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Direito Civil II Obrigações 3º Período 2º semestre de 2016 FAESO (1)

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Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos – FAESO
PROGRAMA DE DISCIPLINA 
1 IDENTIFICAÇÃO
Componente Curricular: Direito Civil II – Obrigações
Professor: Christovam Castilho Júnior 
 (E-mail: castilhojunior.estacio@gmail.com)
Curso: Direito
Período: 3º
Turma: A
Turno: Noturno
Nº horas/aula semanais: 4 (quatro)
 semestrais: 72 (setenta e duas)
2 EMENTA
Introdução do acadêmico ao estudo do Direito das Obrigações, fornecendo-lhe as bases históricas, conceituais e dogmáticas para a compreensão do fenômeno obrigacional. Transmissão do conhecimento dos conceitos e institutos vinculados à teoria geral das obrigações, aplicáveis às diversas fontes obrigacionais.
3 OBJETIVOS
GERAL
Desenvolver o aprendizado da disciplina trazendo conceitos variados de cada instituto, com o intuito de despertar uma visão dinâmica, crítica, e que o acadêmico possa exercer as atividades jurídicas de forma satisfatória.
ESPECÍFICOS
Proporcionar conhecimentos básicos indispensáveis ao aproveitamento das demais disciplinas, que se valem dos conceitos de direito obrigacional; 
Estabelecer uma visão em conjunto das fontes de obrigações e do âmbito de abrangência de diplomas legais distintos do Código Civil;
Compreensão das diversas modalidades de relações obrigacionais presentes no ordenamento civil, bem como da estrutura da relação obrigacional à luz da doutrina, jurisprudência e legislação em vigor; e
Oportunizar o estudo da Teoria Geral das Obrigações a partir de uma metodologia que permita a diferenciação entre os tipos obrigacionais existentes, revelando os bens jurídicos que tutelam.
4 Metodologia de Ensino
 Aulas expositivas dialogadas;
 Debates; 
 Leitura de textos legais, doutrinas e jurisprudências, elaborando análise crítica e redação;
 Estudo de casos extraídos de processos, periódicos e livros, propondo soluções; e
 Atividades complementares orientadas para a disciplina. 
5 AVALIAÇÃO 
 
 1 (uma) prova bimestral, oportunizando-se também a feitura de trabalhos de pesquisa (individual ou em grupo) sobre temas e critérios previamente definidos, cuja nota será acrescida àquela obtida na avaliação, como forma de incentivo à pesquisa acadêmica; e
 Serão considerados ainda, o comportamento em sala de aula, participação do aluno durante as aulas, assiduidade e frequência.
6 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1 Introdução ao Direito das Obrigações: contextualização do Direito Obrigacional no Direito Civil;
2 Noção de obrigação: conceito; elementos; fontes e classificação das obrigações (dar, fazer e não fazer);
3 Modalidades obrigacionais: obrigações natural e real; obrigações alternativas e facultativas; obrigações divisíveis e indivisíveis; obrigações solidárias; obrigações líquidas e ilíquidas; obrigações principais e acessórias; obrigações condicionais, modais e a termo;
4 Transmissão das obrigações: cessão de crédito e assunção de dívida;
5 Adimplemento e extinção das obrigações: pagamento: quem, a quem, objeto, prova, lugar e tempo; Pagamento indireto: consignação, sub-rogação, imputação, dação em pagamento, novação, compensação, confusão, e remissão.
7 BIBLIOGRAFIA - BÁSICA
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 2.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 2.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: parte geral das obrigações. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
Índice Sistemático do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10-01-2002)
Parte Geral
Livro I - Das Pessoas – (Artigos 1º a 78)
Livro II - Dos Bens – (Artigos 79 a 103)
Livro III - Dos Fatos Jurídicos – (Artigos 104 a 232)
Parte Especial
Livro I - Do Direito das Obrigações – (Artigos 233 a 965)
Livro II - Do Direito de Empresa – (Artigos 966 a 1195)
Livro III - Do Direito das Coisas – (Artigos 1196 a 1510)
Livro IV - Do Direito de Família – (Artigos 1511 a 1783)
Livro V - Do Direito das Sucessões – (Artigos 1784 a 2027)
Livro Complementar
Das Disposições Finais e Transitórias – (Artigos 2028 a 2046)
Parte Especial
Livro I - Do Direito das Obrigações 
 (Artigos 233 a 965)
Título I – Das Modalidades das Obrigações 
 (Artigos 233 a 285)
Título II – Da Transmissão das Obrigações 
 (Artigos 286 a 298)
Título III – Do Adimplemento e extinção das Obrigações (Artigos 304 a 388)
Título IV – Do Inadimplemento das Obrigações 
 (Artigos 389 a 420)
O QUE SÃO OBRIGAÇÕES?
1.1 CONCEITO 
A palavra obrigação pode assumir vários significados, dependendo do contexto que estiver se referindo.
 
Sentido amplo - obrigação é um dever, que pode estar ligado a uma acepção moral ou jurídica.
Do ponto de vista moral, as pessoas têm obrigações diversas, fruto da cultura, dos costumes e da própria convivência social.
Exemplos de obrigações morais - comparecer a eventos familiares, contribuir com campanhas sociais, etc.
 Segundo o Prof. Carlos Roberto Gonçalves, do ponto de vista jurídico, obrigação é o vínculo que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação.
 Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível.
 É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações. Constitui ele, pois, a garantia do adimplemento com que pode contar o devedor. 
O Prof. Villaça, refere-se conceitualmente as obrigações utilizando o conceito moderno de obrigação dado por Washington de Barros Monteiro, segundo o qual:
Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal, econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio.
No conceito acima vemos, claramente, o caráter transitório da relação jurídica, que, se fosse perpétua, importaria servidão humana, escravidão, o que não mais se admite nos regimes civilizados.
O caráter econômico dessa relação está, também, patente nesse conceito, a mostrar o patrimônio do devedor a responder pelo descumprimento obrigacional.
O conceito anterior refere-se à prestação positiva ou negativa. Positivas são as prestações de dar e de fazer, e negativas as de não fazer, as quais serão estudadas em pontos subsequentes, bem como todos os elementos que compõem a obrigação.
ANÁLISE DO CONCEITO:
Relação jurídica - une as pessoas e estabelece sanção pelo não cumprimento (diferente das morais, religiosas)
Transitória - nasce com a finalidade de extinguir-se (diferente do direito real de propriedade que busca ser duradouro)
Credor e devedor - sujeitos - obrigação oponível só às partes - pessoal (diferente da real que é oponível erga omnes)
O Código Civil não traz 
um conceito para obrigação,
deixando-o para uma construção 
Doutrinária.
Quando a obrigação está dentro da órbita jurídica, há um dever jurídico, que se relaciona a uma lei específica ou a um contrato firmado entre as partes. 
Exemplos de obrigações jurídicas - pagar um tributo, comparecer a uma audiência, cumprir um contrato de prestação de serviços, dentre muitas outras.
É importante dizer que, dentro da órbita das obrigações jurídicas, pode-se distinguir dois grandes grupos: obrigações patrimoniais e obrigações não patrimoniais.
Obrigações patrimoniais - aquelas que podem ser convertidas em dinheiro, como no caso do pagamento do tributo ou cumprimento de um contrato etc.
Obrigações não patrimoniais - são aquelas que nunca serão convertidas em dinheiro pela própria natureza da obrigação. Um exemplo seria o dever de guarda e educação dos filhos pelos pais, o dever do filho de se submeter ao poder parental exercido pelos pais, dentre outros.
1.2 ELEMENTOS
As obrigações jurídicas apresentam 3 elementos principais: sujeito, objeto e o vínculo jurídico.
SUJEITO - partes que participam da relação. 
Ex.: se a obrigação for a de pagar um tributo, as partes serão o poder público (credor), de um lado, e o cidadão contribuinte do outro (devedor); já, se a obrigação se originar de um contrato de compra e venda, as partes serão o comprador e o vendedor que avençaram a compra e venda de determinado objeto.
Credor - polo ativo - quem tem crédito: tem interesse no cumprimento; pode exigir a dívida (coerção ou coação Estatal); pode dispor ou ceder seu crédito.
Devedor - polo passivo - quem deve a prestação: deve praticar a conduta, ou seja, prestar o objeto da relação jurídica estabelecida, ao credor ou a quem este determinar.
OBJETO - conteúdo da obrigação, que pode ser o pagamento de uma quantia em dinheiro, um comportamento, ou entrega de algo.
 
O objeto da relação jurídica é uma prestação (atividade de dar, fazer ou não fazer do devedor).
 Objeto imediato: é a prestação (dar, fazer e não fazer)
 Objeto mediato: é a coisa ou o ato em si (a coisa)
Deve ser lícito, possível, determinado ou determinável (elementos dos negócios jurídicos - art. 104, CC).
Pode ser uma ação ou uma omissão (obrigação positiva ou negativa).
A prestação sempre é suscetível de avaliação econômica (exceção: obrigações do direito de família e dever de servir as forças armadas).
VÍNCULO - se refere à lei, ou ao contrato, que fez surgir as obrigações entre as partes.
É a ligação existente entre credor e devedor, que confere ao primeiro o direito de exigir que o segundo cumpra a sua obrigação.
O vínculo surge das diversas fontes das obrigações, que veremos em momento posterior (atos voluntários como os contratos e os atos unilaterais, ou atos involuntários, como os atos ilícitos).
ELEMENTOS DO VÍNCULO (DÉBITO E RESPONSABILIDADE):
Débito - vínculo imaterial: consciência do devedor, pois a lei sugere o comportamento que o mesmo deve praticar.
Responsabilidade - vínculo material: confere ao credor o direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação, submetendo o patrimônio do devedor à execução (coação). 
 A responsabilidade garante o débito (garantia). O devedor tem adstrita a sua liberdade, pois se não cumprir seu débito sofrerá o peso da constrição patrimonial.
EXCEÇÕES SOBRE O VÍNCULO JURÍDICO
Débito sem responsabilidade:
Pode ocorrer que exista débito, mas não exista responsabilidade, como no caso dos débitos prescritos; dívidas de jogos de azar; 
O credor não tem como exigir a obrigação.
Responsabilidade sem débito: 
Como no caso da fiança: o locatário é o obrigado pela prestação (débito), mas o fiador, quando tal não for cumprida, torna-se responsável, sem que tenha sido inicialmente obrigado pelo débito.
1.3 Fontes das Obrigações no Direito Romano
No Direito Romano, a responsabilidade penal dos delitos foi a primeira a surgir, seguindo-lhe o dever de indenizar o dano causado por quem violou a lei civil. A primeira figura que aparece, portanto, como fonte das obrigações é o delito. 
Os denominados delitos privados, como o furto, o roubo, a injúria e o dano, em que a pena é imposta em favor da vítima, respondendo o causador pelo prejuízo, pela sua culpa, mesmo quando levíssima.
Posteriormente, conhece-se a criação das obrigações pelos contratos. Encontramos, assim, a primeira afirmação de Gaio de acordo com a qual a obrigação surge do contrato ou do delito.
As várias causas de obrigações não enquadradas nos delitos e nos contratos, foram reunidas sob o título de quase-contratos.
Coube à escola bizantina definir uma quarta fonte de obrigações: os quase-delitos. Certas figuram vinculadas aos delitos, que não tinham como pressuposto a vontade de causar o dano, implicando numa responsabilidade que hoje denominada de subjetiva.
Como se vê, o critério da distinção é a exigência ou não da vontade. O consenso caracteriza o contrato; a atividade lícita, sem consenso prévio, importa em quase-contrato; o dano causado a outrem voluntariamente é o delito e o provocado involuntariamente é o quase-delito.
Portanto, assim surgiram as Fontes das Obrigações no Direito Romano e que hoje a doutrina as divide em: 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES NO DIREITO CIVIL
Contrato (negócios jurídicos bilaterais - arts. 104 e 421, CC).
Ato ilícito (atos ilícitos - art. 186, abuso de direito - art. 187, enriquecimento ilícito - art. 884, responsabilidade civil - arts. 186 e 927, todos do CC).
Declarações unilaterais de vontade (promessas de recompensa - art. 854, pagamento indevido - art. 876 e títulos ao portador - art. 887, todos do CC).
Contrato: é a convenção estabelecida entre duas ou mais pessoas, em virtude do qual uma delas obriga a outra a dar, fazer, ou abster-se de algo.
Declaração de vontade unilaterais: são obrigações emanadas de manifestações de vontade de uma parte e não discriminam desde logo a pessoa do credor, que só surgirá após a construção da obrigação.
Atos ilícitos: ocorrem quando alguém produz lesões corporais em outrem, e dessa forma está obrigado a pagar indenização civil.
Para alguns autores ainda, as fontes da obrigação são três: a) a lei; b) o negócio jurídico; e c) a sentença. 
Consideram-se legais as obrigações que se afirmam por determinação de lei, as quais subsistem sem o concurso geratriz da vontade do sujeito passivo, alcançado pelo dever de realizar o objeto obrigacional. (Ex: Proprietário de veículo automotor está obrigado a pagar o IPVA). 
Reputam-se contratuais as obrigações que se impõem por função de negócio jurídico, as quais existem com o concurso da vontade dos sujeitos ativo e passivo, que se obrigam reciprocamente numa relação sinalagmática. (Ex: Contrato de compra e venda, locação etc). 
Dizem-se sentenciais as obrigações impostas por decisão judicial, geralmente oriundas de atos ilícitos que, resultantes de ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violam direito e causam dano a outrem, de natureza material ou moral. (Ex: Indenização por dano material)
1.4 CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES
Uma classificação relevante é aquela que distingue as obrigações em virtude do objeto de cada uma. Há três tipos de obrigação: obrigação de dar, fazer e não fazer. 
1.4.1 Obrigação de dar
A obrigação de dar se traduz em obrigações positivas, em que o devedor tem o dever de entregar algo ao credor, transferindo, dessa forma, a propriedade do objeto devido, que antes se encontrava no patrimônio do devedor.
Obrigação de dar - subdivide-se em dar coisa certa ou dar coisa incerta.
Ex: Dar um documento a alguém. 
1.4.1.1 Obrigação de dar coisa certa - aquela em que seu objeto é certo e determinado. A obrigação, então, se liga diretamente a um objeto específico que não pode ser trocado por outro.
Dessa definição retira-se a regra de que o credor não poderá receber coisa distinta do que foi convencionado, ainda que possua valor maior, ou seja, o devedor não terá que entregar coisa diferente daquela devida, mesmo que essa seja menos valiosa do que o objeto da relação. Nesse sentido, anuncia o art. 313 do CC: 
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. (grifos nossos)
Importante mencionar que a coisa a ser entregue pode se perder ou deteriorar, e nesse caso, há várias regras que irão disciplinar a situação.
Se o devedor de obrigação de dar coisa certa, deixar que a coisa se perca ou deteriore antes da entrega, há algumas conseqüências, que irão depender se o devedor agiu com ou sem culpa de sua parte.
Assim, quando o devedor de obrigação de dar coisa certa deixa que a coisa se perca sem culpa, este deverá restituir o preço ao credor, acrescido da correção monetária respectiva, e assim, a obrigação se extingue. Essa previsão está presente no art. 234, primeira parte do CC:
 Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente,
a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; (...)
Um exemplo dessa situação seria a obrigação de dar uma jóia de brilhantes. Antes de o devedor entregar o colar é surpreendido em sua casa por um assaltante que rouba o colar. Nesse caso houve a perda da coisa sem culpa do devedor. O que a lei determina que seja feito é que o devedor restitua ao credor o valor que este já havia pago, acrescido de correção monetária.
No caso de haver apenas a deterioração da coisa (estragos) sem culpa do devedor, o credor terá duas escolhas: ou recebe a coisa no estado em que se encontra pagando o preço proporcional aos prejuízos percebidos na coisa, ou não recebe a coisa, e exige restituição do valor pago acrescido de correção monetária, conforme a regra presente no art. 235 do CC:
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Para exemplificar a situação anteriormente descrita retorna-se ao caso do colar. Imagina-se que antes da entrega do colar, este cai no chão, sem culpa do devedor, e perde algumas pedras. Nesse caso, conforme já fora explicado, o credor pode desfazer o negócio e ter restituição do seu valor pago, ou aceitar o colar, mesmo faltando algumas pedras, desde que o devedor faça um abatimento no preço, proporcional ao prejuízo havido na coisa.
Entretanto quando se verifica culpa do devedor, a situação se modifica, pois a lei pretende punir o devedor que, por sua culpa, prejudicou a obrigação, e dessa forma, surge a figura da indenização por perdas e danos.
Assim, quando a coisa se perde por culpa do devedor, este fica obrigado a restituir o preço pago pelo credor, acrescido de correção monetária além das perdas e danos sofridos pelo não recebimento da coisa. Nesse sentido dispõe o art. 234, segunda parte do CC/02:
Art. 234 (...) se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.
Essa situação pode ser exemplificada no caso da obrigação de entrega de um carro já vendido. Ora, antes da entrega, o devedor alcoolizado, sai com o veículo e acaba se envolvendo em um acidente, ocasionando a perda total do veículo.
Nesse caso, o devedor, além de restituir o valor corrigido, deverá indenizar o credor pelas perdas e danos sofridos, apurados pelo prejuízo efetivamente suportado pelo credor, bem como o que os lucros que deixou de perceber em virtude da perda da coisa.
Se, por exemplo, o credor tivesse comprado um carro para transportar uma mercadoria perecível (de curta conservação) para um cliente seu. Nesse caso, o devedor deverá restituir o valor corrigido, bem como fazer face aos prejuízos do contrato que o credor deixou de cumprir.
Observação importante: quando os prejuízos suportados pelo credor não puderem ser quantificados, o devedor arcará com a restituição do valor pago corrigido acrescido de juros, que são uma forma de recompensar o credor da obrigação.
Quando a coisa apenas se deteriorar por culpa do devedor, o credor também poderá escolher: se aceita a coisa no estado em que se encontra, com abatimento no preço acrescido pela indenização por perdas e danos; ou exige a restituição do valor pago, corrigido também acrescido da indenização de perdas e danos.
Essa regra está prevista no art. 236 do CC:
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. 
Para exemplificar essa última hipótese retorna-se ao exemplo do automóvel. Se em vez de ter sido perda total, o devedor alcoolizado tivesse apenas amassado o veículo, o credor poderia receber o carro, no estado em que se encontra com abatimento no preço, ou exigir a restituição do valor já pago corrigido; lembre-se de que em ambas as hipóteses o credor tem direito à indenização por perdas e danos.
Percebe-se que essas normas têm como diretrizes básicas o princípio de que, quando a coisa se perde em virtude de caso fortuito, ou seja, fato imprevisível no qual não há culpa do devedor, quem suporta os prejuízos é o dono da coisa, ainda que não a tenha recebido.
Já, quando for verificada a culpa, há a obrigação de indenizar, pois quem causa prejuízo a outrem tem a obrigação de reparar o dano.
Observação importante: Obrigação de dar dinheiro
A obrigação de dar dinheiro está no rol das obrigações de dar. Essa modalidade de obrigação ocorre quando o objeto da obrigação for dinheiro em si, como no caso de um empréstimo, ou quando ocorrer perda ou deterioração no objeto de determinada obrigação, que enseja a conversão desta em dinheiro.
Nesse sentido vem à tona a diretriz que determina o curso forçado da moeda, que significa que contratos de direito interno somente podem ser estipulados em moeda nacional. Mas isso não significa que os contratos que possuam cláusulas determinando o pagamento em ouro ou moeda estrangeira serão considerados nulos; na realidade, o que vai ocorrer será a nulidade da referida cláusula e a conversão da obrigação devida em moeda nacional.
Nesse sentido determina o art. 318 do CC:
Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. 
Ressalta-se que os únicos contratos que podem ser estipulados em moeda estrangeira são os contratos de comércio exterior, que seguem as normas do decreto 857/1969.
Outra obrigação de dar é a obrigação de dar coisa incerta. Essa modalidade de obrigação se materializa também na entrega de uma coisa, só que há uma especificidade: o objeto da obrigação não é certo e determinado; a obrigação é genérica pela indeterminação do objeto.
1.4.1.2 Obrigação de dar coisa incerta - é determinada apenas pelo gênero e pela quantidade. Um exemplo seria a obrigação de dar um celular: Trata-se de obrigação de dar coisa incerta pois é uma obrigação de entrega de uma coisa, mas genérica, determinada somente pelo gênero, que é um aparelho de telefone celular, e a quantidade, que é uma unidade.
Nesse sentido refere-se o art. 243 do CC:
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. (grifos nossos)
Sabe-se que, nesse tipo de obrigação, a escolha, normalmente cabe ao devedor, mas nada impede que as partes tenham estipulado o contrário, caso em que o credor é quem poderá fazer a escolha que irá determinar especificamente a obrigação.
Adverte-se que o bom senso deverá prevalecer nessa relação haja vista que o devedor da obrigação não pode prestar a pior escolha, nem é obrigado a entregar a melhor delas. Nesse sentido determina o art. 244 do CC:
 Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. (grifos nossos)
Antes da escolha, o devedor não pode alegar perda ou perecimento da coisa, ainda que sem culpa. Isso porque como ainda não houve a escolha não há como saber qual foi o objeto específico da obrigação. É o que diz a regra presente no art. 246 do CC:
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito.
Dessa forma, somente após a escolha é que as situações de perda ou deterioração da coisa serão analisadas. Cumpre ressaltar que após a escolha, as obrigações de dar coisa incerta se transformam em obrigações de dar coisa certa, seguindo as mesmas regras anteriormente citadas sobre perda ou deterioração da coisa, com ou sem culpa do devedor.
1.4.2 Obrigação de fazer
A obrigação de fazer não diz respeito à entrega de uma coisa. Esse tipo de obrigação se materializa no dever de exercer determinada conduta,
ou seja, desenvolver determinado trabalho físico ou intelectual, prestar um tipo de serviço etc.
Obrigação de fazer; 
Ex: Ajudar a mulher a cuidar do filho. 
Na obrigação de fazer, quando o devedor se recusa a exercer determinada conduta pela qual se obrigou, a obrigação é convertida em indenização por perdas e danos, pois não há como forçar o devedor a cumprir esse tipo de obrigação.
OBSERVAÇÃO: Esse fato faz com que as obrigações de fazer se distanciem das obrigações de dar, pois nestas o devedor pode ser obrigado a entregar a coisa pela qual havia se obrigado, ainda que contra a sua vontade.
Em relação às obrigações de fazer, elas podem ser fungíveis ou infungíveis. 
1.4.2.1 Fungíveis (Art. 85, Código Civil) 
Obrigações que podem ser prestada por quem quer que seja, pois o importante é a obrigação em si, e não quem irá exercê-la. 
Ex.: tem-se a obrigação do conserto de um carro. Ora, trata-se de obrigação fungível, pois qualquer oficina tem condições de consertar o carro.
Ex.: obrigação de construir um muro. Trata-se de obrigação fungível, pois qualquer pedreiro pode construí-lo. 
1.4.2.2 Infungíveis (a contrario sensu - Art. 85, Código Civil)
Aquelas que não podem ser exercidas por outra pessoa, senão aquela que se obrigou. Neste tipo de obrigação, o grau maior de importância baseia-se na pessoa que irá exercer a conduta, e não na obrigação em si.
Um exemplo seria a contratação de um show com o cantor Roberto Carlos. Não adianta que outro cantor vá realizar o show; o importante é que o cantor Roberto Carlos realize o show. Por essa impossibilidade de substituição da pessoa que exerce a obrigação, diz-se que as obrigações infungíveis são intuitu personae ou personalíssimas.
Art. 247, CC: Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível.
E para assegurá-la, o direito francês criou a figura da astreinte, com imposição de uma multa diária, que somente cessa com a execução da obrigação.
 
O objetivo buscado pelo legislador, ao prever a pena pecuniária no art. 645, CPC, foi coagir o devedor a cumprir a obrigação específica. 
Quando a obrigação não puder ser cumprida, sem que haja culpa do devedor, a obrigação se extingue com a restituição do valor pago ao credor. Se, por outro lado, houver culpa do devedor, além da restituição do valor a ser pago, o devedor arcará com o pagamento de indenização por perdas e danos ao credor. 
Nesse sentido determina o art. 248 do CC:
Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.
Em se tratando de obrigação fungível, ou seja, que pode ser realizada por terceiro, o credor pode determinar que outro a faça à custa do devedor, diante da demora ou recusa deste. Essa possibilidade não exclui a indenização que o credor faz jus. Assim é a regra do art. 249 do CC: 
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Se a situação for urgente, o credor pode determinar que terceiro execute, ainda que sem autorização judicial, sendo que depois o credor será devidamente ressarcido.
1.4.3 Obrigação de não fazer 
A obrigação de não fazer determina que o devedor deixe de executar determinado ato em virtude de um contrato estabelecido entre as partes. É uma obrigação que se materializa na abstenção de um comportamento que poderia normalmente ser exercido se não houvesse o contrato entre as partes.
Ex.: o contrato de exclusividade de um artista a uma determinada emissora de televisão; para garantir a exclusividade, o artista assina um contrato em que se obriga a não conceder entrevista a outra emissora. A obrigação de não fazer é não conceder entrevista a outra emissora de televisão.
Esse tipo de obrigação, como todas as demais, pode sofrer o descumprimento por parte do devedor. Nesse caso, quando não há culpa do devedor, a obrigação se resolve, ou seja, o devedor restitui o valor pago, e a obrigação se extingue.
Quando há culpa por parte do devedor, o credor pode exigir que o devedor desfaça o ato, ou determina que outro desfaça à custa do devedor, que ainda deverá ressarcir por perdas e danos.
Em caso de urgência, o credor pode desfazer ou determinar que terceiro desfaça o ato, independente de autorização judicial, sendo posteriormente ressarcido pelos prejuízos sofridos. Essas regras estão presentes nos arts. 250 e 251 do CC.
Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.
Ex: A obrigação de não fazer pode se verificar no compromisso de não demolir determinada edificação existente em um terreno. A obrigação assumida estará extinta se a construção desmoronar em decorrência de fenômenos naturais, pois o desmoronamento tornará impossível cumprir a obrigação de não demolir.
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Ex: construir em um terreno em que havia servidão de não edificar.
Parágrafo único: Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.
Ex: um pequeno empresário cede seu direito de manter uma barraca de pastéis em uma feira agropecuária a outro vendedor de pastéis. No instrumento de cessão de direitos, assume a obrigação de não se instalar no local com o comércio de pastéis, pois isso acarretaria redução das vendas do cessionário. Mas, isso não ocorre.
14) Danilo celebrou contrato por instrumento particular com Sandro, por meio do qual aquele prometera que seu irmão, Reinaldo, famoso cantor popular, concederia uma entrevista exclusiva ao programa de rádio apresentado por Sandro, no domingo seguinte. Em contrapartida, caberia a Sandro efetuar o pagamento a Danilo de certa soma em dinheiro. Todavia, chegada a hora do programa, Reinaldo não compareceu à rádio. Dias depois, Danilo procurou Sandro, a fim de cobrar a quantia contratualmente prevista, ao argumento de que, embora não tenha obtido êxito, envidara todos os esforços no sentido de convencer o seu irmão a comparecer. A respeito da situação narrada, é correto afirmar que Sandro
 
(A) não está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, pois a obrigação por este assumida é de resultado, sendo, ainda, autorizado a Sandro obter
ressarcimento por perdas e danos de Danilo. 	
(B) não está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, por ser o contrato nulo, tendo em vista que Reinaldo não é parte contratante. 	
(C) está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, pois a obrigação por este assumida é de meio, restando a Sandro o direito de cobrar perdas e danos diretamente de Reinaldo. 	
(D) está obrigado a efetuar o pagamento a Danilo, pois a obrigação por este assumida é de meio, sendo incabível a cobrança de perdas e danos de Reinaldo. 	
Entende-se por obrigação de meio o dever de desempenho, de uma atividade contratada, com diligência, zelo, ou mesmo com o emprego da melhor técnica e perícia para se alcançar resultado pretendido. Ou seja, ao exercer a atividade, o contratado não se obriga à ocorrência do resultado, apenas age na intenção de que ele aconteça.
Assim, “compete ao credor a prova da conduta ilícita do devedor, devendo demonstrar que este, na atividade desenvolvida, não agiu com a diligência e os cuidados necessários para a correta execução do contrato”
Na obrigação de resultado, por sua vez, o devedor se obriga a alcança um fim específico. Verifica-se, por conseguinte, a inadimplência do contratado se o resultado contratado não ocorrer, podendo o mesmo responder por perdas e danos. Como exemplo típico de obrigação
de resultado, temos o contrato de prestação de serviço de pintura de parede, onde o pintor se obriga à completude de sua pintura. 
Deste modo, basta ao credor prejudicado a demonstração do descumprimento do contrato pela comprovação de não ter sido alcançado o resultado, restando ao devedor responder por perdas e danos. 
CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL EXAME DE ORDEM 2010.3-GABARITOS- PROVAS DO DIA 13/02/2011 
 GABARITOS PRELIMINARES APÓS ERRATA DE 15/02/2011 - EXAME DE ORDEM 2010.3 - TIPO 1 - BRANCO
14) RESPOSTA - “A” - Art. 247, CC 
Fonte: http://intranet.oabpr.org.br/site/servicos/ExamedeOrdem.asp
 
9) Maria celebrou contrato de compra e venda do carro da marca X com Pedro, pagando um sinal de R$ 10.000,00. No dia da entrega do veículo, a garagem de Pedro foi invadida por bandidos, que furtaram o referido carro. 
A respeito da situação narrada, assinale a alternativa correta. 
(A) Haverá resolução do contrato pela falta superveniente do objeto, sendo restituído o valor já pago por Maria. 	
(B) Não haverá resolução do contrato, pois Pedro pode alegar caso fortuito. 
(C) Maria poderá exigir a entrega de outro carro. 	
(D) Pedro poderá entregar outro veículo no lugar no automóvel furtado. 	
CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL EXAME DE ORDEM 2010.3-GABARITOS- PROVAS DO DIA 13/02/2011 
 GABARITOS PRELIMINARES APÓS ERRATA DE 15/02/2011 - EXAME DE ORDEM 2010.3 - TIPO 1 - BRANCO
9) RESPOSTA - “A” - Art. 234, CC 
Fonte: http://intranet.oabpr.org.br/site/servicos/ExamedeOrdem.asp
LEMBRE-SE: Importante mencionar que a coisa a ser entregue pode se perder ou deteriorar, e nesse caso, há várias regras que irão disciplinar a situação.
Se o devedor de obrigação de dar coisa certa, deixar que a coisa se perca ou deteriore antes da entrega, há algumas conseqüências, que irão depender se o devedor agiu com ou sem culpa de sua parte.
Assim, quando o devedor de obrigação de dar coisa certa deixa que a coisa se perca sem culpa, este deverá restituir o preço ao credor, acrescido da correção monetária respectiva, e assim, a obrigação se extingue. Essa previsão está presente no art. 234, primeira parte do CC:
 Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; (...)
2 MODALIDADES OBRIGACIONAIS
Vistas as espécies, vamos passar as próximas aulas tratando das modalidades de obrigações. 
São várias modalidades, mas que sempre irão corresponder a uma das três espécies de dar, fazer ou não-fazer. 
A primeira modalidade é:
2.1 Obrigação Natural
A obrigação civil produz todos os efeitos jurídicos, mas a obrigação natural não, pois corresponde a uma obrigação inexigível. Há autores que a chamam de obrigação degenerada. 
São exemplos: obrigação de dar gorjeta, obrigação de pagar dívida prescrita (art. 205, CC), obrigação de pagar dívida de jogo (art. 814, CC) etc. 
    
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        	A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o devedor só vai pagar se quiser, bem diferente da obrigação civil. Vocês sabem que se uma dívida não for paga no vencimento o direito do credor mune-se de uma pretensão, e a dívida se transforma em responsabilidade patrimonial. Mas tratando-se de obrigação natural, o credor não terá a pretensão para executar o devedor e tomar seus bens (art. 189, CC). A dívida natural existe, mas não pode ser judicialmente cobrada, não podendo o credor recorrer à Justiça.
	Conceito de obrigação natural: é aquela a cuja execução não pode o devedor ser constrangido, mas cujo cumprimento voluntário é pagamento verdadeiro. 
	Por que a obrigação natural interessa ao Direito se corresponde a uma obrigação inexigível? Pois, possui o efeito jurídico soluti retentio ou retenção do pagamento, ou seja, o credor pode reter o pagamento, quando feito pelo devedor. 
Ex.: se João paga dívida prescrita e depois se arrepende não pode pedir o dinheiro de volta, pois o credor tem  direito à retenção do pagamento (art. 882, CC).  
Como diz a doutrina, “a obrigação natural não se afirma senão quando morre”, ou seja, é com o pagamento e sua extinção que a obrigação natural vai existir para o direito, ensejando ao credor a soluti retentio. 
≠ O cumprimento de obrigação moral será tido, como vimos, como uma liberalidade (dever de consciência). Ex: obrigação de socorrer pessoas necessitadas; já o adimplemento de obrigação natural será considerado pagamento e não mera liberalidade. 
	Mas não confunda obrigação natural com obrigação inexistente: se João paga dívida inexistente o credor não pode ficar com o dinheiro, e João terá direito à repetitio indebiti ( = devolução do indébito; em direito “repetir” significa “devolver”, e “indébito” é o que não é devido). Então quem efetua pagamento indevido pode exigir a devolução do dinheiro ( = repetitio indebiti) para que outrem não enriqueça sem motivo. O credor de obrigação natural tem direito à soluti retentio, mas quem recebe dívida inexistente não (ex: pago a meu credor João da Silva, mas por engano faço o depósito na conta de outro João da Silva, que terá que devolver o dinheiro, art. 876, CC). Na obrigação natural não cabe a repetitio indebiti, pois o credor dispõe da soluti retentio. 
       Em suma, a obrigação natural não se cumpre por bondade, liberalidade, doação, moral, mas por um dever jurídico inexigível, tanto que a lei lhe atribui o efeito jurídico da soluti retentio ou retenção do pagamento. 
Nas dívidas de jogo encontram-se todas as características da obrigação natural, pois, pelo Art. 814, CC, elas não obrigam a pagamento e nem se pode recobrar, judicialmente, quantia que voluntariamente se pagou, salvo se for ganha por dolo ou no caso de ser o perdedor menor ou interdito. Portanto, o seu credor não poderá exigi-las judicialmente, porém seu adimplemento é considerado como verdadeiro pagamento.
Outros exemplos de obrigações naturais: a) o de dar gorjetas a empregados de restaurantes, de hotéis etc., existindo até mesmo um movimento dirigido a proibir sua inclusão compulsória na nota de despesas; entretanto, quem voluntariamente as pagar não as poderá reaver; b) o de outorgar comissão amigável a intermediários ocasionais em negócios imobiliários; como não são corretores profissionais, não há nada que obrigue a remunerar sua mediação, mas se fizer tal pagamento não haverá repetitio indebiti. 
2.2 Obrigação Real
Trata-se de uma obrigação propter rem (= em razão da coisa). Não decorre de um contrato, mas da propriedade sobre um bem. Quem adquire certo bem, adquire automaticamente essa obrigação real, decorrente da coisa (real = res = coisa). O adquirente do bem vai se tornar devedor, mesmo sem querer, em decorrência de sua condição de dono desse bem. 
Ex.: art. 1.345, CC - a lei determina que quem compra um apartamento com dívida de condomínio, assume esta obrigação, embora tenha sido o dono anterior que não pagou a taxa. A obrigação está vinculada à coisa, por isso chama-se obrigação real (res = coisa). Esta vinculação da obrigação à coisa, qualquer que seja seu dono, deriva da sequela, que é uma característica dos Direitos Reais. Sequela é uma palavra que se origina do verbo seguir, então a obrigação segue a coisa, não importa quem seja seu dono. O proprietário da coisa assume a obrigação automaticamente, apenas pelo fato de ter sucedido o dono-devedor anterior na propriedade da coisa.
	É também chamada de obrigação mista porque apresenta características de Direito das Coisas ( = Direito Real) e de Direito das Obrigações ( = Direito Pessoal).  O Direito Real e o Direito das Obrigações formam o Direito Patrimonial Privado, sendo natural que algumas vezes eles se interpenetrem. 
	Conceito de obrigação real: corresponde ao vínculo jurídico que
se origina da lei com característica dos Direitos Reais e transmissão automática ao novo proprietário da coisa. 
	Observação sobre o conceito: a obrigação real se origina apenas da lei, e não do contrato. Os contratos podem ser inventados pelas partes, são numerus apertus (art. 425, CC), mas os direitos reais não, só a lei pode criá-los, sendo numerus clausus (art. 1225,CC), por isso as obrigações reais originam-se sempre da lei. Originando-se da lei, a obrigação real é irrecusável, não podendo o devedor deixar de assumi-la. 
	Outra observação: o devedor da obrigação real varia caso a coisa mude de dono. Então se a coisa é vendida, o novo dono se tornará o devedor. Quem se torna titular do direito real ( = propriedade), torna-se devedor de eventual obrigação real sobre o bem apropriado.  
	Mais exemplos: art. 1.297, CC (quem compra uma fazenda tem a obrigação de fazer a cerca, embora a cerca tenha caído na época do dono anterior), art. 1.383, CC (quem compra imóvel com servidão predial tem a obrigação de manter a servidão, por isso observem sempre o registro do imóvel antes de fazer a compra, para não comprar barato um terreno e depois, por exemplo, descobrir que nele não se pode construir para não tirar a vista do edifício de trás; este exemplo corresponde a uma servidão predial de vista). 
           Em suma, a obrigação propriamente dita vincula uma pessoa (credor) a outra pessoa (devedor), já a obrigação real está vinculada a uma coisa, e quem for proprietário dessa coisa será o devedor. 
  
Outros exemplos de direito real: Art. 33 da Lei nº 8.245/1991 (Lei do inquilinato): O locatário preterido no seu direito de preferência poderá reclamar ao alienante as perdas e danos ou, depositando o preço e demais despesas do ato de transferência, haver para si o imóvel locado, se o requerer no prazo de seis meses, a contar do registro do ato no Cartório de Imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos trinta dias antes da alienação junto à matrícula do imóvel. 
Portanto, existirá um direito real para o inquilino se tiver registrado devidamente o contrato, o qual lhe permitirá haver o imóvel, ou então, exclusivamente, um direito pessoal estampado em um pedido de perdas e danos. 
O contrato de locação, com o registro imobiliário, permite que o locatário oponha seu direito de preferência erga omnes, isto é, perante qualquer pessoa que venha a adquirir a coisa locada, alcançando assim uma eficácia real. 
Art. 8º da Lei nº 8.245/1991 (Lei do inquilinato): “Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel”
A mesma previsão consta do Art. 576, do Código Civil. 
Portanto, as obrigações do locador podem ser transmitidas ao novo titular do domínio, que deve respeitar o contrato de locação, do qual não fez parte. Existe, assim, uma obrigação que emite uma eficácia real.
Outro exemplo importante, é o do compromisso de compra e venda, em que, uma vez inscrito no Registro Imobiliário, o compromissário passará a gozar de direito real, oponível a terceiros.
Nesse sentido: as obrigações gozam de eficácia real quando, sem perderem o caráter essencial de direitos a uma prestação, se transmitem, ou não são oponíveis a terceiros, que adquiram direito sobre determinada coisa.
Observação importante: Os direitos reais estão previstos no Art. 1.225 e seguintes do Código Civil.
2.3 Obrigação Alternativa (arts. 252 a 256, CC)
	A obrigação simples só possui um objeto, mas a obrigação alternativa tem por objeto duas ou mais prestações, mas apenas uma será cumprida como pagamento. É muito comum na prática, até para facilitar e estimular os negócios.
Ex: vendo esta casa por R$20.000,00 ou troco por terreno na praia; outro ex: um artista bate no seu carro e se compromete a fazer um show na sua casa ou a pagar o conserto; mais um ex: o comerciante que se obriga com outro a não lhe fazer concorrência, ou então a lhe pagar certa quantia; outros exemplos:
Art. 442, CC: “Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço”.
Art. 1.701, CC: “A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação quando menor. 
     
        
Questão importante é saber, uma vez que o objeto é múltiplo, a quem cabe a escolha da prestação que vai ser executada. De acordo com o Art. 252, do CC, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou. A lei, no silêncio das partes, prefere o devedor na escolha porque é a parte onerada na obrigação e deve possuir melhores condições de escolher os bens de seu patrimônio (ou de terceiro, se for o caso) para a entrega. 
No entanto, as partes podem convencionar que a escolha (tecnicamente denominada concentração) caiba ao credor ou mesmo a um terceiro.
Enquanto não for efetivada a concentração, o credor não terá qualquer direito sobre os objetos, no sentido de que não poderá exigir a entrega desta ou daquela coisa. Somente quando é feita a escolha, a concentração, é que o credor pode exigir o pagamento.
Características da obrigação alternativa: 
a) nasce com objeto composto, ou seja, duas ou mais possibilidades de prestação;
b) o adimplemento de qualquer das prestações resulta no cumprimento da obrigação, o que aumenta a chance de satisfação do credor, sem ter que se partir para as perdas e danos, caso qualquer das prestações venha a perecer. Como o credor aceitou mais de uma prestação como pagamento, qualquer delas vai satisfazer o credor (arts. 253 e 256, CC); a exoneração do devedor se dá mediante a realização de uma única prestação; 
c) se o devedor, ignorando que a obrigação era alternativa, fizer o pagamento, pode repeti-lo para exercer a opção. 
É um caso raro de retratação da concentração, e cabe ao devedor a prova de que não sabia da possibilidade de escolha (art. 877, CC);
d) o devedor pode optar por qualquer das prestações, cabendo o direito de escolha, de regra, ao próprio devedor (art. 252, CC); mas o contrato pode prever que a escolha será feita pelo credor, por um terceiro, ou por sorteio (art. 817, CC); essa escolha chama-se de concentração, semelhante a da obrigação de dar coisa incerta; ressalta-se todavia que não se confunde a obrigação alternativa com a de dar coisa incerta; nesta o objeto é único, embora indeterminado até a concentração; já na obrigação alternativa há pelo menos dois objetos; 
e)  nas obrigações periódicas admite-se o jus variandi, ou seja, pode-se mudar a opção a cada período (§ 2º do art. 252, CC).
A doutrina critica essa mudança de prestação porque gera instabilidade para o credor.
Previsões legais no Código de Processo Civil:
Art. 288, CPC: “O pedido será alternativo, quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo”.
Art. 571, CPC: “Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, este será citado para exercer a opção e a realizar a prestação dentro de 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe for determinado em lei, no contrato ou na sentença.”
§ 1º Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercitou no prazo marcado.
§ 2º Se a escolha couber ao credor, este a indicará na petição inicial da execução. 
Como vemos, a grande utilidade da obrigação alternativa é aumentar a possibilidade de adimplemento por parte do devedor, aumentando as garantias do credor.
A obrigação alternativa permite combinar as obrigações de dar, fazer e não fazer. Pode incluir os mais variados objetos na prestação, pode representar abstenções. Assim sendo, pode ser estipulada, por exemplo, a obrigação alternativa de não se estabelecer comercialmente em determinada área, ou pagar quantia
mensal, caso ocorra tal estabelecimento.
29) João prometeu transferir a propriedade de uma coisa certa, mas antes disso, sem culpa sua, o bem foi deteriorado.
Segundo o Código Civil, ao caso de João aplica-se o seguinte regime jurídico:
(A) a obrigação fica resolvida, com a devolução de valores eventualmente pagos.
(B) a obrigação subsiste, com a entrega da coisa no estado em que se encontra.
(C) a obrigação subsiste, com a entrega da coisa no estado
em que se encontra e abatimento no preço proporcional à
deterioração.
(D) a obrigação poderá ser resolvida, com a devolução de valores eventualmente pagos, ou subsistir, com a entrega da coisa no estado em que se encontra e abatimento no preço proporcional à deterioração, cabendo ao credor a escolha de uma dentre as duas soluções.
CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL EXAME DE ORDEM UNIFICADO 2010.2-GABARITOS- PROVAS DO DIA 26/09/2010 
 EXAME DE ORDEM UNIFICADO 2010.2 – CADERNO DE PROVA 01
29) RESPOSTA - “D” - Art. 235, CC 
Fonte: http://intranet.oabpr.org.br/site/servicos/ExamedeOrdem.asp
2.4 Obrigação Facultativa
 
É parecida, é uma prima pobre, mas não se confunde com a obrigação alternativa. É também  muito rara, tanto que não há previsão no Código Civil (O legislador não reservou para ela um capítulo próprio). 
Sua fonte está mais na lei do que no contrato, conforme exemplos que veremos abaixo. Ou seja, há casos específicos na lei que contemplam obrigações facultativas, porque as partes dificilmente contratam prevendo uma obrigação facultativa. 
Conceito de Obrigação Facultativa 
É aquela cujo objeto da prestação é único, mas confere ao devedor o direito excepcional de substituí-lo por outro. 
Não há possibilidade de escolha, mas sim a substituição da prestação devida por outra diferente.
Ex.: art. 1.234, do Código Civil, prevê que quem encontra coisa perdida deve restituí-la ao dono, e o dono fica obrigado a recompensar quem encontrou; mas o dono pode, ao invés de pagar a recompensa, abandonar a coisa, e aí quem encontrou poderá ficar com ela; pagar a recompensa é a prestação principal do devedor, já abandonar a coisa é prestação acessória do seu dono. O abandono da coisa não é obrigação, mas faculdade do seu dono.  Ao invés de pagar a recompensa, tem o devedor a faculdade de dar a coisa ao credor. 
De fato, a obrigação dita facultativa é aquela que, tendo por objeto apenas uma obrigação principal, confere ao devedor a possibilidade de liberar-se mediante o pagamento de outra prestação prevista na avença, com caráter subsidiário.
Por exemplo: o vendedor compromete-se a entregar 50 sacas de café (obrigação principal), mas o contrato admite a possibilidade de liberar-se dessa obrigação pagando R$20.000,00 (obrigação acessória). 
Outro exemplo: o contrato estipula o pagamento de um preço, entretanto o comprador reserva-se o direito de liberar-se da obrigação dando coisa determinada.
Nessas obrigações, há uma prestação principal, que constitui o verdadeiro objeto da obrigação, e uma acessória ou subsidiária. 
Essa segunda prestação constitui um meio de liberação que o contrato reconhece ao devedor, para se ver livre da obrigação pactuada.
A obrigação facultativa não oferece dificuldades em sua aplicação por reger-se pelos mesmos dispositivos atinentes às obrigações simples.
Outro exemplo: art. 1.382, CC - imaginem que da Fazenda ‘A’ sai um aqueduto para a Fazenda ‘B’, levando água, com a obrigação, ajustada em contrato, de que o dono da Fazenda A deverá conservar a obra.  Pois bem, ao invés de manter o aqueduto, tem o dono da Fazenda ‘A’ a obrigação facultativa de abandonar suas terras para o dono da Fazenda ‘B’.  Ao invés de conservar o aqueduto, o devedor tem a faculdade de abandonar suas terras, dando-as ao vizinho. 
Ao nascer a obrigação o objeto é único, mas para facilitar o pagamento, o devedor tem a excepcional faculdade de se liberar mediante prestação diferente.  É vantajosa assim para o devedor. 
Na obrigação facultativa, ao contrário da alternativa, o credor nunca tem a opção e só pode exigir a prestação principal, pois a prestação devida é única e só o devedor pode optar pela prestação facultativa. 
A impossibilidade de cumprimento da prestação principal extingue a obrigação, resolvendo-se em perdas e danos, não se aplicando o art. 253, CC, pois, como já dito, a prestação acessória não é obrigação, mas faculdade do devedor. Então quem encontrar coisa perdida e não receber a recompensa, não poderá exigir o abandono da coisa, mas sim deverá processar o devedor pelo valor da recompensa.  
Anteriormente, foi visto que na obrigação alternativa a escolha pode competir ao devedor ou ao credor; enquanto que na obrigação facultativa a faculdade de opção é exclusiva do devedor, porque isso é inerente a esta classe de obrigação.
Ao demandar a obrigação facultativa, o credor só pode exigir a obrigação principal. 
No entanto, a linha divisória entre ambas não é das mais nítidas e, na dúvida, entre a existência de uma obrigação alternativa ou de uma obrigação facultativa, concluímos pela obrigação facultativa, que é menos onerosa para o devedor.
São fontes de obrigações facultativas, em primeiro lugar, a vontade das partes ou então a lei. Na obrigação facultativa não existe propriamente uma concentração (escolha) da obrigação, mas o exercício de uma opção. E o devedor pode optar pela prestação subsidiária até o efetivo cumprimento.
17) João deverá entregar quatro cavalos da raça X ou quatro éguas da raça X a José. O credor, no momento do adimplemento da obrigação, exige a entrega de dois cavalos da raça X e de duas éguas da raça X. 
Nesse caso, é correto afirmar que as prestações 
(A) alternativas são inconciliáveis, havendo indivisibilidade quanto à escolha. 	
(B) alternativas são conciliáveis, havendo divisibilidade quanto à escolha. 	
(C) facultativas são inconciliáveis, quando a escolha couber ao credor. 	
(D) facultativas são conciliáveis, quando a escolha couber ao credor. 	
CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL EXAME DE ORDEM 2010.3-GABARITOS- PROVAS DO DIA 13/02/2011 
 GABARITOS PRELIMINARES APÓS ERRATA DE 15/02/2011 - EXAME DE ORDEM 2010.3 - TIPO 1 - BRANCO
17) RESPOSTA - “A” - Art. 252, §1º, CC 
Fonte: http://intranet.oabpr.org.br/site/servicos/ExamedeOrdem.asp
Obrigação Divisível (arts. 257 a 263, CC)
Em geral, numa obrigação existe apenas um credor e um devedor. Mas, caso existam na mesma relação vários devedores ou vários credores, o razoável é que cada devedor pague apenas parte da dívida, e que cada credor tenha direito apenas a parte da prestação. (art. 257, CC)
	
Essa regra sofre exceção nos casos de indivisibilidade, que veremos hoje, e de solidariedade. Tanto na indivisibilidade como na solidariedade, embora concorram várias pessoas, cada credor pode reclamar a prestação por inteiro, e cada devedor responde também pelo todo (arts. 259 e 264, CC). Comecemos pela divisibilidade e indivisibilidade: 
       
As obrigações divisíveis e indivisíveis são compostas pela multiplicidade de sujeitos. Tal classificação só oferece interesse jurídico havendo pluralidade de credores ou de devedores, pois, existindo um único devedor obrigado a um só credor, a obrigação é indivisível, isto é, a prestação deverá ser cumprida por inteiro, seja divisível, seja indivisível o seu objeto.
O problema da divisibilidade somente oferece algum interesse no direito das obrigações se houver pluralidade de pessoas na relação obrigacional. O interesse jurídico resulta da necessidade de fracionar-se o objeto da prestação para ser distribuído entre os credores ou para que cada um dos devedores possa prestar uma parte desse objeto. (GONÇALVES, 2010, p. 112)
Conceito de obrigação divisível é aquela cuja prestação pode ser parcialmente cumprida, sem prejuízo de sua qualidade e de seu valor. (art. 87, CC)
Ex.: uma dívida de cem reais pode ser paga em duas metades; um curso
de Direito Civil pode ser ministrado em várias aulas. Mas a depender do acordo entre as partes, o devedor deve pagar de uma vez só, mesmo que a prestação seja divisível (art. 314, CC). 
       
A classificação das obrigações em divisíveis e indivisíveis não tem em mira o objeto, pois seu interesse reside e se manifesta quando ocorre pluralidade de sujeitos. Mas, nem por isso a divisibilidade/indivisibilidade deixa de ser importante.
Em linhas gerais, pode-se dizer que divisíveis são as obrigações possíveis de cumprimento fracionado, através de prestações (Ex: dois devedores prometem entregar duas sacas de café, a obrigação é divisível, devendo cada qual uma saca); e indivisíveis são aquelas que só podem cumprir em sua integralidade. (Ex: dois devedores se comprometem a entregar um relógio). 
       
2.6 Obrigação Indivisível (arts. 257 a 263, CC)
Já na obrigação indivisível a prestação só pode ser cumprida por inteiro (ex: quem deve um cavalo não pode dar o animal em partes, art. 258, CC; mas se tal cavalo perecer e a dívida se converter em pecúnia, deixa de ser indivisível, art. 263, CC). 
A indivisibilidade, portanto, vai despertar interesse prático quando houver mais de um credor ou mais de um devedor.  
       
Conceito de obrigação indivisível: é aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não comportando, por sua natureza, por motivo de ordem econômica ou dada a razão determinante do ato negocial, sua cisão em várias obrigações parceladas distintas.
A obrigação de restituir é, como regra geral, indivisível, uma vez que o credor não pode ser obrigado a receber a coisa, em devolução por partes, a não ser que a avença disponha diferentemente.
 ➦ pluralidade de devedores: imaginem que um pai morre e deixa dívidas, seus filhos irão pagar estas dívidas dentro dos limites da herança recebida do pai (arts. 1.792 e 1.997, CC). 
Portanto, o credor do pai terá mais de um filho para cobrar esta dívida. Se a prestação for divisível, cada filho responde pela parte correspondente a sua herança, e a insolvência de um deles não aumentará a quota dos demais (art. 257, CC). Mas se a prestação for indivisível, cada filho responde pela dívida toda, e aquele que pagar ao credor, cobrará o quinhão correspondente de cada irmão (art. 259, § único, CC). A relação obrigacional antes era do credor com os filhos do pai morto, agora é do irmão pagador contra os outros irmãos. 
➦ e se a pluralidade for de credores?  Sendo divisível a prestação, cada credor só pode exigir sua parte (art. 257, CC). Mas sendo indivisível aplica-se o art. 260, CC, pelo que o devedor deverá pagar a todos os credores juntos, para que um não engane os outros. Ou então o devedor deverá pagar àquele credor que prestar uma garantia ( = caução) de que repassará o pagamento aos outros.
Ex.: João deve um carro a três credores, mas não encontra os três para pagar, assim, para se livrar da obrigação, paga ao credor que ofereceu uma fiança; se este credor não repassar o carro aos demais credores, o fiador poderá ser processado pelos prejudicados.  Se o devedor pagar sem as cautelas do art. 260, CC, terá que pagar novamente àquele credor que, eventualmente, venha a ser lesado pelo credor que recebeu todo o pagamento, afinal quem paga mal paga duas vezes, concordam? 
	Diz-se por isso que o pagamento integral da dívida a um só dos vários credores, pode não desobrigar o devedor em relação aos demais co-credores. Mas, pagando o devedor corretamente, caberá aos credores buscar sua parte com o credor que recebeu tudo (art.261, CC). 
 Tratando-se de coisa indivisível (ex.: carro, barco, casa), poderão os credores usar a coisa em condomínio, ou então vendê-la e dividir o dinheiro (art. 1.320, CC).
Espécies de indivisibilidade:
 
a) física: a prestação é indivisível pela sua própria natureza, pois sua divisão alteraria sua substância ou prejudicaria seu uso (ex.: obrigação de dar um cavalo, obrigação de restituir o imóvel locado etc); 
b) econômica: o objeto da prestação fisicamente poderia ser dividido, mas perderia o valor (ex: obrigação de dar um diamante, art. 87, CC); 
c) legal: é a lei que proíbe a divisão (ex:  a Lei nº 6.766/1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, determina no art. 4º, II, que os lotes nos loteamentos terão no mínimo 125 metros quadrados, então um lote deste tamanho não pode ser dividido em dois); 
d) convencional: é o acordo entre as partes que torna a prestação indivisível (art. 88, CC, ex: dois devedores se obrigam a pagar juntos certa quantia em dinheiro, o que vai favorecer o credor que poderá exigir tudo de qualquer deles, arts. 258 in fine, e 259, CC). 
	Percebe-se que qualquer das três espécies de obrigação (dar, fazer e não-fazer) pode ser divisível ou indivisível.
	Ex.: dar dinheiro é divisível, mas dar um cavalo é indivisível; pintar um quadro é obrigação de fazer indivisível, mas plantar cem árvores é divisível; não revelar segredo é indivisível, mas não pescar e não caçar na fazenda do vizinho é divisível. 
Na atualidade predomina o entendimento, em doutrina, de que, para a divisibilidade ou indivisibilidade da obrigação, são determinadas em primeiro lugar pela natureza da obrigação, em segundo lugar pela vontade das partes, e, finalmente, por determinação da lei.
A mais frequente é a indivisibilidade natural, porque resulta do objeto da prestação. Pode-se dizer que a obrigação é indivisível por natureza quando o objeto da prestação não pode ser fracionado sem prejuízo da sua substância ou de seu valor. 
No tocante à indivisibilidade por vontade das partes, ressalta-se que a prestação é perfeitamente fracionável, sem prejuízo da sua substância ou do seu valor, mas as partes, em comum acordo, afastam a possibilidade do cumprimento parcial. 
Por último, o Estado, algumas vezes, em atenção ao interesse público ou social, impede a divisão da coisa mediante lei, mesmo o objeto sendo naturalmente divisível.
2.7 Obrigação Solidária (arts. 264 a 266, CC)
	Quando numa obrigação indivisível concorrem vários devedores, todos estão obrigados pela dívida toda, como se existisse uma solidariedade entre eles (art. 259, CC). 
	Assim, se várias pessoas devem coisa indivisível, a obrigação é também solidária. Mas, pode haver obrigação solidária mesmo de coisa divisível devida por várias pessoas. 
  A obrigação será solidária quando a totalidade de seu objeto puder ser reclamada por qualquer dos credores ou qualquer dos devedores.
 	Conceito legal: há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou com responsabilidade pela dívida toda, como se fosse o único (art. 264, CC). 
	A solidariedade não se presume, resultando da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC).
	A obrigação solidária possui um verdadeiro caráter de exceção dentro do sistema, não se admitindo responsabilidade solidária fora da lei ou do contrato. Assim sendo, não havendo expressa menção no título constitutivo e não havendo previsão legal, prevalece a presunção contrária à solidariedade.
	
    Não estando presente o instituto, a obrigação divide-se, cada devedor sendo obrigado apenas a uma quota-parte, ou cada devedor tendo direito apenas a uma parte.
	Na dúvida, interpreta-se a favor dos devedores, isto é, pela inexistência de solidariedade. No entanto, uma vez fixada a solidariedade, não se ampliam as obrigações.
	Obrigação solidária é modalidade especial de obrigação que possui dois ou mais sujeitos, ativos ou passivos, e, embora possa ser divisível, pode cada credor demandar e cada devedor é obrigado a satisfazer à totalidade, com a particularidade de que o pagamento feito por um devedor a um credor extingue a obrigação quanto aos outros coobrigados.
	As obrigações solidárias e indivisíveis têm consequências práticas semelhantes, mas são obrigações diferentes, senão vejamos:
➦ a obrigação indivisível é impossível pagar por partes, pois resulta da
natureza da prestação (ex.: entregar um cavalo, lote urbano, diamante, barco, pintar um quadro etc). Já a obrigação solidária até poderia ser paga por partes, mas por força de contrato não pode, tratando-se de uma garantia para favorecer o credor.
 Observação importante: na solidariedade cada devedor deve tudo. Já na indivisibilidade cada devedor só deve uma parte, mas tem que pagar tudo diante da natureza da prestação. 
	Exemplo de solidariedade decorrente de lei é a patroa que responde pelos danos causados a terceiros por sua empregada doméstica (arts. 932, III, e 942, § único, CC). 
	
	Outro exemplo:
	Um motorista particular atropela e fere um pedestre, agindo com culpa. No evento, surge dupla responsabilidade: a do condutor do veículo e a de seu proprietário, que responde por culpa indireta. Ambos estarão obrigados pela totalidade da indenização. Assim também no caso dos coobrigados em um direito de acionar qualquer obrigado indistintamente.
	
	A responsabilidade do motorista funda-se em sua culpa; a responsabilidade do dono do automóvel resulta exatamente de sua condição de proprietário, independentemente da perquirição de culpa.
	
➦ pode haver obrigação solidária de coisa divisível (ex.: dinheiro), de modo que todos os devedores vão responder integralmente pela dívida, mesmo sendo coisa divisível. Tal solidariedade nas coisas divisíveis serve para reforçar o vínculo e facilitar a cobrança pelo credor. 
➦ o devedor a vários credores de coisa indivisível precisa pagar a todos os credores juntos (art. 260, I, CC), mas o devedor a vários credores solidários se desobriga pagando a qualquer deles (art. 269, CC). 
➦ se a coisa devida em obrigação solidária perece, converte-se em perdas e danos, mas permanece a solidariedade (arts. 271 e 279, CC). Se a coisa devida em obrigação indivisível perece, converte-se em perdas e danos e os co-devedores deixam de ser responsáveis pelo todo, respondendo apenas o devedor culpado. (art. 263, § 2º, CC) 
	➦ o devedor de obrigação solidária que paga sozinho a dívida ao credor, vai cobrar dos demais co-devedores a quota de cada um, sem solidariedade que não se presume (arts. 265 e 283, CC). 
	Então A, B e C devem solidariamente dinheiro a D. Se A pagar a dívida toda a D (credor); A vai cobrar a quota de B e C sem solidariedade entre B e C. 
Elementos da obrigação solidária:
a) multiplicidade de credores ou de devedores, ou ainda, de uns e de outros; 
b) unidade de prestação; e, 
c) co-responsabilidade dos interessados. 
 
	2.7.1 Solidariedade Ativa (arts. 267 a 274, CC) 
	Configura-se pela presença de vários credores, chamados co-credores, todos com o mesmo direito de exigir integralmente a dívida ao devedor comum (art. 267, CC). 
	Sua importância prática é escassa, pois não tem outra utilidade a não ser servir como mandato para recebimento de um crédito comum, efeito que se pode obter com o mandato típico.
	A origem da solidariedade ativa é a vontade das partes, seja um contrato, seja um testamento.
	EFEITOS DA SOLIDARIEDADE ATIVA
	1. Cada credor pode reclamar de qualquer dos devedores (ou do devedor) a dívida por inteiro (art. 267, CC), não podendo, assim, o devedor pretender pagar parcialmente, sob a alegação de que há outros credores;
 
	2. O direito livre de pagar dos devedores sofre uma limitação de ordem processual: se um dos credores já acionou o devedor, este só poderá pagar àquele em juízo ou em razão dele;  
	3. A constituição em mora feita por um dos co-credores favorece a todos os demais;
 
	4. A interrupção da prescrição por um dos credores beneficia os demais (art. 204, § 1º, CC). Já a suspensão da prescrição em favor de um dos credores solidários só aproveitará aos outros se o objeto da obrigação for indivisível (art. 201, CC). A renúncia da prescrição em face de um dos credores aproveitará aos demais;
	5. Qualquer credor poderá propor ação para a cobrança de crédito. Outro credor poderá ingressar na ação na condição de assistente (art. 54, CPC);
	6. A incapacidade de um dos credores não obsta que a obrigação mantenha seu caráter solidário a respeito dos demais; 
	7. Enquanto não for cobrada a dívida por algum credor, o devedor pode pagar a qualquer um dos credores (art. 268, CC). Havendo demanda, haverá prevenção judicial e o devedor só poderá pagar em juízo;
	8. A constituição em mora do credor solidário, pela oferta de pagamento feita pelo devedor comum, prejudicará a todos os demais, que passarão a responder, todos, pelos juros, riscos e deteriorações da coisa;
	9. Na forma do art. 270, CC:
	“Se falecer um dos credores solidários, deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.”
	
	Assim, nessa hipótese, desaparece a solidariedade para os herdeiros. Os demais credores continuarão solidários;
	10. A conversão da prestação em perdas e danos não faz desaparecer a solidariedade, correndo em proveito de todos os credores os juros de mora (art. 271, CC); e
	
	11. A relação interna, a natureza do débito e a quota de cada credor no débito é irrelevante para o devedor (trata-se de relação interna entre os credores), e o credor que receber deve prestar conta aos demais pela parte que lhe caiba.
	
	Extinção da solidariedade ativa
	A novação que é a conversão de uma dívida em outra, extinguindo-se a primeira (arts. 360 a 367, CC); a compensação que é um encontro de dívidas, uma extinção recíproca de obrigações (arts. 368 a 380, CC); e, a remissão que é o perdão da dívida (arts. 385 a 388, CC), podem extinguir a solidariedade ativa.
	O pagamento por consignação (arts. 334 a 345, CC), também libera o devedor, mesmo quando efetuado a apenas um dos credores. 
	Igualmente, a confusão que se configura por ocorrer na mesma pessoa as qualidades de credor e devedor (arts. 381 a 384, CC); e a transação que se caracteriza pela extinção do débito mediante concessões recíprocas (arts. 840 a 850, CC), extinguem os débitos.
	Quando há confusão, os credores que dela participam não podem prejudicar os credores estranhos a essa forma de extinção, devendo receber suas quotas-partes, assim como na transação, por aplicação do princípio do art. 272, CC). 
	2.7.2 Solidariedade Passiva (arts. 275 a 285, CC) 
	
 Esta é comum e importante, devendo ser estimulada já que protege o crédito, reforça o vínculo, facilita a cobrança e aumenta a chance de pagamento, pois o credor terá várias pessoas para cobrar a dívida toda.  
	E quanto mais se protege o credor, mais as pessoas emprestam dinheiro, e com mais dinheiro os consumidores se equipam, as lojas vendem, as fábricas produzem, os patrões lucram, geram empregos e o governo arrecada tributos. 
		
	Como se sabe: proteger o crédito é estimular o desenvolvimento sócio-econômico. Por este motivo, a solidariedade passiva, não a ativa, deveria ser presumida. 
	Externamente, todos os devedores são coobrigados na solidariedade passiva. Internamente, cada devedor poderá ser responsável pelos valores desiguais na obrigação ou, até mesmo, ter unicamente a responsabilidade, sem que haja débito, como é o caso da fiança com equiparação solidária.
Conceito 
	Ocorre a solidariedade passiva quando mais de um devedor, chamado coobrigado, com seu patrimônio (art. 391, CC), se obriga ao pagamento da dívida toda (art. 275, CC).
 
	Assim, havendo três devedores solidários, o credor terá três pessoas para processar e exigir pagamento integral, mesmo que a obrigação seja divisível. O credor escolhe  se quer processar um ou todos os devedores (§ único do art. 275, CC). Aquele devedor que pagar integralmente a dívida, terá direito de regresso contra os demais coobrigados (art. 283, CC).
 
	Na solidariedade passiva não se aplica o benefício de divisão e nem o benefício de ordem. Mas, o que é isso? 
➥ Pelo benefício de divisão, o devedor pode exigir a citação de todos os coobrigados no processo para juntos se defenderem.
Isto é ruim para o credor porque atrasa o processo, por isso não se aplica tal benefício à solidariedade passiva.  
➥ Pelo benefício de ordem, o coobrigado tem o direito de ver executado primeiro os bens do devedor principal (ex: fiança, art. 827, CC). Mas, o fiador pode renunciar ao benefício de ordem e se equiparar ao devedor solidário (art. 828, II, CC). 
	CONSELHO DE AMIGO: O avalista nunca tem benefício de ordem, sempre é devedor solidário, por isso se algum amigo lhe pedir para ser avalista não aceite, mas se ele insistir, seja seu fiador com benefício de ordem, mas jamais fiador-solidário ou avalista. 
	Fiança e aval são exemplos de solidariedade passiva decorrente de acordo de vontades. 
	A Universidade quando financia o curso de um estudante, geralmente exige um fiador ou um avalista (art. 897, CC), de modo que se o devedor não pagar a dívida no vencimento, o credor irá processar o devedor, o fiador ou o avalista. 
	
	Exemplos de solidariedade passiva decorrente da lei estão na responsabilidade civil (art. 932, CC), no comodato (art. 585, CC) e na gestão de negócios (§ único do art. 867, CC).   
Efeitos da solidariedade passiva
	1. Direito individual de persecução - cada credor (se for mais de um) tem direito de reclamar de qualquer dos devedores a totalidade da dívida (art. 275, CC).
	O pagamento parcial também pode ser efetuado, assim como a remissão. Segundo o art. 277, CC:
	“O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até a concorrência da quantia paga, ou relevada. “
	2. A morte de um dos devedores solidários não extingue a solidariedade. Dispõe o art. 276, CC:
	
	“Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.”
	Essa disposição sofreu melhora de redação no vigente Código, sem alteração de sentido, de modo que os herdeiros respondem pelos débitos do de cujus, desde que não ultrapassem as forças de herança (princípio do benefício do inventário – Art. 1.792, CC). 
Exemplo: “Augusto, Rafael e Fernando devem, solidariamente, a João a quantia de R$18.000,00 reais. Augusto vem a falecer, deixando como seus únicos herdeiros três
filhos: Gabriel, Orlando e Álvaro. Esses não serão obrigados a pagar senão R$ 2.000,00 reais cada um. Não ficarão obrigados a pagar a totalidade da dívida solidária (R$ 18.000,00 reais) como competia a
Augusto seu pai”.
	3. De acordo com o art. 278, CC:
	“Qualquer cláusula, condição, ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.”
	O princípio geral é que ninguém pode ser obrigado a mais do que desejou, a não ser que concorde expressamente.
	4. Culpa: Se a obrigação se extinguir sem culpa dos devedores, o princípio geral já estudado é que extinguirá a dívida para todos. Porém, pode ocorrer que haja culpa de algum dos devedores.
	Art. 279, CC:
	“Tornando-se inexequível a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.”
	5. Exceções pessoais e exceções gerais. 
	O art. 281, CC, dispõe:
	“O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro codevedor.”
	Na obrigação solidária, embora exista uma única prestação devida, há multiplicidade de vínculos motivada pela existência de mais de uma pessoa no polo passivo e no polo ativo. Mas, somente as exceções gerais são aplicadas ao codevedor.
	
 
 Pagamento parcial na solidariedade passiva
	Dispõe o art. 277, CC:
	“O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga, ou relevada.” 
	Entenda-se a razão da regra. Se o credor já recebeu parcialmente a dívida, não poderá exigir dos demais co-devedores a totalidade, mas apenas abater o que já recebeu.
	Extinção da solidariedade passiva
	A solidariedade, quer ativa, quer passiva, pode desaparecer, deixando de existir. 
	Nos casos de solidariedade passiva, as situações de extinção são mais frequentes, senão vejamos:
	Na hipótese de morte de um dos devedores solidários, deixando herdeiros,
	“nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.” (art. 276, CC).
	Nos termos do art. 282, CC, também a renúncia pode extinguir a solidariedade:
	“O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.
	Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.”
22) Com relação ao regime da solidariedade passiva, é correto afirmar que:
(A) cada herdeiro pode ser demandado pela dívida toda do devedor solidário falecido.
(B) com a perda do objeto por culpa de um dos devedores
solidários, a solidariedade subsiste no pagamento do
equivalente pecuniário, mas pelas perdas e danos somente
poderá ser demandado o culpado.
(C) se houver atraso injustificado no cumprimento da obrigação
por culpa de um dos devedores solidários, a solidariedade
subsiste no pagamento do valor principal, mas pelos juros da
mora somente poderá ser demandado o culpado.
(D) as exceções podem ser aproveitadas por qualquer dos
devedores solidários, ainda que sejam pessoais apenas a um
deles.
CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL EXAME DE ORDEM 2010.2-GABARITOS- PROVAS DO DIA 26/09/2010 
 EXAME DE ORDEM 2010.2 – CADERNO DE PROVA 1
17) RESPOSTA - “B” - Art. 279, CC 
(A) Art. 276, CC
(C) Art. 280, CC
(D) Art. 281, CC
Fonte: http://oab.fgv.br/upload/112/oab10_gab_preliminar_01.pdf
REVISÃO - 1) Dê o conceito de obrigação no Direito Civil, ressaltando os seus elementos constitutivos.
2) Quais as principais fontes das obrigações?
3) Diferencie obrigação moral e obrigação natural.
4) O que é obrigação personalíssima ou intuitu personae?
 
5) Quais as consequências da perda da coisa certa e da deterioração da coisa certa, sem culpa do devedor e com culpa do devedor?
6) O que se entende por obrigação de não fazer? Dê exemplos.
7) Qual a diferença entre obrigação de meio e de resultado?
 
8) Defina obrigação real. Exemplifique.
9) Pelo Código Civil, a quem cabe a escolha da prestação na obrigação alternativa, se não foi estabelecido entre as partes? Por que razão o legislador optou por esta parte no silêncio das mesmas?
10) Dê o conceito de obrigação solidária. A solidariedade pode ser presumida? Fundamente sua resposta.
2.8 Obrigação Líquida 
	É aquela certa quanto a sua existência e determinada quanto a seu objeto. Ou seja, a obrigação líquida existe e tem valor preciso. 
	Expressa por um algarismo ou cifra, quando se trata de dívida em dinheiro. Ou ainda, a entrega ou restituição de um objeto certo, por exemplo um veículo. 
Ex:. "A" deve dar a “B”, R$ 500,00 ou 5 sacas de arroz. 
	Diversos artigos do Código Civil estabelecem essa classificação. Citamos, então, os seguintes: arts. 397, 369, 352, entre outros. 
	A sentença deve procurar sempre uma condenação líquida, pois, a fase de liquidação de sentença poderá procrastinar desnecessariamente o deslinde da causa. 
	Somente quando o juiz não tiver efetivamente elementos para proferir uma sentença líquida é que deverá deixar a apuração para a fase de liquidação, a qual, na verdade, se embute na fase de execução, pois o capítulo que tratava da liquidação da sentença foi revogado no CPC (arts. 603 a 611, CPC), estando prevista atualmente

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