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Efeitos dos ruídos nas práticas de atendimento odontológico 
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Desde a revolução industrial, o ruído tem acompanhado o homem em todas as suas atividades. Nas últimas décadas, ele se transformou na forma de poluição que atinge um maior número de pessoas. 
Inúmeros estudos vêm evidenciando que os efeitos nocivos não se limitam apenas às lesões do aparelho auditivo, mas comprometem diversos outros órgãos e funções do organismo, contribuindo desta maneira para aumentar as preocupações, esforços na eliminação e/ou controle deste agente. 
A sociedade, de um modo geral, é passiva diante desta questão, e não raramente os indivíduos citam que já estão habituados ao ruído, como se fosse elemento natural do ambiente. 
A permanente exposição das pessoas a níveis de ruídos elevados pode causar perda da audição. Sabe-se que o ouvido humano é capaz de tolerar sem prejuízo à audição, ruídos com intensidade de até 80 decibéis. 
A Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho, recomenda através da portaria nº 3214/78 que a exposição contínua acima de 80 decibéis durante 6 a 8 horas diárias pode levar o indivíduo a uma diminuição gradual da acuidade auditiva. 
A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é encontrada em trabalhadores expostos repetidamente a um elevado índice de ruído, ocasionando lesão no órgão de corti (cóclea). Inicialmente a perda se dá nas freqüências agudas em torno de 4.000 e 6.000 khz, com o passar dos anos, à medida em que o indivíduo continua exposto aos ruídos nocivos, as freqüências graves também são atingidas. 
A partir do contato com odontólogos, orientando pesquisa na Universidade de Franca (UNIFRAN), pude vivenciar o dia-a-dia dos consultórios de Odontologia, perceber e questionar o nível de ruído do motor de alta rotação e a influência do mesmo na audição dos cirurgiões-dentistas que atuam como clínicos gerais. 
Através de teste específico para detectar o limiar de audição (audiometria), foram testados em uma amostra de 19 dentistas com no mínimo dois anos de profissão e idade máxima de 50 anos. Obtiveram-se os seguintes resultados: 
- 2/3 dos dentistas com os quais trabalhamos (aproximadamente 68,42%) apresentaram deficiência auditiva com perda de audição nas freqüências agudas, característico de PAIR. 
- 1/3 dos dentistas com os quais trabalhamos (aproximadamente 31,58%) apresentaram audição normal. 
Torna-se relevante expor que mesmo os dentistas que não apresentaram perda de audição, apresentaram como quadro clínico zumbido, leve cefaléia, fadiga e tontura. A sintomatologia dos dentistas que apresentaram PAIR eram de dificuldades em diferenciar os sons da fala na presença de ruído competitivo. 
A perda auditiva induzida por ruído é uma das únicas perdas que podem ser prevenidas. O fonoaudiólogo e o otorrinolaringologista têm condições de executar o diagnóstico precoce através de exames simples de audição. Cabe ressaltar que, conforme o Comitê Nacional de Ruídos e Conversação Auditiva, a audiometria deve ser realizada por um profissional legalmente habilitado, repouso acústico de 14 horas e exame clínico com otorrinolaringologista para realização de otoscopia, para descartar quaisquer patologias que possam interferir na fidelidade do exame. 
Através de meu projeto de mestrado, que envolve investigação do limiar de audição dos alunos do 1º ao 4º ano de Odontologia comparado com o tempo de exposição ao ruído e profissionais com no mínimo dois anos de atividade clínica, pretendo desenvolver uma investigação sobre esta problemática, visando verificar se a exposição ao ruído do motor de alta rotação e ou compressor utilizado pelos odontológicos acarreta algum dano à sua audição e a partir de quanto tempo de exposição é necessário para ocasionar uma perda, colaborando assim para melhoria da saúde dos dentistas, nos aspectos referentes à prevenção da acuidade auditiva. 
Diante do exposto, aconselho ao profissional odontólogo uma análise freqüente da audição como medidas profiláticas, no intuito de manter o funcionamento fiel da capacidade auditiva. 
 
Gisele Mary Berbare é fonoaudióloga formada pela Universidade de Franca, com especialização em audiologia clínica.

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