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Aula 03 Noções de Direito Penal p/ PRF - Policial - 2016 (com videoaulas) Professor: Renan Araujo !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 1 () 21 AULA 03: CRIME: ELEMENTOS (PARTE II): CULPABILIDADE (IMPUTABILIDADE). ERRO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. SUMÁRIO 1. CULPABILIDADE .......................................................................................... 2 1.1. Conceito ................................................................................................... 2 1.2. Teorias ..................................................................................................... 2 1.3. Elementos ................................................................................................ 3 1.3.1. Imputabilidade penal ................................................................................ 3 1.3.2. Potencial consciência da ilicitude ................................................................ 7 1.3.3. Exigibilidade de conduta diversa ................................................................. 8 2. ERRO ........................................................................................................... 9 2.1. Erro de tipo .............................................................................................. 9 2.2. Erro de tipo acidental ............................................................................. 12 2.3. Erro de proibição .................................................................................... 13 3. PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO .............................................................. 16 3.1. Introdução ............................................................................................. 16 3.2. Causas de extinção da punibilidade diversas da prescrição .................... 17 3.3. Prescrição .............................................................................................. 20 3.3.1. Prescrição da pretensão punitiva .............................................................. 20 3.3.2. Prescrição da pretensão executória ........................................................... 26 3.3.3. Disposições importantes sobre a prescrição ................................................ 28 4. EXERCÍCIOS DA AULA ............................................................................... 29 5. EXERCÍCIOS COMENTADOS ....................................................................... 38 6. GABARITO ................................................................................................. 61 Olá, meus amigos! Na última aula nós iniciamos o estudo do crime, seu conceito e elementos, estudando os dois primeiros deles: o fato típico e a ilicitude. Hoje, vamos finalizar o estudo dos elementos do Crime, analisando a culpabilidade e o fenômeno do Erro no Direito Penal. Veremos, ainda, as formas de extinção da punibilidade. Bons estudos! Prof. Renan Araujo !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 3 () 21 1. CULPABILIDADE 1.1. Conceito A culpabilidade nada mais é que o juízo de reprovabilidade acerca da conduta do agente, considerando-se suas circunstâncias pessoais.1 Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros elementos (fato típico e ilicitude), onde se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de estudo não é o fato, mas o agente. Daí alguns doutrinadores entenderem que a culpabilidade não integra o crime (por não estar relacionada ao fato criminoso, mas ao agente). Entretanto, vamos trabalhá-la como elemento do crime. 1.2. Teorias Três teorias existem acerca da culpabilidade: A) Teoria psicológica – Para essa teoria a culpabilidade era analisada sob o prisma da imputabilidade e da vontade (dolo e culpa). Esta teoria entende que o agente seria culpável se era imputável no momento do crime e se havia agido com dolo ou culpa. Vejam que essa teoria só pode ser utilizada por quem adota a teoria naturalística da conduta (pois o dolo e culpa estão na culpabilidade). Para os que adotam a teoria finalista (nosso Código penal), essa teoria acerca da culpabilidade é impossível, pois a teoria finalista aloca o dolo e a culpa na conduta, e, portanto, no fato típico. B) Teoria normativa ou psicológico-normativa – Possui os mesmos elementos da primeira, mas agrega a eles a inexigibilidade de conduta diversa, que é a “possibilidade de agir conforme o Direito”. Para essa teoria, mais evoluída, ainda que o agente fosse imputável e tivesse agido com dolo ou culpa, só seria culpável se no caso concreto lhe pudesse ser exigido um outro comportamento que não o comportamento criminoso. Trata-se, portanto, da inclusão de elementos normativos à culpabilidade, que deixa de ser a mera relação subjetiva do agente com o fato (dolo ou culpa). A culpabilidade seria, portanto, a conjugação do elemento subjetivo (dolo ou culpa) e do juízo de reprovação sobre o agente.2 C) Teoria normativa pura – Essa já muda de ares. Já não mais considera o dolo e culpa como elementos da culpabilidade, mas do fato típico (seguindo a teoria finalista da conduta). Para esta teoria, os elementos da culpabilidade são: a) imputabilidade; b) ∗ BITENCOURT, Op. cit., p. 451/452 + BITENCOURT, Op. cit., p. 447 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 4 () 21 potencial consciência da ilicitude; c) inexigibilidade de conduta diversa. A potencial consciência da ilicitude seria a análise concreta acerca das possibilidades que o agente tinha de conhecer o caráter ilícito de sua conduta. Vamos estudar cada um desses elementos mais à frente; CUIDADO: Para a maior parte da Doutrina, a teoria normativa pura se divide em: • Teoria extremada • Teoria limitada Mas o que dizem estas teorias? Basicamente, a mesma coisa. A grande diferença entre elas reside no tratamento dispensado ao erro sobre as causas de justificação (ou de exclusão da antijuridicidade), também conhecidas como descriminantes putativas. A teoria extremada defende que todo erro que recaia sobrea uma causa de justificação seria equiparado ao erro de proibição. A teoria limitada, por sua vez, divide o erro sobre as causas de justificação (descriminantes putativas) em: • Erro sobre pressuposto fático da causa de justificação (ou erro de fato) – Neste caso, aplicam-se as mesmas regras previstas para o erro de tipo (tem-se aqui o que se chama de ERRO DE TIPO PERMISSIVO).3 • Erro sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação (erro sobre a ilicitude da conduta) – Neste caso, tal teoria defende que devam ser aplicadas as mesmas regras previstas para o erro de PROIBIÇÃO, por se assemelhar à conduta daquele que age consciência da ilicitude. Vamos estudar cada um dos elementos da culpabilidade e, ao final, estudaremos com mais detalhes o tratamento conferido ao ERRO. 1.3. Elementos 1.3.1. Imputabilidade penal O Código Penal não define o que seria imputabilidade penal, apenas descreve as hipóteses em que ela não está presente. A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade mental de entender o caráter ilícito da conduta e de comportar-se conforme o Direito. Existem três sistemas acerca da imputabilidade: , BITENCOURT, Op. cit., p. 508 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8, ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 5 () 21 ! Biológico – Basta a existência de uma doença mental ou determinada idade para que o agente seja inimputável. É adotado no Brasil com relação aos menores de 18 anos. Trata- se de critério meramente biológico: Se o agente tem menos de 18 anos, é inimputável. ! Psicológico – Só se pode aferir a imputabilidade (ou não), na análise do caso concreto. ! Biopsicológico – Deve haver uma doença mental (critério biológico, legal, objetivo), mas o Juiz deve analisar no caso concreto se o agente era ou não capaz de entender o caráter ilícito da conduta e de se comportar conforme o Direito (critério psicológico). Essa foi a teoria adotada como REGRA pelo nosso Código Penal.4 CUIDADO! A imputabilidade penal deve ser aferida quando do momento em que ocorreu o fato criminoso. Assim, se A (menor com 17 anos e 11 meses de idade) atira contra B, que fica em coma e só vem a falecer quando A já tinha mais de 18 anos, A será considerado INIMPUTÁVEL, pois no momento do crime (momento da ação ou omissão, art. 4º do CP), era menor de 18 anos (critério puramente biológico, adotado como EXCEÇÃO no CP). Imaginem, agora, que Marcelo, com 17 anos, sequestra Juliana. O sequestro dura 06 meses e, ao final, Marcelo já contava com 18 anos. Neste caso, Marcelo será considerado IMPUTÁVEL, pois no momento do crime Marcelo era imputável (ainda que não fosse imputável no começo, a partir de um dado momento passou a ser imputável, respondendo pelo delito). As causas de inimputabilidade estão previstas nos arts. 26, 27 e 28 do CP: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Menores de dezoito anos − BITENCOURT, Op. cit., p. 474. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 6 () 21 Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Emoção e paixão Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Percebam que os critérios biológicos (circunstâncias que presumidamente retiram a capacidade de discernimento) estão grifados em preto, e os critérios psicológicos (análise efetiva da ausência de discernimento quanto à ilicitude do fato ou possibilidade de agir conforme o Direito) estão grifados em vermelho. Para facilitar, ainda, o estudo de vocês, grifei em azul as hipóteses de semi-imputabilidade. Vamos explicar as hipóteses de inimputabilidade: (i) Menor de 18 anos Esse é um critério meramente biológico e taxativo: Se o agente é menor de 18 anos, responde perante o ECA não se aplicando a ele o CP, nos termos do art. 27 do CP. (ii) Doença mental e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da conduta ou se era parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, será inimputável, ou seja, isento de pena. No segundo caso, será semi-imputável, e será aplicada pena, porém, reduzida de um a dois terços. Lembrando que o art. 26 do CP exige, para fins de inimputabilidade por este motivo: !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 2 () 21 • Que o agente possua a doença (critério biológico) • Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato OU inteiramente incapaz de determinar-se conforme este entendimento (critério psicológico) Por isso se diz que este é um critério BIOPSICOLÓGICO (pois mescla os dois critérios). Além dos doentes mentais, nesse grupo encontram-se ainda os silvícolas (índios), que podem ser: imputáveis (caso integrados à sociedade), semi-imputáveis (caso parcialmente integrados à sociedade), ou inimputáveis (caso não tenham se integrado de maneira nenhuma à sociedade, ou muito pouco). Nos dois casos acima, se o agente for inimputável, exclui-se a culpabilidade e ele é isento de pena. Se for semi-imputável, será considerado culpável (não se exclui a culpabilidade), mas sua pena será reduzida de um a dois terços. No caso de o agente ser inimputável, por ser menor de 18 anos, não há processo penal, respondendo perante o ECA. No caso de ser inimputável em razão de doença mental ou desenvolvimento incompleto, será isento de pena (absolvido), mas o Juiz aplicará uma medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial). Isso é o que se chama de sentença absolutória imprópria (Pois, apesar de conter uma absolvição, contém uma espécie de sanção penal). No caso de o agente ser semi-imputável, ele não será isento de pena! Será condenado a uma pena, que será reduzida. Entretanto, a lei permite que o Juiz, diante do caso, substitua a pena privativa de liberdade por uma medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial). (ii) Embriaguez Segundo o CP, a embriaguez não é uma hipótese de inimputabilidade, salvo se decorrente de caso fortuito ou força maior (E mesmo assim, deve ser completa e retirar totalmente a capacidade de discernimento do agente). EXEMPLO: Imaginem que Luciana é embriagada por Carlos (que coloca álcool em seus drinks). Sem saber, Luciana ingere as bebidas alcoólicas e comete crime. Nesse caso, Poliana poderá ser inimputável ou semi- imputável, a depender de seu nível de discernimento quando da prática da conduta. Vejamos o seguinte esquema: Embriaguez: !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 7 () 21 Voluntária Culposa Acidental (caso fortuito ou força maior) Importante destacar que o CP exige que EM RAZÃO da embriaguez decorrente de caso fortuito ou força maior o agente esteja INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme este entendimento. Em qualquer dos dois casos de embriaguez acidental, não serápossível aplicação de medida de segurança, pois essa visa ao tratamento do agente considerado doente, e que oferece risco à sociedade. No caso da embriaguez acidental, o agente é sadio, tendo ingerido álcool por caso fortuito ou força maior. 1.3.2. Potencial consciência da ilicitude A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade (daí o termo “potencial”) de o agente, de acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do fato5. Não se trata do parâmetro do homem médio, mas de uma análise da pessoa do agente. Assim, aquele que é formado em Direito, em tese, tem maior potencial consciência da ilicitude que aquele que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca instrução. É claro que isso varia de pessoa para pessoa e, principalmente, de crime para crime, pois alguns são do conhecimento geral (homicídio, roubo), e outros nem todos conhecem (bigamia, por exemplo). Quando o agente age acreditando que sua conduta não é penalmente ilícita, comete erro de proibição (art. 21 do CP). O erro de proibição pode ser: ! Escusável – Nesse caso, era impossível àquele agente, naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrária ao Direito Penal. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente é isento de pena. ! Inescusável – Nesse caso, o erro do agente quanto à proibição da conduta não é tão perdoável, pois era possível, mediante algum esforço, entender que se tratava de conduta penalmente ilícita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime, com pena diminuída de um sexto a . BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera reimpressión. Bogotá, 1996, p. 153 Não excluem a imputabilidade COMPLETA – agente é inimputável PARCIAL – agente é semi-imputável !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 8 () 21 um terço (conforme o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). 1.3.3. Exigibilidade de conduta diversa Não basta que o agente seja imputável, que tenha potencial conhecimento da ilicitude do fato, é necessário, ainda, que o agente pudesse agir de outro modo. EXEMPLO: imagine a situação de uma mãe que vê seu filho clamar por comida e, diante disso, rouba um cesto de pães. Nesse caso, a mãe era maior de idade, sabia que a conduta era ilícita, mas não se podia exigir que, naquelas circunstâncias, agisse de outro modo. Dessa forma, nesse caso, sua culpabilidade estaria excluída (isso sem comentar o princípio da bagatela, que excluiria a própria tipicidade, por ausência de lesão tutelável. Mas isso dependeria da análise de outros fatores do caso concreto). Esse elemento da culpabilidade fundamenta duas causas de exclusão da culpabilidade: ! Coação MORAL irresistível – Ocorre quando uma pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob a ameaça de lhe fazer algum mal grave. Ex.: Alberto coloca uma arma na cabeça de Poliana e diz que se ela não atirar em Romeu, matará seu filho, que está sequestrado por seus comparsas. Nesse caso, não se pode exigir de Poliana que deixe de atirar em Romeu, pois está sob ameaça de um mal gravíssimo (morte do filho). ! Obediência hierárquica – É o ato cometido por alguém em cumprimento a uma ordem ilegal proferida por um superior hierárquico. Cuidado! A ordem não pode ser MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que cumpre a ordem sabe que está cometendo uma ordem ilegal, responde pelo crime juntamente com aquele que deu a ordem. Se a ordem não é manifestamente ilegal aquele que apenas a cumpriu estará acobertado pela excludente de culpabilidade da inexigibilidade de conduta diversa. CUIDADO! Nesse caso, só se aplica aos funcionários públicos, não aos particulares! Com relação à coação mora irresistível, vocês podem perceber que eu coloquei a expressão “MORAL” em caixa alta. Foi para deixar BEM !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 9 () 21 CLARO que somente a coação MORAL irresistível é que exclui a culpabilidade (por inexigibilidade de conduta diversa). A coação FÍSICA irresistível NÃO EXCLUI A CULPABILIDADE. A coação FÍSICA irresistível EXCLUI O FATO TÍPICO, pois o fato não será típico por ausência de CONDUTA, já que não há vontade. 2. ERRO 2.1. Erro de tipo Sabemos que o crime, em seu conceito analítico, é formado basicamente por três elementos: Fato típico (para alguns, tipicidade, mas a nomenclatura aqui é irrelevante), ilicitude e culpabilidade. Quando o agente comete um fato que se amolda perfeitamente à conduta descrita no tipo penal (direta ou indiretamente), temos um fato típico e, como disse, estará presente, portanto, a tipicidade. Pode ocorrer, entretanto, que o agente pratique um fato típico por equívoco! Isso mesmo! O agente pratica um fato considerado típico, mas o faz por ter incidido em erro sobre algum de seus elementos. O erro de tipo é a representação errônea da realidade, na qual o agente acredita não se verificar a presença de um dos elementos essenciais que compõem o tipo penal. EXEMPLO: Imaginemos o crime de desacato: Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Imaginemos que o agente desconhecesse a condição de funcionário público da vítima. Nesse caso, houve erro de tipo, pois o agente incidiu em erro sobre elemento essencial do tipo penal. O erro de tipo pode ocorrer, também, nos crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão), pois o agente pode desconhecer sua condição de garantidor no caso concreto6 (aquele que tem o dever de impedir o resultado). EXEMPLO: Imagine que uma mãe presencie o estupro da própria filha, mas nada faça, por não verificar tratar-se de sua filha. Nesse caso, a mãe incidiu em erro de tipo, pois errou na representação da realidade fática acerca de elemento que constituía o tipo penal. Ou seja, não identificou que a vítima era sua filha, elemento este que faria surgir seu dever de intervir. / BITENCOURT, Op. cit., p. 512 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 1: () 21 ATENÇÃO! Quando o erro incidir sobre elemento normativo do tipo7, há divergência na Doutrina! Parte entende que continua se tratando de erro de tipo. Outra parte da Doutrina entende que não se trata de erro de tipo, mas de erro de proibição, pois o agente estaria errando acerca da licitude do fato8. Exemplo: O art. 154 do CP diz o seguinte: Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Nesse caso, o elemento “sem justa causa” é elemento normativo do tipo. Se o médico revela um segredo do paciente para um parente, acreditando que este poderá ajudá-lo, e faz isso apenas para o bem do paciente, acreditando haver justa causa, quando na verdade o parente é um tremendo fofoqueiro que só quer difamar o paciente, o médico incorreu em erro de tipo, pois acreditava estar agindo com justa causa, que não havia. Porém, como disse a vocês, parte da doutrina entende que aqui se trata de erro de proibição. Mas a teoria que prevalece é a de que se trata mesmo de erro de tipo. O erro de tipo pode ser: • Escusável – Quando o agente não poderia conhecer, de fato, a presença do elemento do tipo. Exemplo: “A”entra numa loja e ao sair, verifica que esqueceu sua bolsa. Ao voltar, A encontra uma bolsa idêntica à sua, e a leva embora. Entretanto, “A” não sabia que essa bolsa era de “B”, que estava olhando revistas distraída, tendo sua bolsa sido levada por outra pessoa no momento em que saiu da loja pela primeira vez. Nesse caso, “A” não tinha como imaginar que alguém, em tão pouco tempo, haveria roubado sua bolsa e 7 Com relação a estes termos, CEZAR ROBERTO BITENCOURT os considera como “elementos normativos especiais da ilicitude”. Para o autor, elementos normativos seriam aqueles que demandam mero juízo de valor acerca de um objeto (saber que o documento falsificado é público, por exemplo, no crime de falsificação de documento público). Termos como “indevidamente”, “sem justa causa”, etc., seriam antecipação da ilicitude do fato inseridas dentro do tipo penal. (BITENCOURT, Op. cit., p. 350). Fica apenas o registro, já que a Doutrina majoritária entende que tais expressões são elementos normativos do tipo penal. Ver, por todos: GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 211. 0 BITENCOURT, Op. cit., p. 514/515 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 11 () 21 que outra pessoa deixaria no mesmo lugar uma bolsa idêntica. Nesse caso, “A” incorreu em erro de tipo escusável, pois não poderia, com um exercício mental razoável, saber que aquela não era sua bolsa. • Inescusável – Ocorre quando o agente incorre em erro sobre elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um esforço mental razoável, não ter agido desta forma. Exemplo: Imaginemos que Marcelo esteja numa repartição pública e acabe por desacatar funcionário público que lá estava. Marcelo não sabia que se tratava de funcionário público, mas mediante esforço mental mínimo poderia ter chegado a esta conclusão, analisando a postura da pessoa com quem falava e o que a pessoa fazia no local. Assim, Marcelo incorreu em erro de tipo inescusável, e responderia por crime culposo, caso houvesse previsão de desacato culposo (não há). Assim, lembrem-se: Pode ser que se utilize o termo “Erro itutivo do tipo penal”. Eu prefiro essa nomenclatura, mas ela não é utilizada sempre. ATENÇÃO! Existe, ainda, o que se convencionou chamar de “erro de tipo permissivo”. O que é isso? O erro de “tipo permissivo” é o erro sobre os pressupostos objetivos de uma causa de justificação (excludente de ilicitude). Assim, o erro de “tipo permissivo” seria, basicamente, uma descriminante putativa. Fala-se em “tipo permissivo” em razão da teoria dos elementos negativos do tipo, surgida na Alemanha no começo do século passado. Para esta teoria, as causas de exclusão da ilicitude seriam elementos NEGATIVOS do tipo. Ou seja, enquanto o “tipo incriminador” propriamente dito seria a descrição da conduta proibida, as excludentes de ilicitude corresponderiam a “ressalvas” à ilicitude da conduta. Desta forma, o que a Doutrina quis dizer foi que, basicamente, quando o art. 121 do CP diz que “matar alguém” é crime, ele na verdade quer dizer que “matar alguém é crime, exceto se houver alguma causa de justificação”. Esta é uma teoria que conta com alguns adeptos e, independentemente disso, o fato é que o termo “erro de tipo permissivo” é largamente utilizado e, portanto, digno de nota! ;)∃−&∃ +,/∃&∃ , <(&, &=>∗+, >,∋ ∗−+∗?∗∋ ∃/ ∃∋∋, %,0∋∃ ./ ?,% ∃≅∃/∃−&,% Α.∃ +,/>Β∃/ , &∗>, >∃−(≅ Χ∆∆Ε ΦΧ ΓΗΙΕ !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 13 () 21 2.2. Erro de tipo acidental O erro de tipo acidental nada mais é que um erro na execução do fato criminoso ou um desvio no nexo causal da conduta com o resultado9. Pode ser: " ERRO SOBRE A PESSOA (ERROR IN PERSONA) – Aqui o agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada, por confundi-la com a pessoa que deveria ser o alvo do delito. Neste caso, o erro é irrelevante, pois o agente responde como se tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA VISADA. Essa previsão está no art. 20, §3° do CP. " ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL (ABERRATIO CAUSAE) – Aqui temos o que se chama de DOLO GERAL OU SUCESSIVO. É o engano no que se refere ao meio de execução do delito. Ocorre quando o agente, acreditando já ter ocorrido o resultado pretendido, pratica outra conduta, mas ao final verifica que esta última foi a que provocou o resultado. Ex.: O agente atira contra a vítima, visando sua morte. Acreditando que a vítima morreu, atira o corpo num rio, visando sua ocultação. Mais tarde, descobre-se que esta última conduta foi a que causou a morte da vítima, por afogamento, pois ainda estava viva. A Doutrina majoritária entende que o agente responde pelo crime originalmente previsto (homicídio doloso consumado, e não homicídio tentado c/c homicídio culposo), embora, na verdade, tivéssemos um homicídio tentado (a primeira conduta) e um homicídio culposo consumado (a segunda conduta). " ERRO NA EXECUÇÃO (ABERRATIO ICTUS) – Aqui o agente atinge pessoa diversa daquela que fora visada, mas não por confundi-la, mas por ERRAR NA HORA DE PRATICAR O DELITO. Imagine que o agente, tentando acertar “A”, erre o tiro e acaba acertando “B”. No erro sobre a pessoa o agente não “erra o alvo”, ele “acerta o alvo”, mas o alvo foi confundido. SÃO COISAS DIFERENTES! Nesse caso, assim como no erro sobre a pessoa, o agente responde pelo crime originalmente pretendido. Esta é a previsão do art. 73 do CP. O erro na execução pode ser: a) com unidade simples – O agente atinge somente a pessoa diversa daquela visada; b) com unidade complexa – O agente atinge a vítima não visada, mas atinge também a vítima originalmente pretendida. Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO FORMAL. 1 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 376 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 14 () 21 " ERRO NO CRIME (ABERRATIO DELICTI) – Aqui o agente pretendia cometer um crime, mas acaba cometendo outro. Imagine que alguém atire uma pedra num veículo parado, com o dolo de danificá-lo (art. 163 do CP). Entretanto, o agente erra o alvo e atinge o dono, que estava perto (cometendo lesões corporais, art. 129 do CP). Nesse caso, o agente acaba por cometer CRIME DIVERSO DO PRETENDIDO. Responderá apenas pelo crime praticado efetivamente (lesão corporal culposa). Aplica-se a mesma regra do erro na execução: Se o agente atingir ambos os bens jurídicos (o pretendido e o não pretendido) responderá por AMBOS OS CRIMES, em CONCURSO FORMAL (art. 70 do CP).10 2.3. Erro de proibição A culpabilidade (terceiro elemento do conceito analítico de crime) é formada por alguns elementos, dentre eles, a POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE. A POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE é a possibilidade de o agente, de acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do fato. Não se trata do parâmetro do homem médio, MAS DE UMA ANÁLISE DA PESSOA DO AGENTE. Quando o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita, comete ERRO DE PROIBIÇÃO (art. 21 do CP). O erro de proibição pode ser: ! Escusável – Nesse caso, era impossível àquele agente, naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrária ao Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente é isento de pena. ! Inescusável – Nesse caso, o erro do agente quanto à proibição da conduta não é tão perdoável, pois era possível, mediantealgum esforço, entender que se tratava de conduta ilícita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime, com pena diminuída de um sexto a um terço (conforme o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). EXEMPLO: Um cidadão, lá do interior, encontra um bem (relógio de ouro, por exemplo) e fica com ele para si. Entretanto, mal sabe ele que essa conduta é crime, previsto no CP (apropriação de coisa achada). Vejamos: Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: 2 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 379 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 15 () 21 Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Na mesma pena incorre: (...) Apropriação de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. Percebam que até mesmo uma pessoa de razoável intelecto é capaz de não conhecer a ilicitude desta conduta. Assim, o agente, diferentemente do que ocorre no erro de tipo, REPRESENTA PERFEITAMENTE A REALIDADE (Sabe que a coisa não é sua, é uma coisa que foi perdida por alguém), mas ACREDITA QUE A CONDUTA É LÍCITA. Imaginem, no mesmo exemplo, que o camarada que achou o relógio, na verdade, soubesse que não podia ficar com as coisas dos outros, mas acreditasse que o relógio era um relógio que ele tinha perdido horas antes (quando, na verdade, era o relógio de outra pessoa). Nesse caso, o agente sabia que não podia praticar a conduta de “se apropriar de coisa alheia perdida” (Não há, portanto, erro de proibição), mas acreditou que a coisa não era “alheia”, achando que fosse sua (erro de tipo). Ficou clara a diferença? O erro de proibição pode ser direto (que é a hipótese mencionada) ou indireto. O erro de proibição indireto ocorre quando o agente atua acreditando que existe uma causa de justificação que o ampare. Contudo, não confundam o erro de proibição indireto com o erro de tipo permissivo. Ambos se referem à existência de uma causa de justificação (excludente de ilicitude), mas há uma diferença fundamental entre eles: • Erro de tipo permissivo – O agente atua acreditando que, no caso concreto, estão presentes os requisitos fáticos que caracterizam a causa de justificação e, portanto, sua conduta seria justa. Ex.: José atira contra seu filho, de madrugada, pois acreditava tratar-se de um ladrão (acreditava que as circunstâncias fáticas autorizariam agir em legítima defesa). • Erro de proibição indireto – O agente atua acreditando que existe, EM ABSTRATO, alguma descriminante (causa de ;)∃−&∃ +,/∃&∃ , <(&, −ϑ, >,∋ ∗−+∗?∗∋ ∃/ ∃∋∋, %,0∋∃ ( ∋∃(≅∗?(?∃Κ /(% ΙΕ∆ ;ΛΜ;∆ ΝΟΧ ; ΛΕΠΦΟΓ; ΠΘΕ Ρ Ι∆ΕΗΣΗΦ; Χ∆∆Ε ΦΧ Ι∆ΕΗΣΗΤΘΕ !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 16 () 21 justificação) que autorize sua conduta. Trata-se de erro sobre a existência e/ou limites de uma causa de justificação em abstrato. Erro, portanto, sobre o ordenamento jurídico11. Ex.: José encontra-se num barco que está a naufragar. Como possui muitos pertences, precisa de dois botes, um para se salvar e outro para salvar seus bens. Contudo, Marcelo também está no barco e precisa salvar sua vida. José, no entanto, agride Marcelo, impedindo-o de entrar no segundo bote, já que tinha a intenção de utilizá-lo para proteger seus bens. Neste caso, José não representou erroneamente a realidade fática (sabia exatamente o que estava se passando). José, conduta, errou quanto aos limites da causa de justificação (estado de necessidade), que não autoriza o sacrifício de um bem maior (vida de Marcelo) para proteger um bem menor (pertences de José). CUIDADO! Não confundam Descriminantes Putativas com delito putativo. As descriminantes putativas são quaisquer situações nas quais o agente incida em erro por acreditar que está presente uma situação que, se de fato existisse, tornaria sua ação legítima (a doutrina majoritária limita estes casos às excludentes de ilicitude). Imagine que o agente está numa casa de festas e ouça gritos de “fogo”! Supondo haver um incêndio, corre atropelando pessoas, agredindo quem está na frente, para poder se salvar. Na verdade, tudo não passava de um trote. Nesse caso, o agente agrediu pessoas (moderadamente, é claro), para se salvar, supondo haver uma situação que, se existisse (incêndio) justificaria a sua conduta (estado de necessidade). Dessa forma, há uma descriminante putativa por estado de necessidade putativo (descriminante putativa). NO DELITO PUTATIVO acontece EXATAMENTE O OPOSTO do que ocorre no erro de tipo, no erro de proibição e nas descriminantes putativas (seja de que natureza forem). O agente acredita que está cometendo o crime, quando, na verdade, está cometendo um INDIFERENTE PENAL. EXEMPLO: Um cidadão, sem querer, esbarra no carro de um terceiro, causando danos no veículo. Com medo de ser preso, foge. Na verdade, ele acredita que está cometendo crime de DANO CULPOSO, mas não sabe que o CRIME DE DANO CULPOSO NÃO EXISTE. Portanto, há, aqui, DELITO PUTATIVO. BITENCOURT, Op. cit., p. 524/525 !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 12 () 21 DESCRIMINANTES PUTATIVAS Agente acredita não estar cometendo crime algum, por incidir em erro. Contudo, está praticando uma conduta típica e ilícita. DELITO PUTATIVO Agente comete um INDIFERENTE PENAL, mas acredita estar praticando crime. 3. PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO 3.1. Introdução Quando alguém comete um fato definido como crime, surge para o Estado o poder-dever de punir. Esse direito de punir chama-se ius puniendi. Em regra, todo fato típico, ilícito e praticado por agente culpável, é punível. No entanto, o exercício do ius puniendi encontra limitações de diversas ordens, sendo a principal delas a limitação temporal (prescrição). Desta forma, o Estado deve exercer o ius puniendi da maneira prevista na lei (através do manejo da Ação Penal no processo penal), bem como deve fazê-lo no prazo legal. Para o nosso estudo interessam mais as hipóteses de extinção da punibilidade. Vamos analisá-las então! O art. 107 do CP prevê que: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Veremos, primeiro, todas as causas de extinção da punibilidade diversas da prescrição. Depois, vamos ao estudo da prescrição, que é a principal delas. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 17 () 21 3.2. Causas de extinção da punibilidade diversas da prescrição O primeiro caso é bem simples. Falecendo o agente, extingue-se a punibilidade do crime, pois,como vimos, no Direito Penal vigora o princípio da intranscendência da pena, ou seja, a pena não pode passar da pessoa do criminoso. Assim, com a morte deste, cessa o direito de punir do Estado. A anistia, a graça e o indulto são modalidades muito parecidas de extinção da punibilidade. Entretanto, não se confundem. A anistia exclui o próprio crime, ou seja, o Estado determina que as condutas praticadas (já praticadas, ou seja, fatos consumados) pelos agentes não sejam consideradas crimes. A anistia pode ser concedida pelo Poder Legislativo, e pode ser conferida a qualquer momento (inclusive após a sentença penal condenatória transitada em julgado). EXEMPLO: Determinados policiais militares resolvem fazer greve por melhores salários, condições de trabalho, etc. Na greve, fazem piquetes, acabam coagindo colegas, etc. Tais pessoas estarão praticando crime. Contudo, posteriormente, o Poder Legislativo verifica que são pessoas boas, que agiram no impulso, compelidas pela precária situação da Corporação e, portanto, decide ANISTIÁ-LOS, ou seja, o Poder Público irá “esquecer” que tais crimes foram praticados (aqueles crimes praticados naquelas circunstâncias, ou seja, somente aqueles ali mesmo!). Alguns autores diferenciam a anistia em anistia própria e anistia imprópria. A anistia própria seria aquela concedida ANTES da condenação e anistia imprópria seria aquela concedida APÓS a condenação. Pode, ainda, ser: • Irrestrita ou restrita – Será irrestrita quando se dirigir a todos os agentes. Será restrita quando exigir do agente determinada qualidade específica (ser primário, por exemplo). • Incondicionada ou condicionada – Será incondicionada quando não impuser nenhuma condição. Será condicionada quando impuser uma condição para sua validade (Como, por exemplo, a reparação do dano causado). • Comum ou especial – A primeira é destinada a crimes comuns, e a segunda é destinada a crimes políticos. Já a Graça e o indulto são bem mais semelhantes entre si, pois não excluem o FATO criminoso em si, mas apenas extinguem a punibilidade em relação a determinados agentes (podem ser todos), e só podem ser concedidos pelo Presidente da República. EXEMPLO: Imaginemos que, no exemplo da greve dos policiais militares, o Presidente da República assinasse um Decreto concedendo indulto a 150 dos 300 policiais militares envolvidos. Percebam que o fato criminoso !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 18 () 21 não foi “esquecido” pelo Estado. Houve apenas a extinção da punibilidade em relação a alguns infratores. Assim, a ANISTIA atinge o FATO (e por via reflexa, a punibilidade). A graça e o indulto atingem DIRETAMENTE A PUNIBILIDADE. A Graça é conferida de maneira individual, e o indulto é conferido coletivamente (a um grupo que se encontre na mesma situação). A anistia só pode ser causa de extinção total da punibilidade (pois, como disse, exclui o próprio crime). Já a Graça e o indulto podem ser parciais. Pode ser extinta a punibilidade, também, pelo fenômeno da abolitio criminis, nos termos do art. 107, III do CP. Como vimos, a abolitio criminis ocorre quando surge lei nova que deixa de considerar o fato como crime. CUIDADO! Não confundam abolitio criminis com anistia. A abolitio criminis não se dirige a um fato criminoso específico, já praticado, A abolitio criminis simplesmente faz desaparecer a própria figura típica prevista na Lei, ou seja, a conduta incriminada (o tipo penal) deixa de existir. Pode ocorrer, ainda, de o ofendido, nos crimes de ação penal privada, renunciar ao direito de oferecer queixa, ou conceder o perdão ao acusado. Nesses casos, também estará extinta a punibilidade. A renúncia ao direito de queixa ocorre quando, dentro do prazo de seis meses de que dispõe o ofendido para oferecê-la, este renuncia ao direito, de maneira expressa ou tácita. A renúncia tácita ocorre quando o ofendido pratica algum ato incompatível com a intenção de processar o agente (quando, por exemplo, convida o infrator pra ser seu padrinho de casamento). O perdão, por sua vez, é muito semelhante à renúncia, com a ressalva de que o perdão só pode ser concedido quando já ajuizada a ação penal privada, e que o simples oferecimento do perdão, por si só, não gera a extinção da punibilidade, devendo o agente aceitar o perdão. Ocorrendo a renúncia ao direito de queixa, ou o perdão do ofendido, e sendo este último aceito pelo querelado (autor do fato), estará extinta a punibilidade. Em determinados crimes o Estado confere o perdão ao infrator, por entender que a aplicação da pena não é necessária. É o chamado “perdão judicial”. É o que ocorre, por exemplo, no caso de homicídio culposo no qual o infrator tenha perdido alguém querido (Lembram-se do caso Herbert Viana?). Essa hipótese está prevista no art. 121, § 5° do CP: !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 19 () 21 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) Então, nesse caso, ocorrendo o perdão judicial, também estará extinta a punibilidade. Além disso, o art. 120 do CP diz que se houver o perdão judicial, esta sentença que concede o perdão judicial não é considerada para fins de reincidência (apesar de ser uma sentença condenatória). PERDÃO DO OFENDIDO RENÚNCIA PERDÃO JUDICIAL Concedido pela VÍTIMA Concedida pela VÍTIMA Concedido pelo Estado (Juiz) Somente nos crimes de ação penal privada Somente nos crimes de ação penal privada Somente nos casos previstos em Lei Depois de ajuizada a ação penal Antes do ajuizamento da ação penal Na sentença Precisa ser aceito pelo infrator Não precisa ser aceito pelo infrator Não precisa ser aceito pelo infrator Nos termos do inciso VI do art. 107, a retratação do agente também é hipótese de extinção da punibilidade, nos casos em que a lei a admite. Acontece isto, por exemplo, nos crimes de calúnia ou difamação, nos quais a lei admite a retratação como causa de extinção da punibilidade, se realizada antes da sentença. Nos termos do art. 143 do CP: Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Há, também, a extinção da punibilidade pela decadência ou pela perempção. A decadência ocorre quando a vítima deixa de ajuizar a ação penal dentro do prazo, ou quando deixa de oferecer a representação dentro do prazo (nos casos de crimes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada à representação, respectivamente). O prazo é de seis meses a contar da data em que a vítima passa a saber quem foi o autor do fato. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 3: () 21 A perempção, por sua vez, é a extinção da ação penal privada pelo “desleixo” da vítima (quando deixa de dar seguimento à ação, deixa de comparecer a alguma ato processual a que estava obrigado, etc.). Está prevista no art. 60 do CPP: Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar- se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante,ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. 3.3. Prescrição Enfim, a clássica e mais comum hipótese de extinção da punibilidade: a PRESCRIÇÃO. A prescrição é a perda do poder de exercer um direito em razão da inércia do seu titular. Ou seja, é o famoso “camarão que dorme a onda leva”. A prescrição pode ser dividida basicamente em duas espécies: Prescrição da pretensão punitiva e prescrição da pretensão executória. A primeira pode ocorrer quando ainda não há sentença penal condenatória transitada em julgado, e a segunda pode ocorrer somente depois de já haver sentença penal condenatória transitada em julgado. Vamos estudá-las em tópicos separados. 3.3.1. Prescrição da pretensão punitiva Aqui o Estado ainda não aplicou (em caráter definitivo) uma sanção penal ao agente que praticou a conduta criminosa. Mas qual é o prazo de prescrição? O prazo prescricional varia de crime para crime, e é definido tendo por base a pena máxima estabelecida, em abstrato, para a conduta criminosa. Nos termos do art. 109 do CP: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 31 () 21 III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). Prescrição das penas restritivas de direito Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, no crime de homicídio simples, por exemplo, para o qual a lei estabelece pena máxima de 20 anos (art. 121 do CP), o prazo prescricional é de 20 anos, pois a pena máxima é superior a 12 anos. O crime de furto simples, por exemplo, (art. 155 do CP) prescreve em oito anos, pois a pena máxima prevista é quatro anos. CUIDADO! O prazo de prescrição do crime não é igual à pena máxima a ele estabelecida, mas é calculado através de uma tabela que leva em consideração a pena máxima! Mas professor, quando começa a correr o prazo prescricional? Simples, meus caros. A resposta para esta pergunta está no art. 111 do CP: Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012) !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 33 () 21 Apenas um comentário em relação a este artigo: A regra, aqui, é de que o prazo prescricional comece a fluir no dia em que o crime se consuma. CUIDADO! Lembrem-se de que o crime se considera praticado (tempo do crime) quando ocorre a conduta, e não a consumação. Assim: Tempo do crime – Momento da conduta Início do prazo prescricional – Momento da consumação Prestem atenção para não errarem isso, pois esta é uma pegadinha que pode derrubar vocês no concurso. EXEMPLO: Em 10.01.2010 José atira em Maria, querendo sua morte. Maria vai para o Hospital e só vem a falecer em 15.04.2010. No caso em tela, o tempo do crime é o dia 10.01.2010 (data em que foi praticado o delito). O início do prazo prescricional, porém, terá como base o dia 15.04.2010, eis que somente nesta data o delito se consumou. Como nos crimes tentados não há propriamente consumação (pois não há resultado naturalístico esperado), o prazo prescricional começa a fluir da data em que cessa a atividade criminosa, mesmo critério utilizado para os crimes permanentes. Na hipótese de pena de multa, como calcular o prazo prescricional? Se a multa for prevista ou aplicada isoladamente, o prazo será de dois anos. Porém, se a multa for aplicada ou prevista cumulativamente com a pena de prisão (privativa de liberdade), o prazo de prescrição será o mesmo estabelecido para a pena privativa de liberdade. Isto é que se extrai do art. 114 do CP: Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) A prescrição da pretensão punitiva pode ser a “ordinária”, que é esta que vimos até agora (e utiliza a pena máxima prevista como base), mas também pode ser a “intercorrente”. A prescrição da pretensão punitiva em sua modalidade “intercorrente” é aquela que ocorre DEPOIS da sentença penal !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 34 () 21 condenatória, quando há trânsito em julgado para a ACUSAÇÃO, mas não para a defesa. Como assim? Imagine que José tenha sido condenado pelo crime de homicídio a 06 anos de reclusão. A acusação não recorre, por entender que a pena está num patamar razoável. A defesa, porém, recorre da sentença. Neste caso nós temos o chamado “trânsito em julgado para a acusação”, ou seja, somente a defesa pode “se dar bem” daqui pra frente, já que quando o Tribunal for apreciar o recurso de apelação não poderá prejudicar o réu (recorrente), pelo princípio da non reformatio in pejus. Bom, considerando o exemplo acima, como a defesa não pode ser prejudicada no julgamento de seu recurso, podemos chegar à conclusão de que o máximo de pena que José irá receber será 06 anos (a pena atual). A partir deste momento o prazo prescricional passa a ser calculado tendo como base esta pena aplicada (e não mais a pena máxima em abstrato). Vejam que há uma implicação prática:Neste caso, o prazo prescricional diminui consideravelmente: Antes, o prazo prescricional (ordinário) era de 12 anos (pois a pena máxima é de 20 anos). Agora, o prazo prescricional a ser considerado (intercorrente) será de 12 anos (pois a pena aplicada é de 06 anos. Está entre 04 e 08, nos termos do art. 109, III do CP). Vejamos o art. 110, §1º do CP: Art. 110 (...) § 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). A prescrição intercorrente, por sua vez, pode ser: • Superveniente – Quando ocorre entre o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação e o trânsito em julgado da sentença condenatória em definitivo (tanto para a acusação quanto para defesa). • Retroativa – Quando, uma vez tendo havido o trânsito em julgado para a acusação, se chega à conclusão de que, naquele momento, houve a prescrição da pretensão punitiva entre a data da denúncia (ou queixa) e a sentença condenatória. Vejamos o esquema: !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 35 () 21 Esse é o sistema que vigora atualmente. Antes da Lei 12.234/10 havia uma outra hipótese de prescrição retroativa, que era a que ocorria entre o fato criminoso e o recebimento da denúncia ou queixa. Atualmente essa hipótese NÃO EXISTE MAIS. Isso significa que não há mais hipótese de ocorrer prescrição entre a data do fato e a data do recebimento da denúncia ou queixa? Não, não é isso que ocorreu. O que não pode mais ocorrer é a prescrição RETROATIVA (ou seja, aquela calculada com base na pena aplicada) entre a data do fato e a data do recebimento da denúncia ou queixa. Nada impede, porém, que nesse lapso temporal ocorra a prescrição da pretensão punitiva ordinária (ou comum). CUIDADO! Tal previsão (vedação à prescrição retroativa tendo como marco inicial data anterior ao recebimento da denúncia ou queixa) é muito prejudicial ao réu, pois lhe retira uma possibilidade de ver sua punibilidade extinta. Desta forma, NÃO poderá retroagir para alcançar crimes praticados ANTES de sua entrada em vigora (Em 2010). Assim, aos crimes praticados ANTES da Lei 12.234/10, é possível aplicarmos a prescrição retroativa entre a data da consumação do delito e o recebimento da denúncia ou queixa. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 36 () 21 Vou utilizar um caso exemplificativo para que possamos esclarecer as diversas hipóteses de prescrição da pretensão punitiva: EXEMPLO: Marcelo pratica o crime de furto em 01.01.1994. A denúncia é recebida em 10.06.2001. Marcelo é condenado em 10.07.2006 a 02 anos de reclusão. O MP não recorre (com trânsito em julgado para a acusação em 25.07.2006), mas a defesa apresenta recurso, que é julgado e improvido (a pena é mantida), tendo havido o efetivo trânsito em julgado em 10.01.2014. Vejamos as hipóteses: PRESCRIÇÃO COMUM: Como a pena máxima prevista em abstrato para o furto é de 04 anos, o prazo prescricional seria de 08 anos (art. 109, IV do CP). Entre a data da consumação do delito e o recebimento da denúncia não ocorreu tal prescrição, eis que se passaram apenas 07 anos e alguns meses. Também não ocorreu tal prescrição posteriormente (pois não se passaram mais de 08 anos entre uma interrupção da prescrição e outra). PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE SUPERVENIENTE: Aqui devemos considerar como parâmetro a pena efetivamente aplicada (02 anos), de forma que o prazo prescricional a ser utilizado será de 04 anos (art. 109, V do CP). Podemos verificar que entre o trânsito em julgado para a acusação e o trânsito em julgado efetivo (para ambos), passaram-se mais de 04 anos, de forma que podemos dizer que HOUVE a prescrição da pretensão punitiva intercorrente SUPERVENIENTE. PRESCRIÇÃO RETROATIVA: Da mesma forma que a anterior, terá como base a pena efetivamente aplicada (02 anos), logo, o prazo prescricional utilizado será de 04 anos. Podemos verificar que entre o recebimento da denúncia e a sentença condenatória passaram-se mais de 04 anos (pouco mais de cinco anos). Assim, podemos dizer que OCORREU a prescrição da pretensão punitiva retroativa. Neste caso, como a prescrição retroativa ocorreu, e isso podia ser verificado já em 25.07.06, sequer chegaríamos a ter a prescrição superveniente (utilizei apenas para facilitar a compreensão). ATENÇÃO! Como o crime foi praticado antes da Lei 12.234/10, seria possível reconhecer a prescrição retroativa entre a data da consumação do delito e data do recebimento da denúncia. Como nós acabamos de verificar, existem fatos que interrompem a prescrição. São eles: • Recebimento da denúncia ou queixa • Pronúncia • Decisão confirmatória da pronúncia !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 32 () 21 • Publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis • Início ou continuação do cumprimento da pena • Reincidência Uma vez interrompido o curso do prazo prescricional, este voltará a correr novamente, do zero, a partir da data da interrupção (salvo no caso de Início ou continuação do cumprimento da pena). Além disso, fora as duas últimas hipóteses, nas demais, ocorrendo a interrupção da prescrição em relação a um dos autores do crime, tal interrupção se estenderá aos demais. O CP prevê, ainda, hipóteses nas quais a prescrição não corre, tanto no que se refere à prescrição da pretensão punitiva quanto à prescrição da pretensão executória, embora as circunstâncias sejam diferentes para cada uma delas. Nos termos do art. 116 e seu § único, do CP: Causas impeditivas da prescrição Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, nestes casos, o prazo prescricional não corre, ficando suspenso. Uma vez resolvida a questão que causava a suspensão, ele volta a correr de onde parou (diferente da interrupção, portanto). 3.3.2. Prescrição da pretensão executória Como disse a vocês, a prescrição pode ocorrer antes do trânsito em julgado (prescrição da pretensão punitiva) ou depois do trânsito em julgado (quando teremos a prescrição da pretensão executória). Esta última ocorre quando o Estado condena o indivíduo, de maneira irrecorrível, mas não consegue fazer cumprir a decisão. Nos termos do art. 110 do CP: Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 37 () 21 Assim, na hipótese do crime de homicídio, conforme o exemplo dado anteriormente, antes de transitar em julgado a sentença condenatória, o prazo prescricional é regulado pela pena máxima cominada ao crime em abstrato, de acordo com a tabelinha do art. 109 do CP. Após o trânsito em julgado, o parâmetro utilizado pela lei para o cálculo do prazo prescricional deixa de ser a pena máxima prevista e passa a ser a pena efetivamente aplicada. Assim, se no crime de homicídio simples, que tem pena prevista de 06 a 20 anos, o agente for condenado a apenas 06 (seis) anos de reclusão, o prazo prescricional passa a ser de apenas 12 (doze) anos, nos termos do art. 109, III do CP. O art. 112 do CP estabelece o marco inicial (termo a quo) do prazo prescricional da pretensão executória: Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Lembrando que o início de cumprimento da pena é causa de interrupção da prescrição. O art. 112, I foi (e ainda é) muito criticado na Doutrina (recebendo algumas críticas na Jurisprudência também). Isto porque ele determina que o termo inicial da prescrição da pretensão EXECUTÓRIA ocorrerá com o trânsito em julgado para a ACUSAÇÃO. Isso significa que se houver o trânsito em julgado para a acusação mas não para a defesa (apenas a defesa recorreu), já estaria correndo o prazo prescricional da PRETENSÃO EXECUTÓRIA. As críticas, bastante fundamentadas, se dirigiam ao fato de que considerar a pretensão executória, neste momento, violaria a presunção de inocência, eis que ainda não houve o trânsito em julgado para ambas as partes. Outra crítica, muito importante, se refere ao fato de que a prescrição é a perda de um direito em razão da INÉRCIA de seu titular. No caso da prescrição da pretensão EXECUTÓRIA seria a perda do direito de executar a pena em razão da INÉRCIA do Estado em agir. Contudo, como não houve trânsito em julgado para a defesa, o Estado AINDA NÃO PODE EXECUTAR A PENA! Ora, se o Estado não pode executar a pena, como pode ser punido com a perda deste direito, se não podia exercê-lo?? A “gritaria” não foi aceita pela Jurisprudência, que firmou entendimento no sentido de que o termo inicial da prescrição da !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 38 () 21 pretensão EXECUTÓRIA ocorre com o trânsito em julgado para a acusação. Contudo, apesar de reconhecer que o termo inicial da prescrição da pretensão executória ocorre com o trânsito em julgado para a acusação, o STJ decidiu que antes de haver o trânsito em julgado para AMBAS AS PARTES a prescrição da pretensão executória NÃO PODE SER RECONHECIDA. Resumidamente: O prazo prescricional começa a correr com o trânsito em julgado para a acusação, mas eventual reconhecimento da efetiva ocorrência da prescrição (executória) somente terá cabimento APÓS o trânsito em julgado para ambas as partes. 3.3.3. Disposições importantes sobre a prescrição Vou elencar no quadrinho abaixo alguns pontos importantes sobre o tema: REDUÇÃO DOS PRAZOS DE PRESCRIÇÃO: Em alguns casos, a Lei estabelece que o prazo prescricional será reduzido. É o caso do art. 115 do CP, que estabelece que os prazos prescricionais serão reduzidos pela metade quando o infrator possuir menos de 21 anos na data do crime ou mais de 70 na data da sentença. AUMENTO DO PRAZO PRESCRICIONAL: Se o condenado é reincidente, o prazo de prescrição da pretensão EXECUTÓRIA aumenta-se em um terço. Não se aplica tal aumento aos prazos de prescrição da pretensão punitiva, conforme SÚMULA Nº 220 DO STJ: “a reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva”. PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA (ANTECIPADA, PROJETADA OU VIRTUAL): Tal modalidade, uma criação jurisprudencial, nunca teve fundamento no CP. Consiste na configuração da prescrição tendo como base uma eventual futura pena a ser aplicada ao acusado. Assim, o Juiz analisava o caso e, verificando que o réu, por exemplo, receberia pena mínima (por ser primário, de bons antecedentes, etc.), utilizava esta pena mínima como parâmetro para o prazo prescricional. Isto não existe e atualmente é vedado pelo STJ, que sumulou o entendimento no sentido de que isso não possui qualquer previsão legal (SÚMULA Nº 438: “é inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”.) PRESCRIÇÃOS DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: Os menores não são julgados de acordo com as normas do CP, mas de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Contudo, as normas referentes à !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 39 () 21 prescrição são aplicáveis às medidas socioeducativas (sanções penais aplicáveis aos adolescentes). Vejamos a SÚMULA 338 DO STJ: “a prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas”. Bons estudos! Prof. Renan Araujo 4. EXERCÍCIOS DA AULA 01 - (CESPE – 2009 – PC/RN – AGENTE DE POLÍCIA) Exclui-se a culpabilidade do agente A) que falece após a ocorrência do fato. B) inteiramente incapaz ao tempo do fato. C) que age em estrito cumprimento do dever legal. D) portador de perturbação mental após o fato. E) maior de 70 anos de idade na data da sentença. 02 - (CESPE – 2010 – DETRAN/ES – ADVOGADO) Tratando-se de culpabilidade, a teoria estrita ou extremada e a teoria limitada são derivações da teoria normativa pura e divergem apenas a respeito do tratamento das descriminantes putativas. 03 - (CESPE – 2011 – PC/ES – ESCRIVÃO DE POLÍCIA) A falta de consciência da ilicitude, se inevitável, exclui a culpabilidade. 04 - (CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA) As causas legais de exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa incluem a estrita obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Caso o agente cumpra ordem ilegal ou extrapole os limites que lhe foram determinados, a conduta é culpável. 05 - (CESPE – 2009 – DPE/AL – DEFENSOR PÚBLICO) Para a teoria limitada da culpabilidade, adotada pelo CP brasileiro, toda espécie de descriminante putativa, seja sobre os limites autorizadores da norma, seja incidente sobre situação fática pressuposto de uma causa de justificação, é sempre considerada erro de proibição. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 4: () 21 06 - (CESPE – 2004 – AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL) A coação física e a coação moral irresistíveis afastam a própria ação, não respondendo o agente pelo crime. Em tais casos, responderá pelo crime o coator. 07 - (CESPE – 2011 – TER/ES – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA) Abel, em completo estado de embriaguez proveniente de caso fortuito, cometeu delito de roubo, tendo sido comprovado que, ao tempo do crime, ele era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Nessa situação, emboratenha praticado fato penalmente típico e ilícito, Abel ficará isento de pena. 08 - (CESPE – 2008 – STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA) Na obediência hierárquica, para que se configure a causa de exclusão de culpabilidade, é necessário que exista dependência funcional do executor da ordem dentro do serviço público, de forma que não há que se falar, para fins de exclusão da culpabilidade, em relação hierárquica entre particulares. 09 - (CESPE – 2011 – TJ/ES – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA) O perdão judicial, uma das possíveis causas extintivas da punibilidade, consiste na manifestação de vontade, expressa ou tácita, do ofendido ou de seu representante legal, acerca de sua desistência da ação penal privada já iniciada. 10 - (CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA) Além de conduzir à extinção da punibilidade, a abolitio criminis faz cessar todos os efeitos penais e cíveis da sentença condenatória. 11 - (CESPE – 2009 – SEJUS /ES – AGENTE PENITENCIÁRIO) A anistia exclui o crime, rescinde a condenação e extingue totalmente a punibilidade, tendo, de regra, ao contrário da graça, o caráter da generalidade, ao abranger fatos e não pessoas. 12 - (CESPE – 2009 – AGU – ADVOGADO DA UNIÃO) Caso a pena de multa seja alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada, aplicam-se a ela os mesmos prazos previstos para as respectivas penas privativas de liberdade. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 41 () 21 13 - (CESPE – 2011 – TCU - AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO) Acerca da tipicidade, da culpabilidade e da punibilidade, julgue o item a seguir. Na doutrina e jurisprudência contemporâneas, predomina o entendimento de que a punibilidade não integra o conceito analítico de delito, que ficaria definido como conduta típica, ilícita e culpável. 14 - (CESPE – 2010 – ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA) Julgue o item a seguir, referente a institutos de direito penal. O erro de proibição escusável exclui o dolo e a culpa; o inescusável exclui o dolo, permanecendo, contudo, a modalidade culposa. 15 - (CESPE – 2011 – TCU – AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO) Acerca da tipicidade, da culpabilidade e da punibilidade, julgue o item a seguir. O menor de dezoito anos de idade é isento de pena por inimputabilidade, mas é capaz de agir com dolo, ou seja, é capaz de praticar uma ação típica. 16 - (CESPE – 2011 – TCU – AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO) Acerca da tipicidade, da culpabilidade e da punibilidade, julgue o item a seguir. As escusas absolutórias também são consideradas causas de exclusão da culpabilidade. 17 - (CESPE – 2011 – TCU – AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO) Acerca da tipicidade, da culpabilidade e da punibilidade, julgue o item a seguir. São causas de exclusão da culpabilidade, expressamente previstas no Código Penal brasileiro, a coação moral irresistível e a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. 18 - (CESPE – 2011 – TCU – AUDITOR FEDERAL DE CONTROLE EXTERNO) !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 43 () 21 A respeito dos crimes contra a fé pública, dos crimes previstos na Lei de Licitações, bem como dos princípios e conceitos gerais de direito penal, julgue o item a seguir. No quadro geral das teorias do delito, a consciência da ilicitude ora pertence à estrutura do dolo, ora, à estrutura da culpabilidade; no entanto, sua eventual ausência, desde que inevitável, conduz à isenção de pena. 19 - (CESPE – 2011 – TRE/ES – ANALISTA JUDICIÁRIO) No próximo item, é apresentada uma situação hipotética seguida de uma assertiva a ser julgada no que se refere aos institutos de direito penal. Abel, em completo estado de embriaguez proveniente de caso fortuito, cometeu delito de roubo, tendo sido comprovado que, ao tempo do crime, ele era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Nessa situação, embora tenha praticado fato penalmente típico e ilícito, Abel ficará isento de pena. 20 - (CESPE - 2012 – PC/AL – DELEGADO) A imputabilidade, a exigibilidade de conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude são elementos da culpabilidade. 21 - (CESPE - 2012 – TJ/AL – AJAJ) A coação moral irresistível e a obediência à ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico são causas de exclusão da a) imputabilidade. b) tipicidade subjetiva. c) ilicitude. d) culpabilidade. e) tipicidade objetiva. 22 - (CESPE - 2012 – TC/DF– AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO) A respeito dos crimes contra a fé pública, dos crimes previstos na Lei de Licitações, bem como dos princípios e conceitos gerais de direito penal, julgue o item a seguir. No quadro geral das teorias do delito, a consciência da ilicitude ora pertence à estrutura do dolo, ora, à estrutura da culpabilidade; no entanto, sua eventual ausência, desde que inevitável, conduz à isenção de pena. 23 - (CESPE - 2013 - MPU - ANALISTA - DIREITO) !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? (98∆Ε #7Α;Α ∗9;ΦΓ8 , ∗ΦΗ; 0Ι (98∆Ε#7Α;Α ∗9;ΦΓ8 ∀∀∀#∃%&∋(&∃)∗(+,−+.∋%,%#+,/#0∋ ∀#∃%&∋ 44 () 21 Acerca dos institutos do direito penal brasileiro, julgue os próximos itens. Por caracterizar inexigibilidade de conduta diversa, a coação moral ou física exclui a culpabilidade do crime. 24 - (CESPE - 2013 - PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL) Considere que um indivíduo penalmente capaz, em total estado de embriaguez, decorrente de caso fortuito, atropele um pedestre, causando-lhe a morte. Nessa situação, a embriaguez não excluía imputabilidade penal do agente. 25 - (CESPE - 2013 - PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL) O ordenamento jurídico brasileiro prevê a possibilidade de ocorrência de tipicidade sem antijuridicidade, assim como de antijuridicidade sem culpabilidade. 26 - (CESPE - 2013 - POLÍCIA FEDERAL - ESCRIVÃO DA POLÍCIA FEDERAL) No que concerne a infração penal, fato típico e seus elementos, formas consumadas e tentadas do crime, culpabilidade, ilicitude e imputabilidade penal, julgue os itens que se seguem. Considere que Bartolomeu, penalmente capaz e mentalmente são, tenha praticado ato típico e antijurídico, em estado de absoluta inconsciência, em razão de estar voluntariamente sob a influência de álcool. Nessa situação, Bartolomeu será apenado normalmente, por força da teoria da actio libera in causa. 27 - (CESPE - 2013 - POLÍCIA FEDERAL - DELEGADO DE POLÍCIA) De acordo com a teoria extremada da culpabilidade, o erro sobre os pressupostos fáticos das causas descriminantes consiste em erro de tipo permissivo. 28 - (CESPE - 2013 - PC-BA - DELEGADO DE POLÍCIA) Tanto a conduta do agente que age imprudentemente, por desconhecimento invencível de algum elemento do tipo quanto a conduta do agente que age acreditando estar autorizado a fazê-lo ensejam como consequência a exclusão do dolo e, por conseguinte, a do próprio crime. 29 - (CESPE - 2013 - TJ-DF - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA) Em relação à menoridade penal, o Código Penal adotou o critério puramente biológico, considerando penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos de idade, ainda que cabalmente demonstrado que entendam o caráter ilícito de seus atos. !∀#∃∀%& (∃)∗+ , (#− ./0123 (&+∀4∀∗+ #&!&5∀6#∀& −∃!∃#∗+ %789:; 7 7<79=>=:8? =8≅7ΑΒ;Χ8? 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