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UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 1 DOSAGEM DO CONCRETO 1. DEFINIÇÃO · É o proporcionamento adequado dos materiais, como cimento, água, agregados, e eventualmente dos aditivos. O produto final – concreto – deve atender os requisitos necessários tanto no estado fresco quanto endurecido. Estes requisitos devem ser obtidos para que a obra seja economicamente viável. 2. TRAÇO · É a relação entre a quantidade de cimento, sendo unitária, e as quantidades de agregados, podendo ser dado em massa ou volume. Geralmente, esta apresentação é feita da seguinte forma: Cimento(1):AgregadoMiúdo:AgregadoGraúdo:Relação a/c Em relação a massa do cimento seria(traço em massa): 1 : Ca/C : Cb/C : Cágua/C deve-se indicar também o consumo de cimento. 3. VOLUME DE CONCRETO · O volume total de concreto é obtido pelo soma dos volumes individuais de cada componente, incluindo-se os vazios . UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 2 Vconc = Vc + Va + Vb + Vágua + Vvazios Vc = Mc / gc Va = Ma / ga Vb = Mb / gb Vágua = Mágua / gágua Onde, Vc = volume de cimento Va = volume de areia Vb = volume de brita Vágua = volume de água Mc = massa de cimento Ma = massa de areia Mb = massa de brita Mágua = massa de água gc = massa específica do cimento ga = massa específica da areia gb = massa específica da brita gágua = massa específica da água Consumo de cimento : a = massa do agregado miúdo por massa de cimento c a fator b b a a c C +++ = ggg 1 1 UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 3 b = massa do agregado graúdo por massa de cimento Exemplo: Obter o consumo de materiais de um concreto cujo traço em peso é : 1 : 1,39 : 2,96 : 0,40 sendo : gc = 3,15 kg/dm3; ga = 2,62 kg/dm3; gb =2,54kg/dm3 Consumo de cimento: Areia : 414 x 1,39 = 575 kg/m3 Brita : 414 x 2,96 = 1225 kg/m3 Água : 414 x 0,40 = 166 litros 4. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO 4.1. Resistência característica – é o valor da resistência com 95% de probabilidade de ocorrência nos resultados obtidos em ensaios. Os resultados obedecem aproximadamente a curva de Gauss- curva de distribuição normal de frequência. Sendo n = número de amostras e fc = resistência de cada amostra, teremos: 3/414 40,0 54,2 96,2 62,2 39,1 15,3 1 1000 mkgC = +++ = UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 4 Resistência média : Desvio padrão: De acordo com a Curva de Gauss e com a NBR 6118, teremos: fck = fcj – 1,65 sd (Resistência característica) E a Resistência de dosagem : fcj = fck + 1,65 sd Onde sd é o desvio padrão determinado pela expressão: sd = kn x sn Sendo : sn = desvio padrão da resistência, determinado em ensaios com corpos de prova da obra considerada ou de outra obra cujo concreto tenha sido executado com o mesmo equipamento e iguais organizações e controle de qualidade. Os valores de kn são os indicados a seguir: å = = n i ccj fn f 1 1 ( ) 1 1 2 - - = å = n ff s n i ccj UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 5 n 20 25 30 50 200 kn 1,35 1,30 1,25 1,20 1,10 Não se tomará para sd valor inferior a 2 MPa. Quando não for conhecido sn, o desvio padrão para a dosagem sd será fixado segundo os seguintes critérios: a) Quando houver assistência de um profissional legalmente habilitado, especializado em tecnologia do concreto, todos os materiais forem medidos em peso e houver medidor de água, corrigindo-se as quantidades de agregado miúdo e água em função do teor de umidade, e houver garantia de manutenção, no decorrer da obra, da homogeneidade dos materiais a serem empregados : Sd = 4 MPa b) Quando houver assistência de um profissional habilitado, especializado em tecnologia do concreto, o cimento for medido em peso e os agregados em volume, e houver medidor de água, com correção do volume de agregado miúdo em função do teor de umidade : Sd= 5,5 MPa c) Quando o cimento for medido em peso e os agregados em volume e houver medidor de água, corrigindo-se a quantidade de água em função da umidade dos agregados simplesmente estimada: Sd = 7 MPa UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 6 5. MÉTODO DE DOSAGEM ABCP/ACI 5.1. OBJETIVO Este método é recomendado para concretos feitos com agregados de massa específica convencional, com trabalhabilidade para moldagem in loco, ou seja consistência deve ser de semi-plástica a fluida. São necessários os seguintes dados: a) Materiais : · Cimento - tipo, massa e específica, e nível de resistência aos 28 dias. · Agregados – análise granulométrica e massa específica. · Agregado graúdo – massa unitária compactada. b) Concreto : · Dimensão máxima característica admissível . · Consistência medida pelo abatimento do tronco de cone. · Condições de exposição ou finalidade da obra. · Resistência de dosagem de concreto. 5.2. PROCEDIMENTO 5.2.1. Escolha do abatimento Pode ser feita de acordo com a tabela 1. UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 7 Tabela 1 – Abatimento em função do tipo de estrutura Tipo de construção Abatimento mínimo(cm) Abatimento máximo(cm)* Paredes de fundação e sapatas 2 8 Vigas e paredes armadas 2 10 Pilares 2 10 Pavimentos e lajes 2 8 Concreto massa 2 8 *Pode-se aumentar 2 cm se o adensamento não for mecânico 5.2.2. Fixação do diâmetro máximo do agregado Geralmente é escolhido com base no fator rconômico, nas dimensões das peças a ser concretada e o espaçamento entre as armaduras, coforme a NBR 6118: Dmáx. < ¼ das distâncias entre as faces das formas Dmáx. < 1/3 da espessura da laje Dmáx. < e/1,2 , onde “e” é o espaçamento entre as barras das armaduras. 5.2.3. Fixação do fator água/cimento Para fixação do fator a/c com base na durabilidade o ACI apresenta a tabela 2. A escolha com base na resistência mecânica do concreto deve ser feita com base nas Curvas de Abrams do cimento, caso não seja possível pode-se adotar a figura1. UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 8 Tabela 2- Relações a/c máximas para concretos submetidos a condições severas Tipo da Estrutura Estrutura exposta à ação da água do mar ou sulfatadas Peças esbeltas e seções com menos de 2,5cm de recobrimento da armadura 0,40 Outros 0,45 5.2.4. Determinação do consumo de água do concreto(Ca) A quantidade de água para se obter um determinadoabatimento depende: do tamanho máximo, da forma , da textura e da granulometria do agregado graúdo. Os valores da tabela 3 são recomendados como ponto inicial para concreto feitos com agregado graúdo britado, agregado miúdo, consumo de cimento da ordem de 300kg/m3 e abatimento de 40 a 100mm. Tabela 3 – Consumo de água aproximado (l/m3) Dimensão máxima característica do agregado graúdo (mm) Abatimento (mm) 9,5 19,0 25,0 32,0 38,0 40 a 60 220 195 190 185 180 60 a 80 225 200 195 190 185 80 a 100 230 205 200 195 190 UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 9 Experimentalmente, a determinação exata do consumo de água pode ser obtida após 2 ou 3 tentativas. Pode-se utilizar a seguinte expressão para facilitar esta operação: Onde : Car = consumo de água requerida Cai = consumo de água inicial ar = abatimento requerido ai = abatimento inicial 5.2.5. Determinação do Consumo de Cimento(C): O consumo de cimento é calculado com base no consumo de água e no fator água/cimento: O consumo de cimento normalmente varia de 200 a 400kg/m3. 5.2.6. Determinação do Consumo de Agregados Os agregado graúdos e miúdos forma uma curva granulométrica total de agregados, sendo de grande importância para a trabalhabilidade e o custo final do concreto. 1,0 ÷÷ø ö ççè æ = i r aiar a a CC ca C C a / = UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 10 Após serem obtidos os consumos de água e cimento, o consumo de agregados é determinado através da diferença de volume para completar 1m3 de concreto. No método da ABCP o consumo de agregado graúdo é função da : sua dimensão máxima e do módulo de finura da areia, e o consumo de agregado miúdo será função dos teores da pasta e agregado graúdo do concreto. a) Determinação do Consumo de Agregado Graúdo(Cb) : O consumo de agregado graúdo é obtido diretamente na tabela 4: Tabela 4 – Volume compactado seco(Vc) de agregado graúdo por m3 de concreto Dmáx.M.F. 9,5 19,0 25,0 32,0 38,0 1,8 0,645 0,770 0,795 0,820 0,845 2,0 0,625 0,750 0,775 0,800 0,825 2,2 0,605 0,730 0,755 0,780 0,805 2,4 0,585 0,710 0,735 0,760 0,785 2,6 0,565 0,690 0,715 0,740 0,765 2,8 0,545 0,670 0,695 0,720 0,745 3,0 0,525 0,650 0,675 0,700 0,725 3,2 0,505 0,630 0,655 0,680 0,705 3,4 0,485 0,610 0,635 0,660 0,685 3,6 0,465 0,590 0,615 0,640 0,665 UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 11 A determinação de Cb é feita pela expressão: Cb = Vc x Mc (kg/m3) Onde Vc e Mc são respectivamente, o volume compactado por m3 de concreto (tabela4) e a massa unitária compactada do agregado graúdo. Segundo a NBR 7211 a brita já graduada recebe a seguinte denominação: Brita Zero (B0), Brita Um (B1), Brita Dois (B2), Brita Três (B3), Brita Quatro(B4), podendo Ter dimensão máxima de 9,5(B0) a 76 mm(B4). Estudos desenvolvidos na ABCP levaram a conclusão de que o menor volume de vazios na mistura de duas britas de graduações contígua é obtido quando se mistura 50% de cada uma delas (Tabela 5), exceto no caso das britas zero e um. Tabela 5 – Proporcionamento de britas Britas Utilizadas PROPORÇÃO B0,B1 30%B0 e70% B1 B1, B2 50%B1 e50%B2 B2,B3 50%B2 e50%B3 B3,B4 50%B3 e50%B4 Quando não for possível determinar a massa unitária compactada, pode-se adotar o valor de 1500kg/m3. b) Determinação do Consumo de Agregado Miúdo Esta determinação é imediata, pois pode-se admitir que o volume de concreto é formado pela soma dos volumes absolutos de cimento(Vc), água (Va) e agregados (Vm-Vb). Assim, para 1 m3 de concreto tem-se: ÷÷ø ö ççè æ ++-= a C b C c C V abm ggg 1 UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 12 Onde, gc, gb e ga são respectivamente, as massas específicas do cimento, agregado graúdo e água; o consumo de areia será: Vm = gm x Vm Onde gm é a massa específica da areia. Segundo a ABCP o volume de vazios nos concretos convencionais é geralmente inferior a 2%, e o erro cometido em não considerá-lo é pequeno. Caso seja utilizado aditivo incorporador de ar , seu volume deve ser considerado na expressão que determina o volume de agregado miúdo. 5.3. Correções e Ajustamento dos Traços a) Umidade Determinando-se o teor de umidade dos agregado através da expressão : H = (Ph-Ps)/ Ps x 100 em % , o peso úmido será: Ph = (1+ h/100)Ps E o volume corrigido será : Vcorr = Vinicial – hxPs/100 b) Correção do abatimento Para aumentar ou diminuir o abatimento (slump) em 1 cm, deve-se aumentar ou diminuir a quantidade de água em 2 kg/m3 de concreto. Em seguida, UFRJ – ESCOLA DE ENGENHARIA Dosagem _______________________________________________________________________________ Profa. Ana Catarina Evangelista 13 deve-se corrigir a quantidade de cimento, pois o fator água/cimento deverá ser inalterado. Ex: Abatimento desejado = 4 cm Abatimento obtido = 1 cm Quantidade de água inicial = 180 L Quantidade de água necessária = 2x(4-1) = 6 kg/m3 Ca corrigido = 180+6=186 L Fator a/c= 0,62 C c corrigido = 186/0,62 = 300 kg. Para que a massa específica do concreto permaneça inalterada após as correções é também necessário ajusta a quantidade de areia (Cm). Cm = Peso do concreto – (Cacorr+Cccorr+Cb),em kg.