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os manuscritos do mar morto

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1 1
Os Manuscritos do Mar Morto, os essênios e a relação com o Jesus 
Histórico 
 
De Hugo Viana Santos1 
 
 
A temática de fato ainda é e provavelmente sempre será objeto de debate acadêmico 
que, desde a descoberta dos manuscritos em 1947, ocasionou uma reformulação acerca das 
idéias e interpretações com relação ao contexto sociocultural da Palestina no século I, 
sobretudo os essênios, Jesus e as origens do cristianismo. 
A descoberta dos manuscritos trouxe a tona elementos históricos que anteriormente 
não eram estudados de forma mais aprofundada. Tais elementos acabaram contribuindo de 
certa forma para uma reflexão mais abrangente sobre as origens do cristianismo primitivo e 
sua relação com o judaísmo neotestamentário. 
O objetivo é expressar as possíveis relações da literatura qumranita com relação ao 
essenismo sectário e o Jesus histórico. Seria incorreto pensar que tais manuscritos são nossas 
únicas fontes de informação que temos sobre o seguimento essênico, pois do contrário, como 
poderíamos explicar as citações feitas por Josefo e Plínio que descrevem alguns detalhes 
desse judaísmo monástico. 
Os pergaminhos, após serem achados em 1947, foram trabalhados e catalogados na 
intenção não somente de divulgar no meio acadêmico os segredos da seita, mas facilitar sua 
identificação para com outros textos hebraicos. De início, o padre Roland de Vaux se recusou 
em liberar os textos para conhecimento público. Até para os estudiosos que se interessavam 
pela descoberta era difícil o acesso aos pergaminhos. Lembrando que a preciosa descoberta 
foi feita acidentalmente por leigos e não por especialistas.2 
Parte dos especialistas defende a teoria de que a comunidade de Qumran era de fato a 
mesma comunidade dos essênios que Josefo relata. Embora haja alguns interesses nessa 
hipótese, não se pode afirmar com plena certeza tal afirmação, nem que se tratam do mesmo 
movimento. Contudo, como a grande maioria dos estudiosos de Vaux e Geza Vermes 
acredita que a relação de associação entre ambos os movimentos são compatibilizadas devido 
 
1
 Bacharel em Teologia pelo STEBAN - Seminário Teológico Evangélico Batista Nacional. Com ênfase 
em História Antiga (Judaísmo, Helenismo,Cristianismo e os seis Impérios da Antiguidade). Curso de 
Extensão sobre Religião e Sociedade na Grécia Antiga pela Faculdade São Bento. Curso de convalidação 
pela FACETEN - Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil. Curso de 
Cristianismos, Questões e Debates Metodológicos pela UFRJ. 
2
 Para saber mais sobre como aconteceu a descoberta, ver em: CHARLESWORTH, James H. Jesus 
dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro. Ed Imago, 1992 p 70. 
 2 2
às semelhanças litúrgicas e as concepções teológicas, sobretudo associadas ao apocalipsismo 
e a concepção messiânica. 
A primeira vista, parece que somente a seita de Qumran é o único movimento 
separatista dos outros segmentos judaicos, levando uma vida totalmente monástica, longe até 
mesmo da pluralidade cultural existente em Jerusalém. Se caso considerarmos essa 
concepção como verdadeira, como explicar outros documentos antigos que também foram 
encontrados em cavernas próximas ao Mar Morto, sobretudo os pseudoepígrafos? 
Diante desse vasto universo de especulações, podemos concluir que trata-se de uma 
tarefa não tão simples estudar os manuscritos, a seita de Qumran, os essênios e a relação com 
o Jesus Histórico. A hipótese de que Jesus poderia ter sido um essênio não é totalmente 
descartada no meio acadêmico. Todavia, não há provas que afirmem o contrário, 
principalmente pela ausência de informações no próprio texto bíblico. 
Devemos concordar que os manuscritos ou quaisquer outros textos encontrados não 
expressam nenhum tipo de afirmação acerca na particularidade de Jesus ter sido influenciado 
significativamente pelos essênios. Seria um equívoco tendenciarmos sobre esta questão sem 
nenhum tipo de fonte ou achado em que se possa apoiar. Entretanto, podemos considerar a 
possibilidade de Jesus em seu ministério itinerante possa ter tido algum tipo de contato com 
algum membro da seita, e ter sido mesmo que indiretamente influenciado em algum aspecto. 
Levando-se em conta que as informações contidas em Josefo que afirmam que em toda a 
Palestiva viviam pelo menos 4000 essênios. Segundo Josefo e Filo, o mosteiro de Qumran 
tinha a capacidade para abrigar somente 300 essênios. Considerando o número 4000 como 
literal, provavelmente 3700 essênios estavam espalhados por outras regiões. Filo e Josefo 
também afirmam que os mesmos viviam em aldeias e gostavam de se reunir nas periferias. 3 
Há uma outra descoberta mencionada em Josefo acerca de uma porta essênica em 
Jerusalém que parece ter sido comprovada pelas descobertas arqueológicas mais recentes 
feitas a sudoeste da atual muralha de Jerusalém e pelo manuscrito do Templo.4 Segundo 
alguns eruditos, este manuscrito pode ser considerado como uma prova de que viviam 
essênios em Jerusalém. 
As expectativas são significativas, pois mesmo que a narrativa bíblica não faça 
nenhum tipo de menção sobre a seita, temos provas suficientes de que a mesma existiu e se 
difundiu em grande número. No entanto, devemos levar em consideração a peculiaridade de 
 
3
 CHARLESWORTH, James H. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro. Ed Imago, 1992. p 77 
4
 CHARLESWORTH, James H. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro. Ed Imago, 1992. p 78 
 
 3 3
João Batista com relação à prática batismal. Para isso, é necessário entender que João adotou 
tal prática, mas de forma diferente das práticas relacionadas aos rituais de purificação com 
água. João batizava uma só vez, sendo precedido por uma pregação de arrependimento, que 
em grego significa “metanoia”. Morfologicamente significa “com pensamento”, ou seja, met 
= com, e noios = pensamento. Tal mensagem tinha como objetivo uma reflexão sobre o 
comportamento moral, buscando assim, uma vida voltada para a santidade. Diferente dos 
essênios que tinham banhos esporádicos ou constantes usando a água como um elemento de 
limpeza dos pecados. 
Há também diversas peculiaridades semelhantes entre a comunidade de Qumran e a 
seita dos essênios. O “Preceito de Damasco”( 1QS) que além de expressar práticas 
excepcionalmente essênicas como o celibato e os códigos de vida; também expressam a 
localidade geográfica onde ficava a comunidade, ou seja localizada a margem noroeste do 
Mar Morto, ao sul de Jericó, que foi confirmada pelos escritos de Plínio.5 
A origem da seita ainda é uma incógnita. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que 
seu início remete a uma descendência saduceísta. Essa especulação ainda entra em conflito 
com várias idéias, pois como explicar o isolamento monástico e a mentalidade de 
exclusividade salvífica. Lembrando que os saduceus da época de Jesus estavam ligados 
politicamente aos romanos, e não acreditavam na ressurreição nem na aparição de anjos. No 
meio acadêmico existe uma resposta satisfatória para pergunta sobre a origem da seita. Há 
um documento recém publicado conhecido como carta de Habakuc que expressa algumas 
passagens em seus fragmentos (4 QMMT = 4 Q394-399), onde o líder da seita de Qumran 
defende pontos na Lei em que são compatíveis com os posicionamentos atribuídos aos 
sacerdotes saduceus. Contudo, a oposição que representava a religião de maior aceitação 
social em Jerusalém advogava posições contrárias as suas, sendo elas mais semelhantes ao 
posicionamento dos fariseus. 
 O preceito de Damasco 4Q 265-273 = 4QSD) traz informações sobre a possível 
origem da seita. Ele relata a áspera contenda entre o “sacerdote ímpio” e o “mestre da 
justiça”. A crítica acadêmica rotula o “sacerdote ímpio” como sendo um sumo sacerdote 
hasmoneu, possivelmenteJônatas ou Simão (152-143 a.C) que viveram no período da era 
macabéia. Este preceito expressa que um grupo de sacerdotes leigos buscava a santidade por 
meio de sua religião. Viviam eles em meio a uma situação generalizada de irreligiosidade no 
meio do judaísmo. Sendo assim, a única maneira que encontraram para não se contaminar 
 
5
 VERMES. Geza. Os Manuscritos do Mar Morto. São Paulo, Ed Mercuryo, 2008. p 15 
 4 4
não somente com o paganismo, mas também com as práticas ilícitas de outra seitas, era o 
isolamento monástico, sendo este liderado por um guia chamado “mestre da justiça” ou da 
“retidão”. Este não encontrou aprovação unânime em seu meio. Como conseqüência de tal 
atitude, logo encontrou oposição liderada pelo “sacerdote ímpio”. O comentário de Habakuc 
(4 Q Hab), faz alusões aos personagens deste conflito informando que o sacerdote ímpio fora 
corrompido pela avareza e pela cobiça do poder (VIII, 8-11). E como explicar a origem dos 
saduceus tradicionais que encontramos na narrativa bíblica e em Josefo? Se considerarmos 
que nem todos os saduceus preferiram seguir o líder do movimento anti-essênico, tendo 
como conseqüência um conflito dividido com os hasmoneus, e que a outra parte preferiu 
adotar uma atitude mais tolerante para com seus compatriotas, podemos dizer que o grupo 
ficante preferiu um convívio e uma relação política em Jerusalém. Esse convívio não 
incorporava somente membros de outros segmentos judaicos, os romanos também eram 
incluídos. Para os essênios, tal atitude foi considerada como um ato de afronta a Torah. É a 
partir daí que podemos começar a entender acerca da duplicidade messiânica da parte dos 
essênios. Esse pensamento não existia no meio dos saduceus tradicionais que conviveram 
com Jesus, pois temos provas nos evangelhos que e no livro de Atos que mostram a rejeição 
dos saduceus em relação a ressurreição e a aparição de anjos. Sendo assim, podemos ver que 
tais textos lançam luz sobre a etapa inicial de compromisso com a história da origem de tais 
segmentos; (essênios e a comunidade de Qumran). Do contrário, as informações vindas até 
os dias de hoje, mesmo Josefo e Plínio que são consideradas fontes primárias de pesquisa 
histórica, são tidas como limitadas e influenciadas pelos autores, causando assim uma critica 
sobre a veracidade do conteúdo informado. 
 
1- A religião Persa, os textos judaicos e o cristianismo 
 
 Alguns acreditam que o apocalipsismo judaico, sobretudo o messianismo e o 
dualismo expresso nos textos de Qumran, foram provavelmente provenientes da influência 
masdeísta6 do período medo-persa. O conceito de bem e mal e luz e trevas bastante 
difundido na literatura qumranita, é igualmente usado no cristianismo do século I. Ele é 
expresso na parábola do “administrador infiel” expressando que Jesus também tinha tal 
concepção dualista, (Lc 16.8). 
 
6
 O zoroastrismo, também chamado de masdeísmo, mitraísmo ou parsismo, é 
uma religião monoteísta fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra, a quem os gregos chamavam 
de Zoroastro. É considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. 
. 
 5 5
 As diversas vertentes teológicas presentes no cristianismo do século I, derivaram 
provavelmente doas influencias não somente do judaísmo rabínico farisaico, mas 
provavelmente do gnosticismo. Daí podemos notar importantes e diferentes questões que de 
certa forma compões o cristianismo da época de Jesus e dos apóstolos. 
 O judaísmo pós-exílico, mesmo sendo o mais ortodoxo, carregou consigo influências 
da diáspora no que tange convívio cultural gentílico. Sendo assim, podemos compreender e 
perceber a inserção de alguns elementos gentílicos provenientes dessa relação. Essa 
discussão nos leva a dimensionar a real inserção histórica do judaísmo, ou judaísmos que 
influenciaram direta ou indiretamente o cristianismo do século I. Um número considerável de 
especialistas em judaísmo acredita que o próprio proselitismo foi proveniente da influência 
helenista. Nesse sentido, podemos concluir que o judaísmo do Novo Testamento sofreu uma 
influencia considerável de um número variado de culturas gentílicas. O que provavelmente 
foi incorporado de forma mesmo que indireta nas raízes do cristianismo. 
 Ao estudarmos mais detalhadamente as influencias gentílicas, nos deparamos com 
uma problemática histórica acerca da origem da concepção anti-messiânica presente na seita 
dos saduceus. Se considerarmos a concepção messiânica como uma derivação da relação 
entre judeus e persas, como explicar o posicionamento dos saduceus com relação a não 
aceitação da existência de um messias. Lembrando que os saduceus eram politicamente mais 
favoráveis ao domínio estrangeiro, sobretudo o de Roma. E mesmo que alguns considerem 
esse argumento como não satisfatório, é necessário lembrar que as influências culturais 
podem romper paradigmas, ultrapassar gerações, se fundindo hibridamente e formando uma 
nova dimensão cultural. Todavia, Israel mantinha uma mentalidade pessoal no que tange 
purificação étnica, o que na verdade nunca existiu devido às relações com outras nações 
desde o período de formação do povo hebreu. 
 Os Evangelhos em momento algum fazem menção sobre a existência de alguma seita 
essênica. Os movimentos citados são: Fariseus, Saduceus e Zelotes. Em algumas passagens 
encontramos a denominação, “escriba” ou “escriba da Lei”. 
Não sabemos até que ponto podemos especular que Jesus sofreu ou não algum tipo de 
influência essênica, ou dos pergaminhos. O que nos deixa mais intrigados, é a questão 
associada ao dualismo predominante nos pergaminhos com relação aos termos: “Luz e 
Trevas”, que na verdade representam o bem e o mal que Jesus também expressa em diversas 
passagens tais como “a parábola do mordomo infiel”. Segundo alguns estudiosos, esses 
elementos podem ser encarados como resultado da influência essênica. Não deixando de 
lembrar e levar em conta sua relação com João Batista que segundo alguns especialistas 
 6 6
ainda, vivia no estilo de vida sacerdotal dos essênios. O termos “Luz e Trevas e “Bem e Mal” 
são visto raramente no Antigo Testamento. Ex: Is 45.7, que nesta passagem expressa a 
definição de um mal permissivo da parte de Deus para com Israel em decorrência da 
desobediência. 
 James Charles Wort escreve em seu livro Jesus dentro do Judaísmo que “nenhuma 
coleção estimulou tanto a imaginação de nossos contemporâneos quanto os Manuscritos do 
Mar morto”.7 É possível que Jesus tenha sido influenciado pelos essênios, e se 
considerarmos os mesmos como autores dos Manuscritos, provavelmente poderíamos 
especular que os manuscritos exerceram algum tipo de influência sobre o Jesus Histórico. 
Agora estamos diante de uma problemática especulativa devido as diversas hipóteses sobre 
os manuscritos e os essênios. Se os essênios sofreram influência do zoroastrismo persa, será 
que Jesus poderia ter sofrido tal influência? De fato devemos concordar que há diversas 
compatibilidades entre ambos. O dualismo relacionado a “Luz e Trevas”, a concepção 
messiânica e a vinda iminente do apocalipse. Poderia ser acrescentada a prática batismal, no 
entanto, os essênios tinham como hábito se banhar com água esporadicamente. Já no 
cristianismo, o tal prática era feita uma só vez precedido de uma decisão de arrependimento. 
Diante de tantas informações e especulações, fica difícil medir a dimensão das influências 
culturais, por isso, o melhor caminho a ser seguido é observar os dados das fontes de forma 
coerente e mais imparcial possível, a fim de realizar uma análise mais próxima do que 
provavelmente seria o correto. 
 Podemos analisar e avaliar de forma crítica que apesar de não termos evidencias da 
relação direta entre Jesus eos essênios, devemos concordar com Charles Wort quando ele 
afirma que tanto os essênios quanto o movimento cristão deram ênfase a condição humana 
pecaminosa e a incapacidade de não conseguir uma auto salvação. 8 
 Questões apocalípticas como foi citado antes, também estão entre as compatibilidades 
de ambos os movimentos, pois ambas estão fundamentadas na aparição de um messias que 
viria para julgar os “pecadores”. Se Josefo que viveu no século I sabia tanto e descreve com 
detalhes a respeito dos essênios, provavelmente seus contemporâneos como os evangelistas 
Marcos, Lucas e João poderiam saber algo sobre eles. Mesmo que não fizessem parte do 
movimento ou mesmo questão alguma de expressar em suas narrativas a existência da seita. 
Não devemos deixar de levar em consideração a possibilidade de que alguns que foram 
 
7
 CHARLESWORTH, James H. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro. Ed Imago, 1992. p 72. 
8
 CHARLESWORTH, James H. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro. Ed Imago, 1992. p 74. 
 
 
 7 7
excluídos da seita em Qumran, voltassem a Jerusalém e mantivesse relações com outros 
judeus e consequentemente acabariam divulgando seus aprendizados e práticas. 
 O estudioso Filson acredita que nem Jesus nem seus discípulos mantiveram contato 
com os essênios. Ele descarta qualquer tipo de influência essenica sobre Jesus ou seus 
seguidores. Sua tese está baseada na seguinte pergunta: “Devemos acreditar que Jesus, João 
Batista, os discípulos e Paulo haviam participado da seita e depois a deixado sem que o fato 
fosse registrado?” 9 A possibilidade de Paulo ter sido um essênio é nula. Isso devido a 
própria narrativa bíblica registrar em Atos 23.6 que ele era na verdade um fariseu. Jesus 
provavelmente não pertenceu a seita, pois do contrário ficaria registrado no texto bíblico. 
João Batista apresenta um perfil característico semelhante ao dos essênios. Poderia ter sido 
ele um ex-essenio, pois o ritual esporádico de se banhar em água acaba sendo substituído 
pelo único batismo de arrependimento pregado por ele. Filson entra em equivoco quanto a 
sua afirmativa. A narrativa do Novo Testamento não nos fornece muitas afirmações pessoais 
sobre tais personagens; não se trata se uma obra biográfica e sim uma narrativa com o 
objetivo de expressar os preceitos e a história do cristianismo. A narrativa entra em detalhes 
sobre alguns discípulos, mas quando se trata de outros, não faz menção alguma sobre seu 
passado ou seu segmento judaico. 
 Com base na crítica textual, devemos considerar uma outra problemática concernente 
a alguns ditos de Jesus que são compatíveis com alguns trechos dos pergaminhos. Há quem 
pense que tais ditos foram inseridos pelos evangelistas na intenção de partilhar suas 
tendências teológicas. É provável que os mesmos sentissem a necessidade de compartilhar 
suas ideologias e tradições nas passagens. Há um dito de Jesus registrado em Mateus 12.11 
em que o mesmo, ao ser interrogado acerca da prática de cura num sábado acaba 
respondendo com a seguinte pergunta: “qual dentre vós será homem, tendo uma ovelha, e, 
num sábado esta cair numa cova, não fará todo esforço, tirando-a dali?”. Quatro versículos 
antes, ele se auto-intitula “senhor do sábado”. Jesus aqui parece combater os exageros com 
relação à ênfase dada ao sábado. Alguns segmentos judaicos como a escola farisaica Shamai 
e os essênios eram bem mais radicais em relação a tal ênfase. O “Documento de Damasco” 
expressa um mandamento que afirma a seguinte afirmação: “se o animal cair numa cova ou 
vale, não o tirará no dia de sábado.” (CD 11.13-14). Ao que parece Jesus poderia estar 
dirigindo estas palavras a um essênio ou até mesmo um grupo, pois os mesmos faziam parte 
 
9
 CHARLESWORTH, James H. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro. Ed Imago, 1992 p 75. 
 
 
 8 8
dos mais radicais em guardar o sábado. Geza Vermes expressa que a teoria sobre a datação 
do “Documento de Damasco” é aproximadamente no ano 100 a.C. Esta data se dá em 
virtude da ausência de qualquer menção sobre os kittim termo associado aos (romanos), cuja 
invasão no Oriente só aconteceu após 70 a.C. A semelhança entre Mt 12 e CD 11 é 
intrigante, pois a menção de Jesus a um poço é de certa forma bastante semelhante com o 
mandamento do pergaminho de Damasco. 
 A verdade é que não temos provas de que Jesus dirigia tais palavras aos essênios. 
Mas provavelmente Jesus conhecia o “Documento de Damasco”. Existe a possibilidade de 
que Jesus poderia estar dirigindo tais palavras a qualquer outro seguimento radical com 
relação ao sábado. Poderiam ser esses seguimentos, judeus essênios que moravam em 
Jerusalém, ou os fariseus da escola Shamai que também eram intolerantes concernentes ao 
sábado. Todavia, a semelhança entre tais ditos continua sendo bastante semelhante. Se 
levássemos em consideração que tais palavras estavam sendo ditas contra os essênios, 
deveríamos excluir a possibilidade de Jesus ter sido influenciado pelo essenismo de Qumran? 
De maneira alguma poderemos concordar com tal afirmativa. Devido a tantas especulações 
equivocadas sobre a pessoa de Jesus, causadas por leigos e especialistas, não devemos ser 
levianos em ser taxativos quanto a essa especulação negativa acerca da influência. O mais 
provável é levar em consideração o possível convívio onde provavelmente ocorreu uma troca 
de conhecimentos culturais entre ambos. Mesmo que esteja claro que Jesus em nenhum 
momento tenha sido membro da seita. O que está claro no texto é que tais exageros não 
foram aceitos por Jesus, mesmo sendo ele um judeu vivido na Palestina. 
 Bárbara Thiering acredita que a identidade do “sacerdote ímpio” está diretamente 
associada a Jesus. J.L Teicher acredita que Jesus era o “mestre da justiça”. A possibilidade 
de Jesus ter sido qualquer um dos dois é nula; isso devido a citação de ambos no pergaminho 
de Damasco. Como foi dito acima, este pergaminho data aproximadamente do ano 100 a.C. 
Devido a ausência de informações sobre os romanos. Em virtude disso, como o argumento de 
Bárbara ou J.L Teicher poderiam estar corretos se Jesus foi contemporâneo do período onde 
Roma exercia a hegemonia. Se remetêssemos Jesus a um período pré-romano, como explicar 
a menção na narrativa em Mateus capítulo 20, Marcos 12.15 e Lucas 20.24 sobre o termo 
“denário” que era a principal moeda romana? Jesus também faz menção ao imperador 
romano César. Por estas razões os argumentos de ambos são sem nenhum tipo de 
fundamentos e devido a isso está descartada a hipótese de Jesus ter sido qualquer um dos 
dois. 
 
 9 9
 Indubitavelmente, a descoberta dos Manuscritos causou de certa forma uma 
reformulação sobre o estudo das raízes do cristianismo antigo. Novas reflexões foram feitas e 
muitas até coerentes. É correto dizer que os essênios pensavam na escatologia como uma 
expressão da exclusividade divina sobre eles como “povo eleito”. Essa idéias é bem diferente 
da escatologia de Jesus que mesmo tendo seu “querigma” salvífico voltado para os judeus, 
mostra nas entrelinhas que seu objetivo era que Israel fosse um povo missionário. Jesus 
expressa em Lucas 4;27 que a bondade de Deus não se restringia somente aos judeus, 
mensagem essa que de fato não foi aceita pela grande maioria. Mas, ao observarmos essa 
passagem, percebemos o caráter missionário de Jesus para com o mundo gentílico, bastante 
incompatível com a teologia essênica. 
 Outra incompatibilidade entre a doutrina de Jesus e a dos essênios seria a ênfase de 
Jesus ao amor não somente aos semelhantes judeus, mas até aos inimigos em Mateus 5.43. 
Não sabemos até que ponto Jesus conhecia a literatura dos essênios. Contudo, no Preceito 
1QS I há uma ordenança sobre “odiar doa filhos das trevas”. No texto de Mateus, Jesus 
afirmaa expressão: “Ouviste o que foi dito...” Não há na Lei mosaica nenhuma expressão 
que motive ao ódio. Provavelmente Jesus poderia estar dirigindo essas palavras a um grupo 
como um todo, mas quando faz a referencia: “ouviste o que foi dito” deveria se referir a 
literatura essênica. O Salmo 139. 21-22 expressa algo semelhante acerca do ódio. É provável 
que tais palavras pudessem ser uma tentativa de combater a ordenança ao ódio explicita no 
pergaminho 1QS, pois Dt 10. 18-19 afirma que os hebreus deveriam amar até mesmo o 
estrangeiro sendo este um morador do convívio judaico. É nesse sentido que podemos ver o 
alto teor exclusivista e fundamentalista na doutrina essênica. É provável que existissem 
prosélitos no meio dos essênios e que esse eram tratados como essênios. Contudo, se um 
prosélito ou um essênio abandonasse a seita, provavelmente passaria a ser odiado pelo 
restante dela. Por isso é quase que totalmente improvável o fato de Jesus ter sido um essênio. 
Mas de fato, ele partilhou muito mais que simplesmente a nacionalidade. Como observado, 
alguns pontos das ideologias teológicas são singularmente compatíveis entre ambos. Da 
mesma forma que podemos afirmar categoricamente que o cristianismo não se derivou da 
seita não podemos ser taxativos em afirmar que não sofreu influência essênica. O 
cristianismo acabou reunindo em uma só religião, elementos culturais e teológicos de 
diversos judaísmos. 
 A emancipação do cristianismo se dá em um momento onde a diversidade do 
judaísmo era tamanha ao ponto de só na Palestina existirem mais de 40 seitas diferentes. 
Todavia, não se sabe quantas exerceram influência direta ou indireta sobre o cristianismo. 
 10 1
 
 
 Sem sombra de dúvida a absorção de elementos culturais judaicos acabou 
acontecendo de forma paulatina na teologia cristã não somente de Jesus, mas também dos 
discípulos. A avaliação dos traços distintos da teologia de Jesus não pode ser realizada 
somente com base na pesquisa dos pergaminhos. Do contrário, acabaríamos ignorando de 
forma arbitrária a influência de outros seguimentos judaicos do século I. Outros antigos 
textos judaicos proporcionam uma melhor interpretação sobre a figura de Jesus como a 
Misná, os Talmudes e até mesmo Josefo. Ao analisarmos dessa forma, podemos perceber 
com base na crítica textual desse textos e dos evangelhos, que apesar de não termos provas 
concretas sobre qual seguimento Jesus pertencia, sabemos que o mesmo partilhou dos mais 
variados judaísmos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11 1
BIBLIOGRAFIA: 
 
 
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus: obra completa. Trad Vicent e Pedroso. Rio de 
Janeiro, CPAD, 1990. 
 
MEIER, John P. Um Judeu Marginal - Repensando o Jesus Histórico. Trad Laura 
Rumchinsky, Rio de Janeiro, Ed Imago, Vol 2, 2003. 
 
MEIER, John P. Um Judeu Marginal - Repensando o Jesus Histórico. Trad Laura 
Rumchinsky, Rio de Janeiro, Ed Imago, Vol 3, 2003. 
 
SKARSAUNE, Oskar. À sombra do Templo - As influências do judaísmo no 
cristianismo primitivo. Trad Antivan Guimarães. São Paulo, Ed Vida, 1982. 
 
WORTH, James H. Charles. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro, Ed Imago, 1992. 
 
VERMES, Geza. Os Manuscritos do Mar Morto. São Paulo, Ed Mercuryo, 2008.

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