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_________________________________________________________________________________ 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA Prof. Dr. Leandro Marcio Moreira Ouro Preto, Julho de 2010 BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 2 PREFÁCIO A disciplina de Bioquímica em muitos dos cursos de graduação tem levado em conta um conteúdo programático voltado quase que exclusivamente para o conhecimento presentes exclusivamente em livros textos especializados. No entanto, estes livros são voltados quase especificamente para o ensino de bioquímica cujo contexto insere-se no modelo humano, salvo algumas exceções. Desta forma, quando vias metabólicas são discutidas, muitas das peculiaridades interessantes e inerentes a alguns organismos ficam deixadas de lado. Assim, modelos interessantes de estudo quase sempre relacionados com evolução e adaptação dos organismos ficam na obscuridade, e passam a ser estudados ao acaso, se o forem. De forma sinérgica a este contexto ainda pode ser citado o pouco tempo de contato desta disciplina com o aluno que, por ainda ser imaturo em um conhecimento mais aprofundamento de química, o desgaste em sala de aula. Podemos então resumir, com base neste curto prospecto que em um único semestre é impossível conhecer a beleza das vias metabólicas integradas e as exceções passíveis de serem discutidas em organismos específicos. Com base no fato de que é possível expandir este conhecimento bioquímico, bem como a curiosidade dos alunos para esta disciplina, foi elaborada a proposta pedagógica apresentada a seguir. Para isso, os alunos ficaram incumbidos de escolherem as temáticas, independentemente da área do conhecimento, desde que o pano de fundo da discussão fosse a Bioquímica. Curiosamente, e de forma surpreendente, muitas temáticas variadas e bem abordadas foram introduzidas nas últimas semanas do semestre letivo. Isso mostrou não apenas o potencial que nossos alunos possuem como geradores e divulgadores do conhecimento científico, como também abriu o leque de oportunidades para que a Bioquímica seja vinculada numa futura proposta científica a ser elaborada por estes promissores pesquisadores. A seguir são apresentados na íntegra os trabalhos feitos por estes alunos. Bioquímica além da Bioquímica embora seja uma proposta preliminar de algo que possa se tornar grandioso no futuro é fruto do trabalho destes alunos, e nada mais justo do que tornar público o investimento de tempo dos mesmos na geração de um produto elaborado a partir de interesse próprio. Prof. Dr. Leandro Marcio Moreira BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 3 Sumário NEM TUDO SÃO FLORES: O LADO DARK DAS PLANTAS. .....................................................................5 Guilherme F. P. Pociano1 e Letícia R. Alves1. ....................................................................................5 A NEUROTOXINA DO PEIXE-PEDRA COMO ALTERNATIVA PARA A TOXINA BOTULÍNICA NO TRATAMENTO COSMÉTICO TEMPORÁRIO (BOTOX®) .........................................................................9 Ane Catarine Tosi Costa e Felipe Donateli Gatti ...............................................................................9 EXPLICAÇÃO BIOQUÍMICA PARA OS DIAS DE INDISPOSIÇÃO E MELANCOLIA NO INVERNO............. 13 Gabriela O. Faria1 e Karine P. Lúcio2 ............................................................................................... 13 PREVENÇÃO DE DOENÇAS EM PLANTAS: A TEORIA DA TROFOBIOSE............................................... 17 Mariana Fernandes Monteiro Guimarães1 e Rachel Germiniani Resende² ..................................... 17 VENENO PODE SER UMA SUBSTÂNCIA DO BEM? ............................................................................. 20 Priscila M. de Souza e Renata de A. B. Assis................................................................................... 20 APOPTOSE NO TRATAMENTO DO CÂNCER....................................................................................... 25 Denise C. Miranda e Silvana Melo ................................................................................................. 25 TRAPACEANDO O TRIPANOSOMA .................................................................................................... 28 Lucas Á. Ferreira e Marcelo C. Mucci Daniel .................................................................................. 28 OXIGÊNIO: TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO!................................................................................. 30 Hilda de Cássia Ferreira1 e Jaqueline Malta Rolim2 ........................................................................ 30 ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS PARA A ALIMENTAÇÃO HUMANA ...................................................... 35 Juliana F. V. Tófoli e Lorena A. F. Brito ........................................................................................... 35 BACTÉRIAS FAMINTAS POR PETRÓLEO: MICRORGANISMOS ANAERÓBIOS NA BIORREMEDIAÇÃO DE HIDROCARBONETOS ........................................................................................................................ 38 Leonardo R Santos1 e Sarah F Guimarães1 ..................................................................................... 38 ESTRATÉGIAS DE PLANTAS CONTRA O ATAQUE DE AGENTES FITOPATOGÊNICOS ........................... 41 Saulo Rodrigues Leles e Felipe Telles. ............................................................................................ 41 FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO E A DIVERSIDADE DE BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS ............... 45 Giordano P. P. Freitas e Rafael C. Cardoso ..................................................................................... 45 MELATONINA: COMO ESTE HORMÔNIO ATUA NA DOENÇA DE PARKINSON ................................... 48 Gabriela M. Z. da Silva e Lucas R. C. Aguiar .................................................................................... 48 BIOQUÍMICA DO MEL: PRODUÇÃO E QUALIFICAÇÃO....................................................................... 55 Ana Laura de A. F. D. Pimentel1 e Thiago C. Nepomucena1 ............................................................ 55 USO DE FEROMÔNIOS DE INSETOS SINTETIZADOS ARTIFICIALMENTE NO CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS DA AGRICULTURA............................................................................................................... 64 BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 4 Ana C.F. Magalhães¹ e Carlos R.A. Barreto¹ .................................................................................... 64 PRODUÇÃO DE HERBICIDAS NATURAIS A PARTIR DE PLANTAS ALELOPÁTICAS ............................... 70 Iuri S. Martins e Lorena M. Dias..................................................................................................... 70 ASPECTOS FARMACOLÓGICOS DA HIPERTENSÃO: Uso do Captopril ................................................ 73 Barbara S. Passos e Lorena R. Vieira .............................................................................................. 73 ALERTA: O QUE A CAFEÍNA TEM, JÁ QUE O MUNDO NÃO VIVE SEM!.............................................. 75 Carolina F. De Angelis1 e Geysa C. Mendes Silva2 ........................................................................... 75 VÍCIO QUE GERA PRAZER? UMA RELAÇÃO ENTRE DOPAMINA E COCAÍNA ...................................... 78 Ana Cláudia A. Carneiro 1 e Márcia Regina F. Luzia 2 ..................................................................... 78 DOCE VENENO.................................................................................................................................. 83 Lucas de Almeida Barbosa e Samuel Ramos de Souza.................................................................... 83 ÓPIO: A DROGA DO SONO ............................................................................................................... 87 Thiago C. Silva e Renata P. Fumes ................................................................................................. 87 LANTERNA VIVA ............................................................................................................................... 92 Karoline Estefani Duarte* e Walles Henrique Vieira Souza* .......................................................... 92 PEPTIDEOS ANTIMICROBIANOS DE ORIGEM CUTÂNEA.................................................................... 95 Ester A. Mota e Fernanda Marcondes ........................................................................................... 95 FORMIGAS, FUNGOS, BACTÉRIAS E SEUS COMPOSTOS MISTERIOSOS ............................................. 99 Antoniazzi-Junior, R.L.1,2 e Leite, A.C.1,3.......................................................................................... 99 BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 5 NEM TUDO SÃO FLORES: O LADO DARK DAS PLANTAS. Guilherme F. P. Pociano1 e Letícia R. Alves1. Graduandos em Ciências Biológicas Licenciatura pela Universidade Federal de Ouro Preto. RESUMO A grande biodiversidade das plantas e sua presença em todos os ambientes foi possível devido a diversos mecanismos adaptativos desenvolvidos por elas ao longo de sua evolução. Uma delas é a síntese de aminoácidos por meio da absorção de compostos nitrogenados, um elemento químico essencial. Outra adaptação muito interessante são os mecanismos de defesa contra a herbívora, um dos mais eficientes é a produção de compostos secundários, em especial o fitoecdisona. Esta molécula representa um terpeno produzido pela planta que é muito semelhante a um hormônio dos artrópodes, o ecdisona que estimula a muda e a metamorfose, assim quando o inseto ingere esse composto ele entra muda ou em metamorfose sem estar preparado o que o leva a morte Palavras-chave: plantas, defesa, compostos nitrogenados, compostos secundários, fitoecdisona. INTRODUÇÃO Você já parou para pensar como é difícil a vida de uma planta? Ficar parada de baixo de sol e chuva, tempo quente ou frio. Além disso, estar sempre à mercê de predadores, vorazes e prontos para atacar as pobres plantinhas sem que as mesmas possam correr para se esconder ou lutar para sobreviver. Se realmente fosse tão difícil sua sobrevivência em detrimentos destas ações deletérias que sofrem, não teríamos a grande diversidade de plantas habitando o planeta. As plantas se adaptaram muito bem para poderem sobreviver no ambiente. Elas têm a capacidade de se protegerem de predadores e também de fazerem associações com outros organismos para se defender ou para melhorar suas condições de vida. Aquela plantinha que você vê ali no quintal não está só parada, sem fazer nada, ela está tão ativa ou até mais do que você em termos metabólicos. Vamos discutir levando em conta algumas das complexidades que as plantas apresentam, tais como a produção de compostos secundários para ser usado como estratégias de defesa e em especial o fitoecdisona que é um terpeno que tem a mesma ação que o hormônio ecdisona produzido pelos artrópodes, esse é responsável por iniciar a muda e metamorfose. As plantas fazem xixi? Você já parou para pensar por que a planta não faz xixi? Para responder essa pergunta, primeiro temos que entender por que os animais fazem xixi. Os animais se alimentam de carboidratos, lipídeos e proteínas, na degradação desse último formam como subprodutos compostos nitrogenados tóxicos ao organismo que devem ser eliminados. Alguns animais como as aves e répteis liberam esses compostos em forma de acido úrico, outros como os peixes liberam em forma de amônia ou também ureia como nos mamíferos. Os mamíferos também sintetizam ácido úrico, porém esse não é proveniente da degradação de proteínas e sim como um subproduto do metabolismo de bases nitrogenadas púricas. Já as plantas como são autótrofas, sintetizam o seu alimento, elas usam a fotossíntese para produzirem carboidrato e usam os compostos nitrogenados como a amônia e nitrato para sintetizar suas proteínas. Ou seja, as plantas não fazem xixi porque elas não ingerem proteínas e as degrada, ela as sintetizam e por mais que ela possa degradar suas proteínas e gerar compostos nitrogenados que nos animais são tóxicos, elas reutilizam esses na síntese de outras novas. Como não vai ter subprodutos nitrogenados tóxicos para serem eliminados, a planta não tem a necessidade de fazer xixi. O esquema na figura 1 ilustra de forma simples como são formados esses compostos nitrogenados e a síntese básica de proteína nas plantas. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 6 Figura 1: Esquema (a) da degradação de proteína em animais que liberam ureia; (b) degradação de prote ínas em animais que liberam acido úrico; (c) degradação de proteínas em animais que liberam amônia e (d) síntese de prote ínas em plantas, a síntese é fe ita a partir de compostos nitrogenados e se esse for nitrito ele e convertido à amônia para que a síntese comece. Como as plantas se defendem dos predadores? Para se defenderem as plantas apresentam alguns mecanismos como espinhos, cristais, tricomas e também compostos secundários. Essas substâncias produzidas pelas plantas podem servir para varias funções, uma delas é caracterizar uma palatabilidade desagradável e com essa experiência ruim o animal não volta para predá-la novamente, pode também ter a função de repelir o predador afastando-o. O lado DARK da planta Algumas espécies de plantas como, as do gênero Pfaffia conhecidas popularmente como ginseng, figura 2a e 2b, algumas samambaias do gênero Polypodium, figura 2c, 2d e 2e, a quinoa, figura 2f e o espinafre, figura 2g, são capazes de produz um composto chamado de fitoecdsona que é um terpeno, uma das três classes de compostos secundários. (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g) Figura 2: algumas das plantas capazes de produzir o fitoecdisona. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 7 O fitoecdisona é semelhante ao hormônio ecdisona produzido pelos artrópodes e é esse hormônioque estimula a metamorfose e a ecdise (muda). O zooecdisona, o produzido pelos artrópodes só é sintetizado quando ele está pronto para fazer a muda, ou seja, está na hora de trocar o exoesqueleto para crescer, visto que a ecdise é fundamental para o crescimento do animal. Quando o inseto se alimenta de plantas que produzem o fitoecdsona esse composto dentro do organismo do bicho induz a muda assim como o sintetizado por ele, porém essa é estimulada sem o inseto estar devidamente preparado para isso ocorrer, o que o leva a morte e também pode levar a metamorfose prematura o que causa a morte devido não está na hora certa para que isso ocorra. Não se sabe ao certo se esse composto produzido pela planta faz parte de outras vias hormonais dela ou se é apenas um composto desenvolvido para defesa contra herbívora. A produção do fitoecdisona é um lado negro da planta, pois ela tem a via de sínteses de outros compostos secundários que servem como repelente, afasta o predador ou como também já foi citado a deixa com um gosto ruim desse modo gerando uma memória negativa no animal que não mais voltará para preda-la ou a qualquer outra que se pareça com ela. Já o fitoecdisona mata o bicho, ele não vai mais voltar nem a predá-la nem a qualquer outra planta. A seguir está a estrutura do fitoecdisona e do zooecdisona: Figura 3: comparação entre o fitoecdisona e o zooecdisona. Segue um esquema simplificado das duas rotas para as vias de síntese dos terpenos. Figura 4: Esquema da síntese dos terpenos A mesma via do mevalonato está presente tanto em plantas quanto em animais. Nos animais essa via também leva ao isopentenil e com a junção desses formam o esqualeno, um composto com trinta carbonos, que é o precursor da sínese de colesterol. Tanto o colesterol quanto o fitoecdisona têm como precursor a molécula de esqualeno, figura 5, o que os diferem é que a molécula de fitoecdisona possui mais grupos hidroxila e uma cetona do que o colesterol. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 8 Figura 5: representação do esqualeno, do fitoecdisona e do colesterol. Importância econômica: A extração e o estudo do fitoecdisona são interessantes, pois a partir deste pode ser criados inseticidas naturais de interesse da indústria agronômica, pois esse composto não é toxico aos mamíferos. Considerações finais: Algo a ser pensado para estudos posteriores e como sintetizar o fitoecdisona em laboratórios. Um dos possíveis métodos pode ser o estudo da via a partir do esqualeno até o fitoecdisona, pois essa não é bem conhecida e outra linha alternativa é devido ao esqueleto carbônico do fitoecdisona ser idêntico ao da molécula de colesterol e a via de síntese desse último composto é bem conhecida, então basta fazer uma analise da molécula de ecdisona e descobrir qual é o grupo hidroxila que é responsável por ativar a função do hormônio no inseto, sabendo isso o próximo passo seria adicionar o grupo hidroxila na molécula de colesterol no ponto onde ela é o agente que causa a reatividade do hormônio no artrópode. E podemos ver que as plantas são sofisticadas no quesito “defesa”. É enorme a quantidade de mecanismos que as plantas desenvolvem para se defender, se adaptar ao meio, fazer associações com outros seres, fazer seu próprio alimento, dentre outros e tudo isso parada. Porém nem tudo são flores, como foi citado algumas plantas tem o seu lado perverso. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS TAIZ, Lincoin; ZEIGER, Eduardo. Fisiologia Vegetal, 4° Ed, Porto Alegre, Artmed, 2009. FESTUCCI-BUSELLI, Reginaldo A.; CONTIM, Luis A. S.; BARBOSA, Luiz Cláudio A.; STUART, Jeff end OTONI, Wagner C. Biosynthesis and potential functions of the ecdysteroid 20- hydroxyecdysone – a review. Disponível em http://article.pubs.nrc- cnrc.gc.ca/ppv/RPViewDoc?issn=1916-2804&volume=86&issue=9&startPage=978 acessado em 14 de jun de 2010. Imagem disponível em: http://www.naturezadivina.com.br/loja/catalog_products_with_images.php?listing=&page=11 acessado em 17 de jun. 2010. Imagem disponível em: http://www.flordocamponatural.com.br/chas/pfaffia.htm acessado em 17 de jun. 2010. Imagem disponível em: http://www.sucupiraonline.com.br/noticias/ler.php?noti1_cod=94 acessado em 17 de jun. 2010. Imagem disponível em: http://www.vidavegetariana.com/artigos/redacao/espinafre.htm acessado em 17 de jun. 2010. Imagem disponível em: http://drstoilov.wordpress.com/2009/01/04/quinoa-the-ancient-secret-of-the- inca/ acessado em 17 de jun. 2010. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 9 A NEUROTOXINA DO PEIXE-PEDRA COMO ALTERNATIVA PARA A TOXINA BOTULÍNICA NO TRATAMENTO COSMÉTICO TEMPORÁRIO (BOTOX®) Ane Catarine Tosi Costa e Felipe Donateli Gatti Alunos de graduação do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas UFOP RESUMO Neste trabalho foi realizada uma sucinta abordagem sobre a Clostridium botulinum, onde foi enfatizada a ação de sua neurotoxina no tratamento cosmético temporário. Também foi feita uma abordagem rápida sobre o peixe-pedra enfatizando a capacidade neurotóxica do seu veneno. Observada as ações das duas toxinas foi feita uma proposta para que a neurotoxina do peixe-pedra pudesse ser usada como alternativa para a toxina botulínica no tratamento cosmético temporário. Caso seja possível a execução desta hipótese através de pesquisas bibliográfica já existente e novos estudos a sua produção em massa poderia ser realizada através da técnica do DNA recombinante. Palavras chaves: Veneno de peixe; Neurotransmissores; Botulismo; BOTOX®; Recombinação gênica; Transcriptoma. INTRODUÇÃO Venenos e toxinas vêm sendo estudadas há anos por sua utilização na indústria farmacêutica. Um exemplo desse tipo de estudo foi o desenvolvido com a bactéria Clostridium botulinum, causadora da doença conhecida como botulismo. A mesma neurotoxina que causa a doença letal é também muito utilizada em todo mundo como tratamento estético (BOTOX®). Mais recentemente o veneno do peixe-pedra despertou o interesse de pesquisadores, pois estão sendo registrados muitos casos de acidentes de humanos com esse peixe na região da Indonésia e Oceania, alguns ocasionando ate mortes. Ao analisar estudos sobre as toxinas que compõe o veneno do peixe-pedra a neurotoxina nos chamou atenção pela similaridade de atuação no organismo de ratos com a toxina botulínica. Peixe-pedra Os Peixe-pedras (gênero Synanceja) são comumente encontrados em águas rasas da região tropical do Indo-Pacífico e é considerado o mais perigoso e venenoso da família do peixe-escorpião. Estão distribuídos ao longo das águas em torno de Singapura, Malásia, Indonésia, Índia e até na África. Uma das características mais marcantes desta espécie é a sua coluna de 13 projeções hipodérmicas, cada um capaz de perfurar ate um sapato (KHOO, 2002). Fig. 1. Peixe-pedra. Fonte: Bioactive proteins from stonefish venom. Khoo, 2002. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 10 As experiências iniciais de investigação das propriedades enzimáticas do veneno de S. horrida revelaram apenas a presença de atividade da hialuronidase, essa é um importante fator de propagação presentes em muitos venenos, pois degrada hialuronato que é um dos principais componentes dotecido conjuntivo nos animais, por tanto ela é a causadora da grande necrose observada depois de acidentes envolvendo o peixe-pedra (KHOO, 2002). Também foi observado que o veneno possui a capacidade hemolítica em alguns animais, a capacidade de causar efeitos cardiovasculares como a queda de pressão observada em ratos e efeitos neuromusculares como a parada respiratória (KHOO, 2002). Clostridium botulinum As toxinas produzidas pela Clostridium botulinum são responsáveis pelo botulismo, sendo essas toxinas as mais potentes neurotoxinas conhecidas. Essas neurotoxinas são descritas em oito diferentes tipos (A, B, C1, C2, D, E, F, G), que se diferem pelas características antigênicas, embora tenham ação farmacológica similar (JOHNSON e BRADSHAW, 2001). Em 1989 a toxina tipo A foi registrada e seu uso foi aprovado por oftalmologistas, para o tratamento de espasmos involuntários da musculatura das pálpebras, estrabismo e distonias. Os médicos perceberam que a toxina botulínica tipo A também tinha efeito sobre as linhas de expressão do rosto, diminuindo ou amenizando as marcas na face e evitando cirurgias plásticas. Os resultados obtidos foram bastante satisfatórios e bem difundidos, de forma que a utilização da toxina botulínica tipo A atingiu alta receptividade tanto pelos profissionais, quanto pelos clientes, o que fez dele uma das técnicas mais procuradas da atualidade (BOTOX®), por aqueles que buscam uma aparência mais jovem (SPOSITO, 2004). Hipótese Sabendo de tudo isso que foi anteriormente revisado surgiu a seguinte pergunta: A neurotoxina do peixe-pedra poderia ser usada como alternativa a toxina botulínica? A proposta deste trabalho é provar através de estudos já realizados que seria possível a utilização da neurotoxina do peixe-pedra como alternativa a toxina botulínica no tratamento cosmético temporário. DISCUSSÃO Fomos pesquisar através de revisão bibliográfica como seria a ação da toxina botulínica no organismo e chegamos a seguinte informação: A ação da toxina no corpo é inserto, mas supõe-se que bloqueie a liberação da acetilcolina (Neurotransmissores) nas junções neuromusculares, terminais nervosos colinérgicos periféricos nos gânglios autônomos, e nas terminações nervosas parassimpáticas pós-glanglionares (SMITH, 1993), (Fig. 2. B). Fig. 2. A) Neurotransmissão normal. B) Com a ação da toxina botulínica. Fonte: Universidade do Porto, Faculdade de Farmácia, Toxicologia. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 11 Já a toxina do peixe-pedra atua um pouco diferente, porém com a mesma finalidade. No veneno de S. horrida foi relatado a inibição da captação de colina e ácido aminobutírico em sinaptossomas. A toxina também provoca uma depleção na liberação de acetilcolina. Isto sugere que o veneno de S. horrida pode interferir tanto na síntese como na liberação de neurotransmissores (KHOO, 2002), (Fig. 3). Fig. 3. Possível ação da neurotoxina do peixe-pedra. Colina não captada acetilcolina não sintetizada. Por essa ótica a neurotoxina do peixe-pedra seria sim uma potencial alternativa para a toxina botulínica no tratamento cosmético temporário (BOTOX®). Partindo desse ponto a técnica do DNA recombinante poderia ser usada para a produção em larga escala da neurotoxina, onde se identificaria a gene que produz a proteína específica da neurotoxina, ele seria implantado em um plasmídeo bacteriano. Esse plasmídeo, por sua vez, seria inserido em uma bactéria, essa por sua vez passaria a produzir a neurotoxina e seria cultivada, para posteriormente se extrair a toxina que passaria por um processo de purificação e estaria pronta para ser comercializada (Fig. 4). Fig. 4. Técnica do DNA recombinante. Fonte: Genética em Movimento. José Salsa, 2006. Um fato que reforça a idéia foi o Trancrissoma de Thalassophryne nattereri (MAGALHÃES, G. S. et al, 2006), pois nos permite saber qual o gene que transcreve a proteína da neurotoxina, e já foi feito BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 12 com um peixe da família do peixe-pedra. O Thalassophryne nattereri é mais conhecido aqui no Brasil como “Niquim” ou “peixe-escorpião”, e é encontrado em quase toda costa atlântica das Américas. CONCLUSÃO Diante dos dados apresentados neste trabalho, fica claro que seria possível sim o uso da neurotoxina do peixe-pedra como alternativa a toxina botulínica no tratamento cosmético temporário de forma até mais eficaz, pois além de inibir a liberação de acetilcolina ela também impede sua produção. É de extrema importância que se continue estudando a fundo os venenos e toxinas existentes, pois nessas substâncias podem estar o tratamento para a uma grande quantidade de doenças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KHOO, H. E. Bioactive proteins from stonefish venom. Clinical and Experimental Pharmacology and Physiology (2002) 29, 802–806; JOHNSON, E.A.; BRADSHAW, M. Clostridium botulinum and its neurotoxins: a metabolic and cellular perspective. Toxicon, Oxford, v.39, p.1703-1722, 2001; SPOSITO, M. M. M. Toxina botulínica tipo A - propriedades farmacológicas e uso clínico. Acta Fisiatr. 2004; SMITH, P. BRADFORD. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais: moléstia de eqüinos, bovinos, avinos e caprinos/ Bradford P. Smith; revisor cientifico da edição brasileira Prof. Dr. José de Alvarenga; / Tradução Fernando Gomes do Nascimento/. – São Paulo: Manole. v. 2, p. 1028-1030, 1993; MAGALHÃES, G. S. Transcriptoma analysis of expressed sequence tags from the venom glands of the fish Thalassophryne nattereri. Biochimie 88 (2006). BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 13 EXPLICAÇÃO BIOQUÍMICA PARA OS DIAS DE INDISPOSIÇÃO E MELANCOLIA NO INVERNO Gabriela O. Faria1 e Karine P. Lúcio2 1 Graduanda em Ciências Biológicas – Bacharelado pela UFOP 2 Graduanda em Ciências Biológicas – Licenciatura pela UFOP RESUMO A depressão de inverno é um tipo de distúrbio afetivo sazonal no qual os pacientes apresentam sintomas como abatimento e desânimo, além de transtornos de peso, insônia, agitação, fadiga, sentimentos de culpa, dificuldade de concentração e até mesmo pensamentos suicidas. Essa patologia é desencadeada a partir de distúrbios no ritmo circadiano. O ritmo circadiano pode ser definido como alterações das funções biológicas e comportamentais que ocorrem com uma ciclicidade diária e que são promovidas por meio de sinalização de neurotransmissores. O presente artigo visa esclarecer do ponto de vista bioquímico, como a depressão de inverno se desenvolve baseando-se para isso no metabolismo de dois neurohormônios (melatonina e serotonina) que atuam no ritmo circadiano. Palavras-chave: ritmo circadiano, melatonina,fotoperíodos curtos, serotonina, depressão sazonal. INTRODUÇÃO O estudo do ciclo circadiano e de outras formas de regulação do tempo pelo corpo são objetos de estudo da cronobiologia. Este campo busca o entendimento de como os seres vivos manuseiam as recorrências temporais e como os diferentes organismos são capazes de sincronizar as suas atividades a essas variações. Do ponto de vista físico, a alternância claro-escuro é a forma básica de marcação do tempo (BARBOSA JÚNIOR; FERREIRA; MARKUS, 2003). Segundo sua etimologia, ritmo circadiano significa “cercade um dia” (do Latim: circa – cerca; diem – dia). Ele designa o período de aproximadamente um dia (24 horas) sobre o qual se baseia todo o ciclo biológico do corpo humano e de qualquer outro ser vivo influenciado pela luz solar. A manutenção do ritmo circadiano é realizada por aglomerados de neurônios localizados no hipotálamo, denominados núcleos supraquiasmáticos (NSQ). Eles são responsáveis pelo controle tanto da produção quanto da secreção da melatonina que é um neurotransmissor liberado, geralmente, à noite pela glândula pineal e tem como função básica informar ao organismo que está escuro. Esse processo se dá através de uma via retino-hipotalâmica que informa aos NSQ a alternância claro-escuro. De acordo com Barbosa Júnior, Ferreira e Markus (2003), “A fotorrecepção é feita na retina por células especializadas, conhecidas como cones e bastonetes. Essas células são capazes de traduzir a onda luminosa em um sinal químico e com isso iniciar alterações elétricas no nervo óptico” [que irá induzir a síntese de melatonina]. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 14 Esquema de ativação da síntese de melatonina De acordo com CAPITELLI (2007), a síntese de melatonina se processa da seguinte forma: O aminoácido triptofano, pela ação da enzima triptofano 5 monooxigenase (T5M), é convertido em 5- hidroxitriptofano. A partir do 5-hidroxitriptofano pela ação da enzima aromática aminoácido descarboxilase (AAAD), ocorre a síntese de 5-hidroxitriptamina (5-HT), que em seguida é convertida em N-acetilserotonina pela enzima serotonina-N-acetiltransferase (AANAT), que é a enzima passo limitante da síntese de melatonina na glândula pineal, local onde esta enzima é expressa. O passo final do processo de síntese da melatonina ocorre pela ação da enzima hidroxindol-Ometiltransferase (HIOMT) resultando na formação de melatonina. Certa quantidade de melatonina produzida é excretada de forma inalterada, outra parte é eliminada através de uma via clássica de hidroxilação envolvendo enzimas do citocromo P450 1A2, que catalisa a formação de 6-hidroximelatonina que então sofre conjugação com ácido glicurônico ou sulfato, gerando um composto mais habilitado a excreção. Uma via alternativa a estes processos consiste na abertura do núcleo indol durante o processo de oxidação pela enzima indolamina-2,3-dioxigenase (IDO) e/ou pela mieloperoxidase (MPO) levando a produção de N-acetil-5-metoxiquinuramina (AMK). A importância deste metabólito ativo da melatonina é ainda pouco conhecida, mas acredita-se que ele possa estar envolvido em muitos dos efeitos desse hormônio. DISTÚRBIO AFETIVO SAZONAL O distúrbio afetivo é caracterizado por episódios de depressão grave que costumam coincidir com a redução de horas de luz nos dias de outono e inverno. É decorrente de uma alteração no ritmo circadiano causado pela ausência de sincronização entre o relógio solar e o relógio biológico humano durante as estações de fotoperíodos curtos. Indivíduos que desenvolvem essa patologia, geralmente, apresentam os seguintes sintomas: Dormem mais horas por dia no inverno, mas mesmo assim continuam cansadas e tem dificuldade em acordar pela manhã; Aumento do apetite, vontade de comer carboidratos; • Ausência de luz solar Captação pelas células da retina (cones e bastonetes) • Envia sinais sobre as condições de luminosidade do ambiente para o SNC utilizando o nervo óptico. Núcleo supra- quiasmático • Medula espinhal Glândula pineal Estimula a síntese de melatonina BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 15 Mudanças na energia e motivação: dificuldade de concentração, execução de tarefas rotineiras, fadiga, isolamento social e diminuição do impulso sexual. Mudanças no humor: irritabilidade, apatia, baixa auto-estima, sensação de depressão. Piora da Tensão Pré-Menstrual Estudos afirmam que a depressão de inverno é desencadeada devido a níveis baixos de serotonina na corrente sanguínea em estações de fotoperíodos curtos. Demonstrando sua relação com o ritmo circadiano. A via metabólica de síntese de melatonina é estimulada quando a ausência de luz é percebida pelas células da retina. A partir dessa percepção do ambiente, ATP e noradrenalina são liberados atuando respectivamente nos receptores noradrenérgicos (alfa e beta) e purinérgico P2Y1(5), controlando a produção de N-acetiltransferase (NAT), que é uma enzima-chave na produção de melatonina. De acordo com (BARBOSA JÚNIOR; FERREIRA; MARKUS, 2003), a glândula pineal é capaz de captar o aminoácido 5-hidroxitriptofano e transformá-lo em serotonina (5-hidroxitriptamina). A concentração de serotonina durante o dia é alta. Na fase de escuro há síntese da enzima NAT, que metaboliza a serotonina em N-acetilserotonina. Parte deste produto lipossolúvel é lançada na circulação, mas parte é metabolizada pela enzima hidroxi-indol-O-metil-transferase (HIOMT) em melatonina. A melatonina também é uma molécula lipossolúvel e também é lançada prontamente na circulação. Assim, temos um sinal formado no escuro, o qual deve ter sua duração considerada. No caso da enzima NAT, logo após ser sintetizada, ela pode sofrer dois destinos: o primeiro é ser rapidamente degradada pelo sistema de proteassoma e o segundo é ser fosforilada e protegida desta degradação. Produtos intracelulares derivados da estimulação simpática são responsáveis por esta proteção. As variações da enzima HIOMT não são diárias, mas variam com o fotoperíodo. Essa enzima é responsável por catalisar a conversão da N-acetilserotonina em melatonina. A variação fotoperiódica faz com que a produção de melatonina tenha uma maior duração no inverno. Com a produção de melatonina aumentada o acúmulo de serotonina tende a ser menor desencadeando os sintomas típico da depressão de inverno. A serotonina é um neurotransmissor que além de atuar no ritmo circadiano, de modo geral, regula o humor, o sono, a atividade sexual, o apetite, as funções neuroendócrinas, temperatura corporal, sensibilidade à dor, atividade motora e funções cognitivas. Durante o dia, sua concentração no corpo humano tende a estar elevada. Isso porque a luz inibe a produção de melatonina, e dessa forma a serotonina não é consumida na via de síntese da mesma. Portanto, temos o sinal ideal; a luz controla tanto o desencadear do sinal como a sua duração. TRATAMENTO A depressão de inverno tem maior ocorrência em indivíduos que habitam países de médias e altas latitudes, pois o inverno se mostra mais rigoroso nesses locais. E devido a esse fato, países como EUA tem investido em pesquisas que caminham no sentido de desenvolver fármacos com potenciais de ação sobre a patologia em questão, visto que pacientes que são acometidos por ela tem uma significativa redução na qualidade de vida. A supressão da secreção de melatonina com antagonistas adrenérgicos não afeta notavelmente o sono. Entretanto, a sonolência exibe um ritmo circadiano positivamente correlacionado com a concentração de melatonina no plasma e negativamente correlacionado com medidas de atividade. Ao contrário de drogas hipnóticas – que induzem sono por depressão universal do sistema nervoso central, tais como barbitúricos e benzodiazepínicos, a melatonina afeta a propensão ao sono (sonolência), mas não o induz diretamente. Um ensaio clínico controlado (STONE, TURNER, MILLS e NICHOLSON apud BARBOSA JÚNIOR; FERREIRA; MARKUS, 2003), comparando o efeito de diferentes doses de melatonina, temazepam(um benzodiazepínico) ou placebo no sono precoce (entre 18 e 24 h) e no sono tardio (entre 23:30 e 7:30 h) concluiu que a melatonina não difere do placebo no sono tardio, mas tem efeito semelhante ao temazepam no sono precoce, melhorando o tempo total de sono, reduzindo o período de latência para o adormecer e aumentando o número de episódios de sono REM. No sono tardio esse efeito só é observado com temazepan. Consequentemente, a atividade hipnótica da melatonina ocorre numa janela temporal específica. Outros dados indicam que melatonina pode ter efeitos clínicos benéficos no tratamento da insônia provocada por estados de desordem temporal interna (como viagens transcontinentais), primariamente devido à sua ação sincronizadora. O descobrimento de uma nova molécula fotorreceptora (melanopsina) feita recentemente abre uma nova fronteira para o entendimento da percepção da luz e sua influência sobre os ritmos BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 16 biológicos. Recentemente foi mostrado que além de cones e bastonetes [células fotorreceptoras presentes na retina], existem fotorreceptores em células ganglionares. Estas células contêm moléculas de melanopsina, que fazem parte da superfamília de receptores acoplados a proteínas G e que estão presentes em células que se projetam diretamente para os núcleos supraquiasmáticos. Portanto, além de enviar informações luminosas para o córtex cerebral e formar imagens, a retina envia informações para o relógio biológico, promovendo o ajuste do mesmo. É importante frisar que este sistema de recepção de luz é redundante e os diferentes mecanismos compõem um processo que só é perdido totalmente com a enucleação do globo ocular. Estes achados recentes são a base estrutural que faltava para um antigo conhecimento clínico. Muitos sujeitos que são cegos totais, sem nenhuma percepção luminosa consciente, são capazes de ajustar o relógio biológico ao ciclo claro- escuro ambiental. Saber que a via retino-hipotalâmica opera de forma independente da visão consubstancia a percepção clínica existente (ROLLAG, BERSON e PROVENCIO, 2003 apud BARBOSA JÚNIOR; FERREIRA; MARKUS, 2003). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA JÚNIOR, Eduardo J M; FERREIRA, Zulma S; MARKUS, Regina P. Ritmos biológicos: entendendo as horas, os dias e as estações do ano. Disponível em: 2003. CAPITELLI, Caroline S. Efeito da melatonina em modelo animal de Parkinsonismo induzido pelo MPTP. Disponível em: 2007 BRUIN, Veralice M S de. A importância da melatonina na regulação do sono e do ritmo circadiano – uma abordagem clínica. http://www.medicinacomplementar.com.br/estrategia_nutrologia_caractipob.asp. Acessado em: 16/06/10 – 09:35 http://www.clinicadasconchas.pt/clubzone/artigos_22.html . Acessado em: 16/06/10 – 09:40. http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF_SIMP/textos/veralicebruin.htm. Acessado em: 16/06/10 – 09:45. http://www.amebrasil.org.br/html/pesq_art2.htm. 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Acessado em: 18/06/2010 BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 17 PREVENÇÃO DE DOENÇAS EM PLANTAS: A TEORIA DA TROFOBIOSE Mariana Fernandes Monteiro Guimarães1 e Rachel Germiniani Resende² 1 Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto/MG, marimonteirobio@gmail.com; ² Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto/MG, kakel03@yahoo.com.br. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo divulgar a Teoria da Trofobiose, mostrando sua relação com o equilíbrio nutric ional das plantas e como este pode ser influenciado pela forma de cultivo. A teoria é apresentada com ênfase nas alterações metabólicas relacionadas à susceptibilidade da planta ao ataque de organismos patógenos. A saúde do organismo vegetal mostrou-se fortemente relacionada à constituição genética da planta, aos fatores ambientais e ao cultivo orgânico, cujas práticas promovem um equilíbrio do sistema metabólico e contribui para a sustentabilidade do sistema de produção. Palavras-chave: Trofobiose, saúde das plantas, equilíbrio nutricional, uso de agrotóxicos, ataque de pragas, agricultura orgânica. INTRODUÇÃO O termo Trofobiose origina-se do grego: Trophos (alimento) e Biosis (existência de vida (Polito, 2006). Portanto pode-se inferir que todo processo vital encontra-se sob a dependência da satisfação das necessidades do organismo vivo, seja ele animal ou vegetal (Chaboussou, 2006). A resistência ou sensibilidade das plantas ao ataque de pragas foi inicialmente relacionada às suas condições nutricionais em 1936, quando o patologista francês Dufrénoy apud Chaboussou, 2006 propôs que toda circunstância desfavorável à formação de nova quantidade de citoplasma, isto é, desfavorável ao crescimento, tende a provocar na solução vacuolar das células, um acúmulo de produtos solúveis inutilizados, como açúcares e aminoácidos; este acúmulo de produtos solúveis parece favorecer a nutrição de microorganismos parasitas e, portanto, diminuir a resistência da planta às doenças parasitárias. Baseando-se nas afirmações de Dufrénoy, Chaboussou propôs a Teoria da Trofobiose, que consiste na seguinte afirmação: “A planta ou, mais precisamente o órgão será atacado somente na medida em que seu estado bioquímico, determinado pela natureza e teor em substâncias solúveis nutricionais, corresponda às exigências tróficas do parasita em questão”. Diversos experimentos propostos por Chaboussou (2006) mostram que a maior parte dos insetos e ácaros de plantas depende, para viver, de substâncias solúveis, tais como aminoácidos e açúcares redutores, que não são encontrados em plantas totalmente equilibradas. O presente estudo consiste em um levantamento bibliográfico a cerca desta teoria, com o objetivo de entender como a trofobiose se relaciona com a saúde das plantas e como agem os fatores envolvidos nesse processo. A trofobiose e o metabolismo das plantas Uma planta nutricionalmente equilibrada possui suas proteínas e carboidratos organizados em estruturas complexas, inviáveis ao metabolismo de organismos patógenos, uma vez que seu aparato bioquímico não fornece as enzimas necessárias a essa degradação. Para que essas substâncias estejam disponíveis ao metabolismo das pragas, a planta precisa sofrer alterações capazes de desestruturar os carboidratos e proteínas, tornando livres os aminoácidos e açúcares, que poderão ser facilmente consumidas por esses organismos. Isso acontecerá quando uma perturbação for estressante o suficiente para desorganizar a complexidade dessas moléculas (Figura 1). BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18 Figura 1 – Alterações metabólicas em plantas em função de uma perturbação. Fatores que alteram o metabolismo das plantas Segundo Chaboussou (2006), os fatores que provocam desequilíbrios nas plantas são aqueles capazes de inibir a proteossíntese e estimular a proteólise, provocando o acúmulo de substâncias livres nos vacúolos. Esses fatores podem ser classificados em três categorias: - Fatores intrínsecos: constituição genética da planta (a espécie e a variedade, a idade dos órgãos ou da planta); - Fatores abióticos: o clima (energia solar, temperatura, umidade, precipitação, influência da lua); - Fatores culturais: o solo, a fertilização e o tratamento com agrotóxicos. Será enfatizado como agem os fatores culturais, por serem mais aplicáveis ao cotidiano. 1. Adubação orgânica - De acordo com Paschoal (1996) apud Vilanova (2010), ao contrário dos fertilizantes minerais de alta solubilidade, os adubos orgânicos, quando utilizados de forma adequada, fornecem todos os macro e micronutrientes que as plantas precisam e em doses proporcionais, sem excessos nem carências. Por isso culturas adubadas organicamente podem se achar perfeitamente equilibradas em seu metabolismo, não ocorrendo acúmulos de substâncias solúveis, o que as torna mais resistentes à ação deletéria das espécies daninhas. Estimulando a proteossíntese, o húmus protege as plantas de pragas e doenças. A matéria orgânica humificada também melhora as propriedades físicas e biológicas do solo, permitindo que as raízes desenvolvam-se mais e assim a planta consiga competir mais satisfatoriamente pelos recursos disponíveis. 2. Uso eficiente da irrigação – esta prática procura manter a umidade do solo sempre em condições adequadas para o desenvolvimento das plantas, sem falta nem excesso de água. O déficit hídrico como fator de estresse ocorre quando muito pouca água está disponível à planta. Não há processo vital que não seja afetado de alguma forma pelo declínio do potencial hídrico, alterando numerosas funções celulares. A primeira e mais sensível resposta ao déficit hídrico é a diminuição da turgescência, associada à diminuição do processo de crescimento. O metabolismo das proteínas e dos aminoácidos é logo limitado (Larcher, 2001; Fumis & Pedras, 2002 apud Vilanova, 2009). Quando a turgescência começa a diminuir são iniciadas medidas osmorregulatórias. A combinação de síntese de compostos orgânicos nitrogenados e a conversão de amido para carboidratos solúveis ocasionam a acumulação de substâncias orgânicas de baixo peso molecular nos compartimentos celulares e no citosol (Larcher, 2001). 3. Uso de agrotóxicos – Forsyth (1954) apud Chaboussou (2006) constata que essas substâncias alteram o metabolismo de tal forma que os aminoácidos e açúcares acumulam na planta, como resultado de uma inibição de síntese das proteínas e carboidratos. Vlassal e Livens (1975) apud Chaboussou (2006) afirmam que a maior parte dos carbamatos (compostos presentes na maioria dos pesticidas) provoca uma regressão da nitrificação no solo. Os autores concluem que não apenas a nitrificação é sensível a certos produtos, mas que o próprio processo da fixação de nitrogênio pelas bactérias é afetado por alguns agrotóxicos. DISCUSSÃO A agricultura orgânica reafirmando a Trofobiose As informações obtidas através deste trabalho revelaram a existência de uma forte ligação entre a Teoria da Trofobiose e o manejo agroecológico das culturas, corroborando as observações de Feiden (2001) apud Vilanova (2010), quando propõe que as práticas executadas nos agroecossistemas pela BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 19 agricultura orgânica possibilitam otimizar os fluxos de nutrientes, reduzir as perdas e melhorar as condições ambientais para proporcionar produtividades ótimas das culturas com sustentabilidade. CONCLUSÃO A ocorrência de pragas e doenças em uma cultura parece estar mesmo relacionada com o desequilíbrio nutricional da planta hospedeira. É importante ressaltar que nenhum nutriente por si só controla todas as doenças em todas as culturas, sendo que a natureza dos elementos, os fatores abióticos e a constituição genética exercem influência sobre a resistência das plantas. A forma como o metabolismo pode ser afetado não está detalhadamente esclarecida, sendo necessários estudos mais aprofundados sobre o tema. Os trabalhos consultados na realização dessa pesquisa se baseiam basicamente nas mesmas fundamentações teóricas. É importante ler trabalhos publicados por pesquisadores que possuem perspectivas diferentes e testam outras metodologias a fim de esclarecer como esta teoria tem sido aceita pela comunidade científica e de que forma está sendo testada, para estimular novos estudos relacionados a essa temática. REFERÊNCIAS CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: novas bases de uma prevenção contra doenças e parasitas: A Teoria da Trofobiose; tradução [de] Maria José Guazzelli. 1ª. Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006 POLITO, W.L. The Trofobiose Theory and organic agriculture: the active mobilization of nutrients and the use of rock powder as a tool for sustainability. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.78, n.4, p.765-779, 2006. VILANOVA, Clélio; SILVA JÚNIOR, Carlos Dias. A Teoria da Trofobiose sob a abordagem sistêmica da agricultura: eficácia de práticas em agricultura orgânica. Rev. Bras. de Agroecologia. 4(1): 39-50, ISSN: 1980-9735, 2009. VILANOVA, Clélio; SILVA JÚNIOR, Carlos Dias. Avaliação da trofobiose quanto às respostas ecofisiológicas e bioquímicas de couve e pimentão, sob cultivos orgânico e Convencional. Rev. Bras. de Agroecologia, Porto Alegre, 5(1): 127- 137, ISSN: 1980-9735, 2010. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 20 VENENO PODE SER UMA SUBSTÂNCIA DO BEM? Priscila M. de Souza e Renata de A. B. Assis Ciências Biológicas Licenciatura, Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, Instituto de Ciências Exatas e Biológicas - ICEB RESUMO Já imaginou se pudéssemos aumentar a velocidade de cicatrização de um ferimento? Pois bem, pesquisadores brasileiros descobriram que o veneno de serpentes como a jararaca e a cascavel possui compostos capazes de aumentar a velocidade da cicatrização de pequenos ferimentos. Além de não deixar cicatrizes ainda dispensa o uso de suturas. Mas como isso é possível? Após um corte na pele o sangramento é estancado porque o fibrinogênio, uma proteína que participa da coagulação do sangue, é quebrado em moléculas de fibrina, a principal componente dos coágulos sanguíneos, formando uma rede adesiva. Essa transformação do fibrinogênio em fibrina acontece por causa da ação de uma enzima chamada trombina. O veneno da serpente também possui uma enzima muito semelhante a esta, porém muito mais eficaz chamada de trombina-símile. Se ela é mais eficaz do que a trombina humana, fica claro que ela pode ser usada como mecanismo para acelerar o processo de cicatrização. Primeiramente, o veneno passa por vários processos para isolamento dessa enzima, pois este possui vários outros compostos que são danosos ao paciente. Daí a necessidade do isolamento desta enzima. Os pesquisadores diante deste fato criaram uma “cola” para o fechamento de feridas constituída da enzima trombina-símile e fibrinogênio extraído de búfalos. A cola também possui fibrinogênio, pois quanto mais fibrinogêniomaior a atuação da trombina-símile e consequentemente, maior produção de fibrina. Portanto, a rede adesiva se formará mais rápido assim como o processo de cicatrização como um todo. Desse modo, pessoas hemofílicas, por exemplo, estariam com seus problemas resolvidos, já que possuem distúrbios na coagulação sanguínea em que esta ocorre mais lentamente dificultando a cicatrização. Palavras-chave: Veneno, cobra, cicatrização, fibrinogênio, adesivo fibrínico (“cola”). INTRODUÇÃO Imagine que você cortou o rosto e, em vez de dar pontos, o seu médico passa uma supercola feita de sangue de boi e veneno de cascavel. Isso pode mesmo acontecer. Mas não se assuste. A história moderna das serpentes não tem nada a ver com o medo ancestral que inspiram. Para a ciência, elas guardam produtos utilíssimos nas glândulas letais. O mais recente é uma cola de pele genuinamente brasileira, que, segundo os testes já feitos, dá uma cicatrização perfeita. É assim mesmo que a ciência caminha. O que está em jogo é uma caça aos tesouros bioquímicos que a natureza pode ter escondido, ao longo de milhões de anos de evolução, num lugar surpreendente: justo nas glândulas de veneno das serpentes. Vale a pena vasculhar essa mina, já que, das mais de 2.000 espécies conhecidas, cerca de 300 produzem poções letais. E as cobras não são as únicas espécies peçonhentas. De acordo com os biólogos, só o grupo das aves não contribui para o caldeirão planetário de coquetéis tóxicos. Nada menos de um milhão de animais possuem algum tipo de veneno, ou seja, dois terços de todas as espécies já catalogadas no planeta. Para se ter uma idéia, até a carne do urso polar se não for preparada de modo correto provoca espasmos e vômitos podendo levar a morte. Em poucas palavras, certamente não será por carência de veneno que a medicina moderna vai reclamar da falta de matéria-prima, ou pelo menos de inspiração, para descobrir e fabricar remédios novos e mais eficientes. REFERENCIAL TEÓRICO O mecanismo de coagulação tem grande importância para obtenção da hemostasia que consiste na interrupção fisiológica de uma hemorragia evitando perdas de sangue de uma lesão vascular, e também na manutenção da fluidez do sangue evitando a formação de trombos. Nesse mecanismo são observadas uma seqüência de reações chamadas cascata de coagulação. Desta forma, quando BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 21 a pessoa sofre um dano vascular, ocorre uma série de reações para a formação de uma rede de fibrina, proteína resultante da ação da trombina no fibrinogênio e responsável pela formação de coágulos sanguíneos e pela manutenção da hemostasia. A cascata de coagulação é dividida em seis fases. A primeira fase é dividida em duas etapas chamadas de via intrínseca e via extrínseca. A via extrínseca é iniciada quando o tecido sofre uma lesão, então, há a liberação de substâncias que intervêm na coagulação do sangue ao transformarem a protrombina em trombina. A via intrínseca é iniciada pela exposição do sangue a uma superfície negativamente carregada, geralmente o colágeno. Nesta via um fator é ativado espontaneamente no momento em que entra em contato com as bordas da lesão vascular e uma vez ativado dá origem à cascata. Numa segunda fase ocorrerá a transformação da protrombina em trombina. Posteriormente, dentro do que ROBERT et al. (1991) chama de terceira fase, a protrombina catalisa a transformação de fibrinogênio em fibrina, que consequentemente desencadeará a próxima fase. Na quarta fase ocorrerá a polimerização das moléculas de fibrina transformando-as em filamentos que se entrelaçam formando a rede de fibrina, responsável pela retenção do sangue em suas malhas, originando assim o coágulo sanguíneo que é uma estrutura frouxa que pode ser deslocado pela própria pressão do sangue. Na quinta fase ocorre a retração do coágulo caracterizada pela expulsão da água e dos sais minerais, retendo apenas a parte celular e as proteínas plasmáticas, assim o coágulo passa a apresentar uma estrutura mais sólida e resistente, a conhecida “casquinha do machucado”. A sexta fase é caracterizada pela fibrinólise, que consiste na reabsorção gradual do coágulo simultaneamente com a cicatrização da parede do vaso sanguíneo, processo este que ocorre entre 24 a 48 horas após o início da coagulação. A substância responsável pela reabsorção do coágulo é a fibrinolisina ou plasmina, enzima do plasma que pode degradar a fibrina e o fibrinogênio e acelerar assim a dissolução dos coágulos sanguíneos. Resumindo, os vasos sanguíneos e as plaquetas são os fatores que promovem a fase inicial da interrupção de um sangramento, essa fase pode ser denominada hemostasia primária, processo pelo qual se forma um tampão plaquetário no local do traumatismo vascular. A ativação plaquetária irá promover o acúmulo de plaquetas aderidas formando o tampão plaquetário. A coagulação consiste na ativação sequencial em cascata de várias proteínas plasmáticas que culminam com a formação de fibrina aumentando e solidificando o tampão plaquetário inicial. Esse processo é também denominado hemostasia secundária, e foi conceitualmente divid ida em três vias: via extrínseca, intrínseca, e a via comum. Ao sistema coagulante contrapõe-se um sistema anticoagulante cuja finalidade é evitar coagulação excessiva intravascular e consequente formação de trombos. Assim como o endotélio intacto e normal promove a fluidez do sangue, ele também é fundamental na anticoagulação natural do sangue, por impedir o acúmulo de fibrina. Ao lado do sistema anticoagulante existe um mecanismo fibrinolítico que se destina a destruir o excesso de fibrina formada e a recanalizar os vasos quando a hemostasia se completa. No mecanismo de ação da cola o fibrinogênio, depois de transformado em fibrina, forma uma rede de sustentação para o coágulo. O fator estabilizador da fibrina (FEF) que é obtido do plasma humano é ativado pela trombina na presença de íons de cálcio sendo que o FEF é um catalisador da formação de ligações cruzadas entre as moléculas de fibrina, proporcionando a formação de um coágulo de fibrina estável e insolúvel (HERMANS & MACDONAGH, 1982). O FEF também protege o coágulo contra uma possível degradação prematura pela plasmina, pois ele atua como um catalizador do inibidor da plasmina (TAMAKAI & AOKI, 1982). Esse FEF também se mostrou capaz de estimular a proliferação de fibroblastos (BECK et al., 1961), melhorando a reparação tecidual. A fibronectina pode contribuir para a fixação do coágulo no local da lesão quando faz a ligação cruzada com a fibrina (BOCKENSTEDT et al., 1986; MOSHER, 1984). A trombina humana é uma enzima que converte o fibrinogênio em fibrina, além de ser responsável pela ativação do FEF na presença de íons de cálcio. Os componentes do fibrinogênio e trombina, antes do uso, são liofilizados (secagem e eliminação de substâncias voláteis, realizados sob baixa temperatura e pressão reduzida) e solubilizados com soluções de aprotinina e cloreto de cálcio respectivamente. A aprotinina é obtida do tecido pulmonar bovino e é um inibidor de proteases. Possui um efeito antifibrinolítico porque inibe fortemente a plasmina. Assim, podemos dizer que a aprotinina tem como função impedir a fibrinólise excessivamente rápida do coágulo de fibrina pela plasmina endógena. O cloreto de cálcio é um componente inorgânico composto por íons de cálcio necessários para a ativação do FEF e para a manutenção de sua forma ativa. Tais íons influenciam na estabilização da fibrina através de ligações cruzadas. A mistura dos dois componentes é feita na presença de íons de cálcio, reproduzindo a última fase da cascata da coagulação e levando à polimerização gradualda principal proteína estrutural do sangue BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 22 (fibrinogênio), ocorrendo formação de coágulos de fibrina insolúveis, quando estão em união com as plaquetas. Os venenos animais consistem, geralmente, de uma mistura complexa de diversas biomoléculas como proteínas, aminas biogênicas e peptídeos com diferentes atividades. A atividade biológica de cada componente é característica e irá definir sua importância no quadro clínico do envenenamento. No Brasil, os envenenamentos acontecem com serpentes do gênero Bothrops (73,1%), Crotalus (6,2%), Lachesis (1,1%) e Micrurus (0,3 %). As ocorrências com Crotalus geralmente são as mais sérias com 1,87% de letalidade (FUNASA, 2001). O objeto de estudo deste trabalho foi a giroxina. Esta proteína parece ser multifuncional, induzindo um comportamento neurotóxico, atuando na coagulação e na pressão arterial. A giroxina foi descrita por BARRIO (1961) e mais tarde isolada por BARRABIN et al. (1978). A giroxina também é conhecida por sua atividade enzimática trombina-símile, atuando sobre o fibrinogênio humano, clivando o fibrinopeptídeo (RAW et al., 1986). Os monômeros de fibrina resultantes polimerizam-se em uma rede anormal que difere da produzida pela trombina. Esta rede anormal é instável e mais susceptível a ação de agentes fibrinolíticos (MARKLAND, 1998; KOH et al., 2001). A incoagubilidade sanguínea parcial ou total observada em casos graves de pacientes picados pode ser decorrente do consumo do fibrinogênio (BUCARETCHI et al., 2002). As enzimas trombina- símile possuem similaridades mecânicas com a trombina (CASTRO et al., 2001). Estas enzimas são largamente encontradas em veneno de serpentes da subfamília Crotalinae (SCHVARTSMAN, 1992), tendo ação pró-coagulante (MATSUI et al., 2000). Estas toxinas podem agir em um ou mais fatores da coagulação (ANDREWS et al., 2004). A trombina da cobra e o fibrinogênio do boi fazem um trançado incrível onde se prendem células e partículas do sangue, chamadas respectivamente fibroblastos e plaquetas. Os testes mostram que a trombina da cobra é até 500 vezes mais eficaz na cicatrização. Representação esquemática do processo de coagulação. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 23 Representação esquemática do mecanismo de ação dos componentes do adesivo fibrínico. PROSPECTOS PARA O FUTURO A cola de pele e o remédio para a hipertensão não são os únicos benefícios que os cientistas esperam tirar do veneno das cobras. O foco principal dessas corridas são os analgésicos, medicamentos contra o câncer e para doenças associadas ao coração, como a trombose. O especial interesse pela atividade sobre o fibrinogênio deve-se à possibilidade de utilização destas enzimas no tratamento de doenças trombóticas e como anticoagulante. Do ponto de vista clínico, estas enzimas provaram ser úteis na dissolução de coágulos formados, por exemplo, durante infarto do miocárdio, tromboses em veias profundas, pancadas e embolia pulmonar (MARKLAND, 1998). No Canadá, um extrato de víbora já virou remédio experimental contra derrames. Mas estejam onde estiverem os pesquisadores sabem muito bem que os resultados práticos não são para depois de amanhã. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ERENO, Dinorah. Veneno que cola: Enzima substitui sutura tradicional sem deixar cicatrizes. 2009. Disponível em: <http://orgulhonacional-brasil.blogspot.com/2009/04/veneno-que-cola-enzima- substitui-sutura.html>. Acesso em 10 jun. 2010. ARAÚJO. L. F.; PIÑEIRO-MACEIRA j.; MELO P. A. Modelo experimental de cicatrização cutânea pós-lesão induzida pelo veneno da serpente Bothrops jararaca na pele de camundongos. Disponível em:<http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:mhjdOBeUonMJ:www.dermato.med.br/ufrj2004/Ca mundongo.pdf+veneno+cicatriza%C3%A7%C3%A3o+pele&hl=ptBR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShv S3fABplRXX84Vtm3nG5LJc7ets_AVPRG8QOXDr_xuxHCESPpS9foqR7TA72UYzszTNNokjp_nyCun cnlT38TaX0Y9vhhe3NgJXzctOcANXiyaMD4nibJ2j3UWtQN9zKi7T&sig=AHIEtbRMU78sTBIUPvyKipS L3MGjTHcgsw>. Acesso em 10 jun. 2010. CARVALHO D. D. de; SCHMITMEIER S.; NOVELLO J. C.; MARKLAND F. S. Effect of BJcuL (a lectin from the venom of the snake Bothrops jararacussu) on adhesion and growth of tumor and endothelial cells. 2000. Disponível em:<http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6TCS- 43K2G134&_user=10&_coverDate=10%2F31%2F2001&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_sort=d_ docanchor=&view=c&_searchStrId=1365843962&_rerunOrigin=scholar.google&_acct=C000050221& _version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=f9e1e74895aace05b5a4f9572301dfc5> Acesso em 10 jun. 2010. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 24 PRADO R. C.O veneno do bem. 1997. Disponível em:<http://super.abril.com.br/ciencia/veneno-bem- 436963.shtml> Acesso em 10 jun. 2010. LEAL E. Cosméticos exóticos. 2009. Disponível em:<http://leals.wordpress.com/2009/04/27/cosmeticos-exoticos/> Acesso em 10 jun. 2010. AMARAL M.S.P.; RAHAL S.C.; Dal-Pai V.; BARRAVIERA S.R.C.S.; LIMA A.F.M.; CROCCI A.J. Fixação de enxerto cutâneo em malha de espessura total com sutura ou cola de fibrina. 2004. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010209352004000300005&script=sci_arttext> Acesso em 10 jun. 2010. <http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100101164640AAyuKyj> Acesso em 10 jun. 2010. <http://www.uniblog.com.br/tabumga/185970/utilidades-do-veneno-de-cobra.html> Acesso em 10 jun. 2010. BALBINO C. A.; PEREIRA L. M.; CURI R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão. 2005. Disponível em: <http://portalsaudebrasil.com/artigospsb/medic002.pdf> Acesso em 15 jun. 2010. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 25 APOPTOSE NO TRATAMENTO DO CÂNCER Denise C. Miranda e Silvana Melo Graduandas em Ciências Biológicas pelo Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto RESUMO Apoptose é a morte celular não seguida de autólise, no qual a célula é eliminada sem comprometer células vizinhas. Processo de grande importante para a manutenção da homeostasia. É controlada principalmente por uma protease, a caspase. Algumas células tornam resistentes a apoptose, po-dendo se tornar um tumor. Para o tratamento dessas neoplasias terapias que utilizam drogas anti-tumorais convencionais parecem ser pouco efetivas, necessitando de terapias complementares. O glicocorticóide induz a apoptose em linfomas e leucemias, porém podem contribuir para o aumento da resistência em tumores sólidos. Palavras chave: Glicocorticóides. Apoptose. Caspase. Câncer. INTRODUÇÃO A apoptose é vital para a manutenção do equilíbrio do corpo humano, removendo células velhas ou danificadas do corpo humano sem acometer o tecido à sua volta. Esse fenômeno envolve várias mu-danças peculiares como: fragmentação do material genético, mudança na estrutura e formação de corpos apoptóticos, que são vesículas com o conteúdo interno da célula. A apoptose é ativada através de duas vias, a extrínseca, que corresponde a ativação de receptores de morte celular localizados na membrana plasmática (genespró-apoptóticos, Fas), e a via intrínseca, que se dá por estresse celular interna ou externamente, por estímulos como indução de oncogene ou hipóxia. Ambos os mecanismos envolvem a atuação de caspases, proteases responsáveis pela parte sinalizadora e efetora do processo de apoptose, eficiente no tratamento de diversas patologias, como o câncer. Os medicamentos existentes no tratamento de câncer atualmente causam muitos efeitos colaterais como a perda de peso e queda capilar, na maioria das vezes não fornecendo resultados satisfatórios necessitando de co-tratamentos, como o uso de Glicocorticóides (LUCINDA, 2009). Os GC’s, também chamados de corticosteróides, são hormônios esteróides oriundos do colesterol, molécula de extensa cadeia carbônica precursora de várias substâncias vitais, como a vitamina D e hormônios sexuais (como testosterona e progesterona). Apesar de sua eficiência em tratamentos de linfomas, o GC atua negativamente em pacientes que possam altos níveis dessa, além disso, o GC causa um impacto negativo no tecido ósseo, provocando osteoporose por induzir a apoptose prematura de osteoblastos, células que ainda secretam matriz óssea, e osteócitos, célula óssea “madura”. BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 26 Vias de ativação da cascata proteolítica. Mecanismo de ação do Glicocorticóide O receptor do GC pode atuar por transativação, ativando a transcrição gênica a partir da ligação com o GC ou transrepressão gênica, inativando-a. Dentro da célula, na via de transativação ele se liga a receptores específicos denominados Receptores de Glicocorticóides (CASTRO, 2005). O complexo glicocorticóide-receptor sofre transformação estrutural e se torna capaz de entrar no núcleo no qual se liga a regiões promotoras dos genes (transativação). Por meio da transrepressão, moléculas de GC se ligam a elementos responsivos negativos aos glicocorticóides (nERG), com isso há síntese de citocinas pró- inflamatórias como a IL-6 (Interleucina 6) (ANTI, GIORGI e CHAHADE, 2008). Atuação antitumoral do Glicocorticóide Os mecanismos de atuação do GC ainda são pouco esclarecidos (LUCINDA, 2009). Um dos mecanismos descritos na literatura é por meio do fator de transcrição forkhead, que inclui a FOXO3A, proteína que regula a expressão gênica. A FOXO3A medeia sinais pró-apoptóticos (GREER e BRUNET, 2005 citado por LUCINDA, 2009). A FOXO3A não-fosforilada (sua forma ativa) pode ser translocada para o núcleo e induzir a transcrição de genes pró-apoptoticos e anti-proliferativo, principalmente pela FasL - induzindo morte mediado por Fas. A FOXO3A fosforilada em múltiplos resíduos pela proteína quinase, sendo excluído do núcleo o que protege a célula de apoptose. Várias linhagens de cânceres apresentam-se resistentes a essa via devido à formação de fofo- FOXO3A após tratamento com GC. Em câncer linfóide a dexametasona, um tipo de GC, induz resposta apoptótica rápida por meio da formação de IL-6. A dexametasona tem como principal efeito uma interação significativa com a resposta imune linfocitária, sendo assim, de extrema BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 27 importância para o controle de linfomas, cânceres em células responsáveis pela imunidade inata ou adaptativa. CONCLUSÃO Após a revisão bibliográfica realizada, conclui-se que glicocorticóides em geral são úteis para o co-tratamento de tumores, principalmente os linfomas, apesar de em alguns casos deixarem algumas células neoplásicas mais resistentes à apoptose (por manterem FOXO3A fosforilados dentro da célula, impedindo a cascata proteolítica), porém, dependendo da quantidade de GC no paciente o GC atua de forma negativa, sendo assim contra-indicado a pacientes que já a tem em quantidades satisfatórias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LUCINDA, F. M. L. - Mecanismos de Indução da Apoptose por Glicocorticóides e seus Efeitos no Câncer. Juiz de Fora, 2009 ANAZETTI, M. C.; MELO P. S. - Morte Celular por Apoptose: uma visão bioquímica e molecular. Metrocamp pesquisa, Campinas, vol.1, no. 1, 2007 BATISTA, J. J.; MARTINS A. S.; MORO L.; VASCONCELOS A. C. - Genic expression of caspases 3 and 8 in thymus and spleen of glicocorticoid-immunossupressed weaned rats. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, vol. 57, no. 4, 2005 MAZZIOTTI G.; GIUSTINA A.; CANALIS E.; BILEZIKIAN J. P. - Glucocorticoid-Induced osteoporosis: clinical and therapeutic aspects. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia & Metabologia, São Paulo, vol. 51, no. 8, 2007 CASTRO M. - Efeitos Antiinflamatórios e Antiproliferativos dos Glicocorticóides: Concordância ou Discordância? Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, São Paulo, vol. 49, no. 3, 2005 BIOQUÍMICA ALÉM DA BIOQUÍMICA _____________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 28 TRAPACEANDO O TRIPANOSOMA Lucas Á. Ferreira e Marcelo C. Mucci Daniel Graduandos em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP RESUMO É evidente o avanço cada vez mais rápido da medicina, curando e buscando a cura para as diversas doenças existentes. O mais interessante é como doenças até certo momento fatais, passam a se tornar de simples cura. É o caso da doença conhecida como doença do sono africana ou tripanossomíase africana, que é bem comum na África e que já matou muitas pessoas, mas hoje é controlada pela simples inibição de uma enzima encontrada em seu metabolismo de síntese, por exemplo, de DNA, logo essencial para a vida. INTRODUÇÃO Cada doença causada por parasitas, no caso da tripanossomíase, e demais agentes infectantes como bactérias, vírus, fungos e outros, precisa de um estudo minucioso já que os remédios, vacinas e outros tratamentos agem de forma principalmente bioquímica, atuando em micromoléculas. O problema é que muitas vias metabólicas são comuns ou parecidas entre diversas espécies, e durante uma cura, o único afetado deve ser o agente patológico, daí vem à dificuldade em achar um ponto fraco que só o mesmo possui. No caso da tripanossomíase, que é causada por um protista chamado de Trypanosoma brucei sp, foi encontrado um ponto fraco que é uma enzima chamada de ornitina descarboxilase que não é sintetizada a uma velocidade considerável e que é essencial para a sobrevivência da espécie. A doença do sono africana: A doença é causada pelo protista Trypanosoma brucei, e possui dois tipos, a tripanossomíase africana do leste e a do oeste, onde no leste é causada pelo parasita chamado de Trypanosoma brucei rhodesiense e no oeste pelo T. brucei gambiense. O agente vetor da doença é uma mosca chamada de Tsé-tsé, que possui o parasita em sua saliva, que ao picar um ser humano transmite o mesmo que irá se desenvolver dentro do hospedeiro recém picado. A doença que é fatal possui como principais sintomas a febre, dores de cabeça e anemia, e num estágio mais avançado problemas cerebrais como convulsões, inchaço da meninge dura-máter, retardamento, podendo ainda chegar ao estágio de coma. O problema na cura da doença ocorria porque os tripanossomos possuem uma capacidade de recombinação genética de sua capa celular que pode ocorrer centenas de vezes. Nessa capa existe uma determinada proteína que serve como antígeno para nosso sistema imunológico, porém quando o
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