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Relatório sobre Atividade Amilásica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS 
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA 
FISIOLOGIA ANIMAL COMPARADA 
PROF. DRA. ANA DE FÁTIMA FONTENELE URANO CARVALHO 
 
 
 
PESQUISA DA ATIVIDADE AMILÁSICA NO TRATO DIGESTÓRIO DE 
INVERTEBRADOS 
Relatório Apresentado à disciplina de Fisiologia Animal Comparada 
 
 
 
CAROLINY SOARES SILVA 
GABRIELA ALVES VALENTIM 
 
 
 
Fortaleza 
2016 
1. INTRODUÇÃO 
Os animais são capazes de digerir diversos tipos de carboidratos, entre 
eles estão: sacarose, lactose e o amido. Não existem grandes diferenças entre a sua 
digestão nos vertebrados e invertebrados, mas sabe-se que diversas enzimas são 
necessárias para auxiliar na degradação de algumas dessas moléculas, como no 
caso do amido. 
O amido está disponível em abundância na natureza, sendo encontrado 
em todos os vegetais de folha verde, estando presente desde a raiz até as 
sementes. Este carboidrato é um polissacarídeo composto por diversas unidades de 
glicose. Basicamente, é formado por cadeias de amilose, que são unidades de 
glicose unidas por ligações glicosídicas α-1,4, e amilopectina, unidades de glicose 
unidas por ligações glicosídicas α-1,4 e α -1,6. O amido é considerado um polímero 
insolúvel devido a presença das cadeias ramificadas de amilopectina. Para que esse 
carboidrato seja hidrolisado, é necessária a participação direta da enzima amilase. 
Na maioria dos mamíferos, a participação da amilase na digestão do 
amido se inicia na secreção da α-amilase na saliva do animal. Esta enzima que 
também pode ser chamada de ptialina, é responsável por hidrolisar as ligações 
glicosídicas α-1,4. 
A α-amilase pancreática é outra enzima responsável pela hidrólise do 
amido. Esta é liberada pelo pâncreas também é responsável pela hidrólise do amido 
atuando nas ligações glicosídicas α- 1,4, mas esta é liberada em maior quantidade. 
No trato intestinal dos invertebrados, especialmente o trato dos insetos, a 
principal área de digestão se localiza no intestino médio. Este intestino é geralmente 
constituído pelo ventrículo, que pode se expandir formando diversos cecos gástricos. 
As células epiteliais existentes na parede do ventrículo são responsáveis pela 
produção das principais enzimas, como: maltase, lipase e amilase. Dentre os 
vertebrados também podemos encontrar glândulas produtoras de enzimas na região 
oral, como no caso de algumas formigas. 
Diante disso, com o objetivo de analisar a presença de amilase em 
diferentes animais, realizou a prática de pesquisa de atividade amilásica no trato 
digestório de animais. Através desta prática buscou-se também associar a presença 
e intensidade da atividade amilásica com os hábitos alimentares dos animais 
estudados. 
2. MATERIAIS E MÉTODOS 
A prática aqui discutida foi realizada com a turma da disciplina de 
Fisiologia Animal Comparada, disciplina ofertada pelo Departamento de Biologia da 
Universidade Federal do Ceará (UFC) e lecionada pela professora Dra. Ana de 
Fátima Fontenele Urano, no dia 28 de setembro de 2016, com o auxílio dos 
monitores Thaís Borges e Filipe de Abreu. 
Para a realização da prática, foram utilizados extratos de insetos 
macerados, trazidos pelos alunos, como: lagarta, barata, aranha, anêmona, formiga, 
borboleta e minhoca. Não foi possível classificar os animais de forma mais 
específica devido à falta de experiência em taxonomia animal dos alunos. 
Os materiais necessários para a realização da prática foram um recipiente 
com gelo, tubos de eppendorf, pipeta automática de 0,02 mL, tecido de nylon para 
filtração, estufa de incubação, agar-agar, amido, água destilada, solução salina 
(NaCl 0,9%), saliva humana, lugol, pipeta de Pasteur, gral e pistilo, placas de Petri e 
funil, como observado na figura 1. 
 
 
Em cada bancada foram distribuídos diversos insetos que os alunos 
capturaram e levaram para o Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais 
(Bioprospec), duas horas antes do início da prática, onde foram anestesiados por 
meio de congelamento. 
 
Figura 1 - Materiais utilizados para a realização da prática de 
análise de atividade amilásica. 
Fonte: Fotografia das autoras. 
Na prática realizada pelas alunas Caroliny Soares Silva, Chrislainne 
Solange Santos Alves, Gabriela Alves Valentim, Jennifer Bruna Oliveira de Brito e 
Tainnara Freitas Barbosa, na primeira etapa, uma lagarta, mostrada na figura 2, foi 
macerada com o auxílio de um gral e um pistilo, e diluída em solução salina (NaCl 
0,9%), dando origem a um extrato, observado na figura 3. 
 
 
 
 
 
Enquanto a lagarta era macerada, a placa de Petri foi perfurada, com o 
auxílio de uma pipeta Pasteur, para a criação de nove pequenos poços no gel de 
agarose. A placa foi devidamente identificada com o nome da equipe e todos os 
poços foram enumerados, como observado na figura 4. 
Após a maceração, o extrato foi filtrado com o auxílio de um tecido de 
nylon e colocado em tubos eppendorf de 2,0 mL, observado na figura 5. Todos os 
tubos foram colocados em um recipiente com gelo, para a preservação da amostra. 
Com esta etapa concluída, os monitores passaram em cada bancada com 
todos os tubos contendo as amostras maceradas. Com um auxílio de uma pipeta 
automática de 0,02 mL, 20 μl de cada uma das amostras foram inoculados nos nove 
orifícios presentes no gel. No poço localizado no centro do gel, foi pipetado o 
controle positivo contendo saliva humana. Em outro poço foi inoculado apenas 
solução salina (NaCl 0,9%), como controle negativo. Nos outros orifícios, foram 
Figura 2 - Lagarta utilizada para avaliação da 
presença de atividade amilásica. 
Figura 3 - Extrato de lagarta preparado com o 
auxílio de gral e pistilo. 
Fonte: Fotografia das autoras. Fonte: Fotografia das autoras. 
utilizados extratos preparados a partir de amostras biológicas maceradas pelos 
alunos. O resultado após a inoculação pode ser observado na figura 6. Na prática 
aqui descrita, foram utilizadas as amostras de lagarta, barata, anêmona, aranha, 
formiga, borboleta e minhoca. 
O material foi incubado em uma estufa, a 37°C por 2 horas. Após este 
processo, a placa foi corada com lugol e foram feitas as análises da presença de 
halos em cada um dos orifícios. 
 
 
Fonte: Fotografia das autoras. Fonte: Fotografia das autoras. 
Figura 6 - Poços em ágar com amido contendo extrato de diversos animais. Identificação dos 
extratos: Saliva (Poço 01), Solução salina (Poço 02), Lagarta (Poço 03), Barata (Poço 04), 
Anêmona (Poço 05), Aranha (Poço 06), Formiga (Poço 07), Borboleta (Poço 08) e Minhoca 
(Poço 09). 
Fonte: Fotografia das autoras. 
Figura 4 - Poços perfurados em placa 
de petri com ágar contendo amido. 
Figura 5 - Extrato preparada a partir da 
lagarta. 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Os resultados obtidos após aplicação do lugol nas placas podem ser 
observados nas figuras 7 e 8. A presença de um halo mais claro, sem a coloração 
roxa indica a presença de atividade amilásica no extrato adicionado no respectivo 
poço. A observação das placas permitiu a organização e apresentação dos dados na 
tabela 01. 
 
 
 
Tabela 1 - Aferições de pressão arterial de indivíduos submetidos a diferentes situações. 
IDENTIFICAÇÃO 
DO POÇO 
ANIMAL 
ESTUDADO 
PRESENÇA DE ATIVIDADE 
AMILÁSICA 
PLACA 01 PLACA 02 
Poço 03 Lagarta - - 
Poço 04 Barata - - 
Poço 05 Anêmona - - 
Poço 06 Aranha + + 
Poço 07 Formiga - - 
Poço 08 Borboleta + + 
Poço 09 Minhoca + + 
Fonte: Elaborada pelas autoras. 
Figura 7 - Resultado do teste de atividade 
amilásica na placa 01. 
Figura 8 - Resultado do teste de atividade 
amilásica na placa 02. 
Fonte: Fotografia das autoras.Fonte: Fotografia das autoras. 
O controle positivo utilizado foi um extrato preparado com saliva humana, 
tendo sido escolhido devido a alta atividade amilásica que ocorre na boca, onde se 
inicia o processo digestório. O controle positivo possuía como objetivo criar um 
parâmetro de comparação qualitativo para os outros extratos. O controle negativo 
escolhido foi solução salina 0,9% que, sendo livre de enzimas, permite verificar se 
não havia ocorrido nenhum erro na preparação do meio ou na inoculação, evitando 
um falso-positivo. 
Durante a etapa de coloração da placa houve um excesso na quantidade 
de lugol aplicada. Assim, a visualização de alguns halos tornou-se mais difícil e não 
foi possível fazer a classificação qualitativa comparando-os com o halo encontrado 
no poço do controle positivo. 
Os organismos vulgarmente chamados de lagartas estão no estágio larval 
do desenvolvimento dos insetos pertencentes a ordem Lepidoptera. Estes animais 
alimentam-se de quantidades enormes de folhas de plantas. O amido é um 
composto orgânico produzido ao final do processo de fotossíntese. Assim, ao 
consumir folhas verdes em busca de reserva energética, o animal necessita da 
presença de amilase para realizar a quebra e digestão do amido. A ausência desta 
enzima no extrato preparado a partir da lagarta pode ter sido motivada por uma 
diluição muito grande, já que foram preparados 2 tubos Eppendorf com um animal 
de poucos centímetros. 
As baratas são insetos pertencentes à ordem Blattodea. Esses 
organismos cosmopolitas garantiram sucesso evolutivo devido a sua capacidade de 
se alimentar de praticamente qualquer fonte de nutrientes disponível, como, por 
exemplo, material animal e vegetal morto. Apesar de nosso experimento não haver 
demonstrado a presença de amilase, ela é esperada no organismo. Devido a 
natureza da sua alimentação a amilase seria necessária para obtenção de energia a 
partir da quebra de amido e glicogênio. É possível que um halo discreto tenho sido 
ocultado pela quantidade de corante colocada na placa. 
As anêmonas são animais pertencentes à classe Anthozoa que utilizam 
seus tentáculos para capturar alimento. Anêmonas se alimentam de plâncton, 
algumas espécies de peixes e crustáceos. Devido a isso, a ausência de amilase ou 
presença em quantidades muito baixas é esperada em anêmonas, já que nenhum 
organismo capaz de realizar fotossíntese e sintetizar amido faz parte, em quantidade 
importante, de sua alimentação. 
Aranhas são animais artrópodes pertencentes a classe Arachnida. O 
animal estudado pertencia ao gênero Argiope sp. As aranhas possuem um tubo 
digestório estreito, por onde só podem passar alimentos líquidos. Dessa forma, 
estes animais precisam recorrer a digestão externa de seus alimentos através da 
liquefação dos tecidos de suas presas, utilizando para isso a digestão enzimática. A 
amilase é uma enzima que possui como função a quebra de polissacarídeos como o 
amido e, também, o glicogênio. O glicogênio é um polissacarídeo utilizado como 
reserva energética nas células animais. Desta forma, é a aranha pode produzir a 
enzima amilase para auxiliar na quebra do glicogênio de suas presas. 
Os animais da ordem Hymenoptera, comumente conhecidos como 
formigas, são insetos sociais com um tipo de alimentação que muda em cada 
espécie. Algumas formigas são herbívoras, outras carnívoras e existem ainda as 
onívoras, que são encontradas em maior quantidade e se alimentam de 
praticamente tudo, desde sementes até restos de animais. A atividade da amilase 
está ligada a digestão do amido e do glicogênio. A ausência da amilase nas formigas 
analisadas no experimento pode ter sido motivada por uma quantidade insuficiente 
de formigas para revelar a presença da enzima ou pela espécie analisada se 
alimentar de pequenos animais e carboidratos simples, não necessitando de 
grandes quantidades de amilase. 
As borboletas são os organismos da ordem Lepdoptera que se encontram 
na fase adulta, um estágio chamado de imago. As borboletas adultas alimentam-se 
de néctar de flores, frutas em decomposição e sais minerados retirados do solo. O 
néctar é constituído por sacarose, frutose e glicose em proporções variadas. As 
frutas consumidas estão em processo de decomposição e, assim, as reservas de 
amido já têm sido convertidas em frutose. Dessa forma, a ausência da amilase ou 
presença em quantidades baixíssimas é esperada, já que na fase adulta o amido 
praticamente não faz parte da alimentação destes animais. 
Minhocas são animais pertencentes à classe Oligoqueta, do filo Annelida. 
O animal estudado pertencia a família Glossoscolecidae. Estes animais são 
encontrados em todo o mundo vivendo em ambientes terrestres úmidos ou 
aquáticos. As minhocas podem ser geófagas, ingerindo o substrato e retirando dele 
seu alimento, ou detritívoras. Devido à natureza de sua alimentação, que inclui 
restos vegetais em decomposição, a presença da amilase é esperada para auxiliar 
na quebra de amido dos vegetais e também do glicogênio, que pode ser 
ocasionalmente obtido. 
Um detalhe a observar é que a partir da maceração do indivíduo inteiro 
não é possível identificar qual a origem da atividade amilásica. Os resultados obtidos 
podem ter sido motivados pela produção de amilase em glândulas localizadas na 
boca, no trato digestório ou sintetizada por uma microbiota simbionte. Para correção 
deste erro seria necessário realizar a análise da atividade amilásica em cada parte 
do corpo dos animais e também separar seu conteúdo digestório para estudo. 
 
 
4. CONCLUSÕES 
A partir da realização da prática e análise dos resultados obtidos, é 
possível concluir que a amilase é uma enzima necessária para a maior parte dos 
táxons animais, já que ela possui a capacidade de degradar reservar de amido e 
glicogênio. Assim, a amilase é produzida por diversos grupos ou é obtida a partir de 
relações simbiontes com uma microbiota sintetizadora. Podemos perceber também 
que a produção da amilase tem uma relação íntima com os hábitos alimentares dos 
animais, podendo mesmo parar de ser sintetizada ou diminuir seus níveis quando a 
dieta do animal é alterada ao longo do seu ciclo de vida. 
Acreditamos que a metodologia da prática já se encontra bastante 
amadurecida, evitando ao máximo o sacrifício de animais, sendo simples e bastante 
rápida. 
 
 
 
 
 
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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Koogan, 2007. 
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2009. Disponível em: <http://www.insumos.com.br/aditivos_e_ingredientes/materias/ 
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no seu fungo mutualístico. 2004. Tese. Doutorado em Produção Vegetal, 
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darci Ribeiro, Campos dos Goytacazes, 
2004. 
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<http://www.revista-fi.com/materias/499.pdf>. Acesso em 03 out. 2016. 
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Uberlândia, Uberlândia, 2006. 
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Transgênica. 2007. Dissertação. Mestrado em Ciências Farmacêuticas, 
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Arachnida. 2010. Dissertação. Mestrado em Biotecnologia, Instituto de Ciências 
Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS. Professores. Luiz. Disciplinas. Disciplina 
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<http://www.den.ufla.br/siteantigo/Professores/Luis/Disciplinas/disciplinaENT107_arq
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