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A CRISE GERAL DO SÉCULO XVII – H. R. TREVOR -ROPER O meio do séc XVII foi um período de revoluções na Europa. Foram revoluções diferentes de um lugar para o outro e, se estudadas separadamente, parecem ter causas particulares e locais. No conjunto, porém, elas possuem tantos aspectos comuns que parecem quase constituir uma revolução geral. Os observadores da época acreditavam que a própria sociedade estava em crise, e que essa crise era geral na Europa. Os diversos países europeus viraram palco da mesma grande tragédia simultaneamente. QUAL A CAUSA GERAL OU A NATUREZA DESSA CRISE? Trevor não nega a existência da crise. Ele diz que a crise do séc XVII não oi uma surpresa, ela estava instalada e era prevista – mesmo que vagamente – mesmo antes dos acidentes que a fizeram eclodir. De fato, em determinados lugares houve uma revolução maior e mais profunda, enquanto em outros, menor e mais superficial. QUAL A CONDIÇÃO QUE TORNOU A EUROPA TÃO VUNERÁVEL À REVOLUÇÃO? A guerra de trinta anos sem dúvida preparou o terreno para a revolução. O peso dos impostos, assim como a opressão e a derrota militares, levou a revoltas. O deslocamento do comércio, que pode ter sido provocado por ela, provocou desemprego e a violência nas fábricas e no comércio de muitos países. Entretanto, a guerra não é uma explicação suficiente. A final, as guerras europeias de 1618-1650 não constituíam fenômenos novos. Além disso, as revoluções do séc XVII foram, às vezes, independentes da guerra. A maio dessas revoluções ocorreu na ING, que era cautelosamente neutra e no país que mais sofreu com a guerra, a Alemanha, não houve revolução. Trevor não crê que as revoluções do séc XVII possam ser explicadas simplesmente através das circunstancias do séc anterior, não-revolucionário. Se quisermos uma explicação, devemos procura-la na estrutura da sociedade. A universalidade da revolução no séc XVII indica que as monarquias europeias, que tinham sido suficientemente fortes para absorver tantas pressões no séc anterior, tinham agora desenvolvido graves fraquezas estruturais; fraquezas que o reinício da guerra geral não provocou, mas apenas expôs e acentuou. QUAIS ERAM AS FRAQUEZAS GERAIS, DE ESTRUTURA, DAS MONARQUIAS OCIDENTAIS? Os contemporâneos que analisaram as revoluções do séc XVII entenderam-na como revoluções políticas, como lutas entre os dois órgãos tradicionais da antiga “monarquia mista” – a Coroa e os Estados. A luta era uma luta pelo poder, pela sobrevivência, entre Coroas e Estados. Que forças, que interesses eram representados pelos partidos revolucionários na Europa do séc XVII? Segundo marxistas, a crise do séc XVII foi no fundo uma crise de produção, e a força motriz de pelo menos algumas das revoluções foi a força da burguesia produtora, obstruída em sua atividade econômica pelo obsoleto, dispendioso e restritivo sistema produtivo da sociedade “feudal”. Foi somente na ING que as forças do “capitalismo”, graças a seu maior desenvolvimento e sua representação no parlamento, puderam triunfar. ARGUMENTOS AO DOBB E HOBSBAWM DOBB: Para Dobb, a revolução puritana inglesa foi um “avanço” crucial do capitalismo moderno. Ela carrega “todas as marcas da clássica revolução burguesa”. Antes dela o capitalismo é rígido e frustrado, nunca progredindo além de um certo estágio. Entretanto, Dobb em nenhum lugar oferece evidencias para provar sua posição. HOBSBAWM: “Se a revolução ING tivesse fracassado com tantas outras revoluções europeias no séc XVII fracassaram, é perfeitamente possível que os desenvolvimentos econômicos pudessem ter sido retardados por muito tempo”. Hobsbawm é ainda mais resumido que Dobb COMO FAZER A ANÁLISE DA CRISE: Para analisar a crise, devemos também analisar todo do antigo regime que precedeu a crise, toda forma de Estado e sociedade que vemos continuamente m expansão, absorvendo todos os choques, tornando-se mais confiante no séc XVI, e que, e meados do séc XVII, chegam ao fim, o que pode conveniência podemos chamar de Estado e sociedade do Renascimento europeu. RENASCIMENTO EUROPEU Por Renascimento europeu chamamos a repentina expansão da nossa civilização, a excitante descoberta de mundo após mundo, aventura após aventura. Palavras chaves: extensão e expansão. Definição: uma grande burocracia em expansão, um imenso sistema de centralização administrativa, cujos membros constituem uma multidão sempre crescente de “cortesãos” ou “funcionários”. Durante todo o século, número de funcionários aumentou. Os príncipes precisavam cada vez mais, para compor seus conselhos e cortes, seus novos tribunais especiais ou permanentes – que eram o meio de governar novos território e centralizar o governo dos antigos. O poder dos príncipes do Renascimento não era apenas o poder principesco, era também o poder de milhares e “funcionários” que também, como seus senhores, tinham gastos extravagantes e, de alguma forma, tinham como satisfazê-los. Somente uma fração do custo da burocracia real caía diretamente sobre a Coroa, três quartos dos gastos recaíam, direta ou indiretamente, sobre a população. Os salários pagos eram baixos, o grosso dos ganhos advinha de oportunidades particulares para as quais um cargo público era uma porta aberta. Os cargos, no séc XVI, não eram concedidos de graça, eram vendidos, e pelo menos o começo, o dinheiro da compra ia para a Coroa. Se a Coroa conseguisse vender cada vez mais cargos a preços cada vez mais altos, deixando que os funcionários fossem pagos pela população, esta era uma maneira indireta de cobrar impostos. Consequentemente, os príncipes sentiam-se facilmente tentados a criar novos cargos, e lucrar com a competição que, por sua vez, provocava um aumento no preço. Quanto ao comprador, depois de pagar um alto preço, naturalmente procurava aumentar seus lucros ainda mais, a fim de indenizar-se, com boa margem, pelas despesas. O “Estado do Renascentismo” consistia numa burocracia sempre crescente que se tornou a final do séc XVI uma burocracia parasitária. Essa burocracia crescente apoiava-se numa margem de “desperdício” igualmente crescente, que se situava entre as taxas impostas aos súditos e os rendimentos arrecadados pela Coroa. Como a Coroa não tinha condições de suportar uma perda absoluta de rendimentos, está claro que esta expansão se deu às custas da sociedade. Felizmente, no séc XVI, a economia europeia estava em expansão. O comércio da Ásia e os metais da África e América faziam funcionar a máquina europeia. Na década de 1620 a economia europeia pressionada ao máximo pelos hábitos da expansão da época de paz, foi violentamente atingida por uma grande depressão, a “decadência do comercio”. Além do mais, foi gerado um ódio no povo à corte, às extravagancias dos príncipes e à corrupção burocrática, ao próprio renascimento; em resumo: puritanismo. O puritanismo e sua tendência geral finda com o renascimento. Assim, a tensão entre Corte e campo cresceu, desenvolvendo a “situação revolucionária” das décadas de 1620 e 1630. O Estado renascentista expande-se continuamente sem, no entanto, romper seu antigo invólucro. Esse invólucro é a monarquia medieval e aristocrática, o governo do príncipe cristão. Foi o Estado do Renascentismo que exterminou ou desgastou o antigo poder das cidades e depois enfrentou sua própria crise e se dissolveu. COMO AS CIDADES SOBREVIVIAM: Subjugando a Igreja, entendendo sua jurisdição e mobilizando o campo, os príncipes tinham criado um novo aparato de poder, “o Estado do Renascimento”, com o qual podiam cobrar impostos sobre a riqueza das cidades, proteger e estendeu seu comércio, apoderar-se e desenvolver sua arte e arquitetura. O séc XVI não é uma época de cidades e sim de cortes; de capitais que se tornaram esplendidas menos pelo comércio do que pelo governo. O séc XVI foi uma época de expansão econômica, foi o séc em que, pela primeira vez, a Europa vivia às custas da África, Ásia e América. Mas também os príncipes eram sempre beneficiados, nunca derrubados por esta expansão porque tinham aliados que lhesasseguravam o poder e os conservavam firmemente no lugar. FIM DO RENASCIMENTO Se as cortes do renascimento desejavam se manter, duas coisas deviam ser feitas: Reduzir as burocracias parasitárias. A burocracia que funcionava devia estar relacionada à capacidade econômica do país – reforma econômica. O “novo” sistema econômico que desejavam era simplesmente a aplicação, às novas monarquias centralizadas, da antiga política, já experimentada, das comunas medievais que aquelas monarquias tinham eclipsado: mercantilismo. Era preciso, diziam os reformadores, que as novas cidades associassem o seu poder com os objetivos econômicos, que favoreçam uma verdade do trabalho, ao invés da fidalguia aristocrática. Que protejam a indústria, assegurem a riqueza produtiva. Que racionalizem as finanças e reduzam o aparato da Igreja e do Estado a uma proporção mais justa. CONCLUSÃO Métodos para se evitar a revolução? Reduzi as sinecuras opressivas e caras da Igreja e do Estado Retornar à velha política mercantilista das cidades, fundamentada no interesse econômico da sociedade. Na Espanha nenhuma das duas políticas foi adotada. Vitória da Monarquia. A Holanda do Norte foi o primeiro país europeu a rejeitar a corte do Renascimento. Na França, assim como na Espanha, a monárquica venceu e sobreviveu por mais de um séc. Na ING a coroa não tinha o mesmo poder político que na França ou na Espanha, e os impostos recaíam sobre a pequena nobreza, poderosa em seus condados e no parlamento. Portanto, era de suma importância que o problema fosse resolvido. Havia uma ausência fatal de habilidade política; ao invés do gênio de Richelieu e da flexibilidade de Mazarino, a irresponsabilidade de Buckingham, a violência de Strafford e o constante pedantismo de Laud. Na ING, portanto, a tempestade do meio do séc XVII, que assolou toda a Europa, atingiu o mais instável, maior e mais rígida de todas as cortes, derrubando-a violentamente.
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