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Fluxos Bi-Dimensionais∗ Arthur Mattuck Massachusetts Institute of Technology – MIT Nesta sec¸a˜o e na pro´xima veremos uma maneira diferente de olhar para o teorema de Green, maneira que na˜o so´ mostra a importaˆncia desse teo- rema para campos de fluxos como tambe´m permite dar um significado f´ısico intuitivo para essa misteriosa igualdade entre integrais. Vimos que, se F e´ um campo de forc¸a e C uma curva orientada, enta˜o trabalho feito por F ao longo de C = ∫ C 〈F, dr〉 = ∫ C 〈F, T 〉 ds . (1) Em palavras, estamos integrando 〈F, T 〉, a componente tangencial de F , ao longo da curva C. Em notac¸a˜o de componentes, se F = (M,N), enta˜o a igualdade acima fica trabalho = ∫ C M dx+ N dy = ∫ t1 t0 ( M dx dt +N dy dt ) dt. (2) Analogamente, podemos integrar 〈F,n〉, a componente normal de F ao longo de C. Para isso, suponha que a curva C seja parametrizada pelo comprimento de arco s, crescendo na direc¸a˜o positiva de C. O vetor posic¸a˜o para essa parametrizac¸a˜o e seu correspondente vetor tangente sa˜o dados por r(s) = (x(s), y(s)) t(s) = ( dx ds , dy ds ) ; onde usamos t ao inve´s de T ja´ que e´ um vetor unita´rio – seu comprimento e´ 1, como podemos ver dividindo por ds em ambos os lados de ds = √ (dx)2 + (dy)2. O vetor unita´rio normal n e´ aquele mostrado na figura, obtido pela rotac¸a˜o de 90 o de t no sentido hora´rio. ∗Traduc¸a˜o livre, por Mayra Madeira, do texto Two-dimensional Flux 1 2 Infelizmente, essa direc¸a˜o e´ oposta a`quela geralmente usada em cinema´tica, onde t e n formam um sistema de coordenadas orientado segundo a regra da “ma˜o direita” para se mover ao longo C. A escolha de n depende enta˜o do contexto do problema; a escolha que demos aqui e´ a mais natural para usar o teorema de Green em problemas de fluxo. A fo´rmula usual para girar um vetor de 90 o no sentido hora´rio (veja a figura) mostra que n(s) = ( dy ds ,−dx ds ) . (3) A integral de linha sobre C da componente normal 〈F,n〉 do campo vetorial F e´ chamada de fluxo de F atrave´s de C. Em s´ımbolos, fluxo de F atrave´s de C = ∫ C 〈F,n〉 ds = ∫ C ( M dy ds −N dx ds ) ds . (4) Na notac¸a˜o de diferenciais, usando (3) escrevemos n ds = (dy,−dx), e temos que fluxo de F atrave´s de C = ∫ C M dy − N dx = ∫ C ( M dy dt −N dx dt ) dt, (5) onde (x(t), y(t)) e´ qualquer parametrizac¸a˜o de C. Vamos precisar tanto de (4) como de (5). Exemplo 1 Calcule o fluxo do campo F = 1 x2 + y2 (x, y) atrave´s de uma c´ırculo de raio a e centro na origem, a) usando (4); b) usando (5) . Soluc¸a˜o. a) O campo e´ direcionado radialmente para fora, e portanto F e n teˆm a mesma direc¸a˜o. (Com usual, o c´ırculo e´ orientado no sentido anti-hora´rio, o que significa que n aponta para fora). Segue-se que, em cada ponto do c´ırculo, 〈F,n〉 = ||F || = 1√ x2 + y2 = 1 a . Enta˜o, por (4), temos fluxo = ∮ C 〈F,n〉 ds = ∮ C 1 a ds = 2pi. 3 b) Podemos obter o mesmo resultado deretamente usando a parametri- zac¸a˜o do c´ırculo x = cos t, y = sen t. Nesse caso, usando (5) obtemos que fluxo = ∮ C x dy − y dx x2 + y2 = ∫ 2pi 0 a2 cos2 t+ a2 sen2 t a2 dt = 2pi. � A interpretac¸a˜o f´ısica natural para fluxo nos leva a pensar em F como sendo um campo de fluxo no plano (veja texto da semana 12). Enta˜o a integral de linha representa a taxa em relac¸a˜o ao tempo em que a massa e´ transportada atrave´s de C. Pensamos no fluxo de um tanque raso de profundidade 1. A convenc¸a˜o sobre n faz com que o transporte de massa seja positivo se o fluxo for da esquerda para a direita, para quem olha no sentido positivo de C, e negativo caso contra´rio. Para ver isso, seguimos o mesmo procedimento usado para interpretar a integral da componente tangencial de um campo de forc¸a como trabalho. O passo essencial e´ perceber que, se F e´ um campo vetorial constante representando um fluxo e C e´ um segmento de reta orientado de comprimento L, enta˜o taxa de transporte de massa atrave´s de C = 〈F,n〉L (6) h Para ver isso, decomponha o campo de fluxo em suas componentes para- lelas a C e perpendiculares a C, conforme ilustra a figura abaixo a` esquerda. A componente paralela na˜o contribui em nada com o fluxo atrave´s de C, enquanto a componente perpendicular e´ F · n = 〈F,n〉. Outra maneira de ver (6) e´ ilustrada pela figura acima a` direita. Sendo C ′ como mostrado, vemos pela conservac¸a˜o da massa que taxa de transporte de = taxa de transporte de massa atrave´s de C massa atrave´s de C ′ = ||F || (L cos θ) = 〈F,n〉L 4 Uma vez que temos isso, seguimos o mesmo procedimento usado para de- finir o trabalho como uma integral de linha. Dividimos a curva em pequenos pedac¸os, aproximamos cada pedac¸o por um segmento de reta e aplicamos (6) a cada um desses segmentos, o k-e´simo deles tendo comprimento ∆sk . Assim taxa de transporte de massa atrave´s do k-e´simo segmento ≈ 〈Fk,nk〉∆sk . Somando as aproximac¸o˜es, e passando ao limite com as subdiviso˜es da curva se tornando cada vez menores, obtemos taxa de transporte de massa atrave´s de C = ∫ C 〈F,n〉 ds . Essa interpretac¸a˜o mostra porque chamamos a integral de linha de fluxo de F atrave´s de C. Esta terminologia e´ usada mesmo quando F na˜o repre- senta um campo de fluxo no plano. Falamos do fluxo de um campo eletro- magne´tico, por exemplo. Voltando ao Exemplo 1, o campo F = 1 x2 + y2 (x, y) la´ discutido repre- senta um fluxo saindo de uma fonte de mo´dulo 2pi na origem; assim, o fluxo atrave´s de cada c´ırculo centrado na origem deve ser tambe´m igual a 2pi, in- dependente do raio do c´ırculo. Isso e´ o que de fato encontramos por meio dos ca´lculos realizados naquele exemplo.
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