Buscar

Bibliotecário e leitura

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O BIBLIOTECÁRIO, O LIVRO E A LEITURA: UMA MISTURA EXPLOSIVA 
PARA A ESCOLA? 
Stela Miller — Professora aposentada do departamento de Didática 
FFC — Unesp, Campus de Marília 
 
 
 
O livro 
 
A mídia inicia nos dias de hoje uma campanha para incentivar as pessoas a lerem para as 
mais diferentes finalidades: informar-se, divertir-se, viajar pelos caminhos da imaginação ... 
(Gianechini e Cléo Pires) e o livro é o meio utilizado para a realização dessa propaganda. 
 
De fato, em meio a tantos outros suportes materiais para leitura, o livro transformou-se em 
seu símbolo. E é por isso que vamos colocá-lo aqui como o foco de nossas reflexões. 
 
Com a chegada dos multimeios, da internet, das bibliotecas virtuais alguém poderia pensar 
que seria decretado finalmente o fim do livro tradicional: feito de papel, ilustrado ou não, 
pequeno ou grande, de papel jornal ou branco e de alta gramatura, liso ou rugoso, capa dura 
ou não; para adultos, jovens e crianças; informativo, científico, de passatempo, de puro 
prazer estético. Parece, entretanto, que nada consegue tomar o lugar desse objeto que, não 
importa como se apresenta, tem sempre um motivo para encantar o seu portador: um 
conteúdo interessante, uma ilustração chamativa, bem feita, um formato diferente, um papel 
reciclado de uma cor e uma textura diferentes do papel tradicional, formato e textura 
agradáveis ao tato, de fácil manuseio, ao alcance das mãos e dos olhos, enfim, há sempre 
um elo afetivo a unir o livro ao leitor. 
 
O livro é um objeto transformador, quase mágico: quem passa por ele nunca mais será o 
mesmo. 
 
 2
Manguel, em seu livro “Uma história da leitura” (2001) diz em um trecho no qual discorre 
sobre outro livro: “A história da leitura”: 
Tenho o livro aberto diante de mim, sobre minha mesa. É escrito de forma 
amistosa (tenho a sensação exata de seu tom), acessível e erudito ao mesmo 
tempo, informativo e, contudo, reflexivo. O autor, cujo rosto vi no belo 
frontispício, está sorrindo com satisfação(...) e sinto que estou em boas mãos. 
Sei que, à medida que avançar pelos capítulos, serei apresentado àquela antiga 
família de leitores (...) da qual faço parte. Aprenderei suas maneiras e as 
mudanças nessas maneiras, e as transformações que sofreram enquanto 
levaram consigo, como os magos de outrora, o poder de transformar signos 
mortos em memória viva. (...). E, no final, compreenderei melhor quem eu — 
o leitor — sou. (p.346) 
 
A leitura 
A leitura é um ato de compreensão. De compreensão do mundo ao nosso redor, de uma 
obra de arte, de um canto ouvido à distância, de um gesto, de um silêncio que se fez, de um 
burburinho, de uma conversa entre duas pessoas, de um outdoor visto do carro em 
movimento, de uma carta recebida, das notícias de um jornal, de uma revista, de um livro. 
 
Restringindo o conceito de leitura ao material escrito, qualquer que seja o suporte utilizado 
para sua fixação, podemos dizer que ler é compreender um texto, é o processo que permite 
ao leitor construir para ele texto/leitor uma significação, lançando mão de todos os indícios 
presentes no texto impresso e de todas as experiências já adquiridas como leitor. 
 
Ou, mais diretamente, como afirmam Jolibert e seus Col. (1994, vol I), “ler é atribuir 
diretamente um sentido a algo escrito” (p.15) sem passar pela decifração nem pela 
oralização. 
 
Ou ainda, de forma mais tocante, como nas palavras de Ítalo Calvino, citado por Manguel 
(2001) “Ler significa aproximar-se de algo que acaba de ganhar existência.” (p.39) 
 
A todas essas palavras alheias não podemos ficar alheios. Pensemos nelas, sobre elas 
reflitamos e chegaremos à conclusão de que a leitura é o caminho para a compreensão do 
ser no mundo. Daí sua importância, daí sua necessidade, sua imprescindibilidade para a 
formação do cidadão consciente de seu papel no mundo em que vive. 
 3
 
 
Na escola: o bibliotecário, a leitura e o livro — uma mistura explosiva? 
 
Um profissional da educação, ao realizar o seu trabalho, pode agir, pelo menos, de três 
maneiras. 
 
Uma delas é pela competição com outro, disputando espaços, atenções, realizando trabalho 
solitário, sem diálogo com os demais colegas de sua profissão, sem dar a conhecer o seu 
trabalho e sem permitir que o outro também conheça o seu. Um trabalho assim realizado, 
por melhor que seja, pouco pode contribuir para o crescimento do grupo como um todo. É 
um trabalho isolado e restrito. 
 
Outra opção é pelo trabalho colaborativo, ou seja, pela colaboração com o outro, realizando 
trabalho solidário, ajudando no que for possível para fazer funcionar o trabalho dos demais 
colegas. Neste caso, há um avanço, mas ainda o foco é o trabalho de cada um, enriquecido 
agora pela colaboração de outros profissionais. Porém o trabalho educativo em seu 
conjunto fica na dependência da vontade de cada um em dar sua parcela de contribuição 
para o bom funcionamento da instituição. 
 
O terceiro modo que tem o profissional de realizar o seu trabalho é o de reunir-se a todo o 
grupo pela cooperação, realizando um trabalho comunitário, levando adiante um projeto 
que não é seu tão-somente, nem é do outro com sua ajuda, ou seu com a ajuda do outro, 
mas é partilhado, comum, da responsabilidade de todos, coletivo, cooperativo, implicando 
co-operação, ou seja, operação com outro, em conjunto, visando ao desenvolvimento de 
toda a coletividade, de todo o grupo de uma dada instituição. É a opção mais difícil, mais 
trabalhosa, mais complexa, mais carregada de compromissos, mas é, de longe, a mais 
compensadora, a mais efetiva na conquista dos objetivos de uma educação de boa 
qualidade, que colabore na formação humanística das crianças, dos jovens e dos adultos 
que formam o conjunto dos alunos de uma instituição. 
 
 4
As escolas do Ensino Básico constituem local propício para a realização do trabalho 
cooperativo; nelas existe a possibilidade de o bibliotecário e demais educadores se 
encontrarem para realizar, em cooperação com os demais profissionais da escola, como os 
dos serviços gerais, os da merenda, e as pessoas da própria comunidade em que se insere a 
instituição, um projeto educacional que possa voltar-se para o desenvolvimento máximo 
dos alunos em termos da apropriação dos conhecimentos acumulados sócio-historicamente 
pela humanidade, de seu desenvolvimento cultural, científico, artístico, enfim, como pessoa 
que adquire maior conhecimento de si mesmo e do mundo a sua volta. 
 
Um dos meios privilegiados, disponibilizados para que isso possa acontecer, é o trabalho 
com a LEITURA. Todos sabemos que a capacidade para ler e também para escrever tem 
sido um grave empecilho para o exercício da cidadania; muitos são os excluídos da 
sociedade por não terem acesso a esse conhecimento e, conseqüentemente, ao domínio dos 
demais conhecimentos que se constroem a partir daí. 
 
O bibliotecário escolar tem tarefas importantes a desempenhar no espaço da biblioteca, 
como, por exemplo, organizar o acervo, catalogando, separando, classificando, dispondo os 
materiais de leitura, de consulta, de pesquisa, aos seus usuários, tarefas ligadas ao 
tratamento, organização administração e controle da informação. Além disso, e acima de 
tudo, pode desenvolver atividades de interação com o usuário da informação, para mim a 
mais importante das funções que pode exercer o bibliotecário escolar, uma função que eu 
poderia chamar de dinamizador cultural, responsável pela difusão da leitura no espaço 
específico da biblioteca e no espaço mais amplo da escola em sua totalidade. 
 
Então, pergunto: o que há na confluência do trabalho do bibliotecário escolar e os demais 
profissionais da educação que trabalham na escola? 
 
Como uma possibilidade, lembro que esses profissionais podem implementar projetos 
pedagógicos que tenham a leitura como foco,fazendo funcionar a biblioteca escolar como 
um ponto de referência importante para os alunos, professores e comunidade. Com isso, 
podem fazer da escola um local propício ao desenvolvimento de leitores, ávidos por novos 
 5
conhecimentos, que sabem buscar fontes de informações, que valorizam o saber como 
elemento fundamental do processo de desenvolvimento de capacidades, de habilidades, de 
atitudes, de formas mais complexas e mais eficazes de ver o mundo, nele situar-se e 
responder a seus apelos, nele atuando como seres conscientes de seu próprio valor como 
cidadãos que têm um papel a cumprir na construção de um mundo melhor, mais solidário, 
mais humano. 
 
Os livros, que constituem a maior parte do acervo das escolas, precisam circular entre os 
alunos e na comunidade por via do aluno que pode levá-los para casa e compartilhá-los 
com seus familiares, ampliando a ação da escola na disseminação da leitura. Tudo isso é 
possibilitado pelo trabalho do bibliotecário. 
 
Rodas de leitura, semanas literárias, encontros literários, exposições de novas aquisições da 
biblioteca, visitas permanentes às salas de aula para divulgar às crianças o acervo da 
biblioteca, organizar as visitas periódicas das crianças a esse espaço, dentre outras tantas 
atividades, podem ser desenvolvidas por meio de um trabalho conjunto do bibliotecário e 
demais educadores da instituição escolar. Um trabalho pensado e executado dentro de um 
programa que supõe o compromisso de todos com a plena utilização do acervo e o 
envolvimento de todos, educadores e educandos, no trabalho com a leitura. 
 
Dificuldades existem: são precárias as condições em que vivem muitas escolas; há muitos 
problemas que afetam nossas instituições escolares públicas. Isso é fato. 
 
Não é uma tarefa fácil executar uma proposta como essa, mas nem por isso impossível. A 
vontade de fazer um trabalho transformador, fortalece nossa capacidade de lutar por aquilo 
que acreditamos ser o mais correto a fazer. E uma das formas de luta é a do trabalho 
pedagógico cooperativo, como já apontamos; um trabalho com base em um projeto 
pedagógico bem articulado, que leve em consideração o potencial de aprendizagem dos 
alunos, que aposte na força de um ensino bem planejado e executado pelo conjunto dos 
profissionais da instituição, que seja orientado para os objetivos de promover o 
desenvolvimento dos alunos em todos os planos: intelectual, afetivo-relacional, cultural, 
 6
artístico, etc. e a biblioteca e seu bibliotecário podem ser o centro irradiador dessas 
transformações. 
 
Não podemos nos esquecer de nossas tarefas reivindicatórias: o bibliotecário, como 
qualquer outra categoria profissional, deve estar organizado em seu sindicato, a fim de 
reivindicar seus direitos e ter, assim, a possibilidade de ver garantida sua efetiva 
participação no sistema escolar e em outras instâncias institucionais conforme as escolhas e 
possibilidades da categoria, em condições tais que permitam a manutenção da boa 
qualidade dos serviços prestados. O sindicato é uma instância importante para a discussão 
dos problemas de interesse da categoria, um fórum constante de debates em torno das 
políticas próprias de seu campo de atuação, que mantém alerta as consciências e, com isso, 
minimiza a alienação a que todos somos submetidos como classe trabalhadora dentro de 
uma sociedade de domínio capitalista como a nossa. Só a mudança das consciências pode 
trazer mudanças na sociedade; fora disso é manutenção do “status quo”, de todas as coisas 
como estão, sem alterações que poderiam fazer avançar o bem-estar da sociedade. O espaço 
escolar dá a medida dos problemas e das necessidades que afligem os profissionais que nela 
atuam; o espaço sindical fornece os meios pelos quais as soluções para esses problemas e o 
suprimento dessas necessidades podem ser buscados. 
 
E há muito que buscar, para fazer da escola o local privilegiado para a formação do aluno, 
com auto-estima elevada, que tem e sabe de seus conhecimentos, seus ideais, suas 
convicções, enfim, sabe de suas possibilidades para fazer o necessário enfrentamento dos 
problemas a que todos somos submetidos cotidianamente. Uma parte importante dessa 
tarefa cabe ao bibliotecário, que tem dentro da escola, como local de trabalho, o espaço 
vital para começar sua pequena grande empreitada: a disseminação da leitura entre todos os 
participantes da vida escolar, inclusive a comunidade que vive em seu entorno. 
 
Os ingredientes estão dados: que a mistura seja explosiva o suficiente para implodir os 
muros que cercam e aprisionam livros nas escolas, apartando-os de alunos, professores e 
demais participantes do processo educativo. Só assim o bibliotecário, unido aos demais 
educadores, conseguirá fazer valer a importância da escola na vida dos alunos, fazer valer a 
 7
importância da educação na transformação das consciências, fazer valer a importância de 
seu trabalho como agente imprescindível nesse processo, tornando evidente a toda 
sociedade a importância que tem, na vida de todos, um livro e sua leitura! 
 
 
 
 
Marília, 24 de outubro de 2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências: 
 
JOLIBERT, Josette e col. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 
v.1. 
 
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2ed. São Paulo: Companhia das Letras, 
2001.

Outros materiais