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A pesquisa histórica, a teoria e método.pdf

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eEDUSC 
/\7(,99p Arostegui, Julio. 
A pesquisa hist6riea : teoria e metodo / Julio Arostegui ; tradu<;~o 
Andrea Dorc ; rcvisao tecniea Jose Jobson de i\J:Idrade Arruda. - ­
Bauru, SP : Eduse, 2006. 
592 p. ; 23 em. -- (Cole<;ao Hist6ria) 
Inclui bibliografia. 
Tradu<;ao de: La invcstigacion historica: teo ria y metodo, e 1995. 
ISBN 85-7460-300-7 
I. Historiografia. 2. Historia - Metodologia. 3. Hist6ria - Teoria. 
I. Titulo. II Serie. 
CDD 907.2 
ISBN (original) 84-8434-137 - I 
Copyright© 1995 Y200 I, Julio Ar6stegui 
Copyrighl© 200 I de la presente edicion para Espana y America: 
Editorial Critica, S.L., Proven<;a, 260, 08008 Barcelona 
Copyright© de tradu<;ao - EDUSC, 2006 
Tradll\,ilo realizada a partir da cdi,'ao de 200 I. 
I lireitos ('XdllSivos de' 1'1Iblira,";o "111 lingua portlll',""sa 
par" 0 llr<lsil ,,<lquiri<los pda 
lei IIT( )I{/\ I lA tiN IVI'.HSII lAI) " I In SAl ;llAI)() (X )I{A( ,'AI) 
Ih lll l""ll A' " II,,,I .. , IU ',11 
( .1 P t 11111 11,11 1\,'\11 11 SI' 
h "'I' I II)I.'\ ', 11II hl ~ t l ' l l "", 7 '1'1 
" &lh~j J ,dn '" (1"., lIw., lU ll I ••
I 
SUMARIO 
I) tNDlCE DE QUADROS 
APRESENTA<,:AO 
Hist6ria ou histriografia? Ciencia OU arte? 
II PROLOGO A NOVA EDl<,:AO 
PARTE 1 
Teoria, hist6ria e historiografia 
CAPiTULO 1 
.u IIist6ria e historiografia: os fundamentos 
.)C, A hist6ria, a historiografia e 0 historiador 
'''' ;\ historiografia, a ciencia e a ciencia social 
."Is:, ( ) conlelldo da teoria e os fundamentos do metodo historiogrti!;m 
( :,\1' iTt 11.0 2 
(),/ ( ) nascirilcnln c 0 descnvolvimcnlo d<l hisloriografia: os grandrs pit r; \( ligtlid ', 
/III/ ( ) SIIIXilllt'IIto till "t:ihll·jll do hist()ria" 
I 18 /1 t{/,om tlos .I!,1Wltll'S /llll'lllligll/IIS 
I 
CAPiTULO 8( :Al'iTlJl.O 3 
o processo metodo16gico e a documenta<,:ao hist6rica465 
466 o processo metodol6gico na historiografia 
IPI 1\ crise da historiografia e as perspectivas na virada do seculo 
/1'/ A crise da historiografia 
) ()8 As propostas renovadoras 488 Uma teoria da documentarao hist6rica 
, j / As perspectivas de mudanra 
CAPiTULO 9 
i'AI(,I'E 2 
 513 Metodo e t~cnicas na pesquisa hist6rica 
1\ [coria da historiografia 
 SIS As tecnicas qualitativas 
537 As tecnicas quantitativas 
( :AI'ITI JI.O 4 
t; ;1 So('icdade e tempo. A teo ria da hist6ria. 
')59 REFERJ?NCIAS BlBLlOGRAFICAS • :. ~· I .';"c·il,dl/de e hist6ria 
:71 '/;'///1/0 (' hist6ria I,H:) INDICE ONoMAsTICO 
'.'/0'1 / /i~/e)rio como atribuirao 
( :AI'ITlJI.O 5 
10 I ( ) ohjeto te6rico da historiografia 
I(M A conformarao do objeto da historiografia 
I 
!.!() Sistema, estado social, sujeito e acontecimento 
111) A anrJlise da temporalidade 
CAPiTUl.O 6 
l'l r, 1\ cxplica<,:ao e a representa<,:ao da hist6ria 
ViS A natureza da explicarao hist6rica 
!()'/ A representarao do conhecimento hist6rico 
i'Alm: 3 
()s instrumentos da analise hist6rica 
( :AI'ITIII.O 7 
'I .) I ( ) m{'lodo cil'nLillco-social c a historiografia 
1..:.1 ( ) "'01'(0 til' f'/'{t'rhlc;o: 0 /l//:/odo das (;el"rills sociois 
I:; I ;\ IIII/IIn'?1/ tIo ",dodo 1,;s/o, ;0.\:/"(1/1('(1 
INDICE ·DE QUADROS 
A e1aboracrao da linguagem cientifica ......................... 60 
12 Dados numericos tabulados dos combatentes 
13 Emigrantes das provincias de Castela-Le6n 
2 As ciencias sociais, segundo a classificacrao de Jean Piaget ....... .. 66 
:~ Modelo de explicacrao nomol6gico-dedutiva .................. 365 
4 Estagios 16gicos do metodo da ciencia . . ..................... 445 
5 Metodo, praticas metodol6gicas e tecnicas .... ........ . .... ... 451 
6 Os campos de pesquisa do hist6rico .. ....................... 475 
7 Criterios para a classificacrao das fontes hist6ricas .............. 493 
8 Fontes hist6ricas segundo sua intencionalidade ................ 497 
9 A avaliacrao das fontes ..................................... 510 
10 Natureza das tecnicas ..................................... 518 
11 Perfis de discursos, segundo a regulacrao de "sublimacrao" ....... 531 
de Navarra na guerra civil, 1936-1939 ........................ 548 
em Cuba, 1911-1920 (exemplo de matriz de dados) ...... ..... . 549 
14 Exemplos de representacroes graficas ....... ........ ..... '..... 558 
l 
9 
APRESENTAC;:AO 
HISTORIA OU HISTRIOGRAFIA? 
CIENCIA OU ARTE? 
Ao completar 10 anos de existencia e mais de 600 titulos elencados em 
seu catalogo, a EDUSC tornoll-se referencia na area das humanidades, parti­
cularmente no campo da Historia e, mais especialmente ainda, no setor que 
poderiamos denominar das obras historiograficas. Segue, sem premeditar, urn 
movimento amplo de publicacr6es que exibem 0 vocabulo 'historiografia', 
mesmo que muitas del as nao tratem efetivamente do assunto e, no limite, nem 
mesmo tern conscienci~ do significado que a expressao ganhou em nossos 
elias, mas que, ao ostenta-Io, integram-se acorrente dominante na confraria 
dos historiadores. No fun do, expressa a crise permanente que ronda 0 bivaque 
dos historiadores, crise esta que se apresenta, em sua forma mais agressiva, na 
p6s-modernidade, e que exalta a necessidade da reflexao historiografica. 
Ao reyeS da tendencia entre nos, em que a historiografia confere status 
aos titulos publicados, a obra de Julio Arostegui, em suas mais de 500 paginas 
to\almente devotadas, a reflexao sobre 0 significado denso da hist9riografia, 
porta lim titulo c1assico A pesquisa hist6rica: teoria e metodo, bern ao estilo dos 
lIlesl res fundadores do saber historico na primeira metade do seculo 20, a 
('x(,llIpio de Ilcnri Berr, para quem os historiadores jamais refletiam sobre a 
11 ,1 1\I f'cza de sua ci{~ ncia. 0 resultado e urn notavel tratado sobre ciencia histo~ 
riol',I'.di(" ,I . 11111 diIlO/l que \till no excrcicio crftico permanente uma das mar­
Aprese1ltt1fiio 
~\I~ dos inlelectuais catalaes, onde pontifica Josep Fontana. Publicad{) origi­
lI. dlllcnle em 1995,0 texto ora publicado foi reformulado e atualizado para a 
cclil,- ill) cspanhola em 2001. Demonstra enorme capacidade para reunir leitu­
l'ilS IIOS mais diferentes campos do conhecimento, travando urn cerrado dia­
logo com filosofos, soci610gos, lingiiistas, cujos pensamentos sao mobilizados 
"do alllor para pensar a ciencia historiografica. 
o estilo e £luente, claro, direto, objetivo, sem lugar para meiostons, 
"..I.. C'( lI~lo quando se trata de desancar autores e obras incautas: urn livro mal 
. . 
1l.1I111'1ido, uma ideia indefensavel, um,a interpretac;ao ac;odada. A densidade 
.1. \ I d l,'xao, contudo, turva a transparencia aparente do texto. Nao eobra para 
ill I. !.II I II's. (\ estudo para quem navega nas aguas de Clio com urn certo desem­
11.1I .lI,Il, l'spccialmente para os que se debrw;:am sobre as quest6es metodol6­
H'c,I ', c' 1 ~,t')l'kas, sempre a exigir do leitor urn dhilogo mental acurado com 0 
.llIl t II c' slIa nina, urn' exercicio dial6gico pleno, obrigando-se a acompanhar 
JIIII' ( tth;,11 os argumentos que se renovam na discussao permanentemente 
1''' Ihlllll,ll i'l.a<ia das ideias que, literalmente, borbulham no texto. 
A oilra sc divide em tres partes. A primeira, "Teoria, Hist6ria e historio­
W.i1i,,': rd1cte sobre a natureza mesma da disciplina historiogrMica; a segunda, 
"A I('ori" da historiografia", analisa a trajetoria da elaborayao do conhecimento 
hisloriografico; e, a ultima, "Os instrumentos da analise historica", fala do arse­
lIal disponivcl e adequado ao fazer historiografico. A problematica central do 
livro csla posta na primeira parte, em que 0 autor advoga a instaurac;ao de uma 
dCIKia hisloriognifica como alternativa a uma ciencia hist6rica, ou seja, no 
Illgar do r6tulo Hist6ria, poriamos Historiografia, adensada por conter dosagem 
drvada de reflexao teorica. A segundaparte rastreia intdectualmente a cons­
Inl<,ao da interpretac;ao historiognifica, demonstrando sua carencia reflexiva, 
\ 
dl'hilidade essa que, sc recuperada, devaria 0 status da Historia/Hisloriografia 
110 (,(lIKerlo lias cicncias humanas e socia is. A terceira discorre sobre 0 instru­
II It.' lIla I disponivcl que, a servic;o de um 'caminho', de uma mct.odologia, poria 0 
hi ~loriador IHI sCllda do conhecimenlo. Inevilavclmenle, lanlo a sl'gllnda qllall 
It) a l\'I'I 'l' ira paries lelll uma ceria dosc de repcli~'flO) lima va qllC as leses assll 
lI1 id,l~ 11 .1 prillH'ira I'lIlrallhalll. IIl'l'cssarianWIlII', as tillas, 
Ar(h lt 'gui ( 11111 hislori.ldm, ora;m:.o, ASSllll1l' d t',.;ahl'jdall\ ~' ll ll· SII,IS ( 0 11 
vit\o,". r .I S l''' l'm' M' III 111('(10, Hllli"" pel" Vl' luIIlV,r1 do lIn, IIlC"lc '1I1i "III O, " ~"" 
111 111 0 ' I"C' <111\\/1"'1.111111,1 VI"III ",IIIIC'I,I III' lt i..lnlIO~: I , t1i .I, 111111' "1 ',,1" 1,\\ hU I,1 
Apresentafi'lO 
lista, mais pr6xima da ciencia do que da arte, nada compiacente com 0 rclal i 
vismo ficcional. Privilegia sujeitos corp6reos que formam e modificam ciass('S, 
estruturas e sistemas; por isso, afirma no pr610go: "acreditamos em urn fUluro 
racionalista, e nao pragmatista, da historiografia". Para ele, ha dois patamarc~ ,I 
se.rem percebidos pdo historiador: a experiencia humana em sua vivencia lelll 
poral e a re£lexaosobre essa mesma experiencia. Para 0 primeiro, prescrvou a 
denominac;ao Hist6ria; para 0 segundo, reservou a expressao historiografia . 
que encerra a dimensao propriamente cientifica, iItrelada ao universo do 
conhecimento, concepc;ao essa que se traduz explicitamente nesta formul<\(,:ao• 
lambem inclusa no prologo: "a fundamentac;aoultima da historiografia niio St' 
baseia no que os historiadores fazem, senao, e antes, na critica do que fiIZl'Ill': 
I )istingue a entidade Hist6ria e 0 que podeni vir a ser uma disciplina do con hI.: 
c'imento da Hist6ria. Por isso, diz: "propomos decididamente adotar para t's l,1 
o nome de historiografia", cuja enfase ea re£lexao sobre a natureza do hisl<)ri 
'0, 0 modo pdo qual se conhece a Hist6ria. Ar6stegui nao pensa, porlanlo. 
IlIlm possivel terceiro andar, urn troisieme niveau, aquele em que a hislorioJ,ll ,I 
Iia iden tificaria nao a Hist6ria em si, nem a hist6ria traduzida pclos hislori lu 10 
n's, mas a natureza das obras elas mesmas, vis-a-vis sua i"mersao no amhit' lIk 
,"l1ural e ideol6gico do tempo em que foram produzidas. Nao que esla pOll.. I 
hilidade estivesse ausente de sua analise, gue a desconhec;a, pois retoma (,' d ( '~ 
,.trIa) J. Topolsky, que distingue os fatos passados, as operac;6es empreclldid.l .. 
1'01' Illn pesquisador para recupera-Ios e 0 resultado das mesmas, opt' ra~()I ·'. 
l'l'slIlIado esse que seria propriamente 0 objeto da historiografia. Ani~lq~1I 1 
IIIVI'S[(' contra os historiadores franceses - Carbonell e Le Goff, entre dcs • pIli 
, I ('tiilarctll ao terma 'historiografia' 0 significado de "hist6ria da hishiria", ci t, 
11',0 ('ada vez mais corrente na comunidade dos historiadores muntlo afi,ra . 11,1 
I lI l'~ 1I1,1 limna que recusa a prisao do vocabulo 'historiografia' ao rcsull .lI l11 11,1 
I""'qllisa, pois a reivindica para emblematizar um conhecimenlo l1lais 01111 1'10, 
In 11,,1 lalllb{'m a possibilidadc de adotar a expressflO histor;%g;lI. ~,Ipa:t ch­
I IIli lo".11' os anlllll'cimcnios t' a rcflcxiio sohre os IllCSI1l0S, cOllsidcl'alldo .1 ill.1 
dc'c I' 1. 11 1,1 pOl' ciclIl i lici'J;ar cxccssivamcllie 0 cOllhecillll'lIlo hisl<iriro. 
A ,\SIIIII illdo lti~/(/riogmli(/ (UIlIO si 11(111 imo dc II;s/lir;lI. An)SII'!~ 1I i Il'wl I I ' 
.111', ",/1.', Illlldndorl's, ,'SIWt i.IIIllI'IIh' Luli" 11 PI'lIvre. p .lr'lI qll " I1\ ,I Il i,"(PI 1,111.111 i 
111 11.1 Crc\ IIC j,l, III,I~ 11111 '\':-;1lido lIC'nl ii i, 1111 1('11 h' daholllclo", i ~s(l 1'111'<) I II' '01' 11 1'1 ClC c· 
ill II II 11111 11.1(1 C' .1Ihi ll .IIIC1. I'W\)"C' .I l"h",.1 I,I\III'"d.1 11111 11 IIlC'lnclll 411' llllflC II 'I "c' 
/Ipresellt"{ilo 
{) leva, a partir do empirico, a explicayOes contextualizaveis e plausiveis no con­
ll'rlo das demais ciencias humanas. Urn metodo, 0 percurso de urn caminho 
!'.lrional e sistematico na busca de urn conhecimento inscrito nao no passado, 
lIlas 110 iemporal, que incit,li 0 tempo presente e a possibilidade de 0 historiador 
"" IlIsl rllir" suas fontes, tendo como pano de fundo as realidades que sao sempre 
l\l llhais, posto que todas as atividades humanas sao entrelac,:adas, que as socieda­
.1,,\ s.: rt'alizam historicamente no mundo e que, por desdobramento, a Hist6ria 
I ' '," lIlpr(' global par ser uma ciencia-sintese. E$Sa perspectiva totalizadora da 
I I ;'.IO/' i.1 ddineia 0 paradigma em que 0 autor se aloja. Mesmo reconhecendo que 
11111 lilli, 0 paradigma jamais se impos na pratica historiograiica, 0 marxismo e 
1101 /11/'(,' dc resistence, 0 que nao 0 impede de abardar, com propriedade, os 
til Ilhl I:, II.lr;\( Iigmas que lastreiam as ciencias humanas: 0 funcionalismo; 0 estru­
I i 1\ ,di\lllO; (l p6s-modernismo e suas derivac,:6es n0 campo da Hist6ria; 0 positi­
\'I!.I.I. ' ) 11Ir-loricista; 0 analista (dos Annales); 0 quantitativismo e 0 narrativismo." 
(I ,"arxismo conferiu a historiografia uma dimensao reflexiva ate 
, 111 ,1\) , k~(,ollhecida; por isso mesmo, deixou marcas indeleveis na escola dos 
1/lIIIIIt'" prillleiro movimento historiogr<ifico do seculo 20, 0 que nao impede 
A I II.~I('!\lli, cnlretanto, de reconhecer as limitac,:6es impostas por urn determi­
lIi:,1I10 vlligar, empobrecedor, e a oxigenac,:ao representada por autores como 
F. I'. Thompson, ao reivindicar urn lugar apropriado para a cultura das classes 
~mj,l is, sobrcludo em suas formas de representac,:ao, 0 que levaria aformula­
\.111: "a c1assc nao euma estrutura e sim uma cultura". Arostegui ace ita, incJu­
'.;,,1' . qlll' it concepc,:ao de mentalidades coletivas seja, sem duvida, uma alter­
1I.lllva ao conceito mais abrangente de ideologia, pec,:a-chave do marxismo, 
IlI. I ~ Sl' rccusa a incorporar 0 subjetivismo idealista presente na obra de 
Ikllnkuo (:roce, segundo 0 qual a historia e uma construc,:ao mental do his­
1111i,Hlm, mas n:conhece, com Johann Huizinga, que a "hist6ria e uma cons­
111\\. ,0 (11I1I1ral". Sell <tpego ao marxismo, que transparece em pontos nodais 
.[" \" 1\ livro, tlaO all1eniza suas criticas, tais como a cscassa atcnc,:ao ao sujeilo, 
.I ",linsOl ial (' slIa klldencia a reilicar entidades lOlalizadoras. 
1\ t'xl.ha~" .\O raciollalisla <II' I\r{)steglli alinge slIa IIl;lxima I('nlpe ralura ao 
tll·,!ItI;1 1),\ 1'1l\IIJlados hislnriogr.ificos p()s- lIlodeI'1I0S, IlI clonill1i( ,I/ll l'nll' sill 
1 1'l1,.III[)'1 l lill':\pl{'Slo.I() "I',illlli lll\'lil.l;\Cl", I\ ~ dllas (·pigl. Il ,·s q ll ~' .l b '~·11I fll.1J 11111 
III 1'.11111'11/,1111.1 P4l1.11 "(,1\.111 "" ddl,lli' I )" Ifill I.,dll, Jil 1\'.1 111'111111'1111 ',1'1111'1" 1.\ 
t il l(, ',I 1'1. 11"11.111 1111',1 1111'11111'1 ,f 1 1 1~I IIII, 1. lI.hl~' , .. 1111111' p",I II,1 1.1, ", ' 1111 11 11, ,I 
IIpresetliafiio 
alegoria de Hayden White, "Clio faz tambem poesia", A charmosa abertura nao 
,sublima 0 enfrentamento decidido do tema; assume que a cultura e a amilise 
cultural do pos-modernismo sao essenciais a compreensao das profundas 
Illudanc,:as ocorridas na Historia e sua escrita, Nascida como atitude intelectual 
gcnerica, que se manifestou na arte, na literatura, na filosofia e na critica da cui 
lura, era 0 resultado da crise do paradigma estruturalista e significava "a 16gi" 
ca cultural do capitalismo tardio", formulac,:ao essa colhida em Frederick 
Jameson, 0 pape! da nova conce~ao da analise da linguagem na e1aborac,:ao do 
conhecimento/escrita da Historia teve em Hayden White sua maxima expres 
sao. Suas incurs6es pela linguagem historica do seculo 191evaram-no a afirmar 
"que a escrita da Historia era apenas uma forma a mais deescrita de ficc,:ao, scm 
ncnhum compromisso com a verdade e que, por decorrencia, a diferencicH,:ilu 
mtrc relato hist6rico e de ficc,:ao nao tern qualquer relevancia, sendo a prell'lI ' 
sao Hcientificidade uma i1usao ingenua, 0 que sobreleva a dimensao estetica. 0 
esl ilo, mais do que a propria explicac,:ao, no que foi seguido por filosoli)s do 
peso de Paul Ricoeur, ou historiadores como Ankersmit ou Kellner. 
Tais concepc,:6es, rotuladas de descontrutivistas, foram entendidas COIlIO II 
"cxpressao mais acabada dessa ideologia do pos-modernismo", par I\r6slcj\lIii 
contem uma indistinc,:ao entre realidade e linguagem, a ideia de que 0 texlo n ,IO 
resulta de urn contexto, pois tern vida propria e nao pode, portanto, exprl'ssill 
IIll1a realidade exterior que 0 historiador apreenderia nas fontes, significandll II 
liquefayao do proprio conceito de fonte historica, longamente acalcntado pd.1 
hisloriografia, desde seus inicios. A sensayao de esmigalhamento cla IIiSl6ria C' .1 
lIlaniiCslayao mais pungente da crise, mas ela tern a virtude de renovar as OI l1,(I(" 
hisloriogrMicas, muitas das quais nao passam de trivialidades neonarralivi~I,'~, 
Will flH"1l' ranc,:o ctnogr<lfico, escasseando inovac,:6es que representcm a po!'isihi li 
<I,lIk de avanc,:o$ posteriores na medida em que recuperem a dimens;"lo cxpl i( .II i 
va lIa Ilisl6ria. 0 retorno do "sujeilo': quc nao significa relorno ao indivi<l Il.lli" 
I~IO, 110 t'lltilllO quarlcl do scculo 20, espccialmcnte no campo das Cielll ias SOl hil ', . 
,.l il1\1:lIloll 0 rl'lIasn'r da lima IIisl6ria sociocultural pllllgClIll', em qlll' a I d ,I\111I 
"IHI " ,' ~.IO l' \'sl rill 111'<1 sao ai>sollilalllenle dialclicas, on<le illlnagcl11 .IS Ii II II hi" II\' 
,(llIsll II\,\() ~i lllb{) li ~ ,I, <1(' rcprl'se lllac,oln da rcalidadc illlpik ila ,'III I(lda .,\,10 
IIIt'th,lIl.1 ,wl,IS li llgllilgl'IIS, I Jill ('Xl'llI pln disllllin ( . • 1 Illil ro 1 1I~ 1, 'lIia .I.. (",1\1" 
I 0111/1" II ).t, ' ',I I"dl'l.,d,1 p('lI, .1I .t CII 111 11.1 Ie II 111.1 ~()f I~ I it ,III.. ,I,' 11,111.11 iv., ,1111101'0111 
I~II .1. ,'II' rill<' .•• " ,11'1111.1.' .1 n'lll'l itllli 101 .Ill ",.111<' ,10" 1111 "llIII 1:"lInl, (I ti ll d l"IIII'.1I 
Apresentatao 
1I " t< 'II'ico coletivo, Outro, e a Nova Historia Cultural, na fatura de Roger Chartier 
,'Ill qlle, ao inves de privilegiar 0 social na apreensao das manifestac,:oes mentais, 
,·,I/,l lil.a os individuos eos gruposem sua atribuic,:ao de sentido ao mundo em que 
IV(,III, ou seja, a apropriac,:ao mesma que os individuos fazem de sua cultura, 
AI I(,S<I r de conferir urn lugar de destaque alinguagem, nao reduz a realidade social 
.1" /('or do discurso, apropriando-o, muito mais, como produto da ordem sociaL 
o giro lingiiistico da pos-modernidade sepultou definitivamente a 
Iii I" IlrSc de que 0 objeto da Historia/Historiografia seria a "ressurreic,:ao inte­
HI .,1 do passado': como queria Michelet', Alertou-nos para uma "certa" dimen­
..II' ( ollslruLivista presente na ac,:ao do historiador; asseyerou-nos que a 
111'.11'11 i, I/llisloriografia nao e urn mero "artefato !iterario"; conscientizou-nos 
tI , '1lll' .IS gCllcralizac,:oes abstratas nao sao suficientes para explicar ou COffi­
JI"'IIII I"r .IS i1yoes humanas, mas tambem nos deu a certeza de que suas vir­
/11,"" Lulte. haviam se esgotado no eclipse do scculo 20. Invocando Peter Burke, 
\lfl~II')!,lI i rca/irma que a historiografia pos-moderna nao e urn genero, mas 
III 1111 II I<III' il. de gcneros. Ne!as prevalecem os sujeitos sobre as estruturas. Realc,:a 
11 ' , IlIdividllOS, a cultura como receptckulo social, as identidades, a sociabilida­
dt', CIS problemas de genero, a etnia, a rac,:a, as marginalidades e a memoria 
101110 prdll1bulo da Historia. Em suma, a historiografia deve manter-se aten­
1.1 ,\ s~'lIsihilidade de cada momento, ao tempo presente como portador de 
v,l"l.1 pOlencialidade, uma exigencia da sociedade da informac,:ao, pois a "histo­
".1 vale.: 0 que valem 0 presente e sua linguagem", como diz Arostegui. 
I l lIpli~ilalllcllte, assume-se 0 papel da cultura como sistema de comunicac,:ao 
"III n' os hOlllcns, de COl'sao comunitaria e codigo comportamental, fazendo da 
III /I 'rtt l'! 0 IIOVO numeno, objeto indescartave! de nossa intuic,:ao inte!ectuaL 
No capitulo de abertura da segunda parte, intitulado Sociedade e 
'/ ;'/I/f'o: " /coria da Hist6ria, encontra-se a discussao central da obra e que se 
II'll" C :1 lIal mel.a da Historia/Historiografia: ser social e ser temporal. A 
lil li/Mia/II isloriografia esta plasmada na sociedade. Sao, portanto, entidades 
IIIM'p.mivcis. 'Iem 110 seu cerne as a<;6es humanas em ambienta<;ao social, logo, 
,I Il'll li:. da hisl6ria devc assumir que se ha urn sentido no carater rna is coleli­
I/o d ill> ,II,Ill'S hisl\'lril'as, as pr\'lprias i\<lles somenlc podelll ser aprcelldidas 
.I"" ,," q lll' ,III ihuicl.,s a slIjeilos illdividllais. Os coletivos lalllb"1I1 sao allslra 
\1\,'''_ Jlllj-, " 'lil t' pmit- '1\' 1 o \lj('l iv,u lp pdo illVl'~ti g.Hlor sao os individllos. Nflu 
\ldlvlrlllll~ qu.t i-.ql 11'1 , ,11111'11111.11'•• Illillt ~ lIj , ' iI O'\ (,Ollt I't' lo ~ vl 'l lid"l, 1111 1('11 11'0. 
"/1(1", Ul",jljl 
cujas ac,:6es, "0 fato social", somente pode ser captado como "falo SOCiOll'lIlpO 
ral". Nesses termos, os fatos, os eventos, as mudan<;:as e ale mesmo as dura<;oes 
nao ocorrem no tempo; pelo contr<irio, criam 0 tempo, conferindo a 
Historia/Historiografia 0 carater da ciencia da propria temporalidade huma­
na. 0 tempo astronomico, 0 tempo da natureza, nao e 0 tempo do historia­
dor. Fernand Braude! percebeu 0 problema e!aborando a concepc,:ao tripartite 
do tempo historico, mas nao percebeu sua pluralidade, na critica de Paul 
Ricoeur. Mais densa e a concepc,:ao de Kose\leck que pensa 0 tempo de forma 
cumulativa e definido a partir do futuro, cuja resultante e pensaco tempo 
como a rela<;:ao entre passado e futuro que se cristaliza no presente. Arostegui 
invoca 0 filosofo M. Heidegger em suas reflexoes sobre 0 conceito de tempo, 
conferencia publicada em 1924, em que a percepc,:ao do tempo se faz a partir 
do futuro, uma exclusividade do ser humano, pois e 0 unico que sabe de sua 
morte e, portanto, que pensa 0 tempo a partir do futuro, de sua finitude. A 
Historia/ Historiografia nada mais seria do que 0 produto dessa consciencia 
temporal, mas cuja essencia, para 0 autor, e denotar mudanc,:a, sempre rckri 
da adurac,:ao, apermanencia, Dai a dificil tarefa que se impoe ao hisloriadllf: 
abstrair 0 impacto do tempo presente se pretender a recuperac,:ao cicllt ifil.\ dn 
passado; fingir que desconhece "0 futuro do passado", que eseu prl'>prio P'" 
sente, 0 que significa que a "historia que escrevemos e uma conCep~ll(l '1"1' 
forja 0 homem do presente", finaliza Arostegui. 
Nas palavras do pr6prio autor, a finalidade ultima deste livro l~ 0 dc:-.dll 
de instaurar uma ciencia historiografica que subsumiria e, por fim, subst illlil ill 
a Historia como disciplina. 0 discurso historiognifico seria a rccolIslru<,ilo 1111 
representac,:ao que a historiografia faz da Hist6ria, urn produto clahorado, (.':-'1'" 
cHico, de feitio artistico ou cicntifico. Em suma, Hist{)ria ou hislori()I\I.,IiM 
I Iisloriografia, lato sensu, incorporando a Hist6ria, ou stricto SCIISII, a n'lh 'x ,11I 
sobre as ohras hist6ricas? HistoriografJa como discurso ciclllilico Oil c1abll' ,I~,III 
arlisl ica? 'I(llalidades expressas nas rcla<;6es estruturais OIl mi~:roall:, l i~l':' n'lll l ,I 
das lias persollagclls? Problemas de funtlo ni\o ape1l<IS 110 lcrril\')rio 1'l'~1111 1) ,I" .. 
hisloriador('s, mas d(' lodas as cii"lIcias hllmanas, rl'virados 1'l'lo .IVl'~SO pili ' ...·,1 
h i~l()riador ,11 \\1110, ali\ado, ('rlldito S('I\I pcdailiisillo qll l' (, lulio A r('lIh'I\1I1. 1111" 
IlI'Ilho illl cl~'Ll ual L(lIIv id ll lllOS 0 ki lo!' a purtilhar II l\~1.1 avelliu ril dll l'''l'ill lo, 
/f/\/ l /0//\11/' tit ' /\ //(/",11,' 1\/ ,1/'/" 
VII 
~ 
PRGLOGO A NOVA EDI<::AO 
Ha cinco anos surgiu a primeira ediyao desta obra, cujas intenyoes, op­
<;6es, expectativas e agradecimentos se fizeram constar do Pr610go escrito para 
aquela ocasiao. Surge agora uma segunda em cujo novo Prologo, com a pers­
pectiva que 0 tempo transcorrido e a experiencia adquirida acrescentam, gos­
laria de retomaraqueles e outros temas semelhantes aos que continha 0 ante­
rior. Mas e claro que a este proposito se impoe uma considerayao previa que 
1l~1O posso evitar, e e esta: 0 que eu puder incorporar, retificar ou confirmar do 
que entao dizia esta inevitavelmente condicionado pela receps:ao que teve oli­
vro e pelo eco que dele me tern chegado. 0 fato de que se tome a editar, e que 
o scja com ostensivas reformas - que oxala sejam realmente para melhor -, diz 
por si mesmo algo que nao e preciso repetir. Mas nao diz tudo. E e especial­
flH'fllC isso 0 que gostaria de considerar. 
A recepyao it que me refiro tern muitos perfis dignos de alguns comen­
I.irios, Illas nao e 0 proprio autor do livro a pessoa mais indicada para faze-los. 
t:.flln: 0 que considero prudente dizer se ipclui 0 fato, lisonj~iro, de que aqueles 
,I qUt'lI1 ullla obra como esta foi especialmente dirigida e outros a quem previ­
',iwllll<'lIk scrviria de ajuda nao pareceram decepcionados, peIo que sei. Os 
,IIII 110S qUl' l'lIfsam disciplinas de cuja materia ele trata, os profissionais inte­
1t '1, ~>ld (ls 1I0S aspeclos mais estruturais de sua disciplina, alguns estudiosos de 
qlH'~.IIl~'1> lilllilro/C:s L' rdacionadas s~\o os casos mais significativos que conheyo. 
M .IS 111'111 I lido fUllciollou conformc () csperado. As criticas e con trover­
1,111', '1 11(' \ ' 11 ill1l1 l', in,lv:l c, llalllralll1CIIlt', Icria agradccido, "daqucks profissio­
11 .11 '. , . !.1I11 ·Hi" , til ' qlWlII , S('1I1 duvid,l, vai rcu..,ht·1 IIf1l ;lIlgU lIlclllo lI1ais aquila 
Pr%go a nova ediJyao 
1;1110 c, scguramente, mais severo", como entao diziamos, nao se produziram, 
oil li,ram feitas de forma pouco expressiva. Nao me aventurarei, no entanto, 
1111111 plano como este, adiantando alguma explicac;:ao para urn fato que, cer­
ItIl lll~ lilc, pode ter varias explicac;:oes. Pelo que sei, 0 livro interessou muito 
Illili s <lOS colegas que por motivos profissionais se encontram mais implicados 
nil 11111 trahalho historiografico especulativo, instrumental ou "metahistorico" 
l ill qllc <lOS outros envolvidos na estritapratica empirica. Reconhec;:o que em 
IlIlIa dOlllrina sa 'ou, rnais simplesmente, na doutrina que este livro mesino 
plioilo/Hle inculcar, essa distinc;:ao nao e pertinente. Mas a realidade e teimosa e 
,11 " (lvcilo a ocasiao para lamentar profundamente semelhante teimosia. 
Assiill, aqueles que mais me falaram dele em termos construtivos fo­
1"""1 , pn'(:islllllente, metodologos e professores das areas de historia e das cien'­
I ;'I~ ~1I1.i,l is, 11I6sofos e alguns outros profissionais das ciencias humanas urn 
I'UII'" 11I.lis al~lstados da area a que nos dedicamos con<;retamente. Uma coi­
'"I 'lIIt' I'IIS:;!) acrescentar com satisfac;:ao plena e que aqueles que tern , especial­
1I1t'II11' lor;) da Espanha, uma preocupac;:ao historiografica voltada plenamen­
II (,.W,I .. lIIc\odologia, a filosofia da historia ou a historia da historiografia de 
1111111.1 ,lIguma permaneceram indiferentes ao que 0 livro oferecia. Essas ques­
10l'S, COIllO sabemos, nao tern na universidade espanhola - e, curiosamente, 
IIllIilo III<:nO$ nas faculdad~s de Historia - urn estatuto proprio definido, 
I'assando agora para questoes mais substanciais que acabam sendo, a 
IIH ' lIjUIZO, de comentario obrigatorio entre essas considerac;:oes previas, gos­
1.lria de assinalar meu convencimentode que nos cinco anos transcorridos en­
II'I' as dllns cdic;:oes nao parece que se tenham produzido circunstfmcias, desen­
volvilllenio ou inovac;:oes que levem a pensar que as opc;:oes que este tratado 
1'111;)0 assllmiu devam ser substancialmente retificadas. Nao desejaria, de 
Illodo algum, que esta observac;:ao soasse como urn protesto gratuito ou urn 
prlllHisilo desaforado de nao corrigi-la, ou como qualquer tipo de presunc;:ao, 
1'01''1"(, nao l' essc verdadeiramente 0 espirito com que se faz . 0 que quero di­
l1C' . ~" I; '1 St' em meados dos anos 90 esse pequeno tratado de rellcxao hislo-
I iU)tI'iilil'a, CIII plella voragcm do impacto expansivo do pl)s-modernisll1o, da 
lill gihsi i( O.I I' da anlropologia, no dizcr de Lawrcnce Slonc 1I0S inicios da d{'ca 
d,l , Ilp ioll por lima vis,Io conerela <la hisloriografia, nada cOlllplill"(,1I1<' COlli os 
III(ld i:o. 1I10!' , 11110 p ll r" ..l' Li"I: c inco anns dl'pois haj .. ralOI'S dc 1' ~'S(l I'a rol IlIlIdoll', 
/(M"I "h'w i,l c: IIlc:'IOd(l dll pc.~ qlli ,~iI hilolol'iogf'lHk.t" 01'1011 1'01 1111101 v isilo 
til " 'Iln II Ie III .. 1Ie IlIlId livi.\I, I, III1.ltl.1 , I ,~ C 1(' 111 j,ll! ~,)d,li~ " 11,10 \'11 1 \)fln ,.I~,11l .1 
Pr6/ogo anOI'a edif iio 
elas, formalista no metodo, que se pronunciava por uma integrac;:ao dos sak 
res, flexivel em limites toleraveis e nada complacente com certas ret6ricas an 
uso - tal como 0 vejo hoje. Nao encontro, pelo menos por ora, razoes para 'lilt' 
deva ser substancialmente modificada; porque creio que na historiogra fia dn 
seculo em que entramos muitas coisas deverao mudar mas a formac;:ao do hi.\ 
toriador havera de permanecer 0 mais livre possive! de qualquer forllIa de 
propensao ao iiracionalismo, por mais na moda que esteja. 
Cabe supor que alguns leitores benevolos continuem entendendo quI' 
aqui se apresenta uma versao excessivamente "regulada" do que deveria SCI' ,I 
pratica historiografica, pois assim ocorreu com a primeira versao do lexlo, I ia 
. quem considere algumas dessas propostas demasiado indistintas de Cil:lIlills 
sociais vizinhas. A insistencia sobre 0 valor e a efickia da pratica ao moJo 
cientifico refletida em suas paginas, seu distanciamento das versocs narra l ivis 
tas e retoricas, a visao decididamente reguladora - ainda que, certamclIll', nrll . 
dogmatica - do metodo sao materias que levariam a pensar em uma pn>po~ 
ta talvez excessivamente rigida. Mas me parece que essa nao e uma opilliao WOo' 
neralizada entre aqueles que, sem ter porque aprovar todas as suas posi 'rllt,/o. 
creem na oportunidade e sentido de urn livro como este. 
Esta obra nao se propoe, de modo algum, a reavivar 0 positivislllO, III,I!. 
nao e menos certo que contern uma proposta inequivocamente m(iOlllllt~1 1I 
Desde ja, 0 que este livro press'upoe e que 0 historiador se coloque 1ll1liiO l11aj~ 
proximo do cientista do que do artista. Nao se e corn pIacente, de lilfllla :llglI 
rna, com a historia-literatura, a "interpretativa", a relativista e a IIcciolla!' I k 
fende-se que a Historia esta longe de seruma questao de opini~io Oil de gOSh" 
Mas acredita-se, sem duvida, que tal Historia e feita por "sujeitos" corpc'lI ~'C1~ , t' 
qlle sao estes os que constituem e modificam classes, estruluras l' siSI\·lIl.IS, ( I 
sujeilo s6 se apreende, no entanto, na razao, tanto inslrumental mlllo hi:MII j 
ca, sc prclerir, nao na recreac;:ao impressionista, a-tc{,rica c a, nll ila. 1'01 i \~!1 
acrc<iilamos cm unt futuro racionalista, c nao programalisla, da hislo riogr.1I &.1 
()lIalllo ao seu lalanlc, lalvcz llaO fi)sSt' dClllais recordar (\llil i 11 111 I II 
1I11'lIlilrio, qllc lOllill'c,:o ill<iirclall1clllc, dl' cl'rlo cokga qUl' acrt'dil.lV:I 'IIII' ,I 
I'rill1('ira cdi,';JO dl'sta ohra nao rdlN iil sulici(,lIlcllll'lIl c "0 qlll' os lI i~lu, I.\tlll 
"'S 1.11,('111': h:.,.1 ()pini\io, ;linda qUl' lIao n:llila \'X.,I, IIII \.· lI ll' CI 'II W 11 livl" d ... , 
\1'11 11' "WI' lI l1dt' 11'11" 1'1 ,111 0 1111:1 illil'Il\ .lo 1'(.'. 11 : P IlI"lII i lll, .1 III1 I(I.III1\' III ,I\.lIlld 
11111,1 dol hisl'll (11)\1,11"1 1I,ln ~ (' halo\'i.1 lin qlle II!; II il.!II I i,lIloll" 1,111'111, ',111 ,10 , " 
Pr61ogo rl nova edifflD 
anles, na critica do que fazem. A ideia pragmatica de que a historiografia e "0 
que os historiadores fazem" nao esta precisamente entre as que eu aprecio. 
Nesse terreno ninguem tern direito apropriedade alguma nem tampoHco 0 de 
cobrar pedagio, mas nem tudo 0 que reluz e ouro. 
o tempo transcorrido entre as duas edicroes tambem mostrou que e 
possivcl e necessario incorporar ao nosso tratamento muitas propostas que fo­
ram sendo acrescentadas avisao da disciplina nos finais dos anos 90. E na me­
did .. do possive! procuramos faze-lo aqui. Aqueles que tiveram por bern fazer 
o llll'nlarios sobre a edicrao anterior concordaram, em geral, em que segura­
IIU'lIll' (~lllava no texto urn maior desenvolvimento do que foi a hist6ria da pr6­
pi i,1 ulltliguracrao da disciplina historiografica na epoca contemporfmea, quer 
di~l ' l. deslle 0 comecro da sua construcrao no seculo 19, e era grande a insisten­
l lol "111 mlocar a pr<itica historiografica no interior de urn nicho de disciplinas 
111;,1 idclll ilica~:ao cientifica se buscava com afa. A presente edicrao procurou 
.IPI"' ki~o"r esse enfoque e por isso toda a primeira parte foi remodelada. 
As linhas basicas foram mantidas, ainda que procurando melhorar e 
,II "d lii'.a,. slia exposicrao, as materias essenciais de que se constitui uma teoria 
do hislt'lrico atenta a algo mais do que a meras constatacroes empiricas, sem 
"Ill rill' no terreno da especulacrao filos6fica. Levamos em conta, no que nos 
'OIlCCnle, 0 que de mais significativo tern sido produzido pela bibliografia 
d('sllt' 0 lanc,:amento da edicrao anterior. A proposta essencial ace rca da expli­
,a~ ..o hist6rica nao variou e,quanto ao discurso historiografico, mesmo que 
~l' illsisla na consideracrao de que 0 historicismo narrativista nao representa de 
«mila algllrna uma apreensao convincente da Hist6ria, pondera-se a necessi­
dade de que a explicacrao historico-social flexibilize suas vias, fa~a uso de dife­
I ellll's recursos, lanto forrnalistas como hermeneuticos. Estamos mais conven­
Lidos do que nunca de que as ciencias da sociedade, a historiografia entre eias, 
cslao por cncontrar, contudo, 0 ponto "galileano" de sua imagem do mundo, 
qll(' lIao poden} ser geomctrico mas que tampouco bastara que seja poetico. 
[':111 lIossa Illouesla ·torma de vcr as coisas, a hisloriografia - lima pala­
VI',I, lI' rlalllcllll', {llIl' lambcm nao parece agradar a todos - nao saiu com lim 
111 11 i'/olllc IlHlilo daro do ccrlo maraslllo 110 qllal se "fUlldoll nllll a crisc dos 
Jl, " kll lMl.\ "p;lnldigll1as" qllc IrilllllilVam nos alios (l() (' '/O,I:, l'vid" ll lr qlll' () rl' 
1"1',11. k~M'~ P' II ,ldil'\ l\l . l~ l; iltll'ossfwl I', "III lodo lilMl, illdl'M'jnvd. M,I S I I haI 
lI"ld,1 "villi ,I ,111 11i11l ,11 . \liMII.," IhlO p ,IM.O II tI., 11111 ( 1,1\. II, ' 111 11 lI'qllillk~ d.. 'lIl1d,1 
Prowgo II /lOVa edi,iio 
lIIidiatica, potenciada pela expansao das formas pos-modernistas e tao vazia de 
idcias como de competencia tecnica. A volta do sujeito parece ser entendida il~ 
Vl'zes como 0 regresso do "contar hist6rias". E nem epreciso dizer que a Ilish'l 
ria parece prestar a cada dia melhores servicros a quem sabe utiliza-la ... 
Mas nenhuma experiencia eva. Nenhuma situacrao hist6rica, na ci~1I 
ria normal e na extraordinaria, representa urn passo para tras, Dessa form,l, 
diria que, mesmo que parecra existir uma persistencia na crise da disciplina, I' 
l'vidcnte que dela vaG sendo extraidas as licroes adequad~s. Talvez a mais pro 
veilosa, ainda que nao totalmente gratificante, seja a de que depois de Vill ll' 
anos de incertezas, de buscas, e certo, de ensaios e descobertas parciais, csln 
1lI0S convencidos de que se render aovale tudo (0 anything goes, que se diziil 
1I0S momentos centrais da crise), acomplacencia frente a qualquer ft'Jrmul a 
somente pelo fato de ser nova, aaceitacrao de qualquer proposta em nome tI" 
\111\ lolerante espiri.to de abertura nao leva, no melhor dos casos, a parle all~\l 
ma e, no pior, converte a pnitica historiografica em uma atividade cultu ra l il 
rcit:vante em si mesma mas, isto sim, facilmente manipuhivel. E, infclizllIt'Illc , 
1l ~IO nos faltam bdns exemplos disso, 
Poder-se-ia objetar que a Hist6ria goza de excelente saude, como I n'l'llI 
lIIuilOS pensadores, 0 que nao pode estar mais avista, dado 0 muilo quI' ~l' 
produz, se vende e se difunde... Mas, desafortunadamente, esses argumelll\!' 
1\,10 provam muita coisa. Porque, nesse sentido, estariamos falando da IIIl'SllI ,1 
sallde de qlie gozam as revistas de frivolidades, 0 romance hist6rico, os II\lV\\~ 
programas de "sociologia televisiva" e os esportes-espetaculo. Esse nilO Il;m'v' 
ser urn born instrumento de medida. 
Permitam-nos dizer que 0 problema da historiografia nesle WllI l'l,ll tit' 
st''Culo se rclaciona sobretudo, na nossa modesta opiniao, com a pCrlll <1l1c:lll l ' 
n'dll~:no da exigcncia em uma pratica respeitavel, com a trivializa<,:ao, as (llIbll 
ca~'I)cs sllpcrllu<ls, a hist(lria miJiatica, a "hist6ria oficial", as forillas dl' Il'all,l 
lito can'nles de "oficio", a dificulJade para aSSlImir a mlldan~'a C l'(lllsl'qO"III I' 
n'1I0va~'ao, a till'llla<,:iio tlos jovens hisloriadores, os "falsos" C os "1I0VO~" 1" 11 
II'I,IS l' a "hisl(lria lixo". Junlo a isso, como prova dl' lima ccrla ni:il' d.1 illClV,1 
\,10 hislorillgrMk:l , lIao dcix<l1II dl' SCI' sinllllll,'llicas as <I1111I1dan l( ~s "1'1'111\0( ' 0,. 
1I' 1 1l1 hli~"\IWS Ill' ohm:- I'snilas h,' aliOs Oil dllClll:iS, rl'l'rl'se lll,lliv 'l~ Ik 11111 
III I'll Ins 111111'1 i,ll, '" ih (111'111 1II',I\ (lI'S hisl() ' il.,IS. nl' m,l~i.ld(),:-.4' Illlclt' f,\ 1','1\\,11, 
l'~tOIl d l' ,llIlIdo. I'oi\ h "III, 1\ \1' .lp"'\\lI (' III dill' l 1(111', \ 'linn IlId,1 ,II If 111,1\,111 \1 
Prologo allova edi{:,10 
,'sse rcspeito, admito que esta tambem e disFutfvel, pode clara mente ser me­
Ihorada e esta sujeita a muitas exce<;:oes.. , 
A esperan<;:a pode se situar na decisao daqueles que nao estao - nao es­
lillIIOS - de acordo com a situa<;:ao, A alguns deles me referi, ainda que de for­
Ilia c1iplica, linhas acima, Sei que na profissao dos historiadores ha muitas 
I'l'SSOc\S oprimidas pelo fastio da repeti<;:ao e sempre prontas a reagir contra a 
illlp<fsi<;fio, a banalidade, a hist6ria que pensa em fazer politica, a submissao 
Ill idi il lica - sem ,excluir a editorial- e a mais absoluta rotina, Naturalmente, 
!1m !. I ria que este livro, limitado e pessoal, que entendo nao poder agradar a to­
dll~ . f()sse mais uma voz frentea tudo 0 que denuncio, 
1':1\11111, uma vez mais, a morada mais gratificante em qualquer pream­
I,u lo (' lIa que se entra para expressar 0 reconhecimento e 0 agradecimento 
,II IIU -14-1> 'lilt' consideraram que a empresa valia a pena, De muitos deles ja falei 
til l f· )I)I " Nflo me importo em repetir erne alegro que a lista de nomes possa 
IIII I1H'IILa!'. COITIO sempre, e extremamente reconfortante que muitos alunos, 
,k difi-r('f11es niveis, julguem este texto instrutivo e digno de ser discutido, ain­
dd 'lIlt' 11('1\1 lodas as suas passagens sejam faceis, Assim ocorreu com freqiien~ 
, iel lI c.;slcs cinco anos, dentro e fora da Espanha, Com humildade, agrade<;:o a 
IIlllilos "Iunos que aprenderam alguma coisa aqui, descobriram suas discre­
p.l llcias com 0 que encontraram e expressaram suas opinioes. 
Muitos desses alunos e professores sao de universidadesda America La­
lilla e deveriam ser nomeados, mas nao caberiam todos aqui. Emuito gratifi­
(:tlll(' r('ilerar plenamente as palavras de Josep Fontana no prologo da segun­
d.1 cdi",lo de seu Historia,sobre 0 que ali podemos ler a nosso respeito, Tern­
.\(. s(,llIpre a dcsoladora impressao de que podemos e devemos fazer mais em 
~ OI\1panhia daquelcs que falam e ensinam em nossa lingua do outro lado do 
t\11:1I11iw. ()uerolimitar-me a agradecer a alguns colegas de hi 0 interesse tido 
1,.lra IIwlhmar a obra. Estc e 0 caso de Jorge Saab, urn dos meus mais uteis co­
IIll'1I1arislas, de Jorge Saborido c Cristian Buchruckcr - estes ultimos par­
lilltall l alllallllenle oulras emprcsas comigo - c de outros rnuiLos colcgas 
\ 0111 qU Cl1I tcllito lIIe entcndido em Buenos Aires, La PlaIa, Rosario. Sanla 
I{osn LI,' f ,n Palllpa (' 'i'lIculll,11l e de qllem sCl1Iprc (('!lito rCCl·hido cOlllcn 
f,1 1i ()~ ~olll>lrnl iv()s. 
<J IIl'I O :Il',rmklCI :1 ( \ )I1'1 )rl'('Il~a(1 e 0 apoio lk IlI l1itos <ok-gols /'{'('chi 
dCl \ .llIk!. I ' ,IHOI ,I. I II ' ( ;Iin'ri ll SII IIc.I Il"/ I{"I in. Al1lollio Nillo. (il lll/. II I) l\r;1 
VII, ( ,1]11 /,1111 11" ',,1111 .11 , 10M' J 111.1'1 I'/ rill' , ( ;11111. ' , 1111 . ( ',Isldll, I t llllll i llel" 
Pr%go a/lova edi,iio 
( :lll'sla, Angel Duarte, Luis Enrique Otero, Sergio Riesco, Alberto Luis ~' 
lordi Canal. No casu de Juan A. Blanco, quero ademais agradecer sua C1jll 
dOl lanto na leitura detida do texto como na busca de alguns materia is. 
( :.ISO especial e tambem 0 de Elena Hernandez Sandoica, col ega e compa 
IIheira de empresas historiograficas comuns, de quem recebi desde 0 r ri 
III~ iro momenta lim alento particular, e com quem as discrepill1cias illie 
In . I lIais se convertem sempre em fonte de inspirayao. Equase ocioso acres 
e llLar que tenno escutado e levando em conta muitas opinioes solidas. ill 
lor illadas e atendiveis. Ao final, contudo, nenhum de meus amaveis CO li se 
II H: iros e comentaristas .pode nem deve se sentir co-responsave1 pclo qlle 
,lIl'li sc defende. 
Agrade<;:o novamente 0 impulso inicial que representou para essa 
nbra a boa acolhida que Ihe deu Josep Fontana -e Gonzalo Ponton e a he 
II l'volCllcia e a paciencia de todos os que na Editorial Critica contribuiralll 
!'.Ira quc as ideias ganhassem a forma de urn livro. Quero mencionar \' 
_I~ radeccr explicitamente 0 prazer da colaborayao com Gonzalo Ponlon, 
< :a rt lien Esteban e Silvia Iriso. 
Animo-me a pensar, enfim, que talvez nao seja esta a ultima VCI. quc' 
o livro devera sofrer um rejuvenescimento para adaptar-se as muda ll",I" 
qlle aportes incessantes de novas ideias e novas realiza<;:oes introdllz 1'111 
Ilossa larefa. Aportes que 0 tempo futuro parece nos anunciar em nlallU 
qllantidade e com maior contunde~cia. E assim, 0 destino que mais dl's{· 
jall)()s para a obra e 0 de que, por fim, seu principal significado e slI a lilt' 
Ihor fortuna sejam 0 de sempre dar conta de coisas novas e insistir lias qlll' 
lOlll i Iluarem sendo indispensaveis. ' 
Julio Ar6slC~1I1 
Madri. dezembro dl' J.OOO, 
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Parte I 
Teoria. hist<iria e historiograJia 
A primeira parte deste livro pretende expor a problematica geral do w 
IIlIn il\lcoto da Hist6ria, da forma como e considerada hoje. Para tanio, pal 
II' '.(' da distinc;:ao cuidadosa entre 0 que e a entidade Hist6ria e 0 que podc SI'I 
II Ii 1.1 disciplina do conhecimento da Hist6ria.* Propomos decididamen lc mlo 
1.11 para csta 0 nome de historiografia, por razoes que serao expostas COlli !.II 
I II W ille c1areza, assim 0 cremos, mais adiante e no corpo d~ texto. Como 10d.1 
d",1 iplina que procura elaborar e acrescentar urn corpo de conhecimeillos so 
1111 ck" lerminada materia, que representem algo mais do que urn mem e Xt'n I 
, III ,l l" senso comum, a historiografia precisa dotar-se de algum conteudo Id, 
I h ( I Mas ate hoje esta e uma de suas grandes carcncias. 
A Icoria de que falamos tern, segundo tambem se explicani depois, 11111 
,J 'lIllo sClllidoque convem igualmente distinguir. Em primeiro lugar, loda di .. 
, 'pllllll l10rmatizada constroi, de urn lado, urn corpo de explica<;6es arlinti,l 
.1,1" Ihll a dcfinir 0 objeto ao qual dedica seu estudo. Em nosso caso, a urn II'll 
II.d ll t) desse tipo corresponde adequadamente 0 nome espedfico de Leoria dll 
1/ ,,101ill . f~ a teoria que deve buscar dar uma resposta convincente apt·rH"III .I· 
o 1( 111' {. a I-listoria? Constitui urn saber substantivo e empirico que Irala lI,' d!' 
'Illi l '1l1al C0 campo da realidade que 0 historiador aborda e que dl' Illodl) .r! 
H" III cl(lIivaic ao "desenvolvimento" da Historia Universal, mas silll a rdll'xlllI 
\"h l(' a lIalureza do histOrico. Mas, em segundo lugar, existe outro lipo dt' 1\'11 
11.1 1Il' ~l' ss;iria: a que propoe estabelecer nao a que ea Historia, mas (Otll lI ~I' I" 
'1"1 ' /1' 1/ IlisiOria. A este tipo de trabalho damos 0 nome de (coria till histfll //I 
!.!I"IICI. 1~la Irala de como se conhece a Hist6ria e como os conhecimelll o)' oh 
Ihlm \lodl'm agrupar-se de forma articulada em uma disciplina de (.(lIl II\·11 
IIllll l o , SCIi tipo de saber edisciplinar ouformal. 
I ~xisl('m , portanto, duas formas de teoria as quais 0 hisloriador dl'Vt' dc' 
.III ,II ."".1 all'lI<,:"o c, por conseguinte. nao confundir: a leoria da !l ill l,"1 ;,1 I' ,I 
11 '1111<1 d ol Itisloriografia. Normalmenle, esta segunda conler;! a prillleir,•. N.. 
.. "11111,1 dl'~~;a s lard;ls se con f'1I nde em ailsoillto nem com a (illl.~(//i(/ da I list", h i 
111'111 '"111 .1 "i.~III,.i(/ ti(/ hjsl(/,.i()~mll(/. Cada IIll1a d\.'ssas oiliras dll ilS ,'rc·.I~ dt· III 
I'I " lud.1,I prill l<' j, a pa riI' 0101 ohla li~.l'IIIO' COtll qlll' a patavla I lbtf1li.1 .I(lnll ..... ·.' 
,,1111 II 11I111.l l llI llillsti d.1 !jll.l lldl> Sl' 1111. 11'11'1'('1 1< HI .) '\·"I I("l d~·"• •H' ' 11rjl'1/ . III · I' ~III"" 
l ) I""" lo ,11'.lll·U· "11 1 1II IIIIINU d.I'·I'''I,!I'' · 0' .111'"'' ' ' 01.1 111'111 .11'111/(111.,1110 , 1"'"1.1 111 
•h,MIII hi" I' ell''' 11'1 " 1.1 ""II 1I1"I'.I.IIi,.1 
PaOe J 
Teoria. hist6ria e historiograjia 
teresse tern sua propria essencia, distinta da teoria, e nao e nosso objeiivo aqui, 
Olinda que ahist6ria da historiografia devamos dedicar uma aten<;aovreliminar 
c complementar, pelas raz6es que no devido momenta tambem exporemos. 
Da mesma forma, uma por<;ao importante desta primeira parte se de­
dica a expor, de maneira circunstanciada, como se tern constituido ate a atua­
lidadc todo urn corpl1s de doutrinas, escolas, preceitos e teorias que tern bus­
Iado I"undamentar a disciplina da hi storiografia desde suas origens contempo-
1';IIIl'aS, ja na segunda metade do seculo 19, ate os mais recentes aportes dos ul­
lilllOS anos do seculo 20, quando come<;a urn novo seculo e quando, sem du­
vida, lIilO se superou plenamente uma crise generalizada do conhecimento do 
',(11 ial. I'rocurar-se-a expor quais sao e como tern sido entendidos ate agora os 
hllliiallll'lItos para elaborar uma teoria da natureza do hist6rico, e mais do que 
I~\CI , do mnhecimento da Historia, ainda que sem propor agora urn delinea­
1111'11 10 pn'lprio em profundidade. Podemos, no entanto, adiantar uma conclu­
1.. \(1 provis6ria: no nosso modo de ver, 0 conhecimento historiografico consti­
Illi hOil" lIlais uma especie no campo das ciencias sociais. Mais tarde desenvol­
VC'/'C'II IOS sulicicntcmente esta ideia. 
CapituLo I 
HISTORIA E HISTORIOGRAFIA: 
OS FUNDAMENTOS 
A crise da Histaria [ ...J0 estado inorganico dos estudos histarico, / ... / 
provem do Jato de que um numero excessivo de historiwlon" 
jamais refletiu sobre a natureza de sua CiCllfiIJ. 
HENRI BIHII 
A sintese em Ilisl lll ill 
1'.tI"I'(:c dificil encontrar palavras mais apropriadas e significaliva:> q llt" 
'I"" hgmam no inicio deste capitulo, com as quais 0 historiador I"rallll"1> 
11 , 1\11 Ik l'r ' come<;ava urn livro dedicado apr<itica da historiografial'i\ "tk­
I \II ,HI ,I lorllla<;ao cientifica do historiador, para qualificar urn mal CO111 I1111 dll 
1111',',11 lI /iLio. Em tal afirma<;ao, cuja autoridade repousa no falo de Ll'l' :. ido 
1'1111111111 i,Ida por urn dos primeiros renovadores da historiografia 110 s(\.ulo 
'11 , 1111 11,1 se: lIIais sintom<itica a causa atribuida por Berr para a crise: do qUl' .1 
I'" '\,11,1 , ri sc: . Os historiadores nao refletem sobre os fundamcnlos prolllll d(l~ 
.I, _,I II ' I"halho... Isso continua sendo valido quasc noventa anos dcpob d~'~ 
h 1"II.lv r,ls II'I'CIll sido escritas? Infelizmente, nao parcce quc haja ra'l.rn's p.II ,1 
II llhl'lI ',,'U ~l" lIlido. No nosso modo de vcr, c Icvando-se: cm conla luda:; .1\ I" 
, ,1111' 1II1.1~' II' '; dr "praglllalismo" que s(' tl'm kilo reccnll'lllcnll', apt-sar d.I' d I~ 
1111\'11 " 'l il t' ~(' ria I'rctiso 1;\'1.(' 1' hojc enlre: dikrellll's hisl()riof~r;"ias, () plClhl.· 
111 ' IUl. II I II ,(/1""/\ ,." /""1 1111/ , M(lx i, n: I Itl'l l", 10(d (C :11 11'1 t "'" \.1 ('Villi .. jll ll d,'l.l 
111I11I.III"hld ) l' IIIIII'\I " ,',h"tI' I'1I1" .,p.mh"l, 11.111111,,1.111.1 "'I" lIl1d,1 ,-dl, .IO 11,111/1',.,1 
.It 1'1',',,"11111111 IIIIV,' PI (,IIIK" ,' Apl'lI"I,,· "" .1111'11,1' 'IV 
Parte I 
Teona, hi..... ,u,ia e htitoriogmfia 
lila da reflexao, ao menos, da maio ria dos historiadores "sobre a natureza de 
Slla cicncia" continua em pe.2 
Urn progresso sustentado da disciplina da historiografia e impensavel 
SCIII que sc leve a efeito essa reflexao que Henri Berr, e outros antes e depois 
dele, solicitou. Infelizmente, nos pr6prios cfrculos dos historiadores conside­
n HI sc durante muito tempo que 0 historiador niio eurn te6rico, que sua ocu­
pa~iH> nao e filosofar, que historiar enarrar as coisas como realmente acontece­
111111, e outras coisas semelhantes. A resistencia quase instintiva a uma mera 
.ldl"'1"ill,:ao e renovacrao da linguagem continua sendo muito forte. A formacrao 
do hisloriador continua sofrendo de uma flagrante precariedade. No entanto, 
1\.10 parl'ce necessario reafirmar que posicr6es e realidades desse tipo s6 podem 
dili <.. lIllar de forma determinante todo impulso para 0 aperfeicroamento prati ­
,() ~. '\icllllllco" da historiografia. 
( :om efeito, 0 historiador "escreve" a Hist6ria, mas deve tambem "teo­
ti"" I1'" sobre cia, quer dizer, refletir e descobrir fundamentos gerais a respeito 
tI .. lIalureza do hist6rico e, alem disso, sobre 0 alcance explicativo de seu pr6­
prio Irabalho.Sem teo ria nao ha avancro do conhecimento. E isso afeta essen­
l iallllcnie inclusive a pnitica historiografica, por mais que uma nuvem de teo­
rims litcnirios,criticos e "novos historicistas" tenha recentemente pretendido 
';\zcr da escrita da historia nao mais do que literatura.:l Sem uma certa prepa­
ra~:{\() tcarica e sem uma pr<itica metodologica que nao se limite a rotinas nao 
(' possivcl que surjam bons historiadores. Mas 0 que quer dizer exatamente 
Icorizar sobre a Historia, sobre a historiografia e sobre seu metodo? Neste pri ­
Illciro capitulo pretende-se, justamente, introduzir 0 assunto. E se procurara 
lad' -Io, na medida do possive!, no contexto do que fazem outras ciencias so­
, 	 Quanto asrecomcndac,:oes de pragmatismo, aludimos ao livro de NOlRlEL, G. Sur 
III "crise" de l'llis/oire. Paris: Berlin, 1996. A "perspectiva pragmatista" para a solu­
,'a~ de lotios os problemas da fragmentac,:ao da disciplina e certa renuncia apes<]ui­
sa It'(u'ka vao se concretizando em muitas passagens do livro. Vcr tambcm sua 
H( :()1ll:1usi(JIl" (versao espanhola: Sohre La crisis de la l-Jistoria, Madrid: for(mcsis/Cu 
I('dra, I 'H7). Cr. a crilica desta obra de autoria de Madeleine Rebcrioux, Chrislo 
1,1t" I'ro..hassoll y lordi Canal em /.(, MOUVCr11CIII social, \',Iris, 11 . IX'1, p. 'it) 110, 
;llil./s"l'1. I'!'JX. 
1',".1 \'v i lil l 111 11,11011 1".1 r il il\',1tl III- I'l'Opo,~h l ~ d,l 11 1,Ii " i, I ' '"1111 /',l' III'I O lil t· I M i" . ill 
..J iI ,1 ~" III,Ib .1 1, (· ,11 "" ""ill d,'d " ,HI" ,10 "1"" .,1", 11 ', 111" 1 1I 1l ' ~ 1I~',II I1 II \1 1111 II ', 110111<" , 
,It, UII I " .... ' ((111111 11 WI." " ,!' AII I"·",III1 " I' I I I ,I' ,11'1.1 '1111 " 011 1,"" 
Capitulo I 
His/(jrul e historiografia: as fundam entos 
, I, ri ~ " illiciando-se a partir do problema do nome adequado para a discil'li l1 ,1 
hl~ I' Iri()grafica. 
1\ IIISTORIA, A HISTORIOGRAFIA 
F ( ) H [STORIADOR 
'1<' 111 sido habitual comecrar todos os tratados de "perspectiva" hislorio 
l',Id l l' ,I kmbre-se das obras ciassicas de Droysen, de Langlois e Seignohos, lk 
II, I II lr l'i 111, de Bauer, de nosso Altamira, e de outras obras mais recentcs _., com 
, "" ',l ti l'l'<I<,:oes sobre a propria definicrao de Hist6ria e sobre 0 sentido amhiva 
10 1110 oI t'SSil palavra. Aqui nao se buscara, de forma alguma, uma defini~'a() ik­
Ilhlnll, l, visto que se trata de urn esforcro inteiramente inutil e que nih) t.'scl:. 
I l'" II ',,"damental. Porem, ainda que com terminologia e espirito dislinlo, 
IIi .. 1111'0 parece possive! evitar 0 tratamento preliminar de duas quesliks illl 
! I!!I I 11111':' que convem e!ucidar desde ja. Encarando 0 problema da polissl' III1 .1 
01,1 1"tI ,lv l'a Ilistoria, seria preciso tratar primeiro do nome convenientc ~\ "di ~ 
;l' lllId 'III<' investiga a Historia", questao que foi discutida mais de lima WI 
I lit "II\lI ida, atcndendo a problemas mais estritamente ligados aprbprill dl ~ 
, 11' 11 1'01 d.l his~oriografia e como uma reflexao mais atual, diretamenlc illl l" i 
, il l. , Itll:. problemas de urn tempo como 0 nosso, marcado por proflllHbs 1111 1 
01 ,111 ",1\ 1111 limiar do seculo 21, parece bastante pertinente abordar 0 " p(' r/II " 
11111 \"'1 ',II.lr io da formacrao e preparacrao inte!ectual, profissional e Iccni<:a do 
li i r, r". i.llinr. 'Ihmhem neste aspecto a historiografia joga seu futuro. Vt';alll ll!. 
III II !,. " 01' 'I',('sloes sllcessivamente. 
111h'1'I lll ll I,;HAFIA: 0 TI':RMO EO CONCEITO 
I 1I I,\I' IVCI\\()S prillleiro quc 0 nomc quc sc da ao conhccil\wllio J.. Il j~ , 
., 111.1 11.1 IlI lI il \l ll'llIl'o ofi:rccc problemas c, a nosso vcr, ncccssiia aillda 110;(' ,I" 
1'II II"h l !! '-"lh ld (, I 'a\n~'s. i\ palavra Ilisl6/'ill C ohjelo dt' lISOS allfil>ol<)gi \'(\l1 (~II 
1'1 Ill! .11111'111,· 01,' t"o/"" .-I.." ',C' !. if;II,! 11I11i' l a, eI.' l' llI I H I ~\. I I'; l h~,igl·II' II n~ , .11'1111 10 ', I 
• 	 \ . 01111' II 101 111,1<, .11' .I II d ihl I p hll'l 11I '((II II)Hl. rl j,.1 110', ~r( II I" " 1'1" ' II 
Parte I 
'[coria, histuri" e historiogm[ta 
tre os quais 0 mais comum esua aplicacrao a duas entidades diferentes: uma, 
a realidade do historico, e outra, a disciplina que estuda a Hist6ria. Praticamen­
te, nenhum historiador que tenha dedicado algumas linhas para comentar os 
problemas inerentes it sua pnitica deixou de destacar essa questao. Iniciemos 
ponderando a importfmcia que a precisao do vocabulario tern par~ uma pra­
tica como a pesquisa hist6rica. 
A linguagem espedfica das ciencias 
Como regra geral, as ciencias ao se constituirem VaG criando lingua­
gens particulares, repletas de termos especificos, qqe podem transformar-se 
em complexos sistemas formais. s A ciencia, ja se afirmou algumas vezes, e, em . 
ultima instfmcia, uma linguagem. A terminologia filos6fica pode ser urn born 
exemplo do que significa esse "jargao" especializado no caso de linguagens 
verbais. As ciencias "duras" recorrem hoje it formalizacrao nao verbal, quando 
nao matematica, de suas proposicroes para a elaboracrao e desenvolvimento de 
suas operacroes cognoscitivas.6 
Em urn nivel bern mais modesto, as chamadas ciencias sociais 'usu­
fruem esse instrumento da linguagem pr6pria em menor ou maior grau, se­
guramente com importantes diferencras no seu desenvolvimento de' acordo 
com cada disciplina. Todas e1as, porem, possuem urn corpus mais ou menos 
extenso e precisode termos, conceitos, proposicroes especificas, e tambem de 
IIlcl;ili.mls e analogias distintas do linguajar ordinario. Num nivel basico exis­
Ie, SCIII duvida, uma certa homogeneidade na linguagem dessas ciencias so­
( iais, illlposta a partir do que foi obtido pelas disciplinas mais desenvolvidas. 
:; 	 Falamos de "Iinguagem formal" como a linguagem construida pdo homem de ma­
ncira planejada de acordo com regras estritas e em oposi<;ao a"Iinguagem natural", 
o falar do homem que se insere no pr6prio processo de hominiza<;ao. 
6 A natureza particular da linguagem cientifica c analisada tanto pela pr6pria cpistc­
mologia e metodologia da ciencia, como pela filosofia da linguagem. Cr. () antigo, 
porcm interessante estudo de GRANGER, C. C. J-(nmalismo y (i('f/(im 1111/1/(/1/(15. 
Barcelona: Ariel, 1965. '])11l1bel11 trata do asslIllto 0 peqllcno livro dc 1{( m'l'Y, It i·:1 
giro lillglifslim. Barcelolla: I'ai,k,s IIA B, 1')')0. I'anl as dilll'l'\\lI tes I HI1H'f'\ I)\'~ .Ir 
d (' rl(i.l , d : F( :11 FVA IWI A, I. illl wr/rlffillll " /11 IUI""ltllI /llg!!1 tlr ' III ,;"/11;/1 1,/ fl/II .\I,/III 
tI" 111 ( '11'1/1 !I I "11 ,'I "gil' X\ M.ldl ill , ( IIII·II'H. 1"')" 
Capitulo I 
I-listurin e hisloriografia: os ftmdamentos 
I I,i I<TIIIos especificos da economia e da lingiiistica, por exemplo, que sao bas 
1.1I 1i,· caracteristicos e foram absolutam.ente aceitos. Em todo caso, no enlall 
111, .1 I'spccializacrao da linguagem e hoje uma das questoes mais problemalit.;lt. 
11C1 1.1I1lPO das ciencias sociais. 
() problema terminol6gico na ciencia se manifesta primeiramenll' ,I 
1t '~ II!' i lo do nome que uma disciplina constituida deve adotar. No que conce.. 
III .1 lIossa, esse e 0 primeiro problema que vamos abordar. Tem-se dito Will 
1lIl l!I£l llcia que 0 emprego de uma mesma palavra para designar tanto ' tti lld 
Il. dld.lI\c espedfica como 0 conhecimento de que se tern dela constituiria IIm , l 
/ 
III j III , I 1;1 Il Ie dificuldade para 0 estabelecimento de conceituacroes claras, SCIll <lb 
l i lt Ii .. IlilO sao posslveis avancros fundamentais no metodo e nas descoberlas d.1 
i ~ '11 hi . I )essa forma, sempre que urn certo tipo de estudo da realidade deliJl l' 
1111 ,I dl'vida clareza seu campo, seu ambito, seu objeto, quer dizer, 0 tipo <l l' 
II.,IIII IIOS a que se dedica, e se vai desenhando a forma de neles penel ra r, Oil 
],1 ',1 II metodo, surge a necessidade de estabelecer uma distincrao, pelo 11)(' 
I\n ~ II 1.11 iva, entre esse campo que se pretende conhecer -.a sociedadc, a lonl 
1'.·... 11••111 da materia, a vida, os numeros,. a mente humana, etc. - e 0 COJ1jlllll o 
111 11 111 .1110 de conhecimentos e de doutrinas sobre~tal campo. 
A ( ria<;ao de urn vocabuhirio especifico para uma determinaJa arl'.l <ll' 
11 11 111 ' ( in\( 'lllo comecra ai: na forma de'diferenciar na linguagem urn cell n II/J 
/ ' /,' til ' I Il llhccimento e a disciplina cognoscitiva (cientifica) que delc sc III II 
i ,·j '1'1.11" st', simplesmente, de dotar cada disciplina de urn nome gell('r i~() qlll' 
.I. '.1 I,'VII hl'lII seu objeto e 0 carater do seu conhecimento. Os nomes <las ( it'll 
, \.1 ·...11> IIIVl'lIla(\os; foi isso 0 que ocorreu a partir do seculo JR. Assilll, (. III' 
1111 IIII !J Ill ' () Ilome de muitas ciencias nascidas da expansao do cOllhl'lil1WII 
t... 11 II llld.. desdl' cntao seja composto de uma particula que dcslTCVI' a 1110111 
IIII." '111 ..1 ",' oI( rcscellta um sufixo que Clim neologismo qualificalivo (.Olllllll,' 
/"i' I,1 III I!,."w io do grego logos. Sociologia, filosofia, geologia, ele. ( )II ,:h VI' 
1""(111 , dt's, ri~'ao: gcograli<l, cristalogralla. I hi, pori'lll, {Jrcas de lOld U'11 
III' "I .. IIll1ilo Illais (hissicas, com llomes parlinilal'cs: a hsica I' 11111 11111 11 
. IlIlill' III 11 111,1ail liga dl'1l0Illilla~'ao grega, aplicada jii pOl' Aril;t(ll~·k !>' . 
I Itll .I l1ld .. IlIll olilro kll{\n1 l' IlO Ilada illUlllIlIlll: '1tl<lllllo 0 11011 11 ' !II 
I lin •• .I ii "lp"",1 ,II,. holl 1ri;1I1<1o 11111 dd jclivo nOvo pill,. dl':.i~I1M .1 Il·, tl id.tdl 
' /iit , IIlId.1 .1 i"'plalll .",.,,, d.1 pl' ilfl logi.• 1('SII III II I I'"~ ~ ri, I,.ll l do "·null",, ,.!. II 
'''1'11 ,,': II gl 1I1(l1~ 1. 1. lin 11'1 III" .. 1\1'0 I"l i j, n", II g('nr~l , II I. I, 110 " l\C'(I)~ r.llil"" ( 1 11 111111 
Parle I 
Teori(l, histdria e hisloriografUl 
de uma determinada ciencia, constituido por urn neologismo, da lugar, as ve­
I'.l'S, a urn nome diferenciado para 9 tipo de realidade aqual se dedica. 
Anfibologia do termo "Historia" 
/\s considerayoes sumarias que acabamos de fazer sao uteis para anali­
' .. 11" 11111 problema amHogoe real de nossa disciplina, a saber: 0 da denomina­
\,11) III;lis adequada e distintiva para a pesquisa da Historia e para 0 discurso 
/w,/r)/;m normatizado que da produz. A "historiografia" e uma disciplina afe­
1" .1.1 CIII diversos sentidos pdo problema da linguagem em que sua pesquisa e 
' ,1' \1 "di~(,lII"so" se plasmam. Por isso e preciso dele tratar agora. 
/\ qllestao comeya com 0 fato, comum a outras disciplinas, certamen­
k , el l' <1"(" lima so palavra, Historia, designou tradicionalmente duas coisas 
ili';1 wi ,lS: a II istoria como realidade na qual 0 homem esta inserido e 0 conhe­
dill/'1110 I' rcgistro das situayoes e sucessos que assinalam e manifestam essa 
ill :"'I\ ao. (,: vcrdade que 0 termo istorie, empregado pelo grego Herodoto 
WIlIO lilulo da mitica obra que todos conhecemos, significava justamente 
"pI'squisa". Etimologicamente, portanto, uma "Hist6ria" e uma "pesquisa".' 
Mas logo a palavra Hist6ria passou a ter urn significado muito mais amplo e 
;I idl'lItilicar-se com 0 transcurso temporal das coisas. 
/\ erudiyao tradicional alude sempre a esta incomoda an£1bologia esta­
l)('hl'lIdo a conhecida distinyao entre Hist6ria como res gestae - coisas suce­
didas - e llist6ria como historia rerum gestarum - relayao das coisas sucedidas 
,distinC;ilo para a qual He'gel, pela primeira vez, chamou a atenyao: "a pala­
vra hisloria" - dissc 0 £1losofo - "reune em nossa Ifngua 0 sentido objetivo e 0 
slIhjdivo: significa tanto historia rerum gestarum como as pr6prias res gestae, 
lallto a narraliva historica como os fatos e acontecimentos"." Na atualidade, 
'I tll:,ROI)O),O. llis/llrill. Inlrodllcci6n dc F, Rlldriguez Adratills, Iradlln:i(lIl y Ilolas 
(r.- ( :al"lus Schrader. Madrid : (;rctios, 1977 (e cdi,,()cs sllccssivas), l ,ellllHl' S(' ti(' (1"(' 
II h:xlo dl' 'i krbdolo ('(II S('II livro I cOIlll'"a <Iiz('mlo: "Fssa (- a ('xposi,ao do rl'slil 
I,ltl" (las 1'( ·'\(llI i~w. ell' I kn'" 101 0 dl' Ilali( al'llaso, para ('vilar '111(' COlli 0 " ' 1111'0 os 1.1 
10:,1111 111,1/10,\ , ,Il,ll ll 110 ('~'IlI('( illll'lIl11,..", 
11 II Ji( ,II, (i W I' 11'11111/11" ",/,,1' I" /, /"",/11/ IIr /,,If''/II' ,,/ 1 /1/ / 1'/'1,/1 / M,IIIt III Ali,1I1 
I. 1'111'1 Ii , I'I I "'1',1'1,\1 ","II,IV,I'IIII' ,'"" ,' 1. 1111 ",1111111111 111.11" 01,, '1"1' 1111.,( I ,I~ 'I.I 
1111",1< 
Capitulo I 
Hist6rill e historiograjia: as fill1dmnelllos 
1101),01"11 White assinalou que 0 termo Hist6ria aplica-se "aos acontecimentos 
d" 1',1~" >;I(lo, ao registro desses acontecimentos, a cadeia de acontecimentos qU(' 
j nll',ll llIi 11m processo temporal compreendendo os acontecimentos do passa 
, It t, ti ll prescnte, assim como os do futuro, aos relatos sistematicamente ordc.' 
II " . I"" d()s acontecimentos atestados pela pesquisa, as explicayoes desses rda 
I, '- ' 1',ll' lIlaticamente orden ados, etc": Essa nao e uma miscelanea qualquer. 
h,i 0 pensamento positivista que estabeleceu a necessidade de que as 
• "~ Il( 1,1', livessem urn nome pr6prio diferente daquele de seu campo de cslll ­
dit I,ll IH'ccssidade parece obedecer aideia, tipiGa do positivismo classico, til' 
qm' I '1 lIlIciro se descobrem os Jatos e em seguida se constroi a ciencia, ou, 0 
I" f d,1 /III mesmo, que a ciencia busca, encontrae relaciona entre si "falos". 
I "j ,I , II IIW ciencia de algo se ha urn fato esped£1co que a justi£1que, idelllili 
! I II I dl,;tillga. Toda ciencia deve ter urn nome inconfundivel e dai que nao Sl' 
III ,11,," I II I recorrer a todo tipo de neologismo para atribuir-Ihe esse nome. 
( I I'0sitivismo buscou a de£1niyao da hist6ria na descoberta, e claro, li t., 
WI! ''' IHlslo lato historico. 0 problema terminol6gico vern, assim, de tnllil() 
11 (1'11 01 I'alavra Historia designa, para dize-lo de alguma forma, urn conjllll 
II! Old. 1I,Ido de "fatos hist6ricos", mas designa tambem 0 processo das opera 
, 1<' 111 ificas" que revdam e estudam tais fatos. Que a mesma palavra til' 
",II, " bjl'\O" e "ciencia" pode parecer uma questao menor, mas na realidmk 
II ,II 1,1 1'111 scr embarayosa e abre espayo a di£1culdades reais de ordem episll' 
1I 11 t1'III'('1. I lOll 0 filto de que se tenha tambem ensaiado prontamente a adoc;ao 
III 11111 11' 11110 cspedfico que designasse a pesquisa da Historia. 
1\10 I'oslo, rcsulta que 0 fato de que 0 vocabulo J-list(Jria dcsiglH' .1(1 
111 8 1111' 11'1111'0 lima realidade e seu conhecimento nao eo unico excllll'lo qlll' 
!" .IIII I()\, dizar de uma situac;:ao desse tipo. Na realidadc, uma dificlildad(' 
III;ih'I\,' ,l le'la oulras disciplinas das ciencias sociais c nalurais. Com c/c ilO, () 
011:-11111' III (JI rl' (om a economia, por excmplo, e a linguagclll conllllll fl:~ 1011' 
q !II.~ ' h IIIf 1 '~Sl' lalllh~11l no casu da ' psicologia, da gcologia e da gl'ogra fi,l: 01. 
IHH"v( ,hit, di ~( il'linas passaram a dl'signar rcalitladl's, COIIIO diss(.'llIo~. 1':111 
'J W 111 '1 I' , 11. 1:/, 1IIII"IIido d, ' /11 /orlllll , Nllfflllil"', d i l l llf,," )' fI '/'fni '" II/II,;1 /11 '1011 "" 
11,1111 1111\;1 1' . lId"~,, 1'1') .',1'. I','}. () lillll" ('Sll1l11hol 01" %01 1',,1>1 11 '11\1111 ,,,"1(1«((1, ' (I til 
'''I VI 'I/I,'" "' '1',11), 11. 'I"" ,', '1'1". ( 111 111' 111 "/1/,,. /i ll 1/1 NOl 'tI/11'!' I II', 11111 ,, ' ,111'/ 1/"IIIff 
'l i/ /;"/" .-.I' II/IIII,III 1".1 ,II III)II'\" ,t " \1"("0'",,, "til',. ,,,"I 11 .111 ,Iii",,", 'III" I' 1,,"01.11111'11111 
~1I_'fh I hll 0 ",1,1\ .10 
Parte 1 
Teoria, his/oria e historiograJIa 
nosso caso, a palavra grega istorie (pesquisa) passou a designar 0 processo 
temporal cumulativo da Humanidade. E frequente tambem 0 uso de certas 
palavras com significados multiplos nas ciencias sociais, comoocorre com 
economia ou po/itica, entre outras. De nossa parte, e para 0 momento, e im­
portante assinalar que este problema terminologico nao corresponde a urn ca­
niter espedfico da historiografia. Mas valedestacar, igualmente, gue na situa­
c;:ao referente a Hist6ria nao ha razao para que essa polissemia se mantenha, 
da mesma forma que a tendencia tern sido no senfido de elimimi-Ia no caso 
de outros vocabulos que designam ciencias, como com a poHtica ou a polito­
logia. Ainda que a questao nao seja exclusiva, nem, talvez, crucial para a disci­
plina da Historia, e, sem duvida, de suma importancia. 
Quando falamos de Hist6ria e evidente que nao tratamos de uma rea­
lidade "material': tangivel. A "Historia" nao tern 0 mesmo carater corp6reo 
que tern, por exemplo, a luz e as lentes, as plantas, os animais ou a saude. A 
Hist6ria nao euma "coisa", mas uma "qualidade" das coisas.'o Portanto, e mais 
urgente atribuir a escrita da Historia urn nome inequivoco do que faze-Io com 
as disciplinas que estudam essas outras realidades, que, por outro lado, tern 
nomes bastante precisos: 6ptica, botanica, zoologia ou medicina. E essencial 
deixar claro, desde a palavra que 0 design a, 0 que quer dizer "pesquisar a His­
toria". Nao se po de negar que no caso do estudo da Historia existem razoes su­
ficientes para supor que gran des esclarecimentos podem ser esperados de uma 
primeira elucidac;:ao eficaz dessa questao terminologica - e depois, natural­
mente, de todas as demais. 0 carater nao trivial da questao terminologica ja 
foi destacado ha tempos por correntes historiograficas como ados Annales, ou 
a marxista, e ambas falaram de uma "ciencia da Historia". 
A palavra Hist6ria tern, pois, como ja se disse, urn duplo significado, 
pelo menos. As vezes, porem, tem-se introduzido palavras ou rodeios espe­
ciais para expressar seus diversos conteudos semanticos. Assim ocorre com a 
clara distinc;:ao que faz 0 alemao atual entre "Historie" como realidaJe e "Ges­
chichte" como seu conhecimento, as quais se soma em seguida a palavra "llis­
torik", referindo-se ao tratamento dos problemas metodol6gicos. )crzy 'Ih­
polsky assinalou que a palavra Historia, ainda que scja usaJa apcllas para de 
10 No (:al'll.lllo '1. n;! s")',lIl1da p,lIlr "~'I>~:I Olll", Voll.lI(·ll lI b .11 1;11.11 III' <) 11 1".1.11'1, 'I'll' 
n'lllcs" pr(II'I M " 111 ill.lck 11.1 1 1i ~1('1 hI. 
Capitulo 1 
HisMria e historiograjia: os fundamim/os 
"1',1101 1 a atividade cognoscitiva do hist6rico, encerra ja urn duplo significado: 
!I ' II)I II,I 0 processo de pesquisa, mas tam.bem 0 resultado dessa pesquisa comO 
" 1, , Pllslrllyao na forma de uma serie de afirmac;:oes dos historiadores sobre (I~ 
i ,I , ,~ pussaJos"." Mesmo sendo esta uma sutileza desnecessaria, uma vcz lj lll' 
lill·\ I' ,IIIH'lItc nao ha pesquisa desvinculada de uma construc;:ao de seus rCSIII 
1.1< 1"" , ,I observayao ajuda a compreender as consequencias nada banais dl'ssa 
• ', 111111 \1;\ anfibologia. Em suma, Topolsky acaba distinguindo tres significad(ls 
,I.I !'1I 1.lvra Ilistoria: os "fatos passados': as "operac;:oes de pesquisa realizadas 
I'IIi 111 11 pcsquisador" eo "resultado das ditas operac;:oes de pesquisa". !':m al 
'1111\ l.!iolitaS, acrescenta Topolsky, 0 conhecimento dos fatos do passado [( ' III 
It I" cles ignado por outra palavra, a historiografia. E e justamente ncla qlle 
, 11 11 It ' II HIS IlOS deter aqui com maior enfase. 
'J()polsky afirma igualmente que a palavra em questao tern urn IIS0 (·s 
,'III I.dlllcnlc auxiliar, em expressoes como "Hist6ria da Historiografia", il q..,, ' 
1111, It It.ll lloS acrescentar outras, como "Historiografia do tomate" Oll "l lisln 
11111"" 11.1 dos canarios", por exemplo. Esse sentido auxiliar que assinal.1 '1 11 
l,lt l',I,y 11.10 dimina, a nosso ver, a vantagem de que a palavra Hisloriogt ,I I'I.1 
II III 1111101 sigllificayao univoca: "refere-se apenas ao resultado da pcsqlli s,I': I 
";".11 I. ' ",,(·il ;\ sua ctimologia. No en tanto, continua 0 autor, ao nao i;Hlic;Jr 11( ' 
11/11 1111 l'I 'llu'dimcnlo de pesquisa, 0 termo nao tern encontrado ampl.. lIlt' il ,1 
~,111, "111'1 11 seqller no seu sentido mais estrito': Para ele, "a tendencia tit' CII ljlH' 
,,~. II II Iq 1110 /Iis/e/ria, rnais uniforme, e obvia, apesar de que supik L1ll1a ~n 1,1 
l;ril .1 til' , Lll'cza': I.' 
( ) lOIl(cito de "I-fistoriografia": pesquisa e esuita da I list", 1.1 
( '111m vm,ihllio j,l foi proposlo para clllnprir cssa fUII,;ao: Ilis/oliu/Oglli 
III, )\olvd '1111" do pOlliO dc vista IIlol{lgicn, cssa palavra desl'111 Pl' lIIhll III P" I 
I, ,lilli' ii I(' .1 l ....d J de desigllal' a '\:ii:'ncia da liislbl'ia". Mas poss lli, 1111 ,'111, 111 
Il', III" 1I1.I II II I,·III.lsiado pl'c\{'nsioso: 0 dt' SlJPOI' qlle a p('squisa hisl(H if.1 p( III, 
fl ,.'11.,, 1,1,'1, .. 1.1 , srm l1laiol'es jllslilkalivas, lJl1l;I'\;i('II1 i,, ': hli ()rl l·~. 1 y ( ;11 ...... ·' 
i I 'I ( 1"1 11 1,1\,', I AfI'/I,dll /llgJlIlll' 1" 1/'''"1111 M.uli 1\1 ("\11',11 .1. 1<1/1', I' , ;;.\ , '-,', 
' Iud .,,. '.'; 
Parle I 
Teoria, hist6ria e historiogra[ta 
quem propos 0 emprego de termo "Historiologia" para nomear uma ativida­
de que acreditava imprescindivei: "Nao se pode fazer hist6ria se nao se disp6e 
de uma tecnica superior, que e uma teoria geral das realidades humanas, 0 que 
chamo uma Historiologia".1 3"Historiologia" e empregado tambem por mais 
alguns fil6sofos no sentido que aqui assinalamos, como pesquisa da Hist6ria,I"llljuanto certos historiadores, ao contnirio, 0 tern aplicado no sentido de re­
flex,io meta-hist6rica que Ihe atribui Ortega, como Claudio Sanchez Albornoz 
(III Manuel Tun6n de Lara. 1'1 Conseqiientemente, a palavra Historiologia nao 
.Il1-lIde ao nosso prop6sito. Introduz novas dificuldades semimticas no lugar 
.It" I csolvc-las. 
/can Walch fez algumas considerac,:6es extremamente interessantes a 
I t',\lwilo do uso das express6es Hist6ria e Historiografia. 15 Para Walch, 0 recur­
'.(1 .IOS dicionarios antigos ou modernos em qualquer idioma nao resolve 0 
I'whlcllla da distinc,:ao entre essas duas palavras. Ele considera bastante pers­
pILa1. a ajuda que buscou Hegel no latim - res gestae, historia rerum gestarum 
para disLinguir as duas facetas. Mas a epistemologia deve proceder segundo 
prilldpios mais estritos que a linguagem comum. Para tanto, Walch prop6e 
que, em Lodos os casos em que possa haver ambigiiidade, seja aceito 0 termo 
"II isL{)ria" "para designar os fatos e os eventos aos quais se referem os histo­
riadores" e 0 de historiografia "quando se trata de escritos" - "celui d'historio­
graphic lorsque il s'agit d 'ecrits"-. Isto explica com grande tlareza 0 modo 
como duas palavras podem efetivamente servir para designar duas realidades 
disl inLas: Hist6ria, a entidade ontol6gica do hist6rico; historiografia, 0 fato de 
cscrcver a Hist6ria. 
Pois bem, os "maus usos" da palavra Historiografia sao tambern fre­
qlknLes. Certos autores, especialmente em lingua francesa, tem atribuido a 
n OIrl'EGA Y GASSET, J. Una interpretacion de la Historia Universal. En torno a 
·I<>ynbcc. In : Ohms complelus. Madrid: Revista de Occidente-Aliall'l.a Editorial, 
19113 . 1. IX, p. 147- 148.0 grifo edo autllr. Nesta e em outras obras de rcllcxiio so­
br" a Ili~I<)ria, Ortega explicita sua rna opiniao a respcito dos bistoriadores - jll~li 
Iicada? --, sell julgarnento do pedestrisl1lo illtclcctu<l1 que os alillge. 
1,1 SANCIIIZZ Al.Il<lI{NO/.. C. /li ,'lorio), /i/wrll/(/, 1:11.'(/),0,< til' /liSIOI'i%gili. M'ldrid: 
Ih'l( ;11/ . 1' /'1'1. '1'1 JNON IlE I.AI{A. M. () II~ Ilislor ia? AI)\lIl1a, \ 11I'~lilll "" dc Ilislo 
,i"ll lH',I , .\11/, '111"1. M'l\lticl, 'I,,,. 'i ('1 :,('1\ • . ,111 . I'}'!', 
I ', V.iI' l I 'II , I /1 ",u, Ulil"'I ,II//, \ ' "', I" ",I,· 1',11 ,~ : ',,1."""'" 11/'111 I' I.t 
Capftulo I 
Hist6rin e /Jisloriografia: os fundamentos 
I"II ,I VI.I "II istoriografia" significac,:6es que sua simples etimologia nao aulori 
I ' 'Jill" complicam a questao de forma completamente desnecessaria, gera n 
d .. "IjIIIVOCOS quanta asua significac,:ao original. Naturalmente, tais erros to 
,j ' ,l ldo.'; pcios franceses tern sido de imediato aceitos por seus imitadorcs I':; 
I l fl ll hCII.~ . Existem pelo menos dois usos impr6prios da palavra Historiogral1 .. 
~ . -11I'.IIIII.1S outras imprecis6es menores nada dificeis de evitar, em todo caso. () 
1"111 11' 1111 II () uso da historiografia como sinonimo de reflexoes sobre a Hislci 
il,', \111 (' ~Iil() do que fazia Ortega y Gasset com a palavra Historiografia. 0 Sl' 
1'11 1111" I .1 aplicac,:ao, como sinonimo e termo coloquial, para designar a I/i" 
I,', "I "" I/isloriografia, quando nao, como se diz em algumas ocasi6es lamilCll1 
II '" Illt I",~ f'ranceses, a hist6ria da hist6ria. 16 
, Jill autor espanhol atual faz tambem da palavra em questao objclo de 
I!III I II tr l. lvd diatribe. "A palavra historiografia" - afirma - "e urn neo]ogisI1H\ 
11 '. 11111,1 pouco e que se utiliza em algumas poucas ocasi6es. Tern a vallia 
ii l .l, ,dcrir-se a urn tipo de conhecimento sem confundi-Io - como 01.0\ 
""11 1"lIavra hist6ria - com seu objeto de estudo, mas tambem aprCs('III.1 
"IV,' ill~ onvcniente. A disti'nc,:ao analitica entre saber e objeto podcr ia 11.,., 
I.! ff l' "tJ"I'll'r que os "fatos do passado" permanecem inseparavelmclll t' IIl1i 
hr ~ II" I Cl llh l'cimento que temos deles. A escassa beleza e rigor cngalll )s\) till 
t 11 11 ', h"IOI'iografia soma-se 0 problema de seus diversos significado:...."1 
I" "1'1111,10. qllc praticamente nao necessita de nenhuma exegese, dl'poi lo d, 
1 .~ It I , .J. lI, f OlllllllJila propriedade, qual a vantagem do termo - referir-sl>a 11111 
Ilil ll" 11111'1110 S(,1I1 confundi-Io com seu objeto - adentra em epistemologi'lI' 
iIH pli,I.I·. " "111 ticcIanl<,:6es gratuitas, induindo as esteticas, para condu ir di 
Ih l\l'!,!i' ~I' ( ria 11111 confusionismo atribuindo difercntcs signiticados ao l,·I '. 
" I ' ,,,lm.. I" ..('I ('II'ira t'xpres~;I(llel11 akanc,:ado norlo cxito lIa l;ral1~'a, Elil (. "'111'11' 
" ,, 1.1 ,"I " , ""IIOS ('asos. pOl' 11111 livro lao prcll'llsioso c vazio, " dl' 111 0 ('SI'"I1I11',,' 
II ,J! 1,\ .1" I',lIll " ('~I "lIIhol. COIIIO 0 dl' I.F COFF./. /'i'llS/lf /a II isillria. 11.1fH·IIII hI 1',11 
01 ..•. ,1)11' I' I I . I'a:..\i lll. "II isll'lria da II iSl6ria" (, Cl1lll1'l'I'.ado lalll(," II, . por 1'''''"11'1... 
,III I II t ill 1.1 EI(, ( ;.; 'J'l JJ.A IU l. J. Ceill/ll /1/'('/1(//'(/1' /III Imhaill fil' I/ I\I/II/', ("/I 'IlId,," " 
I.' , JllIII ' I II" " ,'11111,,: Oi klls 'I :111, Ii)X'), 1'. 1:1, I'assi 111 (WI ~;\() InU ll I'~,I c1 I' l' IIlK) Nil 
'11' 111 111111("0'''' '' 11111:1 1I, .l1l1· i l'l1 11111111111 d,' aludil ., "III ~II ·III.I d., IIII,lillil'I:I,IlI" 
'I, ' I, dl " ,ll. ,', '"lh"l" '1"1' 11 ()~SIl~ .rll lIll" d.1 11 ,.111'1 iu "Ilihllli ill d.1 hl\"" '"11' 111.1'. ' 
I I JIII''''I0'' ~ 1''''11...·.1111.... ,11\1.1'·11 ' .1 <'1.1 'l11'II' · 'III~I"IIIII \ I.lli ,i" 
III I L . I I III III '" I' 1, 11"" I!II I 1\'11 I" I JI ~ '" II"!:"'II" 1)', 'I, M·.I'" ''' . I :, I', 1.1 . ! ,.'" I , 
Parte 1 
Teoria, historia e historiografUl 
mo, confusionismo para 0 qual inclusive contribui de forma notavel 0 proprio 
titulo da publicac;:ao em que aparece essa argumentac;:ao.'8 
o fato de que esses usos, cuja falta de univocidade ja denuncia uma im­
portante carencia de precisao conceitual em quem os pratica, ten ham sido fa­
vorccidos por alguns historiografos de renome permite sua repetic;:ao de for­
ma bastante acritica. Urn autor tao celebrado como Lawrence Stone, por 
l'xemplo, chama de "Historiografia" urn conjunto variado de reflexoes sobre a 
hist6ria da historiografia, 0 oficio do historiador, a prosopografia e outras ins­
I rill ivas questoes. '9 Eju,stamente devido a esses usos variados e equivocos que 
,I qlll'stao recentemente voltou a ser colocada: "A palavra 'historiografia' e su­
IiI iClllemente ampla para abarcar uma visao in extenso da disciplina?': E tem­
'il' r('spondido: "no modo dos significados trad(cionais do vocabulo 'historio­
gl'.d ia', a resposta deveria ser negativa".20 E essa posic;:ao negativa baseia-se, jus-
1;11I1('l1lc, no fato de que por essa palavra se denomina tambem, entre outras 
,oisas, a "historia da historiografia". 
Essas considerac;:oes ilustram bern as dificuldades relativas ao assunto 
qUl' V.10 alCm da simples questao terminologica. 0 primeiro dos maus usos 
pode deixar claro 0 pouco aprec;:o e atenc;:ao que os historiadores dispen'sam a 
reflexao teorica, de forma que devem empregar uma palavra espedfica para 
desigmi-Ia (como se ateoria sociologica se chamasse de forma espedfica "So­
ciografia", ou talvez "Sociomania': ou a teoria polftica "Politografia"). 0 se­
gundo, que motiva as reticencias de Pasamar, procede, entre outras coisas, da 
difusao de alguns livros ruins, como 0 de Ch. O. Carbonell, que teve em sua 
vcrsao espanhola uma difusao muito alem da merecida.21 Em certos textos 
confunde-se 0 uso simples e etimologicamente correto de historiografia como 
IX Publicaltao que, apressemo-nos em declarar, contem importantes c()l1triblli~()cs, 
como a de J. J.Carreras e a de Justo Serna e Anaclet Pons, quc comcnlarel1los mais 
afrentc. 
I'> STONE, L. t:l pusudo y el presente. Mexico: FeE, 19X6. 'Ii"ata -sc do titlilo qlll' rCI:l' 
he a primeira parte dessa obra, cujo contclHlo descrcVl'lllos.

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