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Guia para a Pratica da Enfermagem O Processo de Enfermagem

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Guia para
A Pratica da Enfermagern
O Processo de Enfermagem
Baronesa McFarlane of Llandaff
Professora e Directora do Departamento de Enfermagem
da Universidade de Manchester
George Castledine
Assistente clinico
da Manchester Royal Infirmary
e Departamento de Enfermagem da Universidade de Manchester
PREFACIO A EDICk0 PORTUGUESA
Marta Lima Basto
Enfermeira-D irectora
da Escola de Enfermagem Pos-Basica de Lisboa
RECOMENDADO PELA
ASSOCIACAO PORTUGUESA DE ENFERMEIROS
Lisboa
1988
fndice
Prefecio a edicdo portuguesa 9
Prefecio 11
Parte I
A ENFERMAGEM E 0 PROCESSO DE ENFERMAGEM
NA PRATICA
Introducdo 15
1 Natureza e caracteristicas da enfermagem 17
2 Elementos da enfermagem — um quadro conceptual 23
3 Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem
— o processo de enfermagem 29
Elementos de urn sistema de planeamento. de cuidados
de enfermagem 29
Fases do processo de enfermagem 30
Parte II
A PRATICA DA ENFERMAGEM PELO PROCESSO
DE ENFERMAGEM
Introducdo 51
4 Colheita de dados na prâtica 53
Primeira fase da histOria clinica de enfermagem 53
Segunda fase da hist6ria clinica de enfermagem 69
5 Capacidades para a colheita de dados na pratica 75
Entrevistar 75
Observar 82
Ouvir 83
Completar a hist6ria clinica de enfermagem 86
Doente que requer cuidados de curta duracâo 93
6 A apreciagão na pretica 97
Identificacao dos problemas 97
Problemas actuais e potenciais 99
Encaminhamento dos problemas 100
Problemas de enfermagem do doente versus diagm6stico
medico 100
Identificagdo dos problemas 102
7 0 planeamento na prätica
Resultados esperados
O piano de cuidados de enfermagem
(prescricao das acciies de enfermagem)
Plano de cuidados
Plano de cuidados tipo
8 A implementacao na pratica
Acceies de enfermagem
Organizacao dos cuidados de enfermagem
Enfermagem primaria
Terminar a relacao
Interrupcao na organizacao dos cuidados
pelo metodo de distribuicao de trabalho
«por responsaveis»
A equipa multidisciplinar e o processo de enfermagem
Transferencia
9 -A avaliacao na prâtica
Avaliagao por objectivos ou resultados esperados
Avaliacao a curto prazo ou continua
Aspectos a considerar ao escrever pianos
de cuidados e notas de enfermeiro
Reunities para discussao
de casos centrados no doente
Reuniiies de passagem de tumo
Avaliacao do trabalho do enfermeiro
Como ultrapassar alguns problemas habituais
ao utilizar o processo de enfermagem
Anexo I
UM CASO DE ESTUDO REAL UTILIZANDO
0 PROCESSO DE ENFERMAGEM
Anexo II
APRECIACAO DO ESTADO DE CONFUSAO
Anexo III
EXERCICIOS PARA ESTUDANTES
Anexo IV
BIBLIOGRAFIA INGLESA SOBRE 0 PROCESSO
DE ENFERMAGEM
REFERENCIAS
INDICE REMISSIVO
Uma centena de enfermeiros portugueses vivenciou corn George Cas-
tledine a sua compreensdo dos outros, doentes e enfermeiros, e a sua
capacidade para ensinar, centrada naquele que quer aprender, ou seja
melhorar o seu comportamento professional, aumentando simultanea-
mente o prazer de ser urn enfermeiro competente. A6onteceu em Lis-
boa, ern 1981, no Primeiro Symposium Nacional sobre Processo de
Enfermagem, orientado por ele e organizado pela Escola de Ensino e
Administractio de Enfermagem.
Nos seis anos que se seguiram, muita coisa mudou nos cuidados de
enfermagem prestados pelos enfermeiros portugueses, de Braganca a
Portimtio, passando por Abrantes. Muita coisa mudou na forma de ensi-
nar os alunos de Enfermagem. E, apesar da nossa natural e sauddvel
insatisfacdo colectiva, uma observagdo objective mostra que uma des
mudangas se refere a forma de encarar o processo de enfermagem como
metodologia de trabalho dos enfermeiros.
E a partir dal, as interrogagdes sobre o/os quadro conceptual que
podem e devem influenciar a prdtica da enfermagem nas diferentes dregs
de actuacito e junto dos diversos grupos populacionais a quern se pres-
tam cuidados de enfermagem. 0 processo de enfermagem a uma ineto-
dologia dind mica e a sua utilizacdo origina novas actuacdes, pondo em
cause valores estabelecidos. Essa uma des razdes por que a sua utilize-
gab sistemdtica tarda entre nos, como noutros paises. Outras razdes estdo
ligadas ao ntimero e preparacdo dos enfermeiros e a sobrecarga coin
outras actividades que nil° nos scio praprias. Parece-me portanto neces-
sdrio que, simultaneamente corn a teorizactio dos cuidados de enfer-
magem e corn a conquista de melhores condicoes de trabalho, se
desenvolva o que e bdsico em enfermagem — a observacdo rigorosa,
acompanhada naturalmente do respectivo registo, e a comunicacdo corn
o doente e entre a equipa terapeutica, que inclui validaccio dos proble-
mas, dos resultados esperados e da intervencdo dos enfermeiros, o que
é muito bem realcado no presente livro.
E por isso que considero que este Guia, apesar dos exemplos essen-
cialmente do campo hospitalar, por serem vividos pelos prOprios auto-
res, facilita a aprendizagem de todos aqueles que querem melhorar os
cuidados de enfermagem, qualquer que seja o seu local de trabalho.
E uma excelente introducdo ao assunto, para os que comecam, e uma
fonte de ancilise e reflexclo para os iniciados.
Boa leitura e utilizacdo do processo de enfermagem no seu local de
trabalho!
Lisboa, Setembro de 1987
MARTA LIMA BASTO
Prefacio
Em 1973, o Departamento de Enfermagem da Universidade de Man-
chester organizou urn semindrio, a nivel interno, sob o tema «Processo
de Enfermagem». Desde essa altura, a utilizagao da abordagem siste-
matica como processo de planeamento dos cuidados de enfermagem
tern-se tornado urn elemento importante no seu trabalho pedagOgico
e clinico (junto do doente). 0 planeamento dos cuidados de enferma-
gem corn base na pr6pria enfermagem comegou por ser introduzido
num curso de aptidao, para enfermeiros com experiencia, de Estudos
Avangados de Enfermagem, passando gradualmente a ser introduzido
no programa do curso base (bacharelato de Enfermagem). A familiari-
dade crescente com o processo conduziu a sua utilizagaio como uma
base para identificar o contetido dos curriculos para a avaliagdo da corn-
pethncia clinica dos estudantes. Estes meios educacionais nao teriam
passado de exercicios academicos se o Departamento nao tivesse recor-
rido a um servigo atraves do qual podia avaliar os conhecimentos pra-
ticos, o que se tormou possivel gragas a criagalo de funeees com uma
ligagao mista ao Departamento e ao Servico Nacional de Satide. Logo
em 1976, foram designados dois monitores que desempenhavam a fun-
ea) de enfenneiro chefe no Hospital Manchester Royal Infirmari e simul-
taneamente eram professores no Departamento de Enfermagem.
Trabalhavam alternadamente urn como professor e outro como enfer-
meiro chefe. A primeira experiencia foi feita numa unidade de cirurgia
traumatica aguda.
Passados tre's anos, as pessoas que desempenhavam estes cargos foram
transferidas para uma unidade de apreciagao geriatrica, recentemente
criada. Foi entretanto instituido mais urn cargo misto, em obstetricia.
Nestes primeiros cargos mistos, tern sido possivel desenvolver e avaliar
a utilizacao do processo de enfermagem.
0 Departamento é muitas vezes solicitado no sentido de elaborar rela-
tOrios sobre o trabalho realizado nesta area. Estes temas tern sido desen-
volvidos em artigos a eles dedicados de Ashworth, Castledine e
McFarlane (1978) e Ashworth e Castledine (1980).
Neste livro procura descrever-se, com pormenor, a orientagdo por nos
utilizada na prestagdo de cuidados de enfermagem. Escrito duma forma
simples, destina-se a estudantes de Enfermagem e a enfermeiros que
ainda ndo utilizam o «processo de enfermagem». Contudo, quanto mais
se utilizar tal «processo», mais profundas se tornam as suas implica-
gOes na praticg clinica, na orientagao dos cuidados a ter corn os doen-
tes e bem assim na formagdo e na pesquisa.
Na parte I descrevemos o sistema de valores e aquilo que do nosso
ponto de vista constituia natureza da enfermagem, uma vez que enten-
demos serem estes os factores que determinam os pianos sobre cuidados
de enfermagem. Esbocam-se depois as fases do processo de enfermagem.
Na parte II, a feita uma descried° sobre a maneira"como o processo
tern sido utilizado na unidade associada corn o Departamento de Enfer-
magem da Universidade de Manchester.
Gostariamos de agradecer ao Departamento de Meios Audiovisuais
Medicos da Universidade de Manchester as excelentes fotografias usa-
das neste livro.
Parte I
Nota dos autores
Numa tentativa da aproximacdo da realidade, incluimos nomes
que nao pertencem a pessoas vivas ou mortas, de medicos, er,fe:-
meiros, doentes e seus familiares e amigos, em muitos quadros e
de en fermeiro.
Parte I
A ENFERMAGEM
E 0 PROCESSO
DE ENFERMAGEM
NA PRATICA
Introdug-do
A pratica da enfermagem é moldada pelos valores e ideias que os
enfermeiros e outras pessoas tem da sua pr6pria funcao. A enferma-
gem é uma actividade tao complexa que e completamente impossivel
encontrar uma definigäo simples para uma ampla variedade de accOes.
Contudo, e como as accOes de enfermagem vao passar a estar integra-
das e objectivamente dirigidas, e necessario dar atencao a sua natu-
reza e caracteristicas: o que é e o que nao e. Isto sera feito atraves de
uma serie de consideracoes acerca da enfermagem e apresentando uma
andlise dos elementos comuns a qualquer situacdo em enfermagem.
No final da parte I, indica-se o processo de planeamento dos cuida-
dos de enfermagem; por sua vez, na parte II, são tratados os aspectos
prâticos desse planeamento.
1
Natureza e caracteristicas
da enfermagem
Antes de estabelecer urn piano sistematico de cuidados de enferma-
sem para urn individuo (ou comunidade), ha necessidade de ciarificar
o que se entende por enfermagem, isto e, o que, nesta matária, se vai
planear.
0 significado e a origem da palavra «enfermagem» variam de lin-
gua para lingua, sendo que em algumas dd. ° se encontra equivalente
que a defina. Embora possa haver urn nticleo comum a actividade, o
papel e a funao da enfermagem variam substancialmente de cultura
oara cultura. Segundo o relatOrio da Comissào de Enfermagem (DHSS,
1972), ha imagens pUblicas e profissionais do trabalho do enfermeiro
que estáo por vezes ern contradigdo corn a realidade da enfermagem
cal como ela é praticada.
Na nossa sociedade, a enfermagem faz parte do sistema de cuidados
de sande da responsabilidade do Estado. E uma actividade humana corn-
Diem, que nao cabe numa definiflo simples. As declaradies que se
segtiem acerca das suas caracteristicas certamente contribuirdo para urn
mais correcto entendimento da sua natureza.
1. A enfermagem e os cuidados de saftcle, na nossa sociedade devem
muito dos seus antecedentes histOricos as fundagOes e doagOes crisths
e filantrOpicas, atraves da assistOncia aos pobres. 0 presente sistema
de cuidados de sande faz parte de urn conjunto de financiamentos
interligados''do Estado, que incluem a Seguranga Social e a Edu-
cacao.
0 financial:Trento e efectuado atraves de seguros e impostos; o objec-
tivo initial do Servigo Nacional de Satide (ultrapassado no decor-
rer do tempo) era os servigos deverem ser gratuitos.
A enfermagem é cultural e economicamente determinada.
I Corn urn servigo de sande complexo e tendo fundies que variam
desde o transplante de OrgAos a gestâo de quintas ern hospitais para
deficientes mentais, ha uma grande variedade de especializagOes,
nomeadamente ao nivel do papel social. Dentro deste sistema, a
enfermagem tern uma fungdo muito mais especializada do que pode
18 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica
ter, por exemplo, num pats do Terceiro Mundo, onde tal diferen-
ciagdo de fungOes em cuidados de satide nä° se justificaria. Na nossa
sociedade, o papel social da enfermagem e da medicina;sdo distintos,
embora haja urn certo grau de sobreposicao.
Numa sociedade complexa, a enfermagem e diferenciada e especia-
lizada, tendo urn importante papel nos cuidados de satide.
3. Por derivacdo, a palavra «cuidar» tambem significa «nutrir», tal
como a mae alimenta urn bebe, o que esta de acordo corn pontos
de vista fundamentais sobre a natureza da enfermagem e demonstra
a sua distincao entre o papel do enfermeiro e o do medico.
0 significado da palavra «cuidar» a tambem «nutrir».
4. Num piano mais vasto, o exercicio da enfermagem significa ir ao
encontro de outras necessidades humanas basicas, para a vida e
a sande, tais como os liquidos, o abrigo para dormir e descansar,
o amor, a familia. Estas necessidades podem ser caracterizadas como
fisiolOgicas, psicolOgicas e sociais.
Para a enfermagem, é importante a satisfaceo das necessidades
humanas basicas para a vida e a satide.
5. Estas necessidades basicas sdo normalmente satisfeitas pelo indi-
viduo atraves das «actividades da vida didria» ou «autocuidado»
(Henderson, 1966; Orem, 1980).
As necessidades humanas basicas scio normalmente satisfeitas através
das actividades da vida diaria ou pela autocuidado.
6. A crianga alimentada pela mae é, devido a sua idade, incapaz de
se alimentar a si prOpria, isto é, ha uma deficiencia na capacidade
de o bebe satisfazer as suas pr6prias necessidades nutritivas como
urn adulto. A enfermagem esta relacionada com deficiencias nas
capacidades das pessoas para satisfazerem as suas prOprias neces-
sidades fisiolOgicas e psicolOgicas basicas. Ha, pois, deficiencias na
autroprotecgdo.
A enfermagem estd relacionada corn as dificuldades das pessoas
em executar actividades da vida isto corn deficiencias no
autocuidado.
7. Urn bebe nao pode corresponder as suas necessidades de nutrigdo,
pois, pela sua idade, nao esta suficientemente desenvolvido para
se alimentar ou ir fazer compras. De igual modo, as pessoas mais
velhas podem perder a capacidade para a satisfaedo das suas neces-
sidades basicas. A doenga ou o seu tratamento, como a ignorancia
ou a falta de motivacalo, podem tambem afectar a capacidade dos
individuos para satisfazerem as suas pr6prias necessidades.
Natureza e caracteristicas da enfermagem 19
As deficiências na capacidade de satisfazer as necessidades brisicas,
corn as quaffs o enfermeiro se confronta, podem ser causadas por
desenvolvimento imaturo, deterioraedo das functi es, doenca, inca-
pacidade, regimes de diagndstico e terapeutica, ignorancia ou moti-
vaedo escassa.
S. A falta de capacidade em autocuidar-se varia em grau. E essa
variagdo pode ser de tal forma acentuada que torna o individuo
dependente de uma ou mais pessoas. Tal exigiria um grau minimo
de apoio fisico, psicolOgico ou social, ajuda atraves de apoio moral,
ensino ou mudanga de ambiente. Urn dos recursos da enfermagem
é apreciar a extengdo da deficiância na capacidade de a pessoa
cuidar de si prOpria, ou o grau de capacidade do individuo, da
familia ou da sociedade para compensar a deficiencia, situaedo em
que a habil intervened° da enfermagem é necessaria.
As deficiencias para autocuidar-se variam de especie e grau e tem
de ser avaliadas.
9. No caso da male que satisfaz as necessidades alimentares de um
bebe, trata-se de uma imagem de entrega mUtua e reciproca, na qual
a !tide aprecia as necessidades, proporciona um ambiente de segu-
ranga e alimenta, enquanto a crianga revela e necessidade e cola-
bora mamando, satisfazendo assim essa necessidade. Posteriormente,
na vida, quando a crianga ja ndo mama, sdo utilizados metodos
diferentes para a apreciagdo e intervened°, e a crianga desenvolve
cada vez maior sofisticagdo e indepenancia para satisfazer as suas
necessidades.
A enfermagem substitui, ajuda ou promove as actividades de auto-
cuidado do individuo ou da comunidade. 0 grau de necessidade
tern de ser constantemente reapreciado, e os papeis respectivos do
enfermeiro e do doente desenvolver-se-ao e mudarao, conforme o
doente recupera a capacidade para manter um comportamentocorrecto na autocuidado. Esta em jogo uma relaedo reciproca, e
o doente.tem o direito de contribuir para a tomada de decisOes
acerca dos seus cuidados.
A enfermagem e, essencialmente, uma relactio de mudanca reciproca
e dindmica entre o doente e o enfermeiro. As actividades de enfer-
magem dao ajuda ou assistencia, corn a intenedo de promover e
aumentar as capacidades de autocuidado do individuo ou da emu-
nidade.
10. As deficiâncias na capacidade de satisfazer as necessidades basicas
para a vida e sadde podem ser pontuais ou potenciais. A enfer-
magem tem urn papel bem definido na promoedo da qualidade e
quantidade dos cuidados indispensaveis para a sal:1de.
20 A enfermagem e o processo de enfermagem na prntica
Isto inclui na- o so a divulgacao das formas de satisfazer as necessi-
dades humanas basicas para a vida e sande, mas jambem a moth
vaedo dos individuos e das sociedades para a ctilizacao desse
conhecimento nas actividades de promocao da sande e prevengdo
da doenca, isto 6, na educagdo para a satkle.
A enfermagem desempenha um papel na educacao para a satide,
isto é, ajuda na promoctio da satide e na prevenglio da doenca.
II. A enfermagem ndo e so uma actividade dirigida para a sande e bem-
-estar dos individuos. A satide das comunidades a igualmente vital
e ambas estao intimamente ligadas. A enfermagem promove os
cuidados de sande, actuando na prevenedo da doenca e na assis-
tencia nas actividades de autocuidado das comunidades.
A enfermagem esta relacionada corn as actividades de autocuidado,
tanto dos individuos como das comunidades, e corn a sua inter-
-re/act-1o.
12. Aqueles factores que podem precipitar a necessidade de intervencao
da enfermagem (deficiencias na capacidade de autocuidado causados
por urn desenvolvimento imaturo, deterioracao da funcao, doenca
ou terapeutica, ignorAncia ou falta de motivagdo) podem causar urn
estado de diminuicao na capacidade de satisfazer necessidades
humanas basicas. Recuperar na totalidade a autocuidado pode nâo
ser urn objectivo realista. Mesmo quando a intervencao da enfer-
magem a necessaria, corn grande frequencia, para manter as acti-
vidades de vida diaria, é possivel maximizar a contribuicao do
indivicluo em cuidar de si pr6prio. Nos cuidados de longa duracao
e ao morrer, é importante que a dignidade do individuo seja preser-
vada tanto quanto possivel, ajudando-o a aumentar a sua capaci-
dade em cuidar de si prOprio, e no final da sua vida ajuda-lo a
morrer duma maneira que expresse a sua personalidade e convicedes.
Em algumas situagOes em que ncio d possivel readquirir completa
capacidade em autocuidar-se, a enfermagem mantem a funcao de
autocuidado, maximizando a contribuigcio do indivIcluo, ajudando-o,
no final da sua vida, a morrer corn dignidade.
Natureza e caracteristicas da enfermagem 21
SUMÃRIO DAS DECLARACO ES
ACERCA DA NATUREZA DA ENFERMAGEM
1. A enfermagem é cultural e economicamente determinada.
2. Numa sociedade complexa, a enfermagem e diferenciada e especializada, tendo
um importante papel nos cuidados de satide.
3. 0 significado da palavra «cuidar» e tambdm «nutrir».
4. Para a enfermagem, e importante a satisfacdo das necessidades humanas
bdsicas para a vida e a sadde.
5. As necessidades humanas bdsicas sao normalmente satisfeitas °troves das acti-
vidades da vida didria ou pela autocuidado.
6. A enfermagem estd relacionada corn as dificuldades das pessoas em executar
actividades da vida didria, isto corn deficiencias no autocuidado.
7. As deficiencias na capacidade de satisfazer as nacessidades bdsicas, corn as
quais o enfermeiro se confronta, podem ser causadas por desenvolvimento
imaturo, deterioracdo das funcdes, doenca, incapacidade, regimes de diag-
ndstico e terapeutica, ignordncia ou motivagdo escassa.
8. As deficiencias em autocuidar-se variam em espdcie e grau e tem de ser
avaliadas.
9. A enfermagem 4 essenciahnente, uma relactio de mudanga recfproca e dind-
mica entre o doente e o enfermeiro. As actividades de enfermagem dcio ajuda
ou assistencia, corn a intencdo de prom over e aumentar as capacidades de
autocuidado do individuo ou da comunidade.
10. A. enfermagem desempenha um papel na educacdo sobre a sadde, isto
ajuda na promocdo da sadde e na prevenctio da doenca.
11 A enfermagem estd relacionada corn as actividades de autocuidado, tan to
dos individuos como das comunidades, e corn a sua inter-relacdo.
12. Em algumas situacdes em que tido e possivel readquirir completa capaci-
dade em autocuidar-se, a enfermagem mantdm a funcdo de autocuidado,
maximizando a contribuicao do indivkluo, ajudando-o, no final da sua vida,
a morrer corn dignidade.
Elementos da enfermagem
um quadro conceptual
Nas doze declaracOes acerca da enfermagem enunciadas no capitulo
anterior detectam-se quatro elementos, que estdo interligados e se po-
dem equacionar no seguinte quadro conceptual:
1. Homem
2. Sociedade
3. Sande
4. Enfermagem
Estes elementos podem ser representados num diagrama, conforme
a fi2ura 1, e ser descritos da seguinte forma:
Figura I Urn quadro conceptual para a enfermagem
1. Homern. Os aspectos fisiologicos e sociais sdo necessarios a for-
maga° do individuo, o que significa que ele e urn ser bio-psicossocial,
tendo necessidades basicas para a preservagdo da vida e da saUde, que
Maslow (1954) apresentou corn uma hierarquia: uma determinada ca-
tegoria de necessidades deve ser satisfeita antes que os niveis posterio-
res sejam atingidos:
a) Necessidades fisiolOgicas ou de sobrevivEncia;
b) Necessidades de seguranca e de defesa;
c) Necessidades afectivas ou de relacionamento;
AMBIENTE MUITO FAVORAVEL
Baixo nivel de bem-estar 
21
num (i)
ambiente de alto nivel
E
Eixo da
Baixo nivel de bem-estar
num
ambiente de baixo nivel
Alto nivel de bem-estar
num
ambiente de alto nivel
BEM-
-ESTAR
Alto nivel de bem-estar
num
ambiente de baixo nivel
MORTE
0V
0
X
iu
amide
AMBIENTE MUITO DESFAVORAVEL
24 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica
d) Necessidades de respeito pr6prio;
e) Auto-estima e auto-realizagao.
2. Sociedade. Os recursos de ordem fisica, como alojamento e servi-
gos de sailde relativos ao ambiente (esgotos, lixos, etc.), sao urn ele-
mento essencial, estando intimamente ligados a sande dos individuos;
os factores sociolOgicos tambem determinam a maneira como a sande
e a doenca sac) definidas numa sociedade e a maneira como os seus
servicos de sande sao organizados por forma a tornarem-se acessiveis.
Na nossa sociedade, ha diferengas na maneira como os servigos de sande
sao utilizados pelas varias classes sociais (Black, 1980). A organizagdo
do servigo de enfermagem e culturalmente determinada, estando muito
ligada as raizes histOricas, ao papel da maternidade, a religiao, ao ser-
vigo militar e a situacao das mulheres na sociedade (Davis, 1980).
3. Sande. A enfermagem funciona no campo da sailde. A definicao
de sande da Organizacao Mundial de Sande (1947) —«nao so ausencia
da doenga mas tambem urn completo bem-estar mental, fisico e so-
cial»— e agora vista como sendo algo irrealista. Nos Estados Unidos,
a Comissao Presidencial sobre as Necessidades da Sande (1953) divul-
gou um ponto de vista mais realista e dinamico de sande: «... nao é
Figura 2 Quadro de Satide (de Dunn, 1958).
4. Organizagão de cuidados de sande
Elementos da enfermagem — um quadro conceptual 25
Figura 3 Area da sande, segundo Lalonde (1974)
uma condign° é uma adaptagdo. NAo é um estado mas urn processo.
0 processo adapta o individuo ao ambiente nä° so fisico mas tambem
social.» Dunn (1961) chamou a atengdo para o facto de os individuos
terem niveis de bem-estar diferentes. Ao nivel Optimo chamou «urn bem-
-ester de gran elevado», que definiu como «urn metodo integrado de
funcionar, orientado de modo a maximizer o potential do individuo
no seu ambiente». Ele descreve doiseixos de bem-estar: urn eixo de
sande (da morte ao bem-estar Optimo) e urn eixo do ambiente (do muito
desfavoravel ao muito favorevel). 0 seu quadro de sande (figura 2) mostra
os niveis de bem-estar ern releflo a sande e ao ambiente (Dunn, 1958).
0 ministro da Sande e do Bern-Estar canadiano (Lalonde, 1974) apre-
sentou urn conceito para a area da sande (figura 3), ern que identifi-
cou quatro elementos principais, subjacentes a sande da populace°. Estes
sdo o estilo de vide, a biologia humana, o ambiente e a organizagdo
dos cuidados de sande. Lalonde (1974) sugeriu que a preservagao da
qualidade dos alimentos, a preocupano ern evitar o use excessivo de
drogas, assim como reconhecer os inconvenientes do abuso do elcool
e do tabaco, da-obesidade, da fake de capacidade fisica, e alertar igual-
26 A enfermagem e o processo de enfermagem na prdtica
Papel do medico
Diagnestico Tratamento Cura
da doenga / I\ /14
/ I
/
\\ \ //,
I / I / /\
,
1
/ I /Papel do enfermeiro / \
1/
	\Apreciagao Promogdo da .Maximizagao
(das capacidades autoprotecgeo, da
de autoprotecgão; cuidados de autoprotecodo
defrciencias nas «enfermagem• de manutengáo
actividades da substituigeo, actuacao das actividades
vida didria) como aagente* do da vida
doente para a dieria
autoprotecgdo
Figura 4 Natureza complementar dos papeis do enfermeiro e do medico
mente para as doencas venereas e as mortes por acidentes na estrada
— são problemas de satide nacionais que implicam iniciativas gover-
namentais.
4. Enfermagem. Trata-se de uma actividade humana complexa, para
prestagão de assistancia ao individuo e a colectividade, promovendo e
divulgando as actividades que contribuem para a sande e bem-estar,
particularmente as necessidades humanas basicas, como sejam as fisio-
lOgicas, as psicolOgicas e as necessidades sociais. Estas necessidades sao
normalmente satisfeitas por actividades da vida didria realizadas indi-
vidualmente, e muitos cuidados de enfermagem de tipo nao profissio-
nal sat) executados por familiares e amigos. Quando ha defici8ncias na
auto-suficiencia, de tal natureza que o individuo, ou a familia, sdo inca-
pazes de actuar por si, entao é necessaria a intervencao especializada
e profissional da enfermagem. A enfermagem profissional tern uma rela-
ea° de cooperagao corn a medicina e corn outras actividades relacio-
nadas corn a sairde. Promover e manter as actividades didrias é como
que urn pano de fundo para todas as actividades que preservam a sande,
mantendo em forma o organismo humano. A outros profissionais de
sande cabera intervirem para diagnosticar e tratar a doenca. A enfer-
magem providencia a manutencao do ambiente mais prOprio para a vida,
o que torna todas as outras funcOes relacionadas corn a sande possi-
veis. Num sistema de sande complex°, a enfermagem tern urn papel
essential e distinto a desempenhar lado a lado corn outros profissio-
nais da sande. 0 enfermeiro a a autoridade na continuidade das activi-
dades do dia-a-dia, enquanto o medico a a autoridade para o diagnOstico
Elementos da enfermagem — um quadro conceptual 27
e para o tratamento da doenga. Os papeis, sendo complementares, estdo
estreitamente relacionados, nunca se estabelecendo uma relacdo de opo-
sled°. A figura 4 e uma representagdo em diagrama da estreita relagdo
entre os papeis do medico e do enfermeiro.
Embora os aspectos distintos de cada uma das fungees se vejam no
diagrama, e nitida uma relagdo acentuada entre o medico e o enfer-
meiro no planeamento de cuidados ao doente, havendo, muitas vezes,
sobreposiedo e intercdmbio de papeis. 0 enfemeiro ajuda muitas vezes
nos testes de diagnostico e regimes terapeuticos, mas a sua funedo prin-
cipal é a de manter as actividades da vida didria e as condigeles ambien-
tais que contribuem para a salide e bem-estar. Para os doentes cremicos
e pessoas idosas, tais condigees podem constituir a totalidade dos cui-
dados de sailde que a sua situagdo requer. Para outras pessoas, elas
formam o pano de fundo, em que a intervened° medica pode actuar.
3
Processo de planeamento
dos cuidados de enfermagem
o processo de enfermagem
Elementos de urn sistema de planeamento
de cuidados de enfermagem
Tendo analisado os elementos envolvidos na enfermagem, a ne-
cessario desenvolver urn mêtodo sistemdtico para tomar decisoes
quanto aos cuidados de enfermagem necessarios e para planear como
devem ser executados. 0 sistema necessita fornecer urn modo de
identificar:
1. As dificuldades do individuo em cuidar de si prOprio e em saber
as causas do seu problema enquanto doente.
2. Os objectivos e resultados esperados dos cuidados de enfermagem.
3. Mêtodos de enfermagem para promover ou manter as actividades
de autoprotecao ou substituir as suas deficiencias.
4. Pianos para. implementar os metodos.
5. A eficdcia. dos cuidados prestados.
tia maior parte da bibliografia, esta forma sistematica de abordar
a tomada de deciseies e de planear os cuidados de enfermagem é cha-
mada «processo de enfermagem». Alguns autores preferem falar de
«forma sistemdtica de abordar o planeamento dos cuidados de enfer-
ma.sem». Ha urn consenso sobre a necessidade de passar por certas eta-
pas para planear os cuidados de enfermagem.
30 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
Vantagens da utilizaclo do processo de enfermagem
A actual enfase no planeamento sistematico é uma tentative de melho-
rar a qualidade desse planeamento, tomando as decisoes numa base
mais cientifica, e de avaliar os resultados de urn modo mais eficiente.
Em contraste corn formas anteriores de planeamento, a utilizacdo do
processo de enfermagem tende a:
I. Apreciar as necessidades do doente numa base individualizada, em
vez de rotineira.
2. Proporcionar uma base para analisar as causas das necessidades do
doente, de modo a que as accOes de enfermagem planeadas possam
ser mais bem relacionadas corn os problemas.
3. Proporcionar urn sistema para analisar a capacidade do individuo
ou da familia, para manterem a autoprotecgdo e para reverem a neces-
sidade de intervencao profissional.
4. Documentar o piano e registar o tratamento, como meio de comu-
nicagao entre o pessoal.
5. Tornar explicitas as accOes de enfermagem planeadas, por forma a
it ao encontro dos problemas especificos do doente, de modo a que
a eficacia possa ser avaliada.
6. Proporcionar urn. metodo de avaliacdo dos cuidados de enfer-
magem.
Fases do processo de enfermagem
Os enfermeiros estabelecem o ralmero de fases, bem como as respec-
tivas definicOes do processo de enfermagem de forma variada entre si,
embora a maioria deles concorde em que se este. de facto a descrever
a mesma coisa. As diferencas dependem da maneira como as fases do
planeamento salo divididas. Mesta obra abordamos as cinco fases usa-
das no documento original do semindrio do Departamento de Enfer-
magem da Universidade de Manchester:
4. I mplementagdo Par o piano em accão
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 31
Fases Elementos Capacidades
1. Colheita Hist&la clinica da enfermagem Entrevista
de dados (primeiro e Segundo nivel), do Observacdo
funcionamento fisico, psicolOgico Medicao
e social
5. Avaliacâo
Identificacão dos problemas do
doente (deficiancias actuais e
potenciais na capacidade para
cuidar de si prOprio e das
causas de eventuais doencas)
a) Objectivos ou resultados
esperados, relacionados corn
os problemas do doente
b) Matodos de enfermagem e
justificagdo, utilizados para:
promogão da autoprotecgdo
manutencdo da proteccão
substituicâo da proteccão
c) Identificacao que permita por
em prAtica o piano
d) Comunicacao do piano
e) Identificaoão das prioridades.
Comparar resultados actuais
corn resultados esperados
Reapreciacao
2. Apreciacäo
3. Planeamento
Revisao de dados
Deducao do
significado dos dadoscorn base na teoria e
investigacão
conhecidas
Fazer juizos baseados
nos dados
Prever os resultados
de formas alternativas
de prestacao de
cuidados
Selewd° e prescricdo
de cuidados de
enfermagem, corn
base na teoria e na
investigagdo
Organizar
e
Comunicar
Uso de capacidades
têcnicas e de
comunicaflo
interpessoais nos
cuidados.
Ensino
Aconselhamento
Organizar o trabaiho
Apreciagão
Figura 5 Elementos essenciais dum sistema para planeamento dos cuidados de enfermagem.
1. Colheita de dados
5. AveHack) /
14
4. Implementagdo
N
\ 2. fi
3
Apreciaflo
Planeamento
...•••••
32 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
1. Colheita de dados;
2. Apreciacdo;
3. Planeamento;
4. Implementaflo;
5. Avaliacdo.
Os enfermeiros que trabalham no programa a medio prazo do pro-
cesso de enfermagem, da Organizacao Mundial de Sande verificardo
que a «colheita de dados» esta incluida na fase «apreciacdo» (uma das
quatro fases utilizadas).
Estas cinco fases estão interligadas (figura 5), pelo que ha necessi-
dade de reapreciaflo e modificacdo dos pianos a medida que se faz
a avaliagdo. Deve, pois, considerar-se o processo e ver Como ele circula
(figura 6).
Neste capitulo faz-se uma revisdo de cada fase do processo de enfer-
magem. Na parte H (capitulos 4 a 9) sdo examinadas em maior pro-
fundidade as implicacoes praticas das cinco fases.
Figura 6 Fases do processo de enfermagem
Fase 1: Colheita de dados
Elementos Capacidade
A histOria clinica da enfermagem Entrevista
(primeiro e Segundo nivel), Observagdo
do funcionamento fisico, psiquico e social Medicagão
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 33
Para planear eficazmente os cuidados de enfermagem, o enfermeiro
necessita de ser capaz de apreciar as necessidades do individuo em cui-
dados de enfermagem; isto é, identificar onde ha problemas em man-
ter uma quantidade e qualidade de actividades de autocuidado para
a sande e bem-estar. Para fazer esta apreciacao e necessaria informa-
gäo em todos os aspectos de funcionamento. Optar por uma aborda-
gem global da pessoa, nos cuidados de enfermagem, implica que seja
necessaria informagdo acerca do funcionamento fisico, psicolOgico e
social.
A informacao poderia ser organizada com base em problemas Obvios.
Ha deficlencias nessa abordagem; o doente pode nao colaborar, ou o
enfermeiro pode ndo se aperceber de urn problema fundamental, a não
ser que se estabeleca uma forma sistematica de detectar capacidades
de autocuidar. Os problemas psicolOgicos e sociais seriam inevitavel-
mente negligenciados, em comparagdo corn problemas fisicos mais
Obvios. A primeira fase no planeamento e portanto a obtengdo de infor-
maga° de uma forma sistematica ou a colheita de dados acerca das
capacidades do doente para se autoproteger. Em enfermagem, a histO-
ria clinica é um instrumento para a colheita de dados sistematica, e
pode ser constituida por uma set-le de perguntas sobre diferentes aspectos
da capacidade funcional.
Impressos normalizados para histOrias clinicas de enfermagem con-
tem perguntas-tipo, as quais a resposta é «sim» ou «lido» ou outra °pea°
simples. Por exemplo:
a) Jd beneficiou de alguns dos seguintes servicos, em casa?
Refeigöes AssistenteEnfermeira de qdomicilio El sadde rniblica Social q Outros q
b) Tem urn emprego regular? Sim q /sido q
Pratica algum desporto? Sim q Nä° q
Usa Ocu160 Sim q Mc, ill
Algumas pessoas sentem que uma lista de perguntas sinteticas é dema-
siado restritiva, e preferem dispor de temas, de modo a que a informa-
gäo acerca, por exemplo, da fungdo eliminagdo possa ser obtida por
mein de troca de ideias. Qualquer que seja a abordagem, é preciso incluir
sempre uma lista de topicos, de modo a que o modelo da hist6ria cif-
nica de enfermagem seja tracado por forma a permitir um registo, que
constituird um elemento de consulta para outros enfermeiros.
A hist6ria clinica de enfermagem dird respeito a actividades da vida
diaria tais como comer, dormir, respirar, eliminar, etc.
34 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica
Alguns enfermeiros baseiam-se nas seguintes 14 actividades para ela-
borar uma colheita de dados (Henderson, 1966);_
1. Respirar normalmente;
2. Comer e beber adequadamente;
3. Eliminar produtos superfluos;
4. Movimentar-se e manter posturas aconselhdveis;
5. Dormir e descansar;
6. Seleccionar roupa adequada;
7. Manter a temperatura do corpo dentro de limites normais,
vestindo-se adequadamente e modificando o ambiente;
8. Conservar o corpo limpo e cuidado e proteger a pele;
9. Evitar os perigos do ambiente, preservando tambem as outras
pessoas;
10. Comunicar com outras pessoas expressando emocOes, necessida-
des, medos e opinides;
11. Praticar uma religiao de acordo corn a fe de cada um;
12. Trabalhar por forma a ser conseguida a realizagdo pessoal;
13. Distrair-se, jogar ou participar em varias modalidades de diver-
timento;
14. Aprender, descobrir ou satisfazer a curiosidade, que conduz ao
desenvolvimento normal e a sande, e utilizar os servicos de sande
disponiveis.
McCain (1965) enumera 13 areas para a colheita de dados, das quaffs
sào exemplo as seguintes quatro:
Estado mental:
Estado de consciência;
Orientacdo;
Capacidade intelectual;
Atencao;
Nivel de vocabuldrio;
Capacidade para compreender ideias.
Estado emocional
ReaccOes emocionais;
Imagem corporal;
Capacidade para se relacionar corn outras pessoas.
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 35
Percepcdo sensorial
Ouvido;
Visdo;
Fala;
Tacto;
Olfacto;
Paladar.
Capacidade motora
Mobilidade;
Amplitude de movimentos;
Postura;
Equilibrio;
T6nus muscular;
Paralisia;
Perda de extremidades.
McCain indica, para cada titulo, descrigOes que ajudam a identifi-
car a condigdo do doente, por exemplo nas capacidades demostradas.
Por exemplo:
Estado de consciéncia
Atento e rapido na resposta ao meio ambiente;
Sonolento e lento na resposta;
Semiconsciente e com dificuldade em despertar;
Em coma e incapaz de despertar;
Estado de automatismo.
Na parte II descrevemos o modo como é feita a hist6ria clinica de
enfermagem, em duas fases, na unidade de geriatria do Manchester
Royal Infirmary. Sao dados tOpicos como: «actividade», «repouso»,
«nutricao»: etc., sendo a informacao obtida em entrevistas näo estru-
turadas. Para ajudar os enfermeiros no inicio da sua actividade, é for-
necido urn documento de apoio com esclarecimentos acerca dos
elementos a incluir (ver figura 10).
E provavel que o estudante de Enfermagem encontre modelos de his-
tOrias clinical de enfermagem ja desenvolvidas nas unidades onde tra-
balha. Nada perde em tentar desenvolver o seu pr6prio modelo, fazer
abordagens diferentes ou tentar melhorar os que ja foram desenvolvi-
dos. 0 piano de cuidados de enfermagem sera provavelmente tao efi-
caz quanto a apreciaao feita, e depende muito da boa qualidade da
hist6ria clinica de enfermagem.
36 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
Funcionamento normal e capacidade de lidar coin disfuncOes
A capacidade do doente em per em pratica as actividades da vida
diaria associadas a satide a revista de modo a obter informacOes sobre:
1. 0 modo como o doente poe normalmente em pratica cada activi-
dade. 0 piano de actividades de enfermagem deve ter como objec-
tivo assistir o doente na pratica destas actividades, de forma tao
semelhante quanto possivel ao modo como ele normalmente as exe-
cuta, de maneira a que o autocuidado possa ser mantida ou resta-
belecida, tao depressa quanto possivel.
2. A natureza e extensào do desvio do funcionamento normal do indi-
viduo, naquela ocasido, a qual, uma vez que ira variar de tempos
a tempos, ha consequentemente necessidade de apreciar de novo a
capacidade funcional em intervalos regulares.
3. A capacidadedo individuo em se adaptar a disfuncao limitativa e
manter os cuidados a si prOprio; por exemplo, a capacidade do doente
corn artrite para se vestir e que tem de utilizar ajuda mecdnica, ou
a capacidade do doente para expressar uma ansiedade pre-operatOria.
0 segundo estadio da hist6ria clinica de enfermagem, ilustrado no
capitulo 4 (ver figura 13), permite ao enfermeiro registar o «comporta-
mento actual». Comparando e contrastando o que é normal para aquele
individuo corn o comportamento presente, o enfermeiro pode formar
uma opinido sobre se algum aspecto da actividade diaria representa um
problema para o doente.
Esta é a primeira fase ao fazer uma apreciacdo. Por exemplo:
Cornportamento habitual (ou
comportamento normal de
autocuidado )
Comportamento actual (ou
incapacidade no autocuidado 1
Capaz de se vestir Incapaz de estabelecer ajustamentos
adequados ao vestir-se (abrir ou fechar
fechos de correr nas costas, atar
corddes dos sapatos, etc.).
Capaz de manter a higiene pessoal Incapaz de lavar o brae° ndo
«afectado», devido a i mobilizacdo de
urn bravo engessado.
Alem da informaedo pormenorizada acerca das actividades diarias,
necessaria mais informacdo geral acerca do doente. InformagOes como
o nome e de que maneira prefere que se the dirijam, a sua reaccdo ao
internamento hospitalar, sào basicas para que haja comunicacao pos-
terior.
Elementos
Identificacäo dos problemas do
doente (deficiencias actuais e
potenciais na capacidade de execugdo
do autocuidado e causas)
Capacidades
Rever os dados
Deduzir o significado dos dados corn
base nas teorias e resultados de
investigagão conhecidos.
Fazer juizos baseados em dados.
Ja
e:
0
a
e
r
1
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 37
Capacidades pan coiheita de dados
Fazer uma histOria clinica de enfermagem 6, das fur-10es de enfer-
magem, a que mais capacidade requer. A informaedo acerca do doente
obtida atraves da observacao e da comunicaedo. A observacdo inclui
uma apreciacdo superficial sobre a cor do doente, o estado da pele,
o t6nus muscular, etc., e o registo de observacoes, tais como tempera-
tura, pulso, respiracào, tensdo arterial, podendo incluir urn exame fisico
mais pormenorizado. A comunicano pode ser corn o prOprio doente,
corn a sua familia ou amigos, e corn outros profissionais de sande. Pode
ser escrita ou oral (ver figuras 17, 18, 19).
A habilidade para comunicar corn o doente é fundamental para a
pratica da enfermagem, e mais complexa do que muitas capacidades
manuais. Inclui controlar o ambiente de modo a que uma comunica-
eäo eficaz se possa realizar, a arte de escutar e a capacidade para levar
o doente a expressar ansiedades, medos e factos intimos.
Sempre que se procuram pormenores pessoais ou quando surgem pro-
blemas emocionais, ha uma necessidade profissional e 6tica de preser-
var a confidencialidade da informagdo e de evitar intormeter-se em
assuntos pessoais por mera curiosidade. A informaedo necessdria é
aquela que permite estabelecer urn piano de cuidados de enfermagem
adequado.
Fase 2: Apreciacão
Como acima foi indicado, o objectivo de reunir informaedo e iden-
tificar problemas do doente relacionados corn as actividades da sua vida
diaria.
A hist6ria clinica de enfermagem nao 6 urn fim ern si pr6pria — é
urn instrumento para registar informaedo, e dai tirar conclusties, de
modo a que os problemas possam ser identificados e os pianos feitos
para lhes dar resposta. Fazer a histOria clinica de enfermagem e ape-
nas a primeira fase no processo de enfermagem, corn urn valor relativo.
Apos reunir a informaedo, tern Lugar a capacidade intelectual de apre-
ciacdo. Neste capitulo estâo envolvidos:
38 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
Efementos
a) Objectivos ou resultados esperados
relacionados coin os problemas do
doente.
b) Metodos de enfermagem e
justificacdo para serem usados:
— promover a autoprotecedo;
— manter a autoprotecedo;
— substituir a autoprotecedo.
c) Identificacäo da pessoa para p6r
em pratica o piano.
d) Comunicacao do piano.
e) Identificacão das prioridades.
Capacidades
Prever os resultados alternativos de
prestacdo de cuidados;
Seleccionar e prescrever cuidados de
enfermagem baseados em teorias e em
resultados (le investigacao conhecidos.
Organizar
e
Comunicar.
a) Revisal ° de informacao;
b) Estabelecimento de conclusoes acerca do seu significado;
c) Identificacao dos problemas.
Uma histOria clinica de enfermagem content bastante informacao. De
modo a utilize-la como base para planeamento de cuidados, ha neces-
sidade de comparar os seus elenentos corn o funcionamento normal.
Para pOr em pratica este aspecto, e obviamente necessario urn conheci-
mento do funcionamento normal relativamente aos aspectos anatOrnico,
fisiolOgico, psicolOgico e social.
A comparagao com o funcionamento habitual e feita a partir da infor-
macao obtida acerca do funcionamento normal para determinado indi-
viduo e das suas capacidades presentes nas actividades dierias. Desta
revisal ° do conhecimento cientifico e da experiencia do individuo cer-
tas conclusOes podem ser tiradas. Podemos concluir que o individuo
resolve sozinho, corn sucesso desvios ao funcionamento normal, mas
que outras actividades de autocuidado possam nao ser mantidas num
nivel 6ptimo. Neste caso a situacao e identificada como «problemas
do doente», para a qual deve ser traced° um piano de cuidados de enfer-
magem. 0 fim da fase de apreciacdo e, portanto, a identificacao dos
problemas do doente, e estes tornam-se a base do piano de cuidados.
Tanto os problemas actuais como os potenciais (nao presentes mas que
podem ocorrer) devem ser objecto de uma lista exaustiva.
Por exemplo, ao avaliar o comportamento normal num caso de auto-
cuidado no vestir e na higiene pessoal, e comparando-o corn o corn-
portamento observado e perante as incapacidades relatadas, outros
problemas do doente poderao ser identificados:
a) Dificuldades especificas ao vestir-se;
b) Problemas ao lavar do braco «born» devido a imobilizacao do
outro braco.
Fase 3: Planeamento
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 39
Surgem aqui problemas actuais, para os quais urn piano de cuida-
dos especiais deve ser delineado.
Pegando noutro exemplo, vejamos o caso de uma pessoa idosa que,
em casa, possa ter dificuldades ern preparar refeiceies, por falta de moti-
vagao ou de mobilidade. Estamos perante urn problema potencial de
ma nutrigho, que necessita de ser incorporado num piano de cuidados.
Acentue-se que os problemas identificados sdo os do doente e näo
os do enfermeiro.
Urn piano de cuidados sisterniticos para urn doente deveria conter
os elementos seguintes:
1. A indicagdo dos problemas actuais e potenciais;
2. Os objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem
para cada problema;
3. Prescrigão de accees de enfermagem corn vista a alcangar os objec-
tivos.
1. Identificaceio dos problemas
No final da fase de apreciacdo deverd estar determinado urn con-
junto de problemas do doente, relacionado corn as actividades de vida
didria. Serao apresentados problemas actuais quando se elaborar a his-
Oda clinica de enfermagem, mas tambem seräo identificados proble-
mas potenciais; isto
 aqueles que podem ocorrer se nä° houver uma
aced° preventiva. Os problemas necessitam de ser enumerados por ordem
de prioridade de aced° (accees relativas a sobrevivencia seriam obvia-
mente urgentes), mas vale a pena indicar sumariamente qual a causa
do problema,, como, por exemplo «risco de dlcera de pressdo, devido
a incapacidade de se mover livremente na cama». A causa do problema
da alguma indicagdo quanto a especie de acflo de enfermagem reque-
rida para o.resolver.
2. Objectivos ou resultados esperados
A fase seguinte no planeamento consisteem declarar resumidamente
que especie de resultado o enfermeiro e o doente, juntos, decidem face
a cada problema. Tal como os problemas sao identificados, observando
ou comunicando com o doente, assim depois de os cuidados de enfer-
magem serem aplicados, dever-se-d procurar observar, ou descobrir, no
doente quais foram os efeitos ou os resultados desses cuidados. Por
exemplo, para urn doente com urn problema de desidratagdo devido a
40 A enfermagem e o processo de enfermagem na pritica
insuficiéncia de liquidos ingeridos, procura-se estabelecer urn objectivo
e espera-se urn resultado na ordem do 2,5 litros de liquido ingerido nas
24 horas. Observar-se-a posteriormente se esse resuhado é alcancado.
Poder-se-a tambem observar os sinais nao verbais da expressao facial,
como diminuicao da agitagao, que podem ser resultados esperados nos
cuidados de enfermagem corn vista a atenuar a ansiedade. 0 prOprio
doente pode comunicar os resultados dos cuidados de enfermagem com
vista a atenuar, por exemplo, a insOnia ou obstipacao
Os resultados esperados, portanto, sbio demonstrados pelo compor-
tamento do doente e nao pela accao do enfermeiro, constituindo uma
base importante para avaliacdo dos cuidados de enfermagem. Logo,
quanto mais precisos forem os resultados, mais eficazes se tornam.
E
 quando possivel, quantificar os resultados esperados e o
periodo de tempo para os conseguir. 0 exemplo acima dado (2,5 litros
nas 24 horas) ilustra isto. E importante que, tanto quanto possivel, o
doente tenha conhecimento dos cuidados que the sao dispensados.
3. Aceeies de enfermagem
A terceira fase no piano de cuidados consiste ern indicar, de forma
concisa, as accilies de enfermagem tragadas para alcancar os resultados
esperados, a forma como eles devem ser executados e qual a sua fre-
quOncia. Por exemplo, para urn doente corn um problema de tilcera de
pressdo e corn alguma incapacidade em se mover na cama, podem ser
estabelecidos como resultados esperados: a inexisténcia de solugOes de
continuidade na pele das nadegas ou cotovelos. A aced() de enferma-
gem prescrita sera, neste caso: mudar de posicao de duas ern duas horas
(10, 12, 14, 16, 18, 20 horas, etc.)
Para urn doente corn urn desgosto, devido a morte de urn cOnjuge,
por exemplo, os objectivos poderao ser: capacidade para falar acerca
da perda, expressar emocilies, readquirir o interesse ern assuntos pessoais.
As accees de enfermagem podem incluir: facilitar que o doente
expresse as suas emocOes, proporcionando-lhe ocasido para estar
sozinho; ser optimista acerca da possibilidade de voltar a adquirir inte-
resse pela vida.
A prescricdo das accilies de enfermagem que irdo permitir uma solucao
efectiva dos problemas do doente é o principio basico da pratica da
enfermagem profissional. A destreza é importante ern enfermagem, certa-
mente. Mas, a nao ser que as accOes de enfermagem sejam realmente
dirigidas ao problema individual do doente, e se justifiquem, podem
ser perigosas, ou uma simples perda de tempo.
A perscricao das accOes de enfermagem so pode ser eficiente se o
enfermeiro tiver conhecimento dos dados fisiolOgicos, psicolOeicos e
sociais que estao na base das deficiOncias na autocuidado do doente.
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o process() de enfermagem 41
0 conhecimento dos efeitos da doenga em algumas actividades da
vida diaria pode exigir o conhecimento da fisiopatologia. 0 enfermeiro,
entao, necessita de ser capaz de rever possiveis formas alternativas de
aced() da enfermagem e de seleccionar aquelas que paregam mais
adequadas aos problemas, a sua origem e fisiopatologia.
A enfermagem, ao longo dos anos, adquiriu muitas normas de rotina.
Para algumas delas ha uma base lOgica bem estabelecida. A sua eficacia
foi concretizada pela investigagao. 0 enfermeiro procurard constante-
mente rever a base da perscrigao das acceies de enfermagem, alguns
enfermeiros podem mesmo testar a sua eficiancia atravês da investigagdo.
0 enfermeiro experimentado interiorizard as decisoes acerca das quail
as aceOes de enfermagem podem ser mais apropriadas. 0 estudante de
Enfermagem pode obter Optimos resultados exteriorizando as decisOes
que toma, relatando a justificagao das suas prescriebes de acgeies de
enferma gem. Isto pode ser muitas vezes uma experiencia salutar e esti-
mulard urn estudo futuro.
Os problemas do doente, os objectivos ou resultados esperados dos
cuidados de enfermagem e as prOprias acgOes de enfermagem para obter
estes resultados são o essencial do piano de cuidados. Nao se trata porem
de urn instrumento estätico. Os cuidados de enfermagem a urn doente
sao uma tarefa dinamica e algumas vezes constante. Enquanto os
cuidados estao a ser executados, ha necessidade de revisao, de nova
avaliacao e de novo planeamento.
E tambem necessario que haja uma indicacdo acerca de quern deve
estar a executar as acgOes de enfermagem, qual o ambiente em que o
doente deve ser tratado, etc. Estes factores sac) considerados na fase de
implementagao.
Resumindo, o piano de cuidados é constituido pelos seguintes
elementos:
1. A histOria clinica de enfermagem para compilacao de dados;
2. Identificagao dos problemas do doente (actuais e potenciais) atraves
da apreciagäo;
3. Objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem;
4. As acceles de enfermagem ou o piano de cuidados de enfermagem
tragados part atingir objectivos;
Acceies de enfermagem
(ou piano de cuidados de
enfermagem)
Problemas do doente Resultados esperados
42 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
0 kardex (dossier A4 em que, nos hospitais, sobretudo ingleses, se
fazem anotaedes de enfermagem), ou outro documento para o piano
de cuidados, sera adaptado a estes elementos (ver exelnplo, figura 11).
Entao, é (ail que os principios «problemas do doente», «resultados espe-
rados» e «accdo de enfermagem» possam ser anotados de forma a que,
num relance, haja possibilidade de os comparar.
Fase 4: Implementagdo
Elementos
POt o piano em accdo
Capacidades
Tecnicas de comunicacalo interpessoal ao
prestar cuidados.
Ensino
Aconselhamento
Organizagâo do trabalho
1. Grau de dependência
A fase de implementacdo do piano de cuidados para um doente signi-
fica muito simplesmente por o piano em prâtica, aplicando as accOes
de enfermagem prescritas. 0 grau de autoproteccao que o pr6prio doente
pode manter sera apreciado e o piano de cuidados Comas este facto
em consideragdo, de modo a que as accOes de enfermagem sejam selec-
cionadas por graus de depenancia. Nos casos extremos, quando, por
exemplo, o doente estal inconsciente ou se trata duma crianca, o enfer-
meiro deve tomar inteira responsabilidade por todas as actividades do
dia-a-dia, caso em que substitui a autocuidado. Em resumo, o doente
pode ser capaz de manter, umas vezes mais, outras menos, uma optima
quantidade e qualidade das actividades da vida didria, e o enfermeiro
actua como ajudante, assistente ou agente no autocuidado. Ism implica
uma cuidadosa andlise do doente, acerca do que ele gosta de fazer, bem
como a forma como o faz.
2. Categorias de accdes de enfermagem
Existem categorias diferentes de accOes de enfermagem. As capaci-
dades manuals sal° necessarias para dar ajuda fisica e assisténcia, mas
as capacidades psicolOgicas sdo tambêm necessarias, para dar apoio
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 43
emotional e ajuda. 0 enfermeiro pode tambem adoptar recnicas de aeon-
selhamento ou, quando a informacao é necessana, tecnicas de comu-
nicacao e ensino. Aprender a prestar a assisténcia e a implementar pianos
de cuidados constitui uma pratica que influird na compethricia neces-
sada em todas as capacidades exigidas.
Em muitas situaeOes de enfermagem, elas sao, e evidente, empregues
em conjunto. Para combater a dor, por exemplo, pode exigir-se a apli-
cagdo de medidasfisicas, ajuda psicolOgica, aconselhamento e infor-
macdo.
3. Proporcionar ambiente favordvel a prestagdo de cuidados
Um aspecto importante no planeamento de cuidados é proporcionar
urn ambiente adequado para a prestagdo de assistència ao doente. Se
as actividades de enfermagem prescritas indicam que o doente requer
observagdo e accOes de enfermagem internas deve ser colocado na
unidade adequada. A mobilidade reduzida pode implicar que o local
devia ser perto, por exemplo, das instagOes sanitarias (a reeducagao
vesical como pane do piano de cuidados podera näo ser atingido de
outra forma). A higiene da unidade bem como o tipo de equipamento
contribuem para um ambiente no qual o piano de cuidados pode ser
aplicado em seguranga e corn eficiência. Readquirir a independancia
para se vestir e para se alimentar pode nth) ser possivel sem roupas adap-
tadas e sem instrumentos de ajuda para a alimentagdo. 0 ambiente
psicolOgico é sempre importante, mas pode ser vital nos pianos a Longo
prazo para as pessoas mais idosas e mentalmente doentes. Favorecer
urn ambiente conveniente e portanto uma parte integrante da imple-
mentagao do piano global de cuidados individuais para o doente.
4. A organizactio dos cuidados de enfermagem
As capacidades de enfermagem relativamente a urn doente são
avaliadas no piano de cuidados especificos. E necessario indicar, por
exemplo, quail os enfermeiros responsaveis pela implementaeâo do
piano. Esta distribuiedo tern, durante muitos anos, sido vista como uma
fungdo do enfermeiro chefe, o qual fard uma avaliagdo das necessidades,
bem como dos cuidados de enfermagem exigidos e da distribuicao do
pessoal de enfermagem, por forma a aplicar o piano de cuidados, sendo
entdo designadas as tarefas. Na geralmente, conclui-se que a
importancia da andlise das necessidades individuais e o planeamento
para a realizagdo das mesmas numa base individual significa que os
enfermeiros, ag usarem o processo de enfermagem, adoptam uma distri-
44 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
buicao do trabalho mais centrada no doente. Utilizam adaptacOes do
metodo de trabalho individual ou de equipa. Esta mudanca do metodo
de distribuicao do trabalho Mão é fâcil para enfermeiros que estao habi-
tuados ao metodo de trabalho por tarefas.
No capitulo 8 e descrito urn metodo de distribuicao de trabalho, mas,
qualquer que seja o metodo usado, est -do envolvidos certos principios.
Urn enfermeiro deve ser sempre responsavel pela elaboracdo do piano
de cuidados, o que parte da sua aprendizagem, pois os estudantes neces-
sitam que Ihes seja ensinado o piano de cuidados e de adquirir pratica
de supervisdo. 0 enfermeiro chefe pode, portanto, delegar o piano de
cuidados de alguns doentes noutro enfermeiro da equipa, e os enfer-
meiros podem igualmente supervisar a actuagdo dum estudante de
planeamento de cuidados. Quando isto acontece, o papel do enfermeiro
chefe e alterado. De preferencia, ele deve sempre manter as responsabi-
lidades pelos pianos de cuidados de alguns doentes, mas, enquanto se
responsabiliza, pode delegar o planeamento para alguns doentes noutros
enfermeiros. Se faz isto acentua o papel de orientador. Por outro lado,
a relacdo corn os colegas medicos pode mudar, o que e descrito no
aludido capitulo 8.
A importancia do papel do enfermeiro ou do estudante sob a super-
visao daquele, que entretanto se encarrega da apreciaflo, assume urn
particular significado, uma vez que as situagOes descritas neste livro
mostram que ao enfermeiro e reservado o papel de «primeiro respon-
savel», porque ele é afinal o responsdvel em primeiro Lugar pelos
cuidados corn o doente. Ao apreciar os seus problemas estabelece os
respectivos cuidados e avalia-os, assegurando a responsabilidade pelo
tratamento posterior. 0 enfermeiro precisath, contudo, muitas vezes de
ser assistido para poder implementar o piano de cuidados e para por
em pratica as acedes de enfermagem prescritas. Algumas accOes de enfer-
magem sac) mais bem executadas por dois enfermeiros (por exempla,
levantar urn doente ou fazer uma cama); destes, urn deles e o respon-
sável, que, estando ao servico, orienta as accOes de enfermagem pres-
critas.
0 enfermeiro responsävel precisa, portanto, de ter urn enfermeiro auxi-
liar. Quando se ausenta por urn periodo de tempo, o enfermeiro respon-
savel necessita de ter urn relatario quanta aos progressos do doente,
resultados de qualquer cuidado prestado, ou eventuais indicacOes sobre
se o piano de cuidados deve ser mudado. E funcao do enfermeiro
responsävel verificar se o piano de cuidados estd a ser cumprido e se
se regista uma evolucdo da situagdo do doente, de acordo com o que
estd previamente determinado. Deste modo, o piano de assisténcia
comunicado a todas as pessoas envolvidas nos cuidados corn o doente,
por forma a que a mudanca de turno, por exempla, não provoque irre-
gularidades no tratamento.
Processo de planeamenlo dos cuidados de enfermagem — o processo de enfermagem 45
Ha uma responsabilidade definida perante os colegas e a sociedade
nos cuidados directos e na necessaria supervisao que Cabe aos enfer-
meiros responsaveis por cada doente. A partir desta situacao, o enfer-
meiro responsdvel esta habilitado a fornecer informacoes detalhadas ao
medico de servigo e a outro pessoal medico acerca da situagao de qual-
quer doente que esteja a seu cargo. A contrapartida destes cuidados
e a comunicacao acerca de quaisquer testes ou diagnOsticos ou de
aspectos de tratamento, os quais podem modificar o piano de cuidados
e necessitarem de ser incorporados no piano.
Os enfermeiros sao responsaveis pela coordenagao de todos os
aspectos dos cuidados de sande dum doente, de acordo corn o seu
padrao de vida. Independentemente de quem e o enfermeiro respon-
savel, o piano de cuidados deve ser entregue a um enfermeiro clara-
mente identificado, que tomard a responsabilidade pela implementagao
dos tratamentos.
Resumindo, a implementagao envolve:
I. Aced() de enfermagem ajustada ao grau de dependencia do doente;
2. A utilizagao de enfermeiros segundo a sua capacidade de enfermagem
especifica (manual, psicolOgica, de aconselhamento, comunicagao e
ensino) no sentido de poder aplicar correctamente as acgOes de enfer-
magem prescritas;
3. Necessidade de favorecer urn ambiente adequado de cuidados;
4. A organizagao dos cuidados de enfermagem mediante a identificagao
do enfermeiro principal com responsabilidade pela apreciagao do
doente e do piano de cuidados e a identificagao dos enfermeiros auxi-
Hares, que permite uma eficaz implementagao do piano de cuidados.
Fase 5: Avaliacão
Elementos
ComparagaoThe resultados actuais corn
resultados esperados
Reapreciacào
Capacidades
Apreciacao
A Ultima fase do processo e a avaliagao, isto e, a avaliagao dos
cuidados prestados. A enfase principal e colocada na comparagao entre
os resultados efectivos na evolugao da doenga e os resultados esperados.
Se o piano de cuidados determinar os objectivos ou os resultados espe-
rados claramente em termos de mudangas que se espera se verifiquem
no doente no decurso de um period() de tempo dado, é possivel apre-
ciar se foram alcangados. Esta é a raid() por que e tao importante uma
indicagao clara dos resultados esperados. Sem isto, a avaliagao da
eficacia dos cuidados de enfermagem torna-se vaga e subjectiva, uma
vez que a avaliagao é uma forma de reapreciacao.
46 A enfermagem e o processo de enfermagem na prilica
Os cuidados de enfermagem executados para resolver urn problema,
por exemplo, de deficiente ingestao de liquidos, para o qual o resul-
tado esperado era «2 litros e meio de liquido ingerido em 24 horas»,
pode ser avaliado observando os liquidos realmente ingeridos no decurso
das 24 horas.
0 alivio da dor pode ser avaliado atraves do relato e da experiéncia
subjectiva do doente. Os criterios para a avaliaedo dos cuidados de enfer-
magem sdo portantoaspectos do comportamento do doente:
1. O. que o doente diz;
2. 0 que o doente faz;
3. 0 que o doente aparenta.
Sao os mesmos aspectos do seu comportamento agaves dos quais
nos inicialmente apreciamos que ele tinha uma limitagdo de autocui-
dado. 0 problema de «incapacidade para andar» é substituido por
«capacidade de dar tees passos corn ajuda»; a «incaPacidade para
manter a higiene pessoal» é substituida por «capacidade para lavar a
cara corn ajuda». A apreciagdo da eficacia dos cuidados de enfermagem
chama dente modo a atenedo para a imporfancia de haver objectivos
precisos e estipula os momentos em que estes devem ser atingidos.
Deste modo, o piano de cuidados escrito necessita de uma quarta
coluna anexa, em que se inscrevera: «resultados actuais», «notas de
evolucdo» ou «avaliacdo». Ainda poderia acrescentar-se uma quinta
coluna, para as datas em que se iniciou, em que foi interrompida e
a data em que terminou a accdo do enfermeiro. Assim:
Problemas
do doente
Resultados
esperados
Acceies de
enfermagem
Evoluecio
(resultados actuais Datas
Quanto mais explicitas estas colunas forem, melhor, embora isto
implique alguma habilidade na elaboracdo dos impressos.
Resumindo, o planeamento dos cuidados de enfermagem, tern os
elementos seguintes:
I. HistOria clinica da enfermagem atraves da colheita de dados;
2. Identificacao dos problemas do doente (actuais e potenciais) atraves
dos dados, devidamente apreciados;
Processo de planeamento dos cuidados de enfermagem — o process() de enfermagem 47
3. Objectivos ou resultados esperados dos cuidados de enfermagem;
4. AceOes ou pianos de cuidados de enfermagem necessarios para
alcancar objectivos;
5. Notas da evolugao ou sobre os resultados actuais (avaliagao);
6. Data da cessagao das accOes de enfermagem.
Objectivos nao alcanfados
Os objectivos estabelecidos nem sempre sac) alcancados.
Pode haver varias razOes para essa situagdo:
a) A apreciacao foi inadequada e incorrecta;
b) As accOes de enfermagem prescritas eram inadequadas ou irrealistas;
c) As accOes de enfermagem nao foram implementadas adequadamente;
d) Os resultados esperados nao foram entendidos correctamente.
Por outras palavras, a falha na consecucao dum objectivo requer uma
revisao de cada fase do processo e da eficiencia corn que o mesmo foi
efectuado. 0 processo torna-se circular (verificar figura 6), na medida
em que a apreciacao, o piano e a implementacao sae revistos, ou na
medida em que algum factor interveniente novo, de que nao nos
tinhamos ainda apercebido, necessita ser incluido no piano.
A avaliagao atraves de resultados que se espera fornecer ao doente
é, assim, uma.parte do que se entende por utilizacao sistematica do
processo de enfermagem, mas a revisao de cada fase do processo e urn
modo de avaliar a actuacao do enfermeiro em cada uma das fases.
E profissidnalmente desejavel, para o enfermeiro, ser capaz de se
distanciar da sua actuacao e tentar avalid-la. As fases do processo de
enfermagem formam uma base para o enfermeiro rever a sua prOpria
actuacao (auto-avaliagao); ele pode tambem pedir a urn colega para
avaliar a sua apreciacao, planeamento e capacidades de actuagao
(avaliacao pelas fases).
Para efeitos de registo ou de controle, a avaliacao por urn supervisor
pode ser feita utilizando o processo de enfermagem. Estrategia titil utili-
zando o processo de enfermagem é uma discussao corn o pessoal da
unidade, baseada na apresentagao, por um grupo, do planeamento dos
cuidados a urn doente. Esta discussao é efectuada uma vez por mes
48 A enfermagem e o processo de enfermagem na pratica
na unidade associada ao Departamento de Enfermagem do Manchester
Royal Infirmary. E uma experiencia de aprendizagem util para rever
em conjunto a eficiencia com que os problemas do doente foram iden-
tificando as inferencias feitas corn base na informacdo e a eficacia das
acceies de enfermagem prescritas.
Na parte II deste livro descreve-se a nossa experiencia de utilizacao
do processo de enfermagem. Para simplificar, apresentamos uma visao
do processo de enfermagem aplicada a doentes hospitalizados. E nossa
°pinta.° que o processo a igualmente aplicavel em areas especializadas,
tais como enfermagem obstetrica e enfermagem na comunidade. Certas
alteragOes na enfase e nas tecnicas podem ser necessarias, mas a abor-
dagem na tomada de decisees no planeamento pode ser adoptada em
todos os campos de enfermagem.
Parte II
Parte II
A PRATICA DA ENFERMAGEM
PELO PROCESSO DE ENFERMAGEM
Introducdo
Na Pane I, foi descrito urn quadro conceptual para a pratica da en-
fermagem e a utilizagdo do processo de enfermagem. Na Parte II é des-
crito o sistema desenvolvido em associagao corn o Departamento de
Enfermagem na Universidade de Manchester, e as implicagees praticas
sao examinadas corn maior profundidade.
Em 1976 foi fundada uma unidade de enfermagem escolar na Man-
chester Royal Infirmary, para proporcionar uma base clinica para o De-
partamento de Enfermagem da Universidade. Os objectivos tragados
para fundar a unidade foram os seguintes:
1. Possuir urn local para a pratica clinica no Departamento de Enfer-
magem, o que ]he dare credibilidade perante os estudantes, o pes-
soal medico e de enfermagem e o
2. Instituir e avaliar nomeagees conjuntas, entre o Servico Nacional
de Sande e o Departamento Universitario, de modo a que o ensino
no departamento seja baseado numa pratica realista.
3. Testar formas gestao dos cuidados de enfermagem, ensinadas no
departamento, atraves, por exemplo, da utilizageo do processo de
enfermagem.
4. Testar a relacao entre a pratica medica e a de enfermagem no mo-
memo de tomar decisees sobre os cuidados.
5. Proporcionar urn ambiente no qual os metodos clinicos possam ser
ensaiados.
No prefacio foi feita referencia as duas nomeacees conjuntas iniciais,
sob a responsabilidade do Servico de Sande, de enfermeiro chefe a meio
52 A pritica da enfermagem pelo processo de enfermagem
tempo, numa unidade de traumatizados. Apes urn periodo de orienta-
cdo, foram feitas mudancas na organizaeâo do trabalho de enferma-
gem (passando duma distribuicao do trabalho par tarefas para o con-
tacto centrado no doente) e mudangas dirigidas para a implementacao
do processo de enfermagem. Os metodos de apreciagdo e registo fo-
ram modificados, consoante a experiencia adquirida. Apes tres anos,
as nomeacties conjuntas mudaram para uma unidade nova de aprecia-
gdo geridtrica, onde, posteriormente, foram feitos progressos.
Os capitulos que se seguem baseiam-se na experiencia em ambas as
situacees.
4
Colheita de dados na prdtica
A nossa experiencia diz-nos que a recolha de informagOes acerca do
doente ou a elaboragdo da historia clinica de enfermagem executa-se
melhor em duas fases:
1. Na primeira fase, a historia clinica de enfermagem e elaborada logo
apOs a admissao do doente no hospital, e fornece informagdo sufi-
ciente para o enfermeiro iniciar os cuidados. A informagdo, obtida
atraves, a) duma entrevista relativamente curta e superficial corn o
doente e/ou familiar ou amigo; b) urn exame sistematico ao doente
da cabega aos pes, e c) uma apreciagdo da tendencia para Ulceras
de pressdo usando as escalas de Norton (1975) ou Knoll (Blicharz,
1979).
2. Na segunda fase, a historia clinica de enfermagem requer urn exame
fisico e psicolOgico mais detalhado, e pode incluir o use de instru-
mentos mais sofisticados em areas problematicas, como, por exem-
plo, o estado de nutrigdo.
Primeira fase da historia clinica de enfermagem
0 aspecto geral da primeira fase da historia clinica de enfermagem
e mostrado na figura 7 numa serie de titulos (os principais dos quais
estaio abaixo indicados) com espagos, de modo a que os enfermeiros
preencham os pormenores.
GOSTA QUE LHE CHAMEM...
Esta a uma informagdo importante, para comegar. Nem todos os ido-
sos gostamde ser tratados pelo primeiro nome ou que ]he chamem «avo-
zinho». As criangas, por sua vez, podem ter um diminutivo e nâo res-
ponder ao seu verdadeiro nome.
7
Parente mais pr6ximo Data de nascimento:
Idade:
N.° Telefono
Des* ser tratado por:
54 A pritica da enfermagem pelo processo de enfermagem
Apelido Nome(s) preprin(s)
Morada
Data de admissao no hospital Unidade
Medico assistente
Razao da admissdo:
Diagnestico medico:
Medico responsavel:
0 que 6 que o doente ou a familia conhecem do seu estado de satide
Reaccao do doente e/ou a familia a admissdo no hospital
Condiodes habitacionais
Figura 7 I mpresso para a primeira fase da hist6ria clinics de enfermagem.
Colheita de dados na pratica 55
Assinatura Data
Histaria obtida atravös do doentetacompanhante (indicar nome)
Processo n°
Pessoa corn quern se relaciona melhor Outros de certa importancia/animais domesticos
Recursos comunitarios (centre de sande, assistants social, refeinCes ao domicilio...)
Hist6ria geral do estado de saiide e hospitalizagâo previa
Praticas religiosas ou crencas qua constituem uma ajuda para o doente
Actividades recreativas e trabalho passado/presente
ApreciagEo geral na admissão
N. B. Escreva o nome cla pessoe qua elaborou a apreciapio a se estelo envolvidos o doente ou familiar ou ambos
Figura 7 Continuagno.
56 A pi-Rica da enfermagem pelo processo de enfermagem
RAZAO DA ADMISSAO
E Call saber como o doente ou a familia \Teem a raid° da sua admis-
sao. Nem sempre a raid° por eles atribuida para a admissão coincide
corn a do medico, corn a qual, de resto, deve ser comparada.
0 QUE 0 DOENTE OU A FAMILIA SABEM SOBRE A SUA SALIDE
O doente ou a sua familia podem ter uma ideia muito incompleta
ou errada sobre a sua doenca e o motivo da admissao. Por exemplo,
terd a nocao de que ficard no hospital pelo menos quatorze semanas
corn uma fractura do femur; ou sabera que tern urn cancro e que vai
fazer tratamento citostático. A sua percepedo, seja ela
.
qual for, sobre
a doenea tern implicacOes na comunicagdo do enfermeiro corn de.
REACCAO DO DOENTE/FAMILIA A ADMISSAO AO HOSPITAL
E util apreciar a reaccdo do doente e/ou familia a sua admissão. 0
doente pode falar livremente acerca das suas ansiedades, ou pode estar
relutante ern falar, e nesse caso elas nao serem expostas. 0 doente pode
ser incapaz de partilhar,
, mesmo corn os seus familiares mais prOximos,
a ansiedade que sente. E importante que tais situaciies sejam tidas em
conta no piano de cuidados.
CONDICOES HABITACIONAIS
O conhecimento do ambiente ern casa e das prOprias caracteristicas
habitacionais a importante ao planar a reabilitaflo e a alta. Por exem-
plo, é importante para efeitos de planeamento saber que urn doente
cardiac° vive num apartamento muito alto, sem elevador; que a casa
de banho é exterior; que, no caso de se tratar de uma pessoa idosa,
a existencia de escadas pode ser perigosa, assim como a utilizacao dum
sistema de aquecimento, se este exigir, por exemplo, que o doente pe-
gue ern recipientes pesados corn carvao.
PESSOA COM QUEM SE RELACIONA MELHOR
Os familiares, por muito prOximos que sejam, nao sac) necessaria-
mente as pessoas mais importantes na vida dum individuo. Podem vi-
ver demasiado longe para serem envolvidos no contacto didrio, ou en-
tao nao desejarem envolver-se. A pessoa mais importante na vida de
alguem pode na realidade ser o vizinho, o leiteiro, ou o policia da zona.
Muitas pessoas idosas, infelizmente, nao tem grandes amigos, e os seus
animais domnêsticos podem ser a companhia mais importante na sua
vida. Se isto se passa, o piano de cuidados deve considerar estes aspectos.
Colheita de dados na intim 57
RECURSOS DA COMUNIDADE
A informagâo antes da admissão fornecida pelos servigos, oficiais
ou nao acerca da ajuda de que urn doente necessita, acaba sempre por
fornecer indicagOes sobre a dependância do doente e, logo, ser titil no
planeamento da alta.
HISTORIA GERAL DA SAUDE E HOSPITALIZACAO PREVIA
Nesta fase de apreciagdo, devem verificar-se as condogOes de satide
presentes e anteriores. A informacdo acerca de alergias, doengas crOni-
cas e regimas de medicamentos, tais como insulina ou ester6ides, é neces-
sdria. Convem saber se o doente esteve recentemente hospitalizado e
como foram as suas experiéncias de hospitalizagdo.
PRATICAS RELIGIOSAS OU CRENCAS QUE CONSTITUEM
UMA ARIDA PARA 0 DOENTE
No planeamento para as necessidades espirituais do doente, importa
mais identificar praticas significativas do que denominagOes particula-
res. A doenga, muitas vezes, desperta ou acentua uma necessidade espi-
ritual, e os enfermeiros necessitam de encorajar o doente a expressar
os seus sentimentos e necessidades espirituais, nomeadamente lavar as
mäos antes das refeigdos como se de urn ritual se tratasse, ou momen-
tos de silâncio ou de ()raga°.
ACTIVIDADES RECREATIVAS E TRABALHO PASSADO/PRESENTE
0 conhecimento de actividades recreativas, tais como ler livros, revistas
e jornais ou ouvir programas de radio e mdsica, podem considerar-se
titeis no planeamento do dia-a-dia do doente, para diminuir o aborre-
cimento e inaitividade, ou para ajudar a reabilitagdo dum doente corn
AVC ou ern recuperacäo dum traumatismo craniano.
0 trabalho e o estilo de vida em geral podem ser alterados definiti-
vamente devido aos efeitos da doenca. Ern alguns casos, o trabalho pas-
sado e o estilo de vida podem contribuir para a doenca ou agrava-la.
APRECIACAO GERAL NA ADMISSAO
A primeira fase da histOria clinica de enfermagem deve terminar corn
uma breve descrigão do estado fisico e emocional do doente, aquando
da admissäo. Uma observacdo sistematica da cabega aos pes pode ser
efectuada corn o auxilio duma imagem (figura 8). Isto ajuda a identi-
ficar, por exemplo, a dificuldade em respirar, deficiente circulagäo peri-
ferica, a pele, x nutricao, a mobilidade e disttlrbios sensoriais.
58 A prifica da enfermagem pelo processo de enfermagem
A informacao basica é completada corn registos de temperatura, do
pulso, da respiragdo, da tensdo arterial e do peso. A susceptibilidade
a dlceras de pressào é apreciada utilizando a Knoll Pharmaceutical Scale
(figura 9). Quanto mais elevada for a contagem total nesta escala, maior
o risco de desenvolvimento de Ulceras de pressdo.
Exemplos de apreciagOes da primeira fase sdo dados nas figuras 10
a 12.
RESPIRAQA0
CIRCULAQAO
TEMPERATURA
EQUIPAMENTO
INFLUENCIAS SOCIOCULTURAIS
PESSOAS, SIGNIFICATIVAS
PARA 0 DOENTE
Colheita de dados na pratiea 59
ALGO QUE CHAME A ATENQAO
(I DADE, SEXO. RACA, ESTADO GERAL)
CABECA
CABELO E COURO CABELUDO
/CAN
S
MENTAL
AUDICAO
BOCA
VISA()
Figura 8 A apreciaego do homem — Guia, na cabeca aos pes, para uma apreciacdo
do doente na admissao (segundo Wolff and Erikson, 1977)
PARAMETROS 0 1 2 3 Resultado
Estado geral de satide
Estado mental
Actividade
Mobilidade
Incontinência
Ingestao oral de
alimentos
Ingestdo oral de Iluidos
Predisposigao para
doengas (diabetes,
neuropatias, doenca
vascular, anemias)
Born
Marla
AmbulatOrio
Total
Nenhuma
Boa
Boa
Nula
Razoavel
Letargico
Necessita ajuda
Limitada
Ocasional
Razoavel
Razoavel
Ligeira
Deticiente
Semicomatoso
Moribundo
Comatoso
Contagem des as condicdes
em duplicado
Limitado a cadeira
Mull° limitada
Geralmente
de urina
Acamado
I mobilidade
Total de urina
e fazes
Deficiente
Deficiente
Moderada
Nenhuma
Nenhuma
Grande
‘
Quanto mais elevado e o resultado major é o potencial para desenvolver Olceras de pressao.
Os doentes corn resullados acima (12) devem ser considerados em risco.
Figura 9 Escala de risco de tilceras de pressdo (por cortesia de Knoll Pharmaceutical,
CO. New Jersey, 1977).
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