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1 APOSTILA DE DIREITO PENAL PARTE GERAL Viviane Constante, 2022. 2 Conceito e caracteres ➢ O direito penal é o conjunto de normas jurídicas voltado à fixação dos limites do Estado, instituindo infrações penais e as sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação. Prevê ainda as mais graves sanções viáveis para o ser humano, como é o caso da privação de liberdade. ➢ A finalidade do Direito Penal é proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade – aqueles essenciais ao indivíduo e à comunidade, sendo estes os bens jurídicos. No momento em que um bem jurídico é classificado como tal, surgem tipos penais incriminadores (crimes) para protegê-los. ➢ A primeira fonte de pesquisa para selecionar esses bens jurídicos é a Constituição Federal, especialmente naquilo que guarda relação com a salvaguarda dos direitos fundamentas (vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade, intimidade, vida privada, honra, trabalho, entre outros), servindo como um norte ao legislador. Registre-se que além de orientar o legislador, a Constituição Federal ainda impede que esse legislador proíba ou imponha determinados comportamentos violadores de direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana. OBS: em razão do princípio da intervenção mínima (que ainda será estudado), são reservados a proteção aos mais relevantes bem jurídicos Distinção entre direito penal objetivo e direito penal subjetivo DIREITO PENAL OBJETIVO DIREITO PENAL SUBJETIVO É o conjunto de normas editadas pelo Estado, definindo crimes e contravenções, impondo ou proibindo determinadas condutas, sob a ameaça de sanção ou medida de segurança. É o corpo de normas jurídicas destinado ao combate da criminalidade – encontra-se configurado nos textos das Leis, como o próprio Código Penal. É a possibilidade que tem o Estado de criar e fazer cumprir suas normas, executando as decisões condenatórias proferidas pelo Poder Judiciário – configura o ius puniendi. É o direito de punir do Estado que surge após o cometimento da infração penal. 3 Evolução histórica do direito penal Alguns historiadores consideram as fases da pena como: a vingança privada, a vingança divina, a vingança pública e o período humanitário. ➢ A vingança privada se manifestava como forma de reação da comunidade contra o infrator – pura e simples retribuição a alguém pelo mal praticado. Essa vingança podia ser exercida por aquele que havia sofrido o dano, bem como por sua família ou grupo social em que se encontrava inserido. Isso acabava gerando um círculo vicioso (matava-se o membro de uma família e esta matava um membro daquela e assim sucessivamente), o que tendia a levar ao extermínio de clãs e grupos. OBS: a Lei de Talião atuou como um meio de reduzir a extensão da punição e evitar a infindável onda da vingança privada, trazendo uma noção, ainda que superficial, do conceito de proporcionalidade (“olho por olho” e “dente por dente”. ➢ A vingança divina contava com sociedades carregadas de misticismos e crenças sobrenaturais. Fenômenos da natureza eram tidos como expressão da ira dos deuses para com os homens. Era revestido de caráter religioso. ➢ A vingança pública, por sua vez, era fundamentada na melhor organização social, como forma de proteção e segurança do Estado e do soberano, ainda mediante a imposição de penas cruéis, desumanas e com nítida finalidade intimidatória. Há resquícios das fases anteriores, como a vingança aplicada no seio das tribos, bem como carregadas de misticismos. OBS: nessa fase surge uma nova forma de resolução de conflitos: a compositio, de modo que a pena não se dá com um sofrimento pessoal, passando a ser representada pela entrega de animais, armas, utensílios ou dinheiro – alguma utilidade material dada pelo ofensor. O Direito Penal na Grécia Antiga. Direito Penal Romano. Direito Penal Germânico. Direito Penal Canônico. DIREITO PENAL NA GRÉCIA ANTIGA Somente castigou o autor quando se tratava de delitos comuns. Quanto as ofensas de caráter religioso e político, existiram durante longo período sanções de caráter coletivo – os traidores e tiranos eram mortos com toda sua família. Prevalecia a vingança de sangue em 4 uma primeira fase, cedendo espaço ao talião e à composição. DIREITO PENAL ROMANO Considerado um dos marcos mais importantes da nossa história. Deu origem a Lei das XII Tábuas (451 a 450 a. C.). Na fase do reinado vigorou o caráter sagrado da pena, ao passo que no período republicano prevaleceu o talião e a composição. Surgiu a distinção entre os crimes públicos (que a atribuição de seus julgamentos era do Estado) e os crimes privados (o julgamento era confiado ao próprio particular ofendido). DIREITO PENAL GERMÂNICO De natureza consuetudinária, ou seja, direito que surge dos costumes, não passando por um processo formal de criação de leis. As ordálias e juízos de Deus foram amplamente utilizadas, além de que o direito aplicado a cada indivíduo variava de acordo com o grupo a que efetivamente pertencia. Havia ainda os duelos judiciários, onde prevalecia a lei do mais forte. DIREITO PENAL CANÔNICO Predominou na Idade Média, estando religião e poder ligados e dividia os crimes em delicta eclesiástica – de exclusiva competência dos tribunais eclesiásticos; delicta mere secularia – julgados pelos tribunais leigos – e delicta mixta – atentavam ao mesmo tempo contra a ordem divina e a humana, podendo ser julgado por aquele tribunal que primeiro deles conhecesse. Perpetuou o caráter sacro da punição, que continuava severa, mas havia o intuito corretivo que visava a regeneração do criminoso. Surgiu os excessos praticados pela Santa Inquisição, que se valia de tortura para extrair confissão e punir, além de inexistir proporcionalidade entre a infração cometida e a punição aplicada. ➢ O período humanitário foi antecedido por penas que em geral o corpo do homem, mediante sofrimento físico e mental, pagava pelo mal que 5 ele havia praticado, não havendo, portanto, a configuração da privação da liberdade como a pena principal. A prisão era, na verdade, destinada a evitar que o criminoso fugisse, de modo que posteriormente fosse aplicada a pena corporal, em casa de condenação, ou mesmo a tortura, com a finalidade de obter a confissão de determinado fato que suspostamente ele tinha praticado. Com a virada do século XVII, principalmente após a Revolução Francesa, em 1789, a pena de privação de liberdade começou a ganhar destaque. O Iluminismo teve importância fundamental na modernização do direito penal, passando a exigir provas que pudessem conduzir a condenação, e principalmente modificou as penas aplicadas, passando-se a reconhecer direitos inatos ao ser humano. ➢ A importância da obra de Beccaria: o caráter humanitário presente na obra de Cesare Beccaria, denominada Dos delitos e das penas, foi um marco para o direito Penal. A existência de uma sociedade desigual e tirana estimulou a escrita da obra. Muitos princípios foram sendo construídos, inclusive o princípio da legalidade, tido como o pilar fundamental que sustenta um Estado de Direito, entendendo que todos devem ser tratados de maneira igual perante a lei. Como desdobramento natural do princípio da legalidade exaltou- se a proporcionalidade das penas. Escolas Penais ESCOLA CLÁSSICA Denominação dada pelos positivistas. Encontrou adeptos em diversos países do continente europeu ao longo do século XIX. Inúmeros princípios começaram a ganhar corpo, a exemplo dos princípios da necessidade e da suficiência da pena, proporcionalidade, utilidade, prevenção geral e especial, in dubio pro reo, princípio da dignidade da pessoa humana, entre outros.Os clássicos visualizavam a responsabilidade penal do criminoso com base no livre-arbítrio. Por livre- arbítrio entendia-se a capacidade que tinha o agente de decidir entre a prática de um comportamento lítico ou ilícito. A finalidade da pena é o restabelecimento da ordem externa da sociedade, ela é uma retribuição do crime e não pode ser arbitrária nem desproporcional. Visualizava primordialmente o fato cometido. Na publicação do livro O homem delinquente (1876), de Cesare Lombroso, sustentou-se que o ser humano poderia ser um criminoso nato, submetido a 6 ESCOLA POSITIVA características próprias, originárias de suas anomalias físico-psíquicas. O homem nasceria delinquente, portador de caracteres impeditivos de sua adaptação social, trazendo como consequência o crime, algo naturalmente esperado – o criminoso é um produto da sociedade e age assim por não ter outra opção. Não aceita o livre-arbítrio e exerceu forte influência sobre o campo da individualização da pena (leva em consideração a personalidade e a conduta social do agente). Visualizava o homem-delinquente e não o fato praticado. Evolução do Direito Penal no Brasil Com o descobrimento, os portugueses encontraram a terra habitada por índios, que não possuíam um direito penal organizado e muito menos civilizado (eram aplicadas penas aleatórias, inspiradas na vingança privada). Instalou-se a legislação portuguesa, traduzida nas Ordenações do Reino. Vigoraram as Ordenações Afonsinas (1446), Ordenações Manuelinas (1521), Ordenações Filipinas (1603), sendo essa última a mais longa delas – 1603 a 1830 – prevendo penas cruéis e desproporcionais. O Código Criminal do Império (1830) trouxe uma legislação penal mais humanizada e sistematizada. Em 1890, aprovou-se o Código Penal da Era Republicana. Foi mantido até que se editou o atual Código Penal (Decreto-lei 2.848/40). Em 1969 houve uma tentativa de modificação integral do atual Código, quando os militares, então no poder, editaram o Decreto-lei 1.004/69 que, no entanto, permaneceu em vacatio legis por cerca de nove anos, revogado definitivamente pela Lei 6.578/78. O Código original de 1940 sofreu reformas em 1984, com a Lei 7.209/84 (reforma na Parte Geral do Código). Outras reformas foram introduzidas tanto na Parte Geral quanto na Especial do Código. Saliente-se que o princípio da legalidade foi previsto expressamente em todos os nossos Códigos, desde o Código Criminal do Império, de 1830, até a reforma da parte geral do Código de 1940, ocorrida em 1984. 7 Princípios do Direito Penal Princípio da Legalidade (ou reserva legal): as normas penais incriminadoras somente podem ser criadas através de lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislativo, respeitado o procedimento previsto na CF. Não se fala na existência de crime se não houver uma lei definindo-o como tal = art. 5°, XXXIX, CF e art. 1° do CP. Está intimamente relacionado ao Estado de Direito e possui quatro funções fundamentais: a) proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena sine lege praevia); b) proibir a criação de crimes e penas pelo costume (nullum crimen nulla poena sine lege scripta); c) proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta); e d) proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena sine lege certa). OBS: Não se pode conceber medida provisória inovando o cenário jurídico penal. A Constituição Federal é clara que apenas a União por meio do Congresso Nacional é quem pode legislar sobre matéria penal. Qualquer questão penal criada por meio de decreto ou medida provisória é sim inconstitucional e fere diretamente o princípio da reserva legal. Princípio da anterioridade: a lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta para a qual se destina = art. 1°. Princípio da irretroatividade da lei penal: não se permite a retroatividade de leis, especificadamente as prejudiciais ao acusado. Quando novas leis entram em vigor, devem envolver somente fatos concretizados sob a sua égide. Há apenas uma única exceção, sendo quando se trata de lei penal benéfica. Esta pode voltar no tempo para favorecer o agente, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença condenatória com trânsito em julgado (art. 5°, XL, CF e art. 2°, § único, CP). Princípio da personalidade ou da responsabilidade pessoal (intranscendência da pena): somente o condenado, em matéria penal, é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado = art. 5°, XLV, CF. Menciona-se que se estivermos diante de uma responsabilidade não penal, como a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do condenado e tendo havido a transferência de seus bens aos seus sucessores, estes respondam até as forças da herança. É importante ressaltar que a multa é uma das três modalidades de pena (art. 32 do CP), dessa forma, em caso de 8 morte do condenado, não poderá o valor correspondente à pena de multa a ele aplicada ser cobrado de seus herdeiros. Princípio da individualização da pena: art. 5° XLVI, CF – a pena não deve ser padronizada, cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo que fez. Para tanto, há a cominação, sendo essa a fase na qual cabe ao legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito Penal, individualizando as penas de cada infração de acordo com a sua importância e gravidade. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA E A LEI N° 8.072/90 Foi travada discussão no sentido de que o § 1° do art. 2° da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) estaria violando o princípio da individualização da pena, uma vez que impunha o total cumprimento da pena em regime fechado, quando houvesse o cometimento dos crimes por ela elencados como hediondos, a prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo. Após a edição da Lei n° 11.464/2007, a discussão perdeu o sentido, uma vez que mencionada lei, modificando a Lei n° 8.072/90, passou a determinar que a pena para os chamados crimes hediondos e afins será cumprida inicialmente em regime fechado (§1° do art. 2°). Mencione-se que o § 2º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 foi revogado pela Lei nº 13.964/ 2019 (Pacote Anticrime), que estabeleceu novas regras para a progressão de regime quando da prática de crimes hediondos. Os requisitos para a progressão encontram-se no art. 112 da LEP (Lei 7.210/1984), que também foi modificado pelo Pacote Anticrime, passando a ter a seguinte redação quanto aos critérios para progressão: Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ouc) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. Princípio da intervenção mínima: o direito penal somente deve intervir nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes. A lei penal não deve ser vista como a primeira opção (prima ratio) do legislador para 9 compor conflitos existentes em sociedade, uma vez que há outros ramos do Direito preparados a solucionar as desavenças e lides surgidas. O Direito Penal, portanto, é considerado a ultima ratio e deve ser visto como subsidiário aos demais ramos do Direito. Princípio da fragmentariedade: nem todas as lesões a bens jurídicos protegidos devem ser tuteladas e punidas pelo direito penal que, por sua vez, constitui somente parcela do ordenamento jurídico. Uma limitada parcela de bens está sob a proteção do direito penal, devendo ocupar-se das condutas mais graves, verdadeiramente lesivas à vida em sociedade. Princípio da lesividade (ou ofensividade): é indispensável a criação de tipos penais incriminadores, cujo objetivo seja eficiente e realístico, visando à punição de condutas autenticamente lesivas aos bens jurídicos tutelados. Busca-se afastar da incidência de aplicação da lei penal aquelas condutas que, embora desviadas, não afetam qualquer bem jurídico de terceiros. Princípio da adequação social: uma conduta não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social. Do direito penal são excluídas as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. Princípio da insignificância: o bem juridicamente protegido pelo Direito Penal deve ser relevante, ficando afastados aqueles considerados inexpressivos. Para contextualizar esse princípio, é necessário verificar a tipicidade como elemento contido no fato típico. A tipicidade se divide em tipicidade formal e conglobante (composta pela tipicidade material + antinormatividade). A tipicidade formal é a adequação perfeita da conduta do agente ao tipo previsto na lei penal. Com a tipicidade material, além de se levar em conta a conduta do agente amoldada com perfeição no tipo penal, é levada em consideração a relevância do bem que está sendo objeto de proteção. Se o agente fere um bem não relevante, faltaria a chamada tipicidade material, por conseguinte excluindo-se a tipicidade, de modo que, sem ela não há fato típico, não há crime. Os Tribunais Superiores estabeleceram determinados vetores para aferição desse princípio: a) a mínima ofensividade da conduta do agente, b) nenhuma periculosidade social da ação, c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. MNEUMÔNICO: MARI (mínima ofensividade da conduta; ausência de periculosidade; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica. OBS: Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda (STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 – recurso repetitivo). 10 OBS: A prática constante de comportamentos contrários à lei penal, ainda que insignificantes, implica a perda da característica de bagatela desses comportamentos, devendo o agente submeter-se ao Direito Penal, dada a reprovabilidade da conduta. Princípio da taxatividade: as condutas típicas, merecedoras de punição, devem ser suficientemente claras e bem elaboradas, de modo a não deixar dúvida por parte do destinatário da norma, Princípio da proporcionalidade: as penas devem ser harmônicas à gravidade da infração penal cometida, não tendo cabimento o exagero, nem tampouco a extrema liberalidade na cominação das penas nos tipos penais incriminadores. Preza, portanto, pela proibição de excesso e a proibição de proteção deficiente. Princípio da vedação da dupla punição pelo mesmo fato: ninguém deve ser processado e punido duas vezes pela prática da mesma infração penal. Princípio da culpabilidade: ninguém será penalmente punido, se não houver agido com dolo ou culpa, dando mostras de que a responsabilização não será objetiva, mas subjetiva (nullum crimen sine culpa). O Código Penal estabelece que somente há crime quando estiver presente o dolo ou a culpa (art. 18 do CP). A culpabilidade exerce papel fundamental na caracterização da infração penal (conduta típica, antijurídica e culpável). Interpretação e Integração da Lei Penal A interpretação é um processo de descoberta do conteúdo da lei e não de criação de normas. Preliminarmente é possível subdividir a interpretação em: a) objetiva (voluntas legis): busca-se descobrir a suposta vontade da lei; b) subjetiva (voluntas legislatoris): procura-se alcançar a vontade do legislador. Quanto ao sujeito que a realiza: a) autêntica: realizada pelo próprio texto legal; b) doutrinária: realizada pelos estudiosos do Direito; c) judicial: realizada pelos aplicadores do Direito, ou seja, pelos juízes de primeiro grau e magistrados que compõem os tribunais. Quanto aos meios empregados: a) literal ou gramatical: trata-se da interpretação do real e efetivo significado das palavras; 11 b) teleológica: busca a finalidade da lei, aquilo a que ela se destina a regular; c) sistêmica: é analisado o dispositivo legal no sistema no qual ele está inserido, e não de forma isolada; d) histórica: volta-se ao tempo em que foi editado a norma, buscando os fundamentos de sua criação e o momento pelo qual atravessava a sociedade; e e) progressiva: o intérprete traduz os tipos penais de acordo com a realidade atual. Quanto aos resultados: a) declaratória: o intérprete não amplia nem restringe o alcance, mas apenas declara a vontade da lei; b) restritiva: o intérprete diminui, restringe o alcance da lei; c) extensiva: para que se possa conhecer a exata amplitude da lei, o intérprete necessita alargar seu alcance, haja vista ter dito menos do que efetivamente pretendia. Interpretação analógica: o legislador, em determinadas passagens do CP, por não poder prever todas as situações que poderiam ocorrer na vida em sociedade e que seriam similares àquelas por ele já elencadas, permitiu, expressamente, a utilização desse recurso, que também amplia o alcance da norma penal. Temos como exemplo o disposto no art. 121, § 2.º, III. Qualifica-se o homicídio quando o agente cometer o crime “com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”, verificando-se, pois, que dadas as amostras pelo tipo, permite-se que o intérprete vá buscar outros meios similares aos primeiros, igualmente configuradores de insídia, crueldade ou perigo comum. A analogia é uma forma de autointegração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso semelhante. No Direito Penal ela precisa ser cuidadosamente avaliada, sob pena de ferir o princípio da legalidade. Dessa forma, não se admite a analogia in malam partem, ou seja, para prejudicar o réu. Por outro lado, a analogia in bonam partem (para beneficiar o réu) deve ser utilizada em favor do réu, ressaltando que isso se dá em hipóteses excepcionais, uma vez que o princípio da legalidade é a regra. 12 A lei penal no tempo A regra geral em direitoé a aplicação da lei vigente à época dos fatos (tempus regit actum). No direito penal acontece da mesma forma, sendo que ao crime cometido em determinada data, aplica-se a lei penal vigente exatamente no mesmo dia. No entanto, a lei penal, mesmo depois de revogada, pode continuar a regular fatos durante sua vigência ou retroagir para alcançar aqueles que aconteceram anteriormente à sua entrada em vigor. Trata-se de uma exceção, a qual é denominada extra-atividade. Frise-se que a regra geral está contida no art. 5°, XL da CF, tratando-se da irretroatividade in pejus (aquela que prejudica o réu). A extra-atividade é gênero, tendo como espécies a: a) retroatividade: aplicação da lei penal benéfica a fato criminoso acontecido antes do período de sua vigência (art. 5°, XL, CF, parte final e art. 2°, § único, CP); e b) ultratividade: aplicação da lei penal benéfica, já revogada, aos fatos ocorridos durante sua vigência. Ex: crime cometido em 20 de março de 2015; lei posterior a essa data torna a pena mais branda (retroatividade da lei à data do crime pois mais benéfica); lei posterior a essa data torna a pena mais severa (ultratividade da lei vigente na data do crime para ser aplicada na data da sentença, por ser mais favorável ao réu). Portanto, a retroatividade e a ultratividade serão realizadas sempre em benefício do agente, e nunca em seu prejuízo. Aplicação da novatio legis in pejus nos crimes permanentes e continuados Suponhamos que em um crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP), estava em vigor a lei A sendo que, em seguida, entrou em vigor a lei B, que agravava a pena cominada pela lei A, não tendo sido a vítima, até a entrada em vigor da lei B, libertada, pois os sequestradores estavam negociando sua libertação. Nesse caso, aplica-se a lei A (lei vigente quando da prática dos primeiros atos de execução) ou a lei B? Para responder essa questão, o STF aprovou a Súmula 711, estabelecendo que a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior a cessação da continuidade ou da permanência. Dessa forma, no exemplo trazido, aplicar-se-ia a lei B. 13 Abolitio criminis Ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar crime determinado fato (ex: adultério, sedução e o rapto consensual deixaram de ser consideradas condutas criminosas – Lei 11.106/2005). A abolitio criminis tem sua previsão no caput do art. 2° do CP, sendo que quando acontece essa hipótese, segundo o disposto no art. 107, III, do CP, extingue-se a punibilidade do agente. A extinção da punibilidade pode ocorrer nas fases policiais e judicial. A abolitio criminis faz cessar todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, contudo, os efeitos civis*. * a sentença penal condenatória transitada em julgado forma-se, para a vítima do crime, um título executivo judicial (art. 515, VI, do CPC). Esse título executivo judicial que é dado à vítima, sendo um efeito civil da sentença penal condenatória, será mantido mesmo que ocorra a abolitio criminis. Abolitio criminis temporalis: situação na qual a aplicação de determinado tipo penal encontra-se temporariamente suspensa, não permitindo, consequentemente, a punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão. Súmula 513 STJ. Leis temporárias ou excepcionais Art. 3° do CP. Considera-se temporária a lei quando esta traz expressamente em seu texto o dia do início, bem como o do término de sua vigência. Excepcional é aquela editada em virtude de situações também excepcionais (anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da aludida situação que levou à edição do diploma legal. Encerrado o período de sua vigência, ou cessadas as circunstâncias anormais que a determinaram, tem-se por revogadas as leis temporária e excepcional. Ainda que revogadas, elas serão aplicadas aos fatos praticados durante sua vigência. 14 Tempo do crime Há três teorias: a) teoria da atividade: considera praticado o delito no momento da conduta (ação ou omissão), não importando o instante do resultado; b) teoria do resultado: reputando cometido o crime no momento do resultado; e c) teoria mista ou da ubiquidade: o momento do crime pode ser tanto o da conduta quanto o do resultado. O Código Penal adotou a teoria da atividade, conforme o art. 4° do CP. O tempo do crime sempre será, portanto, o da ação ou omissão, ainda que o resultado ocorra depois. Essa teoria serve, dentre outros efeitos, para: a) determinar a inimputabilidade do agente; b) fixar as circunstâncias do tipo penal; c) possibilitar eventual aplicação da anistia; d) dar oportunidade à prescrição. Ex: suponha-se que hoje uma pessoa com 17 anos e 11 meses, com intenção de causar a morte de alguém, atira em direção à vítima, vindo a atingi-la numa região letal. Decorridos três meses, a vítima morre. Não será aplicada a lei penal porque o agente era inimputável no momento da ação, ficando ele submetido a medida socioeducativa. O tempo do crime nas infrações penais permanentes e continuadas: aplica-se a eles regra especial. No caso do crime permanente, a consumação se prolonga no tempo. É considerado tempo do crime todo o período em que se desenvolver a atividade delituosa. A mesma regra se aplica ao crime continuado. 15 Lugar do crime Existem três teorias: a) atividade: considerando local do delito aquele onde foi praticada a conduta (atos executórios); b) resultado: reputando o lugar do crime como sendo aquele onde ocorreu o resultado (consumação); e c) mista ou da ubiquidade: aceita como lugar do crime tanto onde houve a conduta quanto onde se deu o resultado. Nosso Código Penal adotou a teoria mista ou da ubiquidade, conforme se verifica no seu art. 6°. Através dessa teoria resolvem-se os problemas relacionados aos crimes a distância, sendo esses aqueles crimes iniciados no Brasil e terminados no exterior ou vice-versa. A adoção da teoria mista ou da ubiquidade resolve problemas de Direito Penal Internacional. Territorialidade e extraterritorialidade Territorialidade é a aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do território nacional (art, 5°, caput, CP). Essa é a regra geral, que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território. São elementos do território nacional: o solo ocupado pela nação; os rios, lagos e mares interiores e sucessivos; os golfos, as baías e os portos; a faixa de mar exterior, que corre ao largo da costa e que constitui o mar territorial; a parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares fronteiriços; navios e aeronaves nacionais; e o espaço aéreo correspondente ao território. Aplica-se ainda a lei penal brasileira aos crimes cometidos dentro de embarcações e aeronaves brasileiras, públicas ou a serviço do governo, que se acharem em qualquer lugar, bem como de aeronaves e embarcações 16 brasileiras, mercantes ou de natureza privada, que se achem no espaço aéreo correspondente ao território ou em alto-mar (art. 5°, §1°, CP). Aplica- se ainda aos crimes praticados em aeronaves ou embarcações, estrangeiras e privadas, que se encontrem no território brasileiro, em voo ao espaço aéreo correspondente, em porto ou mar territorial do Brasil (art. 5°, §2°, CP). Ocorre que no Brasil não se adotou uma teoria absoluta da territorialidade, mas sim uma teoria conhecida como temperada, uma vez que, excepcionalmente, admite-se o interesse do Brasil em punir autores de crimes ocorridos fora do seu território. Isso recebe o nome de extraterritorialidade, significando a aplicação da lei penal nacional a delitos ocorridos no estrangeiro (art. 7°, CP). A extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada. Extraterritorialidadeincondicionada é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja necessário o concurso de qualquer condição. As hipóteses de extraterritorialidade incondicionada estão previstas no inciso I do art. 7°, do CP: • crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (princípio da defesa, real ou de proteção); • crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; • crimes contra a administração pública, por quem está a seu serviço; • crimes de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Dessa forma, o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Em caso de condenação, terá aplicação do art. 8° do CP, onde a pena cumprida no estrangeiro atenuará a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando as penas forem diversas, ou nela é computada, quando as penas forem idênticas, de maneira que evita-se o bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). A extraterritorialidade condicionada encontra-se prevista no inciso II do art. 7°, sendo: • os crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir (princípio da universalidade, da justiça universal ou cosmopolita); • os crimes praticados por brasileiro (princípio da personalidade ativa); • os crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados (princípio da representação). 17 As condições para a aplicação da lei brasileira nessas hipóteses encontram-se no §2° do mesmo artigo 7°, sendo: • entrar o agente em território nacional; • ser o fato punível também no país em que foi praticado; • estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; • não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; • não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Já o §3° do art. 7° dispõe que a lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil se, junto das condições acima mencionadas, não for pedida ou negada a extradição e houver requisição do Ministro da Justiça. Daqui deriva o princípio da defesa ou da personalidade passiva. OBS: Mencione-se que compete aos juízes federais processar e julgar as causas relativas aos direitos humanos a que se refere o §9° do art. 109 da CF. EXTRADIÇÃO: instrumento de cooperação internacional na repressão à criminalidade por meio do qual um Estado entrega a outro uma pessoa acusada ou condenada, para que seja julgada ou submetida à execução da pena. Caso alguém cometa um crime em solo nacional (territorialidade), refugiando-se em país estrangeiro, cabe ao Brasil solicitar a sua extradição, a fim de que possa responder criminalmente pelo que fez. Da mesma forma se o agente comete crime no exterior, mas ofendendo interesse ou bem jurídico brasileiro, aplicando-se a regra da extraterritorialidade, terá o Brasil interesse em puni-lo, havendo necessidade de se utilizar do instituto da extradição. A extradição ativa é o pedido formulado por um Estado para a entrega de alguém e extradição passiva é a entrega de uma pessoa por um Estado em razão do pedido formulado por outros. Requisitos para a concessão da extradição: a) Exame prévio do STF (art. 102, I, g, CF): ação de caráter constitutivo, visando à formação de um título jurídico que habilita o Poder Executivo a entregar um indivíduo a um país estrangeiro; há participação do MP no processo e análise feita pelo Plenário, composto por todos os ministros, de modo que não caiba recurso; a decisão que autoriza a extradição não vincula o Poder Executivo (o ato passa a ser discricionário), mas se a decisão for negativa, não pode o Executivo extraditar o estrangeiro; b) Existência de convenção ou tratado firmado com o Brasil ou, em sua falta, oferecimento de reciprocidade; c) Existência de sentença final condenatória; d) Ser o extraditando estrangeiro: é vedada a extradição de nacionais, não se distinguindo o brasileiro nato ou naturalizado, conforme dispõe o art. 5°, LI, CF. e) O fato imputado deve constituir crime – e não contravenção penal – perante a lei brasileira e a do Estado requerente; 18 f) A pena máxima para o crime imputado ao extraditando deve ser privativa de liberdade superior a um ano, pela legislação brasileira g) O crime imputado ao extraditando não pode ser político ou de opinião; h) O extraditando não pode estar sendo processado, nem pode ter sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; i) O Brasil tem que ser incompetente para julgar a infração; j) O extraditando, no exterior, não pode ser submetido a tribunal de exceção; k) Não pode estar extinta a punibilidade pela prescrição; l) O extraditado não pode ser considerado, oficialmente, como refugiado pelo Governo brasileiro. Eficácia de Sentença Estrangeira Em decorrência da soberania brasileira, uma sentença estrangeira não pode produzir efeitos no Brasil sem a homologação feita por um tribunal pátrio. A competência para a homologação é do Supremo Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, CF). As hipóteses de homologação de sentença estrangeira penal encontram- se no art. 9°, CP, sendo: • Reparação civil do dando causado à vítima (inciso I): busca-se facilitar a posição da vítima do crime, que não terá que dar início a um processo de indenização, na esfera cível, provando novamente a culpa do infrator, uma vez que com a homologação se concretiza a formação de um título executivo. Para tanto, deve o ofendido requerer a homologação no STJ (art. 9°, § único, a, CP). • Aplicação de medida de segurança (inciso II): é preciso requerimento do Procurador-Geral da República no STJ, desde que exista tratado de extradição entre o país de onde vem a sentença impondo a medida de segurança ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça (art. 9°, § único, b, CP). Contagem de Prazo e Frações da Pena 19 O prazo penal inclui o primeiro dia, desprezando-se o último (art. 10, CP). Diverge do prazo processual penal que não inclui o dia do começo, mas sim o do vencimento (art. 798, §1°, CP). Exemplos: PRAZO PROCESSUAL PRAZO PENAL O réu é intimado de uma sentença condenatória no dia 20 de março, cujo prazo de recurso é de 5 dias, vencerá no dia 25 de março. Uma pessoa é recolhida ao cárcere para cumprir dois meses de pena privativa de liberdade, tendo início o cumprimento no dia 20 de março, que é incluído no cômputo, a pena findará no dia 19 de maio – pouco importa se ela foi presa às 22 horas de um dia, este dia é integralmente computado, ainda que faltem somente duas horas para findar. Frações de penas: não são computadas nas penas privativas de liberdade e restritivas de direitos e os centavos na pena pecuniária, nos termos do artigo 11 do CP. Ninguém pode ser condenado, por exemplo, ao cumprimento de uma pena que tenha a duração de um mês e seis horas. Já nos valores correspondentes às penas pecuniárias deverão, portanto, ser desprezadas as frações de real (centavos). 20 Conflito aparente de normas É a situação de confronto que ocorre quando ao mesmo fato parecem ser aplicáveis duas ou mais normas, formando um conflito apenas aparente entre elas, pois há critérios para solucionar a antinomia. O artigo 12 do Código Penal determina que lei especial afasta a aplicação de lei geral. Portanto, as regras do Código Penal serão aplicadas aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.Critério da absorção (ou consunção): quando o fato previsto por uma lei está, igualmente, contido em outra de maior amplitude, aplica-se somente esta última. Ou seja, quando a infração prevista na primeira norma constituir simples fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo diverso, deve-se aplicar apenas a última. Trata-se da hipótese do crime-meio e do crime-fim. Ex: a violação de domicílio (crime-meio) com a finalidade de praticar furto a uma residência (crime-fim). O crime-meio é absorvido pelo crime-fim (responde-se apenas pelo furto). 21 Do crime Conceito material: é a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser proibido, mediante a aplicação de sanção penal. Conceito formal: é a concepção do direito acerca do delito, constituindo a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, numa visão legislativa do fenômeno. Quando a sociedade entende necessário criminalizar determinada conduta, através dos meios naturais de pressão, leva sua demanda ao Legislativo, que, aprovando uma lei, materializa o tipo penal. Conceito analítico: é a concepção da ciência do direito. É o conceito formal fragmentado em elementos. Trata-se de uma conduta típica, ilícita ou antijurídica e culpável (teoria tripartida = corrente majoritária no Brasil e no exterior). Infração penal: a infração penal é gênero, abrangendo as espécies de crimes/delitos (sinônimos) e as contravenções penais. Crimes e contravenções penais: os crimes sujeitam seus autores a penas de reclusão ou detenção, enquanto as contravenções, no máximo, implicam em prisão simples. Além disso, aos crimes cominam-se penas privativas de liberdade, isolada, alternativa ou cumulativamente com multa, enquanto nas contravenções admite-se a possibilidade de fixação unicamente da multa – que não ocorre com os crimes. As contravenções penais podem ser consideradas delitos-anões, defendendo bens jurídicos não tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um delito. Conceito analítico de crime INFRAÇÕES PENAIS CRIMES/DELITOS CONTRAVENÇÕES PENAIS 22 Fato típico, ilícito e culpável. O fato típico é composto dos seguintes elementos: a) Conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva; b) Resultado c) Nexo de causalidade entre a conduta e o resultado; d) Tipicidade penal = formal e material (ou conglobante). A ilicitude, expressão sinônima de antijuridicidade, é aquela relação de contrariedade, de antagonismo, que se estabelece entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. São elementos integrantes da culpabilidade: a) Imputabilidade b) Potencial consciência sobre a ilicitude do fato; c) Exigibilidade de conduta diversa. Mencione-se que a punibilidade NÃO integra o conceito de crime, tratando-se apenas da sua consequência jurídica. Principais classificações dos crimes: • Crime material, crime formal e crime de mera conduta. CRIME MATERIAL CRIME FORMAL MERA CONDUTA Crimes de resultado. Aqueles que necessariamente possuem resultado naturalístico (aquele que é sentido fora do mundo jurídico); sem a sua ocorrência, o delito é apenas uma tentativa. Ex: homicídio (art. 121, CP) – só haverá a consumação do delito de homicídio com o resultado morte da vítima. Delitos de atividade. Não exigem a ocorrência do resultado naturalístico para efeitos de reconhecimento da consumação. Ex: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) – basta que tenha havido a privação da liberdade, não importando se com isso o agente tenha obtido a vantagem. Crime de simples atividade. Não prevê qualquer produção naturalística de resultado no tipo pena. Narra tão somente o comportamento que se quer proibir ou impor, não fazendo a menção ao resultado material, tampouco exigindo sua produção. Ex: violação de domicílio (art. 150, CP) – contenta-se unicamente em punir a conduta do agente. • Crime de dano e crime de perigo CRIMES DE DANO CRIMES DE PERIGO Se efetivam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado. É a ocorrência de um prejuízo efetivo e Crimes que se contentam, para a consumação, com a mera probabilidade de haver dano – a 23 perceptível pelos sentidos humanos. Ex: crimes de homicídio e lesão corporal. punição do agente se dá antes que seu comportamento perigoso venha a causar dano ou lesão ao bem juridicamente protegido. Dividem-se em: a) crimes de perigo abstrato (a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo penal, independendo de prova – ex: porte ilegal e tráfico de drogas, art. 28 e 33, L. 11.343/2006) e b) crimes de perigo concreto (a probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada, demonstrada e provada – ex: expor a vida ou saúde de alguém a perigo, art. 132 do CP). • Crime habitual: exige do agente um comportamento reiterado. É aquele que se consuma através da prática reiterada e contínua de várias ações, traduzindo um estilo de vida indesejado pela lei penal. São requisitos para seu reconhecimento: a) reiteração de vários fatos, b) identidade ou homogeneidade de tais fatos, c) nexo de causalidade entre os fatos. Tipicidade Por imposição do princípio do nullum crimen sine lege (não há crime sem lei anterior que o defina), o legislador, quando quer impor ou proibir condutas sob a ameaça de sanção, deve, obrigatoriamente, valer-se de uma lei. A tipicidade é o fato real perfeitamente adequado ao tipo, sendo o instrumento de adequação. É a subsunção perfeita da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal. O tipo penal é a descrição abstrata de uma conduta, tratando-se de uma conceituação puramente funcional, que permite concretizar o princípio do nullum crimen sine lege. 24 ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO PENAL DESCRITIVOS NORMATIVOS CIENTÍFICOS Relacionados com tempo, lugar, modo, meio de execução do crime, descrevendo seu objeto material. Demandam juízo de valor. O conceito transcende o mero elemento normativo, extraindo o seu significado da ciência natural. Atenção: elementos percebidos pelos sentidos. Ex: art. 121, CP – “matar alguém”. Atenção: não são percebidos pelos sentidos. Ex: art. 154, CP – “revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tenha ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão e cuja revelação possa produzir dano a outrem”. Atenção: não demanda juízo de valor. Ex: art. 24 da Lei 11105/05 – “utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o artigo 5° desta Lei” Além dos elementos objetivos, o tipo penal poderá dispor de elementos subjetivos. Os elementos subjetivos estão relacionados com a finalidade específica que deve ou não animar o agente. Os elementos subjetivos positivos indicam a finalidade que deve animar o agente, é o caso, por exemplo, do art. 33, §3º, da Lei de Drogas que fala que é “para juntos consumirem”, ou seja, essa é a finalidade do oferecimento da droga de forma eventual a pessoa do seu convívio. Os elementos subjetivos negativos, por outro lado, são os elementos indicando a finalidade que não deve animar o agente, é o caso da expressão “sem objetivo de lucro”, prevista ao teor do art. 33§3º, da Lei de Drogas. Tipicidade Penal = tipicidade formal + tipicidade conglobante A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto no tipo penal faz surgir a tipicidade formal ou legal. Portanto, só haverá tipicidade se existir adequação perfeita. Ex: art. 155, CP – aquele que simplesmente subtrai coisa alheia móvel não com o fim de tê-la para si ou para outrem, mas, sim, com a intenção de usá-la, não comete o crime de furto, uma vez que no tipo penal não existe a previsão dessa conduta, não sendo punível, portanto,o furto de uso. A tipicidade conglobante surge quando comprovado, no caso concreto, que a conduta praticada pelo agente é considerada antinormativa, isto é, contrária à norma penal, e não imposta ou fomentada por ela, bem como ofensiva a bens de relevo para o Direito Penal (tipicidade material). Ou seja, a tipicidade conglobante = antinormatividade + tipicidade material Antinormatividade é a conduta contrária a norma penal. 25 Tipicidade material é que se afere a importância do bem no caso concreto, a fim de que possamos concluir se aquele bem específico merece ou não ser protegido pelo Direito Penal. Ex: pessoa que é lesionada por um veículo conduzido por alguém que agiu imprudentemente ao fazer uma manobra arriscada, mas sendo a lesão um arranhão de meio centímetro. Somente as lesões corporais que tenham importância é que estarão previstas no tipo penal. Elementos do fato típico 1. Conduta: sinônimo de ação e de comportamento humano. Compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo ainda ser doloso (o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposo (o agente infringe seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia). Para a caracterização da conduta é indispensável a existência do binômio vontade e consciência. Haverá ausência de conduta quando o agente se vir impedido de atuar, como nos casos de: a) força irresistível ou coação física irresistível; b) movimentos reflexos, reações motoras, secretórias ou fisiológicas; e c) estado de inconsciência. 2. Resultado: pode ser naturalístico (modificação sensível do mundo exterior, ex: morte de uma pessoa é um resultado naturalisticamente comprovável) e jurídico ou normativo (modificação gerada no mundo jurídico, seja na forma de dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse protegido pela norma penal, nada modificando externamente que seja passível de percepção pelos nossos sentidos, ex: invasão de um domicílio, embora possa nada causar sob o ponto de vista naturalístico, certamente provoca um resultado jurídico, que é ferir o direito a inviolabilidade de domicílio do dono da casa. 3. Nexo causal: é o vínculo estabelecido entre a conduta do agente e o resultado por ele gerado, com relevância suficiente para formar o fato típico. É também chamado de relação de causalidade, de modo que aprofundaremos no tema no próximo tópico. Relação de causalidade Elo necessário que une a conduta praticada pelo agente ao resultado por ele produzido. O caput do artigo 13 do Código Penal dispõe que “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. De acordo com a doutrina majoritária, o resultado ali mencionado deverá ser entendido como o jurídico e não o meramente naturalístico. 26 Teorias sobre a relação de causalidade a) Teoria da causalidade adequada: causa é a condição necessária e adequada a determinar a produção do evento. A conduta é idônea a gerar o efeito. b) Teoria da relevância jurídica: entende como causa a condição relevante para a produção do resultado. Ex: aquele que joga um balde d’água em uma represa completamente cheia, fazendo com que se rompa o dique, não pode ser responsabilizado pela inundação, pois sua conduta não pode ser considerada relevante a ponto de lhe ser imputada a infração penal do art. 254 do Código Penal. c) Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou teoria da equivalência das condições: é a teoria adotada pelo Código Penal. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Espécies de causas: podem ser absoluta ou relativamente independentes. A relação de dependência absoluta é encontrada no caput do artigo 13 do Código Penal. Já o §1° do art. 13 se refere às causas supervenientes relativamente independentes. 1. Causa absolutamente independente Aquelas que surgem e, por si mesmas, são aptas a produzir o resultado. É aquela causa que teria acontecido, vindo a produzir o resultado, mesmo se não tivesse havido qualquer conduta por parte do agente. Elas cortam, naturalmente, o nexo causal. Quando o resultado naturalístico ocorrer da existência de qualquer uma das causas absolutamente independentes, não poderá ele ser atribuído ao agente, que responderá tão somente pelo seu dolo. Elas podem ser: a) Preexistentes: ocorreu anteriormente à conduta do agente. Ex: A querendo a morte de B, disfere um tiro contra este, acertando-o na região do tórax. Embora atingido numa região letal, B veio a falecer em virtude de que, com intenção suicida, ingerira veneno momentos antes da agressão sofrida. B morreu envenenado, e não em razão do disparo. Se suprirmos mentalmente o disparo efetuado por A, B ainda assim teria morrido? Sim, uma vez que B não veio a falecer em virtude dos disparos, mas porque antes havia feito uma ingestão de veneno. Dessa forma, a conduta de A não pode ser considerada como causadora do resultado morte. A só responderá pelo seu dolo e como não conseguiu o que queria (matar B com a sua conduta), será responsabilizado por tentativa de homicídio. b) Concomitantes: ocorre numa relação de simultaneidade com a conduta do agente. Ex: se A e B, com armas de calibres diferentes atiram contra C (afastada a hipótese de coautoria) e ficar provado que o projétil de B é que, atingindo o coração da vítima, a matou, ao passo que o de A alcançou levemente em um braço, somente B responderá por homicídio. Se eliminarmos 27 mentalmente a conduta de A, ainda assim o resultado morte teria ocorrido? Sim, porque foi o projétil disparado pela arma de B o causador do resultado morte. Se queria matar e não conseguiu, responderá tão somente por tentativa de homicídio. c) Supervenientes: ocorre posteriormente à conduta do agente e que com ela não possui relação de dependência alguma. Ex: A e B discutem no interior de uma loja, oportunidade em que A saca o revólver que trazia consigo e atira em B, causando-lhe um ferimento. Logo após ter efetuado o disparo, o prédio no qual ambos se encontravam desabam e, posteriormente, comprova- se que B não morrera em virtude do disparo recebido, mas sim, por ter sido soterrado. Se suprimirmos o fato de A ter atirado contra B, ainda assim o resultado morte teria ocorrido? Sim, devido ao desabamento do prédio. Dessa forma, concluímos que A não causou o resultado morte, razão pela qual deverá responder pela tentativa de homicídio. 2. Causa relativamente independente Aquelas que somente tem a possibilidade produzir o resultado se for conjugada com a conduta do agente. Existe uma relação de dependência entre a conduta do agente e a causa que também influencia na produção do resultado. A ausência de qualquer uma delas (causa relativamente independente + conduta do agente) faz com que o resultado seja modificado. Elas podem ser: a) Preexistentes: já existia antes mesmo do comportamento do agente e, quando com ele conjugada numa relação de complexidade, produz o resultado. Ex: João querendo causar a morte de Paulo e sabendo de sua condição de hemofílico, nele desfere um golpe de faca. O golpe, embora recebido numa região não letal, conjugado com a particular condição fisiológica da vítima, faz com que este não o suporte e venha a falecer. Nesse exemplo, duas situações podem ocorrer: se o agente queria a morte da vítima, atuando com animus necandi, responderá pelo resultado morte a título de homicídio doloso; se, embora sabendo da condição de hemofílico, o agente só almejava causar lesões na vítima, agindo tão somente com animus laedendi, responderá por lesão corporal seguida de morte (§3° do art. 129 do CP), aplicando-se, aqui, a regra contida no art. 19 do CP, uma vez que o resultado morte encontrava-seno seu campo de previsibilidade, embora por ele não tenha sido querido ou assumido. No entanto, se o agente desconhecia a hemofilia da vítima, não poderá ser responsabilizado pelo resultado morte. Se queria ferir a vítima, agredindo-a com um soco na região do tórax e esta, em razão de sua particular condição de hemofílica, vem a falecer em decorrência da eclosão de um processo interno de hemorragia, o agente só poderá ser responsabilizado pelo delito de lesões corporais simples. b) Concomitantes: numa relação de simultaneidade com a conduta do agente e com ela conjugada, também é considerada produtora do resultado. Ex: A desfecha um tiro em B, no exato instante em que este está sofrendo um colapso cardíaco, provando-se que a lesão contribuiu para a eclosão do êxito letal. Se retirássemos a conduta do agente, ou sejam o fato de sacar sua arma e dispará-la em direção à vítima, esta não teria se apavorado e com isso sofrido 28 o enfarte. A conduta do agente + o colapso cardíaco são, conjuntamente, causadores do resultado morte, razão pela qual o agente responderá pelo delito de homicídio doloso consumado. c) Supervenientes: ocorridas posteriormente à conduta do agente, e que com ela tenha ligação. O §1° do art. 13, do CP, previu que estas somente poderiam excluir a imputação quando, por si sós, produzissem o resultado. Ex: aquele que é atingido gravemente por um disparo de arma de fogo é conduzido a um hospital, sendo que lá chegando o hospital sofre um atentado terrorista e a vítima vem a falecer não em virtude dos ferimentos originários do disparo por ela recebidos, mas em razão do desabamento do prédio. Se retirarmos o disparo recebido pela vítima, esta não teria sido conduzida ao hospital e, portanto, não teria morrido soterrada. Por outro lado, se retirarmos o desabamento do prédio, a morte da vítima também não teria ocorrido como ocorreu. A expressão “por si só” significa que somente aqueles resultados que se encontrarem como um desdobramento natural da ação, ou seja, estiverem na chamada linha de desdobramento físico, é que poderão ser imputados ao agente. Ex1: João, querendo a morte de Pedro, efetua contra ele certeiros disparos. Pedro é socorrido por uma ambulância, que o conduz ao hospital. Durante o trajeto, a ambulância se vê envolvida num acidente de trânsito, vindo Pedro a falecer em virtude da colisão. Se Pedro não tivesse sido ferido por João, não teria sido colocado na ambulância e, consequentemente, não teria falecido em razão da colisão dos veículos. Deverá João responder pelo crime de homicídio doloso consumado? Não, pois a morte de Pedro não se encontrava na chamada linha de desdobramento físico da conduta praticada por João. Morrer nos destroços de veículos que colidem após ter sido atingido pelo disparo não se inclui como desdobramento natural. Ex2: usando a mesma situação. E se ao chegar vivo ao hospital, Pedro contraria uma infecção hospitalar em razão dos ferimentos sofridos quando foi alvejado por projéteis de pistola. A infecção hospitalar é um desdobramento natural da conduta inicial? Se a resposta for sim, a infecção deve ser considerada na mesma linha e o agente responder pelo resultado morte. Se entender que não, o agente responderá somente pelos atos praticado, pelo seu dolo, lhe sendo imputada a tentativa de homicídio. Para que possamos atribuir o resultado ao agente é preciso que este esteja na mesma linha de desdobramento físico da ação. Quando a causa superveniente relativamente independente, por si só, vier a produzir o resultado, pelo fato de não se encontrar na mesma linha de desdobramento físico, o agente só responderá pelo seu dolo, pois há um rompimento na cadeia causal. Omissão como causa do resultado Para o Código Penal, a omissão do agente terá importância quando ele se abstiver de fazer aquele que a lei lhe impunha no momento. 29 Relação de causalidade nos crimes omissivos próprios e omissivos impróprios Quando o agente deixa de fazer alguma coisa a que estava obrigado, temos um crime omissivo. Os crimes omissivos podem ser omissivos próprios e omissivos impróprios. Segue a definição: OMISSIVOS PRÓPRIOS, PUROS OU SIMPLES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS, COMISSIVOS POR OMISSÃO OU OMISSIVOS QUALIFICADOS O agente se abstém de praticar algo; são objetivamente descritos como uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina. Para a existência do crime basta que o autor se omita quando deve agir, não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. O legislador faz expressamente a previsão típica da conduta que deve ser imposta ao agente. Caso o agente se abstenha de praticá-la, incorrerá nas sanções cominadas ao tipo penal. Ex: art. 135, CP. Para sua configuração é preciso que o agente possua um dever de agir para evitar o resultado. Esse dever de agir não é atribuído a qualquer pessoa, mas tão somente àquelas que gozem do status de garantidoras da não ocorrência do resultado. Somente assume a posição de garante aquelas pessoas que se amoldam às situações elencadas pelo §2° do art. 13, do CP. São considerados tipos abertos, não há prévia definição típica. É preciso que o julgador exerça um trabalho de adequação, situando a posição do garantidor do agente aos fatos ocorridos. Nos termos do §2° do art. 13, do CP, “a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. Portanto, a omissão somente se torna relevante para o direito penal caso o agente tenha o dever de agir, caso contrário, a omissão será atípica. Ex: qualquer do povo que acompanhe a ocorrência de uma agressão pode agir para impedir o resultado, mas não é obrigado. Se a pessoa que acompanha a agressão, no entanto, é o guarda-costas da vítima e não impede o resultado, de propósito, responderá como partícipe na lesão. Saliente-se que o devia e podia significa que o agente, fisicamente impossibilitado de atuar, não responde pelo delito, ainda que tivesse o dever de agir. Ex2: vigilante que presencia um furto, mas não tem tempo de impedir o resultado porque sofre um desmaio, não será responsabilizado pelo evento. O art. 13, §2°, a, b e c, do Código Penal enumera as situações em que há o dever de agir por parte do omitente. São elas: • Dever de agir imposto por lei: a legislação impõe a várias pessoas o dever de cuidar, proteger e vigiar outras, tal como o faz com os pais em relação aos filhos, com os tutores aos tutelados, com os curadores aos curatelados etc. Ex: a mãe que, querendo causar a morte de seu filho, deixe de alimentá-lo por 30 período suficiente a conduzi-lo à morte, o que vem efetivamente a acontecer. O art. 121 do CP pressupõe um comportamento positivo (“matar alguém”). Essa mãe poderia ter causado a morte de seu filho de outro modo (como, p. ex., estrangulando-o), amoldando-se ao comportamento comissivo (ação/positivo) previsto no tipo. Entretanto, preferiu deixar de alimentá-lo (omissão/negativo), causando-lhe, também, a morte. Sua conduta foi omissiva. Como gozava do status de garantidora, tendo o dever de agir imposto por lei, sua omissão será equiparada à comissão prevista no art. 121, do CP – homicídio doloso por omissão. • Dever de agir de quem assumiu a responsabilidade de evitar o resultado: é o dever decorrente de negócios jurídicos ou de relações concretas da vida. Hoje em dia, não se exige a existência ou mesmo a vigência de um contrato, bastando que o agente tenha assumido, por conta própria e mesmo sem qualquer retribuição, esse encargo. Ex: o vigia contratado para tomar conta das casas de um determinado condomínio não pode ficar inerte ao acompanhar a ocorrência de um furto – se agir dolosamente, responderá pelo crime de furto tal como os agentes; o pai que, querendo mergulhar no mar, solicita a alguém que olhe seu filho por alguns minutos. Se essa pessoa aceita o pedido,naquele instante se coloca na posição de garantidora e se, em virtude de sua negligência, deixar de olhar a criança e esta vier a se afogar, responderá pelo delito de homicídio culposo. • Dever de agir por ter gerado o risco: é o dever surgido de ação precedente do agente, que deu causa ao aparecimento do risco. EX: alguém joga outro na piscina, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar – fica obrigado a intervir, impedindo o resultado trágico, sob pena de responder por homicídio; aquele que, num acampamento, depois de acender o fogo para fazer sua comida, não o apaga posteriormente, permitindo que se inicie um incêndio. Consumação e Tentativa O artigo 14 do Código Penal conceituou o momento da consumação do crime, bem como quando o delito permanece na fase da tentativa. Diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. Diz-se tentado o crime quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Iter Criminis É composto pelas seguintes fases: a) Cogitação (cogitatio); 31 b) Preparação (atos preparatórios); c) Execução (atos de execução); d) Consumação (summatum opus); e) Exaurimento. Mencione-se que após a cogitação e da preparação, o agente dá início à execução do crime. Quando efetivamente ingressa na fase dos atos de execução, duas situações podem ocorrer: • O agente consuma a infração penal por ele pretendida inicialmente; ou • Em virtude de circunstâncias alheias à sua vontade, a infração não chega a consumar-se, restando, portanto, tentada. Ademais, o exaurimento somente se dá em determinadas infrações penais. Não punibilidade da cogitação e dos atos preparatórios A lei penal limitou a punição dos atos praticados pelo agente a partir de sua execução, deixando de lado a cogitação e os atos preparatórios, essa é a regra geral. Entretanto, o legislador entendeu punir de forma autônoma algumas condutas que poderiam ser consideradas preparatórias, como nos casos dos crimes de associação criminosa (art. 288 do CP) e posse de instrumentos destinados usualmente à prática de furtos (art. 25 da LCP). Elementos que caracterizam o crime tentado a) A conduta deve ser dolosa; b) O agente deve ingressar, obrigatoriamente, na fase dos chamados atos de execução; c) O agente não consiga chegar à consumação do crime, por circunstâncias alheias à sua vontade. Tentativa perfeita e imperfeita PERFEITA IMPERFEITA Acabada ou crime falho. É quando o agente esgota todos os meios que tinha ao seu alcance a fim de alcançar a consumação da infração penal, que somente não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. Ex: agente atira na vítima, que é gravemente ferida, mas socorrida a tempo e sobrevive. Inacabada. É quando o agente é interrompido durante a prática dos atos de execução, não chegando, assim, a fazer tudo aquilo que intencionava, visando a consumir o delito. Ex: agente inicia o furto, arrombando a porta, mas antes de subtrair a coisa alheia móvel, o alarme dispara, fugindo então sem a coisa. 32 Tentativa e contravenção penal A Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n° 3.688/41), considerada lei especial, afasta a aplicação do Código Penal quanto as regras do artigo 14 do referido código. Isso porque a lei especial dispõe de modo diverso em seu artigo 4°, trazendo não ser punível a tentativa de contravenção. Crimes que não admitem a tentativa • Crimes habituais – são delitos que o agente precisa praticar de forma habitual e reiterada a conduta descrita no tipo. Ou o agente comete a série de condutas necessárias e consuma a infração, ou o fato é atípico. Ex: arts, 229 e 284, CP. • Crimes preterdolosos: o agente atua com dolo na sua conduta e o resultado agravador advém de culpa. • Crimes culposos: pois se não há vontade dirigida à prática de uma infração penal não existirá a necessária circunstância alheia, impeditiva da sua consumação. • Crimes unissubsistentes: pois a conduta do agente é exaurida num único ato, não podendo fracionar o iter criminis. • Crimes omissivos próprios. Tentativa e aplicação da pena Conforme o § único do art. 14 do CP, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Desistência voluntária e arrependimento eficaz Ambos encontram-se previstos no artigo 15 do Código Penal, que dispõe que “o agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados”. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ Primeira parte do artigo 15. É preciso que o agente já tenha ingressado na fase de execução, mas sem esgotar todos os meios que tinha à sua disposição para chegar à consumação do crime (ainda praticando atos de execução) o agente desiste, voluntariamente, de nela produzir. O agente somente responderá pelos atos já Segunda parte do artigo 15. O agente, depois de esgotados todos os meios de que dispunha para chegar à consumação, arrepende- se e atua em sentido contrário, evitando a produção do resultado inicialmente por ele pretendido. Ex: agente, depois de uma discussão no interior de um barco, lança seu desafeto ao mar, tendo 33 praticados, ficando afastada a sua punição pela tentativa da infração penal por ele pretendida inicialmente. Ex: o agente, querendo causar a morte de seu desafeto, depois de com ele se encontrar em locar ermo, interpela- o e efetua o primeiro disparo, acertando-o no membro inferior esquerdo. A vítima cai e, quando o agente prendia reiniciar os disparos, suplica-lhe pela sua vida. Sensibilizando, o agente interrompe a sua execução e não efetua os disparos mortais. conhecimento de que este último não sabe nadar, querendo causar sua morte por afogamento. No entanto, após esgotar os atos que entendia suficientes e necessários à consumação, arrependido, resolveu salvar a vítima, não permitindo que ela morresse. Se a vítima sair ilesa do ataque, o agente não responderá por absolutamente nada; se, entretanto, sofrer alguma lesão, esta será atribuída ao agente. OBS: Embora o agente tenha desistido voluntariamente ou atua no sentido de evitar o resultado (arrependimento eficaz), se este vier a ocorrer, o agente não será beneficiado com os institutos do art. 15. Arrependimento posterior Previsto no artigo 16 do Código Penal, dispõe que: “nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”. Trata-se de uma causa geral de diminuição de pena. Exemplo clássico de crime cabível a aplicação do instituto é o furto (art. 155, CP). Mencione-se que é cabível mesmo na hipótese do §4°, I, do art. 155 do CP, que prevê o furto qualificado pela destruição ou rompimento de obstáculo, bem como o crime de dano previsto no caput do art. 163, do CP, uma vez que a violência não é empregada contra a pessoa, mas sim contra a coisa. É possível de ser beneficiado aquele que foi convencido por terceira pessoa a restituir a coisa ou a reparar o dano, bem como aquele que já tenha sido descoberto pela autoridade policial como autor do delito – desde que o ato seja feito até o recebimento da peça acusatória. Se, no entanto, a coisa subtraída pelo agente não é por ele voluntariamente entregue à autoridade policial, mas, sim, é descoberta e apreendida no curso da investigação, não se falará na aplicação do artigo, pois não se vislumbra a voluntariedade do agente. 34 Difere do arrependimento eficaz, já que no arrependimento eficaz o agente impede a produção do resultado, ao passo que no arrependimento posterior o resultado já foi produzido. SÚMULA 554 DO STF: não há justa causa paraa ação penal, se pago o cheque emitido sem suficiente provisão de fundos, antes da propositura da ação penal. Portanto, não será possível o início da ação penal se o agente efetuar pagamento relativo ao cheque por ele emitido sem suficiente provisão de fundos, até o pagamento da denúncia. Se a reparação do dano ocorrer após o recebimento da denúncia, mas antes do julgamento do processo, será aplicada a circunstância atenuante elencada no art. 65, III, b, segunda parte, do CP. Crime impossível O artigo 17 do Código Penal prevê que não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Aqui o agente já ingressou na fase dos chamados atos de execução. Absoluta ineficácia do meio Meio é tudo aquilo utilizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o resultado por ele pretendido (ex: uma faca, um revólver). O meio é absolutamente ineficaz quando por sua própria essência ou natureza, é incapaz, por mais que se reitere o seu emprego, de produzir o evento a que está subordinada a consumação do crime. Ex: revólver sem munição, veneno substituído equivocadamente por açúcar. Meio relativamente ineficaz Se a ineficácia do meio for relativa estaremos diante de um crime tentado. Pelo fato de ser relativamente ineficaz, o meio utilizado pelo agente pode vir ou não a causar o resultado (o meio absolutamente ineficaz jamais alcançaria o resultado). Ex: agente que utiliza munição envelhecida que poderá ou não disparar quando for utilizada. 35 Absoluta impropriedade do objeto Objeto é tudo aquilo contra o qual se dirige a conduta do agente, é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente. O objeto absolutamente impróprio não se fala em tentativa. Ex: alguém atira na direção de outrem que parece dormir, quando, na realidade, já se encontrava morto – não há crime de homicídio, haja vista que o objeto é absolutamente impróprio a essa finalidade, pois só se pode causar a morte de quem já esteja vivo; mulher que supondo-se grávida ingere substância abortiva quando na verdade não existe gravidez. O crime impossível e a Súmula 145 do STF: uma vez preparado o flagrante pela polícia (flagrante preparado = o agente é induzido, estimulado a praticar a infração penal), a total impossibilidade de se consumar a infração penal pretendida pelo agente pode ocorrer tanto no caso de absoluta ineficácia do meio por ele utilizado como no de absoluta impropriedade do objeto. Crime impossível e crime putativo: o crime impossível existe previsão em nosso ordenamento jurídico da infração que o agente pretende praticar, mas por absoluta ineficácia do meio ou por absoluta impropriedade do objeto é impossível consumar-se o crime. Já no crime putativo o agente almeja praticar uma infração que não se encontra tipificada em nossa legislação – o fato por ele praticado é atípico. Tipo doloso e tipo culposo O tipo doloso vem previsto no artigo 18, I, do CP, dispondo que diz-se o crime doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi- lo. O dolo é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. O parágrafo único do artigo 18 do CP diz que salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Daqui se extrai que o dolo é a regra; a culpa, a exceção. Desse modo, todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição pela prática de conduta culposa se a lei assim o previr expressamente. Espécies de dolo DOLO DIRETO DOLO INDIRETO O agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo, Pode ser alternativo ou eventual. Alternativo: apresenta-se quando o 36 conforme preceitua a primeira parte do art. 18, I, do CP. O agente pratica sua conduta dirigindo-a finalisticamente à produção do resultado por ele pretendido inicialmente. aspecto volitivo do agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa contra a qual o crime é cometido. Ex: agente efetua disparos contra a vítima, querendo feri-la ou matá-la; quando o agente efetua disparos contra duas pessoas, querendo matar uma ou outra. Eventual: o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele havia sido previsto e aceito. Ex: dirigir a 200 km/h na Avenida Paulista – o motorista não está tentando matar ninguém, mas qualquer pessoa minimamente sã sabe que dirigir a 200 km/h na Avenida Paulista provavelmente causará a morte de alguém; se ele mata alguém, então pode ser enquadrado no homicídio com dolo eventual pois assumiu o risco de causar a morte de alguém. Ausência de dolo em virtude do erro de tipo O erro é a falsa percepção da realidade. O exemplo clássico é o do caçador que atira em seu companheiro supondo-o um animal. Nele, não se pode, mesmo sendo inescusável o erro, vislumbrar o dolo em sua conduta. A vontade do agente não era dirigida a matar alguém, e sim a um animal que ele supunha estar naquele local. Tampouco tinha consciência de que matava um ser humano. Dessa forma, a consequência do erro de tipo é SEMPRE afastar o dolo do agente, permitindo, contudo, a sua punição pela prática de um crime culposo, se houver previsão legal, conforme o art. 20 do CP. No exemplo, o agente responderia por homicídio culposo, uma vez que o art, 121 do CP prevê a modalidade culposa. Tipo culposo O artigo 18, II, do CP, diz que o crime será culposo quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Portanto, a conduta, nos delitos de natureza culposa, é o ato humano voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que por 37 imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal. Deve existir um nexo de causalidade entre a conduta praticada e o resultado dela advindo. Imprudência, negligência e imperícia IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA Conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o seu dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível. É um fazer alguma coisa. Ex: motorista que desrespeita um sinal vermelho em um cruzamento. É um deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha. Ex: motorista que não conserta os freios já gastos de seus automóveis ou o pai que deixa a arma de fogo ao alcance dos filhos menores. Ocorre uma inaptidão, momentânea ou não, do agente para o exercício de arte, profissão ou ofício. Ex: um cirurgião plástico que durante um ato cirúrgico pode praticar atos que naquela situação específica conduza à imperícia. Culpa consciente e culpa inconsciente Culpa consciente é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta, acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. O resultado, embora previsto, não é assumido ou aceito pelo agente, que confia que ele não irá ocorrer. Ex: dirigir a 200 km/h em uma via deserta, de modo que seja extremamente raro que alguém possa ser atropelado. A culpa inconsciente o resultado é previsto, mas o agente, confiando em si mesmo, nas suas habilidades pessoais, acredita sinceramente que este não venha a ocorrer. Ex: dirigir a 200 km/h em uma via movimentada, onde o agente acredita que nenhum acidente será causado por acreditar em suas habilidades. Culpa consciente e dolo eventual Na culpa consciente o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente – ele acredita, sinceramente,
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