Buscar

NEGÓCIO JURÍDICO.doc

Prévia do material em texto

TEORIA DO NEGÓCIO JURÍDICO.
INTRODUÇÃO
As relações travadas na vida social, em sua grande parte, interessam às Ciências Jurídicas, que por sua vez interpretam as mesmas como fenômenos que dão origem as relações jurídicas.
As relações jurídicas originam-se a partir de fatos jurídicos, ou seja, acontecimentos naturais (fato jurídico strictu sensu) ou voluntários (ato jurídico) que por alguma razão, são relevantes para o sistema jurídico. Acontecido um fato jurídico, desencadeia-se uma reação que toca a esfera jurídica em um ou vários pontos do sistema, ocorrendo um processo de identificação (exegese) do fato acontecido, com a norma jurídica, para que então, possam ser identificados os direitos e as obrigações provocadas pelo fato ocorrido.
No entanto, nem todo fato pode vir a ter alguma relevância jurídica. Para que o fato tenha relevância, é necessário prévia previsão na norma jurídica (hipótese de incidência), de forma que haverá, portanto, sempre uma previsão normativa que o fato jurídico possa ser identificado como tal.
Portanto, o fato jurídico é elemento indispensável para o estudo das características fundamentais do negócio jurídico.
Ainda antes de analisarmos o negócio jurídico em sua essência, prudente esclarecer que dentro da classificação dos fatos jurídicos, encontramos como subespécie, os atos jurídicos, donde deriva, por sua vez, o negócio jurídico.
Atos jurídicos, na realidade, são fatos humanos, que para sua caracterização tem como constituinte mínimo a voluntariedade, atribuindo, o Direito, efeitos para essa postura volitiva.
Todavia, aplica-se aos atos jurídicos a mesma seletividade dos fatos, para identificarmos sua relevância ao Direito. Devemos, portanto, observar três características essenciais para classificá-los como atos: voluntariedade, intenção e finalidade.
Ademais, oportuno é o esclarecimento quanto à separação de fatos e atos jurídicos, informando que:
“Na realidade, a distinção entre atos e fatos jurídicos só tem sentido na medida em que tome por base o modo como a ordem jurídica considera e valoriza determinado fato. Se a ordem jurídica toma em consideração o comportamento do homem em si mesmo, e, ao atribuir-lhe efeitos jurídicos, valoriza a consciência que, habitualmente, o acompanha, e a vontade que, normalmente, o determina, o fato deverá qualificar-se como ato jurídico. Mas deverá, pelo contrário, qualificar-se como fato, quando o direito tem em conta o fenômeno natural como tal, prescindido da eventual concorrência da vontade: ou então quando ele considera, realmente, a ação do homem sobre a natureza exterior, mas , ao fazê-lo, não valora tanto o ato humano em si mesmo, quanto o resultado de fato que ele tem em vista: quer dizer, a modificação objetiva que ele provoca no estado de coisas preexistente.
ESCALA CONCEITUAL DO FATO AO CONTRATO
FATO- para ser considerado jurídico tem que ter juízo de valor, com prévia previsão na norma jurídica. DIVIDE-SE EM:
a) NÃO JURÍDICO- irrelevante para o direito
b) JURÍDICO- com relevância para o direito. Este por sua vez subdivide-se em:
b.1) NATURAIS OU JURÍDICOS “STRICTO SENSU” – decorrem da simples manifestação da natureza.
Podem ser: - ordinários: nascimento; morte; maioridade; decurso do tempo etc.
 -Extraordinários: caso fortuito e força maior (art. 393 CC) – terremotos, raios, tempestades etc.
b.2) HUMANOS OU JURÍDICOS “LATO SENSU”– decorrem da atividade humana. São ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos. Podem ser: - ILÍCITOS – Praticados em desacordo com a lei. Produzem efeitos jurídicos involuntários impostos pela lei. Em vez de direitos, criam deveres e obrigações de reparar o dano. Arts. 186, 187 e 927 CC. Ato ilícito é fonte de obrigação.
 - LÍCITOS (art. 188 CC)- atos humanos que a lei defere os efeitos almejados pelo agente, quando praticados de acordo com o ordenamento jurídico (criam direitos). Produzem efeitos jurídicos voluntários (almejados pelos agentes). 
Os LÍCITOS podem ser: 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO OU MERAMENTE LÍCITO. Ver art. 185 CC. Simples INTENÇÃO (não há acordo de vontades). Exige apenas manifestação de vontade e não o resultado do ato. O efeito da manifestação já está previsto em lei. Exemplos: notificação; reconhecimento de filho; tradição; percepção dos frutos; ocupação; uso de uma coisa, etc.
ATO-FATO JURÍDICO – NÃO se leva em conta a vontade, intenção ou consciência de praticar o ato. Muitas vezes o efeito do ato não é buscado, nem imaginado pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei. Exemplos: pessoa que acha um tesouro (art. 1264 CC), ainda que seja absolutamente incapaz, adquire a sua metade, por força de lei.
NEGÓCIO JURÍDICO. Ação humana que visa alcançar um fim prático permitido por lei, dentre os muitos efeitos possíveis. Exige vontade humana qualificada, sem vícios. O negócio jurídico pode ser unilateral, bilateral e plurilateral. Exemplo: Contrato de compra e venda.
Eis, portanto, os esclarecimentos iniciais, fundamentais para prosseguirmos na pretendida análise da teoria geral do negócio jurídico.
1. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO.
Negócio jurídico: “É uma declaração de vontade.”
Ato, ou pluralidade de atos, entre si relacionados, de uma ou várias pessoas, com o fim de produzir efeitos jurídicos.
De uma maneira geral, podemos classificar o negócio jurídico da seguinte forma:
I.       quanto ao número de declarantes: unilateral, bilateral e plurilateral;
II.      quanto à onerosidade: gratuitos e onerosos;
III.    quanto à forma: formais/solenes e livres/não formais;
IV.    quanto ao momento de produção de efeitos: inter vivos e causa mortis;
V.     quanto à existência: principais e acessórios;
VI.    quanto ao conteúdo: patrimoniais e extrapatrimoniais; e
VIII.  quanto à eficácia: constitutivos (eficácia com efeito ex nunc) e declaratórios (eficácia com efeitos ex tunc).
2. FINALIDADE NEGOCIAL
No negócio jurídico a manifestação de vontade tem a finalidade negocial de:
- Aquisição;
- Conservação;
- Modificação;
- Extinção de direitos.
3- ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Elementos essenciais: são indispensáveis à existência do negócio jurídico. Ex: declaração de vontade (elementos essenciais gerais- para todos os tipos de contratos); coisa, preço e consentimento (elementos essenciais particulares).
Elementos naturais: decorrem da própria natureza do negócio. Ex: responsabilidade do alienante por vícios redibitórios (art. 441 CC); lugar do pagamento quando não for mencionado (art. 327 CC).
Elementos acidentais: estipulações acessórias como condição, termos e encargo ou modo (arts. 121, 131 e 136 CC), usados para modificar alguma das consequências naturais do negócio jurídico.
4- REQUISITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Requisitos de existência: São elementos estruturais. Sem eles o negócio é INEXISTENTE.
- declaração de vontade;
- finalidade negocial;
- idoneidade do objeto;
Requisitos de validade: Se faltar algum deles, o negócio é INVÁLIDO, não produz o efeito jurídico necessário e é nulo ou anulável. 
Requisitos de validade de caráter geral: art. 104 CC. 
- agente capaz;	
- objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
- forma prescrita ou não defesa em lei (a regra é liberdade de forma; A forma obrigatória é a exceção (art. 107 CC). Ver art. 166, IV e V e 221 do CC, 366 e 154 CPC.
Requisitos de validade de caráter específico: Pertinentes a determinado negócio jurídico. Ex: compra e venda é necessário a coisa, o preço e o consentimento. E se for de bem imóvel exige escritura pública.
5. DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
A vontade é manifestada com vícios, podendo o negócio ser anulado (ver art. 171, II CC)
O CC/02 menciona os defeitos: erro, dolo, coação, estado de perigo; lesão; fraude contra credores.
Art. 178 CC – Prazo de decadência de 04 anos para pleitear a anulação do negócio jurídico.
Tais defeitos com exceção da fraude contra credoressão chamados vícios do consentimento, já que a manifestação não é de acordo com o íntimo querer do agente. Há divergência entre a vontade manifestada e a real.
Vício social – é considerada assim a fraude contra credores, pois não há divergência na vontade do agente, mas ela é manifestada visando prejudicar terceiros.
1- ERRO OU IGNORÂNCIA
Falsa representação da realidade. O agente engana-se sozinho. Se é induzido a erro pelo outro declarante é dolo. 
Erro é a ideia falsa; ignorância é o completo desconhecimento da realidade.
O agente celebra um negócio que não celebraria se estivesse devidamente esclarecido.
ESPÉCIES DE ERRO:
a) substancial ou essencial- recai sobre aspectos relevantes do negócio. Tem que ser causa determinante do negócio, ou seja, se a realidade fosse conhecida, o negócio não seria celebrado.
Características do erro substancial- o erro substancial pode ser: 
- sobre a natureza do negócio – Ex: pessoa imagina estar realizando um negócio quando na realidade realiza outro. Comodato-locação
- sobre alguma das qualidades essências do objeto principal – o motivo determinante do negócio é a suposição de que o objeto possui determinada qualidade que depois verifica-se inexistir. O erro é sobre identidade do objeto. Ex1: pessoa adquire quadro de alto preço acreditando ser original, quando não passa de mera cópia. Ex2: compra de relógio dourado acreditando ser de ouro maciço, quando é apenas folheado.
- quanto à identidade ou a qualidade da pessoa- negócios “intuito personae”. O erro para invalidar o negócio deve ter influído na vontade de modo relevante. (art. 139, II, 2º parte CC).
Tem especial importância no casamento, nas liberalidades, nos negócios jurídicos “intuito personae” e nos fundados na confiança (mandato, prestação de serviços, etc.)
- erro de direito- falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica (art. 139, III, CC). EX: pessoa que contrata importação de determinada mercadoria quando existe lei que a proíbe.
Diferença entre erro substancial e vício redibitório
	Erro Substancial
	Vício redibitório – arts 441 a 446 CC
	Subjetivo- reside na manifestação da vontade
	Objetivo – sobre a coisa que tem um defeito oculto
	Cabível ação anulatória do negócio jurídico
	Cabíveis ações edilícias e redibitórias (para rescindir o contrato) e quanti minoris ou estimatória (para abatimento no preço)
	Prazo decadencial – 4 anos – art. 187 CC
	Prazo decadencial – 30 d para bem móvel e 01 ano para imóvel. No CDC – 30 d para bem não durável e 90d para bem durável – art. 26 e §§
b) erro acidental- refere-se a circunstâncias de menor importância, não acarretando efetivo prejuízo. Ainda que a realidade fosse conhecida, o negócio seria realizado. Ver art. 143 CC. Mero erro de cálculo.
TRANSMISSÃO ERRÔNEA DA VONTADE
Art. 141 CC- quando a vontade é manifestada por outros meios (mensageiro, telégrafo e e-mail etc) não estando o declarante na presença do destinatário, e, aquela não se faz com fidelidade, pode causar a anulação do negócio.
CONVALESCIMENTO DO ERRO
Art. 144 CC- LER.
Ex: O comprador pensa que comprou o lote 2 da quadra “A”, quando na verdade adquiriu o lote 2 da quadra “B”. O erro é substancial, mas o vendedor entrega ao comprador o lote efetivamente pretendido, não havendo dano ao comprador. Nesse caso o negócio será válido.
2- DOLO
Conceito- Induzimento malicioso de alguém à prática de um ato que lhe é prejudicial, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro. Dolo civil é todo artifício empregado para enganar alguém.
Diferença de dolo e erro – nos dois casos o negócio é ANULÁVEL 
	Dolo
	Erro
	O equívoco é provocado por outrem
	Pessoa se engana sozinha
	Quem age com dolo pode ser obrigado a indenizar os prejuízos que tiver causado
	
Diferença entre dolo e simulação
	Dolo
	Simulação
	A vítima participa diretamente do negócio, mas somente a outra parte age de má-fé
	A vítima é lesada sem participar do negócio jurídico simulado
Diferença entre dolo e fraude
	Dolo
	Fraude
	O lesado concorre para a realização do negócio iludido por manobras do outro contratante 
	O negócio se consuma sem a participação pessoal do lesado no negócio
A fraude e a simulação são mais graves que o dolo e geram a NULIDADE do negócio – art. 167 CC.
O dolo gera ANULABILIDADE
A regra geral é que o dolo seja unilateral. Se o dolo for bilateral (art. 150 CC), NENHUMA das partes pode alega-lo para anular o negócio e nem pedir indenização.
Nesse caso prevalece o princípio de que “NINGUÉM PODE VALER-SE DA PRÓPRIA TORPEZA”. 
DOLO DE APROVEITAMENTO- (CC art. 157)
Quando alguém se aproveita da situação de premente necessidade ou da inexperiência do outro contratante para obter lucro exagerado, manifestamente desproporcional à natureza do negócio.
3- COAÇÃO
Ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para força-lo, contra sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio.
Há emprego de violência psicológica. O temor da vítima constitui o vício do consentimento. É o vício mais grave e profundo.
Espécies de coação:
- absoluta ou física- não ocorre qualquer manifestação de vontade. Há emprego de força física. Nesse caso o negócio é INEXISTENTE.
- coação relativa ou moral- torna ANULÁVEL o negócio jurídico (art. 171, II CC). É coação psicológica. Ex: “bolsa ou a vida”. Não deixa opção para a vítima.
- coação principal- é a causa determinante do negócio. ANULA o negócio jurídico.
- coação acidental- influi apenas nas condições da avença, ou seja, o negócio se realizaria de qualquer forma, mas em condições menos desfavoráveis à vítima. SOMENTE obriga o ressarcimento do prejuízo. O CC/02 não faz distinção, apenas a doutrina.
REQUISITOS DA COAÇÃO- art. 151 CC
- ser causa determinante do ato;
- ser grave;
-dizer respeito a dano atual ou iminente;
- constituir ameaça à pessoa ou bens da vítima ou pessoa de sua família.
COAÇÃO EXERCIDA POR TERCEIRO – ART. 154 e 155 CC
Essa coação só vicia o negócio e permite a anulação pelo lesado se a outra parte, que se beneficiou, dela teve ou devesse ter conhecimento.
4- ESTADO DE PERIGO – ART. 156 CC
Situação de extrema necessidade que leva uma pessoa a celebrar negócio jurídico em que assume obrigação desproporcional e excessiva. 
Ex: náufrago que promete extraordinária recompensa pelo seu salvamento;
Pessoa que é obrigada a depositar caução em hospital para garantir internação de cônjuge ou parente em perigo de vida. O negócio é ANULÁVEL.
Diferenças entre estado de perigo (art. 156CC) e lesão (art. 157CC)
	Estado de perigo
	Lesão
	Vício na manifestação da vontade em virtude de extremo risco existente no momento em que é formulada
	Não há vício na oferta, mas lucro patrimonial exagerado
	O contratante deve optar entre 2 males. Ex: ou da a caução em hospital para garantir o tratamento, ou morre
	Contratante participa de negócio desvantajoso em virtude de necessidade econômica
	Inexperiência não é requisito para sua configuração
	Pode decorrer da inexperiência do declarante
	Exige além da prestação excessivamente onerosa, o conhecimento do perigo por parte de quem se aproveitou da situação
	Não é necessário que o contratante saiba da necessidade ou da inexperiência
	O agente se obriga a uma prestação de dar, ou fazer, por uma contraprestação sempre de fazer
	Ver art. 157, §2º. A contraprestação é sempre de dar
	Pode ocorrer em negócios unilaterais onde a prestação assumida seja só da vítima. Ex: promessa de recompensa
	Exige desequilíbrio de prestações
Diferenças entre estado de perigo e estado de necessidade
	Estado de perigo
	Estado de necessidade
	Tipo de estado de necessidade. É defeito do negócio jurídico, afeta a declaração de vontade. Cabe anulação do negócio
	É mais ampla. Abrange a exclusão da responsabilidade por danos (art. 188, II CC). O perigo não pode ser voluntariamente causado pelo autor dodano. O afastamento ou eliminação da necessidade gera um dano que deve ser regulado pelos casos de responsabilidade extracontratual.
Diferença entre estado de perigo e coação
	Estado de perigo
	coação
	Um dos contratantes constrange o outro à prática de determinado ato ou a consentir na celebração de determinado contrato. Deve haver o temor do dano iminente que leva o contratante a participar de negócio jurídico excessivamente oneroso. Há celebração de contrato abusivo aliado à vontade perturbada. (elementos objetivo e subjetivo)
	Existe apenas o elemento subjetivo a ser considerado. Não se conta as condições do negócio, se são abusivas, mas apenas se a vontade está diferente da real intenção do declarante.
ELEMENTOS DO ESTADO DE PERIGO
- situação de necessidade
- iminência de dano atual e grave, a si ou à família
- nexo de causalidade entre a declaração e o perigo de grave dano
-Incidência da ameaça do dano sobre a própria pessoa ou sua família
- conhecimento do perigo pela outra parte
- obrigação excessivamente onerosa
EFEITOS DO ESTADO DE PERIGO- ART. 178, II, CC
O negócio é anulável. Deve haver má-fé do outro contratante.
5- LESÃO – ART. 157 CC
Prejuízo resultante da enorme desproporção existente entre as prestações de um contrato no momento de sua celebração, determinada pela premente necessidade ou inexperiência de uma das partes.
A lesão é também combatida pelo CDC – Lei 8.078/90 – art. 51, IV e § 1º, III. Ver também art. 39,V.
Características diferenciadoras
Lesão – necessidade patrimonial ou inexperiência
Erro- Ignorância da realidade pelo agente. Se a conhecesse não realizaria o negócio.
Lesão – uma parte não induz a outra à pratica do ato. Apenas aproveita-se de uma situação de necessidade ou inexperiência
Dolo – Uma parte é induzida a erro pela outra.
Lesão – A parte decide por si, apenas pressionada por necessidade ou inexperiência
Coação- a vítima não age livremente. Existe grave ameaça de dano atual e iminente à pessoa, sua família e bens. TEMOR
Lesão – a necessidade é patrimonial ou inexperiência
Estado de perigo- a vítima ou alguém da família corre risco de vida, e a outra parte deve conhecer o perigo.
Observação: Na lesão não se indaga má-fé ou ilicitude do comportamento da parte beneficiada. Se houver vantagem exagerada ou desproporcional de uma parte, caracterizada está a lesão.
ELEMENTOS DA LESÃO
- Objetivo – manifesta desproporção entre as prestações recíprocas
- Subjetivo- inexperiência ou premente necessidade
EFEITOS DA LESÃO
É considerada vício do consentimento que torna ANULÁVEL o negócio (art. 178, II CC). No entanto, traz ressalva do art. 157, § 2º CC, quando não se anulará o ato.
6- FRAUDE CONTRA CREDORES
É vício social. O devedor de má-fé desfalca seu patrimônio, a ponto de se tornar INSOLVENTE, com o intuito de prejudicar seus credores.
Permite o CC que os credores possam desfazer os atos fraudulentos praticados pelo devedor em detrimento de seus interesses.
Para que o negócio possa ser anulado é necessário, ainda que o adquirente esteja de má-fé. É o elemento subjetivo da fraude: “consilium fraudis” – conluio fraudulento. O adquirente precisa ter ciência da situação de insolvência. EX: existência de títulos protestados e demandas judiciais contra o alienante.
Espécies de negócios passíveis de fraude
- transmissões onerosas- credores devem provar o “eventos damni” – que a alienação reduziu o devedor a insolvência e o “consilium fraudis” – má-fé do terceiro adquirente.
- alienações a título gratuito- (art. 158CC). Não é necessária a prova do “consilium fraudis”, pois é presumido o propósito da fraude. A remissão de dívida (perdão) também constitui liberalidade.
- devedor já insolvente – paga o credor quirografário (que não tem preferência - privilégio), dívida não vencida (art. 162 CC).
- devedor já insolvente – concede garantias de dívidas a algum credor, colocando-o em posição mais vantajosa que os demais (art. 163 CC). Ex: penhor, hipoteca, etc.
AÇÃO PAULIANA OU REVOCATÓRIA
É a ação para anular negócio jurídico celebrado em fraude contra credores. Natureza desconstitutiva – anula as alienações ou concessões fraudulentas e determina o retorno do bem ao patrimônio do devedor.
Diferença entre fraude contra credores e fraude à execução
	Fraude contra credores
	Fraude à execução
	É defeito do negócio jurídico (vício social disciplinado no CC arts. 158 a 165
	É incidente processual regulado pelo CPC, art. 593
	Ainda não existe ação de execução em andamento, podendo já existir protestos cambiários
	Pressupõe demanda em andamento. É efetivada pelo devedor para furtar-se à execução (art. 593, II CC)
	ANULA o negócio jurídico, retornando os bens ao patrimônio do devedor (CC arts, 158, 159 e 165)
	Declara a INEFICÁCIA da alienação fraudulenta
	Exige propositura de ação pauliana. Ver Súmula 195 STJ
	Não depende de ação pauliana ou revocatória, podendo ser reconhecida mediante simples petição nos autos da execução, sendo objeto de decisão interlocutória.
	Uma vez reconhecida aproveita a todos os credores
	Uma vez reconhecida aproveita apenas ao exequente.
	Nas alienações onerosas depende de prova da má-fé do adquirente (consilium fraudis). Essa prova é dispensada nas alienações gratuitas ou remissão de dívidas
	É vício mais grave. A má-fé é sempre presumida. Ver Súmula 375 STJ – fala da prova da má-fé do terceiro adquirente.
CONCLUSÕES.
1. a identificação do negócio jurídico, é rastreada através da declaração de vontade expressada entre as partes envolvidas na relação negocial.
2. A qualificação da vontade expressada na declaração negocial, é fruto de um reconhecimento social, que aceita a irradiação de seus efeitos, em virtude da licitude do negócio praticado entre as partes.
3. O negócio jurídico lícito será sempre objeto de interpretação conjugada com a finalidade social, para que por sua vez, seja analisado o resultado da produção de seus efeitos, de acordo com a norma jurídica que toque a essência existencial do negócio.
4. A verificação do plano de existência ocorre quando se confere a incidência das normas jurídicas sobre o fato jurídico.
5. A declaração de vontade, é um dos pressupostos elementares para existência do ato, porquanto sem ela, não existe exteriorização da manifestação da vontade querida.
6. No plano da validade do ato, analisa-se o preenchimento dos requisitos do ato jurídico, verificando se os atos possuem as condições necessárias para alcançar a finalidade do negócio celebrado.
7. No plano da eficácia do negócio jurídico, avalia-se a eficácia do negócio celebrado, tão somente, frente ao ordenamento jurídico, vez que perante os agentes, o negócio já irradia os efeitos do celebrado.
8. Neste diálogo entre o Direito Civil e o Direito Constitucional, até mesmo diante da hierarquia de normas, passa-se a aplicar as diretrizes constitucionais, formando as cláusulas gerais  atualmente inseridas no Direito Civil.
9. O objeto negocial encontra-se inserido no plano da validade do negócio, devendo ser lícito, possível determinado ou determinável. Não pode o objeto do negócio ser contrário a norma jurídica, deve sempre estar inserido dentro do campo da licitude para que possa deflagrar os efeitos queridos entre as partes contratantes.
10. A forma do negócio jurídico é a maneira pela qual as partes contratantes exteriorizam o negócio jurídico, adequando a declaração negocial à espécie de negócio celebrado.
11. O Código Civil Brasileiro adotou expressamente o princípio da liberdade das formas, especialmente quanto ao tratamento pretendido à declaração negocial.
12. Os defeitos do negócio jurídico, importam na anulabilidade do negócio praticado. O Código Civil atual, trouxe consigo, basicamente seis hipóteses em que caracteriza-se a ocorrência de defeito do negócio praticado, sendo eles: o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo, a lesão e a fraude contra credores.
13.O ato ilícito revela-se pela violação de um dever preexistente, que se impõe ao agente. É a transgressão de um dever jurídico. Para o Direito Civil, a ilicitude do ato está ligada a ideia de reparação civil, tendo como elementos de reparação ação ou omissão do agente, a culpa (art. 186 CC – responsabilidade subjetiva e art. 927 – responsabilidade objetiva) ou o dolo.
14. O aplicador do direito não pode se afastar da boa-fé ao interpretar o negócio jurídico, constituindo, as cláusulas gerais, norma cogente, sendo, por isso, inócua qualquer tentativa das partes de obstar a incidência destas.
15. Com efeito, a doutrina cada vez mais, admite de forma pacífica a possibilidade tanto da boa-fé, quanto dos costumes, interferirem diretamente nas relações privadas, evitando desta forma, a ocorrência de abuso de direito, consagrando, muitas vezes, a possibilidade de admitir modificações nas relações jurídicas, como forma de buscar a estabilização das relações sociais. Ademais, as circunstâncias referidas, partem essencialmente da tutela da confiança, que visa a proibição de comportamento contraditório pelas partes contratantes.
 
FATO
NÃO JURÍDICO
JURÍDICO
NATURAIS
HUMANOS
ORDINÁRIOS
EXTRAORDINÁRIOS
ILÍCITOS – Arts. 186, 187 e 927 CC
LÍCITOS – Art. 188 CC
ATO – FATO JURÍDICO
ATO JURÍDICO
NEGÓCIO JURÍDICO
�PAGE \* MERGEFORMAT�2�

Continue navegando