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Guia para A Pratica da Enfermagern O Processo de Enfermagem Baronesa McFarlane of Llandaff Professora e Directora do Departamento de Enfermagem da Universidade de Manchester George Castledine Assistente clinico da Manchester Royal Infirmary e Departamento de Enfermagem da Universidade de Manchester PREFACIO A EDICk0 PORTUGUESA Marta Lima Basto Enfermeira-D irectora da Escola de Enfermagem Pos-Basica de Lisboa RECOMENDADO PELA ASSOCIACAO PORTUGUESA DE ENFERMEIROS Lisboa 1988 fndice Prefecio a edicdo portuguesa 9 Prefecio 11 Parte I A ENFERMAGEM E 0 PROCESSO DE ENFERMAGEM NA PRATICA Introducdo 15 1 Natureza e caracteristicas da enfermagem 17 2 Elementos da enfermagem — um quadro conceptual 23 3 Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 29 Elementos de urn sistema de planeamento. de cuidados de enfermagem 29 Fases do processo de enfermagem 30 Parte II A PRATICA DA ENFERMAGEM PELO PROCESSO DE ENFERMAGEM Introducdo 51 4 Colheita de dados na prâtica 53 Primeira fase da histOria clinica de enfermagem 53 Segunda fase da hist6ria clinica de enfermagem 69 5 Capacidades para a colheita de dados na pratica 75 Entrevistar 75 Observar 82 Ouvir 83 Completar a hist6ria clinica de enfermagem 86 Doente que requer cuidados de curta duracâo 93 6 A apreciagão na pretica 97 Identificacao dos problemas 97 Problemas actuais e potenciais 99 Encaminhamento dos problemas 100 Problemas de enfermagem do doente versus diagm6stico medico 100 Identificagdo dos problemas 102 7 0 planeamento na prätica Resultados esperados O piano de cuidados de enfermagem (prescricao das acciies de enfermagem) Plano de cuidados Plano de cuidados tipo 8 A implementacao na pratica Acceies de enfermagem Organizacao dos cuidados de enfermagem Enfermagem primaria Terminar a relacao Interrupcao na organizacao dos cuidados pelo metodo de distribuicao de trabalho «por responsaveis» A equipa multidisciplinar e o processo de enfermagem Transferencia 9 -A avaliacao na prâtica Avaliagao por objectivos ou resultados esperados Avaliacao a curto prazo ou continua Aspectos a considerar ao escrever pianos de cuidados e notas de enfermeiro Reunities para discussao de casos centrados no doente Reuniiies de passagem de tumo Avaliacao do trabalho do enfermeiro Como ultrapassar alguns problemas habituais ao utilizar o processo de enfermagem Anexo I UM CASO DE ESTUDO REAL UTILIZANDO 0 PROCESSO DE ENFERMAGEM Anexo II APRECIACAO DO ESTADO DE CONFUSAO Anexo III EXERCICIOS PARA ESTUDANTES Anexo IV BIBLIOGRAFIA INGLESA SOBRE 0 PROCESSO DE ENFERMAGEM REFERENCIAS INDICE REMISSIVO Uma centena de enfermeiros portugueses vivenciou corn George Cas- tledine a sua compreensdo dos outros, doentes e enfermeiros, e a sua capacidade para ensinar, centrada naquele que quer aprender, ou seja melhorar o seu comportamento professional, aumentando simultanea- mente o prazer de ser urn enfermeiro competente. A6onteceu em Lis- boa, ern 1981, no Primeiro Symposium Nacional sobre Processo de Enfermagem, orientado por ele e organizado pela Escola de Ensino e Administractio de Enfermagem. Nos seis anos que se seguiram, muita coisa mudou nos cuidados de enfermagem prestados pelos enfermeiros portugueses, de Braganca a Portimtio, passando por Abrantes. Muita coisa mudou na forma de ensi- nar os alunos de Enfermagem. E, apesar da nossa natural e sauddvel insatisfacdo colectiva, uma observagdo objective mostra que uma des mudangas se refere a forma de encarar o processo de enfermagem como metodologia de trabalho dos enfermeiros. E a partir dal, as interrogagdes sobre o/os quadro conceptual que podem e devem influenciar a prdtica da enfermagem nas diferentes dregs de actuacito e junto dos diversos grupos populacionais a quern se pres- tam cuidados de enfermagem. 0 processo de enfermagem a uma ineto- dologia dind mica e a sua utilizacdo origina novas actuacdes, pondo em cause valores estabelecidos. Essa uma des razdes por que a sua utilize- gab sistemdtica tarda entre nos, como noutros paises. Outras razdes estdo ligadas ao ntimero e preparacdo dos enfermeiros e a sobrecarga coin outras actividades que nil° nos scio praprias. Parece-me portanto neces- sdrio que, simultaneamente corn a teorizactio dos cuidados de enfer- magem e corn a conquista de melhores condicoes de trabalho, se desenvolva o que e bdsico em enfermagem — a observacdo rigorosa, acompanhada naturalmente do respectivo registo, e a comunicacdo corn o doente e entre a equipa terapeutica, que inclui validaccio dos proble- mas, dos resultados esperados e da intervencdo dos enfermeiros, o que é muito bem realcado no presente livro. E por isso que considero que este Guia, apesar dos exemplos essen- cialmente do campo hospitalar, por serem vividos pelos prOprios auto- res, facilita a aprendizagem de todos aqueles que querem melhorar os cuidados de enfermagem, qualquer que seja o seu local de trabalho. E uma excelente introducdo ao assunto, para os que comecam, e uma fonte de ancilise e reflexclo para os iniciados. Boa leitura e utilizacdo do processo de enfermagem no seu local de trabalho! Lisboa, Setembro de 1987 MARTA LIMA BASTO Prefacio Em 1973, o Departamento de Enfermagem da Universidade de Man- chester organizou urn semindrio, a nivel interno, sob o tema «Processo de Enfermagem». Desde essa altura, a utilizagao da abordagem siste- matica como processo de planeamento dos cuidados de enfermagem tern-se tornado urn elemento importante no seu trabalho pedagOgico e clinico (junto do doente). 0 planeamento dos cuidados de enferma- gem corn base na pr6pria enfermagem comegou por ser introduzido num curso de aptidao, para enfermeiros com experiencia, de Estudos Avangados de Enfermagem, passando gradualmente a ser introduzido no programa do curso base (bacharelato de Enfermagem). A familiari- dade crescente com o processo conduziu a sua utilizagaio como uma base para identificar o contetido dos curriculos para a avaliagdo da corn- pethncia clinica dos estudantes. Estes meios educacionais nao teriam passado de exercicios academicos se o Departamento nao tivesse recor- rido a um servigo atraves do qual podia avaliar os conhecimentos pra- ticos, o que se tormou possivel gragas a criagalo de funeees com uma ligagao mista ao Departamento e ao Servico Nacional de Satide. Logo em 1976, foram designados dois monitores que desempenhavam a fun- ea) de enfenneiro chefe no Hospital Manchester Royal Infirmari e simul- taneamente eram professores no Departamento de Enfermagem. Trabalhavam alternadamente urn como professor e outro como enfer- meiro chefe. A primeira experiencia foi feita numa unidade de cirurgia traumatica aguda. Passados tre's anos, as pessoas que desempenhavam estes cargos foram transferidas para uma unidade de apreciagao geriatrica, recentemente criada. Foi entretanto instituido mais urn cargo misto, em obstetricia. Nestes primeiros cargos mistos, tern sido possivel desenvolver e avaliar a utilizacao do processo de enfermagem. 0 Departamento é muitas vezes solicitado no sentido de elaborar rela- tOrios sobre o trabalho realizado nesta area. Estes temas tern sido desen- volvidos em artigos a eles dedicados de Ashworth, Castledine e McFarlane (1978) e Ashworth e Castledine (1980). Neste livro procura descrever-se, com pormenor, a orientagdo por nos utilizada na prestagdo de cuidados de enfermagem. Escrito duma forma simples, destina-se a estudantes de Enfermagem e a enfermeiros que ainda ndo utilizam o «processo de enfermagem». Contudo, quanto mais se utilizar tal «processo», mais profundas se tornam as suas implica- gOes na praticg clinica, na orientagao dos cuidados a ter corn os doen- tes e bem assim na formagdo e na pesquisa. Na parte I descrevemos o sistema de valores e aquilo que do nosso ponto de vista constituia natureza da enfermagem, uma vez que enten- demos serem estes os factores que determinam os pianos sobre cuidados de enfermagem. Esbocam-se depois as fases do processo de enfermagem. Na parte II, a feita uma descried° sobre a maneira"como o processo tern sido utilizado na unidade associada corn o Departamento de Enfer- magem da Universidade de Manchester. Gostariamos de agradecer ao Departamento de Meios Audiovisuais Medicos da Universidade de Manchester as excelentes fotografias usa- das neste livro. Parte I Nota dos autores Numa tentativa da aproximacdo da realidade, incluimos nomes que nao pertencem a pessoas vivas ou mortas, de medicos, er,fe:- meiros, doentes e seus familiares e amigos, em muitos quadros e de en fermeiro. Parte I A ENFERMAGEM E 0 PROCESSO DE ENFERMAGEM NA PRATICA Introdug-do A pratica da enfermagem é moldada pelos valores e ideias que os enfermeiros e outras pessoas tem da sua pr6pria funcao. A enferma- gem é uma actividade tao complexa que e completamente impossivel encontrar uma definigäo simples para uma ampla variedade de accOes. Contudo, e como as accOes de enfermagem vao passar a estar integra- das e objectivamente dirigidas, e necessario dar atencao a sua natu- reza e caracteristicas: o que é e o que nao e. Isto sera feito atraves de uma serie de consideracoes acerca da enfermagem e apresentando uma andlise dos elementos comuns a qualquer situacdo em enfermagem. No final da parte I, indica-se o processo de planeamento dos cuida- dos de enfermagem; por sua vez, na parte II, são tratados os aspectos prâticos desse planeamento. 1 Natureza e caracteristicas da enfermagem Antes de estabelecer urn piano sistematico de cuidados de enferma- sem para urn individuo (ou comunidade), ha necessidade de ciarificar o que se entende por enfermagem, isto e, o que, nesta matária, se vai planear. 0 significado e a origem da palavra «enfermagem» variam de lin- gua para lingua, sendo que em algumas dd. ° se encontra equivalente que a defina. Embora possa haver urn nticleo comum a actividade, o papel e a funao da enfermagem variam substancialmente de cultura oara cultura. Segundo o relatOrio da Comissào de Enfermagem (DHSS, 1972), ha imagens pUblicas e profissionais do trabalho do enfermeiro que estáo por vezes ern contradigdo corn a realidade da enfermagem cal como ela é praticada. Na nossa sociedade, a enfermagem faz parte do sistema de cuidados de sande da responsabilidade do Estado. E uma actividade humana corn- Diem, que nao cabe numa definiflo simples. As declaradies que se segtiem acerca das suas caracteristicas certamente contribuirdo para urn mais correcto entendimento da sua natureza. 1. A enfermagem e os cuidados de saftcle, na nossa sociedade devem muito dos seus antecedentes histOricos as fundagOes e doagOes crisths e filantrOpicas, atraves da assistOncia aos pobres. 0 presente sistema de cuidados de sande faz parte de urn conjunto de financiamentos interligados''do Estado, que incluem a Seguranga Social e a Edu- cacao. 0 financial:Trento e efectuado atraves de seguros e impostos; o objec- tivo initial do Servigo Nacional de Satide (ultrapassado no decor- rer do tempo) era os servigos deverem ser gratuitos. A enfermagem é cultural e economicamente determinada. I Corn urn servigo de sande complexo e tendo fundies que variam desde o transplante de OrgAos a gestâo de quintas ern hospitais para deficientes mentais, ha uma grande variedade de especializagOes, nomeadamente ao nivel do papel social. Dentro deste sistema, a enfermagem tern uma fungdo muito mais especializada do que pode 18 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica ter, por exemplo, num pats do Terceiro Mundo, onde tal diferen- ciagdo de fungOes em cuidados de satide nä° se justificaria. Na nossa sociedade, o papel social da enfermagem e da medicina;sdo distintos, embora haja urn certo grau de sobreposicao. Numa sociedade complexa, a enfermagem e diferenciada e especia- lizada, tendo urn importante papel nos cuidados de satide. 3. Por derivacdo, a palavra «cuidar» tambem significa «nutrir», tal como a mae alimenta urn bebe, o que esta de acordo corn pontos de vista fundamentais sobre a natureza da enfermagem e demonstra a sua distincao entre o papel do enfermeiro e o do medico. 0 significado da palavra «cuidar» a tambem «nutrir». 4. Num piano mais vasto, o exercicio da enfermagem significa ir ao encontro de outras necessidades humanas basicas, para a vida e a sande, tais como os liquidos, o abrigo para dormir e descansar, o amor, a familia. Estas necessidades podem ser caracterizadas como fisiolOgicas, psicolOgicas e sociais. Para a enfermagem, é importante a satisfaceo das necessidades humanas basicas para a vida e a satide. 5. Estas necessidades basicas sdo normalmente satisfeitas pelo indi- viduo atraves das «actividades da vida didria» ou «autocuidado» (Henderson, 1966; Orem, 1980). As necessidades humanas basicas scio normalmente satisfeitas através das actividades da vida diaria ou pela autocuidado. 6. A crianga alimentada pela mae é, devido a sua idade, incapaz de se alimentar a si prOpria, isto é, ha uma deficiencia na capacidade de o bebe satisfazer as suas pr6prias necessidades nutritivas como urn adulto. A enfermagem esta relacionada com deficiencias nas capacidades das pessoas para satisfazerem as suas prOprias neces- sidades fisiolOgicas e psicolOgicas basicas. Ha, pois, deficiencias na autroprotecgdo. A enfermagem estd relacionada corn as dificuldades das pessoas em executar actividades da vida isto corn deficiencias no autocuidado. 7. Urn bebe nao pode corresponder as suas necessidades de nutrigdo, pois, pela sua idade, nao esta suficientemente desenvolvido para se alimentar ou ir fazer compras. De igual modo, as pessoas mais velhas podem perder a capacidade para a satisfaedo das suas neces- sidades basicas. A doenga ou o seu tratamento, como a ignorancia ou a falta de motivacalo, podem tambem afectar a capacidade dos individuos para satisfazerem as suas pr6prias necessidades. Natureza e caracteristicas da enfermagem 19 As deficiências na capacidade de satisfazer as necessidades brisicas, corn as quaffs o enfermeiro se confronta, podem ser causadas por desenvolvimento imaturo, deterioraedo das functi es, doenca, inca- pacidade, regimes de diagndstico e terapeutica, ignorancia ou moti- vaedo escassa. S. A falta de capacidade em autocuidar-se varia em grau. E essa variagdo pode ser de tal forma acentuada que torna o individuo dependente de uma ou mais pessoas. Tal exigiria um grau minimo de apoio fisico, psicolOgico ou social, ajuda atraves de apoio moral, ensino ou mudanga de ambiente. Urn dos recursos da enfermagem é apreciar a extengdo da deficiância na capacidade de a pessoa cuidar de si prOpria, ou o grau de capacidade do individuo, da familia ou da sociedade para compensar a deficiencia, situaedo em que a habil intervened° da enfermagem é necessaria. As deficiencias para autocuidar-se variam de especie e grau e tem de ser avaliadas. 9. No caso da male que satisfaz as necessidades alimentares de um bebe, trata-se de uma imagem de entrega mUtua e reciproca, na qual a !tide aprecia as necessidades, proporciona um ambiente de segu- ranga e alimenta, enquanto a crianga revela e necessidade e cola- bora mamando, satisfazendo assim essa necessidade. Posteriormente, na vida, quando a crianga ja ndo mama, sdo utilizados metodos diferentes para a apreciagdo e intervened°, e a crianga desenvolve cada vez maior sofisticagdo e indepenancia para satisfazer as suas necessidades. A enfermagem substitui, ajuda ou promove as actividades de auto- cuidado do individuo ou da comunidade. 0 grau de necessidade tern de ser constantemente reapreciado, e os papeis respectivos do enfermeiro e do doente desenvolver-se-ao e mudarao, conforme o doente recupera a capacidade para manter um comportamentocorrecto na autocuidado. Esta em jogo uma relaedo reciproca, e o doente.tem o direito de contribuir para a tomada de decisOes acerca dos seus cuidados. A enfermagem e, essencialmente, uma relactio de mudanca reciproca e dindmica entre o doente e o enfermeiro. As actividades de enfer- magem dao ajuda ou assistencia, corn a intenedo de promover e aumentar as capacidades de autocuidado do individuo ou da emu- nidade. 10. As deficiâncias na capacidade de satisfazer as necessidades basicas para a vida e sadde podem ser pontuais ou potenciais. A enfer- magem tem urn papel bem definido na promoedo da qualidade e quantidade dos cuidados indispensaveis para a sal:1de. 20 A enfermagem e o processo de enfermagem na prntica Isto inclui na- o so a divulgacao das formas de satisfazer as necessi- dades humanas basicas para a vida e sande, mas jambem a moth vaedo dos individuos e das sociedades para a ctilizacao desse conhecimento nas actividades de promocao da sande e prevengdo da doenca, isto 6, na educagdo para a satkle. A enfermagem desempenha um papel na educacao para a satide, isto é, ajuda na promoctio da satide e na prevenglio da doenca. II. A enfermagem ndo e so uma actividade dirigida para a sande e bem- -estar dos individuos. A satide das comunidades a igualmente vital e ambas estao intimamente ligadas. A enfermagem promove os cuidados de sande, actuando na prevenedo da doenca e na assis- tencia nas actividades de autocuidado das comunidades. A enfermagem esta relacionada corn as actividades de autocuidado, tanto dos individuos como das comunidades, e corn a sua inter- -re/act-1o. 12. Aqueles factores que podem precipitar a necessidade de intervencao da enfermagem (deficiencias na capacidade de autocuidado causados por urn desenvolvimento imaturo, deterioracao da funcao, doenca ou terapeutica, ignorAncia ou falta de motivagdo) podem causar urn estado de diminuicao na capacidade de satisfazer necessidades humanas basicas. Recuperar na totalidade a autocuidado pode nâo ser urn objectivo realista. Mesmo quando a intervencao da enfer- magem a necessaria, corn grande frequencia, para manter as acti- vidades de vida diaria, é possivel maximizar a contribuicao do indivicluo em cuidar de si pr6prio. Nos cuidados de longa duracao e ao morrer, é importante que a dignidade do individuo seja preser- vada tanto quanto possivel, ajudando-o a aumentar a sua capaci- dade em cuidar de si prOprio, e no final da sua vida ajuda-lo a morrer duma maneira que expresse a sua personalidade e convicedes. Em algumas situagOes em que ncio d possivel readquirir completa capacidade em autocuidar-se, a enfermagem mantem a funcao de autocuidado, maximizando a contribuigcio do indivIcluo, ajudando-o, no final da sua vida, a morrer corn dignidade. Natureza e caracteristicas da enfermagem 21 SUMÃRIO DAS DECLARACO ES ACERCA DA NATUREZA DA ENFERMAGEM 1. A enfermagem é cultural e economicamente determinada. 2. Numa sociedade complexa, a enfermagem e diferenciada e especializada, tendo um importante papel nos cuidados de satide. 3. 0 significado da palavra «cuidar» e tambdm «nutrir». 4. Para a enfermagem, e importante a satisfacdo das necessidades humanas bdsicas para a vida e a sadde. 5. As necessidades humanas bdsicas sao normalmente satisfeitas °troves das acti- vidades da vida didria ou pela autocuidado. 6. A enfermagem estd relacionada corn as dificuldades das pessoas em executar actividades da vida didria, isto corn deficiencias no autocuidado. 7. As deficiencias na capacidade de satisfazer as nacessidades bdsicas, corn as quais o enfermeiro se confronta, podem ser causadas por desenvolvimento imaturo, deterioracdo das funcdes, doenca, incapacidade, regimes de diag- ndstico e terapeutica, ignordncia ou motivagdo escassa. 8. As deficiencias em autocuidar-se variam em espdcie e grau e tem de ser avaliadas. 9. A enfermagem 4 essenciahnente, uma relactio de mudanga recfproca e dind- mica entre o doente e o enfermeiro. As actividades de enfermagem dcio ajuda ou assistencia, corn a intencdo de prom over e aumentar as capacidades de autocuidado do individuo ou da comunidade. 10. A. enfermagem desempenha um papel na educacdo sobre a sadde, isto ajuda na promocdo da sadde e na prevenctio da doenca. 11 A enfermagem estd relacionada corn as actividades de autocuidado, tan to dos individuos como das comunidades, e corn a sua inter-relacdo. 12. Em algumas situacdes em que tido e possivel readquirir completa capaci- dade em autocuidar-se, a enfermagem mantdm a funcdo de autocuidado, maximizando a contribuicao do indivkluo, ajudando-o, no final da sua vida, a morrer corn dignidade. Elementos da enfermagem um quadro conceptual Nas doze declaracOes acerca da enfermagem enunciadas no capitulo anterior detectam-se quatro elementos, que estdo interligados e se po- dem equacionar no seguinte quadro conceptual: 1. Homem 2. Sociedade 3. Sande 4. Enfermagem Estes elementos podem ser representados num diagrama, conforme a fi2ura 1, e ser descritos da seguinte forma: Figura I Urn quadro conceptual para a enfermagem 1. Homern. Os aspectos fisiologicos e sociais sdo necessarios a for- maga° do individuo, o que significa que ele e urn ser bio-psicossocial, tendo necessidades basicas para a preservagdo da vida e da saUde, que Maslow (1954) apresentou corn uma hierarquia: uma determinada ca- tegoria de necessidades deve ser satisfeita antes que os niveis posterio- res sejam atingidos: a) Necessidades fisiolOgicas ou de sobrevivEncia; b) Necessidades de seguranca e de defesa; c) Necessidades afectivas ou de relacionamento; AMBIENTE MUITO FAVORAVEL Baixo nivel de bem-estar 21 num (i) ambiente de alto nivel E Eixo da Baixo nivel de bem-estar num ambiente de baixo nivel Alto nivel de bem-estar num ambiente de alto nivel BEM- -ESTAR Alto nivel de bem-estar num ambiente de baixo nivel MORTE 0V 0 X iu amide AMBIENTE MUITO DESFAVORAVEL 24 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica d) Necessidades de respeito pr6prio; e) Auto-estima e auto-realizagao. 2. Sociedade. Os recursos de ordem fisica, como alojamento e servi- gos de sailde relativos ao ambiente (esgotos, lixos, etc.), sao urn ele- mento essencial, estando intimamente ligados a sande dos individuos; os factores sociolOgicos tambem determinam a maneira como a sande e a doenca sac) definidas numa sociedade e a maneira como os seus servicos de sande sao organizados por forma a tornarem-se acessiveis. Na nossa sociedade, ha diferengas na maneira como os servigos de sande sao utilizados pelas varias classes sociais (Black, 1980). A organizagdo do servigo de enfermagem e culturalmente determinada, estando muito ligada as raizes histOricas, ao papel da maternidade, a religiao, ao ser- vigo militar e a situacao das mulheres na sociedade (Davis, 1980). 3. Sande. A enfermagem funciona no campo da sailde. A definicao de sande da Organizacao Mundial de Sande (1947) —«nao so ausencia da doenga mas tambem urn completo bem-estar mental, fisico e so- cial»— e agora vista como sendo algo irrealista. Nos Estados Unidos, a Comissao Presidencial sobre as Necessidades da Sande (1953) divul- gou um ponto de vista mais realista e dinamico de sande: «... nao é Figura 2 Quadro de Satide (de Dunn, 1958). 4. Organizagão de cuidados de sande Elementos da enfermagem — um quadro conceptual 25 Figura 3 Area da sande, segundo Lalonde (1974) uma condign° é uma adaptagdo. NAo é um estado mas urn processo. 0 processo adapta o individuo ao ambiente nä° so fisico mas tambem social.» Dunn (1961) chamou a atengdo para o facto de os individuos terem niveis de bem-estar diferentes. Ao nivel Optimo chamou «urn bem- -ester de gran elevado», que definiu como «urn metodo integrado de funcionar, orientado de modo a maximizer o potential do individuo no seu ambiente». Ele descreve doiseixos de bem-estar: urn eixo de sande (da morte ao bem-estar Optimo) e urn eixo do ambiente (do muito desfavoravel ao muito favorevel). 0 seu quadro de sande (figura 2) mostra os niveis de bem-estar ern releflo a sande e ao ambiente (Dunn, 1958). 0 ministro da Sande e do Bern-Estar canadiano (Lalonde, 1974) apre- sentou urn conceito para a area da sande (figura 3), ern que identifi- cou quatro elementos principais, subjacentes a sande da populace°. Estes sdo o estilo de vide, a biologia humana, o ambiente e a organizagdo dos cuidados de sande. Lalonde (1974) sugeriu que a preservagao da qualidade dos alimentos, a preocupano ern evitar o use excessivo de drogas, assim como reconhecer os inconvenientes do abuso do elcool e do tabaco, da-obesidade, da fake de capacidade fisica, e alertar igual- 26 A enfermagem e o processo de enfermagem na prdtica Papel do medico Diagnestico Tratamento Cura da doenga / I\ /14 / I / \\ \ //, I / I / /\ , 1 / I /Papel do enfermeiro / \ 1/ \Apreciagao Promogdo da .Maximizagao (das capacidades autoprotecgeo, da de autoprotecgão; cuidados de autoprotecodo defrciencias nas «enfermagem• de manutengáo actividades da substituigeo, actuacao das actividades vida didria) como aagente* do da vida doente para a dieria autoprotecgdo Figura 4 Natureza complementar dos papeis do enfermeiro e do medico mente para as doencas venereas e as mortes por acidentes na estrada — são problemas de satide nacionais que implicam iniciativas gover- namentais. 4. Enfermagem. Trata-se de uma actividade humana complexa, para prestagão de assistancia ao individuo e a colectividade, promovendo e divulgando as actividades que contribuem para a sande e bem-estar, particularmente as necessidades humanas basicas, como sejam as fisio- lOgicas, as psicolOgicas e as necessidades sociais. Estas necessidades sao normalmente satisfeitas por actividades da vida didria realizadas indi- vidualmente, e muitos cuidados de enfermagem de tipo nao profissio- nal sat) executados por familiares e amigos. Quando ha defici8ncias na auto-suficiencia, de tal natureza que o individuo, ou a familia, sdo inca- pazes de actuar por si, entao é necessaria a intervencao especializada e profissional da enfermagem. A enfermagem profissional tern uma rela- ea° de cooperagao corn a medicina e corn outras actividades relacio- nadas corn a sairde. Promover e manter as actividades didrias é como que urn pano de fundo para todas as actividades que preservam a sande, mantendo em forma o organismo humano. A outros profissionais de sande cabera intervirem para diagnosticar e tratar a doenca. A enfer- magem providencia a manutencao do ambiente mais prOprio para a vida, o que torna todas as outras funcOes relacionadas corn a sande possi- veis. Num sistema de sande complex°, a enfermagem tern urn papel essential e distinto a desempenhar lado a lado corn outros profissio- nais da sande. 0 enfermeiro a a autoridade na continuidade das activi- dades do dia-a-dia, enquanto o medico a a autoridade para o diagnOstico Elementos da enfermagem — um quadro conceptual 27 e para o tratamento da doenga. Os papeis, sendo complementares, estdo estreitamente relacionados, nunca se estabelecendo uma relacdo de opo- sled°. A figura 4 e uma representagdo em diagrama da estreita relagdo entre os papeis do medico e do enfermeiro. Embora os aspectos distintos de cada uma das fungees se vejam no diagrama, e nitida uma relagdo acentuada entre o medico e o enfer- meiro no planeamento de cuidados ao doente, havendo, muitas vezes, sobreposiedo e intercdmbio de papeis. 0 enfemeiro ajuda muitas vezes nos testes de diagnostico e regimes terapeuticos, mas a sua funedo prin- cipal é a de manter as actividades da vida didria e as condigeles ambien- tais que contribuem para a salide e bem-estar. Para os doentes cremicos e pessoas idosas, tais condigees podem constituir a totalidade dos cui- dados de sailde que a sua situagdo requer. Para outras pessoas, elas formam o pano de fundo, em que a intervened° medica pode actuar. 3 Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem o processo de enfermagem Elementos de urn sistema de planeamento de cuidados de enfermagem Tendo analisado os elementos envolvidos na enfermagem, a ne- cessario desenvolver urn mêtodo sistemdtico para tomar decisoes quanto aos cuidados de enfermagem necessarios e para planear como devem ser executados. 0 sistema necessita fornecer urn modo de identificar: 1. As dificuldades do individuo em cuidar de si prOprio e em saber as causas do seu problema enquanto doente. 2. Os objectivos e resultados esperados dos cuidados de enfermagem. 3. Mêtodos de enfermagem para promover ou manter as actividades de autoprotecao ou substituir as suas deficiencias. 4. Pianos para. implementar os metodos. 5. A eficdcia. dos cuidados prestados. tia maior parte da bibliografia, esta forma sistematica de abordar a tomada de deciseies e de planear os cuidados de enfermagem é cha- mada «processo de enfermagem». Alguns autores preferem falar de «forma sistemdtica de abordar o planeamento dos cuidados de enfer- ma.sem». Ha urn consenso sobre a necessidade de passar por certas eta- pas para planear os cuidados de enfermagem. 30 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica Vantagens da utilizaclo do processo de enfermagem A actual enfase no planeamento sistematico é uma tentative de melho- rar a qualidade desse planeamento, tomando as decisoes numa base mais cientifica, e de avaliar os resultados de urn modo mais eficiente. Em contraste corn formas anteriores de planeamento, a utilizacdo do processo de enfermagem tende a: I. Apreciar as necessidades do doente numa base individualizada, em vez de rotineira. 2. Proporcionar uma base para analisar as causas das necessidades do doente, de modo a que as accOes de enfermagem planeadas possam ser mais bem relacionadas corn os problemas. 3. Proporcionar urn sistema para analisar a capacidade do individuo ou da familia, para manterem a autoprotecgdo e para reverem a neces- sidade de intervencao profissional. 4. Documentar o piano e registar o tratamento, como meio de comu- nicagao entre o pessoal. 5. Tornar explicitas as accOes de enfermagem planeadas, por forma a it ao encontro dos problemas especificos do doente, de modo a que a eficacia possa ser avaliada. 6. Proporcionar urn. metodo de avaliacdo dos cuidados de enfer- magem. Fases do processo de enfermagem Os enfermeiros estabelecem o ralmero de fases, bem como as respec- tivas definicOes do processo de enfermagem de forma variada entre si, embora a maioria deles concorde em que se este. de facto a descrever a mesma coisa. As diferencas dependem da maneira como as fases do planeamento salo divididas. Mesta obra abordamos as cinco fases usa- das no documento original do semindrio do Departamento de Enfer- magem da Universidade de Manchester: 4. I mplementagdo Par o piano em accão Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 31 Fases Elementos Capacidades 1. Colheita Hist&la clinica da enfermagem Entrevista de dados (primeiro e Segundo nivel), do Observacdo funcionamento fisico, psicolOgico Medicao e social 5. Avaliacâo Identificacão dos problemas do doente (deficiancias actuais e potenciais na capacidade para cuidar de si prOprio e das causas de eventuais doencas) a) Objectivos ou resultados esperados, relacionados corn os problemas do doente b) Matodos de enfermagem e justificagdo, utilizados para: promogão da autoprotecgdo manutencdo da proteccão substituicâo da proteccão c) Identificacao que permita por em prAtica o piano d) Comunicacao do piano e) Identificaoão das prioridades. Comparar resultados actuais corn resultados esperados Reapreciacao 2. Apreciacäo 3. Planeamento Revisao de dados Deducao do significado dos dadoscorn base na teoria e investigacão conhecidas Fazer juizos baseados nos dados Prever os resultados de formas alternativas de prestacao de cuidados Selewd° e prescricdo de cuidados de enfermagem, corn base na teoria e na investigagdo Organizar e Comunicar Uso de capacidades têcnicas e de comunicaflo interpessoais nos cuidados. Ensino Aconselhamento Organizar o trabaiho Apreciagão Figura 5 Elementos essenciais dum sistema para planeamento dos cuidados de enfermagem. 1. Colheita de dados 5. AveHack) / 14 4. Implementagdo N \ 2. fi 3 Apreciaflo Planeamento ...••••• 32 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica 1. Colheita de dados; 2. Apreciacdo; 3. Planeamento; 4. Implementaflo; 5. Avaliacdo. Os enfermeiros que trabalham no programa a medio prazo do pro- cesso de enfermagem, da Organizacao Mundial de Sande verificardo que a «colheita de dados» esta incluida na fase «apreciacdo» (uma das quatro fases utilizadas). Estas cinco fases estão interligadas (figura 5), pelo que ha necessi- dade de reapreciaflo e modificacdo dos pianos a medida que se faz a avaliagdo. Deve, pois, considerar-se o processo e ver Como ele circula (figura 6). Neste capitulo faz-se uma revisdo de cada fase do processo de enfer- magem. Na parte H (capitulos 4 a 9) sdo examinadas em maior pro- fundidade as implicacoes praticas das cinco fases. Figura 6 Fases do processo de enfermagem Fase 1: Colheita de dados Elementos Capacidade A histOria clinica da enfermagem Entrevista (primeiro e Segundo nivel), Observagdo do funcionamento fisico, psiquico e social Medicagão Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 33 Para planear eficazmente os cuidados de enfermagem, o enfermeiro necessita de ser capaz de apreciar as necessidades do individuo em cui- dados de enfermagem; isto é, identificar onde ha problemas em man- ter uma quantidade e qualidade de actividades de autocuidado para a sande e bem-estar. Para fazer esta apreciacao e necessaria informa- gäo em todos os aspectos de funcionamento. Optar por uma aborda- gem global da pessoa, nos cuidados de enfermagem, implica que seja necessaria informagdo acerca do funcionamento fisico, psicolOgico e social. A informacao poderia ser organizada com base em problemas Obvios. Ha deficlencias nessa abordagem; o doente pode nao colaborar, ou o enfermeiro pode ndo se aperceber de urn problema fundamental, a não ser que se estabeleca uma forma sistematica de detectar capacidades de autocuidar. Os problemas psicolOgicos e sociais seriam inevitavel- mente negligenciados, em comparagdo corn problemas fisicos mais Obvios. A primeira fase no planeamento e portanto a obtengdo de infor- maga° de uma forma sistematica ou a colheita de dados acerca das capacidades do doente para se autoproteger. Em enfermagem, a histO- ria clinica é um instrumento para a colheita de dados sistematica, e pode ser constituida por uma set-le de perguntas sobre diferentes aspectos da capacidade funcional. Impressos normalizados para histOrias clinicas de enfermagem con- tem perguntas-tipo, as quais a resposta é «sim» ou «lido» ou outra °pea° simples. Por exemplo: a) Jd beneficiou de alguns dos seguintes servicos, em casa? Refeigöes AssistenteEnfermeira de qdomicilio El sadde rniblica Social q Outros q b) Tem urn emprego regular? Sim q /sido q Pratica algum desporto? Sim q Nä° q Usa Ocu160 Sim q Mc, ill Algumas pessoas sentem que uma lista de perguntas sinteticas é dema- siado restritiva, e preferem dispor de temas, de modo a que a informa- gäo acerca, por exemplo, da fungdo eliminagdo possa ser obtida por mein de troca de ideias. Qualquer que seja a abordagem, é preciso incluir sempre uma lista de topicos, de modo a que o modelo da hist6ria cif- nica de enfermagem seja tracado por forma a permitir um registo, que constituird um elemento de consulta para outros enfermeiros. A hist6ria clinica de enfermagem dird respeito a actividades da vida diaria tais como comer, dormir, respirar, eliminar, etc. 34 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica Alguns enfermeiros baseiam-se nas seguintes 14 actividades para ela- borar uma colheita de dados (Henderson, 1966);_ 1. Respirar normalmente; 2. Comer e beber adequadamente; 3. Eliminar produtos superfluos; 4. Movimentar-se e manter posturas aconselhdveis; 5. Dormir e descansar; 6. Seleccionar roupa adequada; 7. Manter a temperatura do corpo dentro de limites normais, vestindo-se adequadamente e modificando o ambiente; 8. Conservar o corpo limpo e cuidado e proteger a pele; 9. Evitar os perigos do ambiente, preservando tambem as outras pessoas; 10. Comunicar com outras pessoas expressando emocOes, necessida- des, medos e opinides; 11. Praticar uma religiao de acordo corn a fe de cada um; 12. Trabalhar por forma a ser conseguida a realizagdo pessoal; 13. Distrair-se, jogar ou participar em varias modalidades de diver- timento; 14. Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade, que conduz ao desenvolvimento normal e a sande, e utilizar os servicos de sande disponiveis. McCain (1965) enumera 13 areas para a colheita de dados, das quaffs sào exemplo as seguintes quatro: Estado mental: Estado de consciência; Orientacdo; Capacidade intelectual; Atencao; Nivel de vocabuldrio; Capacidade para compreender ideias. Estado emocional ReaccOes emocionais; Imagem corporal; Capacidade para se relacionar corn outras pessoas. Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 35 Percepcdo sensorial Ouvido; Visdo; Fala; Tacto; Olfacto; Paladar. Capacidade motora Mobilidade; Amplitude de movimentos; Postura; Equilibrio; T6nus muscular; Paralisia; Perda de extremidades. McCain indica, para cada titulo, descrigOes que ajudam a identifi- car a condigdo do doente, por exemplo nas capacidades demostradas. Por exemplo: Estado de consciéncia Atento e rapido na resposta ao meio ambiente; Sonolento e lento na resposta; Semiconsciente e com dificuldade em despertar; Em coma e incapaz de despertar; Estado de automatismo. Na parte II descrevemos o modo como é feita a hist6ria clinica de enfermagem, em duas fases, na unidade de geriatria do Manchester Royal Infirmary. Sao dados tOpicos como: «actividade», «repouso», «nutricao»: etc., sendo a informacao obtida em entrevistas näo estru- turadas. Para ajudar os enfermeiros no inicio da sua actividade, é for- necido urn documento de apoio com esclarecimentos acerca dos elementos a incluir (ver figura 10). E provavel que o estudante de Enfermagem encontre modelos de his- tOrias clinical de enfermagem ja desenvolvidas nas unidades onde tra- balha. Nada perde em tentar desenvolver o seu pr6prio modelo, fazer abordagens diferentes ou tentar melhorar os que ja foram desenvolvi- dos. 0 piano de cuidados de enfermagem sera provavelmente tao efi- caz quanto a apreciaao feita, e depende muito da boa qualidade da hist6ria clinica de enfermagem. 36 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica Funcionamento normal e capacidade de lidar coin disfuncOes A capacidade do doente em per em pratica as actividades da vida diaria associadas a satide a revista de modo a obter informacOes sobre: 1. 0 modo como o doente poe normalmente em pratica cada activi- dade. 0 piano de actividades de enfermagem deve ter como objec- tivo assistir o doente na pratica destas actividades, de forma tao semelhante quanto possivel ao modo como ele normalmente as exe- cuta, de maneira a que o autocuidado possa ser mantida ou resta- belecida, tao depressa quanto possivel. 2. A natureza e extensào do desvio do funcionamento normal do indi- viduo, naquela ocasido, a qual, uma vez que ira variar de tempos a tempos, ha consequentemente necessidade de apreciar de novo a capacidade funcional em intervalos regulares. 3. A capacidadedo individuo em se adaptar a disfuncao limitativa e manter os cuidados a si prOprio; por exemplo, a capacidade do doente corn artrite para se vestir e que tem de utilizar ajuda mecdnica, ou a capacidade do doente para expressar uma ansiedade pre-operatOria. 0 segundo estadio da hist6ria clinica de enfermagem, ilustrado no capitulo 4 (ver figura 13), permite ao enfermeiro registar o «comporta- mento actual». Comparando e contrastando o que é normal para aquele individuo corn o comportamento presente, o enfermeiro pode formar uma opinido sobre se algum aspecto da actividade diaria representa um problema para o doente. Esta é a primeira fase ao fazer uma apreciacdo. Por exemplo: Cornportamento habitual (ou comportamento normal de autocuidado ) Comportamento actual (ou incapacidade no autocuidado 1 Capaz de se vestir Incapaz de estabelecer ajustamentos adequados ao vestir-se (abrir ou fechar fechos de correr nas costas, atar corddes dos sapatos, etc.). Capaz de manter a higiene pessoal Incapaz de lavar o brae° ndo «afectado», devido a i mobilizacdo de urn bravo engessado. Alem da informaedo pormenorizada acerca das actividades diarias, necessaria mais informacdo geral acerca do doente. InformagOes como o nome e de que maneira prefere que se the dirijam, a sua reaccdo ao internamento hospitalar, sào basicas para que haja comunicacao pos- terior. Elementos Identificacäo dos problemas do doente (deficiencias actuais e potenciais na capacidade de execugdo do autocuidado e causas) Capacidades Rever os dados Deduzir o significado dos dados corn base nas teorias e resultados de investigagão conhecidos. Fazer juizos baseados em dados. Ja e: 0 a e r 1 Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 37 Capacidades pan coiheita de dados Fazer uma histOria clinica de enfermagem 6, das fur-10es de enfer- magem, a que mais capacidade requer. A informaedo acerca do doente obtida atraves da observacao e da comunicaedo. A observacdo inclui uma apreciacdo superficial sobre a cor do doente, o estado da pele, o t6nus muscular, etc., e o registo de observacoes, tais como tempera- tura, pulso, respiracào, tensdo arterial, podendo incluir urn exame fisico mais pormenorizado. A comunicano pode ser corn o prOprio doente, corn a sua familia ou amigos, e corn outros profissionais de sande. Pode ser escrita ou oral (ver figuras 17, 18, 19). A habilidade para comunicar corn o doente é fundamental para a pratica da enfermagem, e mais complexa do que muitas capacidades manuais. Inclui controlar o ambiente de modo a que uma comunica- eäo eficaz se possa realizar, a arte de escutar e a capacidade para levar o doente a expressar ansiedades, medos e factos intimos. Sempre que se procuram pormenores pessoais ou quando surgem pro- blemas emocionais, ha uma necessidade profissional e 6tica de preser- var a confidencialidade da informagdo e de evitar intormeter-se em assuntos pessoais por mera curiosidade. A informaedo necessdria é aquela que permite estabelecer urn piano de cuidados de enfermagem adequado. Fase 2: Apreciacão Como acima foi indicado, o objectivo de reunir informaedo e iden- tificar problemas do doente relacionados corn as actividades da sua vida diaria. A hist6ria clinica de enfermagem nao 6 urn fim ern si pr6pria — é urn instrumento para registar informaedo, e dai tirar conclusties, de modo a que os problemas possam ser identificados e os pianos feitos para lhes dar resposta. Fazer a histOria clinica de enfermagem e ape- nas a primeira fase no processo de enfermagem, corn urn valor relativo. Apos reunir a informaedo, tern Lugar a capacidade intelectual de apre- ciacdo. Neste capitulo estâo envolvidos: 38 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica Efementos a) Objectivos ou resultados esperados relacionados coin os problemas do doente. b) Metodos de enfermagem e justificacdo para serem usados: — promover a autoprotecedo; — manter a autoprotecedo; — substituir a autoprotecedo. c) Identificacäo da pessoa para p6r em pratica o piano. d) Comunicacao do piano. e) Identificacão das prioridades. Capacidades Prever os resultados alternativos de prestacdo de cuidados; Seleccionar e prescrever cuidados de enfermagem baseados em teorias e em resultados (le investigacao conhecidos. Organizar e Comunicar. a) Revisal ° de informacao; b) Estabelecimento de conclusoes acerca do seu significado; c) Identificacao dos problemas. Uma histOria clinica de enfermagem content bastante informacao. De modo a utilize-la como base para planeamento de cuidados, ha neces- sidade de comparar os seus elenentos corn o funcionamento normal. Para pOr em pratica este aspecto, e obviamente necessario urn conheci- mento do funcionamento normal relativamente aos aspectos anatOrnico, fisiolOgico, psicolOgico e social. A comparagao com o funcionamento habitual e feita a partir da infor- macao obtida acerca do funcionamento normal para determinado indi- viduo e das suas capacidades presentes nas actividades dierias. Desta revisal ° do conhecimento cientifico e da experiencia do individuo cer- tas conclusOes podem ser tiradas. Podemos concluir que o individuo resolve sozinho, corn sucesso desvios ao funcionamento normal, mas que outras actividades de autocuidado possam nao ser mantidas num nivel 6ptimo. Neste caso a situacao e identificada como «problemas do doente», para a qual deve ser traced° um piano de cuidados de enfer- magem. 0 fim da fase de apreciacdo e, portanto, a identificacao dos problemas do doente, e estes tornam-se a base do piano de cuidados. Tanto os problemas actuais como os potenciais (nao presentes mas que podem ocorrer) devem ser objecto de uma lista exaustiva. Por exemplo, ao avaliar o comportamento normal num caso de auto- cuidado no vestir e na higiene pessoal, e comparando-o corn o corn- portamento observado e perante as incapacidades relatadas, outros problemas do doente poderao ser identificados: a) Dificuldades especificas ao vestir-se; b) Problemas ao lavar do braco «born» devido a imobilizacao do outro braco. Fase 3: Planeamento Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 39 Surgem aqui problemas actuais, para os quais urn piano de cuida- dos especiais deve ser delineado. Pegando noutro exemplo, vejamos o caso de uma pessoa idosa que, em casa, possa ter dificuldades ern preparar refeiceies, por falta de moti- vagao ou de mobilidade. Estamos perante urn problema potencial de ma nutrigho, que necessita de ser incorporado num piano de cuidados. Acentue-se que os problemas identificados sdo os do doente e näo os do enfermeiro. Urn piano de cuidados sisterniticos para urn doente deveria conter os elementos seguintes: 1. A indicagdo dos problemas actuais e potenciais; 2. Os objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem para cada problema; 3. Prescrigão de accees de enfermagem corn vista a alcangar os objec- tivos. 1. Identificaceio dos problemas No final da fase de apreciacdo deverd estar determinado urn con- junto de problemas do doente, relacionado corn as actividades de vida didria. Serao apresentados problemas actuais quando se elaborar a his- Oda clinica de enfermagem, mas tambem seräo identificados proble- mas potenciais; isto aqueles que podem ocorrer se nä° houver uma aced° preventiva. Os problemas necessitam de ser enumerados por ordem de prioridade de aced° (accees relativas a sobrevivencia seriam obvia- mente urgentes), mas vale a pena indicar sumariamente qual a causa do problema,, como, por exemplo «risco de dlcera de pressdo, devido a incapacidade de se mover livremente na cama». A causa do problema da alguma indicagdo quanto a especie de acflo de enfermagem reque- rida para o.resolver. 2. Objectivos ou resultados esperados A fase seguinte no planeamento consisteem declarar resumidamente que especie de resultado o enfermeiro e o doente, juntos, decidem face a cada problema. Tal como os problemas sao identificados, observando ou comunicando com o doente, assim depois de os cuidados de enfer- magem serem aplicados, dever-se-d procurar observar, ou descobrir, no doente quais foram os efeitos ou os resultados desses cuidados. Por exemplo, para urn doente com urn problema de desidratagdo devido a 40 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica insuficiéncia de liquidos ingeridos, procura-se estabelecer urn objectivo e espera-se urn resultado na ordem do 2,5 litros de liquido ingerido nas 24 horas. Observar-se-a posteriormente se esse resuhado é alcancado. Poder-se-a tambem observar os sinais nao verbais da expressao facial, como diminuicao da agitagao, que podem ser resultados esperados nos cuidados de enfermagem corn vista a atenuar a ansiedade. 0 prOprio doente pode comunicar os resultados dos cuidados de enfermagem com vista a atenuar, por exemplo, a insOnia ou obstipacao Os resultados esperados, portanto, sbio demonstrados pelo compor- tamento do doente e nao pela accao do enfermeiro, constituindo uma base importante para avaliacdo dos cuidados de enfermagem. Logo, quanto mais precisos forem os resultados, mais eficazes se tornam. E quando possivel, quantificar os resultados esperados e o periodo de tempo para os conseguir. 0 exemplo acima dado (2,5 litros nas 24 horas) ilustra isto. E importante que, tanto quanto possivel, o doente tenha conhecimento dos cuidados que the sao dispensados. 3. Aceeies de enfermagem A terceira fase no piano de cuidados consiste ern indicar, de forma concisa, as accilies de enfermagem tragadas para alcancar os resultados esperados, a forma como eles devem ser executados e qual a sua fre- quOncia. Por exemplo, para urn doente corn um problema de tilcera de pressdo e corn alguma incapacidade em se mover na cama, podem ser estabelecidos como resultados esperados: a inexisténcia de solugOes de continuidade na pele das nadegas ou cotovelos. A aced() de enferma- gem prescrita sera, neste caso: mudar de posicao de duas ern duas horas (10, 12, 14, 16, 18, 20 horas, etc.) Para urn doente corn urn desgosto, devido a morte de urn cOnjuge, por exemplo, os objectivos poderao ser: capacidade para falar acerca da perda, expressar emocilies, readquirir o interesse ern assuntos pessoais. As accees de enfermagem podem incluir: facilitar que o doente expresse as suas emocOes, proporcionando-lhe ocasido para estar sozinho; ser optimista acerca da possibilidade de voltar a adquirir inte- resse pela vida. A prescricdo das accilies de enfermagem que irdo permitir uma solucao efectiva dos problemas do doente é o principio basico da pratica da enfermagem profissional. A destreza é importante ern enfermagem, certa- mente. Mas, a nao ser que as accOes de enfermagem sejam realmente dirigidas ao problema individual do doente, e se justifiquem, podem ser perigosas, ou uma simples perda de tempo. A perscricao das accOes de enfermagem so pode ser eficiente se o enfermeiro tiver conhecimento dos dados fisiolOgicos, psicolOeicos e sociais que estao na base das deficiOncias na autocuidado do doente. Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o process() de enfermagem 41 0 conhecimento dos efeitos da doenga em algumas actividades da vida diaria pode exigir o conhecimento da fisiopatologia. 0 enfermeiro, entao, necessita de ser capaz de rever possiveis formas alternativas de aced() da enfermagem e de seleccionar aquelas que paregam mais adequadas aos problemas, a sua origem e fisiopatologia. A enfermagem, ao longo dos anos, adquiriu muitas normas de rotina. Para algumas delas ha uma base lOgica bem estabelecida. A sua eficacia foi concretizada pela investigagao. 0 enfermeiro procurard constante- mente rever a base da perscrigao das acceies de enfermagem, alguns enfermeiros podem mesmo testar a sua eficiancia atravês da investigagdo. 0 enfermeiro experimentado interiorizard as decisoes acerca das quail as aceOes de enfermagem podem ser mais apropriadas. 0 estudante de Enfermagem pode obter Optimos resultados exteriorizando as decisOes que toma, relatando a justificagao das suas prescriebes de acgeies de enferma gem. Isto pode ser muitas vezes uma experiencia salutar e esti- mulard urn estudo futuro. Os problemas do doente, os objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem e as prOprias acgOes de enfermagem para obter estes resultados são o essencial do piano de cuidados. Nao se trata porem de urn instrumento estätico. Os cuidados de enfermagem a urn doente sao uma tarefa dinamica e algumas vezes constante. Enquanto os cuidados estao a ser executados, ha necessidade de revisao, de nova avaliacao e de novo planeamento. E tambem necessario que haja uma indicacdo acerca de quern deve estar a executar as acgOes de enfermagem, qual o ambiente em que o doente deve ser tratado, etc. Estes factores sac) considerados na fase de implementagao. Resumindo, o piano de cuidados é constituido pelos seguintes elementos: 1. A histOria clinica de enfermagem para compilacao de dados; 2. Identificagao dos problemas do doente (actuais e potenciais) atraves da apreciagäo; 3. Objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem; 4. As acceles de enfermagem ou o piano de cuidados de enfermagem tragados part atingir objectivos; Acceies de enfermagem (ou piano de cuidados de enfermagem) Problemas do doente Resultados esperados 42 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica 0 kardex (dossier A4 em que, nos hospitais, sobretudo ingleses, se fazem anotaedes de enfermagem), ou outro documento para o piano de cuidados, sera adaptado a estes elementos (ver exelnplo, figura 11). Entao, é (ail que os principios «problemas do doente», «resultados espe- rados» e «accdo de enfermagem» possam ser anotados de forma a que, num relance, haja possibilidade de os comparar. Fase 4: Implementagdo Elementos POt o piano em accdo Capacidades Tecnicas de comunicacalo interpessoal ao prestar cuidados. Ensino Aconselhamento Organizagâo do trabalho 1. Grau de dependência A fase de implementacdo do piano de cuidados para um doente signi- fica muito simplesmente por o piano em prâtica, aplicando as accOes de enfermagem prescritas. 0 grau de autoproteccao que o pr6prio doente pode manter sera apreciado e o piano de cuidados Comas este facto em consideragdo, de modo a que as accOes de enfermagem sejam selec- cionadas por graus de depenancia. Nos casos extremos, quando, por exemplo, o doente estal inconsciente ou se trata duma crianca, o enfer- meiro deve tomar inteira responsabilidade por todas as actividades do dia-a-dia, caso em que substitui a autocuidado. Em resumo, o doente pode ser capaz de manter, umas vezes mais, outras menos, uma optima quantidade e qualidade das actividades da vida didria, e o enfermeiro actua como ajudante, assistente ou agente no autocuidado. Ism implica uma cuidadosa andlise do doente, acerca do que ele gosta de fazer, bem como a forma como o faz. 2. Categorias de accdes de enfermagem Existem categorias diferentes de accOes de enfermagem. As capaci- dades manuals sal° necessarias para dar ajuda fisica e assisténcia, mas as capacidades psicolOgicas sdo tambêm necessarias, para dar apoio Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 43 emotional e ajuda. 0 enfermeiro pode tambem adoptar recnicas de aeon- selhamento ou, quando a informacao é necessana, tecnicas de comu- nicacao e ensino. Aprender a prestar a assisténcia e a implementar pianos de cuidados constitui uma pratica que influird na compethricia neces- sada em todas as capacidades exigidas. Em muitas situaeOes de enfermagem, elas sao, e evidente, empregues em conjunto. Para combater a dor, por exemplo, pode exigir-se a apli- cagdo de medidasfisicas, ajuda psicolOgica, aconselhamento e infor- macdo. 3. Proporcionar ambiente favordvel a prestagdo de cuidados Um aspecto importante no planeamento de cuidados é proporcionar urn ambiente adequado para a prestagdo de assistència ao doente. Se as actividades de enfermagem prescritas indicam que o doente requer observagdo e accOes de enfermagem internas deve ser colocado na unidade adequada. A mobilidade reduzida pode implicar que o local devia ser perto, por exemplo, das instagOes sanitarias (a reeducagao vesical como pane do piano de cuidados podera näo ser atingido de outra forma). A higiene da unidade bem como o tipo de equipamento contribuem para um ambiente no qual o piano de cuidados pode ser aplicado em seguranga e corn eficiência. Readquirir a independancia para se vestir e para se alimentar pode nth) ser possivel sem roupas adap- tadas e sem instrumentos de ajuda para a alimentagdo. 0 ambiente psicolOgico é sempre importante, mas pode ser vital nos pianos a Longo prazo para as pessoas mais idosas e mentalmente doentes. Favorecer urn ambiente conveniente e portanto uma parte integrante da imple- mentagao do piano global de cuidados individuais para o doente. 4. A organizactio dos cuidados de enfermagem As capacidades de enfermagem relativamente a urn doente são avaliadas no piano de cuidados especificos. E necessario indicar, por exemplo, quail os enfermeiros responsaveis pela implementaeâo do piano. Esta distribuiedo tern, durante muitos anos, sido vista como uma fungdo do enfermeiro chefe, o qual fard uma avaliagdo das necessidades, bem como dos cuidados de enfermagem exigidos e da distribuicao do pessoal de enfermagem, por forma a aplicar o piano de cuidados, sendo entdo designadas as tarefas. Na geralmente, conclui-se que a importancia da andlise das necessidades individuais e o planeamento para a realizagdo das mesmas numa base individual significa que os enfermeiros, ag usarem o processo de enfermagem, adoptam uma distri- 44 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica buicao do trabalho mais centrada no doente. Utilizam adaptacOes do metodo de trabalho individual ou de equipa. Esta mudanca do metodo de distribuicao do trabalho Mão é fâcil para enfermeiros que estao habi- tuados ao metodo de trabalho por tarefas. No capitulo 8 e descrito urn metodo de distribuicao de trabalho, mas, qualquer que seja o metodo usado, est -do envolvidos certos principios. Urn enfermeiro deve ser sempre responsavel pela elaboracdo do piano de cuidados, o que parte da sua aprendizagem, pois os estudantes neces- sitam que Ihes seja ensinado o piano de cuidados e de adquirir pratica de supervisdo. 0 enfermeiro chefe pode, portanto, delegar o piano de cuidados de alguns doentes noutro enfermeiro da equipa, e os enfer- meiros podem igualmente supervisar a actuagdo dum estudante de planeamento de cuidados. Quando isto acontece, o papel do enfermeiro chefe e alterado. De preferencia, ele deve sempre manter as responsabi- lidades pelos pianos de cuidados de alguns doentes, mas, enquanto se responsabiliza, pode delegar o planeamento para alguns doentes noutros enfermeiros. Se faz isto acentua o papel de orientador. Por outro lado, a relacdo corn os colegas medicos pode mudar, o que e descrito no aludido capitulo 8. A importancia do papel do enfermeiro ou do estudante sob a super- visao daquele, que entretanto se encarrega da apreciaflo, assume urn particular significado, uma vez que as situagOes descritas neste livro mostram que ao enfermeiro e reservado o papel de «primeiro respon- savel», porque ele é afinal o responsdvel em primeiro Lugar pelos cuidados corn o doente. Ao apreciar os seus problemas estabelece os respectivos cuidados e avalia-os, assegurando a responsabilidade pelo tratamento posterior. 0 enfermeiro precisath, contudo, muitas vezes de ser assistido para poder implementar o piano de cuidados e para por em pratica as acedes de enfermagem prescritas. Algumas accOes de enfer- magem sac) mais bem executadas por dois enfermeiros (por exempla, levantar urn doente ou fazer uma cama); destes, urn deles e o respon- sável, que, estando ao servico, orienta as accOes de enfermagem pres- critas. 0 enfermeiro responsävel precisa, portanto, de ter urn enfermeiro auxi- liar. Quando se ausenta por urn periodo de tempo, o enfermeiro respon- savel necessita de ter urn relatario quanta aos progressos do doente, resultados de qualquer cuidado prestado, ou eventuais indicacOes sobre se o piano de cuidados deve ser mudado. E funcao do enfermeiro responsävel verificar se o piano de cuidados estd a ser cumprido e se se regista uma evolucdo da situagdo do doente, de acordo com o que estd previamente determinado. Deste modo, o piano de assisténcia comunicado a todas as pessoas envolvidas nos cuidados corn o doente, por forma a que a mudanca de turno, por exempla, não provoque irre- gularidades no tratamento. Processo de planeamenlo dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 45 Ha uma responsabilidade definida perante os colegas e a sociedade nos cuidados directos e na necessaria supervisao que Cabe aos enfer- meiros responsaveis por cada doente. A partir desta situacao, o enfer- meiro responsdvel esta habilitado a fornecer informacoes detalhadas ao medico de servigo e a outro pessoal medico acerca da situagao de qual- quer doente que esteja a seu cargo. A contrapartida destes cuidados e a comunicacao acerca de quaisquer testes ou diagnOsticos ou de aspectos de tratamento, os quais podem modificar o piano de cuidados e necessitarem de ser incorporados no piano. Os enfermeiros sao responsaveis pela coordenagao de todos os aspectos dos cuidados de sande dum doente, de acordo corn o seu padrao de vida. Independentemente de quem e o enfermeiro respon- savel, o piano de cuidados deve ser entregue a um enfermeiro clara- mente identificado, que tomard a responsabilidade pela implementagao dos tratamentos. Resumindo, a implementagao envolve: I. Aced() de enfermagem ajustada ao grau de dependencia do doente; 2. A utilizagao de enfermeiros segundo a sua capacidade de enfermagem especifica (manual, psicolOgica, de aconselhamento, comunicagao e ensino) no sentido de poder aplicar correctamente as acgOes de enfer- magem prescritas; 3. Necessidade de favorecer urn ambiente adequado de cuidados; 4. A organizagao dos cuidados de enfermagem mediante a identificagao do enfermeiro principal com responsabilidade pela apreciagao do doente e do piano de cuidados e a identificagao dos enfermeiros auxi- Hares, que permite uma eficaz implementagao do piano de cuidados. Fase 5: Avaliacão Elementos ComparagaoThe resultados actuais corn resultados esperados Reapreciacào Capacidades Apreciacao A Ultima fase do processo e a avaliagao, isto e, a avaliagao dos cuidados prestados. A enfase principal e colocada na comparagao entre os resultados efectivos na evolugao da doenga e os resultados esperados. Se o piano de cuidados determinar os objectivos ou os resultados espe- rados claramente em termos de mudangas que se espera se verifiquem no doente no decurso de um period() de tempo dado, é possivel apre- ciar se foram alcangados. Esta é a raid() por que e tao importante uma indicagao clara dos resultados esperados. Sem isto, a avaliagao da eficacia dos cuidados de enfermagem torna-se vaga e subjectiva, uma vez que a avaliagao é uma forma de reapreciacao. 46 A enfermagem e o processo de enfermagem na prilica Os cuidados de enfermagem executados para resolver urn problema, por exemplo, de deficiente ingestao de liquidos, para o qual o resul- tado esperado era «2 litros e meio de liquido ingerido em 24 horas», pode ser avaliado observando os liquidos realmente ingeridos no decurso das 24 horas. 0 alivio da dor pode ser avaliado atraves do relato e da experiéncia subjectiva do doente. Os criterios para a avaliaedo dos cuidados de enfer- magem sdo portantoaspectos do comportamento do doente: 1. O. que o doente diz; 2. 0 que o doente faz; 3. 0 que o doente aparenta. Sao os mesmos aspectos do seu comportamento agaves dos quais nos inicialmente apreciamos que ele tinha uma limitagdo de autocui- dado. 0 problema de «incapacidade para andar» é substituido por «capacidade de dar tees passos corn ajuda»; a «incaPacidade para manter a higiene pessoal» é substituida por «capacidade para lavar a cara corn ajuda». A apreciagdo da eficacia dos cuidados de enfermagem chama dente modo a atenedo para a imporfancia de haver objectivos precisos e estipula os momentos em que estes devem ser atingidos. Deste modo, o piano de cuidados escrito necessita de uma quarta coluna anexa, em que se inscrevera: «resultados actuais», «notas de evolucdo» ou «avaliacdo». Ainda poderia acrescentar-se uma quinta coluna, para as datas em que se iniciou, em que foi interrompida e a data em que terminou a accdo do enfermeiro. Assim: Problemas do doente Resultados esperados Acceies de enfermagem Evoluecio (resultados actuais Datas Quanto mais explicitas estas colunas forem, melhor, embora isto implique alguma habilidade na elaboracdo dos impressos. Resumindo, o planeamento dos cuidados de enfermagem, tern os elementos seguintes: I. HistOria clinica da enfermagem atraves da colheita de dados; 2. Identificacao dos problemas do doente (actuais e potenciais) atraves dos dados, devidamente apreciados; Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o process() de enfermagem 47 3. Objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem; 4. AceOes ou pianos de cuidados de enfermagem necessarios para alcancar objectivos; 5. Notas da evolugao ou sobre os resultados actuais (avaliagao); 6. Data da cessagao das accOes de enfermagem. Objectivos nao alcanfados Os objectivos estabelecidos nem sempre sac) alcancados. Pode haver varias razOes para essa situagdo: a) A apreciacao foi inadequada e incorrecta; b) As accOes de enfermagem prescritas eram inadequadas ou irrealistas; c) As accOes de enfermagem nao foram implementadas adequadamente; d) Os resultados esperados nao foram entendidos correctamente. Por outras palavras, a falha na consecucao dum objectivo requer uma revisao de cada fase do processo e da eficiencia corn que o mesmo foi efectuado. 0 processo torna-se circular (verificar figura 6), na medida em que a apreciacao, o piano e a implementacao sae revistos, ou na medida em que algum factor interveniente novo, de que nao nos tinhamos ainda apercebido, necessita ser incluido no piano. A avaliagao atraves de resultados que se espera fornecer ao doente é, assim, uma.parte do que se entende por utilizacao sistematica do processo de enfermagem, mas a revisao de cada fase do processo e urn modo de avaliar a actuacao do enfermeiro em cada uma das fases. E profissidnalmente desejavel, para o enfermeiro, ser capaz de se distanciar da sua actuacao e tentar avalid-la. As fases do processo de enfermagem formam uma base para o enfermeiro rever a sua prOpria actuacao (auto-avaliagao); ele pode tambem pedir a urn colega para avaliar a sua apreciacao, planeamento e capacidades de actuagao (avaliacao pelas fases). Para efeitos de registo ou de controle, a avaliacao por urn supervisor pode ser feita utilizando o processo de enfermagem. Estrategia titil utili- zando o processo de enfermagem é uma discussao corn o pessoal da unidade, baseada na apresentagao, por um grupo, do planeamento dos cuidados a urn doente. Esta discussao é efectuada uma vez por mes 48 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica na unidade associada ao Departamento de Enfermagem do Manchester Royal Infirmary. E uma experiencia de aprendizagem util para rever em conjunto a eficiencia com que os problemas do doente foram iden- tificando as inferencias feitas corn base na informacdo e a eficacia das acceies de enfermagem prescritas. Na parte II deste livro descreve-se a nossa experiencia de utilizacao do processo de enfermagem. Para simplificar, apresentamos uma visao do processo de enfermagem aplicada a doentes hospitalizados. E nossa °pinta.° que o processo a igualmente aplicavel em areas especializadas, tais como enfermagem obstetrica e enfermagem na comunidade. Certas alteragOes na enfase e nas tecnicas podem ser necessarias, mas a abor- dagem na tomada de decisees no planeamento pode ser adoptada em todos os campos de enfermagem. Parte II Parte II A PRATICA DA ENFERMAGEM PELO PROCESSO DE ENFERMAGEM Introducdo Na Pane I, foi descrito urn quadro conceptual para a pratica da en- fermagem e a utilizagdo do processo de enfermagem. Na Parte II é des- crito o sistema desenvolvido em associagao corn o Departamento de Enfermagem na Universidade de Manchester, e as implicagees praticas sao examinadas corn maior profundidade. Em 1976 foi fundada uma unidade de enfermagem escolar na Man- chester Royal Infirmary, para proporcionar uma base clinica para o De- partamento de Enfermagem da Universidade. Os objectivos tragados para fundar a unidade foram os seguintes: 1. Possuir urn local para a pratica clinica no Departamento de Enfer- magem, o que ]he dare credibilidade perante os estudantes, o pes- soal medico e de enfermagem e o 2. Instituir e avaliar nomeagees conjuntas, entre o Servico Nacional de Sande e o Departamento Universitario, de modo a que o ensino no departamento seja baseado numa pratica realista. 3. Testar formas gestao dos cuidados de enfermagem, ensinadas no departamento, atraves, por exemplo, da utilizageo do processo de enfermagem. 4. Testar a relacao entre a pratica medica e a de enfermagem no mo- memo de tomar decisees sobre os cuidados. 5. Proporcionar urn ambiente no qual os metodos clinicos possam ser ensaiados. No prefacio foi feita referencia as duas nomeacees conjuntas iniciais, sob a responsabilidade do Servico de Sande, de enfermeiro chefe a meio 52 A pritica da enfermagem pelo processo de enfermagem tempo, numa unidade de traumatizados. Apes urn periodo de orienta- cdo, foram feitas mudancas na organizaeâo do trabalho de enferma- gem (passando duma distribuicao do trabalho par tarefas para o con- tacto centrado no doente) e mudangas dirigidas para a implementacao do processo de enfermagem. Os metodos de apreciagdo e registo fo- ram modificados, consoante a experiencia adquirida. Apes tres anos, as nomeacties conjuntas mudaram para uma unidade nova de aprecia- gdo geridtrica, onde, posteriormente, foram feitos progressos. Os capitulos que se seguem baseiam-se na experiencia em ambas as situacees. 4 Colheita de dados na prdtica A nossa experiencia diz-nos que a recolha de informagOes acerca do doente ou a elaboragdo da historia clinica de enfermagem executa-se melhor em duas fases: 1. Na primeira fase, a historia clinica de enfermagem e elaborada logo apOs a admissao do doente no hospital, e fornece informagdo sufi- ciente para o enfermeiro iniciar os cuidados. A informagdo, obtida atraves, a) duma entrevista relativamente curta e superficial corn o doente e/ou familiar ou amigo; b) urn exame sistematico ao doente da cabega aos pes, e c) uma apreciagdo da tendencia para Ulceras de pressdo usando as escalas de Norton (1975) ou Knoll (Blicharz, 1979). 2. Na segunda fase, a historia clinica de enfermagem requer urn exame fisico e psicolOgico mais detalhado, e pode incluir o use de instru- mentos mais sofisticados em areas problematicas, como, por exem- plo, o estado de nutrigdo. Primeira fase da historia clinica de enfermagem 0 aspecto geral da primeira fase da historia clinica de enfermagem e mostrado na figura 7 numa serie de titulos (os principais dos quais estaio abaixo indicados) com espagos, de modo a que os enfermeiros preencham os pormenores. GOSTA QUE LHE CHAMEM... Esta a uma informagdo importante, para comegar. Nem todos os ido- sos gostamde ser tratados pelo primeiro nome ou que ]he chamem «avo- zinho». As criangas, por sua vez, podem ter um diminutivo e nâo res- ponder ao seu verdadeiro nome. 7 Parente mais pr6ximo Data de nascimento: Idade: N.° Telefono Des* ser tratado por: 54 A pritica da enfermagem pelo processo de enfermagem Apelido Nome(s) preprin(s) Morada Data de admissao no hospital Unidade Medico assistente Razao da admissdo: Diagnestico medico: Medico responsavel: 0 que 6 que o doente ou a familia conhecem do seu estado de satide Reaccao do doente e/ou a familia a admissdo no hospital Condiodes habitacionais Figura 7 I mpresso para a primeira fase da hist6ria clinics de enfermagem. Colheita de dados na pratica 55 Assinatura Data Histaria obtida atravös do doentetacompanhante (indicar nome) Processo n° Pessoa corn quern se relaciona melhor Outros de certa importancia/animais domesticos Recursos comunitarios (centre de sande, assistants social, refeinCes ao domicilio...) Hist6ria geral do estado de saiide e hospitalizagâo previa Praticas religiosas ou crencas qua constituem uma ajuda para o doente Actividades recreativas e trabalho passado/presente ApreciagEo geral na admissão N. B. Escreva o nome cla pessoe qua elaborou a apreciapio a se estelo envolvidos o doente ou familiar ou ambos Figura 7 Continuagno. 56 A pi-Rica da enfermagem pelo processo de enfermagem RAZAO DA ADMISSAO E Call saber como o doente ou a familia \Teem a raid° da sua admis- sao. Nem sempre a raid° por eles atribuida para a admissão coincide corn a do medico, corn a qual, de resto, deve ser comparada. 0 QUE 0 DOENTE OU A FAMILIA SABEM SOBRE A SUA SALIDE O doente ou a sua familia podem ter uma ideia muito incompleta ou errada sobre a sua doenca e o motivo da admissao. Por exemplo, terd a nocao de que ficard no hospital pelo menos quatorze semanas corn uma fractura do femur; ou sabera que tern urn cancro e que vai fazer tratamento citostático. A sua percepedo, seja ela . qual for, sobre a doenea tern implicacOes na comunicagdo do enfermeiro corn de. REACCAO DO DOENTE/FAMILIA A ADMISSAO AO HOSPITAL E util apreciar a reaccdo do doente e/ou familia a sua admissão. 0 doente pode falar livremente acerca das suas ansiedades, ou pode estar relutante ern falar, e nesse caso elas nao serem expostas. 0 doente pode ser incapaz de partilhar, , mesmo corn os seus familiares mais prOximos, a ansiedade que sente. E importante que tais situaciies sejam tidas em conta no piano de cuidados. CONDICOES HABITACIONAIS O conhecimento do ambiente ern casa e das prOprias caracteristicas habitacionais a importante ao planar a reabilitaflo e a alta. Por exem- plo, é importante para efeitos de planeamento saber que urn doente cardiac° vive num apartamento muito alto, sem elevador; que a casa de banho é exterior; que, no caso de se tratar de uma pessoa idosa, a existencia de escadas pode ser perigosa, assim como a utilizacao dum sistema de aquecimento, se este exigir, por exemplo, que o doente pe- gue ern recipientes pesados corn carvao. PESSOA COM QUEM SE RELACIONA MELHOR Os familiares, por muito prOximos que sejam, nao sac) necessaria- mente as pessoas mais importantes na vida dum individuo. Podem vi- ver demasiado longe para serem envolvidos no contacto didrio, ou en- tao nao desejarem envolver-se. A pessoa mais importante na vida de alguem pode na realidade ser o vizinho, o leiteiro, ou o policia da zona. Muitas pessoas idosas, infelizmente, nao tem grandes amigos, e os seus animais domnêsticos podem ser a companhia mais importante na sua vida. Se isto se passa, o piano de cuidados deve considerar estes aspectos. Colheita de dados na intim 57 RECURSOS DA COMUNIDADE A informagâo antes da admissão fornecida pelos servigos, oficiais ou nao acerca da ajuda de que urn doente necessita, acaba sempre por fornecer indicagOes sobre a dependância do doente e, logo, ser titil no planeamento da alta. HISTORIA GERAL DA SAUDE E HOSPITALIZACAO PREVIA Nesta fase de apreciagdo, devem verificar-se as condogOes de satide presentes e anteriores. A informacdo acerca de alergias, doengas crOni- cas e regimas de medicamentos, tais como insulina ou ester6ides, é neces- sdria. Convem saber se o doente esteve recentemente hospitalizado e como foram as suas experiéncias de hospitalizagdo. PRATICAS RELIGIOSAS OU CRENCAS QUE CONSTITUEM UMA ARIDA PARA 0 DOENTE No planeamento para as necessidades espirituais do doente, importa mais identificar praticas significativas do que denominagOes particula- res. A doenga, muitas vezes, desperta ou acentua uma necessidade espi- ritual, e os enfermeiros necessitam de encorajar o doente a expressar os seus sentimentos e necessidades espirituais, nomeadamente lavar as mäos antes das refeigdos como se de urn ritual se tratasse, ou momen- tos de silâncio ou de ()raga°. ACTIVIDADES RECREATIVAS E TRABALHO PASSADO/PRESENTE 0 conhecimento de actividades recreativas, tais como ler livros, revistas e jornais ou ouvir programas de radio e mdsica, podem considerar-se titeis no planeamento do dia-a-dia do doente, para diminuir o aborre- cimento e inaitividade, ou para ajudar a reabilitagdo dum doente corn AVC ou ern recuperacäo dum traumatismo craniano. 0 trabalho e o estilo de vida em geral podem ser alterados definiti- vamente devido aos efeitos da doenca. Ern alguns casos, o trabalho pas- sado e o estilo de vida podem contribuir para a doenca ou agrava-la. APRECIACAO GERAL NA ADMISSAO A primeira fase da histOria clinica de enfermagem deve terminar corn uma breve descrigão do estado fisico e emocional do doente, aquando da admissäo. Uma observacdo sistematica da cabega aos pes pode ser efectuada corn o auxilio duma imagem (figura 8). Isto ajuda a identi- ficar, por exemplo, a dificuldade em respirar, deficiente circulagäo peri- ferica, a pele, x nutricao, a mobilidade e disttlrbios sensoriais. 58 A prifica da enfermagem pelo processo de enfermagem A informacao basica é completada corn registos de temperatura, do pulso, da respiragdo, da tensdo arterial e do peso. A susceptibilidade a dlceras de pressào é apreciada utilizando a Knoll Pharmaceutical Scale (figura 9). Quanto mais elevada for a contagem total nesta escala, maior o risco de desenvolvimento de Ulceras de pressdo. Exemplos de apreciagOes da primeira fase sdo dados nas figuras 10 a 12. RESPIRAQA0 CIRCULAQAO TEMPERATURA EQUIPAMENTO INFLUENCIAS SOCIOCULTURAIS PESSOAS, SIGNIFICATIVAS PARA 0 DOENTE Colheita de dados na pratiea 59 ALGO QUE CHAME A ATENQAO (I DADE, SEXO. RACA, ESTADO GERAL) CABECA CABELO E COURO CABELUDO /CAN S MENTAL AUDICAO BOCA VISA() Figura 8 A apreciaego do homem — Guia, na cabeca aos pes, para uma apreciacdo do doente na admissao (segundo Wolff and Erikson, 1977) PARAMETROS 0 1 2 3 Resultado Estado geral de satide Estado mental Actividade Mobilidade Incontinência Ingestao oral de alimentos Ingestdo oral de Iluidos Predisposigao para doengas (diabetes, neuropatias, doenca vascular, anemias) Born Marla AmbulatOrio Total Nenhuma Boa Boa Nula Razoavel Letargico Necessita ajuda Limitada Ocasional Razoavel Razoavel Ligeira Deticiente Semicomatoso Moribundo Comatoso Contagem des as condicdes em duplicado Limitado a cadeira Mull° limitada Geralmente de urina Acamado I mobilidade Total de urina e fazes Deficiente Deficiente Moderada Nenhuma Nenhuma Grande ‘ Quanto mais elevado e o resultado major é o potencial para desenvolver Olceras de pressao. Os doentes corn resullados acima (12) devem ser considerados em risco. Figura 9 Escala de risco de tilceras de pressdo (por cortesia de Knoll Pharmaceutical, CO. New Jersey, 1977). O 113 ao S eD oo a ry C D
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