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trabalho da adriana fase II formatado (2)

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: PARA GUARDAR AS MEMÓRIAS 
 
Adriana Cristina G. ROCHA 
Aline Kelly Jacinto TAVARES 
UNINTER 
 
 
Resumo 
 
Refletir sobre Educação Patrimonial é o objetivo deste trabalho. Ao analisar os 
conceitos de patrimônio e de culturas material e imaterial, busca-se trazer ao 
universo do professor a importância de inserir nos conteúdos a serem ensinados o 
olhar para as tradições, os saberes enraizados, as construções e os objetos que 
contam a história de uma sociedade e, principalmente, da sociedade em que a 
criança está inserida. Ao analisar os bens guardados e conservados é possível 
entender os processos que levaram aos aprendizados e às conquistas atuais e 
transmitir às gerações novas a idéia de pertencimento. 
 
Palavras-chave: Educação Patrimonial. Cultura Material. Cultura Imaterial. 
 
O patrimônio é a face visível da memória coletiva, uma memória que, por ser 
singular e específica de cada país, região ou lugar, merece ser preservada e 
continuada. A preservação do patrimônio representa uma responsabilidade em 
relação às gerações futuras, às quais não é justo negar-se a possibilidade de 
usufruírem daquilo que a geração atual herdou. 
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A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, ampliou o conceito de 
patrimônio estabelecido pelo Decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, 
substituindo a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural 
Brasileiro. Essa alteração incorporou o conceito de referência cultural e a definição 
dos bens passíveis de reconhecimento, sobretudo os de caráter imaterial. 
Enquanto o Decreto de 1937 estabelece como patrimônio “o conjunto de bens 
móveis e imóveis existente no País e cuja conservação seja de interesse público, 
quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu 
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”, o Artigo 216 
da Constituição conceitua patrimônio cultural como sendo os bens “de natureza 
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de 
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da 
sociedade brasileira”. 
 A cultura material está relacionada com a finalidade ou sentido que os 
objetos e as construções têm para um povo numa cultura, ou seja, a importância e 
influência que exercem na definição da identidade cultural de uma sociedade. O que 
é material e físico, objeto ou artefato é entendido pelos seres humanos como um 
legado, como algo para ser apreendido, usado e preservado, que ensina a 
reproduzir o mesmo objeto ou a guardar a sua memória. 
Em Minas Gerais a Superintendência do IPHAN (Instituto do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional) administra uma das maiores relações de bens 
tombados. Os conjuntos urbanos protegidos reúnem 5.000 edificações. Desde 2006, 
a sede do Iphan ocupa o casarão do Conde de Santa Marinha, antiga residência de 
Antônio Teixeira, industrial e um dos construtores de Belo Horizonte, a capital 
mineira. O imóvel é patrimônio municipal e estadual, e testemunha a ascensão e 
decadência do transporte ferroviário em Belo Horizonte. 
Minas Gerais é o Estado que mais concentra bens declarados como 
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Dentre o total de 17 bens, três estão em 
Minas: a cidade histórica de Ouro Preto, uma das primeiras cidades tombadas pelo 
Iphan; o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, com as 
esculturas dos Profetas, de Aleijadinho; e o centro histórico de Diamantina. Ao 
mesmo tempo em que Minas guarda uma representação fiel do período colonial, 
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Belo Horizonte detém o primeiro monumento moderno sob proteção federal: a 
Capela de São Francisco de Assis, que pertence ao conjunto arquitetônico e 
paisagístico da Pampulha. Construído em 1942, pelo ex-prefeito e depois presidente 
da República, Juscelino Kubitschek, e projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. 
 Na cidade mineira de Conselheiro Lafaiete, o IEPHA – Instituto Estadual do 
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – tombou, na categoria de Conjunto 
Paisagístico do século XVIII, o Sítio da Varginha do Lourenço. A antiga estalagem 
de João da Costa Rodrigues, mais conhecida como Sítio da Varginha do Lourenço, 
foi palco de momentos significativos da Inconfidência Mineira. Testemunhou desde 
as reuniões conspiratórias dos conjurados até o triste fim de seu principal mártir, 
Tiradentes, que frequentemente pernoitava na estalagem da Varginha do Lourenço. 
 Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e 
domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; 
celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos 
lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais 
coletivas). 
Nos artigos 215 e 216 da Constituição, reconhece-se a inclusão, no 
patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade, dos bens 
culturais que sejam referências dos diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira. O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, 
constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, 
de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de 
identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade 
cultural e à criatividade humana. 
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(UNESCO) define como patrimônio imaterial "as práticas, representações, 
expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e 
lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em 
alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio 
cultural." 
Em Minas Gerais destacam-se como bens imateriais: 
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 O Toque dos Sinos em Minas Gerais - forma de expressão que associa os 
sinos, o espaço onde estão instalados – as torres, os sineiros e a comunidade 
em um processo de codificação e decodificação de mensagens. São João del 
Rei é uma referência para as demais cidades porque apresenta um alto grau 
de sofisticação em sua forma de execução. Associa-se à ocasião religiosa. 
 O Ofício de Sineiro - importância fundamental na produção e reprodução dos 
toques, contribuindo para a permanência da prática de tocar sino nas cidades 
mineiras como uma forma de comunicação e identidade. A tradição é 
eminentemente masculina e se mantém viva nas cidades históricas de Minas. 
 Modo artesanal de fazer Queijo de Minas - A produção artesanal do queijo de 
leite cru nas regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre em Minas 
Gerais representa uma alternativa de conservação e aproveitamento da 
produção leiteira regional, em áreas cuja geografia limita o escoamento dessa 
produção. Constitui um conhecimento tradicional e um traço marcante da 
identidade cultural dessas regiões. 
 
Encontra-se em poder do município de Conselheiro Lafaiete a salvaguarda do 
modo de fabricação das Violas de Queluz, o que significa que Lafaiete é detentora 
de um dossiê que possui as regras e características que eram usadas na fabricação 
das antigas Violas de Queluz produzidas no século XIX e início do século XX em 
oficinas das famílias Meirelles e Salgado. No último dia 26/11/2014 foi assinado pelo 
prefeito, Ivar de Almeida Cerqueira Neto, o decreto que registra a forma como 
patrimônio imaterial do município. Sendo assim, qualquer pessoa que queira 
identificar ou fabricar uma viola no modelo Queluz terá que seguir as regras que 
estão contidas no documento. De posse do documento o município, por meio da 
Secretaria de Cultura,poderá fomentar a instalação de uma luteria para que o 
instrumento volte a ser fabricado na cidade. Cópia do documento será encaminhado 
ao IEPHA visando que Conselheiro Lafaiete seja reconhecida como “Cidade das 
Violas de Queluz”. 
Situando a perspectiva das culturas material e imaterial no trabalho da escola, 
destacam-se aspectos que indicam e possibilitam a inserção de temas relativos ao 
patrimônio cultural nos currículos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
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(LDBEN – Lei 9394/96) indica, em seu artigo 26, que a parte diversificada dos 
currículos do ensino fundamental e médio deve observar as características regionais 
e locais da sociedade e da cultura. Compreende-se que a inclusão nos currículos 
escolares de temáticas ou de conteúdos programáticos que versem sobre o 
conhecimento e a conservação do patrimônio histórico é importante forma a 
despertar, nos educandos e na sociedade, o senso de preservação da memória 
histórica. 
 O trabalho nas escolas com as heranças culturais da região permite que o 
aluno aprenda a resguardar a memória da comunidade e se sinta parte dela. Mesmo 
sem construções históricas ou obras de arte monumentais, cada povo tem formas 
próprias de se distinguir. Festas e eventos são manifestações imateriais da cultura e 
uma boa opção para um professor trabalhar esse contexto é, por exemplo, realizar 
festas como as juninas. 
Em Minas Gerais é bem comum os professores realizarem a festa junina nas 
escolas. Aproveitando esse momento, é importante que o professor prepare seus 
alunos para esse momento, explicitando as origens destas festas e preparando 
estes alunos para entenderem o que estão e por qual motivo estão festejando, como 
isso se tornou habitual. O professor pode utilizar, anterior aos festejos, a 
interdisciplinaridade para trabalhar o motivo de se comemorar dessa forma o mês de 
junho: em História é possível trazer a história da festa junina, conhecer o trabalho no 
campo e a forma como os homens e mulheres desse ambiente se vestem e se 
comportam; em Ciências pode-se considerar a pesquisa das comidas típicas dessa 
época; em Geografia verificar outros estados que festejam dessa forma; em 
Português a produção de textos pode girar em torno desse tema; em Artes é 
possível trabalhar a confecção dos enfeites tradicionais e das formas de pinturas nos 
rostos de meninas e meninos para dançar a quadrilha e em Educação Física os 
próprios ensaios para a dança. 
As escolas e os professores devem também cultivar em seus currículos 
atividades que contemplem visitas a patrimônios culturais históricos e museus, onde 
é possível conhecer objetos e documentos sobre o passado da sociedade. Em caso 
de visitas a museus, seria muito importante que o professor já os conhecesse e 
trouxesse para a sala de aula fotos de objetos e documentos que lá se encontram. 
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Um estudo preliminar sobre essas coisas faria com que a visita se tornasse mais 
efetiva, pois os alunos identificariam de pronto o que foi estudado. O professor deve 
também elaborar um passeio a um patrimônio predial, fazendo, como no caso dos 
museus, um estudo anterior com seus alunos: explorando o nome do lugar, quando 
foi construído, quem morou e como viviam as pessoas ali, qual o motivo de se tornar 
patrimônio da cidade. Essas visitas são burocráticas, precisam de planejamento de 
longo prazo, pois implica em reservar a visitação, colher autorização de pais e 
responsáveis e reservar condução até o local. 
Evidente a importância do trabalho das culturas material e imaterial, sejam 
globais, nacionais ou locais, o professor deve ser o portador dos conhecimentos que 
a geração atual herdou, formando a ponte entre passado e presente e tornando o 
aluno capaz de identificar o contexto histórico em que vive levando em conta o que 
os antepassados deixaram e consciente daquilo que ele próprio manterá vivo para 
as gerações vindouras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências 
http://coral.ufsm.br/ppgppc/index.php/duvidas-e-dicas/78-patrimonio-historico-
cultural-e-ambiental-natural - Acesso em 11/06/2016 às 11:43 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234 - Acesso em 11/06/2016 às 12:11 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218 - Acesso em 11/06/2016 às 14:34 
https://abrancoalmeida.com/causas/patrimonio/ - Acesso em 11/06/2016 às 14:56 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Patrim%C3%B3nio_cultural - Acesso em 11/06/2016 às 
15:45 
https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100623161352AAkxWQu - 
Acesso em 12/06/2016 às 11:05 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/637/ - Acesso em 12/06/2016 às 11:51 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/336 - Acesso em 12/06/2016 às 14:03 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Patrim%C3%B4nio_cultural_imaterial - Acesso em 
12/06/2016 às 14:56 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/638/ - Acesso em 13/06/2016 às 13:28 
http://conselheirolafaiete.mg.gov.br/portal/modo-de-fabricacao-das-violas-de-queluz-
e-registrada-como-patrimonio-de-lafaiete/ - Acesso em 13/06/2016 às 13:46 
http://novaescola.org.br/formacao/formacao-continuada/hora-valorizar-nosso-
patrimonio-cultural-584455.shtml?page=2 - Acesso em 13/06/2016 às 14:54 
http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/viewFile/4840/5023 - 
Acesso em 13/06/2016 às 15:59

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