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APOSTILA DE DIREITO PENAL - PARTE GERAL

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1 
 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITO 
PENAL 
 
PARTE GERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Viviane Constante, 2022. 
2 
 
Conceito e caracteres 
➢ O direito penal é o conjunto de normas jurídicas voltado à fixação 
dos limites do Estado, instituindo infrações penais e as sanções 
correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação. Prevê ainda as 
mais graves sanções viáveis para o ser humano, como é o caso da privação de 
liberdade. 
 
➢ A finalidade do Direito Penal é proteger os bens mais importantes 
e necessários para a própria sobrevivência da sociedade – aqueles essenciais 
ao indivíduo e à comunidade, sendo estes os bens jurídicos. No momento em 
que um bem jurídico é classificado como tal, surgem tipos penais incriminadores 
(crimes) para protegê-los. 
 
➢ A primeira fonte de pesquisa para selecionar esses bens 
jurídicos é a Constituição Federal, especialmente naquilo que guarda relação 
com a salvaguarda dos direitos fundamentas (vida, liberdade, igualdade, 
segurança, propriedade, intimidade, vida privada, honra, trabalho, entre outros), 
servindo como um norte ao legislador. 
Registre-se que além de orientar o legislador, a Constituição Federal 
ainda impede que esse legislador proíba ou imponha determinados 
comportamentos violadores de direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa 
humana. 
OBS: em razão do princípio da intervenção mínima (que ainda será estudado), 
são reservados a proteção aos mais relevantes bem jurídicos 
 
Distinção entre direito penal objetivo e direito penal subjetivo 
DIREITO PENAL OBJETIVO DIREITO PENAL SUBJETIVO 
É o conjunto de normas editadas 
pelo Estado, definindo crimes e 
contravenções, impondo ou proibindo 
determinadas condutas, sob a 
ameaça de sanção ou medida de 
segurança. É o corpo de normas 
jurídicas destinado ao combate da 
criminalidade – encontra-se 
configurado nos textos das Leis, como 
o próprio Código Penal. 
É a possibilidade que tem o Estado 
de criar e fazer cumprir suas 
normas, executando as decisões 
condenatórias proferidas pelo Poder 
Judiciário – configura o ius puniendi. É 
o direito de punir do Estado que surge 
após o cometimento da infração 
penal. 
 
 
3 
 
 
Evolução histórica do direito penal 
Alguns historiadores consideram as fases da pena como: a vingança 
privada, a vingança divina, a vingança pública e o período humanitário. 
➢ A vingança privada se manifestava como forma de reação da 
comunidade contra o infrator – pura e simples retribuição a alguém pelo 
mal praticado. Essa vingança podia ser exercida por aquele que havia sofrido 
o dano, bem como por sua família ou grupo social em que se encontrava 
inserido. Isso acabava gerando um círculo vicioso (matava-se o membro de uma 
família e esta matava um membro daquela e assim sucessivamente), o que 
tendia a levar ao extermínio de clãs e grupos. 
OBS: a Lei de Talião atuou como um meio de reduzir a extensão da punição 
e evitar a infindável onda da vingança privada, trazendo uma noção, ainda que 
superficial, do conceito de proporcionalidade (“olho por olho” e “dente por 
dente”. 
 
➢ A vingança divina contava com sociedades carregadas de 
misticismos e crenças sobrenaturais. Fenômenos da natureza eram tidos 
como expressão da ira dos deuses para com os homens. Era revestido de 
caráter religioso. 
 
➢ A vingança pública, por sua vez, era fundamentada na melhor 
organização social, como forma de proteção e segurança do Estado e do 
soberano, ainda mediante a imposição de penas cruéis, desumanas e com 
nítida finalidade intimidatória. Há resquícios das fases anteriores, como a 
vingança aplicada no seio das tribos, bem como carregadas de misticismos. 
OBS: nessa fase surge uma nova forma de resolução de conflitos: a 
compositio, de modo que a pena não se dá com um sofrimento pessoal, 
passando a ser representada pela entrega de animais, armas, utensílios ou 
dinheiro – alguma utilidade material dada pelo ofensor. 
 
O Direito Penal na Grécia Antiga. Direito Penal Romano. Direito Penal 
Germânico. Direito Penal Canônico. 
 
 
 
DIREITO PENAL NA GRÉCIA 
ANTIGA 
Somente castigou o autor quando 
se tratava de delitos comuns. 
Quanto as ofensas de caráter 
religioso e político, existiram durante 
longo período sanções de caráter 
coletivo – os traidores e tiranos 
eram mortos com toda sua família. 
Prevalecia a vingança de sangue em 
4 
 
uma primeira fase, cedendo espaço 
ao talião e à composição. 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL ROMANO 
Considerado um dos marcos mais 
importantes da nossa história. Deu 
origem a Lei das XII Tábuas (451 a 
450 a. C.). Na fase do reinado vigorou 
o caráter sagrado da pena, ao passo 
que no período republicano 
prevaleceu o talião e a composição. 
Surgiu a distinção entre os crimes 
públicos (que a atribuição de seus 
julgamentos era do Estado) e os 
crimes privados (o julgamento era 
confiado ao próprio particular 
ofendido). 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL GERMÂNICO 
De natureza consuetudinária, ou 
seja, direito que surge dos 
costumes, não passando por um 
processo formal de criação de leis. As 
ordálias e juízos de Deus foram 
amplamente utilizadas, além de que 
o direito aplicado a cada indivíduo 
variava de acordo com o grupo a que 
efetivamente pertencia. Havia ainda 
os duelos judiciários, onde prevalecia 
a lei do mais forte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL CANÔNICO 
Predominou na Idade Média, estando 
religião e poder ligados e dividia os 
crimes em delicta eclesiástica – de 
exclusiva competência dos tribunais 
eclesiásticos; delicta mere secularia – 
julgados pelos tribunais leigos – e 
delicta mixta – atentavam ao mesmo 
tempo contra a ordem divina e a 
humana, podendo ser julgado por 
aquele tribunal que primeiro deles 
conhecesse. Perpetuou o caráter 
sacro da punição, que continuava 
severa, mas havia o intuito corretivo 
que visava a regeneração do 
criminoso. Surgiu os excessos 
praticados pela Santa Inquisição, 
que se valia de tortura para extrair 
confissão e punir, além de inexistir 
proporcionalidade entre a infração 
cometida e a punição aplicada. 
 
➢ O período humanitário foi antecedido por penas que em geral o 
corpo do homem, mediante sofrimento físico e mental, pagava pelo mal que 
5 
 
ele havia praticado, não havendo, portanto, a configuração da privação da 
liberdade como a pena principal. A prisão era, na verdade, destinada a evitar que 
o criminoso fugisse, de modo que posteriormente fosse aplicada a pena corporal, 
em casa de condenação, ou mesmo a tortura, com a finalidade de obter a 
confissão de determinado fato que suspostamente ele tinha praticado. 
Com a virada do século XVII, principalmente após a Revolução Francesa, 
em 1789, a pena de privação de liberdade começou a ganhar destaque. 
O Iluminismo teve importância fundamental na modernização do direito 
penal, passando a exigir provas que pudessem conduzir a condenação, e 
principalmente modificou as penas aplicadas, passando-se a reconhecer 
direitos inatos ao ser humano. 
➢ A importância da obra de Beccaria: o caráter humanitário 
presente na obra de Cesare Beccaria, denominada Dos delitos e das penas, foi 
um marco para o direito Penal. A existência de uma sociedade desigual e tirana 
estimulou a escrita da obra. Muitos princípios foram sendo construídos, inclusive 
o princípio da legalidade, tido como o pilar fundamental que sustenta um 
Estado de Direito, entendendo que todos devem ser tratados de maneira igual 
perante a lei. Como desdobramento natural do princípio da legalidade exaltou-
se a proporcionalidade das penas. 
Escolas Penais 
 
 
 
 
 
 
 
ESCOLA CLÁSSICA 
Denominação dada pelos positivistas. Encontrou 
adeptos em diversos países do continente europeu 
ao longo do século XIX. Inúmeros princípios 
começaram a ganhar corpo, a exemplo dos 
princípios da necessidade e da suficiência da 
pena, proporcionalidade, utilidade, prevenção 
geral e especial, in dubio pro reo, princípio da 
dignidade da pessoa humana, entre outros.Os 
clássicos visualizavam a responsabilidade penal do 
criminoso com base no livre-arbítrio. Por livre-
arbítrio entendia-se a capacidade que tinha o agente 
de decidir entre a prática de um comportamento lítico 
ou ilícito. A finalidade da pena é o 
restabelecimento da ordem externa da 
sociedade, ela é uma retribuição do crime e não 
pode ser arbitrária nem desproporcional. Visualizava 
primordialmente o fato cometido. 
 
 
 
Na publicação do livro O homem delinquente (1876), 
de Cesare Lombroso, sustentou-se que o ser 
humano poderia ser um criminoso nato, submetido a 
6 
 
 
ESCOLA POSITIVA 
características próprias, originárias de suas 
anomalias físico-psíquicas. O homem nasceria 
delinquente, portador de caracteres impeditivos de 
sua adaptação social, trazendo como consequência 
o crime, algo naturalmente esperado – o criminoso 
é um produto da sociedade e age assim por não 
ter outra opção. Não aceita o livre-arbítrio e 
exerceu forte influência sobre o campo da 
individualização da pena (leva em consideração a 
personalidade e a conduta social do agente). 
Visualizava o homem-delinquente e não o fato 
praticado. 
 
Evolução do Direito Penal no Brasil 
Com o descobrimento, os portugueses encontraram a terra habitada por 
índios, que não possuíam um direito penal organizado e muito menos 
civilizado (eram aplicadas penas aleatórias, inspiradas na vingança privada). 
Instalou-se a legislação portuguesa, traduzida nas Ordenações do 
Reino. Vigoraram as Ordenações Afonsinas (1446), Ordenações 
Manuelinas (1521), Ordenações Filipinas (1603), sendo essa última a mais 
longa delas – 1603 a 1830 – prevendo penas cruéis e desproporcionais. 
O Código Criminal do Império (1830) trouxe uma legislação penal mais 
humanizada e sistematizada. 
Em 1890, aprovou-se o Código Penal da Era Republicana. Foi mantido 
até que se editou o atual Código Penal (Decreto-lei 2.848/40). 
Em 1969 houve uma tentativa de modificação integral do atual Código, 
quando os militares, então no poder, editaram o Decreto-lei 1.004/69 que, no 
entanto, permaneceu em vacatio legis por cerca de nove anos, revogado 
definitivamente pela Lei 6.578/78. 
O Código original de 1940 sofreu reformas em 1984, com a Lei 7.209/84 
(reforma na Parte Geral do Código). 
Outras reformas foram introduzidas tanto na Parte Geral quanto na 
Especial do Código. 
Saliente-se que o princípio da legalidade foi previsto expressamente em 
todos os nossos Códigos, desde o Código Criminal do Império, de 1830, até a 
reforma da parte geral do Código de 1940, ocorrida em 1984. 
7 
 
Princípios do Direito Penal 
Princípio da Legalidade (ou reserva legal): as normas penais 
incriminadoras somente podem ser criadas através de lei em sentido estrito, 
emanada do Poder Legislativo, respeitado o procedimento previsto na CF. Não 
se fala na existência de crime se não houver uma lei definindo-o como tal 
= art. 5°, XXXIX, CF e art. 1° do CP. Está intimamente relacionado ao Estado de 
Direito e possui quatro funções fundamentais: 
a) proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena sine lege 
praevia); 
b) proibir a criação de crimes e penas pelo costume (nullum crimen nulla 
poena sine lege scripta); 
c) proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou 
agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta); e 
d) proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla 
poena sine lege certa). 
OBS: Não se pode conceber medida provisória inovando o cenário 
jurídico penal. A Constituição Federal é clara que apenas a União por meio do 
Congresso Nacional é quem pode legislar sobre matéria penal. Qualquer 
questão penal criada por meio de decreto ou medida provisória é sim 
inconstitucional e fere diretamente o princípio da reserva legal. 
Princípio da anterioridade: a lei penal incriminadora somente pode ser 
aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta 
para a qual se destina = art. 1°. 
Princípio da irretroatividade da lei penal: não se permite a 
retroatividade de leis, especificadamente as prejudiciais ao acusado. 
Quando novas leis entram em vigor, devem envolver somente fatos 
concretizados sob a sua égide. Há apenas uma única exceção, sendo quando 
se trata de lei penal benéfica. Esta pode voltar no tempo para favorecer o 
agente, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença condenatória com 
trânsito em julgado (art. 5°, XL, CF e art. 2°, § único, CP). 
Princípio da personalidade ou da responsabilidade pessoal 
(intranscendência da pena): somente o condenado, em matéria penal, é que 
terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado = art. 5°, XLV, 
CF. Menciona-se que se estivermos diante de uma responsabilidade não penal, 
como a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do 
condenado e tendo havido a transferência de seus bens aos seus sucessores, 
estes respondam até as forças da herança. É importante ressaltar que a multa é 
uma das três modalidades de pena (art. 32 do CP), dessa forma, em caso de 
8 
 
morte do condenado, não poderá o valor correspondente à pena de multa a 
ele aplicada ser cobrado de seus herdeiros. 
Princípio da individualização da pena: art. 5° XLVI, CF – a pena não 
deve ser padronizada, cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo 
que fez. Para tanto, há a cominação, sendo essa a fase na qual cabe ao 
legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que estão sendo 
objeto de proteção pelo Direito Penal, individualizando as penas de cada 
infração de acordo com a sua importância e gravidade. 
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA E A LEI N° 8.072/90 
Foi travada discussão no sentido de que o § 1° do art. 2° da Lei de Crimes 
Hediondos (Lei 8.072/90) estaria violando o princípio da individualização da 
pena, uma vez que impunha o total cumprimento da pena em regime fechado, 
quando houvesse o cometimento dos crimes por ela elencados como 
hediondos, a prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins 
e o terrorismo. Após a edição da Lei n° 11.464/2007, a discussão perdeu o 
sentido, uma vez que mencionada lei, modificando a Lei n° 8.072/90, passou 
a determinar que a pena para os chamados crimes hediondos e afins será 
cumprida inicialmente em regime fechado (§1° do art. 2°). 
Mencione-se que o § 2º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 foi revogado pela Lei 
nº 13.964/ 2019 (Pacote Anticrime), que estabeleceu novas regras para a 
progressão de regime quando da prática de crimes hediondos. Os requisitos 
para a progressão encontram-se no art. 112 da LEP (Lei 7.210/1984), que 
também foi modificado pelo Pacote Anticrime, passando a ter a seguinte 
redação quanto aos critérios para progressão: 
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a 
transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver 
cumprido ao menos: 
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido 
sem violência à pessoa ou grave ameaça; 
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem 
violência à pessoa ou grave ameaça; 
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido 
cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; 
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com 
violência à pessoa ou grave ameaça; 
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime 
hediondo ou equiparado, se for primário; 
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: 
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se 
for primário, vedado o livramento condicional; 
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa 
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ouc) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; 
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime 
hediondo ou equiparado; 
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo 
ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. 
 
Princípio da intervenção mínima: o direito penal somente deve intervir 
nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes. A lei 
penal não deve ser vista como a primeira opção (prima ratio) do legislador para 
9 
 
compor conflitos existentes em sociedade, uma vez que há outros ramos do 
Direito preparados a solucionar as desavenças e lides surgidas. O Direito Penal, 
portanto, é considerado a ultima ratio e deve ser visto como subsidiário 
aos demais ramos do Direito. 
Princípio da fragmentariedade: nem todas as lesões a bens jurídicos 
protegidos devem ser tuteladas e punidas pelo direito penal que, por sua vez, 
constitui somente parcela do ordenamento jurídico. Uma limitada parcela de 
bens está sob a proteção do direito penal, devendo ocupar-se das condutas 
mais graves, verdadeiramente lesivas à vida em sociedade. 
Princípio da lesividade (ou ofensividade): é indispensável a criação de 
tipos penais incriminadores, cujo objetivo seja eficiente e realístico, visando à 
punição de condutas autenticamente lesivas aos bens jurídicos tutelados. 
Busca-se afastar da incidência de aplicação da lei penal aquelas condutas que, 
embora desviadas, não afetam qualquer bem jurídico de terceiros. 
Princípio da adequação social: uma conduta não será considerada 
típica se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo 
com a ordem social. Do direito penal são excluídas as condutas 
consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. 
Princípio da insignificância: o bem juridicamente protegido pelo 
Direito Penal deve ser relevante, ficando afastados aqueles considerados 
inexpressivos. Para contextualizar esse princípio, é necessário verificar a 
tipicidade como elemento contido no fato típico. A tipicidade se divide em 
tipicidade formal e conglobante (composta pela tipicidade material + 
antinormatividade). A tipicidade formal é a adequação perfeita da conduta do 
agente ao tipo previsto na lei penal. Com a tipicidade material, além de se levar 
em conta a conduta do agente amoldada com perfeição no tipo penal, é levada 
em consideração a relevância do bem que está sendo objeto de proteção. Se o 
agente fere um bem não relevante, faltaria a chamada tipicidade material, por 
conseguinte excluindo-se a tipicidade, de modo que, sem ela não há fato típico, 
não há crime. Os Tribunais Superiores estabeleceram determinados vetores 
para aferição desse princípio: a) a mínima ofensividade da conduta do agente, 
b) nenhuma periculosidade social da ação, c) o reduzidíssimo grau de 
reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão 
jurídica provocada. MNEUMÔNICO: MARI (mínima ofensividade da conduta; 
ausência de periculosidade; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento 
e inexpressividade da lesão jurídica. 
OBS: Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e 
de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de 
R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, 
com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério 
da Fazenda (STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis 
Júnior, julgado em 28/02/2018 – recurso repetitivo). 
10 
 
OBS: A prática constante de comportamentos contrários à lei penal, ainda 
que insignificantes, implica a perda da característica de bagatela desses 
comportamentos, devendo o agente submeter-se ao Direito Penal, dada a 
reprovabilidade da conduta. 
Princípio da taxatividade: as condutas típicas, merecedoras de punição, 
devem ser suficientemente claras e bem elaboradas, de modo a não deixar 
dúvida por parte do destinatário da norma, 
Princípio da proporcionalidade: as penas devem ser harmônicas à 
gravidade da infração penal cometida, não tendo cabimento o exagero, nem 
tampouco a extrema liberalidade na cominação das penas nos tipos penais 
incriminadores. Preza, portanto, pela proibição de excesso e a proibição de 
proteção deficiente. 
Princípio da vedação da dupla punição pelo mesmo fato: ninguém 
deve ser processado e punido duas vezes pela prática da mesma infração penal. 
Princípio da culpabilidade: ninguém será penalmente punido, se não 
houver agido com dolo ou culpa, dando mostras de que a responsabilização não 
será objetiva, mas subjetiva (nullum crimen sine culpa). O Código Penal 
estabelece que somente há crime quando estiver presente o dolo ou a culpa (art. 
18 do CP). A culpabilidade exerce papel fundamental na caracterização da 
infração penal (conduta típica, antijurídica e culpável). 
 
Interpretação e Integração da Lei Penal 
A interpretação é um processo de descoberta do conteúdo da lei e não de 
criação de normas. 
Preliminarmente é possível subdividir a interpretação em: 
a) objetiva (voluntas legis): busca-se descobrir a suposta vontade da lei; 
b) subjetiva (voluntas legislatoris): procura-se alcançar a vontade do 
legislador. 
Quanto ao sujeito que a realiza: 
a) autêntica: realizada pelo próprio texto legal; 
b) doutrinária: realizada pelos estudiosos do Direito; 
c) judicial: realizada pelos aplicadores do Direito, ou seja, pelos juízes de 
primeiro grau e magistrados que compõem os tribunais. 
Quanto aos meios empregados: 
a) literal ou gramatical: trata-se da interpretação do real e efetivo 
significado das palavras; 
11 
 
b) teleológica: busca a finalidade da lei, aquilo a que ela se destina a 
regular; 
c) sistêmica: é analisado o dispositivo legal no sistema no qual ele está 
inserido, e não de forma isolada; 
d) histórica: volta-se ao tempo em que foi editado a norma, buscando os 
fundamentos de sua criação e o momento pelo qual atravessava a sociedade; e 
e) progressiva: o intérprete traduz os tipos penais de acordo com a 
realidade atual. 
Quanto aos resultados: 
a) declaratória: o intérprete não amplia nem restringe o alcance, mas 
apenas declara a vontade da lei; 
b) restritiva: o intérprete diminui, restringe o alcance da lei; 
c) extensiva: para que se possa conhecer a exata amplitude da lei, o 
intérprete necessita alargar seu alcance, haja vista ter dito menos do que 
efetivamente pretendia. 
Interpretação analógica: o legislador, em determinadas passagens do 
CP, por não poder prever todas as situações que poderiam ocorrer na vida em 
sociedade e que seriam similares àquelas por ele já elencadas, permitiu, 
expressamente, a utilização desse recurso, que também amplia o alcance da 
norma penal. 
Temos como exemplo o disposto no art. 121, § 2.º, III. Qualifica-se o 
homicídio quando o agente cometer o crime “com emprego de veneno, fogo, 
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa 
resultar perigo comum”, verificando-se, pois, que dadas as amostras pelo tipo, 
permite-se que o intérprete vá buscar outros meios similares aos primeiros, 
igualmente configuradores de insídia, crueldade ou perigo comum. 
A analogia é uma forma de autointegração da norma, consistente em 
aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso 
semelhante. No Direito Penal ela precisa ser cuidadosamente avaliada, sob pena 
de ferir o princípio da legalidade. 
Dessa forma, não se admite a analogia in malam partem, ou seja, para 
prejudicar o réu. Por outro lado, a analogia in bonam partem (para beneficiar 
o réu) deve ser utilizada em favor do réu, ressaltando que isso se dá em 
hipóteses excepcionais, uma vez que o princípio da legalidade é a regra. 
 
12 
 
A lei penal no tempo 
A regra geral em direitoé a aplicação da lei vigente à época dos fatos 
(tempus regit actum). No direito penal acontece da mesma forma, sendo que ao 
crime cometido em determinada data, aplica-se a lei penal vigente exatamente 
no mesmo dia. 
No entanto, a lei penal, mesmo depois de revogada, pode continuar a 
regular fatos durante sua vigência ou retroagir para alcançar aqueles que 
aconteceram anteriormente à sua entrada em vigor. Trata-se de uma exceção, 
a qual é denominada extra-atividade. Frise-se que a regra geral está contida 
no art. 5°, XL da CF, tratando-se da irretroatividade in pejus (aquela que 
prejudica o réu). 
A extra-atividade é gênero, tendo como espécies a: 
a) retroatividade: aplicação da lei penal benéfica a fato criminoso 
acontecido antes do período de sua vigência (art. 5°, XL, CF, parte final e art. 
2°, § único, CP); e 
b) ultratividade: aplicação da lei penal benéfica, já revogada, aos fatos 
ocorridos durante sua vigência. 
Ex: crime cometido em 20 de março de 2015; lei posterior a essa data torna 
a pena mais branda (retroatividade da lei à data do crime pois mais 
benéfica); lei posterior a essa data torna a pena mais severa (ultratividade 
da lei vigente na data do crime para ser aplicada na data da sentença, por 
ser mais favorável ao réu). Portanto, a retroatividade e a ultratividade serão 
realizadas sempre em benefício do agente, e nunca em seu prejuízo. 
 
Aplicação da novatio legis in pejus nos crimes permanentes e continuados 
Suponhamos que em um crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 
do CP), estava em vigor a lei A sendo que, em seguida, entrou em vigor a lei B, 
que agravava a pena cominada pela lei A, não tendo sido a vítima, até a entrada 
em vigor da lei B, libertada, pois os sequestradores estavam negociando sua 
libertação. Nesse caso, aplica-se a lei A (lei vigente quando da prática dos 
primeiros atos de execução) ou a lei B? 
Para responder essa questão, o STF aprovou a Súmula 711, 
estabelecendo que a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao 
crime permanente, se a sua vigência é anterior a cessação da continuidade ou 
da permanência. 
Dessa forma, no exemplo trazido, aplicar-se-ia a lei B. 
13 
 
Abolitio criminis 
Ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar crime 
determinado fato (ex: adultério, sedução e o rapto consensual deixaram de ser 
consideradas condutas criminosas – Lei 11.106/2005). A abolitio criminis tem 
sua previsão no caput do art. 2° do CP, sendo que quando acontece essa 
hipótese, segundo o disposto no art. 107, III, do CP, extingue-se a punibilidade 
do agente. 
A extinção da punibilidade pode ocorrer nas fases policiais e judicial. A 
abolitio criminis faz cessar todos os efeitos penais da sentença condenatória, 
permanecendo, contudo, os efeitos civis*. 
* a sentença penal condenatória transitada em julgado forma-se, para a vítima 
do crime, um título executivo judicial (art. 515, VI, do CPC). Esse título 
executivo judicial que é dado à vítima, sendo um efeito civil da sentença penal 
condenatória, será mantido mesmo que ocorra a abolitio criminis. 
 
Abolitio criminis temporalis: situação na qual a aplicação de 
determinado tipo penal encontra-se temporariamente suspensa, não 
permitindo, consequentemente, a punição do agente que pratica o 
comportamento típico durante o prazo da suspensão. Súmula 513 STJ. 
Leis temporárias ou excepcionais 
Art. 3° do CP. Considera-se temporária a lei quando esta traz 
expressamente em seu texto o dia do início, bem como o do término de sua 
vigência. Excepcional é aquela editada em virtude de situações também 
excepcionais (anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da 
aludida situação que levou à edição do diploma legal. Encerrado o período 
de sua vigência, ou cessadas as circunstâncias anormais que a determinaram, 
tem-se por revogadas as leis temporária e excepcional. Ainda que revogadas, 
elas serão aplicadas aos fatos praticados durante sua vigência. 
 
14 
 
Tempo do crime 
Há três teorias: 
a) teoria da atividade: considera praticado o delito no momento da 
conduta (ação ou omissão), não importando o instante do resultado; 
b) teoria do resultado: reputando cometido o crime no momento do 
resultado; e 
c) teoria mista ou da ubiquidade: o momento do crime pode ser tanto o da 
conduta quanto o do resultado. 
O Código Penal adotou a teoria da atividade, conforme o art. 4° do CP. 
O tempo do crime sempre será, portanto, o da ação ou omissão, ainda que o 
resultado ocorra depois. 
Essa teoria serve, dentre outros efeitos, para: a) determinar a 
inimputabilidade do agente; b) fixar as circunstâncias do tipo penal; c) possibilitar 
eventual aplicação da anistia; d) dar oportunidade à prescrição. 
Ex: suponha-se que hoje uma pessoa com 17 anos e 11 meses, com intenção 
de causar a morte de alguém, atira em direção à vítima, vindo a atingi-la numa 
região letal. Decorridos três meses, a vítima morre. Não será aplicada a lei 
penal porque o agente era inimputável no momento da ação, ficando ele 
submetido a medida socioeducativa. 
 
O tempo do crime nas infrações penais permanentes e continuadas: 
aplica-se a eles regra especial. No caso do crime permanente, a consumação 
se prolonga no tempo. É considerado tempo do crime todo o período em que 
se desenvolver a atividade delituosa. A mesma regra se aplica ao crime 
continuado. 
 
15 
 
Lugar do crime 
Existem três teorias: 
a) atividade: considerando local do delito aquele onde foi praticada a 
conduta (atos executórios); 
b) resultado: reputando o lugar do crime como sendo aquele onde ocorreu 
o resultado (consumação); e 
c) mista ou da ubiquidade: aceita como lugar do crime tanto onde houve 
a conduta quanto onde se deu o resultado. 
Nosso Código Penal adotou a teoria mista ou da ubiquidade, conforme 
se verifica no seu art. 6°. 
Através dessa teoria resolvem-se os problemas relacionados aos crimes 
a distância, sendo esses aqueles crimes iniciados no Brasil e terminados no 
exterior ou vice-versa. A adoção da teoria mista ou da ubiquidade resolve 
problemas de Direito Penal Internacional. 
 
Territorialidade e extraterritorialidade 
Territorialidade é a aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos 
dentro do território nacional (art, 5°, caput, CP). Essa é a regra geral, que advém 
do conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis 
pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território. 
São elementos do território nacional: o solo ocupado pela nação; os 
rios, lagos e mares interiores e sucessivos; os golfos, as baías e os portos; a 
faixa de mar exterior, que corre ao largo da costa e que constitui o mar territorial; 
a parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares 
fronteiriços; navios e aeronaves nacionais; e o espaço aéreo correspondente ao 
território. 
Aplica-se ainda a lei penal brasileira aos crimes cometidos dentro de 
embarcações e aeronaves brasileiras, públicas ou a serviço do governo, 
que se acharem em qualquer lugar, bem como de aeronaves e embarcações 
16 
 
brasileiras, mercantes ou de natureza privada, que se achem no espaço 
aéreo correspondente ao território ou em alto-mar (art. 5°, §1°, CP). Aplica-
se ainda aos crimes praticados em aeronaves ou embarcações, estrangeiras 
e privadas, que se encontrem no território brasileiro, em voo ao espaço 
aéreo correspondente, em porto ou mar territorial do Brasil (art. 5°, §2°, CP). 
Ocorre que no Brasil não se adotou uma teoria absoluta da 
territorialidade, mas sim uma teoria conhecida como temperada, uma vez que, 
excepcionalmente, admite-se o interesse do Brasil em punir autores de crimes 
ocorridos fora do seu território. Isso recebe o nome de extraterritorialidade, 
significando a aplicação da lei penal nacional a delitos ocorridos no 
estrangeiro (art. 7°, CP). 
A extraterritorialidade pode ser incondicionada ou condicionada. 
Extraterritorialidadeincondicionada é a possibilidade de aplicação da 
lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja 
necessário o concurso de qualquer condição. As hipóteses de 
extraterritorialidade incondicionada estão previstas no inciso I do art. 7°, do CP: 
• crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República 
(princípio da defesa, real ou de proteção); 
• crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito 
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, 
sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder 
Público; 
• crimes contra a administração pública, por quem está a seu 
serviço; 
• crimes de genocídio, quando o agente for brasileiro ou 
domiciliado no Brasil. 
Dessa forma, o agente será punido segundo a lei brasileira, ainda que 
absolvido ou condenado no estrangeiro. Em caso de condenação, terá 
aplicação do art. 8° do CP, onde a pena cumprida no estrangeiro atenuará a 
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando as penas forem 
diversas, ou nela é computada, quando as penas forem idênticas, de 
maneira que evita-se o bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). 
A extraterritorialidade condicionada encontra-se prevista no inciso II do 
art. 7°, sendo: 
• os crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou 
a reprimir (princípio da universalidade, da justiça universal ou cosmopolita); 
• os crimes praticados por brasileiro (princípio da personalidade 
ativa); 
• os crimes praticados em aeronaves ou embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território 
estrangeiro e aí não sejam julgados (princípio da representação). 
17 
 
As condições para a aplicação da lei brasileira nessas hipóteses 
encontram-se no §2° do mesmo artigo 7°, sendo: 
• entrar o agente em território nacional; 
• ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
• estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira 
autoriza a extradição; 
• não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí 
cumprido a pena; 
• não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, 
não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
Já o §3° do art. 7° dispõe que a lei brasileira aplica-se também ao crime 
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil se, junto das 
condições acima mencionadas, não for pedida ou negada a extradição e 
houver requisição do Ministro da Justiça. Daqui deriva o princípio da defesa 
ou da personalidade passiva. 
OBS: Mencione-se que compete aos juízes federais processar e julgar as 
causas relativas aos direitos humanos a que se refere o §9° do art. 109 da CF. 
EXTRADIÇÃO: instrumento de cooperação internacional na repressão à 
criminalidade por meio do qual um Estado entrega a outro uma pessoa 
acusada ou condenada, para que seja julgada ou submetida à execução 
da pena. Caso alguém cometa um crime em solo nacional (territorialidade), 
refugiando-se em país estrangeiro, cabe ao Brasil solicitar a sua extradição, a 
fim de que possa responder criminalmente pelo que fez. Da mesma forma se 
o agente comete crime no exterior, mas ofendendo interesse ou bem jurídico 
brasileiro, aplicando-se a regra da extraterritorialidade, terá o Brasil interesse 
em puni-lo, havendo necessidade de se utilizar do instituto da extradição. A 
extradição ativa é o pedido formulado por um Estado para a entrega de 
alguém e extradição passiva é a entrega de uma pessoa por um Estado em 
razão do pedido formulado por outros. 
Requisitos para a concessão da extradição: 
a) Exame prévio do STF (art. 102, I, g, CF): ação de caráter 
constitutivo, visando à formação de um título jurídico que habilita o Poder 
Executivo a entregar um indivíduo a um país estrangeiro; há participação do 
MP no processo e análise feita pelo Plenário, composto por todos os ministros, 
de modo que não caiba recurso; a decisão que autoriza a extradição não 
vincula o Poder Executivo (o ato passa a ser discricionário), mas se a decisão 
for negativa, não pode o Executivo extraditar o estrangeiro; 
b) Existência de convenção ou tratado firmado com o Brasil ou, em 
sua falta, oferecimento de reciprocidade; 
c) Existência de sentença final condenatória; 
d) Ser o extraditando estrangeiro: é vedada a extradição de 
nacionais, não se distinguindo o brasileiro nato ou naturalizado, conforme 
dispõe o art. 5°, LI, CF. 
e) O fato imputado deve constituir crime – e não contravenção penal 
– perante a lei brasileira e a do Estado requerente; 
18 
 
f) A pena máxima para o crime imputado ao extraditando deve ser 
privativa de liberdade superior a um ano, pela legislação brasileira 
g) O crime imputado ao extraditando não pode ser político ou de 
opinião; 
h) O extraditando não pode estar sendo processado, nem pode ter 
sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o 
pedido; 
i) O Brasil tem que ser incompetente para julgar a infração; 
j) O extraditando, no exterior, não pode ser submetido a tribunal de 
exceção; 
k) Não pode estar extinta a punibilidade pela prescrição; 
l) O extraditado não pode ser considerado, oficialmente, como 
refugiado pelo Governo brasileiro. 
 
 
 
Eficácia de Sentença Estrangeira 
Em decorrência da soberania brasileira, uma sentença estrangeira não 
pode produzir efeitos no Brasil sem a homologação feita por um tribunal pátrio. 
A competência para a homologação é do Supremo Tribunal de Justiça (art. 
105, I, i, CF). 
As hipóteses de homologação de sentença estrangeira penal encontram-
se no art. 9°, CP, sendo: 
• Reparação civil do dando causado à vítima (inciso I): busca-se 
facilitar a posição da vítima do crime, que não terá que dar início a um processo 
de indenização, na esfera cível, provando novamente a culpa do infrator, uma 
vez que com a homologação se concretiza a formação de um título executivo. 
Para tanto, deve o ofendido requerer a homologação no STJ (art. 9°, § único, 
a, CP). 
• Aplicação de medida de segurança (inciso II): é preciso 
requerimento do Procurador-Geral da República no STJ, desde que exista 
tratado de extradição entre o país de onde vem a sentença impondo a medida 
de segurança ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça (art. 
9°, § único, b, CP). 
 
 
Contagem de Prazo e Frações da Pena 
19 
 
O prazo penal inclui o primeiro dia, desprezando-se o último (art. 10, CP). 
Diverge do prazo processual penal que não inclui o dia do começo, mas sim o 
do vencimento (art. 798, §1°, CP). Exemplos: 
PRAZO PROCESSUAL PRAZO PENAL 
O réu é intimado de uma sentença 
condenatória no dia 20 de março, cujo 
prazo de recurso é de 5 dias, vencerá 
no dia 25 de março. 
Uma pessoa é recolhida ao cárcere 
para cumprir dois meses de pena 
privativa de liberdade, tendo início o 
cumprimento no dia 20 de março, que 
é incluído no cômputo, a pena findará 
no dia 19 de maio – pouco importa se 
ela foi presa às 22 horas de um dia, 
este dia é integralmente computado, 
ainda que faltem somente duas horas 
para findar. 
 
 
 
 
Frações de penas: não são computadas nas penas privativas de 
liberdade e restritivas de direitos e os centavos na pena pecuniária, nos termos 
do artigo 11 do CP. Ninguém pode ser condenado, por exemplo, ao cumprimento 
de uma pena que tenha a duração de um mês e seis horas. Já nos valores 
correspondentes às penas pecuniárias deverão, portanto, ser desprezadas as 
frações de real (centavos). 
 
20 
 
Conflito aparente de normas 
É a situação de confronto que ocorre quando ao mesmo fato parecem 
ser aplicáveis duas ou mais normas, formando um conflito apenas aparente 
entre elas, pois há critérios para solucionar a antinomia. 
O artigo 12 do Código Penal determina que lei especial afasta a 
aplicação de lei geral. Portanto, as regras do Código Penal serão aplicadas aos 
fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.Critério da absorção (ou consunção): quando o fato previsto por uma lei 
está, igualmente, contido em outra de maior amplitude, aplica-se somente 
esta última. Ou seja, quando a infração prevista na primeira norma constituir 
simples fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo 
diverso, deve-se aplicar apenas a última. Trata-se da hipótese do crime-meio 
e do crime-fim. Ex: a violação de domicílio (crime-meio) com a finalidade de 
praticar furto a uma residência (crime-fim). O crime-meio é absorvido pelo 
crime-fim (responde-se apenas pelo furto). 
 
 
 
21 
 
Do crime 
Conceito material: é a concepção da sociedade sobre o que pode e deve 
ser proibido, mediante a aplicação de sanção penal. 
Conceito formal: é a concepção do direito acerca do delito, constituindo 
a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, numa visão 
legislativa do fenômeno. Quando a sociedade entende necessário criminalizar 
determinada conduta, através dos meios naturais de pressão, leva sua demanda 
ao Legislativo, que, aprovando uma lei, materializa o tipo penal. 
Conceito analítico: é a concepção da ciência do direito. É o conceito 
formal fragmentado em elementos. Trata-se de uma conduta típica, ilícita ou 
antijurídica e culpável (teoria tripartida = corrente majoritária no Brasil e no 
exterior). 
Infração penal: a infração penal é gênero, abrangendo as espécies de 
crimes/delitos (sinônimos) e as contravenções penais. 
 
 
 
 
Crimes e contravenções penais: os crimes sujeitam seus autores a 
penas de reclusão ou detenção, enquanto as contravenções, no máximo, 
implicam em prisão simples. Além disso, aos crimes cominam-se penas 
privativas de liberdade, isolada, alternativa ou cumulativamente com multa, 
enquanto nas contravenções admite-se a possibilidade de fixação 
unicamente da multa – que não ocorre com os crimes. As contravenções 
penais podem ser consideradas delitos-anões, defendendo bens jurídicos não 
tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um 
delito. 
 
Conceito analítico de crime 
 
INFRAÇÕES 
PENAIS 
CRIMES/DELITOS 
CONTRAVENÇÕES PENAIS 
22 
 
Fato típico, ilícito e culpável. 
O fato típico é composto dos seguintes elementos: 
a) Conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva; 
b) Resultado 
c) Nexo de causalidade entre a conduta e o resultado; 
d) Tipicidade penal = formal e material (ou conglobante). 
A ilicitude, expressão sinônima de antijuridicidade, é aquela relação de 
contrariedade, de antagonismo, que se estabelece entre a conduta do agente e 
o ordenamento jurídico. 
Culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a 
conduta ilícita do agente. São elementos integrantes da culpabilidade: 
a) Imputabilidade 
b) Potencial consciência sobre a ilicitude do fato; 
c) Exigibilidade de conduta diversa. 
Mencione-se que a punibilidade NÃO integra o conceito de crime, 
tratando-se apenas da sua consequência jurídica. 
Principais classificações dos crimes: 
• Crime material, crime formal e crime de mera conduta. 
CRIME MATERIAL CRIME FORMAL MERA CONDUTA 
Crimes de resultado. 
Aqueles que 
necessariamente 
possuem resultado 
naturalístico (aquele 
que é sentido fora do 
mundo jurídico); sem a 
sua ocorrência, o delito 
é apenas uma tentativa. 
Ex: homicídio (art. 121, 
CP) – só haverá a 
consumação do delito 
de homicídio com o 
resultado morte da 
vítima. 
Delitos de atividade. 
Não exigem a 
ocorrência do 
resultado 
naturalístico para 
efeitos de 
reconhecimento da 
consumação. Ex: 
extorsão mediante 
sequestro (art. 159, 
CP) – basta que tenha 
havido a privação da 
liberdade, não 
importando se 
com isso o agente 
tenha obtido a 
vantagem. 
Crime de simples 
atividade. Não prevê 
qualquer produção 
naturalística de 
resultado no tipo 
pena. Narra tão 
somente o 
comportamento que se 
quer proibir ou impor, 
não fazendo a menção 
ao resultado material, 
tampouco exigindo sua 
produção. Ex: violação 
de domicílio (art. 150, 
CP) – contenta-se 
unicamente em punir a 
conduta do agente. 
 
• Crime de dano e crime de perigo 
CRIMES DE DANO CRIMES DE PERIGO 
Se efetivam com a efetiva lesão a 
um bem jurídico tutelado. É a 
ocorrência de um prejuízo efetivo e 
Crimes que se contentam, para a 
consumação, com a mera 
probabilidade de haver dano – a 
23 
 
perceptível pelos sentidos 
humanos. Ex: crimes de homicídio e 
lesão corporal. 
punição do agente se dá antes que 
seu comportamento perigoso venha 
a causar dano ou lesão ao bem 
juridicamente protegido. Dividem-se 
em: a) crimes de perigo abstrato (a 
probabilidade de ocorrência de dano 
está presumida no tipo penal, 
independendo de prova – ex: porte 
ilegal e tráfico de drogas, art. 28 e 
33, L. 11.343/2006) e b) crimes de 
perigo concreto (a probabilidade 
de ocorrência de dano precisa ser 
investigada, demonstrada e provada 
– ex: expor a vida ou saúde de 
alguém a perigo, art. 132 do CP). 
 
• Crime habitual: exige do agente um comportamento reiterado. É aquele 
que se consuma através da prática reiterada e contínua de várias ações, 
traduzindo um estilo de vida indesejado pela lei penal. São requisitos para seu 
reconhecimento: a) reiteração de vários fatos, b) identidade ou homogeneidade 
de tais fatos, c) nexo de causalidade entre os fatos. 
 
Tipicidade 
Por imposição do princípio do nullum crimen sine lege (não há crime sem 
lei anterior que o defina), o legislador, quando quer impor ou proibir condutas sob 
a ameaça de sanção, deve, obrigatoriamente, valer-se de uma lei. 
A tipicidade é o fato real perfeitamente adequado ao tipo, sendo o 
instrumento de adequação. É a subsunção perfeita da conduta praticada pelo 
agente ao modelo abstrato previsto na lei penal. 
O tipo penal é a descrição abstrata de uma conduta, tratando-se de uma 
conceituação puramente funcional, que permite concretizar o princípio do nullum 
crimen sine lege. 
 
24 
 
ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO PENAL 
DESCRITIVOS NORMATIVOS CIENTÍFICOS 
Relacionados com 
tempo, lugar, modo, 
meio de execução do 
crime, descrevendo 
seu objeto material. 
Demandam juízo de 
valor. 
O conceito transcende o 
mero elemento 
normativo, extraindo o 
seu significado da 
ciência natural. 
Atenção: elementos 
percebidos pelos 
sentidos. Ex: art. 121, 
CP – “matar alguém”. 
Atenção: não são 
percebidos pelos 
sentidos. Ex: art. 154, 
CP – “revelar alguém, 
sem justa causa, 
segredo, de que tenha 
ciência em razão de 
função, ministério, ofício 
ou profissão e cuja 
revelação possa 
produzir dano a outrem”. 
Atenção: não demanda 
juízo de valor. Ex: art. 
24 da Lei 11105/05 – 
“utilizar embrião 
humano em desacordo 
com o que dispõe o 
artigo 5° desta Lei” 
 
Além dos elementos objetivos, o tipo penal poderá dispor de elementos 
subjetivos. 
Os elementos subjetivos estão relacionados com a finalidade específica 
que deve ou não animar o agente. 
Os elementos subjetivos positivos indicam a finalidade que deve animar 
o agente, é o caso, por exemplo, do art. 33, §3º, da Lei de Drogas que fala que 
é “para juntos consumirem”, ou seja, essa é a finalidade do oferecimento da 
droga de forma eventual a pessoa do seu convívio. Os elementos subjetivos 
negativos, por outro lado, são os elementos indicando a finalidade que não deve 
animar o agente, é o caso da expressão “sem objetivo de lucro”, prevista ao teor 
do art. 33§3º, da Lei de Drogas. 
Tipicidade Penal = tipicidade formal + tipicidade conglobante 
A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto no tipo 
penal faz surgir a tipicidade formal ou legal. Portanto, só haverá tipicidade se 
existir adequação perfeita. Ex: art. 155, CP – aquele que simplesmente subtrai 
coisa alheia móvel não com o fim de tê-la para si ou para outrem, mas, sim, com 
a intenção de usá-la, não comete o crime de furto, uma vez que no tipo penal 
não existe a previsão dessa conduta, não sendo punível, portanto,o furto de uso. 
A tipicidade conglobante surge quando comprovado, no caso concreto, 
que a conduta praticada pelo agente é considerada antinormativa, isto é, 
contrária à norma penal, e não imposta ou fomentada por ela, bem como 
ofensiva a bens de relevo para o Direito Penal (tipicidade material). 
Ou seja, a tipicidade conglobante = antinormatividade + tipicidade material 
Antinormatividade é a conduta contrária a norma penal. 
25 
 
Tipicidade material é que se afere a importância do bem no caso 
concreto, a fim de que possamos concluir se aquele bem específico merece ou 
não ser protegido pelo Direito Penal. Ex: pessoa que é lesionada por um veículo 
conduzido por alguém que agiu imprudentemente ao fazer uma manobra 
arriscada, mas sendo a lesão um arranhão de meio centímetro. Somente as 
lesões corporais que tenham importância é que estarão previstas no tipo penal. 
Elementos do fato típico 
1. Conduta: sinônimo de ação e de comportamento humano. 
Compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo 
(negativo), podendo ainda ser doloso (o agente quer ou assume o risco de 
produzir o resultado) ou culposo (o agente infringe seu dever de cuidado, 
atuando com negligência, imprudência ou imperícia). 
Para a caracterização da conduta é indispensável a existência do binômio 
vontade e consciência. Haverá ausência de conduta quando o agente se vir 
impedido de atuar, como nos casos de: a) força irresistível ou coação física 
irresistível; b) movimentos reflexos, reações motoras, secretórias ou fisiológicas; 
e c) estado de inconsciência. 
2. Resultado: pode ser naturalístico (modificação sensível do 
mundo exterior, ex: morte de uma pessoa é um resultado naturalisticamente 
comprovável) e jurídico ou normativo (modificação gerada no mundo jurídico, 
seja na forma de dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse 
protegido pela norma penal, nada modificando externamente que seja passível 
de percepção pelos nossos sentidos, ex: invasão de um domicílio, embora possa 
nada causar sob o ponto de vista naturalístico, certamente provoca um resultado 
jurídico, que é ferir o direito a inviolabilidade de domicílio do dono da casa. 
3. Nexo causal: é o vínculo estabelecido entre a conduta do 
agente e o resultado por ele gerado, com relevância suficiente para formar o 
fato típico. É também chamado de relação de causalidade, de modo que 
aprofundaremos no tema no próximo tópico. 
 
Relação de causalidade 
Elo necessário que une a conduta praticada pelo agente ao resultado 
por ele produzido. 
O caput do artigo 13 do Código Penal dispõe que “o resultado, de que 
depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. 
Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido”. De acordo com a doutrina majoritária, o resultado ali mencionado 
deverá ser entendido como o jurídico e não o meramente naturalístico. 
26 
 
Teorias sobre a relação de causalidade 
a) Teoria da causalidade adequada: causa é a condição necessária 
e adequada a determinar a produção do evento. A conduta é idônea a gerar o 
efeito. 
b) Teoria da relevância jurídica: entende como causa a condição 
relevante para a produção do resultado. Ex: aquele que joga um balde d’água 
em uma represa completamente cheia, fazendo com que se rompa o dique, não 
pode ser responsabilizado pela inundação, pois sua conduta não pode ser 
considerada relevante a ponto de lhe ser imputada a infração penal do art. 254 
do Código Penal. 
c) Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou teoria da 
equivalência das condições: é a teoria adotada pelo Código Penal. 
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido. 
Espécies de causas: podem ser absoluta ou relativamente 
independentes. 
A relação de dependência absoluta é encontrada no caput do artigo 13 do 
Código Penal. Já o §1° do art. 13 se refere às causas supervenientes 
relativamente independentes. 
1. Causa absolutamente independente 
Aquelas que surgem e, por si mesmas, são aptas a produzir o resultado. 
É aquela causa que teria acontecido, vindo a produzir o resultado, mesmo se 
não tivesse havido qualquer conduta por parte do agente. Elas cortam, 
naturalmente, o nexo causal. Quando o resultado naturalístico ocorrer da 
existência de qualquer uma das causas absolutamente independentes, não 
poderá ele ser atribuído ao agente, que responderá tão somente pelo seu dolo. 
Elas podem ser: 
a) Preexistentes: ocorreu anteriormente à conduta do agente. Ex: A 
querendo a morte de B, disfere um tiro contra este, acertando-o na região do 
tórax. Embora atingido numa região letal, B veio a falecer em virtude de que, 
com intenção suicida, ingerira veneno momentos antes da agressão sofrida. B 
morreu envenenado, e não em razão do disparo. Se suprirmos mentalmente o 
disparo efetuado por A, B ainda assim teria morrido? Sim, uma vez que B não 
veio a falecer em virtude dos disparos, mas porque antes havia feito uma 
ingestão de veneno. Dessa forma, a conduta de A não pode ser considerada 
como causadora do resultado morte. A só responderá pelo seu dolo e como não 
conseguiu o que queria (matar B com a sua conduta), será responsabilizado 
por tentativa de homicídio. 
b) Concomitantes: ocorre numa relação de simultaneidade com a 
conduta do agente. Ex: se A e B, com armas de calibres diferentes atiram contra 
C (afastada a hipótese de coautoria) e ficar provado que o projétil de B é que, 
atingindo o coração da vítima, a matou, ao passo que o de A alcançou levemente 
em um braço, somente B responderá por homicídio. Se eliminarmos 
27 
 
mentalmente a conduta de A, ainda assim o resultado morte teria ocorrido? Sim, 
porque foi o projétil disparado pela arma de B o causador do resultado morte. Se 
queria matar e não conseguiu, responderá tão somente por tentativa de 
homicídio. 
c) Supervenientes: ocorre posteriormente à conduta do agente e que 
com ela não possui relação de dependência alguma. Ex: A e B discutem no 
interior de uma loja, oportunidade em que A saca o revólver que trazia consigo 
e atira em B, causando-lhe um ferimento. Logo após ter efetuado o disparo, o 
prédio no qual ambos se encontravam desabam e, posteriormente, comprova-
se que B não morrera em virtude do disparo recebido, mas sim, por ter sido 
soterrado. Se suprimirmos o fato de A ter atirado contra B, ainda assim o 
resultado morte teria ocorrido? Sim, devido ao desabamento do prédio. Dessa 
forma, concluímos que A não causou o resultado morte, razão pela qual deverá 
responder pela tentativa de homicídio. 
 
2. Causa relativamente independente 
Aquelas que somente tem a possibilidade produzir o resultado se for 
conjugada com a conduta do agente. Existe uma relação de dependência 
entre a conduta do agente e a causa que também influencia na produção do 
resultado. A ausência de qualquer uma delas (causa relativamente independente 
+ conduta do agente) faz com que o resultado seja modificado. Elas podem ser: 
a) Preexistentes: já existia antes mesmo do comportamento do 
agente e, quando com ele conjugada numa relação de complexidade, produz o 
resultado. Ex: João querendo causar a morte de Paulo e sabendo de sua 
condição de hemofílico, nele desfere um golpe de faca. O golpe, embora 
recebido numa região não letal, conjugado com a particular condição fisiológica 
da vítima, faz com que este não o suporte e venha a falecer. Nesse exemplo, 
duas situações podem ocorrer: se o agente queria a morte da vítima, atuando 
com animus necandi, responderá pelo resultado morte a título de homicídio 
doloso; se, embora sabendo da condição de hemofílico, o agente só almejava 
causar lesões na vítima, agindo tão somente com animus laedendi, responderá 
por lesão corporal seguida de morte (§3° do art. 129 do CP), aplicando-se, aqui, 
a regra contida no art. 19 do CP, uma vez que o resultado morte encontrava-seno seu campo de previsibilidade, embora por ele não tenha sido querido ou 
assumido. No entanto, se o agente desconhecia a hemofilia da vítima, não 
poderá ser responsabilizado pelo resultado morte. Se queria ferir a vítima, 
agredindo-a com um soco na região do tórax e esta, em razão de sua particular 
condição de hemofílica, vem a falecer em decorrência da eclosão de um 
processo interno de hemorragia, o agente só poderá ser responsabilizado 
pelo delito de lesões corporais simples. 
b) Concomitantes: numa relação de simultaneidade com a conduta 
do agente e com ela conjugada, também é considerada produtora do resultado. 
Ex: A desfecha um tiro em B, no exato instante em que este está sofrendo um 
colapso cardíaco, provando-se que a lesão contribuiu para a eclosão do êxito 
letal. Se retirássemos a conduta do agente, ou sejam o fato de sacar sua arma 
e dispará-la em direção à vítima, esta não teria se apavorado e com isso sofrido 
28 
 
o enfarte. A conduta do agente + o colapso cardíaco são, conjuntamente, 
causadores do resultado morte, razão pela qual o agente responderá pelo 
delito de homicídio doloso consumado. 
c) Supervenientes: ocorridas posteriormente à conduta do agente, 
e que com ela tenha ligação. O §1° do art. 13, do CP, previu que estas somente 
poderiam excluir a imputação quando, por si sós, produzissem o resultado. Ex: 
aquele que é atingido gravemente por um disparo de arma de fogo é conduzido 
a um hospital, sendo que lá chegando o hospital sofre um atentado terrorista e a 
vítima vem a falecer não em virtude dos ferimentos originários do disparo por ela 
recebidos, mas em razão do desabamento do prédio. Se retirarmos o disparo 
recebido pela vítima, esta não teria sido conduzida ao hospital e, portanto, não 
teria morrido soterrada. Por outro lado, se retirarmos o desabamento do prédio, 
a morte da vítima também não teria ocorrido como ocorreu. 
A expressão “por si só” significa que somente aqueles resultados que 
se encontrarem como um desdobramento natural da ação, ou seja, 
estiverem na chamada linha de desdobramento físico, é que poderão ser 
imputados ao agente. 
Ex1: João, querendo a morte de Pedro, efetua contra ele certeiros 
disparos. Pedro é socorrido por uma ambulância, que o conduz ao hospital. 
Durante o trajeto, a ambulância se vê envolvida num acidente de trânsito, vindo 
Pedro a falecer em virtude da colisão. Se Pedro não tivesse sido ferido por João, 
não teria sido colocado na ambulância e, consequentemente, não teria falecido 
em razão da colisão dos veículos. Deverá João responder pelo crime de 
homicídio doloso consumado? Não, pois a morte de Pedro não se encontrava na 
chamada linha de desdobramento físico da conduta praticada por João. Morrer 
nos destroços de veículos que colidem após ter sido atingido pelo disparo não 
se inclui como desdobramento natural. 
Ex2: usando a mesma situação. E se ao chegar vivo ao hospital, Pedro 
contraria uma infecção hospitalar em razão dos ferimentos sofridos quando foi 
alvejado por projéteis de pistola. A infecção hospitalar é um desdobramento 
natural da conduta inicial? Se a resposta for sim, a infecção deve ser considerada 
na mesma linha e o agente responder pelo resultado morte. Se entender que 
não, o agente responderá somente pelos atos praticado, pelo seu dolo, lhe sendo 
imputada a tentativa de homicídio. 
Para que possamos atribuir o resultado ao agente é preciso que este 
esteja na mesma linha de desdobramento físico da ação. Quando a causa 
superveniente relativamente independente, por si só, vier a produzir o resultado, 
pelo fato de não se encontrar na mesma linha de desdobramento físico, o agente 
só responderá pelo seu dolo, pois há um rompimento na cadeia causal. 
 
Omissão como causa do resultado 
Para o Código Penal, a omissão do agente terá importância quando ele 
se abstiver de fazer aquele que a lei lhe impunha no momento. 
29 
 
 
Relação de causalidade nos crimes omissivos próprios e omissivos 
impróprios 
Quando o agente deixa de fazer alguma coisa a que estava obrigado, 
temos um crime omissivo. Os crimes omissivos podem ser omissivos próprios e 
omissivos impróprios. Segue a definição: 
OMISSIVOS PRÓPRIOS, PUROS 
OU SIMPLES 
OMISSIVOS IMPRÓPRIOS, 
COMISSIVOS POR OMISSÃO OU 
OMISSIVOS QUALIFICADOS 
O agente se abstém de praticar 
algo; são objetivamente descritos 
como uma conduta negativa, de não 
fazer o que a lei determina. Para a 
existência do crime basta que o 
autor se omita quando deve agir, 
não sendo necessário qualquer 
resultado naturalístico. O legislador 
faz expressamente a previsão típica 
da conduta que deve ser imposta ao 
agente. Caso o agente se abstenha 
de praticá-la, incorrerá nas sanções 
cominadas ao tipo penal. Ex: art. 
135, CP. 
Para sua configuração é preciso que 
o agente possua um dever de agir 
para evitar o resultado. Esse dever 
de agir não é atribuído a qualquer 
pessoa, mas tão somente àquelas 
que gozem do status de 
garantidoras da não ocorrência do 
resultado. Somente assume a 
posição de garante aquelas pessoas 
que se amoldam às situações 
elencadas pelo §2° do art. 13, do 
CP. São considerados tipos abertos, 
não há prévia definição típica. É 
preciso que o julgador exerça um 
trabalho de adequação, situando a 
posição do garantidor do agente aos 
fatos ocorridos. 
 
Nos termos do §2° do art. 13, do CP, “a omissão é penalmente relevante 
quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. Portanto, a 
omissão somente se torna relevante para o direito penal caso o agente tenha o 
dever de agir, caso contrário, a omissão será atípica. Ex: qualquer do povo que 
acompanhe a ocorrência de uma agressão pode agir para impedir o resultado, 
mas não é obrigado. Se a pessoa que acompanha a agressão, no entanto, é o 
guarda-costas da vítima e não impede o resultado, de propósito, responderá 
como partícipe na lesão. Saliente-se que o devia e podia significa que o agente, 
fisicamente impossibilitado de atuar, não responde pelo delito, ainda que tivesse 
o dever de agir. Ex2: vigilante que presencia um furto, mas não tem tempo de 
impedir o resultado porque sofre um desmaio, não será responsabilizado pelo 
evento. 
O art. 13, §2°, a, b e c, do Código Penal enumera as situações em que há 
o dever de agir por parte do omitente. São elas: 
• Dever de agir imposto por lei: a legislação impõe a várias pessoas 
o dever de cuidar, proteger e vigiar outras, tal como o faz com os pais em relação 
aos filhos, com os tutores aos tutelados, com os curadores aos curatelados etc. 
Ex: a mãe que, querendo causar a morte de seu filho, deixe de alimentá-lo por 
30 
 
período suficiente a conduzi-lo à morte, o que vem efetivamente a acontecer. O 
art. 121 do CP pressupõe um comportamento positivo (“matar alguém”). Essa 
mãe poderia ter causado a morte de seu filho de outro modo (como, p. ex., 
estrangulando-o), amoldando-se ao comportamento comissivo (ação/positivo) 
previsto no tipo. Entretanto, preferiu deixar de alimentá-lo (omissão/negativo), 
causando-lhe, também, a morte. Sua conduta foi omissiva. Como gozava do 
status de garantidora, tendo o dever de agir imposto por lei, sua omissão 
será equiparada à comissão prevista no art. 121, do CP – homicídio doloso 
por omissão. 
• Dever de agir de quem assumiu a responsabilidade de evitar o 
resultado: é o dever decorrente de negócios jurídicos ou de relações concretas 
da vida. Hoje em dia, não se exige a existência ou mesmo a vigência de um 
contrato, bastando que o agente tenha assumido, por conta própria e mesmo 
sem qualquer retribuição, esse encargo. Ex: o vigia contratado para tomar conta 
das casas de um determinado condomínio não pode ficar inerte ao acompanhar 
a ocorrência de um furto – se agir dolosamente, responderá pelo crime de furto 
tal como os agentes; o pai que, querendo mergulhar no mar, solicita a alguém 
que olhe seu filho por alguns minutos. Se essa pessoa aceita o pedido,naquele 
instante se coloca na posição de garantidora e se, em virtude de sua negligência, 
deixar de olhar a criança e esta vier a se afogar, responderá pelo delito de 
homicídio culposo. 
• Dever de agir por ter gerado o risco: é o dever surgido de ação 
precedente do agente, que deu causa ao aparecimento do risco. EX: alguém 
joga outro na piscina, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima 
não sabe nadar – fica obrigado a intervir, impedindo o resultado trágico, sob pena 
de responder por homicídio; aquele que, num acampamento, depois de acender 
o fogo para fazer sua comida, não o apaga posteriormente, permitindo que se 
inicie um incêndio. 
 
Consumação e Tentativa 
O artigo 14 do Código Penal conceituou o momento da consumação do 
crime, bem como quando o delito permanece na fase da tentativa. 
Diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos 
de sua definição legal. Diz-se tentado o crime quando iniciada a execução, 
não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Iter Criminis 
É composto pelas seguintes fases: 
a) Cogitação (cogitatio); 
31 
 
b) Preparação (atos preparatórios); 
c) Execução (atos de execução); 
d) Consumação (summatum opus); 
e) Exaurimento. 
Mencione-se que após a cogitação e da preparação, o agente dá início 
à execução do crime. Quando efetivamente ingressa na fase dos atos de 
execução, duas situações podem ocorrer: 
• O agente consuma a infração penal por ele pretendida inicialmente; ou 
• Em virtude de circunstâncias alheias à sua vontade, a infração não 
chega a consumar-se, restando, portanto, tentada. 
Ademais, o exaurimento somente se dá em determinadas infrações 
penais. 
 
Não punibilidade da cogitação e dos atos preparatórios 
A lei penal limitou a punição dos atos praticados pelo agente a partir de 
sua execução, deixando de lado a cogitação e os atos preparatórios, essa é a 
regra geral. Entretanto, o legislador entendeu punir de forma autônoma algumas 
condutas que poderiam ser consideradas preparatórias, como nos casos dos 
crimes de associação criminosa (art. 288 do CP) e posse de instrumentos 
destinados usualmente à prática de furtos (art. 25 da LCP). 
 
Elementos que caracterizam o crime tentado 
a) A conduta deve ser dolosa; 
b) O agente deve ingressar, obrigatoriamente, na fase dos chamados 
atos de execução; 
c) O agente não consiga chegar à consumação do crime, por 
circunstâncias alheias à sua vontade. 
 
Tentativa perfeita e imperfeita 
PERFEITA IMPERFEITA 
Acabada ou crime falho. É quando o 
agente esgota todos os meios que 
tinha ao seu alcance a fim de 
alcançar a consumação da infração 
penal, que somente não ocorre por 
circunstâncias alheias à sua 
vontade. Ex: agente atira na vítima, 
que é gravemente ferida, mas 
socorrida a tempo e sobrevive. 
Inacabada. É quando o agente é 
interrompido durante a prática dos 
atos de execução, não chegando, 
assim, a fazer tudo aquilo que 
intencionava, visando a consumir o 
delito. Ex: agente inicia o furto, 
arrombando a porta, mas antes de 
subtrair a coisa alheia móvel, o 
alarme dispara, fugindo então sem a 
coisa. 
 
32 
 
Tentativa e contravenção penal 
A Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n° 3.688/41), considerada lei 
especial, afasta a aplicação do Código Penal quanto as regras do artigo 14 do 
referido código. Isso porque a lei especial dispõe de modo diverso em seu artigo 
4°, trazendo não ser punível a tentativa de contravenção. 
 
Crimes que não admitem a tentativa 
• Crimes habituais – são delitos que o agente precisa praticar de 
forma habitual e reiterada a conduta descrita no tipo. Ou o agente comete a série 
de condutas necessárias e consuma a infração, ou o fato é atípico. Ex: arts, 229 
e 284, CP. 
• Crimes preterdolosos: o agente atua com dolo na sua conduta e 
o resultado agravador advém de culpa. 
• Crimes culposos: pois se não há vontade dirigida à prática de uma 
infração penal não existirá a necessária circunstância alheia, impeditiva da sua 
consumação. 
• Crimes unissubsistentes: pois a conduta do agente é exaurida 
num único ato, não podendo fracionar o iter criminis. 
• Crimes omissivos próprios. 
 
Tentativa e aplicação da pena 
Conforme o § único do art. 14 do CP, pune-se a tentativa com a pena 
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
 
Desistência voluntária e arrependimento eficaz 
Ambos encontram-se previstos no artigo 15 do Código Penal, que dispõe 
que “o agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou 
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados”. 
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ 
Primeira parte do artigo 15. É 
preciso que o agente já tenha 
ingressado na fase de execução, 
mas sem esgotar todos os meios 
que tinha à sua disposição para 
chegar à consumação do crime 
(ainda praticando atos de execução) 
o agente desiste, voluntariamente, 
de nela produzir. O agente 
somente responderá pelos atos já 
Segunda parte do artigo 15. O 
agente, depois de esgotados todos 
os meios de que dispunha para 
chegar à consumação, arrepende-
se e atua em sentido contrário, 
evitando a produção do resultado 
inicialmente por ele pretendido. 
Ex: agente, depois de uma 
discussão no interior de um barco, 
lança seu desafeto ao mar, tendo 
33 
 
praticados, ficando afastada a 
sua punição pela tentativa da 
infração penal por ele pretendida 
inicialmente. Ex: o agente, 
querendo causar a morte de seu 
desafeto, depois de com ele se 
encontrar em locar ermo, interpela-
o e efetua o primeiro disparo, 
acertando-o no membro inferior 
esquerdo. A vítima cai e, quando o 
agente prendia reiniciar os disparos, 
suplica-lhe pela sua vida. 
Sensibilizando, o agente 
interrompe a sua execução e não 
efetua os disparos mortais. 
conhecimento de que este último 
não sabe nadar, querendo causar 
sua morte por afogamento. No 
entanto, após esgotar os atos que 
entendia suficientes e necessários à 
consumação, arrependido, 
resolveu salvar a vítima, não 
permitindo que ela morresse. Se a 
vítima sair ilesa do ataque, o 
agente não responderá por 
absolutamente nada; se, 
entretanto, sofrer alguma lesão, 
esta será atribuída ao agente. 
 
OBS: Embora o agente tenha desistido voluntariamente ou atua no 
sentido de evitar o resultado (arrependimento eficaz), se este vier a ocorrer, o 
agente não será beneficiado com os institutos do art. 15. 
 
Arrependimento posterior 
Previsto no artigo 16 do Código Penal, dispõe que: “nos crimes cometidos 
sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, 
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a 
pena será reduzida de um a dois terços”. 
Trata-se de uma causa geral de diminuição de pena. 
Exemplo clássico de crime cabível a aplicação do instituto é o furto (art. 
155, CP). Mencione-se que é cabível mesmo na hipótese do §4°, I, do art. 155 
do CP, que prevê o furto qualificado pela destruição ou rompimento de 
obstáculo, bem como o crime de dano previsto no caput do art. 163, do CP, uma 
vez que a violência não é empregada contra a pessoa, mas sim contra a coisa. 
É possível de ser beneficiado aquele que foi convencido por terceira 
pessoa a restituir a coisa ou a reparar o dano, bem como aquele que já tenha 
sido descoberto pela autoridade policial como autor do delito – desde que o ato 
seja feito até o recebimento da peça acusatória. Se, no entanto, a coisa 
subtraída pelo agente não é por ele voluntariamente entregue à autoridade 
policial, mas, sim, é descoberta e apreendida no curso da investigação, não se 
falará na aplicação do artigo, pois não se vislumbra a voluntariedade do agente. 
34 
 
Difere do arrependimento eficaz, já que no arrependimento eficaz o 
agente impede a produção do resultado, ao passo que no arrependimento 
posterior o resultado já foi produzido. 
SÚMULA 554 DO STF: não há justa causa paraa ação penal, se pago o 
cheque emitido sem suficiente provisão de fundos, antes da propositura da ação 
penal. Portanto, não será possível o início da ação penal se o agente efetuar 
pagamento relativo ao cheque por ele emitido sem suficiente provisão de 
fundos, até o pagamento da denúncia. 
Se a reparação do dano ocorrer após o recebimento da denúncia, mas 
antes do julgamento do processo, será aplicada a circunstância atenuante 
elencada no art. 65, III, b, segunda parte, do CP. 
 
Crime impossível 
O artigo 17 do Código Penal prevê que não se pune a tentativa quando, 
por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é 
impossível consumar-se o crime. 
Aqui o agente já ingressou na fase dos chamados atos de execução. 
 
Absoluta ineficácia do meio 
Meio é tudo aquilo utilizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o 
resultado por ele pretendido (ex: uma faca, um revólver). O meio é 
absolutamente ineficaz quando por sua própria essência ou natureza, é incapaz, 
por mais que se reitere o seu emprego, de produzir o evento a que está 
subordinada a consumação do crime. Ex: revólver sem munição, veneno 
substituído equivocadamente por açúcar. 
 
Meio relativamente ineficaz 
Se a ineficácia do meio for relativa estaremos diante de um crime 
tentado. Pelo fato de ser relativamente ineficaz, o meio utilizado pelo agente 
pode vir ou não a causar o resultado (o meio absolutamente ineficaz jamais 
alcançaria o resultado). Ex: agente que utiliza munição envelhecida que poderá 
ou não disparar quando for utilizada. 
 
35 
 
Absoluta impropriedade do objeto 
Objeto é tudo aquilo contra o qual se dirige a conduta do agente, é a 
pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente. O objeto 
absolutamente impróprio não se fala em tentativa. Ex: alguém atira na direção 
de outrem que parece dormir, quando, na realidade, já se encontrava morto – 
não há crime de homicídio, haja vista que o objeto é absolutamente impróprio a 
essa finalidade, pois só se pode causar a morte de quem já esteja vivo; mulher 
que supondo-se grávida ingere substância abortiva quando na verdade não 
existe gravidez. 
O crime impossível e a Súmula 145 do STF: uma vez preparado o 
flagrante pela polícia (flagrante preparado = o agente é induzido, estimulado 
a praticar a infração penal), a total impossibilidade de se consumar a infração 
penal pretendida pelo agente pode ocorrer tanto no caso de absoluta ineficácia 
do meio por ele utilizado como no de absoluta impropriedade do objeto. 
 
Crime impossível e crime putativo: o crime impossível existe previsão 
em nosso ordenamento jurídico da infração que o agente pretende praticar, mas 
por absoluta ineficácia do meio ou por absoluta impropriedade do objeto é 
impossível consumar-se o crime. Já no crime putativo o agente almeja praticar 
uma infração que não se encontra tipificada em nossa legislação – o fato por ele 
praticado é atípico. 
 
Tipo doloso e tipo culposo 
O tipo doloso vem previsto no artigo 18, I, do CP, dispondo que diz-se o 
crime doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
lo. 
O dolo é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta 
prevista no tipo penal incriminador. 
O parágrafo único do artigo 18 do CP diz que salvo os casos expressos 
em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o 
pratica dolosamente. Daqui se extrai que o dolo é a regra; a culpa, a exceção. 
Desse modo, todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição 
pela prática de conduta culposa se a lei assim o previr expressamente. 
Espécies de dolo 
DOLO DIRETO DOLO INDIRETO 
O agente quer, efetivamente, 
cometer a conduta descrita no tipo, 
Pode ser alternativo ou eventual. 
Alternativo: apresenta-se quando o 
36 
 
conforme preceitua a primeira parte 
do art. 18, I, do CP. O agente pratica 
sua conduta dirigindo-a 
finalisticamente à produção do 
resultado por ele pretendido 
inicialmente. 
aspecto volitivo do agente se 
encontra direcionado, de maneira 
alternativa, seja em relação ao 
resultado ou em relação à pessoa 
contra a qual o crime é cometido. Ex: 
agente efetua disparos contra a 
vítima, querendo feri-la ou matá-la; 
quando o agente efetua disparos 
contra duas pessoas, querendo 
matar uma ou outra. 
Eventual: o agente, embora não 
querendo diretamente praticar a 
infração, não se abstém de agir e, 
com isso, assume o risco de 
produzir o resultado que por ele 
havia sido previsto e aceito. Ex: 
dirigir a 200 km/h na Avenida 
Paulista – o motorista não está 
tentando matar ninguém, mas 
qualquer pessoa minimamente sã 
sabe que dirigir a 200 km/h na 
Avenida Paulista provavelmente 
causará a morte de alguém; se ele 
mata alguém, então pode ser 
enquadrado no homicídio com dolo 
eventual pois assumiu o risco de 
causar a morte de alguém. 
 
Ausência de dolo em virtude do erro de tipo 
O erro é a falsa percepção da realidade. O exemplo clássico é o do 
caçador que atira em seu companheiro supondo-o um animal. Nele, não se 
pode, mesmo sendo inescusável o erro, vislumbrar o dolo em sua conduta. A 
vontade do agente não era dirigida a matar alguém, e sim a um animal que ele 
supunha estar naquele local. Tampouco tinha consciência de que matava um ser 
humano. Dessa forma, a consequência do erro de tipo é SEMPRE afastar o 
dolo do agente, permitindo, contudo, a sua punição pela prática de um crime 
culposo, se houver previsão legal, conforme o art. 20 do CP. No exemplo, o 
agente responderia por homicídio culposo, uma vez que o art, 121 do CP prevê 
a modalidade culposa. 
 
Tipo culposo 
O artigo 18, II, do CP, diz que o crime será culposo quando o agente deu 
causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
Portanto, a conduta, nos delitos de natureza culposa, é o ato humano 
voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que por 
37 
 
imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter observado o seu 
dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo 
assumido, tipificado previamente na lei penal. Deve existir um nexo de 
causalidade entre a conduta praticada e o resultado dela advindo. 
Imprudência, negligência e imperícia 
IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA 
Conduta positiva 
praticada pelo agente 
que, por não observar o 
seu dever de cuidado, 
causasse o resultado 
lesivo que lhe era 
previsível. É um fazer 
alguma coisa. Ex: 
motorista que 
desrespeita um sinal 
vermelho em um 
cruzamento. 
É um deixar de fazer 
aquilo que a diligência 
normal impunha. Ex: 
motorista que não 
conserta os freios já 
gastos de seus 
automóveis ou o pai 
que deixa a arma de 
fogo ao alcance dos 
filhos menores. 
Ocorre uma inaptidão, 
momentânea ou não, 
do agente para o 
exercício de arte, 
profissão ou ofício. Ex: 
um cirurgião plástico 
que durante um ato 
cirúrgico pode praticar 
atos que naquela 
situação específica 
conduza à imperícia. 
 
Culpa consciente e culpa inconsciente 
Culpa consciente é aquela em que o agente, embora prevendo o 
resultado, não deixa de praticar a conduta, acreditando, sinceramente, que 
este resultado não venha a ocorrer. O resultado, embora previsto, não é 
assumido ou aceito pelo agente, que confia que ele não irá ocorrer. Ex: dirigir a 
200 km/h em uma via deserta, de modo que seja extremamente raro que alguém 
possa ser atropelado. 
A culpa inconsciente o resultado é previsto, mas o agente, confiando 
em si mesmo, nas suas habilidades pessoais, acredita sinceramente que 
este não venha a ocorrer. Ex: dirigir a 200 km/h em uma via movimentada, onde 
o agente acredita que nenhum acidente será causado por acreditar em suas 
habilidades. 
 
Culpa consciente e dolo eventual 
Na culpa consciente o agente, embora prevendo o resultado, acredita 
sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou 
mesmo assumido pelo agente – ele acredita, sinceramente,

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