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Eu sou viciada em séries Não tenho medo e nem vergonha de admitir, talvez porque eu saiba que muitos são viciados também e pouco provável serei julgada. Julgamentos são dolorosos, pois criam uma barreira entre o que eu acho que sou, e quem eu deveria ser. No final do dia as opiniões alheias não me importam, apenas quero estar com quem eu amo, roubando a coberta, tendo companhia para dormir e conversar. Eu moro a 800 km de casa e sinto falta do carinho da mãe, Do abraço do pai, e da cumplicidade do meu irmão. Sinto saudade de rirmos de coisas bobas e do desejo de boa noite antes dormir. Eu assisto série quando vou comer, quando estou sem sono, Quando estou triste e principalmente quando percebo que estou longe de todos que eu amo Faço isso porque tenho necessidade de ser eu mesma, quando as pessoas que são parte de mim, não estão comigo. Eu tenho um motivo para ser viciada, Mas, e se eu fosse viciada em bebidas? Estaria me condenando a morte. Drogas? Estaria me autodestruindo E pornografia? Seria uma doente mental Bom, onde eu quero chegar? Vícios são vícios A maneira que vemos cada um deles é que modifica nosso julgamento Amenizamos aquilo que nos interessa e exageramos naquilo que não temos vinculo Nas visitas domiciliares a gente procura vícios em todas as pessoas Se ela come muitos doces Se passa muito tempo na frente do computador Se é sedentária Se fuma Até se é uma religiosa fanática. Queremos catalogar Colocar num mesmo livro Mas em colunas separadas Achamos doenças onde muitas vezes só há solidão. Diagnosticamos depressão em dez minutos de conversa. Identificamos todos os problemas com duas visitas. Queremos cortar o açúcar, sem ao menos saber quanto doce de leite foi negado pela pobreza, ou pela necessidade quando ainda eram crianças. Queremos que as pessoas parem de beber, sem entender que a bebida foi o meio que ela encontrou para viver, sobreviver a cada dia. Não sabemos de nada Não adianta querermos olhar os outros, se não compreendemos que os outros somos nós modificados. É difícil entender que naquilo que enxergamos problemas, talvez seja a melhor solução que ela encontrou. Viver é uma escolha e não a cabe a nós dizer o que se deve ou não fazer nessa vida O tempo não espera, os mais velhos morrem, Mas os mais novos também. A questão é: Como chegamos a esse reducionismo? Quem nós somos para tirar conclusões sobre a vida de pessoas que mal conhecemos? Será que gostaríamos que pessoas entrassem em nossa casa e Achassem que soubessem de tudo o que passamos, pelo simples fato de eu abrir a porta E deixa-la entrar? Somos uma pequena máquina em busca de historias para colocar num portfolio, doenças para apresentar num caso clinico, e projetos de intervenção para mostrarmos ao preceptor que estamos fazendo algo. Sempre assim Fazemos para os outros Pela nota do semestre Pela admiração do professor Pela audácia de achar que sabemos De tanto fazer para os outros, esquecemos que temos uma paciente, uma família, uma dor, uma magoa, um sorriso, uma vida completamente diferente da minha, mas humanamente igual. Se fossemos mais maleáveis conseguiríamos ajudar de uma maneira, que isso não implicasse em perdas, mas em ganhos. Ganhos para a saúde, para a qualidade de vida. Mas não temos tempo, a fila é grande e os problemas são muitos. Arrumamos desculpas para tudo, inclusive para ignorarmos o que está além do exame laboratorial, a prescrição do medicamento e a dieta restrita. Não precisamos descobrir, não precisamos investigar, o dialogo deixara claro muitas coisas, que vai além da técnica, dos livros, do consultório 2x3. Imagine um mundo onde as pessoas não te julgassem? É esse mundo que eu quero para os meus pacientes E a transformação tem que partir de mim, pois eu quero mudar. Isso é uma autocrítica, reconhecer ainda é a melhor forma de melhorar. Imagem retirada da internet Filme: Up altas aventuras
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