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As Concepções Clássicas da Sociologia
Émile Durkheim (1858-1917)
Toda educação consiste em um esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente. (DURKHEIM, 1984, p. 5)
 Concepção funcionalista: Émile Durkheim é apontado como um dos primeiros grandes teóricos da Sociologia, onde busca definir o objeto, o método e suas aplicações.
Segundo esse pensador o objeto primordial da Sociologia são os fatos sociais. Estes possuem três características: coerção, exteriorização dos fatos sociais ao indivíduo e a generalidade do fato social. 
A coerção é a força que os fatos sociais exercem sobre os indivíduos, onde este deve se conformar com as regras que a sociedade lhe impõe, quando o indivíduo tentar se livrar dessa coerção esta fica evidente através de sanções que podem ser espontâneas e legais. Em que sanções legais seriam as leis, pois através delas se estabelecem infrações e penalidades. Espontâneas quando há uma ofensa ao grupo social e este penaliza o agressor. 
A exteriorização dos fatos sociais aos indivíduos ocorre, pois estes existem e atuam sobre os indivíduos independente de suas vontades e escolhas conscientes, são os costumes, leis que já estão presentes na sociedade desde o nascimento do ser sendo impostas através da educação (formal e informal) ao indivíduo em sociedade.
A generalidade consiste em que todos os fatos sociais é um fato geral, ou seja, que se repetem nos indivíduos como as questões de moradia, comunicação, sentimentos e a moralidade.
Durkheim acredita na objetividade dos fatos sociais, pois o pesquisador ao analisar uma sociedade em questão deve manter uma certa distância de seu objeto, ocorrendo com isso a neutralidade cientifica que expulsa toda e qualquer tipo de subjetividade do cientista social com relação aos fatos que devem ser vistos como coisas e, a partir disso, mensurar e observar a realidade social em questão.
A sociedade é vista como um organismo em adaptação onde busca-se encontrar soluções para a vida social, pois esta apresenta estados normais e patológicos.
Um fato social normal é aquele que se encontra generalizado na sociedade desempenhado papel importante na adaptação e evolução dessa. O crime, por exemplo, é um fato social tido como normal, pois é encontrado em todas as sociedades, integrando as pessoas do grupo social através de uma conduta de valor moral que busca punir o comportamento errado.
Os fatos sociais patológicos são os que estão fora dos limites permitidos pela ordem e pela moral da sociedade, são doenças que põe em risco a harmonia do grupo e são vistos como transitórios e passageiros. Durkheim acredita que apesar de existir uma consciência individual que dá a forma aos indivíduos pensarem e interpretarem a vida, dentro dos grupos sociais o que prevalece é a consciência coletiva, ou seja, o conjunto de crenças e sentimentos de uma mesma sociedade, sendo a forma da moral em vigência, com isso, em sociedade define-se o é que criminoso, imoral e reprovável, através da consciência coletiva, por exemplo. 
As sociedades a partir dessa teoria são analisadas como espécies sociais, que evoluem de formas sociais mais simples (selvagens, pré-capitalistas) a espécies mais complexas de organização (civilizadas, industriais). Onde através do trabalho de classificação das sociedades, por meio de observação experimental verifica-se a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica, sendo estas o motor de transformação das sociedades.
As sociedades com solidariedade mecânica são pré-capitalistas, em que os indivíduos são identificados através da família, religião e costumes, onde a divisão social do trabalho permanece independente e autônoma, pois a consciência coletiva exerce poder coercitivo sobre os indivíduos. 
Numa sociedade de solidariedade mecânica, o indivíduo estaria ligado diretamente à sociedade, sendo que enquanto ser social prevaleceria em seu comportamento sempre aquilo que é mais considerável à consciência coletiva, e não necessariamente seu desejo enquanto indivíduo. Conforme aponta Raymond Aron em seu livro As etapas do pensamento sociológico (1987), nesse tipo de solidariedade mecânica de Durkheim, a maior parte da existência do indivíduo é orientada pelos imperativos e proibições sociais que vêm da consciência coletiva.
Segundo Durkheim, a solidariedade do tipo mecânica depende da extensão da vida social que a consciência coletiva (ou comum) alcança. Quanto mais forte a consciência coletiva, maior a intensidade da solidariedade mecânica. Aliás, para o indivíduo, seu desejo e sua vontade são o desejo e a vontade da coletividade do grupo, o que proporciona uma maior coesão e harmonia social.
Este sentimento estaria na base do sentimento de pertencimento a uma nação, a uma religião, à tradição, à família, enfim, seria um tipo de sentimento que seria encontrado em todas as consciências daquele grupo. Assim, os indivíduos não teriam características que destacassem suas personalidades, como apontamos no exemplo dado em relação à tribo indígena, por se tratarem de uma organização social “mais simples”.
Na construção de sua teoria, Durkheim também demonstrou como seriam as características gerais das sociedades de solidariedade do tipo orgânica. Para tanto, seria necessário compreendermos antes de tudo a ideia de divisão do trabalho social. Ao passo que o capitalismo se desenvolve e a produção em larga escala começa, os meios de produção foram se ampliando e requerendo cada vez mais funções especializadas. Além disso, e mais importante, as relações interpessoais necessárias à vida conforme aumentavam. Ampliava-se, dessa forma, a divisão do trabalho social, consequência do desenvolvimento capitalista, o que daria condições para o surgimento das sociedades com solidariedade do tipo orgânica.
A solidariedade orgânica são sociedades capitalistas com a consciência coletiva exercendo menor poder coercitivo sobre os indivíduos, existindo uma divisão do trabalho social acelerada fazendo com que os indivíduos se tornem interdependentes, garantido com isso a coesão social.
Na solidariedade orgânica, ainda segundo Aron, ocorre um enfraquecimento das reações coletivas contra a violação das proibições e, sobretudo, uma margem maior na interpretação individual dos imperativos sociais. Na solidariedade orgânica ocorre um processo de individualização dos membros dessa sociedade, os quais assumem funções específicas dentro dessa divisão do trabalho social. Cada pessoa é uma peça de uma grande engrenagem, na qual cada um tem sua função e é esta última que marca seu lugar na sociedade. A consciência coletiva tem seu poder de influência reduzido, criando-se condições de sociabilidade bem diferentes daquelas vistas na solidariedade mecânica, havendo espaço para o desenvolvimento de personalidades. Os indivíduos se unem não porque se sentem semelhantes ou porque haja consenso, mas sim porque são interdependentes dentro da esfera social.
Não há uma maior valorização daquilo que é coletivo, mas sim do que é individual, do individualismo propriamente dito, valor essencial – como sabemos – para o desenvolvimento do capitalismo. Contudo, apenas enquanto observação, é importante dizer que, ainda que o imperativo social dado pela consciência coletiva seja enfraquecido numa sociedade de solidariedade orgânica, é preciso que este mesmo imperativo se faça presente para garantir minimamente o vínculo entre as pessoas, por mais individualistas que sejam. Do contrário, teríamos o fim da sociedade sem quaisquer laços de solidariedade.
Diferenças à parte, podemos afirmar que tanto a solidariedade orgânica como a mecânica têm em comum a função de proporcionar uma coesão social, isto em uma ligação entre os indivíduos. Em ambas existiram regras gerais, a exemplo de leis sobre direitos e sanções. Enquanto nas sociedades mais simples de solidariedade mecânica prevaleceriam regras não escritas, mas de aceitação geral, nas sociedades mais complexas de solidariedadeorgânica existiriam leis escritas, aparatos jurídicos também mais complexos. Em suma, Émile Durkheim buscou compreender a solidariedade social (e suas diferentes formas) como fator fundamental na explicação da constituição das organizações sociais, considerando para tanto o papel de uma consciência coletiva e da divisão do trabalho social.
Durkheim buscou através de uma postura empírica rigorosa fazer a integração de análises quantitativas (matemática estatística) e qualitativas, complementados com observação, mensuração e interpretação, transpassar a reflexão filosófica e constituir um todo organizado e sistemático de pressupostos teóricos e metodológicos.
 
Por fim, Durkheim como homem de seu tempo, movido por ideias evolucionistas entende a sociedade como um todo harmônico, em que não deveria haver contradições, onde as transformações aconteceriam de forma linear (indo de formas inferiores à superiores) acompanhando a adaptação e evolução das sociedades, já que qualquer forma de ruptura era vista como um estado doente ou patológico dos fatos sociais, buscou a neutralidade cientifica, contudo críticas devem ser feitas as suas análises pois devemos entender por serem históricas as sociedades são diferentes pela constituição de seus processos históricos específicos, não existem sociedades culturas superiores e inferiores apenas diferentes, além de não haver neutralidade cientifica, pois o homem não consegue se dissociar de sua subjetividade e por último em acreditar que os fatos sociais são exteriores aos indivíduos deixando estes apenas em estado contemplativo e passivo no viver em sociedade, tirando com isso, seu caráter de sujeito histórico que condiciona e é condicionado pelos fatos intervindo em seu processo cotidiano de viver, sendo com isso transformador e transformado pelos fatos sociais.
Consciência coletiva: Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a existência de uma sociedade e a coesão social que assegura sua continuidade só se torna possível quando os indivíduos se adaptam ao processo de socialização, ou seja, quando são capazes de assimilar valores, hábitos e costumes que definem a maneira de ser e de agir característicos do grupo social a qual pertencem.
A consciência coletiva constitui o "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria". A consciência coletiva é capaz de coagir ou constranger os indivíduos a se comportarem de acordo com as regras de conduta prevalecentes.
A consciência coletiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com base neste pressuposto teórico, Durkheim chama atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade e não o contrário.
Max Weber
A sociologia é o estudo da “ação social”
Ação Social para Max Weber
Talvez o conceito mais importante da teoria weberiana seja o de “ação social”, que, segundo o autor, deveria ser o principal objeto de estudo da Sociologia. Weber estava mais preocupado com aspectos mais próximos ao indivíduo justamente por acreditar que não era apenas a estrutura das instituições ou a situação econômica do sujeito que motivaria suas ações. Para Weber, as ideias, as crenças e os valores eram os principais catalizadores das mudanças sociais. Ele acreditava que os indivíduos dispunham de liberdade para agir e modificar a sua realidade. A ação social seria, portanto, qualquer ação que possuísse um sentido e uma finalidade determinados por seu autor. Em outras palavras, uma ação social constitui-se como ação a partir da intenção de seu autor em relação à resposta que deseja de seu interlocutor.
As relações humanas e, por sua vez, as ações que estão inseridas no contexto dessas relações possuem sentido graças aos seus atores. Para que se compreenda o processo de comunicação e de interação social, é necessário que se compreenda o sentido das ações que ali existem e, ainda mais importante, o objetivo do autor da ação em seu esforço comunicativo. Para melhor clarificar a explicação, podemos exemplificar com a ação de um aperto de mãos, que, genericamente, pode conter uma infinidade de significados. No entanto, o autor da ação, ao realizá-la, pretende que seu interlocutor apreenda o sentido que desejou incutir em seu ato, e não apenas que ele entenda o sentido genérico do ato de apertar as mãos.
Tipos de ações sociais
Weber ainda salientou quatro tipos de ações sociais: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação afetiva e a ação tradicional. A ação racional com relação a fins refere-se às ações tomadas com um fim específico em mente, isto é, o autor busca atingir um objetivo e age racionalmente para atingi-lo. Já a ação racional com relação a valores refere-se a ações que são tomadas segundo os valores morais do sujeito que a pratica. A ação afetiva configura-se quando um sujeito age com base em seus sentimentos sem levar em consideração o fim que deseja atingir. A ação tradicional está relacionada com o agir baseado no costume e no hábito, isto é, o sujeito age pelo pressuposto da tradição sem o apoio da razão.
Racionalização do mundo social
O trabalho de Weber estende-se também a um fenômeno que ele acredita ser de grande importância para o mundo moderno e que está relacionado com as mudanças estruturais, culturais e sociais que as sociedades modernas passaram no decorrer do tempo. Trata-se da “racionalização do mundo social”, isto é, mudanças profundas no cerne do pensamento do indivíduo moderno e das instituições do Estado, como a gradual construção do capitalismo e a monstruosa explosão do crescimento dos meios urbanos, que se tornaram as bases da reordenação das organizações tradicionais que predominavam até então.
A preocupação de Weber estava em tentar apreender os processos pelos quais o pensamento racional, ou a racionalidade, impactou as instituições modernas, como o Estado e os governos, e, ainda, o âmbito cultural, social e individual do sujeito moderno. Em sua denominação das diversas formas de racionalidade, Weber fez distinção de duas principais formas: a racionalidade formal e a racionalidade substantiva.
Tipos de racionalidade
A racionalidade formal relaciona-se com as formas metódicas e calculistas do sistema jurídico e econômico das sociedades modernas. Está ligada aos aparelhos institucionais que se estruturam de forma burocrática, organizando-se em uma hierarquia delimitada por regras fixas. A racionalidade substantiva aproxima-se da racionalidade formal, mas se difere em sua conduta, que não é voltada para fins. Isso quer dizer que ela leva em consideração o contexto social em que se insere, sendo racional quanto à disposição dos valores que orientam aquele mundo social específico.
Tipos ideais
Outra contribuição de Weber para o pensamento sociológico foi a conceituação dos tipos ideais, ferramenta teórica amplamente usada ainda hoje. O estabelecimento de tipos ideais não busca construir tipologias genéricas nem mesmo busca classificar de maneira inflexível o objeto em questão, como é o caso das classificações que encontramos nas ciências naturais. Os tipos ideais servem como parâmetro de observação, um conceito teórico abstrato com características delineadas que serve apenas como ponto de comparação entre o objeto observado e a abstração teórica. Trata-se de modelos conceituais que raramente, ou quase nunca, existem integralmente. Dessa forma, é possível que olhemos, por exemplo, para o sistema político de um país munidos de um tipo ideal, como o da democracia, e, a partir da comparação, classificá-lo como sendo ou não uma nação democrática em um ou outro sentido. Nessa comparação, ainda que não sejam observadas todas as características de um modelo de democracia, esse sistema político ainda poderia ser considerado como democrático se a maior parte de sua organização fosse condizente com a deum modelo democrático.
De todas as formas, a Sociologia compreensiva de Max Weber representou grandes avanços teóricos para o pensamento sociológico. O valor de seu trabalho é inestimável, de forma que grande parte dos trabalhos que investigam fenômenos recentes busca auxílio em suas obras.
Karl Marx (criticas)
Economia (smith/ricardo).
O maior e mais competente teórico sobre o valor-trabalho foi com certeza Karl Marx. Ele defendia que o valor era sim gerado pelo trabalho.
A partir da defesa que todo o valor que existe é gerado pelo trabalho humano, Marx coloca uma questão fundamental para a sociedade: estava na mão dos trabalhadores o poder de gerar toda a riqueza das nações e não dos empresários.
Este pequeno “detalhe” coloca em cheque toda uma ordem de valorização da sociedade. Mostrando que, enquanto os trabalhadores eram quem geravam todo o valor, a classe não trabalhadora, ou seja, os patrões, que se apropriavam destes lucros conseguidos a partir do valor gerado pelos trabalhadores.
Esta diferença entre o valor gerado pelo trabalho do trabalhador e o custo do trabalhador, esse lucro conseguido a partir da exploração do trabalho, Marx chamou de mais-valia, um conceito central de sua teoria.
Utopismo anarquista:
O que é o anarquismo?
Para começar, evitemos as caricaturas. O termo anarquia provém do grego (an + arkhos) e quer dizer “ausência de governo” ou “ausência de poder”. Ou seja, anarquia não quer dizer “ausência de ordem” ou “desordem”, como em geral se pensa. Ao contrário, os anarquistas visam estabelecer a mais completa e perfeita ordem social. Porém, acreditam que esta ordem só pode ser estabelecida se todo governo e todo poder forem abolidos.
Como doutrina política, o anarquismo se caracteriza pela luta contra o Estado. Os anarquistas acreditam que o Estado – esta instituição política que concentra todas as funções de governo, administração e repressão em nossa sociedade – é o responsável pela falta de liberdade do homem. Pregam que o Estado, com suas forças armadas, suas escolas, suas leis, seus impostos, sua religião oficial etc., é a fonte de toda injustiça, desigualdade e miséria espiritual em que vivemos. A tarefa consistiria, portanto, em acabar com esta instituição, abolí-la imediatamente e por completo, e instaurar o auto-governo da população em geral e de cada indivíduo em particular.
Segundo os anarquistas, ao invés de Estados nacionais centralizados, como existe hoje, a sociedade deveria se organizar em “comunas livres”, ou seja, pequenas comunidades de caráter local, auto-governadas, independentes umas das outras, não submetidas a qualquer comando ou lei geral. Essas comunas (a denominação pode variar de autor para autor) seriam unidades políticas e econômicas totalmente autônomas, cada uma com seu próprio sistema de produção e distribuição de riquezas, e que viveriam do livre intercâmbio de bens e serviços umas com as outras.
Os anarquistas pensam que o que torna o homem mesquinho, violento e egoísta é o próprio Estado e que, uma vez que este seja abolido, as pessoas viverão em harmonia, resolvendo elas próprias seus problemas, vivendo sua vida de maneira pacífica e auto-suficiente, sem a necessidade de qualquer lei escrita, instituição especial, controle, repressão etc.
Sobre os inimigos da liberdade e do povo, os anarquistas afirmam que se o Estado for abolido, nada mais restará a estes senhores, uma vez que eles são a ínfima minoria na sociedade, e sua dominação se baseia exclusivamente no poder do Estado.
Da mesma forma que renegam todo e qualquer Estado (inclusive a hipótese de um Estado controlado pelos trabalhadores), os anarquistas, em geral, renegam também os partidos políticos da classe trabalhadora. Segundo eles (repetimos: há distintas vertentes e pode haver matizes entre elas), todo partido é uma estrutura hierárquica, vertical, organizada nacionalmente, e portanto oposta ao ideal de liberdade e auto-governo inerente ao anarquismo. Assim, toda ação do povo deve se dar de maneira auto-organizada, sem uma direção específica.
Estes são, em linhas gerais, os princípios mais importantes do anarquismo. Como dissemos acima, não há somente um anarquismo, mas vários, e por isso toda generalização pode conter imprecisões. Esperamos não ter distorcido qualquer das ideias aqui apresentadas, pois o objetivo desta parte do texto era tão somente uma exposição sintética do anarquismo, e não sua crítica.
A crítica marxista ao anarquismo é a que segue.
A questão do Estado
O marxismo reconhece o Estado como uma das mais cruéis e sanguinárias instituições. Certamente, o Estado oprime e esmaga, e junto com os anarquistas, os marxistas declaram que seu objetivo último é o fim do Estado e a construção de uma sociedade de produtores livres auto-organizados. Mas infelizmente, terminam aí nossas coincidências.
Diferente do anarquismo, o marxismo não vê o Estado como criador da miséria ou da desigualdade, nem como a origem da opressão ou da falta de liberdade humana. Para os marxistas, o Estado é apenas o produto de uma determinada realidade social.
Segundo o marxismo, o mal fundamental da sociedade é a propriedade privada dos meios de produção (fábricas, bancos, terras, empresas etc), ou seja, o fato de que a sociedade se encontra dividida em classes sociais opostas: explorados e exploradores. O Estado existe porque a dominação econômica de uma classe sobre a outra precisa ser fixada na forma de leis, instituições, ideias. E depois, se preciso, defendida com armas. Se não houvesse esta organização especial chamada Estado, as classes sociais se degladiariam em uma luta sem fim e a sociedade entraria em colapso. A exploração econômica, para que seja estável, precisa de seu complemento: a dominação política, militar e ideológica – o Estado. Por isso o Estado é sempre o Estado da classe dominante.
Ou seja, o Estado é a ferramenta da qual se utilizam os exploradores para perpetuar sua dominação. Mas ele não é a própria dominação. Longe de ser uma realidade autônoma, com vida própria, o Estado não passa de um instrumento nas mãos de uma classe.
Assim, o marxismo acredita que não é possível abolir o Estado enquanto não sejam abolidas as condições materiais (sociais e econômicas) que levaram ao aparecimento deste Estado. Ao se abolir o Estado por simples decreto, permanecerão as condições que o criaram (propriedade privada, desigualdade) e portanto seu renascimento, em um prazo mais ou menos curto, é simplesmente inevitável.
O Estado dos trabalhadores
Marx afirmou que o Estado era sempre o Estado da classe dominante. Essa definição fundamental determina também a visão do marxismo sobre a revolução socialista e as tarefas do proletariado depois da derrubada da burguesia.
Para o criador do socialismo científico, a classe trabalhadora, ao expulsar os capitalistas do poder, não poderia simplesmente “ocupar” o antigo Estado burguês e usá-lo no seu interesse. Ela precisaria destruir o antigo Estado, com todas as suas instituições, leis, hierarquia etc. Mas uma vez destruído este Estado, o proletariado seria obrigado, pela própria realidade, a construir outro, completamente distinto do anterior, baseado nas organizações da classe trabalhadora e controlado por esta – mas ainda assim um Estado. Segundo Marx, a máquina estatal era necessária ao proletariado para: 1) vencer a resistência dos antigos exploradores, que, não aceitando pacificamente a derrota, se organizariam para retomar o poder e restabelecer seu domínio; 2) reconstruir a sociedade sobre novas bases igualitárias, ou seja, a transição econômica socialista. Estas duas complexas tarefas ocupariam todo um período histórico. Foi o que Marx chamou de ditadura do proletariado.
Os trabalhadores, embora sejam a imensa maioria da sociedade, são uma classe explorada, oprimida e alienada, que depois de derrotar uma minoria extremamente ativa, culta, violenta e poderosa, precisa realizar uma gigantesca obra histórica. Por isso, o proletariado cometeria um suicídio histórico se abrisse mão do poder de Estado.
A dissoluçãodo Estado para o marxismo
Mas os trabalhadores, segundo Marx, não tomam o poder de Estado para eternizar sua dominação. Ao contrário, uma vez vencida a resistência da burguesia, o proletariado começa a trabalhar para aumentar a riqueza produzida, distribuí-la equitativamente, e com isso acabar com toda e qualquer diferenciação social. Com o fim das diferenciações sociais e depois de um longo processo histórico de reeducação do homem, a sociedade poderá abolir o Estado como instrumento de dominação e controle, mantendo dele apenas as funções técnicas de administração econômica, contabilidade, assistência etc. A dissolução do Estado na comunidade de produtores livres auto-organizados corresponde ao início da fase comunista de desenvolvimento da sociedade. Leon Trotsky, o grande dirigente da Revolução Russa da 1917, combatia aqueles que qualificavam de “utopia” a estratégia da dissolução do Estado, e explicava de maneira simples o conteúdo científico do marxismo: “A base material do comunismo deve consistir em um desenvolvimento do poder econômico do homem de tal modo que o trabalho produtivo, deixando de ser uma carga e um incômodo, não tenha a necessidade de qualquer coação; nem existam outros controles sobre a distribuição, além dos da educação, do hábito e da opinião pública, exatamente como é hoje em uma família abastada. É necessário, para falar francamente, uma grande dose de estupidez para considerar como utópica uma perspectiva, em definitivo, tão modesta.” A Revolução Traída.
Como se vê, diferente do anarquismo, que imagina uma revolução e um homem ideais, o marxismo tem consciência das enormes dificuldades que o proletariado (herdeiro de toda a miséria e podridão capitalistas) enfrentará na luta pela sua libertação. Consequentemente, o marxismo reconhece a necessidade de um longo período de luta e desenvolvimento social, até que as bases materiais que deram origem ao Estado tenham desaparecido, e este possa ser abolido. Mesmo assim, a abolição do Estado (que corresponde à libertação definitiva de toda a humanidade) será lenta e gradual, se assemelhando muito mais a um “desaparecimento progressivo”, que ocorrerá na mesma velocidade em que a sociedade vá assumindo em suas próprias mãos as funções de administração e controle.
Ao analisarmos apenas a questão do Estado, já salta aos olhos o caráter utópico da teoria anarquista. Mas esta é apenas a ponta do iceberg. Ao abordar outras questões, como a economia do período pós-revolucionário, a relação indivíduo-sociedade e outras, o anarquismo revelará não apenas sua natureza romântica, mas pior (é preciso que se diga com todas as letras): o enorme retrocesso que sua implementação significaria para todo o desenvolvimento humano e social. Mas estes são aspectos que trataremos na segunda parte deste artigo. Esperamos que o leitor nos acompanhe com interesse.
Idealismo: Karl Marx em A Ideologia Alemã intenta iniciar um processo de decomposição do sistema hegeliano defendida e desenvolvida por jovens hegelianos tais como Max Stirner, Bruno Bauer e Feuerbach. Fundamentalmente ele irá centralizar à sua crítica postulando-a de forma a desmobilizar a concepção idealista construída por Hegel de que um Espírito absoluto orientado por princípios racionais e universais que se manifesta metafisicamente na consciência dos homens seja o grande agente determinante do curso e evolução da História. Esta entidade denominada de espírito universal, através de sua substância, é tida como principio norteador de uma razão que governa o mundo e exprime seus meios e fins para efetivação de seu plano na totalidade da história universal, ou seja, ela agiu na consciência dos Povos e dos grandes indivíduos da história, e todo o seu percurso objetiva um fim último, a consciência desta substância, a consciência do homem que sabe de si e para si, a consciência de que o homem é livre enquanto homem.
Para esta vertente filosófica neo-hegeliana caracterizada por Marx de filósofos comerciantes que abarrotam o mercado alemão com os produtos da exploração do espírito absoluto, todos os indivíduos encontram-se ligados primordialmente a um interesse essencial, a sua inserção em uma determinada pátria, religião ou mentalidade são simples resultados da impressão do conteúdo advindo do próprio caráter universal e tal destina-se ao cumprimento de um fim em si.
Desta forma, os meios em que o espírito manifesta o seu conceito em suas determinações na história universal tais como substância e autoconsciência se tornaram o cerne do conjunto do sistema hegeliano, e segundo Marx, essa corrente neo-hegeliana havia se apropriado de categorias puras hegelianas e lhes dado nomes mais mundanos ou sua críticas nunca haviam atingido o conjunto do sistema. Marx aponta que a crítica filosófica alemã de Strauss a Stirner limitou-se basicamente à crítica das representações religiosas, ou seja, partindo-se das representações da religião real e da real teologia pretendiam-se alcançar à esfera das representações metafísicas, políticas, jurídicas e morais, e com isso declarou-se que toda relação dominante era uma relação religiosa e tal com os seus diversos cultos, culto do direito, do Estado, da moral. Jovens e velhos hegelianos consideravam tais representações – produtos da consciência tomada autonomamente por influência de um Espírito onipresente – como os autênticos elos que sempre uniram as sociedades humanas, e para alcançar relativa autonomia os indivíduos devem trocar a sua consciência atual por uma consciência humana e ou crítica.
No entanto, Marx antes de iniciar suas considerações sobre o que viria a ser a sua concepção materialista para opô-la ao idealismo de jovens e velhos hegelianos, identifica dois grandes problemas de sustentação: o primeiro é que todas estas formulações do âmbito das representações e possibilidades de tais teorias se limitam única e exclusivamente ao domínio dos pensamentos; e segundo que a nenhum destes filósofos pretendeu-se realizar a conexão entre a filosofia alemã e a realidade alemã, ou seja, o que Marx chama de conexão da crítica ao seu próprio meio material, sendo isto, nada mais que considerar a história humana como produto da existência de indivíduos humanos vivos – indissociabilidade entre a história da natureza e a história dos homens - que para se manterem ativos necessitam produzir seus meios materiais de vida, o que constitui o primeiro ato histórico do homem.
Marx sustenta em clara contraposição a velhos e jovens hegelianos, que o que os homens são coincide tanto com o que produzem como o modo como produzem seus meios de vida, e não a manifestação racional do espírito universal que imprimi o substancial nos homens: o homem, segundo Marx, não deve ser entendido como antítese do mundo natural e o terreno do espírito que para Hegel é tudo que ao homem interessa representa em Marx o próprio meio material de vida. Portanto, a extensão das forças produtivas e o conseqüente aumento da população daí advindo bem como o desenvolvimento da divisão do trabalho irão caracterizar, segundo a concepção materialista, elemento motriz da dinâmica da relação dos indivíduos uns com os outros, de nações para com outras nações, o que pode ser entendido na forma do intercambio espiritual e material tanto interno como externo, ou seja, representa que o intercambio dos homens entre si no processo de produção é a base de todas as outras formas de intercambio.
Logo, constatamos a contraposição empírica de Marx ao pressuposto de que a história universal fosse a exibição do processo absoluto do Espírito com seus diversos estágios na busca da autoconsciência de si e que as configurações destes estágios que são os povos históricos são representados através das particularidades de suas leis, arte, religião ou ciência.
Para Marx, é o grau do desenvolvimento das forças produtivas que denota essas particularidades e irá caracterizar as mais diversas formas do intercambio, este elemento é essencial para analisar o homem real e não os povos imaginários que vivem isoladamente como apontaos adeptos do sistema hegeliano. Em suma, Marx desconstrói a especulação e a mistificação neo-hegeliana ao propor que os indivíduos são determinados como produtores, e como tal, atuam de modo determinado e estabelecem entre si relações políticas e sociais determinadas, logo, a estrutura social, a produção de idéias, as diversas formas de representações da consciência e o Estado não emanam da determinação do fim último do espírito absoluto, mas sim, de um processo de vida condicionados sob determinados pressupostos de condições materiais que são independentes da sua vontade.
Assim, Marx concluiu que a consciência esta tanto apontada pelas correntes hegelianas, jamais poderá ser outra coisa que o ser consciente em um processo de vida real e material, ou seja, verificamos que os homens na história ao desenvolverem a sua produção e o seu intercambio material, transformam também a sua realidade, o seu pensar e os produtos de seu pensar, portanto, “não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”.
A produção de meios que possam satisfazer as necessidades dos homens produz novas necessidades, para Marx este é o primeiro ato histórico que irá condicionar o curso e evolução da História, ao contrário de Hegel, que vê na busca pelo fim último o sentido do Espírito universal efetivar a realização do seu conceito. Logo, estamos constatando justamente a oposição entre a expansão das forças produtivas para satisfazer as necessidades materiais e espirituais dos homens e a necessidade que o Espírito tem de atingir o seu conceito. Tentarei elucidar através do exemplo da história de Roma antiga.
A idéia hegeliana de progressão ou desenvolvimento no curso da História verifica-se ao analisar-se o objeto no duro trabalho de si mesmo para atingir o seu conteúdo, ela só faz sentido mediante ao seu objeto e daí obtém o seu significado, como por exemplo, na história romana, em que o retrocesso/desenvolvimento de Roma só pode ser verificado como causalidade externa, o fato do Império Romano ter sido desmembrado constitui-se como um fim relativo e não absoluto, através deste entendimento a evolução seria sempre o resultado das transformações no plano da Espírito. Portanto, na Itália de hoje do qual uma de suas configurações tinha sido a Roma republicana ou imperial, neste longo e lento processo histórico, desvaneceram-se as determinações particulares para persistirem as configurações universais, logo, as invasões bárbaras teriam sido responsáveis na qualidade de agentes externos pela permanência dos caracteres universais do que hoje conhecemos como Itália. 
Em Marx, por outro lado, não excluindo a possibilidade de encontrarmos outras causas para as invasões bárbaras que soçobraram o Império Romano, verificaríamos que Roma e os povos germânicos haviam atingido determinado grau de desenvolvimento de suas forças produtivas e aumento de população que a guerra tornara-se um instrumento para a realização do intercambio necessário para que continuassem satisfazendo suas necessidades materiais e espirituais, ou para que, a divisão do trabalho dos respectivos povos fosse novamente superada.
Podemos verificar também o choque entre as concepções materialista e idealista na contradição latente entre os interesses particulares e coletivos. Hegel utiliza-se do exemplo dos grandes homens da história universal tais como César, Alexandre Magno, Napoleão etc. Na interpretação hegeliana, tais indivíduos apreenderam este universal superior e converteram-no em um fim seu, ou seja, realizam um fim conforme o conceito superior do espírito. Trata-se do espírito oculto agindo nos homens histórico mundiais fazendo com que seus “discursos e suas ações” fossem o melhor que se podia fazer, que dizem aos homens o que eles querem e os mesmos concordam e aderem, enfim, são indivíduos que são irremediavelmente impelidos a realizar a sua obra, a sua paixão o seu arbítrio, porém, sem saberem, realizam simultaneamente o seu fim e o do universal, logo, seus interesses tomam a feição dos interesses coletivos.
Em Marx, é nessa contradição entre interesse particular e coletivo que o interesse coletivo toma na qualidade de Estado uma forma individualizada, separada dos reais interesses particulares e gerais e simultaneamente na qualidade de uma coletividade ilusória fixada nas bases dos laços sociais existentes tais como laços de sangue, família, tribo, escala da divisão do trabalho; sobretudo, quando tais interesses já forem baseados em classe como conseqüência do grau de desenvolvimento da divisão do trabalho. Com a matização das classes é que os indivíduos começam a se isolar em torno de determinados conglomerados das quais umas dominam outras e daí segue-se as lutas no interior do Estado, dos interesses particulares e coletivos, que segundo Marx, são “formas ilusórias nas quais se desenrolam as lutas reais entre as diferentes classes”. Portanto, toda classe que aspira a dominação deve concentrar em si o poder político que irá mostrar-se na forma do interesse geral e os demais indivíduos cooperam involuntariamente para tal fim, ou seja, para fazer prevalecer os interesses particulares de uma classe dominante. 
Desta forma, Marx pressupõe o fato de que é empírica a atuação de indivíduos singulares que fazem da extensão de suas atividades uma atividade histórico mundial, porém, caracteriza como “travessura do assim chamado espírito universal” a idéia hegeliana desse poder estranho aos homens que os impelem a agir e modificar o curso da História, para ele, esse poder que se torna cada vez maior e influente nos fatos históricos e nas relações humanas é em sua última instância o próprio mercado mundial, ou se preferirmos, os diversos estágios do desenvolvimento do sistema capitalista. Assim, verificamos que a concepção de História que Marx está defendendo é o reflexo do processo de produção que decorre da própria necessidade de produção material da vida imediata e as formas de intercambio engendradas por este processo. Portanto, ela nos apresenta e nos permite entender as diversas configurações da sociedade civil em suas diferentes fases como fundamento de toda a história, apresentando a sua ação enquanto Estado e explicando a partir dela as diversas formas de consciência e representações da mesma – a religião, a moral, as leis, as artes, as ciências. Ao contrário da concepção idealista, trata-se de explicar as formações ideológicas a partir da práxis material, entender a História como a soma de forças de produção numa relação historicamente construída entre os indivíduos e a natureza, ou seja, a teoria do materialismo histórico afirma que a própria soma de forças de produção, de capitais e de formas sociais de intercambio que cada geração encontra como algo estabelecido, é o fundamento real daquilo que jovens e velhos hegelianos representaram como “substância” ou “essência” do devir humano na construção da História. Sendo assim, o que Marx pretende é desconstruir a idéia de que a história se faça somente pela ação políticas dos príncipes e do Estado no qual o espírito universal emana e faz com que todos os indivíduos compartilhem em cada época histórica da “ilusão dessa época”. Em suma, Marx esboça na Ideologia alemã e na importância dada aos elementos acima mencionados o cerne do que irá constituir-se a teoria marxista.
Pensamento burguês positivista:
O Positivismo de Comte e Durkheim e a Crítica Marxista
Contudo, Comte e Durkheim são pensadores positivistas. Ambos acreditam que a sociedade possa ser analisada da mesma forma que os fenômenos da natureza. A sociologia tem, assim, como tarefa, o esclarecimento de acontecimentos sociais constantes e recorrentes. O papel fundamental da sociologia seria o de explicar a sociedade para manter a ordem vigente.
Na clara síntese de Michel Löwy, o tipo ideal de positivismo pode ser dito em três idéias principais:
a primeira é a hipótese fundamental do positivismo: "a sociedade humana é regulada por leis naturais", leis invariáveis, independentes da vontade e da açãohumana, como a lei da gravidade ou do movimento da terra em torno do sol, de modo que na sociedade reina "uma harmonia semelhante à da natureza, uma espécie de harmonia natural".
 dessa primeira hipótese decorre, para o positivismo, a conclusão epistemológica de que "a metodologia das ciências sociais tem que ser idêntica à metodologia das ciências naturais, posto que o funcionamento da sociedade é regido por leis do mesmo tipo das da natureza".
· a terceira idéia básica do positivismo, talvez a de maior conseqüência, reza que "da mesma maneira que as ciências da natureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologias políticas, sociais ou outras , as ciências sociais devem funcionar exatamente segundo esse modelo de objetividade científica". Ou seja: o positivismo "afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas , os valores morais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo", pois este conjunto de opções são prejuízos, preconceitos ou prenoções que prejudicam a objetividade das Ciências Sociais"[21].
Entretanto, o marxismo dá um passo a mais: o conhecimento da realidade social é um instrumento político que pode orientar os grupos sociais na luta pela transformação da sociedade. É no terreno da prática que se deve demonstrar a verdade da teoria.
Na segunda de suas onze teses contra Feuerbach, de 1845, diz Karl Marx (1818-1883): "A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objetiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento". Para concluir na última tese: "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de diferentes maneiras; a questão, porém, é transformá-lo"[22].
Vista por este ângulo, a função da sociologia não é o restabelecimento da ordem social ou a determinação das normas do bom funcionamento da sociedade, como dizem os positivistas. Ela deve, antes de tudo, contribuir para a mudança social. É aí que reside sua função crítica, na medida em que apóia os movimentos de transformação da ordem existente.
Com isto, já conseguimos definir o discurso sociológico em relação à história como aquele que não se limita a descrevê-la como uma sucessão de fatos e acontecimentos, mas como um conjunto de situações, de normas, de usos, de instituições.
Mais ainda, nas palavras do exegeta alemão Gerd Theissen, as questões sociológicas “ganham significação central também onde se busca clarear as grandes transformações da história, suas revoluções e crises, declínios e renascimentos, em ligação com as tensões estruturais[23].
Assim foi que, de 1830 às primeiras décadas de nosso século, se consolidaram os principais métodos e conceitos sociológicos[24].
Por outro lado, a existência de interesses opostos e conflitantes na sociedade se manifesta igualmente no pensamento sociológico. Há diferentes tradições sociológicas e modos diversos de entender o papel da religião na sociedade. Os especialistas costumam dizer, certamente com alguma simplificação, que as diversas sociologias podem ser reconduzidas a três tendências básicas: funcionalista, compreensiva e marxista.
A Sociologia Funcionalista
A sociologia funcionalista é hoje uma das mais difundidas nas sociedades capitalistas, em primeiro lugar nos Estados Unidos. O pensamento de Émile Durkheim foi retomado e desenvolvido especialmente por dois sociólogos americanos, Robert K. Merton e Talcott Parsons, sem dúvida os maiores responsáveis pelo desenvolvimento do funcionalismo moderno.
Na opinião de Peter Berger, “Robert K. Merton, da Universidade de Colúmbia, representa, juntamente com Talcott Parsons, de Harvard, o mais destacado teórico da sociologia americana contemporânea. A análise de Merton sobre as funções ‘manifesta’ e ‘latente’, bem como outras exposições importantes do que ele considera ser a abordagem funcionalista da sociedade, será encontrada em seu livro Social Theory and Social Structure, Chicago, Free Press, 1957”[25]. Funções manifestas são as funções conscientes e deliberadas dos processos sociais, enquanto que as funções latentes são inconscientes e involuntárias. Um exemplo dado por Berger nos ajuda a entender a distinção: "Missões cristãs em certas partes da África tentaram 'manifestamente' converter os africanos ao cristianismo, mas ajudaram 'latentemente' a destruir as culturas tribais, proporcionando condições para rápida transformação social"[26].
O funcionalismo, ao analisar qualquer elemento de um sistema social, procura saber de que maneira este elemento se relaciona com os outros elementos do mesmo sistema social e com o sistema social como um todo, para daí tirar as conseqüências que interferem no sistema, provocando sua disfunção, ou, por outro lado, contribuem para a sua manutenção, sendo, portanto, funcionais.
Estes conceitos foram desenvolvidos a partir do pensamento de Durkheim, que, como vimos, se esforçou para mostrar a existência própria e independente dos fatos sociais em relação aos indivíduos particulares. Durkheim chamou de consciência coletiva as formas padronizadas de conduta e de pensamento que se observa no interior de um grupo social: "Sem dúvida, é evidente que nada existe na vida social que não esteja nas consciências individuais; mas, quase tudo que se encontra nestas últimas vem da sociedade. A maior parte de nossos estados de consciência não seriam produzidos pelos indivíduos isolados, mas seriam produzidos pelos indivíduos agrupados de outra maneira. Eles derivam, portanto, não da natureza psicológica do homem em geral, mas da maneira segundo a qual os homens, uma vez associados, interagem mutuamente, dependendo de serem mais ou menos numerosos, de estarem mais ou menos próximos. Sendo produtos da vida em grupo, somente a natureza do grupo pode explicá-los"[27].
Citando ainda uma vez Peter Berger: "Segundo a perspectiva durkheimiana, viver em sociedade significa existir sob a dominação da lógica da sociedade. Com muita freqüência, as pessoas agem segundo essa lógica sem o perceber. Portanto, para descobrir essa dinâmica interna da sociedade, o sociólogo terá muitas vezes de desprezar as respostas que os próprios atores sociais dariam a suas perguntas e procurar as explicações de que eles próprios não se dão conta. Esta atitude essencialmente durkheimiana foi levada à abordagem teórica hoje chamada de funcionalismo. Na análise funcional, a sociedade é analisada em termos de seus próprios mecanismos como sistema, e que muitas vezes se apresentam obscuros ou opacos àqueles que atuam dentro do sistema"[28].
Segundo o pensamento de Durkheim, a função da sociologia “seria a de detectar e buscar soluções para os ‘problemas sociais’, restaurando a ‘normalidade social’ e se convertendo dessa forma numa técnica de controle social e de manutenção do poder vigente”, explica C. B. MARTINS[29].
Com efeito, no início do segundo capítulo de seu livro As regras do método sociológico, E. Durkheim define seu princípio metodológico fundamental: "A primeira regra e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociais como coisas". Para acrescentar mais adiante, neste mesmo capítulo: "De fato, Comte proclamou que os fenômenos sociais são fatos naturais, submetidos a leis naturais. Reconheceu, assim, o seu caráter de coisas, visto que na natureza só há coisas"[30].
Michel Löwy observa que esta abordagem de Durkheim é perfeitamente homóloga à desenvolvida pela economia política burguesa e explica: "É aqui que provavelmente se encontram as raízes do naturalismo positivista enquanto discurso ideológico típico da nova ordem industrial (burguesa)". E, citando Durkheim, no texto La science et l'action, Paris, PUF, 1970, pp. 80-81, Michel Löwy acrescenta que "o próprio Durkheim apresenta a economia política como precursora da démarche positivista nas ciências sociais: 'Os economistas foram os primeiros a proclamarque as leis sociais são tão necessárias como as leis físicas. Segundo eles, é tão impossível a concorrência não nivelar pouco a pouco os preços... como os corpos não caírem de forma vertical.... Estenda este princípio a todos os fatos sociais e a sociologia estará fundada' "[31].
Ainda citando Durkheim, M. Löwy mostra que "desde os seus primeiros escritos em 1867, o pensamento de Durkheim exprime com precisão, clareza, coerência e rigor exemplares esta nova função social: 'É ainda ao professor de filosofia que cabe despertar nos espíritos que lhe são confiados a idéia do que é uma lei; de lhes fazer compreender que os fenômenos físicos e sociais são fatos como os outros, submetidos a leis que a vontade humana não pode interromper à sua vontade, e que, por conseqüência, as revoluções no sentido próprio do termo são coisas tão impossíveis como os milagres' "[32].
Finalmente, diz Löwy: "Entre as leis naturais da sociedade que seria vão, utópico, ilusório - em uma palavra: anticientífico - querer 'interromper' ou transformar, Durkheim situa com destaque a desigualdade social"[33]. Os argumentos estão na obra Da divisão do trabalho social, de 1893: as sociedades "são constituídas, não por uma repetição de segmentos semelhantes e homogêneos, mas por um sistema de órgãos diferentes, onde cada um tem um papel particular, sendo eles mesmos formados de partes diferenciadas". Isto é absolutamente normal, pois se encontra em qualquer organismo, como, por exemplo, "nos animais, [onde] a predominância do sistema nervoso sobre os outros sistemas se reduz ao direito, se se pode falar assim, de receber um alimento mais seleto e de receber sua parte antes dos outros"[34]. E ainda: "Pois, se nada entrava ou nada favorece injustamente os concorrentes que disputam entre as tarefas, é inevitável que apenas os que são os mais aptos a cada gênero de atividade a alcancem"[35].
O próprio Durkheim não faz segredo do conservadorismo do seu método positivista: "O nosso método não tem, portanto, nada de revolucionário. É até, num certo sentido, essencialmente conservador, uma vez que considera os fatos sociais como coisas cuja natureza, por mais elástica e maleável que seja, não é, no entanto, modificável à nossa vontade"[36].
Lendo esta afirmação, Michel Löwy chega, finalmente, ao âmago do problema quando diz que é inútil ficar discutindo, como o fazem alguns sociólogos hoje, quais são os elementos formais e doutrinários do conservadorismo de Durkheim: o seu problema está "na sua própria concepção do método. É seu método positivista que permite legitimar constantemente, através de argumentos científico-naturais, a ordem (burguesa) estabelecida". Isto lhe possibilita passar "sem hesitação das leis da seleção natural às 'leis naturais' da sociedade, e dos organismos vivos aos 'organismos sociais'". O apoio para este enfoque? "A homogeneidade epistemológica dos diferentes domínios e, por conseqüência, das ciências que os tomam como objeto"[37].
Raymond Aron, escrevendo em 1966, olha com desgosto para a sociologia funcionalista americana, herdeira deste pensamento, e classifica-a como essencialmente analítica e empírica. Multiplicando questionários para saber como vivem os homens em sociedade, transformando-se, deste modo, em mera sociografia, caricatura de uma autêntica ciência social, ela deixa de ser crítica, no sentido marxista do termo, não questionando a ordem social nos seus traços fundamentais e admitindo implicitamente a visão de mundo da sociedade norte-americana[38].
Religião:
É de significativo conhecimento a crítica de Karl Marx à religião. Para Karl Marx religião “é o ópio do povo”, porque desvia atenção deste mundo e de sua transformação, para o além. Segundo Marx, a religião hipnotiza os homens com falsa superação da miséria e assim destrói sua força de revolta, atuando assim como uma força conservadora no campo social e econômico.
Marx pensa a religião como um calmante para as massas que sofrem a miséria produzida pela exploração econômica. Sendo assim, a religião (alienação religiosa) é decorrência lógica da miséria econômica (alienação econômica), então, superando-se a miséria econômica pela revolução do proletariado (luta de classes) e a conseqüente produção de bens materiais para todos, a consciência religiosa morrerá por si mesma. Porém, para eliminar a alienação religiosa é preciso eliminar todas as condições de miséria que a originam. 
Na quadra histórica em que foi produzido, pode-se entender o marxismo como uma crítica ideológica ao cristianismo burguês da época, marcado por um certo alinhamento com forças contrárias ao progresso e a liberdade. Entretanto, daí não se pode concluir que o cristianismo sempre deva ser reacionário, nem que o marxismo sempre deva combater a religião, muito menos que o marxismo seja sempre uma força progressista. O certo é que Marx nunca estudou a fundo a religião, e esta só foi objeto de suas reflexões em virtude da religião fazer parte da estrutura social e econômica, esta sim seu objeto principal de estudo. 
 
Alienação: 
A palavra alienação vem do Latim “alienus”, que significa “de fora”, “pertencente a outro”. A alienação é estar alheio aos acontecimentos sociais, ou achar que está fora de sua realidade. Karl Marx em sua obra Manuscritos econômico-filosóficos usou o termo para descrever a falta de contato e o estranhamento que o trabalhador tinha com o produto que produzia.
A alienação na sociologia de Marx é descrita também como um momento onde os homens perdem-se a si mesmos e a seu trabalho no capitalismo. Para Marx as relações de classe eram alienantes, pois o trabalhador assalariado se encontrava em uma posição de barganha desigual perante o capitalista (empregador). Dessa forma o capitalista conseguia dominar a produção e o trabalhador.
Marx considerava o trabalho a mais importante expressão da natureza humana e quando o homem perdia o controle sobre ele, entrava em um processo que conduziria à sociedade a uma ordem social alienada: desigualdade crescente, pobreza em meio a plenitude, antagonismo social e luta de classes.
O estudo de Marx sobre a alienação é um, dos vários, existentes na sociologia, Hegel já citava a alienação em algumas obras e Leôncio Basbaun, também fala sobre esse tema. A sociologia está repleta de teorias e observações sobre os efeitos e causas da alienação na sociedade contemporânea e, até mesmo, os reflexos desse tópico no futuro e sua existência no passado.
Mais valia:
Capitalismo, trabalho assalariado e valor de troca
A mais-valia é o termo utilizado por Karl Marx em alusão ao processo de exploração da mão de obra assalariada que é utilizada na produção de mercadorias. Trata-se de um processo de extorsão por meio da apropriação do trabalho excedente na produção de produtos com valor de troca. Para entendermos melhor, precisamos considerar que Marx via o trabalho como:
“(...) um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais.”*
Portanto, o trabalho era o ato definidor do homem, seu meio direto de interação com o mundo e, ainda mais importante, a forma como garantiria sua sobrevivência no mundo anterior ao período vivido por Marx, isto é, um mundo agrário onde o ser humano tinha ligação direta com a terra, de onde tirava seu sustento. Porém, isso se modificou na nova sociedade que surgiu no período que sucedeu a Revolução Industrial, que se baseou no sistema econômico do capitalismo.
Para Marx, o capitalismo baseia-se na relação entre trabalho assalariado e capital, mais especificamentena produção do capital por meio da expropriação do valor do trabalho do proletário pelos donos dos meios de produção. A esse fenômeno Marx deu o nome de mais-valia. 
Todavia, antes de entendermos o conceito da mais-valia, é preciso entender que, assim como outros teóricos da economia, como Adam Smith e David Ricardo, Karl Marx sustentava a ideia de que o valor de troca de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho aplicado em sua produção. O próprio trabalho, de acordo com Marx, possui valor agregado, que é determinado pelo valor dos meios de subsistência (comida, habitação, transporte etc.) necessários para que o trabalhador sobreviva. Dessa forma, todo trabalho empregado na produção de um sapato, por exemplo, agrega custos em seu valor de troca final.
Nesse processo, a força de trabalho comprada pelo proprietário dos meios de produção por meio do salário pago ao trabalhador também se torna uma mercadoria, que é comprada para que o produto seja manufaturado. No curso da produção, o trabalho utilizado na produção agrega valor ao produto final, que é vendido pelo capitalista pelo valor de troca determinado pelo mercado.
Entretanto, não é suficiente para o capitalista que o valor de venda do produto seja igual ao valor que ele investiu inicialmente. O dono dos meios de produção deseja obter lucros, o que não pode fazer vendendo o produto mais caro do que seu preço de mercado. O trabalhador, por sua vez, espera receber pela quantidade de trabalho que empregou na produção da mercadoria em questão. É aqui que Marx verifica o fenômeno da mais-valia. O empregador, para que obtenha lucro em sua transação, exige uma quantidade maior de força de trabalho do que paga para o trabalhador, que se vê obrigado a trabalhar além do que lhe é pago, pois só receberá seu salário se cumprir com o que foi proposto.
♦ Mais-valia absoluta e Mais-valia relativa
A partir do conceito de mais-valia, Marx fez distinção de duas formas de extorsão da força de trabalho: a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa.
A mais-valia absoluta ocorreria em função do aumento do ritmo de trabalho, da vigilância sobre o processo de produção ou mesmo da ameaça da perda do trabalho caso determinada meta não fosse alcançada, ainda que em detrimento da saúde e do bem-estar do trabalhador. O empregador exige maior empenho na produção sem oferecer nenhum tipo de compensação em troca e recolhe o aumento da produção de excedentes em forma de lucro.
Já a mais-valia relativa estaria ligada ao processo de avanço científico e do progresso tecnológico. Uma vez que não consegue mais aumentar a produção por meio da maior exigência de seus empregados, o capitalista lança mão de melhorias tecnológicas para acelerar o processo de produção e aumentar a quantidade de mercadoria produzida. Esse processo acontece sem que, no entanto, seja oferecida qualquer bonificação ao trabalhador. Este passa ser aos poucos substituído pelo maquinário tecnológico, de modo que a quantidade de trabalho social é diminuída e a mão de obra humana é trocada por uma mão de obra mecânica.
Entre o arcabouço teórico das obras marxistas, o conceito de mais-valia é central para a discussão sobre as relações de trabalho que surgiram nas sociedades capitalistas. As obras de Karl Marx, mais especificamente seu trabalho mais citado, “O capital”, foram enormes empreendimentos dedicados à compreensão das profundas relações existentes na nova configuração social que surgiu em seu tempo. Marx, assim como outros estudiosos de sua época, estava preocupado com os novos problemas sociais que se agravavam nos centros urbanos. Sua proximidade com os movimentos trabalhistas da época influenciou profundamente seus trabalhos e sua forma de abordagem dos fenômenos associados à nova configuração do sistema econômico que surgia.
Tendências Pedagógicas e seus Fundamentos Socioantropológicos
Conjunto de concepções sociais, psicológicas, antropológicas, históricas, econômicas que pautam a prática pedagógica em um período determinado. (MELO, 2011)
Escola Tradicional:
A visão da concepção pedagógica é a busca pela essência do homem e para realizar as suas inferências coloca o professor como o centro de todo o processo educativo, mantendo a visão no desenvolvimento do intelecto, na imposição da disciplina como parte fundamental para o sucesso educacional, na memorização dos conteúdos como forma de apropriação dos conhecimentos tidos como essenciais. Ainda nessa concepção, distinguem-se duas vertentes: a leiga e a religiosa.
Características da concepção pedagógica tradicional
O papel da escola é o de promover uma formação puramente moral e intelectual, lapidando o aluno para a convivência social, tendo como pressuposto a conservação da sociedade em seu estado atual (status quo). A escola terá como foco apenas a cultura, sendo os problemas sociais resguardados apenas à própria sociedade.
Os conteúdos de ensino são aqueles que foram ao longo do tempo acumulados e, nesse momento, são passados como verdades absolutas, sem chance de questionamentos ou levantamentos de dúvidas em relação a sua veracidade. Nessa concepção não está presente a consideração sobre os conhecimentos prévios do aluno, apenas o que está no currículo é transmitido, sem interferências ou ‘perdas de tempo’.
A Metodologia de ensino é a exposição verbal por parte do professor e a preparação do aluno. O foco principal é na resolução de exercícios e na memorização de fórmulas e conceitos. Desta forma, o professor inicialmente realiza a preparação do aluno, em seguida formula a apresentação do conteúdo, correlacionando-o com outros assuntos e, por último, faz-se a generalização e aplicação de exercícios.
A relação professor-aluno é marcada pelo autoritarismo do primeiro em relação ao segundo. Somente o professor possui conhecimento para ensinar, o papel do aluno é o de receber o conhecimento transmitido pelo professor. O silêncio em sala de aula é imposto pela autoridade docente.
Os Pressupostos da aprendizagem são fundamentados na receptividade dos conteúdos e na mecanização de sua recepção. A aprendizagem se dá por meio da resolução de exercícios e da repetição de conceitos e recapitulação do saber adquirido sempre que necessário for reavivá-lo na mente. A avaliação também é mecânica e ocorre por meio de resolução de tarefas enviadas para casa, provas arguitivas e escritas.
Escola Nova:
É um movimento de educadores europeus e norte-americanos, organizado em fins do século XIX, que propunha uma nova compreensão das necessidades da infância e questionava a passividade na qual a criança estava condenada pela escola tradicional. Também conhecida como Educação Nova, a Escola Nova tem seus fundamentos ligados aos avanços científicos da Biologia e da Psicologia. Pode-se afirmar que, em termos gerais, é uma proposta que visa a renovação da mentalidade dos educadores e das práticas pedagógicas. O pedagogo Célestin Freinet foi um dos defensores dessa concepção de educação. Já o educador e pensador Jean Piaget optou pela chamada Escola Ativa, uma corrente da Escola Nova. 
A introdução de idéias e técnicas novas como os métodos ativos, a substituição das provas tradicionais pelos testes, a adaptação do ensino às fases de desenvolvimento e às variações individuais são algumas das novidades da Educação Nova. Além disso, visava colocar o educando como centro do processo educativo. 
No Brasil, a Escola Nova buscava a modernização, a democratização, a industrialização e urbanização da sociedade. Os educadores que apoiavam suas idéias entendiam que a educação seria a responsável por inserir as pessoas na ordem social. Também conhecido como escolanovismo, a Escola Nova chegou ao País na década de 1920 com as Reformas do Ensino de vários Estados brasileiros. 
Historicamente, os fatos marcantes da Escola Nova passam pela criação da Associação Brasileira de Educação em 1924 e a dissidência ocorrida na IV Conferência Nacional de Educação em 1931, que dividiu o pensamento renovador em dois grupos: liberais e católicos. Vale citarque o primeiro grupo, dos liberais, era integrado por nomes conhecidos como Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Anísio Teixeira e outros. Um marco importante foi o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932, que apresentava as principais diretrizes políticas, sociais, filosóficas e educacionais do escolanovismo. O término da difusão dessas idéias pode ser datado em fins dos anos cinqüenta, quando o ideário pedagógico opta pela planificação educacional como seu princípio maior. Um aspecto importante e político da Escala Nova é a sua visão que liga a educação aos processos sociais, ou seja, a escola deve atender aos desafios da sociedade e isso deve ser feito de forma crítica e dialogada.
Escola Tecnicista:
É uma linha de ensino, adotada por volta de 1970, que privilegiava excessivamente a tecnologia educacional e transformava professores e alunos em meros executores e receptores de projetos elaborados de forma autoritária e sem qualquer vínculo com o contexto social a que se destinavam. 
Além de apresentar características autoritárias, a pedagogia tecnicista pode ser considerada não-dialógica, ou seja, ao aluno cabe assimilar passivamente os conteúdos transmitidos pelo professor. Essa pedagogia difere da progressista que privilegia a formação de cidadãos participativos e conscientes da sociedade em que vivem.
Escola Construtivista:
O Construtivismo parte da crença de que o saber não é algo que está concluído, terminado, e sim um processo em incessante construção e criação. Assim, o conhecimento é um edifício erguido por meio da ação, da elaboração e da geração de um aprendizado que é produto da conexão do ser com o contexto material e social em que vive, com os símbolos produzidos pelo indivíduo e o universo das interações vivenciadas na sociedade.
Esta construção é realizada através da ação e não por dons concedidos anteriormente ao sujeito, presentes na constituição dos genes ou no ambiente em que ele cresceu. Assim, este método pressupõe que é a partir da atitude que se instituem a mente e a consciência, assim como os nossos pensamentos.
O método construtivista fundamenta-se na escrita, pois acredita que o aluno tem condições de se alfabetizar sem a ajuda de cartilhas e mecanismos que o induzem a decorar, repetir mecanicamente, declamar, transmitir e aprender o que já está acabado. Parte-se da ideia de que a criança, antes mesmo de ser alfabetizada no ambiente escolar, já descobriu como funciona o processo de aprendizado do alfabeto, como, por exemplo, ler do lado esquerdo para o direito.
A corrente em questão pressupõe, assim, que se o aprendiz estiver mergulhado em um meio que lhe proporcione e lhe motive a aquisição da alfabetização, ele poderá realizar este intento por si mesmo. Conclui-se daí que o estudante pode construir seu conhecimento, atuando, executando, gestando, edificando este saber a partir do ambiente social em que vive e da relação com os professores.
Defende-se que o construtivismo educacional é fruto da união das correntes pedagógicas mais recentes, uma versão estendida destes métodos. Eles compartilham entre si o descontentamento com uma esfera educacional que insiste em preservar o viés ideológico que permeia as escolas tradicionais, as quais continuam recorrendo aos instrumentos do aprendizado mecanizado, que obriga os alunos a decorarem e repetirem como autômatos o conhecimento que lhes é transmitido.
A educação, neste método, é tecida em conjunto por alunos e professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita, exaustivamente praticadas nas aulas. Assim, mestres e aprendizes atuam juntos na construção do conhecimento, assessorados pela incidência da problemática social mais atual e pelo arsenal de saberes já edificados, patrimônio intransferível do ser humano.
A metodologia construtivista conduz, assim, a uma nova visão de mundo, seja ele o Cosmos ou o universo das interações sociais. Piaget, um dos teóricos mais significativos deste método, acreditava no potencial da criança, no que ela traz em si enquanto herança de sua própria ação e de seu comportamento, o poder nela interiorizado de absorver as informações obtidas do mundo exterior e acomodá-las, isto é, alterar sua forma, para que assim ela possa entender a realidade na qual está inserida. Basicamente, o saber é sempre produzido pelo ato de construção, o qual deve sempre ser estimulado no aluno.

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