coisa rara. 
 
Em que condições uma pessoa pode ser louvada ou censurada 
por sua maneira de agir? 
Há duas condições fundamentais: 
1ª) Que o sujeito não ignore nem as circunstâncias nem as conse-
qüências da sua ação, ou seja, que o seu comportamento possua 
um caráter CONSCIENTE. 
Existe a pena, mesmo sem a culpa. 
 
2ª) Que a causa dos seus atos esteja nele próprio (ou causa interi-
or), e não em outro agente (ou causa externa) que o force a agir de 
certa maneira, contrariando a sua vontade, ou seja, que sua condu-
ta seja LIVRE. 
Surto Psicótico 
Na avaliação moral é sempre: Bom ou mau 
É preciso ser radical, racional e ver o todo. 
 
A ignorância e a responsabilidade moral. 
É preciso não sabere não ter condições de saber para se livrar da 
culpa! 
Impossibilidade Subjetiva: criança usa revolver acidentalmente. A 
culpa é do pai. 
Impossibilidade Objetiva: Aristóteles era a favor da escravidão – 
ele não é culpado - a escravidão deixou de ser considerada legítima 
a partir do século XVIII. 
Se podemos responsabilizar somente o sujeito que escolhe, decide 
e age conscientemente, é evidente que devemos eximir da respon-
sabilidade moral a quem não tem consciência daquilo que faz, isto 
é, a quem ignora as circunstâncias, a natureza ou as conseqüências 
da sua ação. 
 
Sec. IV a.c. 
Aristóteles 
 
 
Sec. XV 
Colombo 
1940 
Hitler 
 
Isento de culpa 
A escravidão 
era ato legítimo 
Culpa depende da argumenta-
ção (defesa x acusação) 
Época de mudança de paradigma 
– dificuldade de julgamento moral. 
Mas, Bartolomeu de Las casas, já 
dizia: “Não se deve matar índio” 
 
Culpado 
Já se 
sabia que 
não podia 
matar 
A ignorância neste amplo sentido se apresenta como uma condição 
que exime da responsabilidade moral. 
A ignorância é sempre uma condição suficiente para eximir da 
responsabilidade moral? NÃO. 
Não basta afirmar que o agente ignorava as circunstâncias para 
livrá-lo da responsabilidade moral. 
É necessário acrescentar que, não só não as conhecia, mas que 
não podia e não tinha a obrigação de conhecê-la. 
A tese de que a ignorância exime de responsabilidade moral deve 
ser concretizada, pois há circunstâncias em que o agente ignora o 
que poderia ter conhecido ou o que tinha obrigação de conhecer. A 
ignorância não pode eximí-lo da sua responsabilidade, já que 
ele é responsável por não saber o que DEVIA saber. 
EM RESUMO: A ignorância das circunstâncias, da natureza ou das 
conseqüências dos atos humanos autoriza a eximir um indivíduo da 
sua responsabilidade pessoal, mas essa isenção estará justificada 
somente quando, por sua vez, o indivíduo em questão não for res-
ponsável pela sua ignorância, ou seja: quando se encontra na im-
possibilidade subjetiva (por motivos pessoais) ou objetivas (por 
motivos históricos-sociais) de ser consciente do seu ato pessoal. 
 
A coação externa e a responsa-
bilidade moral 
Mulher desvia de 1 criança e mata 5, 
moralmente ela não tem culpa. Mas 
tem que receber uma pena proporcional ao dano, por quebrar que-
brar a sociabilidade/harmonia social. Moralmente e penalmente 
ela não tem culpa (não é doloso). Ela terá uma pena proporcional 
ao dano causado à comunidade/sociabilidade/harmonia social. O 
ato moral se consuma no resultado (bom ou mau)! 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
9 
A segunda condição fundamental para que se possa responsabilizar 
uma pessoa por um ato é que a causa deste esteja dentro dele 
próprio e não provenha de fora. Exige-se que a pessoa não esteja 
submetida a uma coação externa. 
Quando o agente moral está sob pressão de uma coação externa, 
perde o controle dos seus atos, sendo-lhe fechado o caminho da 
eleição e da decisão pessoal, razão pela qual realiza um ato nem 
escolhido nem decidido pessoalmente. 
Na medida em que a causa do seu ato está fora do agente, esca-
pando ao seu poder e controle, e em que se lhe barra a possibilida-
de de decidir e agir de outra maneira, não se pode responsabilizá-lo 
pelo modo como agiu. * 
A coação externa pode provir não de algo –circunstâncias imprevis-
tas – que o força a agir de certa maneira contra a vontade do agen-
te, mas de alguém que consciente e voluntariamente o força a 
realizar um ato que não quer fazer. 
 
Estrutura da personalidade 
Neurose/neurótico (98%) – tem culpa 
 
Psicose/psicótico (1%) – sem culpa (esta no 
subconsciente) 
Perverso (1%) – pode ou não ter culpa 
 
 
A coação interna e a responsabilidade 
moral. 
Esquizofrênico e cleptomaníaco – Não tem 
culpa 
Se o agente não é responsável pelos atos que têm a sua causa fora 
dele, seria, ao contrário, por todos aqueles que têm a sua causa 
dentro dele? 
Não haveria atos cuja causa esteja dentro do sujeito e pelos quais 
não seja moralmente responsável? 
Um indivíduo normal é moralmente responsável pelo roubo que 
comete, diferente do cleptomaníaco que rouba por um impulso 
irresistível. 
O assassinato é reprovável moralmente. Mas poderíamos conside-
rar moralmente responsável o neurótico que mata num momento de 
crise aguda? 
Nesses casos o sujeito não tem consciência, pelo menos não no 
momento em que realiza tais atos, dos motivos verdadeiros, da sua 
natureza moral e das circunstâncias. 
A psiquiatria e a psicanálise conhecem muitos casos assim. O 
agente atua sob uma coação interna que não pode resistir e ainda 
que os seus atos possuam a sua causa no seu íntimo, não são 
propriamente seus, porque não puderam exercer um controle sobre 
eles. 
Os casos acima são casos extremos: ou seja, casos de coação 
interna à qual o sujeito não consegue resistir de maneira alguma. 
São casos de pessoas doentes, ou de outras que, embora se com-
portem de maneira normal, mostram zonas de comportamento que 
se caracterizam por sua anormalidade. 
Ainda que seja difícil traçar a linha divisória entre o normal e o 
anormal no comportamento, é evidente que as pessoas que costu-
mamos considerar normais não agem sob uma coação irresistível. 
23/08/2011 
 
Ética para meu filho - 
Fernando Savater 
 
 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
10 
Possibilidades de ação ≠ Liberdade 
 
Capítulo 4 - Dê a si mesmo uma vida boa 
O que estou pretendendo lhe dizer ao colocar um "faça o 
que quiser" como lema fundamental da ética em cuja dire-
ção caminhamos tateando? Pois simplesmente (embora eu 
tema que depois acabe não sendo tão simples) que é preci-
so dispensar ordens e costumes, prêmios e castigos, em 
suma, tudo o que queira dirigi-lo de fora, e que você deve 
estabelecer todo esse assunto a partir de si mesmo, do foro 
íntimo de sua vontade. Não pergunte a ninguém o que você 
deve fazer de sua vida: pergunte-o a si mesmo. Se você 
deseja saber em que pode empregar melhor a sua liberda-
de, não a perca colocando-se já de início a serviço de outro 
ou de outros, por mais que sejam bons, sábios e respeitá-
veis: sobre o uso da sua liberdade, interrogue... a própria 
liberdade. 
Claro, como você é um garoto esperto, pode ser que já 
esteja percebendo que aqui há uma certa contradição. Ao 
lhe dizer "faça o que quiser" parece que, de todo modo, 
estou lhe dando uma ordem, "faça isso e não aquilo", embo-
ra a ordem seja agir livremente. Que ordem mais complica-
da, quando a examinamos de perto! Ao cumpri-la, você 
estará desobedecendo a ela (pois não estará fazendo o que 
quer, mas o que eu quero e estou mandando); ao desobe-
decer a ela, você a estará cumprindo (pois estará fazendo o 
que quer e não o que estou mandando... mas é exatamente 
isso que estou mandando!). Acredite, não estou querendo 
colocá-lo diante de uma charada como as que aparecem na 
seção de passatempos dos jornais. Embora esteja tentando 
lhe dizer tudo isto sorrindo, para não nos aborrecermos mais 
do que o necessário, o assunto é sério: não se trata de 
passar o tempo, mas de vivê-lo bem. A aparente contradi-
ção que encerra esse "faça o que quiser" é apenas um refle-
xo do problema essencial da própria liberdade, ou seja, não 
somos livres para não sermos livres, pois é inevitável que 
sejamos livres. E se você me disser que chega, que você 
está farto e não quer continuar sendo livre? E se você resol-
ver entregar-se como escravo a quem fizer a melhor oferta 
ou jurar que obedecerá para todo o sempre a este ou àquele 
tirano? Pois você o fará porque quer, estará fazendo uso da 
sua liberdade e, mesmo obedecendo a outro ou deixando- 
se levar pela massa, continuará agindo conforme sua prefe-
rência: não estará renunciando a escolher, mas estaráesco-
lhendo não escolher por si mesmo. Por isso um filósofo 
francês do nosso século, Jean-Paul Sartre, disse que' 'es-
tamos condenados à liberdade''. Para essa condenação 
não há indulto possível... 
Assim, meu' 'faça o que quiser'' é apenas uma forma de 
dizer que você deve levar a sério o problema da sua liberda-
de, o fato de que ninguém pode dispensá-lo da respon-
sabilidade criadora de escolher seu caminho. Não se 
pergunte morbidamente se "vale a pena" todo esse alarde 
em torno da liberdade, pois queira ou não você é livre, quei-
ra ou não você tem de querer. Mesmo ao dizer que não 
quer saber nada desses assuntos tão enfadonhos e que eu 
o deixe em paz, você também estará querendo... querendo 
não saber de nada, querendo que o deixem em paz, embora 
sob pena de se embotar um pouco. São as coisas do querer, 
amigo meu, como diz a canção! Mas não devemos confundir 
o "faça o que quiser" com os caprichos de que falamos an-
tes. Uma coisa é você fazer o que quiser, e outra bem 
diferente é fazer "a primeira coisa que der vontade". Não 
estou dizendo que em certas ocasiões não possa ser sufici-
ente a pura e simples vontade de alguma coisa: quando 
você escolhe comer num restaurante, por exemplo. Já que 
felizmente você tem um bom estômago e não se preocupa 
em engordar, vamos lá, peça o que tiver vontade... Mas, 
cuidado, pois às vezes a vontade nos faz perder em vez de 
ganhar. A propósito, um exemplo. 
Não sei se você leu muito a Bíblia. Ela está cheia de coisas 
interessantes, e não é preciso ser muito religioso - você 
sabe que eu sou muito pouco - para apreciá-las. No primeiro 
de seus livros, o Gênesis, conta-se a história de Esaú e 
Jacó, filhos de Isaac. Eles eram irmãos gêmeos, mas Esaú 
havia saído primeiro do ventre da mãe, o que lhe conferia o 
direito de primogenitura: ser primogênito naquele tempo não 
era coisa sem importância, pois significava estar destinado a 
herdar todas as posses e privilégios do pai. Esaú gostava de 
caçar e se aventurar, ao passo que Jacó preferia ficar em 
casa, preparando de vez em quando algumas delícias culi-
nárias. Certo dia Esaú voltou do campo cansado e faminto. 
Jacó havia preparado um suculento cozido de lentilhas, e o 
irmão, assim que sentiu o aroma, ficou com água na boca. 
Com muita vontade de comer o guisado, pediu a Jacó que 
lhe oferecesse um prato. O irmão cozinheiro concordou, 
dizendo no entanto que não seria de graça, mas em troca do 
direito de primogenitura. Esaú pensou: "Agora o que eu 
quero são as lentilhas. A questão da herança do meu pai 
será daqui a muito tempo. Pode até ser que eu morra antes 
dele!" E aceitou trocar seus futuros direitos de primogênito 
pelas saborosas lentilhas do presente. Aquelas lentilhas 
deviam ter um cheiro delicioso! Não é preciso dizer que mais 
tarde, de barriga cheia, arrependeu-se do negócio que havia 
feito, o que provocou muitos problemas entre os irmãos 
(com o devido respeito, sempre tive a impressão de que 
Jacó era um espertalhão). Mas, se você quer saber o fim da 
história, leia o Gênesis. Para o que interessa exemplificar 
aqui, basta o que lhe contei. 
Como o vejo um pouco rebelde, não me surpreenderia que 
você tentasse virar essa história contra o que venho dizen-
do: "Você não estava me recomendando a tal maravilha do 
'faça o que quiser'? Pois aí está: Esaú queria o guisado, 
empenhou-se em obtê-lo e acabou ficando sem herança. 
Grande êxito!" Sim, é claro, mas... será que as lentilhas 
eram o que Esaú queria de verdade, ou simplesmente o 
que desejava naquele momento? Afinal, ser o primogênito 
era, na época, uma coisa muito rentável, ao passo que as 
lentilhas, já viu: quem quiser pega... É lógico pensar que no 
fundo Esaú queria era a primogenitura, um direito destinado 
a melhorar muito sua vida num prazo mais ou menos breve. 
Claro que também estava com vontade de comer guisado, 
mas, se tivesse se dado ao trabalho de pensar um pouco, 
teria constatado que esse segundo desejo podia esperar por 
algum tempo, não estragando suas possibilidades de con-
seguir o fundamental. Às vezes os homens querem coisas 
contraditórias que entram em conflito umas com as 
outras. É importante ser capaz de estabelecer priorida-
des e de impor uma certa hierarquia entre aquilo de que 
tenho vontade imediatamente e o que quero no fundo, a 
longo prazo. Esaú que o diga... 
Na história bíblica há um detalhe importante. O que determi-
na que Esaú escolha o guisado presente e renuncie à he-
L
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NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
11 
rança futura é a sombra da morte ou, se você preferir, o 
desânimo produzido pela brevidade da vida. "Como sei que 
vou morrer de qualquer maneira, e quem sabe antes de meu 
pai... por que me incomodar pensando no que me convém? 
Agora quero lentilhas e amanhã estarei morto, portanto 
venham as lentilhas e acabou-se!" É como se a certeza da 
morte levasse Esaú a pensar que a vida não vale a pena, 
que tudo dá na mesma. Mas o que faz com que tudo dê na 
mesma não é a vida, mas a morte. Veja bem: por medo da 
morte, Esaú decide viver como seja estivesse morto e tudo 
desse na mesma. A vida é feita de tempo, nosso presente é 
cheio de recordações e esperanças, mas Esaú vive como se 
para ele já não houvesse outra realidade que não o aroma 
de lentilhas que lhe chega naquela horinha ao nariz, sem 
ontem nem amanhã. Mais ainda: nossa vida é feita de 
relações com os outros - somos pais, filhos, irmãos, 
amigos ou inimigos, herdeiros ou herdados, etc. -, mas 
Esaú decide que as lentilhas (que são uma coisa, não 
uma pessoa) contam mais para ele do que esses víncu-
los com os outros que o fazem ser quem é. Agora uma 
pergunta: Esaú realmente cumpre o que quer, ou será que a 
morte como que o hipnotiza, paralisando e estragando seu 
querer? 
Deixemos Esaú com seus caprichos culinários e seus pro-
blemas de família. Voltemos ao seu caso, que é o que nos 
interessa aqui. Se eu lhe disser que faça o que quiser, a 
primeira coisa que parece oportuno fazer é pensar deti-
da e profundamente no que você quer. Sem dúvida, há 
muitas coisas de que você tem vontade, muitas vezes con-
traditórias, como acontece com todo o mundo: você quer ter 
uma moto mas não quer arrebentar a cabeça na estrada; 
quer ter amigos mas sem perder sua independência; quer 
ter dinheiro mas não quer passar por cima do próximo para 
obtê-lo; quer saber coisas e por isso compreende que é 
preciso estudar, mas também quer se divertir; quer que eu 
não lhe faça sermão e o deixe viver sossegado mas também 
que eu esteja pronto para ajudá-lo quando necessário, etc. 
Em suma, se você fosse resumir tudo isso e colocar em 
palavras sinceramente tudo o que no fundo você deseja, 
diria: "Escute, pai, o que eu quero é dar-me uma vida boa." 
Bravo! Prêmio para o cavalheiro ! É exatamente isso que eu 
queria lhe aconselhar: ao dizer "faça o que quiser", o que no 
fundo eu pretendia recomendar é que você ousasse dar-se 
uma vida boa. E, perdão, não ligue para os tristes nem para 
os beatos: a ética não é mais do que a tentativa racional 
de averiguar como viver melhor. Se vale a pena interes-
sar-se pela ética é porque gostamos da vida boa. Só quem 
nasceu para escravo ou quem tem tanto medo da morte a 
ponto de achar que tudo dá na mesma dedica-se às lentilhas 
e vive de qualquer jeito... 
Você quer dar-se uma vida boa: ótimo. Mas também quer 
que essa vida boa não seja a vida boa de uma couve-flor ou 
de um besouro, com todo o meu respeito por essas duas 
espécies, mas uma vida boa humana. É isso que lhe corres-
ponde, creio eu. Tenho certeza de que você não renunciaria 
a isso por nada do mundo. Ser humano, já dissemos an-
tes, consiste principalmente em ter relações com os 
outros seres humanos. Se você pudesse ter muito dinhei-
ro, uma casa mais suntuosa do que um palácio das mil e 
uma noites, as melhoresroupas, os mais deliciosos alimen-
tos (muitas lentilhas!), os mais sofisticados aparelhos, mas 
tudo isso ao preço de nunca mais ver ou ser visto por qual-
quer ser humano, você ficaria contente? Quanto tempo 
conseguiria viver assim sem ficar louco! Não é a maior das 
loucuras querer as coisas às custas da relação com as pes-
soas? Ora, se justamente a graça de todas essas coisas 
está em permitirem - ou parecerem permitir - que você se 
relacione mais favoravelmente com os outros! Por meio do 
dinheiro espera-se poder deslumbrar ou comprar os outros; 
as roupas são para lhes agradar ou para que nos invejem; 
assim também a boa casa, os melhores vinhos, etc. Sem 
falar nos aparelhos: o vídeo e a televisão são para vê-los 
melhor, o CD para ouvi-los melhor, e assim por diante. Muito 
poucas coisas mantêm sua graça na solidão; e, se a solidão 
é completa e definitiva, todas as coisas tornam-se irremedi-
avelmente amargas. A vida boa humana é vida boa entre 
seres humanos, caso contrário pode até ser vida, mas não 
será nem boa nem humana. Está começando a ver onde 
quero chegar? 
As coisas podem ser bonitas e úteis, os animais (pelo me-
nos alguns) podem ser simpáticos, mas nós, homens, que-
remos ser humanos, e não ferramentas ou bichos. Também 
queremos ser tratados como humanos, pois essa história de 
humanidade depende em boa medida do que fazemos uns 
com os outros. Explicando: o pêssego nasce pêssego, o 
leopardo já vem ao mundo como leopardo, mas o homem 
não nasce já totalmente homem, e nunca chega a sê-lo sem 
a ajuda dos outros. Por quê? Porque o homem não é ape-
nas uma realidade biológica, natural (como os pêssegos ou 
os leopardos), mas é também uma realidade cultural. Não 
há humanidade sem aprendizagem cultural e, para começar, 
sem a base de qualquer cultura (e portanto fundamento de 
nossa humanidade): a linguagem. O mundo em que nós, 
seres humanos, vivemos é um mundo lingüístico, uma reali-
dade de símbolos e leis sem a qual seríamos incapazes não 
só de nos comunicar uns com os outros como também de 
captar o significado do que nos cerca. Mas ninguém pode 
aprender sozinho a falar (como poderia aprender sozinho a 
comer ou a urinar - perdão), pois a linguagem não é uma 
função natural e biológica do homem (embora tenha sua 
base em nossa condição biológica, é claro), mas uma cria-
ção cultural que herdamos e aprendemos de outros homens. 
Por isso, falar com alguém e escutá-lo é tratá-lo como uma 
pessoa, pelo menos começar a lhe dar um tratamento hu-
mano. É só um primeiro passo, sem dúvida, pois a cultura 
dentro da qual nós nos humanizamos uns aos outros parte 
da linguagem, mas não é simplesmente linguagem. Há ou-
tras formas de demonstrar que nos reconhecemos como 
humanos, ou seja, estilos de respeito e de considerações 
humanizadoras que temos uns para com os outros. Todos 
nós queremos ser tratados assim, senão protestamos. Por 
isso as moças se queixam quando são tratadas como mu-
lher es-"objeto", ou seja, simples enfeites ou instrumentos; e 
por isso para insultar alguém o chamamos de "animal!", 
como que para adverti-lo de que está rompendo o trato entre 
os homens e, se continuar assim, poderá ser pago na mes-
ma moeda. Acho que o mais importante de tudo isso é o 
seguinte: a humanização (ou seja, o que nos torna huma-
nos, o que queremos ser) é um processo recíproco (como a 
própria linguagem, percebe?). Para que os outros possam 
fazer-me humano, tenho de os fazer humanos; se para mim 
todas as pessoas são como coisas ou animais, também eu 
não serei mais do que uma coisa ou um animal. Por isso, 
dar-se uma vida boa não pode ser muito diferente, afinal, de 
dar uma vida boa. Pense um pouco nisso, por favor. 
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NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
12 
Mais adiante voltaremos a essa questão. Agora, para con-
cluir este capítulo de modo mais leve, proponho irmos ao 
cinema. Se você quiser, podemos assistir a um filme lindís-
simo, dirigido e interpretado por Orson Welles: Cidadão 
Kane. Vou resumi-la rapidamente: Kane é um multimilionário 
que, com poucos escrúpulos, reuniu em seu palácio de 
Xanadu uma enorme coleção de todas as coisas bonitas e 
caras do mundo. Ele tem de tudo, sem dúvida, e usa todas 
as pessoas que o cercam para seu fins, como simples ins-
trumentos de sua ambição. No final da vida, perambula 
sozinho pelos salões de sua mansão, cheios de espelhos 
que lhe devolvem mil vezes sua própria imagem de solitário: 
só sua imagem lhe faz companhia. Ele morre murmurando 
uma palavra: "Rosebud!" Um jornalista tenta adivinhar o 
significado daquele último gemido, mas não consegue. Na 
realidade, "Rosebud" é o nome escrito num trenó com o qual 
Kane brincava quando criança, na época em que ainda vivia 
cercado de afeto e devolvendo afeto aos que o cercavam. 
Todas as suas riquezas e todo o poder acumulado sobre os 
outros não puderam comprar-lhe nada melhor do que aquela 
lembrança infantil. Aquele trenó, símbolo de doces relações 
humanas, era na verdade o que Kane queria, a vida boa que 
havia sacrificado para conseguir milhões de coisas que na 
realidade não serviam para nada. E no entanto a maioria 
das pessoas o invejava... Venha, vamos ao cinema. Amanhã 
continuaremos. 
 
Vá dando uma lida... 
''E Jacó fez um cozido; e voltando Esaú do campo, cansado, disse a 
Jacó: Rogo-te que me dês para comer desse guisado vermelho, 
pois estou muito cansado. 
"E Jacó respondeu: Vende-me neste dia tua primogenitura. 
“Então disse Esaú: Eis que vou morrer; de que me servirá então a 
primogenitura? 
"E disse Jacó: Jura-mo neste dia. E lhe jurou, e vendeu a Jacó sua 
primogenitura. 
“Então Jacó deu a Esaú pão e do guisado das lentilhas; e ele comeu 
e bebeu, levantou-se e se foi. Assim desprezou Esaú a primogenitu-
ra." (Gênesis, XXV, 27 a 34) 
"Talvez o homem seja mau por esperar morrer durante toda a vida: 
e assim morre mil vezes na morte dos outros e das coisas. 
"Pois todo animal consciente de estar em perigo de morte torna-se 
louco. Louco medroso, louco astuto, louco malvado, louco que foge, 
louco servil, louco furioso, louco odiento, louco embrulhão, louco 
assassino." (Tony Duvert,Abecedário malévolo) 
"Um homem livre em nada pensa menos do que na morte, e sua 
sabedoria não é uma meditação sobre a morte, mas sobre a vida." 
(Spinoza, Ética) 
"Homem livre é aquele que quer sem a arrogância do arbitrário. Crê 
na realidade, ou seja, no laço real que une a dualidade real do Eu e 
do Tu. Crê no Destino e crê que o destino o necessita... Pois o que 
tem de acontecer não acontecerá se ele não estiver resolvido a 
querer o que é capaz de querer." (Martin Buber, Eu e tu) 
"Ser capaz de prestar atenção a si mesmo é pré-requisito para ter a 
capacidade de prestar atenção aos outros; sentir-se bem consigo 
mesmo é a condição necessária para relacionar-se com os outros." 
(Erich Fromm, Ética e psicanálise) 
 
Capítulo 5 - Vamos, acorde! 
Breve resumo do que foi escrito antes. O caçador Esaú, 
convencido de que para os poucos dias de vida que se têm 
tudo dá na mesma, segue o conselho de sua barriga e re-
nuncia ao direito de primogenitura por um bom prato de 
lentilhas (pelo menos nisso Jacó foi generoso e deixou-o 
repetir duas vezes). O cidadão Kane, por sua vez, dedicou-
se durante muitos anos a vender a todas as pessoas para 
poder comprar todas as coisas; no final de sua vida, reco-
nhece que, se pudesse, trocaria seu armazém cheio de 
coisas caríssimas pela única coisa humilde - um velho trenó 
- que lhe lembrava uma certa pessoa: ele mesmo, antes de 
se dedicar à compra-e-venda, quando preferia amar e ser 
amado a possuir e dominar. 
Tanto Esaú como Kane estavam convencidos de que faziam 
o que queriam, mas nenhum deles parece ter conseguidodar-se uma vida boa. No entanto, se alguém lhes perguntas-
se o que desejavam de fato, teriam respondido o mesmo 
que você (ou que eu, é claro): "Quero dar-me uma vida boa." 
Conclusão: o que queremos está muito claro (dar-nos uma 
vida boa), mas o que não está tão claro é em que consiste 
essa "vida boa". Querer uma vida boa não é um querer 
qualquer, como quando alguém quer lentilhas, quadros, 
eletrodomésticos ou dinheiro. Todos esses quereres são, 
por assim dizer, simples, ligados a um único aspecto da 
realidade: não têm perspectiva de conjunto. Não há nada de 
mau em querer lentilhas quando se tem fome, sem dúvida; 
mas no mundo há outras coisas, outras relações, fidelidades 
devidas ao passado e esperanças suscitadas pelo futuro, sei 
lá, muito mais, tudo o que você puder imaginar. Em resumo, 
nem só de lentilhas vive o homem. Para conseguir suas 
lentilhas, Esaú sacrificou muitos aspectos importantes de 
sua vida, simplificou-a mais do que devia. Agiu, como eu já 
disse, sob o peso da iminência da morte. A morte é uma 
grande simplificadora: quando estamos a ponto de esticar as 
canelas poucas coisas importam (a medicina que pode nos 
salvar, o ar que consente em nos encher os pulmões uma 
vez mais...). A vida, por outro lado, é sempre complexidade 
e quase sempre complicações. Se refugamos todas as com-
plicações e buscamos a grande simplicidade (que venham 
as lentilhas!) não julgue que queiramos viver mais e melhor, 
mas morrer de uma vez. E dissemos que o que realmente 
desejamos é a vida boa, não a morte imediata. De modo que 
Esaú não nos serve como professor. 
Também Kane, a seu modo, simplificava a questão. Diferen-
temente de Esaú, não era esbanjador, mas acumulador e 
ambicioso. O que ele queria era poder para manipular os 
homens e dinheiro para comprar coisas, muitas coisas boni-
tas e certamente úteis. Veja bem, nada tenho contra tentar 
conseguir dinheiro nem contra o gosto pelas coisas bonitas 
ou úteis. Não confio nessa gente que diz que não se interes-
sa por dinheiro e que afirma não necessitar de nada. Pode 
ser que eu seja feito de barro muito mal cozido, mas não 
acho graça nenhuma em ficar sem um tostão, e, se amanhã 
os ladrões arrombassem minha casa e levassem meus livros 
(receio que não poderiam levar muito mais do que isso), 
para mim seria uma catástrofe. No entanto, o desejo de ter 
cada vez mais (dinheiro, coisas...) também não me parece 
totalmente sadio. A verdade é que as coisas que temos 
também nos têm: o que possuímos nos possui. Explico. 
Certo dia, um sábio budista dizia a seu discípulo exatamente 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
13 
o que estou dizendo a você e o discípulo olhava para ele 
com a mesma cara estranha ("esse cara endoidou") com 
que talvez você esteja lendo esta página. Então o sábio 
perguntou ao discípulo: "Do que é que você mais gosta 
nesta sala?'' O aluno esperto apontou para uma taça de 
ouro e marfim, que devia custar uma nota. "Pois bem, pe-
gue-a", disse o sábio; e o rapaz, sem esperar segunda or-
dem, agarrou firmemente a joinha com a mão direita. "Não a 
solte de jeito nenhum, ouviu bem?", observou o professor, 
com uma certa rudeza; e depois acrescentou: "Não há ne-
nhuma outra coisa de que você também goste?" O discípulo 
admitiu que a bolsa cheia de dinheiro sonante que estava 
sobre a mesa também não lhe causava repugnância. "Pois 
então pegue-a!", estimulou-o o outro. E o rapaz empunhou 
fervorosamente a bolsa com a mão esquerda. "E agora?", 
ele perguntou ao professor com certo nervosismo. E o sábio 
respondeu: "Agora se coce!" Não havia jeito, é claro. No 
entanto, alguém pode ter necessidade de se coçar quando 
está com coceira em alguma parte do corpo... ou até da 
alma! Com as mãos ocupadas, não conseguimos nos coçar 
à vontade e nem fazer muitos outros gestos. O que mante-
mos agarrado também nos agarra a seu modo... ou seja, é 
melhor ter cuidado para não se exceder. De certa forma, foi 
isso que aconteceu com Kane: tinha as mãos e a alma tão 
ocupadas com suas posses que de repente sentiu uma 
estranha coceira e não soube com o que se coçar. 
A vida é mais complicada do que Kane supunha, pois as 
mãos não servem apenas para pegar, mas também para se 
coçar ou para acariciar. Mas o equívoco fundamental desse 
personagem, se é que o equívoco não é meu, foi outro. 
Obcecado por conseguir coisas e dinheiro, tratou as pesso-
as como se também fossem coisas. Considerava que nisso 
consistia ter poder sobre elas. Grave simplificação: a maior 
complexidade da vida é justamente essa, o fato de as pes-
soas não serem coisas. A princípio não encontrou dificulda-
de: as coisas se compram e se vendem, e Kane comprou e 
vendeu pessoas também. Naquele momento não lhe pare-
ceu que houvesse grande diferença. Nós usamos as coisas 
enquanto nos servem, e depois as jogamos fora. Kane fez o 
mesmo com as pessoas que o cercavam e tudo parecia 
correr bem. Assim como possuía as coisas, Kane propôs-se 
a possuir pessoas, a dominá-las e manipulá-las a seu gosto. 
Assim se comportou com suas amantes, com seus amigos, 
com seus empregados, com seus adversários políticos, com 
todos os bichos viventes. Sem dúvida causou muitos danos 
aos outros, mas o pior, de seu ponto de vista (o ponto de 
vista de alguém que supomos que quisesse dar-se uma 
"vida boa", bem entendido) é que desgostou seriamente a si 
mesmo. Tentarei esclarecer isso, pois acho que é da maior 
importância. 
Não se iluda: de uma coisa - mesmo que seja a melhor coisa 
do mundo - só se podem tirar... coisas. Ninguém é capaz de 
dar o que não tem, não é mesmo? E nada pode dar mais do 
que é. As lentilhas são úteis para saciar a fome, mas não 
ajudam a aprender francês, por exemplo; o dinheiro, por sua 
vez, serve para quase tudo, e no entanto não pode comprar 
uma verdadeira amizade (com dinheiro é possível conseguir 
servilismo, companhia de aproveitadores ou sexo mercená-
rio, nada mais). Digamos que um vídeo possa emprestar 
uma peça a outro vídeo, mas não pode dar-lhe um beijo... 
Se os seres humanos fossem simples coisas, o que as coi-
sas podem dar nos bastaria. Mas aí está a complicação de 
que falei: como não somos simples coisas, necessitamos de 
' 'coisas'' que as coisas não têm. Quando tratamos os outros 
como coisas, como fazia Kane, o que recebemos deles 
também são coisas: quando espremidos, eles soltam dinhei-
ro, nos servem (como se fossem instrumentos mecânicos), 
saem, entram, esfregam-se em nós ou sorriem quando aper-
tamos o botão adequado... Mas dessa maneira nunca nos 
darão aqueles dons mais sutis que só as pessoas podem 
oferecer. Assim não conseguiremos nem amizade, nem 
respeito e muito menos amor. Nenhuma coisa (e nenhum 
animal, pois a diferença entre sua condição e a nossa é 
grande demais) pode nos dar esse tipo de amizade, respei-
to, amor... em suma, a cumplicidade fundamental que só se 
dá entre iguais, e que só pode ser oferecida a você, a mim 
ou a Kane, que somos pessoas, por outras pessoas que 
sejam tratadas por nós como tais. A questão do tratamento é 
importante, pois já dissemos que os humanos se humani-
zam uns aos outros. Ao tratar as pessoas como pessoas e 
não como coisas (ou seja, ao levar em conta o que elas 
querem, ou aquilo de que necessitam, e não apenas o que 
posso tirar delas), estou possibilitando que elas me devol-
vam o que só uma pessoa pode dar a outra. 
Kane esqueceu esse pequeno detalhe e de repente (mas 
tarde demais) deu-se conta de que tinha deixado totalmente 
de lado aquilo que só outra pessoa pode dar: afeto sincero, 
carinho espontâneo ou simples companhia inteligente. Como 
Kane nunca pareceu importar-se com nada a não ser dinhei-
ro, ninguém se importava com nada de Kane a não ser seu 
dinheiro. E o grande homem sabia, além disso, que era por 
sua culpa. Às vezes podemos tratar os outros como pessoas 
e só receber coices, traições ou abusos.Concordo. Mas 
pelo menos contamos com o respeito de uma pessoa, nem 
que seja apenas uma: nós mesmos. Não transformando os 
outros em coisas, defendemos pelo menos nosso direito de 
não ser coisa para os outros. Tentamos fazer com que o 
mundo das pessoas - esse mundo em que algumas pessoas 
tratam outras como tais, o único em que de fato se pode 
viver bem - seja possível. Suponho que o desespero do 
cidadão Kane no final de sua vida não fosse simplesmente 
por ele ter perdido o terno conjunto de relações humanas 
que tivera na infância, mas por se ter empenhado em perdê-
las e por ter dedicado a vida inteira a estragá-las. Não é que 
não pudesse tê-las, mas deu-se*conta de que nem mesmo 
as merecia... 
Mas você me dirá que o multimilionário Kane certamente era 
invejado por muita gente. Com certeza muitos pensavam: 
"Esse sim é que sabe viver!" Bem, e daí? Acorde de uma 
vez, criatura! Os outros, de fora, podem nos invejar sem 
saber que exatamente naquele momento estamos morrendo 
de câncer. Você preferirá dar um gosto aos outros a satisfa-
zer a si mesmo? Kane conseguiu tudo o que tinha ouvido 
dizer que faz uma pessoa feliz: dinheiro, poder, influência, 
servidão... E acabou descobrindo que, dissessem o que 
dissessem, lhe faltava o fundamental: o afeto autêntico, o 
respeito autêntico e também o autêntico amor de pessoas 
livres, pessoas que ele tratasse como pessoas e não como 
coisas. Talvez você me diga que esse Kane era meio esqui-
sito, como geralmente o são os protagonistas de filmes. 
Muita gente teria se sentido mais do que satisfeita vivendo 
naquele palácio e com aqueles luxos: a maioria das pesso-
as, você me dirá com cinismo, não teria nem se lembrado do 
trenó "Rosebud". Vai ver que Kane estava meio doido... pois 
sentir-se infeliz com todas as coisas que ele tinha! E eu lhe 
digo que deve deixar as pessoas em paz e só pensar em si 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
14 
mesmo. A vida boa que você quer é como a de Kane? Você 
se conforma com o prato de lentilhas de Esaú? 
Não tenha pressa em responder. Exatamente o que a ética 
tenta averiguar é em que consiste no fundo, para além do 
que nos dizem ou do que vemos nos anúncios da televisão, 
essa ditosa vida boa que gostaríamos de ter. A esta altura 
sabemos que nenhuma vida boa pode prescindir das coisas 
(precisamos de lentilhas, que têm muito ferro), mas menos 
ainda podemos prescindir das pessoas. Devemos manipular 
as coisas como coisas e tratar as pessoas como pessoas: 
desse modo as coisas nos ajudarão em muitos aspectos, e 
as pessoas em um aspecto fundamental, que nenhuma 
coisa pode suprir, o de sermos humanos. Será loucura mi-
nha ou do cidadão Kane? Talvez sermos humanos não seja 
importante, pois, queiramos ou não, nós o somos irremedia-
velmente... Mas é possível ser humano-coisa ou humano- 
humano, humano preocupado apenas em ganhar as coisas 
da vida - todas as coisas, quanto mais coisas melhor - e 
humano dedicado a desfrutar a humanidade vivida entre as 
pessoas! Por favor, não se deprecie. 
Admito que muitos, à primeira vista, não dão muita impor-
tância ao que estou dizendo. Serão confiáveis? Serão os 
mais espertos ou simplesmente os que dão menos atenção 
ao assunto mais importante, à sua vida? Alguém pode ser 
esperto nos negócios ou na política e um solene asno para 
coisas mais sérias, como a questão de viver bem ou não. 
Kane era imensamente esperto no que dizia respeito a di-
nheiro e à manipulação das pessoas, mas no final percebeu 
que se enganara quanto ao fundamental. Errou onde mais 
lhe conviria acertar. Repito uma palavra que me parece 
fundamental para este assunto: atenção. Não estou me 
referindo à atenção da coruja, que não fala mas observa 
muito (segundo a velha anedota, você sabe), mas à disposi-
ção de refletir sobre o que fazemos e a tentar definir o me-
lhor possível o sentido da "vida boa" que queremos viver. 
Sem simplificações cômodas mas perigosas, procurando 
compreender toda a complexidade deste assunto do viver 
(refiro-me a viver humanamente), mais complicado do que 
parece. 
Creio que a primeira e indispensável condição ética é estar 
decidido a não viver de qualquer modo, estar convencido de 
que nem tudo dá na mesma, ainda que cedo ou tarde deva-
mos morrer. Ao falar de "moral", as pessoas geralmente se 
referem às ordens e costumes que se tem o hábito de res-
peitar, pelo menos aparentemente e às vezes sem saber 
muito bem por quê. Mas talvez a verdadeira chave esteja 
não em submeter-se a um código ou em se opor ao estabe-
lecido (que também é submeter-se a um código, mas ao 
avesso), mas em tentar compreender. Compreender por que 
certos comportamentos nos convêm e outros não, compre-
ender para que serve a vida e o que pode torná-la "boa" 
para nós, seres humanos. Antes de tudo, é preciso não se 
contentar em ser tido como bom, em ficar bem diante dos 
outros, e ser aprovado... Para isso, sem dúvida, será preciso 
não só colocar-se como coruja ou assumir a submissa obe-
diência de um robô, mas também falar com os outros e 
escutá-los. Mas o esforço de tomar a decisão cada um pre-
cisa fazer por si: ninguém pode ser livre por você. 
Por enquanto, deixo duas questões para você ir ruminando. 
A primeira é esta: por que o que é mau é mau? E a segunda 
é ainda mais bonita: em que consiste tratar as pessoas 
como pessoas? Se você continua tendo paciência comigo, 
tentaremos começar a responder nos dois próximos capítu-
los. 
 
Amor ≠ tesão/desejo 
Queremos: 
☺ Ser Feliz Ser Pleno 
Fundamental 
A
M
O
R
 
� 
 
 
� 
♥ � 
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� ♥ 
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♥ ♥ 
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Periférico 
Ética: Capacidade de decidir 
 
 
 
VOARÁS 
Paulinho Pedra Azul 
Todo mundo quer voar 
Nas costas de um beija-flor 
Todo mundo quer viver de amor 
Mas nem tudo é só querer 
Todo mundo quer ser rei 
Nas costas de um homem bom 
Todo mundo quer voar além 
Mas é preciso aprender 
Voarás, voarás 
 
NOTAS DE AULAS – FILOSOFIA II 
 
 
15 
Textos para Resumo 
1. Positivismo jurídico 
Introdução 
O presente artigo ensaia uma tentativa de sistematização do positi-
vismo jurídico. Presta-se a fazer uma apresentação do modelo do 
positivismo jurídico e seus protagonistas, sem maiores pretensões 
epistemológicas. Pretende propiciar uma síntese diretiva para estu-
dos posteriores e de maior fôlego. Trata-se de um esforço de divul-
gação, de ordenação, de indicação de autores e de obras, relativos 
ao positivismo jurídico, percepção conceitual e filosófica que marca 
profundamente o entorno jurídico brasileiro. 
Identificado como uma oposição ao direito natural, o positivismo 
jurídico centra-se na locução direito positivo, de uso relativamente 
recente na tradição jusfilosófica ocidental (BOBBIO, 1995, p. 15). 
Não há vínculos históricos ou afetivos com o positivismo de feição 
sociológica, como matizado em Augusto Comte, formado nas disci-
plinas da Escola Politécnica francesa, fundador de uma disciplina, a 
sociologia, que como objeto de estudo teria como centro a totalida-
de da espécie humana (ARON, 1993, p. 75). Para o pensador fran-
cês criador do positivismo filosófico, a sociologia seria uma física 
social, ciência com objeto próprio, preocupada com o estudo dos 
fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que os 
fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, submeti-
dos a leis naturais invariáveis (COMTE, 1989, p. 53). As semelhan-
ças com o positivismo jurídico param por aí. 
Uma relação de contrariedade para com percepção de direito natu-
ral identifica o eixo temático que caracteriza o positivismo jurídico. 
Por questão de simetria cunhou-se o termo juspositivismo, em 
oposição a jusnaturalismo (TROPER, 1999, p. 608). À universalida-
de e imutabilidade do jusnaturalismo opor-se-ia

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