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LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO1 Mariza Abreu Consultora Legislativa da Câmara dos Deputados Área de Educação, Cultura e Desporto 1 Esse texto foi extraído e adaptado do trabalho elaborado para a Secretaria de Educação de Pernambuco relativo a Instrumentos para Desenvolvimento da Gestão da Educação Municipal. Colaborou na elaboração deste texto Marisa Timm Sari, consultora em educação. Por um novo padrão de gestão educacional A partir dos anos 50, de forma simultânea e articulada com o processo de ex- pansão do atendimento educacional à população brasileira, desenvolveu-se, no País, um padrão de gestão da educação pública com as seguintes caracte- rísticas, apresentadas de maneira sintetizada: • centralização administrativa – a maioria das decisões educacionais eram tomadas predominantemente nos órgãos centrais de educação, em detrimento das unidades escolares e, no caso das Secretarias Estaduais, também de suas seções regionais; • escolas com restrito poder de decisão – em conseqüência da centrali- zação administrativa nos órgãos educacionais, as escolas funcionavam com seu cotidiano ordenado de fora para dentro, por meio de normas de organização e funcionamento e de ordenamentos de natureza peda- gógica definidos pelas burocracias estatais; • diferenciação de qualidade entre as escolas públicas, de acordo prin- cipalmente com o nível sócio-econômico dos alunos – as normas, mo- 72 CADERNOS ASLEGIS 18 delos e regramentos homogêneos definidos de forma centralizada não incorporavam a diversidade que as escolas passaram a apresentar, em decorrência da expansão do atendimento e da conseqüente incorpora- ção à escola dos setores de baixa renda da população; • recursos destinados predominantemente para atividades-meio – como conseqüência das características anteriores, parcela significativa dos recursos públicos destinados à manutenção e desenvolvimento do en- sino não chegava às escolas, sendo aplicados em atividades-meio e na manutenção das estruturas administrativas da educação; • foco da gestão educacional na própria administração – desviando o foco de seu objetivo principal que é a aprendizagem dos alunos, a gestão educacional passou a se caracterizar por privilegiar atividades burocráticas, com escolas mais envolvidas em responder às demandas das Secretarias de Educação do que em resolver os problemas de rendi- mento escolar de seus alunos; • decisões tomadas pelos gestores sem participação da sociedade – de forma coerente com o período político de exceção e com a gestão cen- tralizada da educação, era praticamente inexistente a participação da comunidade no processo de tomada de decisões relativas à educação, desde o âmbito da escola até a formulação da política educacional a ser implementada pelo poder público. Esse padrão tradicional de gestão educacional caracterizou especialmente as Secretarias Estaduais de Educação, uma vez que os Estados foram, pelo menos até a década de 70, os principais responsáveis pela oferta da educação escolar à população brasileira, no nível de ensino então de 1º grau, hoje fun- damental. Entretanto, com o crescimento da participação dos Municípios na oferta de matrículas notadamente nesse nível de ensino, órgãos responsáveis pela administração da educação passaram a se estruturar e a se expandir nas Prefeituras Municipais, em geral denominados por secretaria, departamento, divisão ou serviço. E, na maioria dos casos, os órgãos municipais da educa- ção foram organizados com base na experiência das Secretarias de Educação dos Estados. É claro que, devido à escala da gestão, problemas, como a centralização administrativa, são menos intensos na educação municipal do que na estadual. 73LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO Desde a intensificação dos movimentos sociais pela democratização da sociedade, a partir da década de 70, passando pelo processo constituinte nos anos 80 e pelo debate em torno da elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional na década de 90, a sociedade brasileira vem questionando esse padrão tradicional de gestão educacional e amadurecendo uma concepção e um conjunto de propostas para a implantação de um novo padrão de gestão da educação no País. Esse processo apresenta-se na forma de síntese nas metas relativas à gestão educacional no Plano Nacional de Educação – PNE. Para opor-se e superar o padrão em grande parte ainda vigente, formulou-se a meta nº 24 do Capítulo da Gestão do PNE, que, por ser de caráter geral, sin- tetiza o novo padrão de gestão educacional a ser implementado no Brasil: Desenvolver padrão de gestão que tenha como elementos a destinação de recursos para as atividades-fim, a descentralização, a autonomia da escola, a eqüidade, o foco na aprendizagem dos alunos e a participa- ção da comunidade. A partir dessa meta geral, identificam-se, nas demais metas do PNE, princí- pios e diretrizes que devem orientar a reorganização da gestão educacional no País, a saber: 1. Qualificação da gestão, por meio de planejamento, informatização das Secretarias de Educação e das escolas, implantação e consolidação de sistemas de avaliação, e capacitação de pessoal técnico das Secreta- rias. 2. Promoção da autonomia da escola, por meio do repasse de recursos financeiros às unidades escolares públicas, capacitação de seus gestores e apoio à elaboração e cumprimento de suas propostas pedagógicas. 3. Implementação da gestão democrática, assegurando a participação da comunidade, por meio de conselhos escolares nas escolas e, no âmbito dos Municípios, dos Conselhos do Fundef e da Alimentação Escolar e do Conselho Municipal de Educação. 4. Aperfeiçoamento do regime de colaboração, entre Estado e Municípios e entre Municípios. 74 CADERNOS ASLEGIS 18 No Brasil, a partir da década de 70, foram realizadas experiências de descen- tralização da educação, como a municipalização do ensino, que, entretanto, frustraram a expectativa de reversão dos alarmantes indicadores de fracasso escolar, produzidos pela contradição entre a incorporação de alunos de di- ferentes origens sociais e a estruturação da escola destinada a servir a elite social que antes a freqüentava praticamente com exclusividade. Em muitos casos, os resultados insuficientes dessas políticas de descentralização foram atribuídos ao fato de não terem tomado as escolas como espaço privilegiado de sua ação descentralizadora. Em outras palavras, a municipalização pode ter implicado a transferência do poder decisório da esfera do Estado para o Município, mas também a transposição das características da gestão da educação estadual para a municipal, como a centralização administrativa e o pouco poder de decisão das escolas. Na seqüência, durante a década de 80, tiveram início no País experiências de descentralização da gestão educacional tendo como eixo central a autonomia da escola. Em muitas redes públicas, criaram-se colegiados ou conselhos escolares deliberativos, com participação da comunidade escolar, algumas vezes associados à eleição dos diretores, e, ainda, em um número menor de casos, deu-se início a repasse de recursos para despesas com manutenção e conservação das unidades escolares. Entretanto, essas experiências têm encontrado limites como a continuidade da elaboração de normas e regras homogêneas para todas as escolas, a ausência de políticas de financiamento e alocação sistemática de recursos financeiros para as unidades escolares e, ainda, a não alteração das estruturas centrais da administração da educação. Dito de outra forma, não basta pensar a nova organização da escola autôno- ma – sobre o que ela deve passar a decidir, como e quem deve nela decidir, quais são as condições para sua autonomia etc. A construção da autonomia da escola implica necessariamentetambém a redefinição do papel e atribui- ções e, em conseqüência, da estrutura e organização dos órgãos centrais da gestão educacional. O desenvolvimento de um padrão de gestão com foco na escola e na aprendizagem do aluno não dispensa a atuação da Secretaria de Educação, mas impõe a revisão de seu funcionamento anterior, com defi- nição de novas funções e papéis. 75LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO No quadro do novo padrão de gestão, são tarefas fundamentais do poder público: 1ª - definição de diretrizes básicas comuns, mínimas e flexíveis, sobre o que se deve garantir para todos, tanto em relação a currículos e seus conteúdos mínimos, aí incluindo capacidades a serem desenvolvidas e conhecimentos a serem adquiridos, quanto em relação a padrões mínimos de qualidade do ensino, referindo-se a condições de funciona- mento das escolas, com a variedade e quantidade mínimas de insumos materiais e humanos, e a padrões de gestão educacional; 2ª - definição das normas de gestão democrática para as escolas públi- cas, garantindo a participação não só de professores e demais servi- dores da educação mas também de alunos, pais e outros segmentos da comunidade no poder decisório; 3ª - desenvolvimento de um sistema externo de avaliação dos resultados, aferidos pela aprendizagem dos alunos de conteúdos básicos e comuns, como estratégia para garantir a qualidade e evitar a fragmentação, iden- tificando necessidades de compensação financeira e técnica, premiando os que progridem em relação aos objetivos propostos pela própria es- cola e informando a população; 4ª - implementação de ações de compensação das desigualdades, que impeçam possíveis efeitos regressivos da descentralização e assegurem a eqüidade, que só será alcançada se houver êxito em oferecer a todos um patamar básico comum de escolaridade com qualidade. Para atingir este patamar a partir de pontos de partida tão desiguais, é imprescindí- vel articular modelos diferenciados e flexíveis de organização escolar, viáveis apenas com autonomia da escola, com fortes mecanismos de compensação financeira e técnica, por meio de programas de discrimi- nação positiva que transfiram recursos materiais, humanos e técnicos adicionais a escolas, regiões ou populações específicas que apresentem dificuldades, aferidas nos processos de avaliação externa. Entre essas tarefas, algumas se configuram como funções dos órgãos norma- tivos dos sistemas de ensino, como a definição de diretrizes básicas comuns para a educação nacional e de normas educacionais complementares no âmbito de cada sistema de ensino; outras, como funções de caráter perma- 76 CADERNOS ASLEGIS 18 nente dos órgãos da administração da educação, como a implementação de mecanismos de avaliação externa do rendimento escolar dos alunos e de ações compensatórias das desigualdades verificadas no interior dos sistemas de ensino. É necessário, portanto, pensar quais são as novas funções básicas das Se- cretarias de Educação, face ao novo padrão de gestão educacional com foco na escola e na aprendizagem do aluno. Em outras palavras, que atribuições antes assumidas pela Secretaria passam agora para o âmbito da escola, no exercício de sua autonomia pedagógica, administrativa e financeira, e, em conseqüência, que novas atribuições passam a ser da Secretaria, que deve ter todas as suas atividades desenvolvidas como suporte ao processo educacio- nal efetivamente vivenciado nas unidades escolares, nas relações interpesso- ais cotidianas entre professores e alunos. No estudo de alguns organogramas de Secretarias Municipais de Educação 2, o padrão tradicional de gestão caracteriza-se pela seguinte estrutura básica: Observa-se que o critério de organização fundamenta-se na distinção entre atividades-fim (ensino) e atividades-meio (administração e finanças) da Se- cretaria. De fato, nesse modelo de gestão, as instâncias centrais da gestão da educação realizavam o planejamento do fato educacional a ser executado na escola, definindo, por exemplo, currículos, programas escolares, meto- dologias de ensino e formas de avaliação da aprendizagem a serem imple- mentadas nas unidades escolares. Ao mesmo tempo, a gestão de pessoal encontrava-se totalmente centralizada na Secretaria de Educação e todas as ações relativas à manutenção e conservação dos prédios, equipamentos e materiais escolares dependiam de solicitação encaminhada às Secretarias 2 Extraídos do Levantamento da Situação Institucional dos órgãos municipais de educação, realizado pelo MEC/Fundescola, 2000. Secretaria Municipal de Educação Departamento, diretoria ou divisão Pedagógica ou de Ensino Departamento, diretoria ou divisão Administrativa e Financeira 77LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO pelas escolas, pois estas não dispunham de autonomia e de recursos para fa- zerem frente a despesas como, por exemplo, compra de giz, papel, material de limpeza etc. É preciso inverter os termos dessa equação, entendendo todas as atividades da Secretaria como meio para o bom desempenho da relação educacional que ocorre na escola. Assim, devemos compreender a Secretaria como ativi- dade-meio e a escola e, nela, a aprendizagem do aluno como atividade-fim. Para definir as principais funções das Secretarias de Educação, deve-se re- correr à legislação educacional vigente e identificar as principais atribuições que hoje são fixadas para a administração da educação em todos os seus níveis. Mais evidente quando se trata do MEC, essas novas atribuições consistem em: coordenação da política de educação, planejamento educacional, orga- nização de um sistema de informações e estatísticas educacionais, e imple- mentação de procedimentos de avaliação do funcionamento e resultados do sistema educacional. No ordenamento jurídico da educação brasileira, articula-se descentralização, flexibilidade e autonomia da escola com o papel de avaliador a ser desempenhado pelo poder público. Em outras palavras, os sistemas de ensino (em relação à educação nacional) e as escolas (em relação aos respectivos sistemas de ensino) possuem liberdade de organização para implementarem o processo educativo sob sua responsabilidade, mas devem devolver à sociedade um serviço educacional de qualidade, aferido em pro- cessos sistemáticos de avaliação. No caso das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, sobressai-se ainda a função de suporte pedagógico, administrativo e financeiro às escolas de suas respectivas redes de ensino, e, nas Secretarias Estaduais de Educação e no caso das Secretarias Municipais em Municípios que optaram pela ins- tituição de sistema de ensino próprio, o papel de coordenação do respectivo sistema, articulando e integrando todas as redes de ensino que compõem seu sistema, inclusive as escolas privadas. Dito de outra forma, as Secretarias de Educação dos Estados, Distrito Federal e Municípios precisam desempenhar o duplo papel de mantenedoras de suas próprias redes de ensino e coorde- nadoras da política educacional implementada em sua respectiva jurisdição, articulando as diferentes redes e sistemas de ensino nela presentes. 78 CADERNOS ASLEGIS 18 Novas funções das Secretarias Municipais de Educação Com base nesse entendimento das novas atribuições dos órgãos gestores da educação, nos Anexos I e II apresentamos respectivamente quadro síntese e organograma com as funções que todas as Secretarias Municipais de Edu- cação precisam desempenhar de forma a desenvolver e concretizar o novo padrão de gestão da educação, proposto pela comunidade educacional e consubstanciado nas metas do PNE em vigência. Antes da apresentação das funções previstas nos referidos quadro e organograma, convém destacar que não se tratam de setores ou divisões dos órgãos gestores da educação muni- cipal,e sim de funções que necessariamente devem ser por eles assumidas, independentemente do porte do Município, da rede municipal de ensino e, portanto, do próprio órgão gestor da educação. Antes de passarmos ao exame das funções das Secretarias de Educação conforme o novo paradigma de gestão educacional, cabe ainda lembrar que, uma vez definidas essas funções e sub-funções, será necessário e convenien- te buscar apoio de especialistas em administração pública e teoria das orga- nizações para a elaboração definitiva dos organogramas a serem adotados pelas Secretarias Municipais de Educação. Os organogramas apresentados neste trabalho baseiam-se na concepção clássica segundo a qual as organiza- ções correspondem a uma reunião de pessoas para realização de fins comuns e, portanto, implicam coordenação de esforços e distribuição ordenada de responsabilidades entre os integrantes do grupo. Assim, as linhas contínu- as no organograma indicam subordinação e as tracejadas, vinculação não hierárquica – é o caso da relação da Secretaria com os conselhos sociais da área da educação. Essa maneira de representação gráfica da estrutura orga- nizacional das Secretarias não implica necessariamente processo decisório e relacionamento interno de caráter autoritário. Isso depende das formas de comunicação adotadas internamente pela Secretaria e da maneira como as decisões são tomadas – exclusivamente pelo secretário (a) ou com partici- pação de seus auxiliares mais diretos e, em cada setor, isoladamente por seu responsável direto ou com participação de seus demais integrantes. Por outro lado, entendemos que podem ser adotadas outras formas de representação gráfica para esses organogramas, substituindo a dimensão vertical por outra caracterizada pela horizontalidade, de maneira a melhor representar a nova 79LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO dimensão democrática e participativa em que se deve fundamentar a gestão educacional. Função de Coordenação e Representação Política: Corresponde à relação interna com o órgão municipal de educação e ao relacionamento com o mundo exterior. A função de coordenação implica a condução de todas as atividades desenvolvidas pela Secretaria de Educação, ou seja, a coordenação do trabalho interno da Secretaria, assegurando o não afastamento de seus objetivos e atribuições próprias, a integração e não su- perposição de competências entre seus diferentes setores, e a coerência na implementação de suas ações. Para o desempenho desta função, é necessário atentar para o processo interno de comunicação (quem seleciona e transmite as informações necessárias aos trabalhos da Secretaria e como o faz – perio- dicidade, meios de comunicação etc.) e para o processo de tomada de deci- sões. O (a) secretário (a) municipal de educação deve dirigir pessoalmente a tomada das principais decisões relativas ao processo educacional no âmbito do Município; entretanto, não deve fazê-lo sozinho – é recomendável a ins- tituição de um conselho diretor com a participação de seus principais asses- sores – e deve delegar a esses assessores e outros integrantes de sua equipe a competência para deliberar sobre questões setoriais em consonância com a política geral da Secretaria. Organismos de decisão colegiada já vêm sendo instituídos em Secretarias Municipais de Educação. Por exemplo, na estrutu- ra organizacional da Secretaria de Educação e Promoção Social de Gravatá, no Estado de Pernambuco, está previsto um Colegiado de Direção Superior constituído pelo (a) próprio (a) Secretário (a) e pelos Titulares das Diretorias de Planejamento, Ensino e Coordenação Escolar, e Administrativa. A função de representação diz respeito à relação com todos os órgãos, ins- tituições e setores sociais fora da Secretaria. Incluem-se aí, por exemplo: articulação com o Prefeito, outras secretarias municipais, Câmara de Verea- dores etc.; colaboração com a União, Estado e outros Municípios, por meio da relação com o MEC e seus órgãos, como o INEP, FNDE, SEF, Fundes- cola etc.; com a Secretaria Estadual de Educação, por intermédio do setor responsável pela articulação com os Municípios e outros setores do referido órgão; com a UNDIME, seção estadual e nacional, e grupos de Municípios 80 CADERNOS ASLEGIS 18 reunidos em associações regionais e/ou em consórcios intermunicipais etc.; relação institucional com os conselhos sociais existentes no Município, es- pecialmente com os da área da educação, como o Conselho do Fundef e o da Alimentação Escolar e, quando já instituído, o Conselho Municipal de Educação, e também com associações, entidades e sindicatos representativos da comunidade educacional, como sindicatos de professores e associações de pais; parcerias com empresas, organizações não governamentais, clubes sociais e outras instituições da sociedade civil. Em qualquer estrutura organizacional da Prefeitura, o desempenho dessa função é atribuição do principal responsável pela gestão da educação no Município. Em geral, é competência do (a) secretário (a) municipal de educação. Em Municípios de pequeno porte, esta função pode ser desem- penhada exclusivamente pelo (a) secretário (a), chegando em Municípios de grande porte, com gestão educacional mais complexa, a envolver, além do (a) secretário (a), também um (a) secretário (a) adjunto (a) ou diretor (a) geral, uma secretaria executiva e assessoria (s). Função de Planejamento e Avaliação Educacional: Corresponde à função estratégica da Secretaria de Educação de planejar e acompanhar a execução das atividades educacionais no âmbito do Municí- pio, no que se refere à sua rede de escolas, ao sistema municipal de ensino, se já instituído, e à articulação e colaboração com as instituições educacionais integrantes de outras redes e sistemas de ensino presentes no Município, e também de implementar processos de avaliação dos serviços educacionais oferecidos à população, por meio de iniciativas próprias ou em parceria com outros entes federados e/ou instituições educacionais. Esta função tem sua maior expressão na elaboração dos planos municipais de educação e no acompanhamento e avaliação permanente de sua execução. Por força do ordenamento jurídico vigente no País, os Municípios devem elaborar planos de educação integrados aos Planos Plurianuais – PPA das Prefeituras, com duração de quatro anos, e planos decenais, para o período de 2001/2010, em consonância com o Plano Nacional de Educação, vigente desde janeiro de 2001. 81LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO Embora presente em organogramas de Secretarias de Educação, a função de planejamento foi até agora, na prática, pouco desempenhada por essas Se- cretarias, por não haver compreensão da sua necessidade e importância, e/ou ausência de dados e informações sobre a realidade local para permitir um diagnóstico correto da educação municipal, e/ou, ainda, falta de competência técnica em seus quadros para a realização dessa tarefa. Já a função de ava- liação era pouco prevista e quase não implementada. Nas estruturas organi- zacionais tradicionais, as Secretarias de Educação desempenhavam o papel de inspeção e supervisão dos estabelecimentos de ensino, o que implicava conferir documentos para verificar o cumprimento da legislação e normas educacionais e a correção dos registros escolares. Entretanto, não era presen- te na gestão da educação a concepção segundo a qual cabe ao Poder Público a avaliação institucional do funcionamento das escolas e órgãos da educação e dos resultados do processo educacional, entendidos como o rendimento escolar do alunos aferido em procedimentos externos de avaliação. Ao mesmo tempo, para o bom desempenho da função de planejamento edu- cacional, afirma-se a compreensão que é preciso que o órgão gestor da edu- cação desenvolva competências e seorganize para participar da elaboração e execução do orçamento municipal e para manter um setor de estatísticas e informações educacionais. Em conseqüência, essa função desdobra-se nas seguintes sub-funções: Sub-função de planejamento e programação e execução orçamentária: Cabe a essa sub-função coordenar o processo de elaboração, acompanha- mento e avaliação do plano municipal de educação e de quaisquer outras ações de planejamento educacional no Município, como as relativas à ex- pansão da rede física ou à reconstrução e reforma de prédios escolares. Em articulação com a função de coordenação e representação política, deve en- carregar-se do desenvolvimento de mecanismos de participação da socieda- de civil na formulação, acompanhamento e avaliação da política educacional no Município. Para coordenar o processo de planejamento, é necessário, por exemplo, desenvolver ou apoiar a realização de pesquisas sobre a realidade da educação municipal e, em articulação com as sub-funções de informações e estatísticas educacionais e de avaliação educacional, utilizar os dados es- 82 CADERNOS ASLEGIS 18 tatísticos coletados pelo Censo Escolar e outros instrumentos de pesquisa no planejamento educacional no Município. Por fim, sendo o plano municipal de educação necessariamente de duração plurianual, é preciso concretizá- lo em planos anuais de trabalho da Secretaria Municipal de Educação, que devem ser formulados de forma articulada com a elaboração do orçamento para a educação municipal. Portanto, com base no conhecimento das fontes de financiamento da educa- ção e da legislação relativa às despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino - MDE e ao Fundef, cabe também ao encarregado por esta sub- função a coordenação da elaboração do orçamento anual da Secretaria Muni- cipal de Educação e acompanhamento de sua execução. Para isso, é preciso, por exemplo: acompanhar a arrecadação de impostos municipais e o repasse à Prefeitura das transferências constitucionais de impostos, inclusive dos recursos do Fundef; exercer o controle sobre a aplicação dos recursos desti- nados às despesas com MDE, orientando os diferentes setores da Secretaria e outros órgãos municipais sobre sua correta utilização; articular-se com o Prefeito, secretarias e/ou órgãos da Prefeitura responsáveis pela fazenda (ou finanças), planejamento e administração, de forma a assegurar o uso correto dos recursos vinculados para o ensino; assessorar o (a) secretário (a) municipal de educação no relacionamento institucional com o Conselho do Fundef, Conselho Municipal de Educação, Câmara de Vereadores, Tribunal de Contas, Promotoria Pública etc. em assuntos relativos ao financiamento da educação no Município; analisar os documentos pertinentes à gestão fi- nanceira da educação, como extratos bancários, balancetes de receita e des- pesa, demonstrativos da tesouraria etc.; elaborar pareceres e relatórios sobre a aplicação dos recursos da educação; fornecer, no processo de elaboração dos planos municipais de educação, projeções dos recursos disponíveis para o ensino no Município nos anos de vigência desses planos. Sub-função de informações e estatísticas educacionais: Além de acompanhar e supervisionar a aplicação anual do Censo Escolar e outros levantamentos do INEP/MEC no Município, cabe ao encarregado por esta sub-função manter, na Secretaria, informações e estatísticas educacio- nais atualizadas sobre a realidade da educação no Município. Para isso, ao lado dos resultados dos censos e outros dados do INEP, obtidos junto a esse 83LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO Instituto (via correspondência ou internet) ou junto à Secretaria Estadual de Educação e também de indicadores econômicos e sociais obtidos junto ao IBGE, este setor da Secretaria Municipal deve, dentro de suas possibilida- des, proceder à coleta e organização de outras informações relevantes para o planejamento e a gestão educacional no Município. Além disso, é necessário assessorar os outros setores da Secretaria na utilização e interpretação das informações e estatísticas educacionais disponíveis, por exemplo, no plane- jamento da educação no Município e na elaboração das propostas pedagógi- cas das escolas. Em Municípios de pequeno porte, a implementação dessas tarefas pode se viabilizar pela colaboração com outras Prefeituras e/ou pela assistência técnica do Estado e/ou da União. Sub-função de avaliação educacional: Como já dito, esta sub-função constitui tarefa relativamente nova para os órgãos gestores da educação. Trata-se de superar as antigas práticas de inspeção e supervisão, de caráter predominantemente burocrático, mais preocupadas com a observância das regras legais do que com os resultados do sistema educacional, por procedimentos novos e participativos que visem à melhoria da qualidade da educação escolar oferecida à população, enten- dida como superação do fenômeno da evasão escolar, aumento das taxas de aprovação e promoção na escola, e melhoria dos indicadores de desempenho acadêmico dos alunos. Convém ressaltar a necessária articulação entre as três dimensões da ava- liação educacional: avaliação do rendimento escolar do aluno, avaliação do desempenho profissional do magistério (e também dos demais servidores da educação) e avaliação institucional das escolas e dos órgãos municipais de educação (da própria Secretaria e dos conselhos da área educacional). No caso da avaliação externa do rendimento escolar, cabe a este setor da Secre- taria Municipal acompanhar a realização do SAEB e, se for o caso, imple- mentar no Município sistema estadual de avaliação externa da aprendizagem escolar, participando ativamente das discussões relativas ao seu planejamen- to, orientando suas escolas em relação a esse processo, e, principalmente, utilizando os resultados da avaliação para reprogramar ações no âmbito da educação municipal, por exemplo, relativas à formação continuada do ma- gistério e a revisões e adaptações curriculares. 84 CADERNOS ASLEGIS 18 Quanto à avaliação de desempenho do magistério e à avaliação institucional das unidades escolares e órgãos educacionais, há ainda mais o que fazer, pois se trata de desenvolver e experimentar, com o objetivo de institucio- nalização, modelos e procedimentos de avaliação. Para isso, os Municípios precisarão buscar parcerias com agências de formação e outras instituições educacionais. Por fim, cabe enfatizar a necessária articulação desta sub-função de ava- liação educacional com as atividades de planejamento educacional no seu conjunto e com a função de desenvolvimento da gestão escolar, em todas as suas dimensões. Função de Desenvolvimento da Gestão Escolar: Esta função constitui o principal desafio para a implementação de um novo padrão de gestão educacional. Trata-se de concretizar, na definição das funções e da estrutura da Secretaria de Educação, seu novo papel face à autonomia das escolas. A Secretaria passa, assim, a desempenhar duas fun- ções estratégias básicas: uma delas relativa à educação municipal vista em seu aspecto geral, que é a de planejamento e avaliação educacional, e outra que é a de apoio ou suporte ao processo educacional que se desenvolve na escola. Não se trata mais, por exemplo, de organizar currículos escolares nas Secretarias para que os estabelecimentos de ensino os implementem, e sim de prestar assessoria técnica e acompanhamento permanente às unidades escolares para que elas, com base nas diretrizes curriculares nacionais e nas normas complementares do respectivo sistema de ensino, elaborem e execu- tem suas propostas pedagógicas. Nesta função, sobressai-se a atribuição de suporte pedagógico, pois se refere à atividade-fim da escola, qual seja, o pro- cesso educacional propriamente dito e a aprendizagem do aluno. As demais dimensões do desenvolvimentoda gestão escolar referem-se a atividades- meio, qual seja a gestão de recursos humanos, financeiros e materiais pela escola e o desenvolvimento da gestão democrática das unidades escolares. Sub-função de suporte pedagógico: Esta função pode ser sintetizada na atribuição de assessorar as escolas na elaboração e execução de sua proposta pedagógica, primeira e principal in- cumbência dos estabelecimentos de ensino segundo a LDB (art. 12). 85LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO Para isso, os órgãos gestores da educação devem, por exemplo: assessorar as equipes diretivas e os professores no estudo e discussão das diretrizes curriculares nacionais para os níveis e modalidades de educação escolar oferecidas pela rede ou sistema municipal de ensino; desenvolver programas de formação e atualização para as equipes diretivas, professores e pessoal auxiliar que atuam nesses níveis e modalidades de educação escolar, com ênfase na educação infantil, por ser uma das áreas de atuação prioritária dos Municípios e encontrar-se em processo de transição relativo à sua inte- gração aos sistemas educacionais; assessorar as escolas regulares e apoiar os professores no atendimento aos educandos com necessidades especiais. Convém ressaltar que esse trabalho deve desenvolver-se, na Secretaria, de forma integrada e articulada com as atividades implementadas na função de planejamento e de avaliação educacional. Por exemplo, os procedimentos de avaliação externa do rendimento do aluno precisam necessariamente tomar como ponto de partida o fazer pedagógico das escolas e, principalmente, seus resultados precisam reverter para dentro das unidades escolares no sentido de se agir sobre fragilidades e deficiências detectadas no processo de avaliação. As ações relativas ao suporte pedagógico da Secretaria de Educação às es- colas devem considerar os níveis e modalidades de educação escolar que o Município deve oferecer à sua população, a saber: educação infantil, ensino fundamental para crianças e adolescentes na faixa etária apropriada, educa- ção de jovens e adultos no nível do ensino fundamental, educação especial na educação infantil e no ensino fundamental. Além disso, se for o caso, deve dispensar a necessária atenção à educação indígena. A centralidade do suporte pedagógico às escolas no conjunto das incumbências da Secretaria é destacada no organograma apresentado à página 104, pois somente nessa dimensão de suas funções é detalhado este terceiro nível de sub-funções. Sub-função de apoio administrativo e financeiro: Nesta sub-função, cabe à Secretaria apoiar às escolas, prestando-lhes assis- tência técnica e assessoria no que se refere à gestão de recursos humanos, financeiros e materiais. Quanto aos recursos humanos, é atribuição do encar- regado por esta sub-função assessorar as escolas nas tarefas de, por exemplo, elaboração de seu quadro de pessoal, levantamento de necessidades e seu 86 CADERNOS ASLEGIS 18 encaminhamento à Secretaria; manutenção dos registros funcionais de seus servidores atualizados; aplicação da legislação vigente no que se refere à dis- tribuição de trabalho entre os servidores da escola, observando habilitação, funções dos respectivos cargos, duração e composição da jornada de traba- lho etc.; encaminhamento das informações relativas à freqüência dos servi- dores para efeito de pagamento ao órgão indicado da Prefeitura (secretaria de administração ou de educação que repassa essas informações para o setor de pagamento); realização dos procedimentos de avaliação de desempenho internos à escola; utilização das horas-atividade na jornada de trabalho do magistério para promoção de atividades de formação continuada etc. Na gestão financeira, as escolas têm hoje a incumbência de: elaborar planos de aplicação dos recursos financeiros recebidos do MEC e/ou da Prefeitura; executar as despesas com estes recursos, com observância da legislação refe- rente às despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino e às normas gerais do direito público financeiro; prestar contas das despesas realizadas com os recursos geridos diretamente pela escola; proceder à captação de recursos para suplementação das necessidades da escola. No desempenho destas tarefas, a escola deve contar com apoio na forma de assessoria técni- ca e supervisão da Secretaria de Educação. Em articulação com o setor de finanças da Secretaria, o encarregado do apoio administrativo e financeiro às escolas deve acompanhar e controlar o repasse de recursos financeiros às unidades escolares da rede municipal de ensino, de acordo com os critérios estabelecidos na legislação local, e analisar as prestações de contas encami- nhadas pelas escolas. A gestão dos recursos materiais da escola (terreno, prédio, mobiliário, equipamentos, material didático, demais materiais de consumo – inclusive os destinados à merenda escolar, e serviços, como energia elétrica, abaste- cimento de água e gás) implica as fases de planejamento (levantamento de necessidades e seleção), aquisição, manutenção, reposição e alienação ou descarte. O encarregado pelo apoio à gestão administrativa e financeira das escolas deve, por exemplo: alertar constantemente sobre a necessidade de observar os princípios de adequação dos recursos materiais aos objetivos da proposta pedagógica da escola e de equilíbrio entre a economia de recursos financeiros e a qualidade dos bens e serviços adquiridos; orientar as escolas sobre o sistema de administração de material e patrimônio adotado pela Pre- 87LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO feitura, relativo, por exemplo, ao registro dos bens sob responsabilidade da escola (identificação por plaqueta, etiqueta ou outro meio), procedimentos administrativos a serem adotados nos casos em que a escola recebe bens por doação ou os adquire com recursos financeiros sob sua gestão, em que ocorre furto, perda ou destruição de bem sob a guarda da escola, ou, ainda, para alienação de bens públicos. O desempenho desta sub-função deve se dar em articulação direta com a Função de Apoio Administrativo e Financeiro da Secretaria. Dependendo do porte do Município, pode não ser necessária a presença de mais de um servi- dor para tratar dos assuntos relativos à administração e finanças no âmbito da Secretaria e no setor de apoio às escolas. Entretanto, é preciso que a escola seja considerada na sua unidade pela Secretaria, pois assim será possível implementar um padrão de gestão escolar que tenha na dimensão pedagógica sua centralidade e onde efetivamente a gestão de recursos humanos, mate- riais e financeiros constitua atividade-meio da unidade escolar. Sub-função de desenvolvimento da gestão democrática: Trata-se de assessorar as escolas nos processos de gestão participativa, por meio de ações como: mobilizar e assessorar a instituição de conselhos esco- lares e acompanhar o seu funcionamento; apoiar a implementação de dife- rentes formas de participação dos pais na escola e de integração da escola com a comunidade; orientar a organização de entidades representativas de segmentos da comunidade escolar, como associações de pais, grêmios estu- dantis (conforme preconizam a Lei federal 7.398/85 e o ECA, art. 53, IV) etc., assim como a relação da escola com essas e outras entidades represen- tativas da sociedade local, como associações de bairro, clubes de mães etc. Cabe também ao encarregado por esta sub-função assessorar o (a) secretário (a) municipal de educação e as próprias comunidades escolares nos proces- sos de escolha dos diretores, assim como coordenar os programas de capa- citação dos gestores escolares a serem implementados pela Secretaria. Na verdade, será importante e mesmo necessário que todos os técnicos da Secre- taria de Educação que atuam no desenvolvimento da gestão escolar tomemconhecimento e/ou participem ativamente das capacitações direcionadas às equipes gestoras das escolas. Por fim, convém ressaltar o caráter eminente- mente pedagógico da gestão escolar, na medida em que, entre as finalidades 88 CADERNOS ASLEGIS 18 da educação básica, inscreve-se a de formação para o exercício da cidadania, mesmo porque participação e democracia aprendem-se na prática. Sub-função de educação rural e registros escolares: Nesta sub-função, trata-se de coordenar o processo de adequação da oferta da educação escolar às peculiaridades da vida no meio rural, como preco- niza a LDB (art. 28). Em articulação com outras funções e sub-funções da Secretaria Municipal de Educação, é preciso, por exemplo, assegurar a im- plementação de currículos escolares apropriados às necessidades e interesses dos alunos na zona rural; garantir transporte escolar no trajeto residência- escola-residência para os estudantes que dele necessitam; promover a parti- cipação das famílias e da comunidade na gestão da escola rural etc. Caberá ainda a esse setor da Secretaria implementar, quando for o caso, projetos de nucleação de escolas; isto porque são metas do Plano Nacional de Educação transformar progressivamente as escolas unidocentes em escolas de mais de um professor (...) e associar as classes isoladas unidocentes remanescentes a escolas de, pelo menos, quatro séries completas (metas nº 15 e 16 do En- sino Fundamental). Cabe também a esta sub-função executar na Secretaria atividades relativas às pequenas escolas que não contam com diretor e/o secretário escolar, ativi- dades que, no caso das escolas maiores, são realizadas nas próprias unidades escolares, como, por exemplo: registrar os resultados do rendimento escolar dos alunos, elaborar atas e ofícios, expedir atestados e históricos escolares, fornecer guias de transferência de alunos, encaminhar a freqüência dos professores etc. Este setor da Secretaria pode também ser responsável por elaborar orientações gerais sobre registros escolares para todas as unidades escolares da rede ou sistema municipal de ensino e por organizar a guarda de documentos escolares, no caso do encerramento das atividades de escolas municipais. Conforme a estrutura organizacional de cada Secretaria, esses documentos podem ficar guardados junto aos registros escolares ou aos ser- viços gerais, no arquivo passivo. Função de Administração e Finanças: Esta função corresponde às atividades-meio da Secretaria Municipal de Edu- cação, ficando sua dimensão nesta Secretaria na dependência da estrutura or- 89LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO ganizacional da Prefeitura. Por exemplo, as atividades de pessoal e de execu- ção financeira podem ser realizadas quase que integralmente pela secretaria responsável por esta área da administração ou podem ser distribuídas pelas diferentes secretarias municipais. Hoje, no País, estão em implementação diferentes modelos de estrutura organizacional da administração pública municipal. Ao reorganizar o órgão gestor da educação deve-se considerar a opção de organização adotada pela respectiva Prefeitura. Sub-função de pessoal: Em primeiro lugar, os procedimentos relativos a pessoal, que as escolas rea- lizam em relação aos servidores nelas lotados, são de responsabilidade deste setor em relação ao pessoal lotado na própria Secretaria. Além disso, outras incumbências relativas à gestão dos recursos humanos da rede municipal de ensino são de responsabilidade deste setor, como por exemplo: designação e alteração de designação dos servidores entre as escolas, controle da cedência dos servidores para fora do sistema de ensino, encaminhamentos relativos à contratação temporária e realização de concursos públicos para a área da educação, procedimentos referentes à gestão do plano de carreira do magis- tério, tais como concessão de vantagens e encaminhamento da progressão funcional na carreira etc. Sub-função de execução financeira: Trata-se aqui de executar os procedimentos relativos à execução financeira realizada na própria Secretaria. Por exemplo, cabe a este setor encaminhar solicitação de adiantamentos financeiros à secretaria da fazenda, realizar despesas e efetuar pagamentos, elaborar e encaminhar prestações de contas etc. Este setor deve trabalhar de forma articulada com o apoio administrativo e financeiro às escolas municipais. Sub-função de material e patrimônio: Cabe a este setor realizar as atividades relativas à gestão de material e pa- trimônio da própria Secretaria e, no que couber, das escolas. Por exemplo, é preciso proceder ao levantamento anual das necessidades de material da Secretaria e das escolas; encaminhar solicitação de material a outros órgãos 90 CADERNOS ASLEGIS 18 da Prefeitura ou realizar os procedimentos necessários à sua aquisição; orga- nizar e controlar o material armazenado na Secretaria; manter atualizado os registros de distribuição e de estoque de material, o inventário do mobiliário e outros materiais permanentes, o registro de empréstimo de material; coor- denar a distribuição de material às escolas; acompanhar projetos de obras de construção, reforma e ampliação de escolas; articular-se com o setor competente da Prefeitura para acompanhar os processos de legalização e re- gularização de terrenos e prédios da Secretaria e das escolas, inclusive para a construção de novos estabelecimentos de ensino etc. Face à autonomia da es- cola, hoje é bem menor o número de atividades de aquisição, armazenagem e distribuição de bens materiais, realizado pelas Secretarias em relação ao passado recente. Entretanto, da mesma forma que o setor anterior, esta sub- função precisa ser desempenhada em articulação com o apoio administrativo e financeiro às escolas municipais, pois a Secretaria passa a ter a função de orientar as unidades escolares na realização das atividades relativas à gestão de material e patrimônio. Sub-função de serviços gerais: Nesta sub-função, incluem-se atividades como: executar tarefas de recepção ao público; controlar o recebimento, distribuição e expedição de corres- pondência; controlar o uso dos veículos da Secretaria; executar serviços de copa e tarefas de limpeza, higiene e vigilância do prédio; realizar trabalhos relativos à reprodução e ao arquivamento de documentos (organização dos arquivos ativo e passivo) etc. A organização deste setor da Secretaria deve variar significativamente de acordo com o porte da gestão educacional. Por exemplo, como já vimos, no arquivo passivo da Secretaria pode ficar tam- bém armazenada a documentação das escolas desativadas da rede municipal de ensino. Sub-função de assistência ao educando: Hoje, a implementação dos programas suplementares ao educando ocupa boa parte do tempo e das ações das Secretarias Municipais de Educação, notadamente no que se refere à merenda e ao transporte escolar. Assim, a esse setor da Secretaria cabe, por exemplo: coordenar a aquisição e distri- 91LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO buição dos gêneros do programa de alimentação escolar, assessorando, em articulação com os encarregados do desenvolvimento da gestão escolar, as unidades escolares na execução do referido programa; realizar treinamentos de merendeiras e orientar a organização dos cardápios da merenda escolar; articular-se com a secretaria municipal de saúde e com outras instituições para a implementação de programas de saúde do escolar; coordenar o pro- grama de transporte escolar no âmbito do Município; orientar a escolha do livro didático pelos professores e acompanhar sua distribuição às escolas etc. Além disso, hoje é freqüente que Prefeituras Municipais implementem pro- gramas suplementares de material didático-escolar, por meio da aquisição e distribuição gratuita de cadernos, lápis, borrachas,pastas, agendas, unifor- mes ou fardamentos etc. aos alunos de sua rede de ensino. Organização da gestão educacional por porte dos Municípios Para assegurar o desempenho das funções descritas anteriormente, são apre- sentadas a seguir diferentes possibilidades de organização das Secretarias Municipais de Educação conforme o porte dos Municípios, considerando-se, por exemplo, a população e a dimensão da gestão educacional, segundo a matrícula e o número de escolas da rede municipal de ensino. Nos Anexos III, IV e V, encontram-se três propostas de organogramas para organização das Secretarias Municipais de Educação, corresponden- do respectivamente a Municípios de pequeno, médio e grande porte. Na estruturação desses organogramas, foi adotada a seguinte seqüência para apresentação dos níveis hierárquicos no interior da Secretaria: gabinete do (a) secretário (a) diretorias coordenações gerências. Observe-se que, conforme a estrutura organizacional da Prefeitura, a gestão da educação municipal por estar integrada com a saúde, assistência social, cultura etc., em secretaria mais abrangente, como a de Desenvolvimento Social e Promoção Humana da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, no Estado de Pernambuco. Nesse caso, as propostas aqui apresentadas referem- se ao setor ou à secretaria executiva da educação na estrutura dessa secretaria mais abrangente. 92 CADERNOS ASLEGIS 18 Em qualquer porte de Município, o (a) secretário (a) municipal de educação responde diretamente pela função de coordenação e representação política. Nos Municípios pequenos, o (a) secretário (a) desempenha integralmente esta função, sendo assessorado diretamente pelos diretores responsáveis pelas outras três funções básicas da Secretaria; nos Municípios de porte médio, o (a) secretário (a) já pode contar com a presença de um (a) diretor (a) geral que o substitui e assessora diretamente na função de coordenação e representação política da Secretaria; e, nos Municípios grandes, além do (a) diretor (a) geral, compõem o grupo de trabalho do (a) secretário (a) muni- cipal de educação uma secretaria executiva, com chefe de gabinete e outros servidores, e assessorias técnica, jurídica, de articulação política e/ou de comunicação, encarregadas, por exemplo, da organização de material a ser utilizado pelo (a) secretário (a) em palestras sobre a educação no Município, de consultas ao setor jurídico da Prefeitura sobre questões educacionais, do levantamento de informações sobre demandas de segmentos sociais que so- licitam audiência com o (a) secretário (a), das relações com a imprensa (ou mídia). Nos Municípios de pequeno porte, pode ser suficiente a presença, além do (a) secretário (a), de mais três integrantes na área técnica, sendo dois com perfil mais técnico-pedagógico, para responderem pelas diretorias de plane- jamento e avaliação educacional e de desenvolvimento da gestão escolar, este com ênfase no suporte pedagógico das escolas, e outro com perfil mais técnico-administrativo, para assumir a responsabilidade pela diretoria de administração e finanças, inclusive para trabalhar em conjunto com o res- ponsável pela gestão escolar no que se refere à orientação às escolas quanto à gestão de recursos humanos, materiais e financeiros das unidades escola- res. Em Municípios efetivamente muito pequenos, com matrícula inferior a 1000 alunos, o (a) secretário (a) pode acumular o desempenho das funções de coordenação e representação política e de planejamento e avaliação edu- cacional. Nesse caso, além do (a) secretário (a), a Secretaria contaria com apenas mais dois integrantes, sendo um com perfil mais técnico-pedagógico, para responder pela diretoria de desenvolvimento da gestão escolar, este com ênfase no suporte pedagógico das escolas, e outro com perfil mais técnico-administrativo, para assumir a diretoria de administração e finanças. 93LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO Além disso, sempre será necessária a presença de servidores para funções de apoio, como servente (s), porteiro (s) ou vigilante (s), motorista (s) etc. Para desempenhar a função de suporte pedagógico às escolas, na impossibi- lidade de possuir em seu próprio quadro professores, técnicos e/ou pedago- gos em quantidade suficiente, a Secretaria deve articular-se com outros entes federados e organizações, especialmente com as instituições de educação superior. Assim, o (a) diretor (a) de desenvolvimento da gestão escolar deve atuar como mediador entre as necessidades das unidades escolares e as agências e instituições educacionais que produzem teoria e conhecimentos pedagógicos, nas diferentes áreas do saber presentes nos currículos escola- res da educação básica. Trata-se, assim, de firmar contratos de consultoria com instituições credenciadas, superando a impossibilidade de contar com quadros técnicos e assessorias na estrutura organizacional da Secretaria, vale dizer, em seu organograma. Em Municípios de porte médio, o organograma da Secretaria, além do (a) secretário (a) e do (a) diretor (a) geral, prevê três diretorias, organizadas em coordenações, cujas tarefas específicas foram descritas quando da apresen- tação das funções e sub-funções das Secretarias Municipais de Educação. A diretoria de planejamento e avaliação educacional organiza-se com as coordenações de planejamento e programação e execução orçamentária, de informações e estatísticas educacionais, e de avaliação educacional. Na di- retoria de desenvolvimento da gestão escolar, encontram-se as coordenações de suporte pedagógico, de gestão administrativa e financeira, de desenvolvi- mento da gestão democrática e de educação rural e registros escolares. Por fim, a diretoria de administração e finanças inclui as coordenações de pesso- al, execução financeira, material e patrimônio, serviços gerais e assistência ao educando. A realidade de cada Município determinará qual a dimensão necessária para cada uma dessas coordenações. Por exemplo, o volume de trabalho da coordenação de execução financeira fica na dependência da forma como a Prefeitura está organizada e, em conseqüência, do papel desempenhado pela Secretaria da Educação; assim, serão mais ou menos volumosas as tarefas dessa coordenação se o (a) secretário (a) é ordenador de despesas e a maioria das despesas com recursos vinculados à MDE é efetuada diretamente pela Secretaria ou se, ao contrário, essas despesas são realizados por outro órgão da Prefeitura Municipal. Nesse aspecto, não é ne- 94 CADERNOS ASLEGIS 18 cessário que a Secretaria de Educação execute diretamente a maior parte das atividades relativas à gestão de pessoal (elaboração da folha de pagamento, emissão de contra-cheques etc.), de recursos materiais e patrimônio (ma- nutenção de almoxarifado, aquisição de bens etc.) e de recursos financeiros (acompanhamento da arrecadação de impostos, prestação de contas etc.). Entretanto, é imprescindível que o gestor da educação possa acompanhar as ações de interesse direto da educação que são realizadas no âmbito de outra (s) secretaria (s). Para isso, pode contribuir decisivamente o processo de in- formatização da administração municipal, ao possibilitar que as secretarias comuniquem-se em rede, com acesso on-line sobre todas as informações de interesse de cada uma delas. Entre as coordenações que compõem a diretoria de administração e finanças, a de assistência ao educando deve assumir muita importância, na quase tota- lidade dos Municípios, pelo significado que os programas de transporte e de alimentação escolar adquiriram na gestão da educação pública brasileira nos últimos anos, especialmente na municipal. Nos Municípios de porte médio, pelo menos a coordenação de suporte pe- dagógico deverá subdividir-se em gerências que correspondem aos níveis e modalidades de educação escolar oferecidas na redeou sistema municipal de ensino, desta forma, assegurando que a dimensão pedagógica efetivamente constitua-se no aspecto central da gestão da educação no Município. Nos Municípios de grande porte, a coordenação de planejamento e pro- gramação e execução orçamentária poderá organizar-se em duas gerências específicas e a coordenação de avaliação educacional deverá, por sua vez, subdividir-se nas gerências de avaliação externa do rendimento escolar do aluno, de avaliação do desempenho profissional do magistério e demais ser- vidores da educação, e de avaliação institucional das escolas e dos órgãos da educação municipal. Da mesma forma, pelas razões antes expostas, na dire- toria de administração e finanças, a coordenação de assistência ao educando deve desdobrar-se nas gerências de transporte escolar e de merenda escolar. Observe-se que todas as coordenações podem ser subdivididas em diferentes gerências; entretanto, é intenção apontar que os setores da Secretaria com maior importância (inclusive no que se refere à expressão no organograma 95LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO e quantitativo de pessoal) devem ser aqueles mais diretamente relacionados ao fazer pedagógico das escolas. Por fim, cabe ressaltar que essas estruturas organizacionais precisam ser compatibilizadas com a realidade de cada Município, de forma a construir o caminho entre a estrutura hoje vigente e, muitas vezes, já aprovada em lei, inclusive para a Prefeitura como um todo, e aquela à qual se pretende chegar. Implantação de um novo padrão de gestão da educação municipal A implementação de um novo padrão de gestão da educação nos Municípios pressupõe não só a definição de uma proposta de estrutura organizacional, com base nas novas funções a serem desempenhadas pela Secretaria Muni- cipal de Educação, mas também a execução de várias ações que possibilitem a implantação desse novo modelo gerencial. Tomando como referência a concepção de modernização da gestão presente no Plano Nacional de Educação e as necessidades apresentadas por Municí- pios em diferentes Estados brasileiros, entende-se que são necessárias para o desenvolvimento do novo padrão de gestão educacional as seguintes ações: 1. Informatização das Secretarias, implicando não somente a aquisição de computadores mas também a disponibilização de programas (sof- twares), a capacitação de pessoal para sua utilização e a montagem de redes de gestão entre Municípios, entre Municípios e Estado e, ainda, com a União, de forma a assegurar a efetiva informatização da gestão educacional. O PNE fixa a meta de informatização de todas as Secreta- rias Municipais de Educação em dez anos, e, em cinco anos, pelo me- nos de metade dos Municípios com mais de 20.000 habitantes. Propõe também informatizar, gradualmente, com auxílio técnico e financeiro da União, a administração das escolas com mais de 100 alunos, conec- tando-as em rede com as Secretarias de Educação, de tal forma que, em dez anos, todas as escolas estejam no sistema. A informatização pode assegurar condições para agilização da gestão educacional, sua maior transparência, e desenvolvimento de processos de controle de 96 CADERNOS ASLEGIS 18 qualidade, pela possibilidade de acompanhamento da evolução de indi- cadores educacionais. 2. Capacitação de pessoal técnico das Secretarias, para, além da utiliza- ção da informática em termos gerais, suprir, pelo menos, as necessida- des dos setores de informação e estatísticas educacionais, planejamento e avaliação. O PNE propõe que essa capacitação seja desenvolvida no prazo de cinco anos. Com a autonomia da escola e a gestão democrá- tica do ensino, os órgãos gestores da educação devem enfatizar suas funções de: coleta, organização e disseminação de informações sobre a realidade educacional; planejamento educacional, por meio da elabo- ração e implementação de planos de educação, de forma integrada, no caso dos Municípios, às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; organização de sistema de avaliação que articule avaliação ex- terna do rendimento escolar dos alunos com avaliação institucional dos estabelecimentos de ensino e avaliação de desempenho dos profissio- nais da educação. Essas funções não poderão ser implementadas sem a necessária capacitação de pessoal no âmbito das Secretarias. 3. Capacitação de gestores escolares, por meio da promoção de sua formação inicial em nível superior mas principalmente por meio de programas de formação continuada e em serviço, implementados de maneira regular na rede pública de ensino. Com a construção da auto- nomia da escola, avulta-se o papel dos gestores escolares na promoção da melhoria da qualidade da educação escolar, não sendo mais sufi- ciente apenas capacitação das equipes técnicas das Secretarias e dos professores. Enquanto a capacitação destes últimos tem sido bastante freqüente em diferentes redes de ensino no País, só recentemente vêm se desenvolvendo programas para capacitação de gestores que levam em conta a nova realidade da gestão escolar decorrente do processo de construção da autonomia das unidades escolares públicas de educação básica. Juntamente com diretores, vice-diretores, coordenadores peda- gógicos etc., devem também ser capacitados os integrantes dos conse- lhos escolares das escolas públicas de educação básica. 4. Capacitação de integrantes dos conselhos sociais na área da educa- ção, especialmente dos Conselhos Municipais de Educação, do Fundef e da Alimentação Escolar. Na implementação da gestão democrática 97LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO do ensino público, ganha especial importância a instituição de órgãos colegiados com presença de representantes de setores organizados da chamada sociedade civil. Em regra geral, esses conselhos devem cum- prir o papel de mediação entre o poder executivo e as demandas da sociedade, assegurando a participação social na formulação e no acom- panhamento da execução de políticas públicas setoriais e, em alguns casos, exercendo o controle social sobre as ações do executivo; por exemplo, quando têm a incumbência de aprovação prévia de presta- ções de contas do uso de recursos públicos, como é o caso do convênio da merenda escolar, do programa Recomeço e do Fundef. Entretanto, apesar do intenso processo de instituição de conselhos sociais nos Municípios brasileiros (parte como exigência de legislação federal), constata-se que a maioria deles não funciona ou funciona em condições extremamente insatisfatórias. Várias são as razões para isso, como falta de legitimidade de seus componentes, pressão política dos executivos, inexistência de condições para sua atuação (como local para reunião, material de expediente etc.), falta de conhecimentos técnicos necessá- rios para o exercício de suas atribuições etc. Alguns desses obstáculos para o bom funcionamento dos conselhos sociais podem ser enfrenta- dos por meio de programas de capacitação de conselheiros. Além disso, de forma a assegurar o necessário respaldo aos conselhos, reduzindo o risco da pressão e da intimidação política, recomenda-se parceria com o Ministério Público no planejamento e execução dos programas de capacitação desses órgãos colegiados. 5. Desenvolvimento de política de valorização dos recursos humanos, por meio de planos de carreira e remuneração para o magistério e avaliação de desempenho do pessoal da educação, visando à melhoria da atuação profissional e, em conseqüência, dos resultados de aprendi- zagem escolar dos alunos. Em geral, os gestores da educação municipal têm se reportado, de maneiras diversas, à gestão de pessoal como um dos principais desafios da gestão educacional – dificuldade de fazer os servidores cumprirem com suas obrigações, falta de compreensão política de seu papel na prestação de serviçospúblicos aos cidadãos, interferência política em defesa de interesses pessoais de servidores, reações de defesa corporativa dos interesses da categoria em prejuízo 98 CADERNOS ASLEGIS 18 da garantia do direito à educação aos cidadãos (como a não aceitação da ampliação da duração do ano letivo para 200 dias, identificada como proposta neoliberal) etc. Nesse sentido, a melhoria da gestão educa- cional passa necessariamente pelo desenvolvimento de proposta para avaliação de desempenho profissional de todos os que atuam na rede pública de ensino, uma das atuais urgências da educação brasileira. 6. Desenvolvimento de programas de acompanhamento e avaliação dos estabelecimentos de educação infantil. Sendo a oferta da educa- ção infantil responsabilidade dos Municípios, a expansão, manutenção e gestão dessa etapa inicial da educação básica constitui, hoje, um dos principais desafios enfrentados pela gestão municipal na área da edu- cação, em especial, como decorrência da incorporação das creches às respectivas redes e sistemas de ensino. Os Municípios estão às voltas com problemas relativos ao financiamento das instituições de educação infantil, à definição de seus quadros de pessoal no que se refere aos seus quantitativos e nível de formação, e à construção de propostas pedagó- gicas que dêem conta da especificidade dessa etapa da educação esco- lar, articulando adequadamente o binômio cuidar e educar as crianças na faixa etária de zero a seis anos de idade. De acordo com meta cons- tante do PNE, é necessário que se desenvolva, com participação das Secretarias Municipais de Educação, programa de acompanhamento e avaliação das instituições de educação infantil. No desenvolvimento desse programa, deve-se considerar a necessidade de instituir mecanis- mos de colaboração entre os setores de educação, saúde e assistência social na manutenção, expansão, controle e avaliação das instituições de atendimento das crianças de 0 a 3 anos de idade, conforme dispõe a meta nº 11 do Capitulo da Educação Infantil do PNE. Após a definição do novo organograma das Secretarias Municipais de Edu- cação, será necessário desenvolver estudos relativos a padrões mínimos de funcionamento dessas Secretarias, considerando os portes dos Municípios, visando a definição de espaços e equipamentos, quantitativo e habilitação do pessoal necessário ao desempenho das funções anteriormente estabele- cidas, assim como procedimentos e rotinas de trabalho Esse estudo deve ser realizado de forma articulada com a definição dos padrões mínimos de funcionamento das escolas, meta do Plano Nacional de Educação, e deverá, 99LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO entre outras recomendações, oportunizar parâmetros para a definição do quantitativo de pessoal adequado às Secretarias Municipais de Educação, fixado, por exemplo, como proporção da matrícula na rede municipal e/ou em todas as redes de ensino no Município. Por fim, convém lembrar que as Secretarias de Estado da Educação também precisam passar por uma reestruturação organizacional de forma a desempe- nhar as funções de gestão da sua rede de escolas e de coordenação do sistema estadual de ensino. Especial atenção deverá ser dispensada à colaboração dos Governos dos Estados com seus Municípios na oferta da educação bá- sica. As antigas relações de subordinação dos Municípios à Secretaria Esta- dual de Educação, predominantes na vigência da legislação educacional ora revogada, não evoluem automaticamente para a colaboração; ao contrário, a autonomia dos Municípios parece, às vezes, estar conduzindo a uma relação de concorrência ou competição entre a rede estadual e as municipais, outras vezes, reforçando a desarticulação ou paralelismo entre as redes públicas de ensino. Assim, a nova estrutura organizacional das Secretarias Estaduais de Educação deverá refletir uma nova relação com os Municípios, que deverão deixar de ser tratados à parte para serem considerados no conjunto das ações da Secretaria. DOCUMENTOS CONSULTADOS Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que “estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional”. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que “aprova o Plano Nacional de Educação”. MEC. Decreto n.º 3.772, de 14 de março de 2001, que “Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da Educação, e dá outras providências” e organograma disponível no site do Ministério. MEC. FUNDESCOLA. Programa de Apoio aos Secretários Municipais de Educação – PRA- SEM III. Caderno de Oficinas. Oficina 1 – Organização e Gestão da Educação Municipal, 100 CADERNOS ASLEGIS 18 elaborada por Marisa Timm Sari e Adeum Sauer. 4ª Parte – Qualificação das Secretarias para Funções Estratégias, p. 11 a 14. Brasília, 2001. MEC. FUNDESCOLA. Levantamento da Situação Institucional – LSI dos Órgãos Dirigentes Municipais de Educação. Questionário para preenchimento. Brasília, 2000. MEC. FUNDESCOLA. Levantamento da Situação Institucional – LSI dos Órgãos Dirigentes Municipais de Educação. Seleção de organogramas de quatro Municípios, a saber Aquiraz/CE, Jaru/RO, Maués/AM e Pirenópolis/GO, anexados no item 36 do questionário. Brasília, 2001. MEC. FUNDESCOLA. Minuta de Termo de Cooperação e Apoio Técnico a ser celebrado entre o MEC/SEF/FUNDESCOLA e Municípios. Mimeo. Brasília, 2001. MEC.INEP. SAEMEC – Sistema de Administração Escolar. Manual do Usuário. Brasília, 29 de maio de 2000. PREFEITURA MUNICIPAL DE AFOGADOS DA INGAZEIRA. Plano Municipal de Educa- ção 2002-2005. Secretaria de Educação, Cultura e Esporte. Afogados da Ingazeira/PE, 2002. PREFEITURA MUNICIPAL DO CABO DE SANTO AGOSTINHO. Caderno Municipal de Educação – Sistema Municipal de Ensino. Secretaria de Desenvolvimento Social e Promoção Humana – Secretaria Executiva de Educação. Cabo de Santo Agostinho/PE, 2002. PREFEITURA MUNICIPAL DO CABO DE SANTO AGOSTINHO. Organograma da Prefei- tura, incluindo o da Secretaria de Desenvolvimento Social e Promoção Humana e da Secretaria Executiva de Educação. Cabo de Santo Agostinho/PE, 2002. PREFEITURA MUNICIPAL DE CACHOEIRA DO SUL. Estrutura organizacional da Se- cretaria Municipal de Educação e Cultura de 1998, de 1999 e proposta em estudo em 2002. Cachoeira do Sul/RS, 2002. PREFEITURA MUNICIPAL DE GRAVATÁ. Plano Municipal de Educação 2002 – 2005. Se- cretaria de Educação e Promoção Social. Gravatá/PE, 2001. PREFEITURA MUNICIPAL DE GRAVATÁ. Relatório Anual de Ações Educacionais 2001. Secretaria de Educação e Promoção Social. Gravatá/PE, 2001. PREFEITURA MUNICIPAL DE GRAVATÁ. Regulamento da Secretaria de Educação e Pro- moção Social. Gravatá/PE, 2001. PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Relatório da Comissão de Formalização do Novo Organograma da Secretaria Municipal de Educação – maio de 1998 e Nova Estrutura da Secretaria Municipal de Educação – 1999. Porto Alegre/RS, 1998 e 1999. Mimeo. 101LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO BIBLIOGRAFIA ABREU, Mariza. Organização da Educação Nacional na Constituição e na LDB. Ijuí/RS, UNIJUÌ, 1998. 160 p. BARROS NETO, João Pinheiro de. Teorias de Administração: curso compacto: manual prático para estudantes & gerentes profissionais. Rio de Janeiro, Qualitymark Ed., 2001. 168 p. BEDÊ, Waldyr Amaral. “Estrutura e funcionamento do Órgão Municipal de Educação” in Município e Educação, organizado por Moacir Gadotti e José Eustáquio Romão. São Paulo, Cortez: Instituto Paulo Freire; Brasília, DF: IDEM, 1993. p. 33 a 69. FERRERIA, Naura S. C. e AGUIAR, Márcia Ângela S. da (orgs.). Gestão da Educação: impas- ses, perspectivas e compromissos. São Paulo, Editora Cortez, 2001. 2ª ed. 320 p. LOPES, Vera Neusa. “Órgão Municipal de Educação – Como definir a estrutura organizacionalmais adequada” in Revista do Professor. Porto Alegre, 10 (38): 41-46, abril/jun. 1994. _________________ . Secretaria Municipal de Educação. Texto elaborado para o FUNDESCOLA/MEC. Mimeo. 2000. WITTMANN, Lauro Carlos e GRACINDO, Regina Vinhaes (coords.). O Estado da Arte em Política e Gestão da Educação no Brasil: 1991 a 1997. Brasília, ANPAE, Campinas: Editora Autores Associados, 2001. 272 p. 102 CADERNOS ASLEGIS 18 ANEXO I Funções e Sub-funções das Secretarias Municipais de Educação FUNÇÃO SUB-FUNÇÕES SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ATIVIDADES COORDENAÇÃO E REPRESENTALÇAO POLÍTICA • Coordenação dos trabalhos intermos da Secretaria, assegurando inte- gração, não superposição e coerência nas ações (importantes os pro- cessos de comunicação interna e externa e de tomada de decisões). • Representação da Secretaria junto a Prefeito, outras secretarias, vereadores, MEC, Estado, outros Municípios, conselhos sociais, orga- nizações da sociedade civil etc. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EDUCACIONAL PLANEJAMENTO E PROGR. E EXEC. ORÇAMENTÁRIA • Coordenação do processo de elaboração, acompanhamento e avalia- ção do plano municipal de educação e do plano anual de trabalho da Secretaria • Coordenação da elaboração e acompanhamento da execução do orçamento anual da Secretaria de Educação INFORMAÇÕES E ESTATÍSTICAS EDUCACIONAIS • Manutenção atualizada das informações e estatísticas educacionais, com os resultados do Censo Escolar e outros levantamentos do INEP e indicadores sociais e econômicos do IBGE, e com outros dados coletados no Município • Assessoramento a outros setores da Secretaria e a escolas na uti- lização e interpretação das informações e estatísticas educacionais disponíveis AVALIAÇÃO EDUCACIONAL • Implementação de sistemas de avaliação externa de aprendizagem dos alunos no Município, como o SAEB e outros, participando de seu planejamento, orientação às escolas etc. • Desenvolvimento do processo de avaliação de desempenho profissio- nal dos servidores da educação • Desenvolvimento do processo de avaliação institucional das escolas e dos órgãos municipais da educação DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO ESCOLAR SUPORTE PEDAGÓGICO • Assessoramento às escolas para elaboração e execução de suas propostas pedagógicas • Estudo e discussão com as escolas sobre as diretrizes curriculares nacionais, parâmetros curriculares nacionais etc. • Desenvolvimento de programas de formação continuada para o magistério etc. APOIO ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO • Assessoramento às escolas na gestão de pessoal (elaboração do quadro de pessoal, levantamento de necessidades etc.), financeira (acompanhamento do repasse de recursos às escolas e da elaboração do plano de aplicação, análise das prestações de contas etc.) e de materiais (orientação para planejamento, aquisição de bens e serviços, manutenção etc.). DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA • Mobilização e assessoramento na instituição dos conselhos escolares • Apoio à implementação da participação dos pais na escola e na integração da escola com a comunidade • Orientação para relacionamento da escola com entidades representativas da comunidade escolar, parcerias etc. EDUCAÇAO RURAL E REGISTROS ESCOLARES • Coordenação do processo de adequação da oferta da educação escolar às peculiaridades da vida no meio rural • Execução dos registros escolares das pequenas escolas que não contam com diretor (a) e/ou secretário (a) escolar • Elaboração de orientações sobre registros escolares para todas as escolas da rede ou sistema municipal de ensino 103LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO FUNÇÃO SUB-FUNÇÕES SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ATIVIDADES ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS PESSOAL • Registros e acompanhamento da vida funcional dos servidores lotados na Secretaria de Educação e procedimentos relativos à gestão de pessoal na rede de ensino – efetividades, cedências ou permutas, concursos, contratações etc. EXECUÇAO FINANCEIRA • Procedimentos relativos à execução financeira realizada na Secretaria – solicitação de adiantamentos financeiros á secretaria da fazenda, realização de despesas, elaboração de prestação de contas etc. MATERIAL E PATRIMÔNIO • Levantamento das necessidades de obras, mobiliário, equipamento e material da Secretaria e escolas, sua aquisição ou solicitação a outros órgãos, controle e distribuição de material, acompanhamento de obras, inventário de material permanente etc. • Acompanhamento dos processos de legalização e regularização dos terrenos e prédios da Secretaria e das escolas SERVIÇOS GERAIS • Execução de tarefas como recepção ao público, correspondência, uso de veículos, limpeza, higiene e vigilância do prédio, reprodução de documentos, manutenção do equipamento, organização dos arquivos ativo e passivo etc. ASSISTÊNCIA AO EDUCANDO • Implementação dos programas de assistência ao educando: aquisição e distribuição de gêneros para a merenda escolar, treinamento de merendeiras; definição de trajetos para o transporte escolar; orientação para a escolha e acompanhamento da distribuição do livro didático; acompanhamento de ações de assistência à saúde do escolar etc. 104 CADERNOS ASLEGIS 18 105LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO 106 CADERNOS ASLEGIS 18 107LDB, PNE E NOVAS FUNÇÕES DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO 108 CADERNOS ASLEGIS 18
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