Prévia do material em texto
RADIAÇÃO IONIZANTE: SEU USO NO CRESCIMENTO MICROBIANO Paloma Santos de Almida¹ Resumo O Brasil é um grande produtor de frutas, mas seu clima tropical acaba proporcionando condições desfavoráveis à conservação destas. A radiação ionizante tem potencial para resolver problemas que afetam o suprimento de alimento em muitos países. Utilizando-a corretamente, pode estender o tempo de prateleira, segurança fitossanitária e controlar a maturação em frutas frescas. Produtos horto frutícolas frequentemente têm contato com o solo, insetos, animais e seres humanos não só durante o desenvolvimento e colheita, mas também na indústria de processamento. Por essas razões as camadas superficiais dos produtos podem expor-se a contaminantes naturais, chegando a atingir 104 a 106 MO/g. Palavras-chave: Preservação Dos Alimentos; Radiações Gama; Bactérias Patogênicas. 1. Introdução A preservação dos alimentos através da irradiação está em alta desde o começo do século XX, devido às vantagens que apresenta sobre os métodos convencionais de processamento. Este tratamento possibilita aos alimentos após a embalagem, mínimas alterações em seu estado fresco e de alimentos perecíveis que podem ser conservados por mais tempo sem perder sua qualidade (Morehouse, 2002). A aceitação de produtos irradiados por parte dos consumidores é baseada em decisões complexas nas quais pesam as percepções sobre os riscos e benefícios desta tecnologia (irradiação de alimentos), quando comparada com as demais já existentes (Gunes et al., 2001). Os alimentos são tratados com radiações ionizantes para alcançar diversos objetivos como, por exemplo, aumentar a segurança através da redução dos níveis de ¹Graduanda do Curso de Tecnologia em Processos Ambientais do IFCE Campus Camocim bactérias patogênicas e outros microrganismos causadores de uma variedade de efeitos físicos e bioquímicos (Hansen et al., 2001). Outro fator importante em relação à radiação é a eficácia na extensão da vida útil de frutas frescas e vegetais através da diminuição das mudanças biológicas associadas com os processos de maturação, tais como brotamento e o amadurecimento (Morehouse, 2002). Os frutos submetidos ao processamento mínimo são mais perecíveis do que os produtos intactos donde provêm, pois, o corte aumenta a deterioração microbiana, pela transferência de microrganismos do exterior para o interior, sendo a lavagem dos frutos inteiros com água clorada aplicada para reduzir a contaminação, contudo esta redução pode não ser suficiente. Assim, a irradiação é um processo alternativo, que pode ser aplicado, após a embalagem final do produto, evitando recontaminações. A frequência de surtos de toxi-infecções associados ao consumo de frutos frescos tem vindo aumentar nas últimas décadas devido não só às novas práticas e tecnologias utilizadas, mas também às alterações dos hábitos alimentares e à globalização do comércio. Os frutos e os vegetais podem ser contaminados com microrganismos patogénicos durante o crescimento no campo, colheita, manuseamento pós-colheita e posteriormente durante o processamento e distribuição. Os microrganismos susceptíveis de provocar doenças no homem compreendem bactérias, vírus e parasitas que podem estar presentes na água de rega ou no solo. Por sua vez, é provável a contaminação dos produtos por patogénicos em países onde se utilizam estrumes e efluentes líquidos como fertilizantes. A matéria prima dos alimentos minimamente processados poderá estar contaminada com patogénicos como Escherichia coli 0157:H7, Listeria monocytogenes, Salmonella, oocistos de Cryptosporidium e vírus Norwalk 2. Referencial teórico 2.1. A radiação ionizante e os alimentos A radiação ionizante (RI) é a radiação com energia suficiente para ionizar moléculas. Existem dois tipos de radiação ionizante, ambos produzidos pelo decaimento de elementos radioativos: eletromagnética (X e radiação gama, que fazem parte do espectro eletromagnético que inclui a luz visível e ondas de rádio) e de partículas (partículas α e β) (OKUNO, 2006). A energia depositada (a dose absorvida pela célula ou tecido) é medida em Gray. A radioresistência ou radiossensibilidade de microrganismos é comparada pela da medição da D37 (a dose em que 37% das células sobrevivem). Os íons e radicais livres produzidos com a radiação, passam através da matéria de forma rápida e modificam moléculas. Com a tendência atual de procura por produtos de maior conveniência, com rapidez e facilidade de preparo, vislumbra-se a necessidade de o mercado investir na oferta de carne ovina na forma de cortes resfriados. Nesse sentido, a irradiação com energia ionizante poderia ser uma alternativa viável para a comercialização dos cortes resfriados de cordeiro. A indústria alimentícia recorre ao emprego de radiações eletromagnéticas com distintas finalidades. Todas elas são transmitidas em forma de onda, sem necessidade de suporte material ou meio de propagação, a uma velocidade de 300.000 km/s ou 3x108 m/s., entretanto, dependendo da energia associada, do comprimento de onda e da frequência de emissão, o efeito decorrente de sua interação com determinado material é muito diferente. Em tecnologia dos alimentos, impõe-se a diferenciação entre tratamentos com radiações não ionizantes (ultravioleta, infravermelho) e aqueles com radiações ionizantes (raios gama, feixe de elétrons, raios x) (ORDÓÑEZ, 2005). O uso da radiação gama em alimentos tem por objetivo conservar os produtos, protegendo-os contra os agentes da deterioração e consequentemente aumentando a vida de prateleira. A irradiação é um processo semelhante à pasteurização ou à esterilização, dependendo da dose radioativa aplicada (SILVA, 2000). Na ânsia de diminuir o perigo representado por microrganismos que possa ser veiculado pelos alimentos e, paralelamente, prolongar a vida de prateleira dos seus produtos, visando maior ganho econômico durante a comercialização, as indústrias de alimentos muitas vezes adotam processos tecnológicos recém desenvolvidos e que não foram suficientemente avaliados pela comunidade cientifica. Esta insuficiência de dados científicos não ocorre com o processo de irradiação de alimentos. Existem na literatura diversos relatos sobre a aplicação da irradiação em diversos alimentos como tecnologia de controle e esterilização de microrganismos. Al-Bachir e Zeinou (2009) obtiveram resultados de que a irradiação gama pode ser usada para reduzir as contagens totais de mesófilos e coliformes totais na carne de camelo e aumentar a vida útil de menos de 2 semanas (controle) para mais de 6 semanas (amostras irradiadas com 2; 4 ou 6 kGy). Desde seu início até os dias de hoje, esta tecnologia tem sido considerada segura por mais de 40 países para reduzir o número de microrganismo em alimentos como parte da produção, processamento, manuseio e preparação dos alimentos de alta qualidade (Ada, 2000). Há tempos o homem procura formas de conservar melhor os alimentos que consome. As baixas temperaturas e a cura são os métodos de preservação mais antigos que se conhece. Uma das formas mais recentes de preservação dos alimentos é através da irradiação, onde continua em alta desde o começo do século XX (Morehouse, 2002). De acordo com o IAEA (1991), a tecnologia da irradiação em alimentos baseia- se na exposição dos alimentos a uma fonte de irradiação ionizante (raios gama, raios- X ou feixe de elétrons) controlada, onde penetra profundamente nos alimentos podendo ser aplicada em alimentos já embalados, evitando a recontaminação, inviabilizando a divisão de células vivas,tais como bactérias e células de organismos superiores, podendo aumentar a segurança dos alimentos através da redução dos níveis de bactérias patogênicas, microrganismos, infestação de insetos e parasitas causadores de doenças (Hansen et al., 2001). Pode apresentar diversas vantagens, como o baixo consumo de energia durante o processo e a redução no consumo de energia em métodos convencionais de conservação, ser eficazes na extensão da vida útil de frutas e vegetais frescos ou congelados através da diminuição das mudanças biológicas associadas com os processos de crescimento e maturação, tais como brotamento e o amadurecimento (Morehouse, 2002). A exposição dos alimentos à radiação ionizante deve ser controlada e cuidadosa, onde deve ser adequada para produzir um resultado desejado, evitando, ao mesmo tempo, a degradação do alimento (Who, 1994). As agências reguladoras (Food and Drug Administration, Food and Agriculture Organization, Organização Mundial de Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária) assim como diversos trabalhos científicos (Goularte et al., 2004; Martins et al., 2004; Niemira, 2003a; Niemira et al., 2003b; Rajkowski et al., 2003; Tsuhako, 2005) aprovam e comprovam a eficiência desta tecnologia, mesmo assim, o mercado de alimentos irradiados ainda não atingiu o nível desejado devido à falta de informações aos consumidores. A dose de radiação a ser empregada no alimento é determinada pelo efeito desejado: altas doses (maiores de 10 kGy) são destinadas para a esterilização de alimentos; doses médias (de 1 a 10 kGy) exercem um efeito de pasteurização aumentando a vida de prateleira; e baixas doses (menores de 1kGy), controlam efetivamente a infestação por parasitas e insetos, e diminuem o processo de senescência na maioria das frutas frescas e o brotamento de vegetais (Andrews et al., 1998). Há um crescente interesse por parte das indústrias e pesquisadores em desenvolver novas tecnologias que permitam um prolongamento da vida útil de produtos alimentícios. Frutas, vegetais têm sido associados à ocorrência de surtos de doenças nos consumidores desses produtos, sendo necessário padrões higiênicos satisfatórios para a promoção e manutenção da saúde (Oliveira et al., 2003). 2.2.Controle dos microrganismos por meio de radiação Quando o alimento apresenta más condições higiênico-sanitárias, muitos microrganismos patogênicos como Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Salmonella, Bacillus cereus, podem contaminar este, tornando um risco a saúde do consumidor (Forsythe, 2002). Alimentos facilmente contaminados com microrganismos através da temperatura, da pressão, manipulação e processamento são capazes de se infiltrar em rachaduras, fendas e espaços intercelulares de sementes e produtos. Após a contaminação, o alimento serve como meio para o crescimento, podendo mudar as características físicas e químicas desse alimento, causando sua deterioração (Luiz, 2008; Pelczar et al., 1996). A aplicação da técnica de irradiação para controle microbiológico nos alimentos é uma alternativa eficiente para garantir sua qualidade. Diversos estudos comprovaram que a combinação de irradiação com o processo de higiene e sanificação, são satisfatórios para aumentar a segurança microbiológica e o tempo de vida útil do alimento. As doenças transmitidas por alimentos (DTAs) talvez sejam o problema de saúde mais evidente no mundo contemporâneo, devido à emergência de novos microrganismos patogênicos, à re-emergencia de outros e ao desenvolvimento de novos produtos alimentícios. São, também, uma importante causa na redução na produtividade econômica. A incidência das DTAs vem aumentando em decorrência de diversos fatores, entre eles, mudanças no estilo de vida da população ocidental, a qual tem dedicado um menor tempo no preparo de suas refeições, preferindo consumir alimentos crus ou minimamente processados que apresentam características próximas às dos “in natura”; o aumento na população considerada de risco formada por idoso, grávidas, indivíduos imunocomprometidos; e, também, o aparecimento de novos microrganismo patogênicos nos últimos 25 anos. A deterioração de alimentos é outro fator importante atualmente. Segundo a Food Organization (FAO), as perdas com alimentos atingem, no mundo, 10 % dos grãos e legumes, 50% dos vegetais, frutas e outros produtos e 35% dos pescados desidratados (KARFENSTEIN, 2000). A utilização de técnicas para aumentar o tempo de vida útil, como a embalagem em atmosfera modificada, pode permitir que os microrganismos como Listeria monocytogenes, que toleram baixas temperaturas, atinjam elevadas concentrações antes do produto apresentar características sensoriais inadequadas. A indústria utiliza geralmente água clorada para controlar o crescimento microbiano, contudo, o hipoclorito tem um baixo poder de inativação para alguns patogénicos como a L. monocytogenes conforme foi demonstrado por Zang e Farber. Outra forma de descontaminação destes produtos é a aplicação de radiações ionizantes, que sem causar aquecimento, é um conceito antigo, contudo, a sua utilização não está vulgarizada. Trata-se de uma metodologia com perspectivas de aplicação como tecnologia de barreiras altamente promissora. É um tratamento físico em que o alimento é exposto a radiação ionizante com o objetivo de desinfestar e ou descontaminar de modo a aumentar o tempo de vida útil do produto. Níveis semelhantes de contaminação inicial, em melão, foram observados por Boynton e Okuku e Sapers. Segundo Vadlamudi esta contaminação deve-se à transferência dos microrganismos da casca para o interior durante o corte. Com a utilização dos raios gama, por exemplo, pode-se ter a inibição desses microrganismos, muitas vezes patogênicos, e dessa forma diminuir, ou mesmo inviabilizar, a contaminação ao consumir o alimento. 3. Considerações finais Talvez nenhum outro processo tecnológico tenha sido tão estudado e avaliado quanto a irradiação. Apesar de as bases cientificas e seus mecanismos de ação já estarem totalmente compreendida pela comunidade cientifica e seus mecanismos de ação já estarem totalmente compreendidos pela comunidade cientifica e as agências internacionais reguladoras considerarem-na um processo tradicional, a grande maioria das indústrias de alimentos ainda teme a sua implementação na linha de processamento. A irradiação pode afetar a firmeza dos produtos através do seu efeito nas membranas e paredes celulares. O amolecimento dos frutos está associado ao aumento da pectina solúvel em água e à diminuição do conteúdo do oxalato de pectina solúvel (Willmot et al., 1996 e Gunes et al., 2001). Porém esse detalhe especifico não exclui como a radiação é importante no controle microbiológico de patogênicos existentes na nossa alimentação. Muitas vezes esse tipo de radiação não é considerado por achar que seu uso torna o alimento radioativo, mas esse mito não condiz com os fatos, já que é um tipo de radiação amplamente benéfica para os consumidores, se levada em consideração a esterilização alimentar. Referências TRIGO, M.J.; SOUSA, M.B.; SAPATA, M.; FERREIRA, A.; CURADO, T.; ANDRADA, L.; FERREIRA, E.; HORTA, M.P.; BOTELHO, M.L.; VELOSO, M.G. - efeito da radiação gama em melão fresco minimamente processado FREGONESE, R.P. – Radiação gama aplicada para estender a vida útil da carne de cordeiro embalada a vácuo e armazenada sob refrigeração. LANDGRAF, M. – Fundamentos e perspectivas da irradiação de alimentos visando ao aumento de sua segurança e qualidade microbiológica. PRADO, G.R. – Estudo da resistência de D. radiodurans à ação combinadade radiações ionizantes com campos elétricos ou magnéticos. SANTILLO, A.G. – Efeitos da radiação ionizante nas propriedades nutricionais das uvas de mesa benitaka e uvas passas escuras.